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Análise de livros

ANÁLISES DE LIVROS

DEGENERATIVE NEUROLOGICAL DISEASE IN THE ELDERLY. R. A. GRIFFITHS, S. T. McCARTHY, editores. Um volume (25 x 13,5 cm) com 206 páginas. Wright. UK. 1987.

Em 1985 realizou-se conferência sobre doença neurológica no idoso, na Radcliff Infirmary, Oxford. Alguns trabalhos apresentados nessa reunião compõem este volume. A palavra 'degenerativa' aliada a doença, implica em conotação ao desconhecimento de sua etiologia. Por outro lado, o termo 'envelhecimento' do sistema nervoso se reveste de descrição simplista de processos que dependem de fatores concernentes a doença e a decrementos intelectuais.

Os 21 capítulos que formam este livro encerram atualizadas informações sobre os temas tratados. A epidemiologia da depressão no idoso é assunto do capítulo inicial (Oppenheimer) e a seguir são estudados os aspectos genéticos da doença de Alzheimer (Ward). Nesta última enfermidade, menciona-se que de 25 a 50% dos pacientes têm um caso adicional em sua família; além disso, há nessas famílias maiores riscos para a síndrome de Down. A doença de Alzheimer se reveste de possível heterogenicidade etiológica; não obstante, parece que o padrão de transmissão é de natureza autossômíca dominante. Interessante, é o tema concernente à epidemiologia e a aspectos genéticos da doença de Parkinson: os dados de várias investigações indicam que a enfermidade é uma doença adquirida, sem predileção por sexo, raça ou região. Bellamy se incumbe do estudo biológico concernente ao envelhecimento e ao encéfalo; conclui que há uma base biológica geral para a deterioração do encéfalo depois de acúmulo de erros no reparo. Várias alterações clínicas e patológicas emergem dessa base, sob forma de fenotipos bem definidos. Do estudo do córtex cerebral na senescência e na demência senil tipo Alzheimer, feito por Hubbard, deriva sua impressão: a demência tipo Alzheimer seria processo patológico em si e não mero exagero da senescência cerebral. Davson revê a neuroquímica de degenerações cerebrais, estudando a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer; investiga os mecanismos prováveis da perda celular e o papel das neurotoxinas endógenas, reconhecendo que a patogênese dessas enfermidades se encontra ainda aberta a discussões. Muito interesse tem o capítulo 10, em que se consideram os vírus em relação a doenças neuropsiquiátricas. A epidemiologia das demências transmissíveis é objeto do capítulo de Will, que passa em revista os aspectos da doença subaguda de Creutzfeldt-Jacob e da doença de Creutzdeldt-Jacob amiotrófica, reconhecendo que diferenciação clínica entre esta última e outras formas de motoneurônio-demência, em bases puramente clínicas, é praticamente impossível. A patologia da doença neuromuscular no idoso é assunto de Squier. Thomas e Davis estudam, em capítulos separados, as neuropatias periféricas, seus problemas básicos e os modelos animais. Marshall passa em revista as alterações comportamentais nas demências e Snowden e col. revêem a controversa questão das demências subcorticais. As possibilidades terapêuticas nas demências são revistas por Briggs: enquanto as diversas drogas propostas não tiverem sua ação comprovada, nada poderá ser proposto como de utilidade terapêutica. Capítulo atual é o de Leenders e col., que se destina ao estudo da função dopamínica no cérebro humano medida pelo PET. Em resumo, essa série de capítulos interessantes constitui leitura valiosa para os especialistas.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

MORE DILEMMAS IN THE MANAGEMENT OF THE NEUROLOGICAL PATIENT. C. WAR-LOW, J. GARFIELD, editores. Um volume (22,5 x 15,5 cm) com 212 páginas. Churchill Livingstone, Edinburgh, 1987.

A ampla aceitação do livro 'Dilemmas in the Management of the Neurological Patient, 1984' (análise em Arq Neuro-Psiquiat, São Paulo, 42:411, 1984), estimulou seus autores a abordar outros aspectos controvertidos com que se defrontam os neurologistas e neurocirurgiões. Vários assuntos são focalizados e discutidos, embora obviamente cada autor de capítulo haja defendido sua posição e conduta pessoais. São ao todo 26 capítulos inteiramente independentes entre si e abordando a maior parte das mais diversas áreas da especialidade.

