Acessibilidade / Reportar erro

Qualidade e duração de sono entre usuários da rede pública de saúde

Calidad y duración del sueño en usuarios del sistema de salud pública

Resumo

Objetivo

Avaliar a qualidade e tempo de sono entre usuários da rede pública de saúde e fatores associados.

Métodos

Estudo transversal, realizado com 775 indivíduos de ambos os sexos, em um município da região Centro-Oeste do Brasil. Aplicou-se questionário semiestruturado para avaliar as características sociodemográficas, os hábitos de vida, as condições de saúde, o binge drinking e qualidade e duração do sono, avaliadas pelo Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh. Aplicou-se a regressão de Poisson para identificação dos fatores associados à qualidade do sono ruim e à duração de sono (curta e longa).

Resultados

Na análise múltipla, os fatores associados à qualidade de sono ruim foram sexo feminino (razão de prevalência: 1,10; intervalo e confiança de 95% − IC95% 1,05-1,16; p<0,00), binge drinking (razão de prevalência: 1,08; IC95% 1,03-1,13; p<0,01), uso de substâncias ilícitas (razão de prevalência: 1.06, IC95% 1.00-1.12; p=0.03), angina (razão de prevalência: 1,10;, IC95% 1,03-1,18; p<0,01) e depressão (razão de prevalência: 1,07 IC95% 1,00-1,14; p=0,02). A obesidade associou-se à curta duração do sono (razão de prevalência: 1,10 IC95% 1,02-1,17; p<0,01). Idade > 55 anos associou-se à longa duração do sono (razão de prevalência: 1,39, IC95% 1,00-1,92; p=0,04).

Conclusão

Ser mulher, ter idade >55 anos, consumir bebida alcoólica, usar substâncias ilícitas, angina, obesidade e depressão foram fatores de risco para alterações na qualidade e duração de sono. Os resultados do presente estudo reforçam a necessidade do desenvolvimento de ações voltadas para a prevenção dos agravos relacionados às alterações no sono na população estudada.

Alcoolismo; Antipsicóticos; Transtornos do sono-vigília; Obesidade; Sono

Resumen

Objetivo

evaluar la calidad y tiempo de sueño en usuarios del sistema de salud pública y factores asociados.

Métodos

estudio transversal, realizado con 775 individuos de ambos sexos, en un municipio de la región Centro-Oeste de Brasil. Se aplicó un cuestionario semiestructurado para evaluar las características sociodemográficas, los hábitos de vida, las condiciones de salud, el binge drinking y la calidad y duración del sueño, evaluadas mediante el Índice de Calidad del Sueño de Pittsburgh. Se aplicó la regresión de Poisson para identificar los factores asociados a la mala calidad del sueño y a la duración del sueño (corta o larga).

Resultados

en el análisis múltiple, los factores asociados a una mala calidad del sueño fueron sexo femenino (razón de prevalencia: 1,10; intervalo de confianza de 95% − IC95% 1,05-1,16; p<0,00), binge drinking (razón de prevalencia: 1,08; IC95% 1,03-1,13; p<0,01), uso de sustancias ilícitas (razón de prevalencia: 1.06, IC95% 1.00-1.12; p=0.03), angina (razón de prevalencia: 1,10;, IC95% 1,03-1,18; p<0,01) y depresión (razón de prevalencia: 1,07 IC95% 1,00-1,14; p=0,02). La obesidad se asoció a una corta duración del sueño (razón de prevalencia: 1,10 IC95% 1,02-1,17; p<0,01). La edad > 55 años se asoció a una larga duración del sueño (razón de prevalencia: 1,39, IC95% 1,00-1,92; p=0,04).

Conclusión

ser mujer, tener >55 años, consumir bebida alcohólica, usar sustancias ilícitas, angina, obesidad y depresión fueron factores de riesgo para alteraciones en la calidad y duración del sueño. Los resultados del presente estudio refuerzan la necesidad de desarrollar acciones orientadas hacia la prevención de los perjuicios relacionados con las alteraciones del sueño en la población estudiada.

Aalcoholismo; Antipsicóticos; Trastornos del sueño-vigilia; Obesidad; Sueño

Abstract

Objective

To assess the quality and sleep time between public health network users and associated factors.

Methods

A cross-sectional study of 775 individuals of both genders in a city in the Center-West region of Brazil. A semi-structured questionnaire was used to assess the sociodemographic characteristics, life habits, health conditions, binge drinking, and quality and sleep duration assessed by the Pittsburgh Sleep Quality Index. Poisson regression was used to identify the factors associated with poor sleep quality and sleep duration (short and long).

Results

In the multiple analysis, the factors associated with poor sleep quality were female gender (prevalence ratio: 1.10, 95% Confidence Interval and 95%CI 1.05-1.16, p <0.00), binge drinking (prevalence ratio: 1.08; 95%CI 1.03-1.13; p <0.01), illegal drug use (prevalence ratio: 1.06, 95%CI 1.00-1.12, p=0.03), angina (prevalence ratio: 1.07, 95%CI 1.03-1.18, p <0.01) and depression (prevalence ratio: 1.07 95%CI 1.00-1.14, p=0.02). Obesity was associated with short sleep duration (prevalence ratio: 1.10 95%CI 1.02-1.17, p <0.01). Age> 55 years was associated with long sleep duration (prevalence ratio: 1.39; 95%CI: 1.00-1.92; p=0.04).

Conclusion

Being a woman, being over 55 years old, consuming alcoholic beverages, using illegal substances, angina, obesity and depression were risk factors for changes in quality and sleep duration. The results of the present study reinforce the need for the development of actions aimed at the prevention of diseases related to sleep disorders in the study population.

