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Da alcoolização ao verbo: ensaio da psicodinâmica do trabalho

RESENHA

Da alcoolização ao verbo: ensaio da psicodinâmica do trabalho* * Karam H. Da alcoolização ao verbo: ensaio da psicodinâmica do trabalho. Brasília: Paralelo; 2010. 384p.

Julia Trevisan Martins; Maria Cristina Cescatto Bobroff

Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Londrina - UEL - Londrina (PR), Brasil

Autor Correspondente Autor Correspondente: Julia Trevisan Martins R. Espírito Santo, 1679 - Apto. 1602 - Centro Londrina - PR - Brasil Cep: 86020-420 E-mail: jtmartins@uel.br

Nesta obra, a autora analisa a interlocução entre consumo patológico e consumo patogênico de álcool, tendo como campo de ação-pesquisa 12 anos de trabalho direto e 6 de labor indireto em uma empresa de petroquímica brasileira.

Descreve a complexidade da embriaguez e enfoca que a partir da Revolução Industrial houve um distanciamento da interpretação da embriaguez associada aos sentimentos de prazer para formatar um quadro patogênico e crônico que denomina de alcoolização utilizado como estratégia coletiva de defesa dos trabalhadores diante do sofrimento.

Na análise hermenêutica realizada, na estatal brasileira, identificou um número expressivo de trabalhadores em situação de alcoolização e implementou um programa de prevenção e de tratamento fundamentados na psicodinâmica do trabalho.

A autora é contundente ao afirmar que é necessária uma política governamental de trabalho que tenha como princípio o homem na sua dimensão intrapsíquica, no espaço intersubjetivo e por meio da palavra política. Assim, haveria uma diminuição dos gastos com medidas paliativas e de ações políticas assistencialistas.

Esta afirmação esta pautada em vários argumentos da psicodinâmica do trabalho(1-2) que enfatiza ser preciso repensar as políticas dos processos organizativos do trabalho, criando ambientes nos quais todos possam discutir e buscar coletivamente estratégias que considerem os lucros frente ao mundo capitalista mas que também garantam aos trabalhadores exercerem suas atividades com o máximo de prazer e o mínimo de sofrimento.

Assim sendo, se nada for feito para alterar significativamente esta lógica, pode-se chegar ao extremo de um fenômeno brutal conhecido como suicídio(3). Para reverter o alcoolismo advindo do trabalho deve-se substituir a competitividade e isolamento nas organizações por cooperação e solidariedade, bem como proporcionar espaço para a comunicação efetiva.

Ainda, o que a autora debate sobre as teorias administrativas clássicas aplica-se ao processo de trabalho da enfermagem que é taylorizado, sob responsabilidade do enfermeiro que, muitas vezes, não abre espaços de comunicação.

Este livro é fundamental para profissionais de diversas áreas, em especial, saúde, psicologia, psiquiatria, serviço social, enfermagem, dentre outras, visto que traz importantes reflexões sobre as implicações do trabalho.

Com relação à enfermagem, o enfermeiro necessita ser preparado para atender os alcoolistas frente às necessidades impostas pelo atual contexto do uso e abuso de álcool e de outras drogas, atuando na identificação precoce e na prevenção(4).

Por fim, destaca-se que a autora, corrobora com os pensamentos de outro pesquisador(5) ao afirmar que somente por meio do trabalho multiprofissional, com objetivos e metas traçadas é que se pode intervir nos problemas de alcoolismo e outros que podem surgir relacionados ao sofrimento no labor.

Sugerimos a leitura desta obra brasileira que contribui para o entendimento das relações de trabalho e considera o trabalhador como um ser único, que pensa, que tem vontade própria e um valor singular que devem ser respeitados.

Artigo recebido em 31/05/2010 e aprovado em 21/09/2010

  • 1. Dejours C. A banalização da injustiça social. 3Ş Rio de Janeiro: FGV, 2000. 160p.
  • 2. Dejours C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia e psicodinâmica do trabalho. 5Ş Ed. São Paulo: Cortez-Oboré, 1992. 168p.
  • 3. Dejours C, Bègue F. Suicídio e trabalho: o que fazer? Brasília: Paralelo 15, 2010. 127p.
  • 4. Vargas D, Oliveira MAF de, Luis MAV. Atendimento ao alcoolista em serviços de atenção primária à saúde: percepções econdutas do enfermeiro. Acta paul. enferm. [online]. 2010, vol.23, n.1, pp. 73-79.
  • 5. Zimerman DE, Osório LC. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 424p.
  • Autor Correspondente:
    Julia Trevisan Martins
    R. Espírito Santo, 1679 - Apto. 1602 - Centro
    Londrina - PR - Brasil Cep: 86020-420
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    Karam H. Da alcoolização ao verbo: ensaio da psicodinâmica do trabalho. Brasília: Paralelo; 2010. 384p.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      2011
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