Marsden, no primeiro capítulo, indaga e responde: 'LDopa ou bromocriptina na doença de Parkinson: qual, quanto e quando?' No capítulo seguinte (Shorvon), se indaga: 'os anti-convulsivantes influem na história natural da epilepsia?' Blumhardt, em prosseguimento pergunta: é a monotorização ambulatória do EEG suficientemente confiável para ser usada pelo clínico? Em outro capítulo pergunta-se: é a coréia de Huntington previsível e prevênível? Esta indagação tem sido focalizada sob vários pontos de vista, incluindo o interesse familiar e social. Os autores, com muito bom senso, concluem que enquanto um tratamento eficiente não for disponível para a prevenção e para a cura, os testes que preverão a eclosão da doença deverão ser usados com muita cautela. E a esclerose múltipla? pode ser seu decurso previsível? (Compston). Essa questão pode se desdobrar em dois dilemas, 'é o curso da esclerose múltipla, como tal, previsível?' 'é possível predizer a evolução individual de um paciente?' Para responder essas questões Compston excursiona pela história natural da afecção, seus precoces indicadores clínicos e as investigações laboratoriais. McDonald responde à pergunta 'a neurite óptica deve ser tratada?' e conclui que, na ausência de resposta clara sobre os efeitos dos corticóides, pode-se argumenta' que pacientes com neurite óptica unilateral devem ser submetidos ao tratamento esteróide em virtude do baixo risco de efeitos colaterais; entretanto, como a maioria dos pacientes com neurite óptica vêm a apresentar esclerose múltipla, seria conveniente colocar tais pacientes em terapêutica imunossupressora, dado ser a patogênese da esclerose múltipla muito provavelmente mediada por fatores imunológicos. Como os efeitos benéficos da imunossupressão na esclerose múltipla ainda não se encontram firmemente estabelecidos, McDonald acredita que os riscos, pequenos mas apreciáveis, bem como os efeitos colaterais do emprego da imunossupressão a longo prazo tornam seu uso não recomendável na neurite óptica aguda isolada. Como a patogênese da enxaqueca é ainda motivo de controvérsias, pergunta Harrison: 'seria uma desordem vascular?' As diferentes hipóteses são revistas pelo autor. Outro assunto interessante refere-se às anastomoses extra-intracranianas para o tratamento da afecção vascular cerebral; com efeito, estas intervenções, aliás muito elegantes, têm sido usadas e talvez abusadas em passado relativamente próximo. As objeções que se levantaram sobre a utilidade dessa cirurgia, principalmente pela não influência na incidência de mortalidade ou de morbidade, tornaram hoje o processo pelo menos muito discutível.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

AMYOTROPHIC LATERAL, SCLEROSIS II, B. R. BROOK, editor. NEUROHYPOPHYSIS. G. VALIQUETTE. NEROLOLOGIC CLINICS VOL. 5. Um volume (15 x 23 cm) com 138 páginas. W. B. Saunders, Philadelphia, 1987.

Este volume é composto de duas partes distintas: a primeira deve ser considerada prosseguimento da série anterior, sobre a doença do neurônio motor, mais precisamente a esclerose lateral amiotrófica (ELA). A afecção ainda se reveste de inúmeros pontos obscuros, mas as novas tendências e pesquisas fazem supor, segundo Brooks, que na próxima década haverá suficientes conhecimentos que poderão limitar a incidência e melhorar a evolução desse grupo de enfermidades. No primeiro capítulo, Sufit e col. investigam e criticam o valor da pesquisa convencional da força muscular pelos métodos isométricos clássicos; pelo método de avaliação isocinética, a avaliação se processa de modo objetivo e uniforme. Robbins, em capítulo concernente à deglutição em alterações do neurônio motor, demonstra déficit na motricidade lingual para sólidos e líquidos nas formas bulbares da ELA, assim como alterações subclínicas para sólidos, em casos sem aparente comprometimento bulbar: estes achados permitem melhor compreensão dos mecanismos das disfagias no decorrer da doença. DePaulo e Abbs estudam os efeitos da ELA nos nervos cranianos motores, mostrando que há uma hierarquia na perda da força muscular na ELA; assim, a musculatura da língua perde a energia de contração isométrica mais rapidamente que os músculos da mandíbula e dos lábios; esses fatos correspondem às verificações neuropatológicas, mais precoces e precisas nessas regiões, por maior comprometimento de células motoras no núcleo do hipoglosso, seguidas dos núcleos do facial e do trigêmio motor. Sanjak e col. analisam o papel do exercício muscular na ELA: os efeitos da cinesiterapia são controvertidos; entretanto, vários centros de reabilitação concluíram que exercícios musculares nas fases iniciais de paciente com ELA são úteis, minimizando a fadiga, prevenindo a fraqueza generalizada e fortalecendo músculos não afetados. O último capítulo sobre ELA corresponde à terapêutica da afecção pelo hormônio liberador da tireotropina (TRH), por via venosa (Beaulieu e col.). Concluem esses autores que as variações da freqüência cardíaca e respiratória, assim como as de tensão arterial sistólica e dlstólica e as alterações da temperatura oral e cutânea, subseqüentes à infusão intravenosa do TRH, ocorrem durante os ritmos menores da infusão nos pacientes com ELA com comprometimento bulbar, comparativamente aos pacientes em que a mesma afecção evolui sem essa participação de músculos bulbares. É registrada maior sensibilidade do sistema autonômico ao TRH em pacientes com graves disfagias e disartrias. Dessa forma, antes de se empregar neuropeptídeos, assume importância averiguar se o paciente não é portador de forma subclíníca de comprometimento bulbar. Nesses casos, é importante principiar a terapêutica com doses menores do neuropeptídeo e sua administração exige monitorização contínua.