Alcoholism; Antipsychotic Agents; Sleep Wake Disorders; Obesity; Sleep

Introdução

Estima-se que a qualidade e duração de sono tenham sofrido prejuízos nas últimas décadas, em razão das demandas da vida moderna, sendo frequentemente observado na população mundial a curta duração (menor que 8 horas) e sono de má qualidade.11. Youngstedt SD, Goff EE, Reynolds AM, Kripke DF, Irwin MR, Bootzin RR, et al. Has adult sleep duration declined over the last 50+ years? Sleep Med Rev. 2016;28:69–85.A literatura tem apontado que ao longo de um período de 20 anos, metade dos adultos não apresentaram duração de sono satisfatória, e um sexto manifestou hipersonia.22. Zomers ML, Hulsegge G, van Oostrom SH, Proper KI, Verschuren WM, Picavet HS. Characterizing adult sleep behavior over 20 years – The populations - based doetinchem cohort study. Sleep (Basel). 2017;40(7). https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085.
https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085...
O sono insatisfatório interfere negativamente na saúde humana e, se não tratado, pode resultar em doenças graves.33. Cho JW, Duffy JF. Sleep, Sleep Disorders, and Sexual Dysfunction. World J Mens Health. 2018;36:e29.

Diversos estudos têm revelado os mecanismos fisiológicos do sono e suas alterações.44. Luyster FS, Strollo PJ Jr, Zee PC, Walsh JK; Boards of Directors of the American Academy of Sleep Medicine and the Sleep Research Society. Sleep: a health imperative. Sleep (Basel). 2012;35(6):727–34.,55. Dmitrzak-Weglarz M, Reszka E. Pathophysiology of Depression: Molecular Regulation of Melatonin Homeostasis - Current Status. Neuropsychobiology. 2017;76(3):117–29. Distúrbios advindos do sono acontecem quando sua duração e qualidade são alterados, o que tem sido associado a doenças crônicas e à morbimortalidade, além de ser fator influenciador nas relações sociais.66. Tomfohr LM, Edwards KM, Madsen JW, Mills PJ. Social support moderates the relationship between sleep and inflammation in a population at high risk for developing cardiovascular disease. Psychophysiology. 2015;52(12):1689–97.,77. Wu W, Wang W, Dong Z, Xie Y, Gu Y, Zhang Y, et al. Sleep Quality and Its Associated Factors among Low-Income Adults in a Rural Area of China: A Population-Based Study. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(9):E2055. A qualidade de sono, na contemporaneidade, decorre de rápidas transformações econômicas e sociais, e expõe o indivíduo a um sono de má qualidade. São elas: eventos de estresse, trabalhos em horários prolongados, refeição irregular, carência de exercícios físicos, hábitos de fumar, ingestão de bebida alcoólica e doenças crônicas.44. Luyster FS, Strollo PJ Jr, Zee PC, Walsh JK; Boards of Directors of the American Academy of Sleep Medicine and the Sleep Research Society. Sleep: a health imperative. Sleep (Basel). 2012;35(6):727–34.,88. Wang S, Li B, Wu Y, Ungvari GS, Ng CH, Fu Y, et al. Relationship of Sleep Duration with Sociodemographic Characteristics, Lifestyle, Mental Health, and Chronic Diseases in a Large Chinese Adult Population. J Clin Sleep Med. 2017;13(3):377–84.

Ao mesmo tempo, a qualidade do sono dos indivíduos sofre influências de cunho sociocultural,99. Fatima Y, Doi SA, Najman JM, Mamun AA. Exploring Gender Difference in Sleep Quality of Young Adults: Findings from a Large Population Study. Clin Med Res. 2016;14(3-4):138–44.,1010. Salahuddin M, Maru TT, Kumalo A, Pandi-Perumal SR, Bahammam AS, Manzar MD. Validation of the Pittsburgh sleep quality index in community dwelling Ethiopian adults. Health Qual Life Outcomes. 2017;15(1):58.tendo como fatores de risco distúrbios emocionais, comorbidades e idade, sendo mais prevalente em mulheres.1111. Štefan L, Juranko D, Prosoli R, Barić R, Sporiš G. Self-Reported Sleep Duration and Self-Rated Health in Young Adults. J Clin Sleep Med. 2017;13(7):899–904. Assim, prejuízos qualidade do sono têm sido associados a: ausência de atividade física, tabagismo e consumo de álcool, comportamento sedentário e sofrimento psicológico.1111. Štefan L, Juranko D, Prosoli R, Barić R, Sporiš G. Self-Reported Sleep Duration and Self-Rated Health in Young Adults. J Clin Sleep Med. 2017;13(7):899–904.

Embora o sono seja frequentemente investigado na população,11. Youngstedt SD, Goff EE, Reynolds AM, Kripke DF, Irwin MR, Bootzin RR, et al. Has adult sleep duration declined over the last 50+ years? Sleep Med Rev. 2016;28:69–85.,22. Zomers ML, Hulsegge G, van Oostrom SH, Proper KI, Verschuren WM, Picavet HS. Characterizing adult sleep behavior over 20 years – The populations - based doetinchem cohort study. Sleep (Basel). 2017;40(7). https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085.
https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085...
,44. Luyster FS, Strollo PJ Jr, Zee PC, Walsh JK; Boards of Directors of the American Academy of Sleep Medicine and the Sleep Research Society. Sleep: a health imperative. Sleep (Basel). 2012;35(6):727–34. ações dos serviços de saúde voltadas seu cuidado muitas vezes são negligenciadas. Neste sentido, os distúrbios do sono têm merecido atenção no âmbito da saúde pública, uma vez que a boa qualidade do sono propicia melhor saúde e bem-estar, e representa um processo biológico primordial para a saúde física e mental.1212. Buysse DJ. Sleep health: can we define it? Does it matter? Sleep (Basel). 2014;37(1):9–17.

Diante do exposto, e pela relevância do tema para a promoção e prevenção de agravos crônicos à saúde, o presente estudo objetivou avaliar a qualidade e duração de sono entre usuários da rede pública de saúde e fatores associados.

