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A previsibilidade da pesca na imprevisibilidade do mar: o cotidiano da pesca nos cerritos e sambaquis do Rio Grande do Sul, Brasil

The predictability of fishing in the unpredictable sea: daily fishing life in the cerritos and sambaquis of Rio Grande do Sul

Resumo

A proposta central do texto é discutir a previsibilidade e a importância da pesca dos bagres enquanto espécies transversais presentes nos cerritos e sambaquis do Rio Grande do Sul. Para tanto, serão combinados dados históricos, etnográficos e arqueológicos, buscando evidenciar a relevância da pesca cotidiana, fundamentada nos prognósticos e ações de curto prazo, em contraponto aos ‘grandes’ calendários sazonais, característicos de algumas espécies do litoral brasileiro e apontados como pescas estruturantes das comunidades costeiras.

Palavras-chave
Previsibilidade; Imprevisibilidade; Pesca; Bagres; Cerritos; Sambaquis

Abstract

This paper discusses the predictability and importance of fishing for catfish as a cross-species present in the cerritos and sambaquis of Rio Grande do Sul. Historical, ethnographic and archaeological data are combined to highlight the relevance of daily fishing based on short-term predictions and actions, in contrast to “larger” seasonal calendars characteristic of some Brazilian coastal species and indicated as fisheries that structure coastal communities.

Keywords
Predictability; Unpredictability; Fishing; Catfish; Cerritos; Sambaquis

A IMPREVISIBILIDADE DAS ÁGUAS

A imprevisibilidade do meio aquático é um tema recorrente na literatura sobre as sociedades pescadoras e ribeirinhas (Diegues, 1998Diegues, A. (1998). Ilhas e mares: simbolismo e imaginário. Hucitec., 2000Diegues, A. (Eds.). (2000). A imagem das águas. Hucitec/NUPAUB-USP., 2004Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP.; Begossi, 2015Begossi, A. (2015). Local ecological knowledge (LEK): understanding and managing fisheries. In J. Fischer, J. Jorgensen, H. Josupei, D. Kalikoski & C. M. Lucas (Eds.), Fishers’ knowledge and the ecosystem approach to fisheries: applications, experiences and lessons in Latin America (FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper, pp. 7-18). Food and Agriculture Organization of the United Nations.; Orensanz et al., 2015Orensanz, J., Parma, A., & Cinti, A. (2015). Methods to use fisher’s knowledge for fisheries assessment and Management. In J. Fischer, J. Jorgensen, H. Josupei, D. Kalikoski & C. M. Lucas (Eds.), Fishers’ knowledge and the ecosystem approach to fisheries: applications, experiences and lessons in Latin America (FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper, pp. 41-62). Food and Agriculture Organization of the United Nations.; Futemma & Seixas, 2008Futemma, C., & Seixas, C. (2008). Há territorialidade na pesca artesanal da Baía de Ubatumirim (Ubatuba, SP)? Questões intra, inter e extra-comunitárias. Biotemas, 21(1), 125-138. https://doi.org/10.5007/2175-7925.2008v21n1p125
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; Cardoso & Haimovici, 2014Cardoso, L., & Haimovici, M. (2014). Aspectos sociais e ecológicos da pesca costeira baseada em Passo de Torres, Santa Catarina, Brasil. In M. Haimovici, J. M. Andriguetto Filho & P. S. Sunye (Orgs.), A pesca marinha e estuarina no Brasil: estudos de caso multidisciplinares (pp. 65-73). Editora da FURG.; Hanazaki et al., 2013Hanazaki, N., Berkes, F., Seixas, C. S., & Peroni, N. (2013). Livelihood diversity, food security and resilience among the Caiçara of Coastal Brazil. Human Ecology, 41, 153-164. https://doi.org/10.1007/s10745-012-9553-9
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; Souza, 2012Souza, L. (2012). A importância cultural das águas no Amazonas. História Oral, 15(1), 185-208. https://doi.org/10.51880/ho.v15i1.247
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; Duarte, 1999Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor - a reprodução social dos trabalhadores da pesca em Jurujuba. Editora da UFF. [1978]; Berkes, 2003Berkes, F. (2003). Alternatives to conventional management: lessons from small-scale fisheries. Environments, 31(1), 5-19.; Mourão, 2003Mourão, F. (2003). Pescadores do litoral sul do estado de São Paulo. Hucitec/NUPAUB-USP.; Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima. Annablume.; L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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). A natureza líquida do meio aquático conduz a padrões específicos de sociabilidade através de fenômenos e regras imprevisíveis. Sujeitas às marés, ventos, pressão atmosférica e, ao mesmo tempo, ao risco de vida e fartura1 1 Risco de vida e de fartura são temas amplamente desenvolvidos na literatura sobre sociedades pescadoras no Brasil. De modo geral, o risco de vida envolve a exposição dos pescadores à imprevisibilidade da atmosfera e das águas, já o risco de fartura opera simultaneamente como uma possibilidade de fartura de peixes capturados agenciada pelos saberes dos pescadores. , as águas são reconhecidas pelas populações pescadoras como ‘entidades’. Isso ocorre pela compreensão de que rios, lagoas e mares possuem movimentos voluntários e a capacidade de mudança associada a outras entidades presentes na natureza. A ‘essência de vida’ – que agencia as ondas, as interações com o vento, os movimentos de cheia e vazante e a vida dos seres que nela habitam – se manifesta no entendimento dos pescadores de que a água possui uma capacidade volitiva de alterar paisagens e relações, como nas “brigas de marés”, nas enchentes que invadem a terra, nas diferentes colorações que exprimem em determinadas condições atmosféricas etc. (G. Silva, 2000Silva, G. O. (2000). Água, vida e pensamento: um estudo de cosmovisão entre trabalhadores da pesca. In A. C. Diegues (Org.), A imagem das águas (pp. 27-38). Editora HUCITEC.)2 2 Estes temas são igualmente trabalhados em L. Silva (2018, 2019) e Wagner e Silva (2020, 2021a, 2021b), bem como em Silva e Wagner (2022). . Esses exemplos compõem parte importante da imprevisibilidade, que caracteriza a pesca e a reprodução do modo de vida pescador (Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima. Annablume.; Diegues, 1997Diegues, A. (1997). Tradition and change in brazilian fishing communities: towards a social anthropology of the sea. In A. Diegues (Org.), Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 1-25). NUPAUB., 2004Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP.).

