Acessibilidade / Reportar erro

ANÁLISES DE LIVROS

APPLICATION A LA NEUROLOGIE DE LA CLASSIFICATION INTERNATIONALE DES MALADIES (CIM-AN). Um volume (16x24 cm) com 240 páginas. Genève: Organisation Mondiale de la Santé, 1989.

Para o preparo da décima edição da Classificação Internacional das Doenças, por iniciativa da Organização Mundial de Saúde (WHO) foi organizada consulta para examinar a situação da classificação das doenças do sistema nervoso no quadro do que consta na nona edição (CID-9). Resultou um acordo acerca da necessidade de se dispor de uma classificação mais detalhada em Neurologia, útil às estatísticas de morbilidade, à codificação e a pesquisa. Além do Programa de Ciências Neurológicas da Divisão de Saúde Mental da WHO, participaram a World Federation of Neurology (WFN) e seu Research Committee, bem como grupos de especialistas. De tais atividades resultou o estudo reunido no presente texto. Sua publicação contou com a participação atuante, de M. Bahemuka (Quênia), C. L. Bolis (Itália), V. Chandra (USA), M. E. Cruz (Equador), J. F. Dartigues (França), S. Leibowitz (Inglaterra), J.M. Orgogozo (França), B. S. Schoenberg (USA), D. Seitz (Alemanha), V. Smirnov (URSS).

Importantes quantidades de dados a registrar exigem a adoção de sistemas de classificação e de codificação. Este volume foi preparado visando a atender tais necessidades no quadro da CID-9, apresentando aos especialistas método de codificação apropriado. Abrange as doenças e afecções que se produzem no sistema nervoso, que nele se manifestam, que têm relação com ele e/ou a estruturas a ele adjacentes. Assim o CIM-AN deve ser utilizado comparativamente à CID-9, pois nesta as doenças e afecções de interesse ao neurologista, aos neurocirurgiões e aos pesquisadores em neurociências não se encontram suficientemente salientadas. Além disso, tais doenças e afecções encontram-se dispersas por toda a CID-9, algo que evidentemente complica sua utilização pelos neurologistas e neurocirurgiões. Assim, as finalidades do CIM-AN são: despertar a atenção dos especialistas para o diagnóstico detalhado de cada paciente mediante a utilização de classificação praticamente completa e coerente das doenças neurológicas e das manifestações neurológicas de outras doenças; oferecer melhor sistematização de registro de doenças è afecções neurológicas; permitir a obtenção de dados epidemiológicos e comparação da prevalência dias doenças neurológicas em nivel nacional e internacional, propiciando investigações sobre distribuição e identificação de fatores de risco, por exemplo. Dentro desse espírito foram norteadas tanto as instruções para utilizar o CIM-AN, que constam do Prefácio do texto, como a distribuição tabular do conteúdo, que abrange 17 itens-chave de entrada. Extrato da classificação suplementar das causas externas de trauma e de envenenamento se sucede, assim como nomenclatura codificada da morfologia dos tumores. Excelente índice remissivo encerra o volume.

A classificação e a codificação das doenças não constitui matéria curricular na maioria das escolas médicas do Brasil. Assim, tal como para as demais especialidades, o neurologista e o neurocirurgião geralmente marcham às escuras quando têm que utilizar a classificação de doenças. A óbvia necessidade de classificar e de codificar é, atualmente, passo obrigatório no preparo dos que se dedicam aos diversos ramos da Neurologia. Este texto é referendado e, portanto, oficializado pela entidade que reúne a especialidade no mundo a WFN. Compete à Academia Brasileira de Neurologia, bem como a seus membros e respectivos Serviços, tornar essencial e preciso seu emprego, assim como lhes compete oferecer subsídios à WHO para as futuras edições da CIM-AN. Tais sugestões devem ser encaminhadas ao Neurologic Sciences Programme (Division of Mental Health, WHO, 1211 Geneva, Switzerland) através do qual o livro pode ser diretamente adquirido (Fr.s. 39,00).

A. SPINA-FRANÇA

CONDUTAS EM NEUROLOGIA 1989/1990. Ricardo Nitrini, editor. São Paulo: Clínica Neurológica, HC/FMUSP. Um volume (19x27 cm) com 171 páginas.

Em junho-1989, o Departamento de Neurologia da Faculdade, de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e seu Centro de Estudos Professor Antonio Branco Lefève, sob a égide da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, realizaram o I Encontro de Ex-Estagiários da Clínica Neurológica HC/FMUSP e I Curso de Educação Continuada em Neurologia, com o apoio da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Ricardo Nitrini, coordenador da equipe que cuidou do evento, também foi o Editor dos textos dele resultantes, que constituem este compêndio.