Métodos

Estudo transversal, realizado com usuários de dispositivos de saúde em um município de médio porte, referência na atenção à saúde para 11 outros municípios, localizado na região Centro-Oeste do Brasil. Os dados foram coletados entre os meses de março a outubro de 2016, na Atenção Primária à Saúde em três unidades de saúde da família (ESF), duas unidades básicas de saúde (UBS) e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h); na Atenção de Média Complexidade à saúde abarcou-se dois hospitais gerais e um hospital Materno-Infantil.

Para o cálculo amostral, considerou-se a população de 67 mil habitantes no município da investigação dentro da faixa etária escolhida, conforme os critérios de inclusão, a prevalência antecipada de qualidade de sono ruim de 38%,1313. Lacruz ME, Schmidt-Pokrzywniak A, Dragano N, Moebus S, Deutrich SE, Möhlenkamp S, et al. Depressive symptoms, life satisfaction and prevalence of sleep disturbances in the general population of Germany: results from the Heinz Nixdorf Recall study. BMJ Open. 2016;6(1):e007919. o poder estatístico de 80% (β= 20%), o grau de significância de 5% (α= 0,05) e o efeito de desenho de 3,0, 10% de acréscimo para possíveis perdas e totalizando uma amostra probabilística de 777 indivíduos. Incluíram-se pacientes com idade ≥18 anos, de ambos os sexos, residentes no município, usuários do sistema de saúde pública local e sem diagnóstico médico prévio de distúrbio de sono. Excluíram-se os indivíduos em estado aparente de confusão mental, após a realização de breve exame físico.

Antecedendo a coleta de dados, realizou-se o teste piloto com dez indivíduos que estavam nos serviços de saúde, porém não residentes no município. A coleta de dados foi conduzida por entrevista face a face em ambiente privativo cedido pelos gestores dos serviços de saúde. Aplicou-se instrumento semiestruturado, que contemplava informações sociodemográficas, hábitos de vida e condições de saúde. A qualidade do sono foi avaliada pelo Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh, validado no Brasil em 2011. Este índice avalia a qualidade do sono no último mês, sendo composto por 19 perguntas autoavaliadas e cinco direcionadas aos cônjuges ou parceiros de quarto. As 19 questões iniciais classificam-se em sete componentes, que recebem a pontuação de zero a 3: qualidade do sono subjetiva, latência do sono, duração do sono, sono habitual, distúrbios do sono, uso de medicação para dormir e disfunção diurna. Sua pontuação final oscila de zero a 21 pontos. Escore >5 indica qualidade de sono ruim.1414. Bertolazi AN, Fagondes SC, Hoff LS, Dartora EG, Miozzo IC, de Barba ME, et al. Validation of the Brazilian Portuguese version of the Pittsburgh Sleep Quality Index. Sleep Med. 2011;12(1):70–5. Foram consideradas três variáveis dependentes provenientes do Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh: “qualidade do sono ruim”, com escore >5; “curta duração do sono”, definida como 6 ou menos horas de sono diária; e “longa duração do sono”, entendida como mais de 8 horas de sono diárias.1414. Bertolazi AN, Fagondes SC, Hoff LS, Dartora EG, Miozzo IC, de Barba ME, et al. Validation of the Brazilian Portuguese version of the Pittsburgh Sleep Quality Index. Sleep Med. 2011;12(1):70–5.

Consideraram-se como variáveis independentes: sexo (masculino e feminino); idade (≤55 e >55 anos); estado marital (sem companheiro e com companheiro); escolaridade (>8 e ≤8 anos); renda familiar categorizada em estratos econômicos: C1=R$2.705,00 (>2.705.00 e ≤ 2.705,00), entre os demais (A=R$20.888,00, B1=R$9.254,00, B2=R$4.852,00, C2=R$1.625,00, D-E=R$768,00);1515. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério Brasil 2018: CRITÉRIO BRASIL 2018: Diretrizes de ordem geral, a serem consideradas pelas entidades prestadoras de serviços e seus clientes, a respeito da adoção do Novo Critério de Classificação Econômica Brasil. [Internet]. São Paulo: ABEP; 2018. [citado 2018 Dez 21]. Disponível em: http://www.abep.org/criterio-brasil
http://www.abep.org/criterio-brasil...
ter filhos (não e sim); cor da pele (branca e não branca); emprego (formal e informal); morar com amigos (não e sim); morar somente com filhos (não e sim); atendimento na Unidade de Atenção Secundária à Saúde (não e sim); e relato de binge drinking (não e sim). O binge drinking refere-se ao consumo excessivo de álcool, sendo, para o sexo feminino, ≥4 doses de álcool e, para o masculino, ≥5 em uma mesma ocasião,1616. Bouchery EE, Harwood HJ, Sacks JJ, Simon CJ, Brewer RD. Economic costs of excessive alcohol consumption in the U.S., 2006 [Erratum in: Am J Prev Med. 2013;44] [2]. Am J Prev Med. 2011 Nov;41(5):516–24. além do uso de drogas ilícitas (não e sim) e presença de condições e os agravos crônicos não transmissíveis (angina, colesterol aumentado e hipertensão arterial sistêmica autoreferida).

A obesidade foi verificada pelo cálculo do índice de massa corporal. Foram considerados obesos indivíduos com índice de massa corporal >30kg/m22. Zomers ML, Hulsegge G, van Oostrom SH, Proper KI, Verschuren WM, Picavet HS. Characterizing adult sleep behavior over 20 years – The populations - based doetinchem cohort study. Sleep (Basel). 2017;40(7). https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085.
https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085...
.1717. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2009/2010 [Internet]. 3a ed. Itapevi, SP: AC Farmacêutica, 2010 [citado 2018 Dez 21]. Disponível em: http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf
http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_b...
O peso foi mensurado por meio de uma balança digital e a altura foi identificada através do estadiômetro. A variável ter ansiedade foi obtida por meio da pergunta “você já fez tratamento ou recebeu o diagnóstico médico de ansiedade? E depressão, você já fez tratamento ou recebeu o diagnóstico médico de depressão?”