Nesse sentido, L. Silva (2015)Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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aponta, por exemplo, o vento e a água como dois elementos que atuam de modo significativo na pesca artesanal. A escolha dos pesqueiros, das artepescas e dos peixes a serem pescados passa pela observação das condições do vento e da água. Apesar da existência de ciclos sazonais – vazante e cheia –, os fenômenos diários costumam ser mais imprevisíveis e preocupam os pescadores. Por isso, os pesqueiros são escolhidos também a partir de possíveis previsões para o dia seguinte, especialmente por conta das virações – mudanças atmosféricas abruptas, como tempestades de vento e/ou de chuva – que são comuns nos contextos costeiros e alteram de modo significativo a paisagem, a pesca e a navegação (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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). Em outras palavras, “a ronda do vento obriga a ronda dos pesqueiros” (Wagner, 2022Wagner, G. P. (2022). Monumentalidade e marcação: conceitos para compreender a pesca no sul do Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 17(1), e20210002. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2021-0002
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). Além das questões produtivas, relacionadas à captura dos peixes, apresenta-se o risco à navegação, especialmente nas comunidades onde a pesca se desenvolve em embarcações menores, por conta da instabilidade das mesmas diante dos ventos e das ondas presentes nos grandes corpos d’água (Adomilli, 2016Adomilli, G. (2016). Territorialidade e conflito na pesca embarcada: um estudo de caso sobre os pescadores de São José do Norte e suas analogias sobre os animais marinhos. In G. Adomilli, L. D’Ambrosio, G. Carreño & F. S. Miller (Orgs.), Povos e coletivos pesqueiros: estudos etnográficos e perspectivas socioantropológicas sobre o viver e o trabalhar (pp. 19-46). Editora da FURG.; Adomilli et al., 2019Adomilli, G., Romani, F., & Camarero, L. (2019). A arte da construção naval na pesca artesanal: sobre saberes e habilidades de carpinteiros navais do litoral do extremo sul do Brasil. Cadernos do Lepaarq, 16(32), 122-137.; L. Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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). Portanto, o caráter imprevisível da pesca envolve os riscos relacionados à produção e, ao mesmo tempo, à vida dos pescadores que se expõem no meio aquático pela navegação. Como destaca Maldonado (2000)Maldonado, S. (2000). O caminho das pedras: percepção e utilização do espaço marinho na pesca simples. In A. Diegues (Org.), A imagem das águas (pp. 59-68) Hucitec/NUPAUB-USP., essa noção de risco envolve especialmente as variáveis de caráter ambiental, como as dinâmicas das águas, das condições atmosféricas, do movimento dos cardumes de peixes e da indivisibilidade do espaço aquático.

