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Tratamento das paralisias faciais infranucleares pelo tartarato de ergotamina

Tratamento das paralisias faciais infranucleares pelo tartarato de ergotamina

Antonio R. De Mello

Do Instituto de Neurologia da Universidade do Brasil (Rio de Janeiro, D.F.)

Até a data atual os aspectos etiopatogênico e terapêutico das paralisias faciais infranucleares ainda não repousam em sólidas bases.

A perquirição semiótica extremada, em basto número de vezes, põe à mostra o fator causal das prosopoplegias, orientando destarte a atuação terapêutica condizente com a determinante etiológica em causa; assim é que, dentre os paralisias de Charles Bell, arrolam-se as de origem traumática; com freqüência se nos deparam paralisias faciais otógenas; são encontradiças as paralisias faciais de Ramsay-Hunt, surgidas às expensas do vírus zosteriano, assim como existem paralisias de Bell havidas no curso da hipertensão arterial; alinham-se, também, na Jgênese das prosopoplegias, as infecções, tais como a lues e a lepra; surgem, por vezes, paralisias faciais neuroviróticas; vcrificam-se, de certas feitas, prosopoplegias contemporáneamente às paralisias crurais flácidas, como soe acontecer na síndrome de Guillain-Barré; no transcurso do diabete, também, pode surgir a paralisia de Bell; o acometimento da glândula parótida, por noxas tumorais ou infecciosas, ocasiona deficiência motora na hemiface homóloga.

No entanto, na maioria das vezes, a minudente perquirição semiótica não evidencia, na gênese da paralisia facial infranuclear, de instalar inopino, nenhuma das determinantes etiológicas apontadas e, quando isso ocorre, filiâmo-la a fatores de ordem vascular, como já o fizeram Audibert e Kettel e, de primeira mão, em nosso meio, Deolindo Couto.

No complexo mecanismo patogênico das prosopoplegias, cabe referir transtorno vegetativo, de feitio vasomotor, à conta dos vasa nervorum, da artéria estilo-jnastóidea, na altura do aqueduto de Fallopio e do forame estilomastóideo, condicionando uma disregulação circulatória, com isquemia subseguida de edema; merecem também citados os fenômenos de hipersensibilização alérgica, com transudação serosa. Partindo destas interpretações patogênicas, tem perfeito cabimento o emprego de fármacos com manifesta atuação sobre a vasomotricidade cerebral.

Ao defrontarmos, de certa feita, uma paciente que exibia, a par de violenta crise de enxaqueca, paralisia duma hemiface, usamos, atendendo ao primeiro sintoma, tartarato de ergotamina; com tal procedimento terapêutico desapareceram os fenômenos dolorosos, assim como, com nossa surpresa, regrediram, ao cabo de 4 dias, as alterações paralíticas da hemiface.

Desde esta ocasião passamos a usar o tartarato de ergotamina (Gynergene), na fase inicial das paralisias faciais infranucleares, filiadas a fatores vasculares (por via muscular, de início, 0,5 mg pro die e, a seguir, via bucal na dose de 3 a 4 mg pro die).

Nossa experiência já orça por volta de duas dezenas de casos; usamos, também, o tartarato de ergotamina em dois casas da chamada enxaqueca facioplé-gica, de modo a fazer desaparecer, em curto prazo de tempo, não só a dor, como também a incompetência dos músculos inervados pelo VII nervo craniano.

Os autores que estudaram a atuação do tartarato de ergotamina nos vasos cerebrais, na maioria, opinam pela sua ação vasodilatadora, motivo por que seu emprego nas paralisias de Bell deve ser precoce, na fase incipiente, a fim de evitar o aparecimento da contratura pós-paralítica.

Óbvio será dizer que esta terapêutica - antes de tudo patogênica - das paralisias faciais infranucleares, terá de ser precedida de extremado apuro se-miótico (inclusive arteriográfico em algumas eventualidades) porque a ocorrência, não rara, de paralisias facial e oculomotora acompanhadas de cefaléia (enxaqueca fácio-oftalmoplégica) constitui a expressão sintomática de malformações vasculares encefálicas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Abr 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 1954
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