Os dados foram digitados em planilha eletrônica em dupla entrada e, posteriormente, analisados com apoio do software STATA versão 12.0. As variáveis quantitativas foram analisadas por média, intervalo de confiança de 95% (IC95%) e desvio padrão; as categóricas, em números absolutos, prevalências e IC95%. Nas análises bivariada e múltipla, aplicou-se regressão de Poisson, e a medida de efeito foi a razão de prevalência. O teste do qui-quadrado verificou as diferenças entre as proporções na análise bivariada. As variáveis independentes que apresentaram na análise bruta p<0,10 foram submetidas ao modelo de múltiplo. Nele, as variáveis com p<0,05 foram considerados associadas.

A pesquisa faz parte de um projeto matricial intitulado: Doenças relacionadas ao coração e outros agravos à saúde entre fumantes no sudeste goiano e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, sob o parecer 2.331.604 e respeitou os princípios éticos da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012.

Resultados

Participaram da presente investigação 775 indivíduos. Houve a perda de dois indivíduos, sem impacto, pois isso estava dentro da possibilidade das perdas amostrais. Mais da metade da amostra (53,9%; IC95% 50,1-57,6) era do sexo feminino. Em relação à idade dos participantes, a média foi de 39,7 anos (IC95% 38,61-40,77; desvio padrão de 14,8). A escolaridade média foi de 9,7 anos (IC95% 9.40-10.06; desvio padrão de 4,5). A renda média encontrada foi de R$2.777,33 (IC95% 2.559,49-3.024,97; desvio padrão R$2.947,64). A prevalência para a qualidade de sono ruim, pelo escore do Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh, foi de 57,4% (IC95% 53,8-60,9). A prevalência para curta duração de sono foi de 9,3% (IC95% 7,4-11,1) e a de longa duração de sono foi 24,9% (IC95% 21,8-28,4). Os fatores associados às variáveis dependentes do estudo, na análise bivariada, são evidenciados na tabela 1.

Tabela 1
Análise bivariada das variáveis dependentes relativas ao qualidade e duração de sono com variáveis independentes sociodemográficos, hábitos de vida e condição de saúde

Na análise bivariada, as variáveis associadas ao desfecho qualidade de sono ruim foram sexo feminino; morar com crianças; binge drinking; uso de substância ilícita; angina; colesterol aumentado; hipertensão arterial sistêmica; depressão e ansiedade. Quanto à variável desfecho curta duração de sono, associaram-se idade >55 anos; escolaridade ≤ 8 anos; ter filhos e obesidade. Idade >55 anos; escolaridade ≤8 anos; renda R$2.705,00; cor da pele branca; hipertensão arterial sistêmica e depressão associaram-se à variável longa duração de sono. A tabela 2 apresenta a análise múltipla dos fatores associados às variáveis dependentes deste estudo.

Tabela 2
Análise múltipla dos fatores associados às variáveis dependentes de qualidade e duração de sono alteradas

Na análise múltipla, os fatores associados à qualidade de sono ruim foram sexo feminino, binge drinking, uso de substâncias ilícitas, angina e depressão. Curta duração do sono associou-se à obesidade. A idade foi associada à longa duração do sono.

Discussão

O presente estudo avaliou a qualidade e duração de sono por meio da mensuração de sua qualidade e da duração de sono por dia, com apontamentos de fatores associados, testando variáveis sociodemográficas, comportamentais e histórico de processo saúde-doença, em uma população de usuários de dispositivos de saúde, que compõem a rede de atenção à saúde de um município da Região Central do Brasil.

Embora apresente algumas limitações, como em seu delineamento que impossibilita a relação causa-efeito, essa investigação inovou ao se considerar o espaço geográfico da região e ao revelar dados sobre os fatores intrínsecos e extrínsecos, que predispõem o indivíduo aos distúrbios do sono. Também, inova ao avaliar variáveis comportamentais de uso de substâncias psicoativas da população atendida na rede pública da Região Central do Brasil, que podem interferir negativamente a qualidade e duração de sono. A prevalência da má qualidade de sono da presente investigação foi de 57,4%. As prevalências de sono ruim são variadas e divergentes da apontada neste estudo, e muito se deve à localidade e à população investigada. Em estudo realizado em São Paulo, a qualidade de sono ruim foi de 46,7%;1818. Zanuto EA, Lima MC, Araujo RG, Silva EP, Anzolin CC, Araujo MY, et al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo. Rev Bras Epidemiol. 2015;1(18):42–53.em outros dois estudos de coorte oriundos da Alemanha, a porcentagem encontrada foi de 38%1313. Lacruz ME, Schmidt-Pokrzywniak A, Dragano N, Moebus S, Deutrich SE, Möhlenkamp S, et al. Depressive symptoms, life satisfaction and prevalence of sleep disturbances in the general population of Germany: results from the Heinz Nixdorf Recall study. BMJ Open. 2016;6(1):e007919.e, em Helsinque, de 72,9%.1919. Aydinlar EI, Dikmen PY, Kosak S, Kocaman AS. OnabotulinumtoxinA effectiveness on chronic migraine, negative emotional states and sleep quality: a single-center prospective cohort study. J Headache Pain. 2017;18(1):23.Contudo, as variáveis associadas foram semelhantes: obesidade, sexo feminino e idade igual ou acima de 60 anos,1818. Zanuto EA, Lima MC, Araujo RG, Silva EP, Anzolin CC, Araujo MY, et al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo. Rev Bras Epidemiol. 2015;1(18):42–53. bem como sintomas depressivos e alteração do humor.1313. Lacruz ME, Schmidt-Pokrzywniak A, Dragano N, Moebus S, Deutrich SE, Möhlenkamp S, et al. Depressive symptoms, life satisfaction and prevalence of sleep disturbances in the general population of Germany: results from the Heinz Nixdorf Recall study. BMJ Open. 2016;6(1):e007919.,1919. Aydinlar EI, Dikmen PY, Kosak S, Kocaman AS. OnabotulinumtoxinA effectiveness on chronic migraine, negative emotional states and sleep quality: a single-center prospective cohort study. J Headache Pain. 2017;18(1):23.