Forman (1970)Forman, S. (1970). The raft fishermen: tradition and change in the Brazilian peasant economy. Indiana University Press. reforça o caráter diário da imprevisibilidade. Segundo o autor, as condições climáticas de curto prazo – o tempo de hoje ou amanhã – afetam significativamente a pesca, em especial quando se observam as condições de navegação. Nesse sentido, o autor destaca que a escolha de um determinado pesqueiro passa por uma avaliação do pescador, ponderando sobre um conjunto extenso de variáveis que implicam essa escolha, para o bem e para o mal. Por exemplo, quais os pesqueiros e espécies de peixes que se potencializam com um vento de quadrante sul? Quais as melhores artepescas para utilizar? Como navegar de acordo com determinadas condições? O que fazer e o que não fazer diante de uma mudança radical nas condições atmosféricas? Além disso, como avaliar as condições de pesca para o dia seguinte? Apesar de os pescadores identificarem padrões de certa recorrência em seus territórios, a preocupação com o dia seguinte se encontra dentro do imprevisível, no contexto pesqueiro (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015). As condições de navegação, de retirada dos materiais de pesca da água e do resultado da pescaria dependem das escolhas dos pescadores, mas, simultaneamente, estão inseridas em um contexto volátil e imprevisível das águas costeiras. Esse paradoxo é compreendido pelos pescadores como uma característica intrínseca ao seu modo de vida e aparece com recorrência em etnografias das sociedades pescadoras (Câmara-Cascudo, 2002 [1954]Câmara-Cascudo, L. (2002 [1954]). Jangada: uma pesquisa etnográfica. Global.; Adomilli, 2002Adomilli, G. (2002). Trabalho, meio ambiente e conflito: um estudo antropológico sobre a construção da identidade social dos pescadores do Parque Nacional da Lagoa do Peixe – RS [Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]., 2007; L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015, 2018; Sautchuk, 2007Sautchuk, C. (2007). O arpão e o anzol: técnica e pessoa no estuário do Amazonas (Vila Sucuriju, Amapá) [Tese de doutorado, Universidade Nacional de Brasília].).

A imprevisibilidade aparece também na construção simbólica das águas em oposição à terra. Duarte (1999 [1978])Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor - a reprodução social dos trabalhadores da pesca em Jurujuba. Editora da UFF. destaca que ir ao mar é se embrenhar no desconhecido e se afastar dos fenômenos socialmente previsíveis e comuns à vida na terra. Nesse sentido, para o autor, a construção ideológica da pesca passa também pelo enfrentamento da natureza, colocando em evidência o choque entre as forças imprevisíveis do mar versus a resistência e o conhecimento característicos dos pescadores. Desse choque entre o imprevisível e os pescadores originam-se outras inseguranças características da vida na pesca, tais como a fragilidade das embarcações diante do ambiente e o peixe inconstante e fugidio, que se desloca com frequência através das águas (Duarte, 1999Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor - a reprodução social dos trabalhadores da pesca em Jurujuba. Editora da UFF. [1978]). Kottak (1999)Kottak, C. (1999). Assault on paradise: social change in a Brazilian village. McGraw-Hill College. reforça essa ideologia da pesca associada com o imprevisível ao caracterizar o “espírito do pescador” como um sujeito que domina a produção na pesca. O engajamento do pescador na vida de marinheiro, no conhecimento do ambiente e da sazonalidade, dos movimentos dos cardumes e da capacidade de propor alternativas para as mudanças abruptas compõem em parte o “espírito do pescador”.

É importante destacar que a ideologia de pesca conceituada aqui tem acepção bastante diferente daquela definida por Mourão (2003)Mourão, F. (2003). Pescadores do litoral sul do estado de São Paulo. Hucitec/NUPAUB-USP., que associa o surgimento da ideologia de pesca ao advento da pesca industrial mecanizada e compartilhada apenas por aqueles que passam dias, ou até meses, embarcados no mar de fora.