A segunda parte do livro, é constituida de artigo sobre a neuro-hipófise, de autoria de Guy Valiquette. Os hormônios neuro-hipofisários de mamíferos, a vasopressima (VP) e a ocitocina (OT), são classicamente considerados como envolvidos respectivamente no equilibrio hídrico ou no parto e lactação. Outros efeitos são estudados neste artigo. A VP é também um potente peptídeo vasopressor e estudos fisiológicos sugerem possível papel na manutenção da tensão arterial e, talvez, na patogênese da hipertensão arterial. Na parte final, Valiquette estuda a síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético; é salientada a identificação da síndrome secundária a outras patologias em que a VP é normal. Esta, a que poderíamos denominar de 'pseudo-síndrome de secreção inapropriada de hormônio anti-diuré-tico', deve ser destacada daquela em que a afecção depende realmente de aumento de resposta dos mecanismos de secreção da VP. Propõe, então, para as primeiras formas, isto é, aquelas que se acompanham de normalidade no controle dos níveis VP, a expressão 'síndrome de secreção adequada (ou apropriada) na vasopressina'. Finaliza a revisão com estudo da OT e seu papel na lactação e no parto.

Este livro mantém o alto nível que caracteriza toda a série de volumes que compõem a Neurologic Clinics.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

SLEEP: A SCIENTIFIC PERSPECTIVE. A. M. ANCH, C. P. BROWMAN, M.M. MITLER, J. K. WALSH. Um volume (15,5 x 23,5 cm) encadernado com 321 páginas, 46 figuras e 12 tabelas. Prentice-Hall Inc., Englewood Cliffs, New Jersey, 1988.

Discordo dos autores quando referem que realizaram uma obra primariamente para o estudante de medicina e de outras profissões correlatas, podendo secundariamente ser utilizada como referência por médicos. A mim, seus objetivos foram modestos perto do resultado excelente da publicação. É abrangente e altamente recomendável a residentes mas, principalmente, ao grande número de médicos já em atividade e em cuja formação não houve treinamento específico nesse campo. Trata-se de um texto para formação e atualização.

A envergadura do tema tratado pode ser constatada pela divisão dos capítulos em quatro grandes grupos. O primeiro é dedicado à estrutura do sono, às definições do processo fisiológico e suas formas de estudo no homem, especialmente a polissonografia. O segundo grupo é dirigido aos mecanismos básicos do dormir quando colocados no contexto dos ritmos biológicos, salientando o substrato neural; relatam os princípios anatômicos e suas particularidades funcionais e químicas, incluindo descrição interessante da influência da fisiologia própria do sono sobre outros sistemas como o musculoesquelético, neuroendócrino, genitourinario e gastrointestinal. A terceira porção abarca dois itens fundamentais: (a) os sonhos e sua interpretação sob o prisma neurofisiológico do sono REM, seu papel na síntese proteica e no aprendizado; (b) a ação de drogas sobre o sono; é dada ênfase às drogas rotineiramente empregadas em clínica e com ação secundária sobre o sono, como betabloqueadores, medicamentos utilizados na obesidade, esteróides antiinflamatórios, anti-histamínicos e aspirina; expõem brevemente os princípios do uso racional dos hipnóticos. A quarta e mais extensa das divisões engloba os distúrbios do sono que se acompanham de dificuldade em iniciar e manter o sono, aqueles que levam à sonolência excessiva diurna, alterações do padrão sono-vigília, e miscelânea de condições associadas ao comprometimento do sono, tais como patologias endócrinas, reumáticas, neoplásicas e alcoolismo.

Alguns cuidados exemplificam por si só a intenção fundamentalmente didática. Umas poucas sugestões escolhidas a dedo vêm ao final de cada capítulo, convidando para leitura posterior. A lista extensa de todas as referências citadas é incluída, seguida da lista dos autores mencionados e suas páginas de entrada. O índice por assunto é detalhado e completo. Como se não bastasse, um glossário foi anexado para facilitar principiantes.

Quero ressaltar a elegância do trabalho artístico da capa, mostrando nuvens, sugerindo a complexidade crescente do tema conforme dele nos aproximamos e nele mergulhamos.

RUBENS REIMÃO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Set 1989
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