Tendo por objetivo a prática neurológica, os tópicos que integram este livro são essencialmente dirigidos a condutas diagnosticas e terapêuticas atualmente adotadas, cada uma delas exposta de modo sucinto por integrantes e colaboradores da Clínica Neurológica HC/FMUSP, escolhidos particularmente pelo interesse demonstrado em relação ao tema que maior interesse, quer pela freqüência da patologia a que cada um deles está voltado, quer ficou a seus cuidados. Por outro lado, os 43 temas escolhidos foram aqueles que despertam maior interesse, quer pela frequência da patologia a que cada um deles está voltado, quer por controvérsias quanto à conduta que possam despertar, muitas delas ainda debatíveis. Neste último sentido, as condutas apresentadas representam o fruto da experiência de uma escola, a escola da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas de São Paulo. A história desta última é sumariada no primeiro capítulo (Horácio M. Canelas). Seguem-se capítulos acerca de processos infecciosos do sistema nervoso: contribuição do liqüido cefalorraqueano aos progressos no conhecimento das infecções do sistema nervoso central (A. Spina-França), diagnóstico e tratamento das meningites agudas (Erasmo B. Casella), ventriculites e empiema subdural (M. Joaquina Marques-Dias), infecções no pós-operatório neurocirúrgico (Sérgio D. Pitelli), AIDS e sistema nervoso (José A. Livramento), neurocisticercose (Luís dos Ramos Machado), neuromicoses (José P. S. Nóbrega), neurotuberculose (Fernando Kok), meningo-mielites (Liliana S. Vianna). São avaliadas a seguir a esclerose múltipla (Dagoberto Calle-garo), a miastenia grave (J. Lamartine de Assis), a polirradiculoneurite (Paulo E. Marchiori) e moléstias musculares (José A. Levy). Epilepsia é o tema seguinte, sendo analisados: aspectos críticos da classificação (Elza M. T. Yacubian), progressos quanto a drogas anti-epi-lépticas (Cláudia J. Chaves), crises isoladas sem fator desencadeante (Arthur Cukiert), controvérsias (L. Marques-Assis), convulsões febris (José L.D. Gherpelli), epilepsia e gestação (Luiz H. M. Castro), algumas síndromes epilépticas especiais (Lívia C. Elkis). A terapêutica dos distúrbios do sono (Rubens Reimão) e o emprego de antidepressivos (Eurípedes C. Miguel Filho e Geraldo Busatto Filho) são analisadas precedendo estudos de doenças cere-brovasculares: tratamento da fase aguda do acidente cerebrovascular isquêmico (Getúlio D. Rabello), acidentes vasculares cerebrais em jovens (Ida Fortini), episódios isquêmicos transitórios (Roberto Hirsh), endarterectomia (Syivio Saraiva), aneurismas (Nilton D. Cabral), hematoma intraparenquimatoso supratentorial (João E. Ferri-de-Barros), hemorragia cerebelar espontânea (Antonio C. R. Galvão), angiomas (Gilberto M. de Almeida). Conceitos atuais acerca de hipertensão arterial leve (Julius Weinberger) complementam a matéria, seguindo-se a análise de recuperação nas afecções musculares (Paulo N. B. Salum), tratamento da doença de Parkinson (Egberto R. Barbosa), complicações tardias da levodopaterapia (Luiz R. Comerlatti), mioclonias, coréias e distonias (João C. P. Limongi). O tratamento da enxaqueca (Luiz A. Bacheschi) é avaliado abrindo o estudo da dor; seguem-se avaliações acerca de algas faciais (José O. de Oliveira Jr.) dor crônica (M. Jacobsen Teixeira). Os últimos capítulos são dedicados ao edema encefálico (G. Carvalhal Ribas), ao traumatismo crânio-encefálico (Luiz A. Manreza), ao pseudotumor cerebral (Almir F de Andrade) e à quimioterapia de gliomas (Felix H. Pahl).

Obedecendo ao objetivo essencial do livro, cada um dos temas é abordado de modo a permitir visão concisa dos problemas atuais pertinentes ao assunto ou dele oriundos. Dessa forma, foi possível manter uma linha mestra em toda a obra: a de oferecer síntese atualizada dos principais problemas que tem o neurologista de enfrentar em sua atividade profissional. Ao mesmo tempo, oferece aos que se iniciam na prática da especialidade, como os Médicos Residentes, guia a partir do qual podem desenvolver seus conhecimentos. Tais metas nortearam a elaboração do compêndio, cuja uniformidade reconhecidamente se deve à experiência vivida pelos autores de cada capítulo e ao cuidado do Editor, bem como de seus colaboradores no trabalho editorial, Horácio M. Canelas, Milberto Scaff, Luiz Alberto Bacheschi, Luís Marques-Assis e o autor desta análise de apresentação.