Por fim, o imprevisível na pesca engloba o próprio sucesso ou fracasso de uma pescaria. Segundo Begossi (2015)Begossi, A. (2015). Local ecological knowledge (LEK): understanding and managing fisheries. In J. Fischer, J. Jorgensen, H. Josupei, D. Kalikoski & C. M. Lucas (Eds.), Fishers’ knowledge and the ecosystem approach to fisheries: applications, experiences and lessons in Latin America (FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper, pp. 7-18). Food and Agriculture Organization of the United Nations., o conhecimento da vida aquática, em especial dos peixes, é uma etapa importante para o sucesso da pescaria. No entanto, sucesso ou fracasso dependem da interação de muitas variáveis, tais como: as condições do vento, a temperatura do ambiente, o nível de salinidade da água, o movimento dos cardumes submersos e as escolhas dos pescadores, dos pesqueiros e das artepescas (Adomilli, 2002Adomilli, G. (2002). Trabalho, meio ambiente e conflito: um estudo antropológico sobre a construção da identidade social dos pescadores do Parque Nacional da Lagoa do Peixe – RS [Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]., 2007, 2016; Sautchuk, 2007Sautchuk, C. (2007). O arpão e o anzol: técnica e pessoa no estuário do Amazonas (Vila Sucuriju, Amapá) [Tese de doutorado, Universidade Nacional de Brasília].; L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015, 2018; Silvano, 2004Silvano, R. (2004). Pesca artesanal e etnoictiologia. In A. Begossi (Eds.), Ecologia de pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia (pp.187-222). NUPAUB-USP/HUCITEC/FAPESP/NEPAM-UNICAMP.). Alia-se a isso, a relação particular dos pescadores com os peixes submersos, pois, na pesca artesanal, a visão nem sempre é o sentido principal utilizado para a captura, pelo contrário, para buscar o peixe submerso é preciso agenciar o tato (percepção do fundo d’água), a audição (os sons emitidos pelos peixes), o olfato (cheiros característicos de algumas espécies) e, por último, a visão, a fim de se delimitar um pesqueiro com potencial (Ihering, 1969Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. [1885]; L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, 2018Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro].). Portanto, o conhecimento da vida do peixe é uma parte do processo de captura que delimitará o sucesso ou o fracasso de uma pescaria.

A PREVISIBILIDADE DA PESCA

Se, por um lado, o imprevisível na pesca é frequentemente lembrado pelos pescadores e pela literatura especializada, por outro, o elemento previsível – de relativa previsibilidade, na verdade – também se faz presente. Como bem sinalizou Kant de Lima (1997 [1978], p. 93)Kant de Lima, R. (1997 [1978]). Pescadores de Itaipu: a pescaria da tainha e a produção ritual da identidade social. EDUFF., as pedras marcadas, descritas originalmente em Câmara-Cascudo (2002 [1954])Câmara-Cascudo, L. (2002 [1954]). Jangada: uma pesquisa etnográfica. Global. e Forman (1967, 1970)Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal village. Ethnology, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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, representam a segurança do sucesso das campanhas, pois “destinam-se às espécies mais sedentárias”. Além disso, alguns pesqueiros apresentam historicamente resultados positivos para determinadas espécies, como apontam Maldonado (1993)Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima. Annablume., Diegues (2000Diegues, A. (Eds.). (2000). A imagem das águas. Hucitec/NUPAUB-USP., 2004)Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP. e L. Silva (2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015)Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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. No caso da pesca estuarina e lacustre, o uso de determinados pesqueiros se encontra relacionado à combinação das condições atmosféricas, à espécie de peixe buscada e ao tipo de artepesca a ser utilizado. Nesse sentido, a marcação reúne um conjunto de prognósticos (Kant de Lima, 1997Kant de Lima, R. (1997 [1978]). Pescadores de Itaipu: a pescaria da tainha e a produção ritual da identidade social. EDUFF. [1978]), fundados no saber e na memória dos pescadores, no intuito de reequilibrar forças diante do caráter imprevisível da atividade pesqueira. O caráter histórico de um pesqueiro, isto é, sua trajetória enquanto um lugar de recorrência das boas pescarias, é acessado pelos pescadores como um fator de previsibilidade de sucesso na captura.