Considerando o sexo, verificou-se que o feminino esteve mais propenso à má qualidade de sono (razão de prevalência 1,08; IC95% 1,03-1,14; p=0,00). Em relação a esses achados, as mulheres apresentam maior probabilidade de problemas na qualidade de sono, o que é explicado por fatores sociodemográficos, como culturais, raciais e sociais.99. Fatima Y, Doi SA, Najman JM, Mamun AA. Exploring Gender Difference in Sleep Quality of Young Adults: Findings from a Large Population Study. Clin Med Res. 2016;14(3-4):138–44.,1818. Zanuto EA, Lima MC, Araujo RG, Silva EP, Anzolin CC, Araujo MY, et al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo. Rev Bras Epidemiol. 2015;1(18):42–53. Elas se tornam mais vulneráveis também por fatores genéticos e fisiológicos, como alterações fisiológicas hormonais, desde a menstruação e a menopausa, com o eventual declínio nos estrogênios, bem como do estradiol ovariano, que interfere na disposição e na capacidade de manter suas atividades diárias, com implicações na má qualidade do sono.2020. Mong JA, Cusmano DM. Sex differences in sleep: impact of biological sexand sex steroids. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2016;371(1688):20150110.,2121. Beijamini, F., Knutson, K. L., Lorenzi-Filho, G., Egan, K. J., Taporoski, T. P., De Paula, L. K. G., ... & Krieger, J. E. Timing and quality of sleep in a rural Brazilian family-based cohort, the Baependi Heart Study. Sci Rep. 2016;6(39283).Essa propensão se potencializa quando a mulher tem como estilo de vida ser tabagista, o uso frequentes de medicamentos e o abuso de drogas.99. Fatima Y, Doi SA, Najman JM, Mamun AA. Exploring Gender Difference in Sleep Quality of Young Adults: Findings from a Large Population Study. Clin Med Res. 2016;14(3-4):138–44.

Nesta pesquisa, o binge drinking foi fator de risco para a qualidade do sono ruim. Esse comportamento compulsivo pelo álcool pode ser adotado por algumas pessoas com dificuldades para adormecer; observa-se, então, o uso da substância para sanar tal limitação.2222. Canham SL, Kaufmann CN, Mauro PM, Mojtabai R, Spira AP. Binge drinking and insomnia in middle-aged and older adults: the Health and Retirement Study. Int J Geriatr Psychiatry. 2015;30(3):284–91.Por outro lado, a bebida alcoólica pode alterar o funcionamento do sistema de temporização circadiana, com alteração das ondas cerebrais, redução do tempo de sono na fase denominada Rapid Eyes Movement (REM) e aparecimento de episódios de insônia, além de se perturbar o período latente do sono. Do mesmo modo, ocorrem outros efeitos relacionados ao uso álcool, como comprometimento da memória, além do efeito diurético da substância, o que também provoca interrupções do sono, tornando-o fragmentado.2323. Lo HM, Leung JH, Chau GK, Lam MH, Lee KY, Ho A. Factors Affecting Sleep Quality among Adolescent Athletes. Sports Nutr Ther. 2017;2(123):1–6.

Neste contexto, o consumo de álcool e o uso de substâncias ilícitas igualmente afetam o sistema de temporização circadiana, já que a maioria dos zeitgebers conhecidos (sincronizadores externos) do ritmo circadiano são prejudicados durante o uso agudo ou crônico destas substâncias psicoativas.2424. Angarita GA, Emadi N, Hodges S, Morgan PT. Sleep abnormalities associated with alcohol, cannabis, cocaine, and opiate use: a comprehensive review. Addict Sci Clin Pract. 2016;11(1):9. Estudo realizado na China evidenciou prevalência de 68,5% para a qualidade do sono ruim em indivíduos que faziam uso de drogas ilícitas.2525. Tang J, Liao Y, He H, Deng Q, Zhang G, Qi C, et al. Sleeping problems in Chinese illicit drug dependent subjects. BMC Psychiatry. 2015;15(1):28. A substância ilícita atua no sistema nervoso central e, consequentemente, altera a liberação de neurotransmissores que controlam o ciclo sono-vigília.44. Luyster FS, Strollo PJ Jr, Zee PC, Walsh JK; Boards of Directors of the American Academy of Sleep Medicine and the Sleep Research Society. Sleep: a health imperative. Sleep (Basel). 2012;35(6):727–34.,2525. Tang J, Liao Y, He H, Deng Q, Zhang G, Qi C, et al. Sleeping problems in Chinese illicit drug dependent subjects. BMC Psychiatry. 2015;15(1):28. Tal achado corrobora resultado desta investigação, uma vez que o uso de substâncias ilícitas associou-se à variável qualidade de sono ruim.