A. SPINA-FRANÇA

O CÉREBRO E SUAS VERTENTES. Segunda Edição. W. L. Sanvito. Um volume (15,5 x 23 cm) com 223 páginas. São Paulo: Livraria Roca, 1991.

Wilson Luiz Sanvito, Professor Pleno de Clínica Neurológica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, na segunda edição desta sua obra, apresenta versão reformulada, com novos capítulos e revisão dos capítulos que anteriormente integravam a primeira edição. Textos complementares foram acrescidos à maioria deles, atendendo ao desafio que a si mesma propôs: escrever sobre o cérebro adotando panorama multi (trans) disciplinar. Embora sejam privilegiados os mecanismos neurológicos, é adotada a necessária integração com outras disciplinas, particularmente com aquelas hoje reunidas como ciências cognitivas. Esse intuito é atingido de modo original, resultando texto de leitura agradável, no qual é ampla a análise crítica dos conhecimentos acerca do cérebro e sua funcionalidade. Mantendo caráter adequado à didática, a precisão e a profundidade das análises constituem tônica presente em todos os capítulos.

São 8 os capítulos que compõem o livro: Homo sapiens, ciclo vigília-sono, emoções, memória, linguagem, problema mente-corpo, Homo sapiens-Machina sapiens, as manipulações do cérebro. Em cada um deles, as opiniões e os conceitos das várias escolas são analisados criteriosamente, antes que sejam apontadas as vertentes a que conduzem e as perspectivas de estudo que abrem. Post-scriptum acerca da «psicologia sem cérebro», em sua abrangência, reúne muitos dos conceitos que desenvolve e explana nos 8 capítulos. Glossário e bibliografia geral (para cada capítulo) completam o livro.

Cada um dos capítulos abrange diversos tópicos, dispostos de modo seqüencial em relação ao respectivo conteúdo. Para exemplificar, no capítulo 4 (Memória), após introdução conceituai, a matéria é distribuída em três itens: neurobiologia da memória, esquecimento e amnésias - seguidos de texto complementar. No primeiro, são discutidos os mecanismos da memória, suas bases bioquímicas e a visão crítica a que estas bases conduzem, mecanismos molares, modelo macroconexionista, modelos não-conexionistas. O segundo item é dedicado ao esquecimento, seus mecanismos e suas implicações. O terceiro, às amnésias: métodos de exploração clínica da memória, formas clínicas de amnésia, síndrome de Korsakoff e as amnésias traumáticas, infecciosa, globais, pós-cirúrgica, ictal e global transitória. O texto complementar versa sobre «o incrível mundo dos odores». Nele, após avaliação filogenética, é apontado ser modesta a capacidade olfatória dos humanos, capazes de discriminar cerca de 16 odores básicos, capacidade essa que pode ser ampliada mediante treinamento por exemplo. Como vivemos em um mundo de odores, são eles essenciais ao paladar e a outras respostas. Entre estas é mencionada a atração/rejeição sexual, para que contribui de alguma forma ferormônio presente no suor axilar masculino, entre outros elementos odoríferos. Suas propriedades são obviamente conhecidas pelos experts no desenvolvimento de perfumes. Por outro lado respondem, como os demais odores, por atitudes sociais que caracterizam aspectos culturais de civilizações e de grupos étnicos, atualmente. Assim como são encontrados aqueles que fazem do odor traço de união e amizade, outros procuram evitar seu contexto, despersonalizando o odor natural para padronizá-lo e adequá-lo aos moldes da civilização que criaram e da qual usufruem. Claro que entre estes últimos agrupamentos encontram-se, hoje, povos cuja cultura foi marcada por pragmatismo massificante. Por eles mesmos, este é aceito como um dos índices de seu progresso em relação aos demais, evidente conflito que caracteriza a confusão essencial por eles introduzido entre odor e higiene, uma das formas de estabelecer gradações na escala social que, adotam e que é baseada em caracteres fisiológicos inerentes aos demais seres humanos que com eles convivem ou com eles se entremeiam.

Assim é possível, a partir da leitura agradável deste fascinante livro, analisar não só vertentes do cérebro mas, também, induzir perspectivas sociais e culturais que resultam da atuação do homem em função de seu próprio cérebro.

A. SPINA-FRANÇA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Mar 1991
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org