Não há dúvida da importância da pesca ritualizada da tainha enquanto elemento de coesão social, tema já consagrado em Mussolini (1945Mussolini, G. (1945). O cêrco da tainha na ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147., 1946Mussolini, G. (1946). O cêrco flutuante: uma rede de pesca japonesa que teve na ilha de São Sebastião como centro de difusão no Brasil. Sociologia: Revista Didática e Científica, 8(3), 172-183., 1953)Mussolini, G. (1953). Aspectos da cultura e da vida social no litoral brasileiro. Revista de Antropologia, 1(2), 81-97. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1953.131254
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, Mourão (2003)Mourão, F. (2003). Pescadores do litoral sul do estado de São Paulo. Hucitec/NUPAUB-USP., Duarte (1999 [1978])Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor - a reprodução social dos trabalhadores da pesca em Jurujuba. Editora da UFF., Diegues (2004)Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP., Maldonado (1993)Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima. Annablume..

. . . O ciclo que começa em março/abril, com o preparo das redes e das canoas, a expectativa de uma pesca abundante e a subida dos vigias aos morros iniciam esse ciclo que chega ao seu pico com a saída das canoas ao mar. Ele termina com o aparecimento das tainhas magras de agosto para se reiniciar outra vez em março/abril, quando as mesmas tarefas e a mesma expectativa se repete. . .

(Diegues, 2004Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP., p. 271, grifo do autor).

Trata-se de uma pesca regida pelas estações do ano, com etapas dependentes de condições especiais, desde as temperaturas adequadas para a desova na Laguna dos Patos (o grande berçário) até o deslocamento rumo às águas do litoral sudeste. Mais do que isso, ela espera do sudoeste “o vento forte que encosta a tainha” (Mussolini, 1945Mussolini, G. (1945). O cêrco da tainha na ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147., p. 266). A preparação das comunidades costeiras para a pesca da tainha evidencia essa previsibilidade da espécie, pois, ao menos em termos de calendário, é possível delimitar um período no qual haverá possibilidades de captura de uma espécie em maior volume. Diegues (2004)Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP. reconhece que a importância da tainha para as comunidades costeiras se sustenta no campo produtivo – oferece a fartura e garante a sobrevivência das famílias – e no campo simbólico, no qual os elementos de identidade e coesão social se manifestam por meio da coletividade do trabalho na pesca. Essa combinação dos aspectos produtivos e simbólicos se manifesta também na pesca estuarina da tainha, na qual os pescadores ativam um conjunto de habilidades e prognósticos sobre a captura dessa espécie fora do calendário convencional (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul].). Nas lagoas do litoral norte do Rio Grande do Sul, é comum a captura das tainhas durante os meses de inverno, verão e primavera (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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). Os pescadores afirmam que alguns cardumes permanecem nas lagoas por conta da água mais quente e pela presença de algas e, com isso, demonstram que, além dos grandes fenômenos sazonais que mobilizam as comunidades – especialmente no caso da tainha –, há uma pesca recorrente que escapa ao calendário comum, sendo esta marcada pelo cotidiano e prognósticos diários da pesca (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015).