A associação entre angina e qualidade de sono ruim, verificada na presente pesquisa, está de acordo os achados de outros estudos. Canadenses com alto escore para angina tiveram chance de 3,27 vezes maior de apresentarem qualidade do sono ruim.2626. Yilmaz S, Aksoy E, Doğan T, Diken Aİ, Yalcınkaya A, Ozşen K. Angina severity predicts worse sleep quality after coronary artery bypass grafting. Perfusion. 2016;31(6):471–6.Além disso, uma coorte apontou que indivíduos com duração do sono curto ou má qualidade do sono têm mais predisposição para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (angina: 1,62% na Holanda, 8,11% Suriname no sul asiático, 5,4%na África, 5,14% em ganenses, 10,1% na Turquia e 7,35% em Marrocos; além de claudicação intermitente e infarto do miocárdio), dentre outros achados que acompanharam outras situações de saúde-doença como: obesidade, alterações hormonais e estresses, apontados como fatores de risco para o sono irregular.2727. Anujuo K, Agyemang C, Snijder MB, Jean-Louis G, van den Born BJ, Peters RJ, et al. Contribution of short sleep duration to ethnic differences in cardiovascular disease: results from a cohort study in the Netherlands. BMJ Open. 2017;7(11):e017645.

No âmbito da dimensão psíquica, a associação encontrada neste estudo tem sido apontada como fator de risco para alterações no padrão de sono. Estudo transversal realizado em Portugal, Espanha e Brasil verificou associações entre má qualidade sono e estresse, ansiedade e depressão.2828. João KA, Jesus SN, Carmo C, Pinto P. The impact of sleep quality on the mental health of a non-clinical population. Sleep Med. 2018;46:69–73.A qualidade de sono pode estar relacionada com fatores socioeconômicos e culturais da população.2828. João KA, Jesus SN, Carmo C, Pinto P. The impact of sleep quality on the mental health of a non-clinical population. Sleep Med. 2018;46:69–73.Quanto ao mecanismo da relação existente entre a alteração do sono e depressão, alguns estudos sugerem que as alterações psicológicas e comportamentais agravam o sono,1313. Lacruz ME, Schmidt-Pokrzywniak A, Dragano N, Moebus S, Deutrich SE, Möhlenkamp S, et al. Depressive symptoms, life satisfaction and prevalence of sleep disturbances in the general population of Germany: results from the Heinz Nixdorf Recall study. BMJ Open. 2016;6(1):e007919.,2929. Matsumoto T, Tabara Y, Murase K, Takahashi Y, Setoh K, Kawaguchi T, et al. Combined association of clinical and lifestyle factors with non-restorative sleep: The Nagahama Study. PLoS One. 2017;12(3):e0171849. tais como a depressão.88. Wang S, Li B, Wu Y, Ungvari GS, Ng CH, Fu Y, et al. Relationship of Sleep Duration with Sociodemographic Characteristics, Lifestyle, Mental Health, and Chronic Diseases in a Large Chinese Adult Population. J Clin Sleep Med. 2017;13(3):377–84.,3030. Kalmbach DA, Pillai V, Drake CL. Nocturnal insomnia symptoms and stress-induced cognitive intrusions in risk for depression: A 2-year prospective study. PLoS One. 2018;13(2):e0192088. Nesta mesma perspectiva, salientou-se que a intrínseca afinidade entre o sono e os distúrbios depressivos, juntando-se ao estresse, ou seja, a dificuldade para dormir origina períodos de vigília noturna, propensos a pensamentos intrusivos. Logo, evidenciou-se que a incapacidade de adaptação a eventos estressantes e os efeitos da excitação cognitiva e alteração da vigília noturna são responsáveis pelo aparecimento da depressão.3030. Kalmbach DA, Pillai V, Drake CL. Nocturnal insomnia symptoms and stress-induced cognitive intrusions in risk for depression: A 2-year prospective study. PLoS One. 2018;13(2):e0192088.

Tal eventualidade relaciona-se também aos fatores hormonais, sobretudo à melatonina, responsável pelo sistema de temporização circadiana do ciclo sono-vigília. Alterações nos níveis deste hormônio associam-se aos sintomas depressivos, visto que as pessoas que apresentam distúrbios psicológicos estão mais propensas a apresentaram diminuição da necessidade do sono, hipersonia ou mesmo insônia.55. Dmitrzak-Weglarz M, Reszka E. Pathophysiology of Depression: Molecular Regulation of Melatonin Homeostasis - Current Status. Neuropsychobiology. 2017;76(3):117–29.

A variável obesidade associou-se à variável dependente sono curto. Corroborando os achados desta pesquisa, diversos estudos1818. Zanuto EA, Lima MC, Araujo RG, Silva EP, Anzolin CC, Araujo MY, et al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo. Rev Bras Epidemiol. 2015;1(18):42–53.,3131. Clark AJ, Salo P, Lange T, Jennum P, Virtanen M, Pentti J, et al. Onset of impaired sleep as a predictor of change in health-related behaviours; analysing observational data as a series of non-randomized pseudo-trials. Int J Epidemiol. 2015;44(3):1027–37. evidenciam a associação entre menor tempo de sono (<6 horas), índice de massa corporal elevado, obesidade e doenças crônicas.3232. Shan Z, Ma H, Xie M, Yan P, Guo Y, Bao W, et al. Sleep duration and risk of type 2 diabetes: a meta-analysis of prospective studies. Diabetes Care. 2015;38(3):529–37.,3333. Hibi M, Kubota C, Mizuno T, Aritake S, Mitsui Y, Katashima M, et al. Effect of shortened sleep on energy expenditure, core body temperature, and appetite: a human randomised crossover trial. Sci Rep. 2017;7(1):39640. Sugere-se que os hormônios responsáveis pelo balanço energético durante o sono, como a leptina, a insulina, a glicose, a adiponectina, o cortisol e a grelina, apresentam níveis alterados em indivíduos com curta duração do sono, estimulando as regiões corticais a desejarem alimentos com alto teor calórico e má qualidade nutricional, predispondo-os à obesidade.3434. McHill AW, Hull JT, McMullan CJ, Klerman EB. Chronic insuficiente sleep has a limited impact on circadian rhythmicity of subjective hhunger and awakening fasted metabolic hormones. Front Endocrinol (Lausanne). 2018;9:319.

Em relação à idade, indivíduos com idade superior a 55 anos estão mais propensos em apresentar duração de sono longa. Corroborando esse achado em investigação transversal realizada na Filadélfia, indivíduos mais velhos apresentaram maior satisfação em relação à longa duração do sono. As justificativas podem ocorrer em razão de terem mais tempo para dormir, menos filhos em casa, trabalhar menos e ter menos estresse. Entretanto, fisiologicamente, na proporção que os indivíduos envelhecem, seu organismo passa a exigir menor tempo de sono, para sua satisfação e qualidade.2121. Beijamini, F., Knutson, K. L., Lorenzi-Filho, G., Egan, K. J., Taporoski, T. P., De Paula, L. K. G., ... & Krieger, J. E. Timing and quality of sleep in a rural Brazilian family-based cohort, the Baependi Heart Study. Sci Rep. 2016;6(39283).,3535. Fox EC, Wang K, Aquino M, Grandner MA, Xie D, Branas CC, et al. Sleep debt at the community level: impact of age, sex, race/ethnicity and health. Sleep Health. 2018;4(4):317–24.

Ademais, faz-se necessário mencionar algumas limitações do presente estudo, conforme já mencionado, delineamento transversal, impediu estimar a relação causa-efeito entre as ocorrências e o recrutamento por conveniência, de modo que os dados fornecidos pelos indivíduos podem ter o viés da memória durante o autorrelato nas entrevistas. As perguntas direcionadas aos companheiros de cama/quarto do Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh deixaram de ser aplicadas, visto que, na maioria das vezes, estes não se encontravam no momento da entrevista. Além disso, a literatura carece de investigações2121. Beijamini, F., Knutson, K. L., Lorenzi-Filho, G., Egan, K. J., Taporoski, T. P., De Paula, L. K. G., ... & Krieger, J. E. Timing and quality of sleep in a rural Brazilian family-based cohort, the Baependi Heart Study. Sci Rep. 2016;6(39283). que analisaram as variáveis estudadas no presente estudo como fatores associados, fato que limitou as inferências dos achados, levando a uma discussão análoga quanto aos fatores associados.

Conclusão

A irregularidade nas características do sono relacionaram-se intimamente à sua qualidade, ao tempo de duração do sono diário, bem como a outros fatores associados, como sexo feminino, binge drinking, uso de substâncias ilícitas, angina, depressão, obesidade e idade. Tal irregularidade do sono, juntamente dos fatores associados, retroalimentam-se e potencializam-se; assim, ampliam a vulnerabilidade de danos crônicos à saúde dos indivíduos que, cotidianamente, apresentam-se nas demandas de atendimentos dos serviços de saúde. Por fim, é preciso que os trabalhadores do setor se atentem para esse fenômeno na atenção às necessidades de saúde dos usuários.

Referências

  • 1
    Youngstedt SD, Goff EE, Reynolds AM, Kripke DF, Irwin MR, Bootzin RR, et al. Has adult sleep duration declined over the last 50+ years? Sleep Med Rev. 2016;28:69–85.
  • 2
    Zomers ML, Hulsegge G, van Oostrom SH, Proper KI, Verschuren WM, Picavet HS. Characterizing adult sleep behavior over 20 years – The populations - based doetinchem cohort study. Sleep (Basel). 2017;40(7). https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085
    » https://doi.org/10.1093/sleep/zsx085
  • 3
    Cho JW, Duffy JF. Sleep, Sleep Disorders, and Sexual Dysfunction. World J Mens Health. 2018;36:e29.
  • 4
    Luyster FS, Strollo PJ Jr, Zee PC, Walsh JK; Boards of Directors of the American Academy of Sleep Medicine and the Sleep Research Society. Sleep: a health imperative. Sleep (Basel). 2012;35(6):727–34.
  • 5
    Dmitrzak-Weglarz M, Reszka E. Pathophysiology of Depression: Molecular Regulation of Melatonin Homeostasis - Current Status. Neuropsychobiology. 2017;76(3):117–29.
  • 6
    Tomfohr LM, Edwards KM, Madsen JW, Mills PJ. Social support moderates the relationship between sleep and inflammation in a population at high risk for developing cardiovascular disease. Psychophysiology. 2015;52(12):1689–97.
  • 7
    Wu W, Wang W, Dong Z, Xie Y, Gu Y, Zhang Y, et al. Sleep Quality and Its Associated Factors among Low-Income Adults in a Rural Area of China: A Population-Based Study. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(9):E2055.
  • 8
    Wang S, Li B, Wu Y, Ungvari GS, Ng CH, Fu Y, et al. Relationship of Sleep Duration with Sociodemographic Characteristics, Lifestyle, Mental Health, and Chronic Diseases in a Large Chinese Adult Population. J Clin Sleep Med. 2017;13(3):377–84.
  • 9
    Fatima Y, Doi SA, Najman JM, Mamun AA. Exploring Gender Difference in Sleep Quality of Young Adults: Findings from a Large Population Study. Clin Med Res. 2016;14(3-4):138–44.
  • 10
    Salahuddin M, Maru TT, Kumalo A, Pandi-Perumal SR, Bahammam AS, Manzar MD. Validation of the Pittsburgh sleep quality index in community dwelling Ethiopian adults. Health Qual Life Outcomes. 2017;15(1):58.
  • 11
    Štefan L, Juranko D, Prosoli R, Barić R, Sporiš G. Self-Reported Sleep Duration and Self-Rated Health in Young Adults. J Clin Sleep Med. 2017;13(7):899–904.
  • 12
    Buysse DJ. Sleep health: can we define it? Does it matter? Sleep (Basel). 2014;37(1):9–17.
  • 13
    Lacruz ME, Schmidt-Pokrzywniak A, Dragano N, Moebus S, Deutrich SE, Möhlenkamp S, et al. Depressive symptoms, life satisfaction and prevalence of sleep disturbances in the general population of Germany: results from the Heinz Nixdorf Recall study. BMJ Open. 2016;6(1):e007919.
  • 14
    Bertolazi AN, Fagondes SC, Hoff LS, Dartora EG, Miozzo IC, de Barba ME, et al. Validation of the Brazilian Portuguese version of the Pittsburgh Sleep Quality Index. Sleep Med. 2011;12(1):70–5.
  • 15
    Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério Brasil 2018: CRITÉRIO BRASIL 2018: Diretrizes de ordem geral, a serem consideradas pelas entidades prestadoras de serviços e seus clientes, a respeito da adoção do Novo Critério de Classificação Econômica Brasil. [Internet]. São Paulo: ABEP; 2018. [citado 2018 Dez 21]. Disponível em: http://www.abep.org/criterio-brasil
    » http://www.abep.org/criterio-brasil
  • 16
    Bouchery EE, Harwood HJ, Sacks JJ, Simon CJ, Brewer RD. Economic costs of excessive alcohol consumption in the U.S., 2006 [Erratum in: Am J Prev Med. 2013;44] [2]. Am J Prev Med. 2011 Nov;41(5):516–24.
  • 17
    Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2009/2010 [Internet]. 3a ed. Itapevi, SP: AC Farmacêutica, 2010 [citado 2018 Dez 21]. Disponível em: http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf
    » http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf
  • 18
    Zanuto EA, Lima MC, Araujo RG, Silva EP, Anzolin CC, Araujo MY, et al. Distúrbios do sono em adultos de uma cidade do Estado de São Paulo. Rev Bras Epidemiol. 2015;1(18):42–53.
  • 19
    Aydinlar EI, Dikmen PY, Kosak S, Kocaman AS. OnabotulinumtoxinA effectiveness on chronic migraine, negative emotional states and sleep quality: a single-center prospective cohort study. J Headache Pain. 2017;18(1):23.
  • 20
    Mong JA, Cusmano DM. Sex differences in sleep: impact of biological sexand sex steroids. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2016;371(1688):20150110.
  • 21
    Beijamini, F., Knutson, K. L., Lorenzi-Filho, G., Egan, K. J., Taporoski, T. P., De Paula, L. K. G., ... & Krieger, J. E. Timing and quality of sleep in a rural Brazilian family-based cohort, the Baependi Heart Study. Sci Rep. 2016;6(39283).
  • 22
    Canham SL, Kaufmann CN, Mauro PM, Mojtabai R, Spira AP. Binge drinking and insomnia in middle-aged and older adults: the Health and Retirement Study. Int J Geriatr Psychiatry. 2015;30(3):284–91.
  • 23
    Lo HM, Leung JH, Chau GK, Lam MH, Lee KY, Ho A. Factors Affecting Sleep Quality among Adolescent Athletes. Sports Nutr Ther. 2017;2(123):1–6.
  • 24
    Angarita GA, Emadi N, Hodges S, Morgan PT. Sleep abnormalities associated with alcohol, cannabis, cocaine, and opiate use: a comprehensive review. Addict Sci Clin Pract. 2016;11(1):9.
  • 25
    Tang J, Liao Y, He H, Deng Q, Zhang G, Qi C, et al. Sleeping problems in Chinese illicit drug dependent subjects. BMC Psychiatry. 2015;15(1):28.
  • 26
    Yilmaz S, Aksoy E, Doğan T, Diken Aİ, Yalcınkaya A, Ozşen K. Angina severity predicts worse sleep quality after coronary artery bypass grafting. Perfusion. 2016;31(6):471–6.
  • 27
    Anujuo K, Agyemang C, Snijder MB, Jean-Louis G, van den Born BJ, Peters RJ, et al. Contribution of short sleep duration to ethnic differences in cardiovascular disease: results from a cohort study in the Netherlands. BMJ Open. 2017;7(11):e017645.
  • 28
    João KA, Jesus SN, Carmo C, Pinto P. The impact of sleep quality on the mental health of a non-clinical population. Sleep Med. 2018;46:69–73.
  • 29
    Matsumoto T, Tabara Y, Murase K, Takahashi Y, Setoh K, Kawaguchi T, et al. Combined association of clinical and lifestyle factors with non-restorative sleep: The Nagahama Study. PLoS One. 2017;12(3):e0171849.
  • 30
    Kalmbach DA, Pillai V, Drake CL. Nocturnal insomnia symptoms and stress-induced cognitive intrusions in risk for depression: A 2-year prospective study. PLoS One. 2018;13(2):e0192088.
  • 31
    Clark AJ, Salo P, Lange T, Jennum P, Virtanen M, Pentti J, et al. Onset of impaired sleep as a predictor of change in health-related behaviours; analysing observational data as a series of non-randomized pseudo-trials. Int J Epidemiol. 2015;44(3):1027–37.
  • 32
    Shan Z, Ma H, Xie M, Yan P, Guo Y, Bao W, et al. Sleep duration and risk of type 2 diabetes: a meta-analysis of prospective studies. Diabetes Care. 2015;38(3):529–37.
  • 33
    Hibi M, Kubota C, Mizuno T, Aritake S, Mitsui Y, Katashima M, et al. Effect of shortened sleep on energy expenditure, core body temperature, and appetite: a human randomised crossover trial. Sci Rep. 2017;7(1):39640.
  • 34
    McHill AW, Hull JT, McMullan CJ, Klerman EB. Chronic insuficiente sleep has a limited impact on circadian rhythmicity of subjective hhunger and awakening fasted metabolic hormones. Front Endocrinol (Lausanne). 2018;9:319.
  • 35
    Fox EC, Wang K, Aquino M, Grandner MA, Xie D, Branas CC, et al. Sleep debt at the community level: impact of age, sex, race/ethnicity and health. Sleep Health. 2018;4(4):317–24.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Out 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Oct 2019

Histórico

  • Recebido
    9 Jan 2019
  • Aceito
    20 Maio 2019
Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: actapaulista@unifesp.br