No entanto, a pesca da tainha – essa que mobiliza sazonalmente as comunidades – é um fenômeno de grande escala, circunscrito a um determinado período do ano. Trata-se de uma pesca importante, sem dúvida, mas os trabalhos de Mussolini (1945Mussolini, G. (1945). O cêrco da tainha na ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147., 1946Mussolini, G. (1946). O cêrco flutuante: uma rede de pesca japonesa que teve na ilha de São Sebastião como centro de difusão no Brasil. Sociologia: Revista Didática e Científica, 8(3), 172-183., 1953)Mussolini, G. (1953). Aspectos da cultura e da vida social no litoral brasileiro. Revista de Antropologia, 1(2), 81-97. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1953.131254
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e Diegues (2004)Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP. colocam em evidência esse fenômeno, tratando-o como estruturante das comunidades costeiras do Sul e Sudeste do Brasil. No entanto, as etnografias de Adomilli (2002, 2007) e L. Silva (2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, 2018)Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro]. e os trabalhos de Cardoso e Haimovici (2014)Cardoso, L., & Haimovici, M. (2014). Aspectos sociais e ecológicos da pesca costeira baseada em Passo de Torres, Santa Catarina, Brasil. In M. Haimovici, J. M. Andriguetto Filho & P. S. Sunye (Orgs.), A pesca marinha e estuarina no Brasil: estudos de caso multidisciplinares (pp. 65-73). Editora da FURG., Futemma e Seixas (2008)Futemma, C., & Seixas, C. (2008). Há territorialidade na pesca artesanal da Baía de Ubatumirim (Ubatuba, SP)? Questões intra, inter e extra-comunitárias. Biotemas, 21(1), 125-138. https://doi.org/10.5007/2175-7925.2008v21n1p125
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, Hanazaki et al. (2013)Hanazaki, N., Berkes, F., Seixas, C. S., & Peroni, N. (2013). Livelihood diversity, food security and resilience among the Caiçara of Coastal Brazil. Human Ecology, 41, 153-164. https://doi.org/10.1007/s10745-012-9553-9
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, Berkes e Seixas (2005)Berkes, F., & Seixas, C. (2005). Building resilience in lagoon social-ecological systems: a local-level perspective. Ecosystems, 8, 967-974. https://doi.org/10.1007/s10021-005-0140-4
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e Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. demonstram que a atividade pesqueira é por excelência uma prática fundada na diversidade e, acima de tudo, no domínio cotidiano dos prognósticos de curto prazo. Em resumo, grande parte das pescarias, que são passíveis de certa previsibilidade, encontra-se dentro da ação cotidiana, por meio da avaliação das condições de pesca no dia.

Willems (2003 [1952])Willems, E. (2003 [1952]). A ilha de Búzios: uma comunidade caiçara no Sul do Brasil. Hucitec. e Duarte (1999 [1978])Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor - a reprodução social dos trabalhadores da pesca em Jurujuba. Editora da UFF. sinalizaram, inclusive, que as embarcações utilizadas nas pescas de menor escala são menores e mais leves e, em contrapartida, os ‘canoões’3 3 Grandes e pesadas canoas. de cerco são necessariamente mais pesados para suportar o arraste das redes com a manta da tainha. Ao longo do litoral, as canoas da pesca da tainha possuem diferentes nomes: ‘canoas de voga’ (litoral paulista), ‘canoões’ (baía da Guanabara), ‘de vinhático’ (Valença, Bahia), ‘de calão’ (sul da Bahia) ou ‘vigilenga’ (litoral do Salgado, Pará) (cf. Wagner, 2022Wagner, G. P. (2022). Monumentalidade e marcação: conceitos para compreender a pesca no sul do Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 17(1), e20210002. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2021-0002
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). Por tudo o que reveste a pesca da tainha, ela assume contornos extraordinários, especiais. Em contrapartida, a pesca cotidiana mobiliza um aparato material de uso contínuo e relacionado às condições de pesca de cada comunidade. A etnografia de L. Silva (2018)Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro]. aponta que há pouca variação nas dimensões das embarcações, bem como no uso de motores de porte semelhante entre os pescadores. Isso sugere que a organização da materialidade se dá pela observação da recorrência de determinados fenômenos, especialmente das águas e dos ventos, diferentemente da pesca sazonal da tainha, que mobiliza embarcações e outros materiais de pesca específicos para tal prática.

Wagner e Silva (2021a)Wagner, G., & Silva, L. (2021a). “Outros pesqueiros”: apontamentos sobre a pesca, os pescadores e os ambientes do Sul do Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências. Humanas, 16(1), e20200024. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2020-0024
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já observaram que o litoral sul possui uma geomorfologia específica, onde os gradientes de inclinação dos perfis de praia e plataforma continental condicionam a inexistência de arrecifes de fundo ou parcéis. Não há pedras para marcar (salvo raras exceções) a extensão do Cabo de Santa Marta ao Chuí. Nesse trecho da costa, a planície costeira assume grandes proporções, e sistemas de lagunas costeiras interligadas por canais formam paisagens de exceção. A pesca se interioriza e se dá, majoritariamente, “dentro das barras”, em contraste com a pesca de cerco da tainha, “mar afora”, que aqui não se faz presente (Wagner & Silva, 2021bWagner, G., & Silva, L. (2021b). Saberes e pesqueiros: reflexões sobre conhecimento e território na pesca tradicional do Sul do Brasil. Revista de Arqueologia, 34(2), 63-86.).

Historicamente, a pesca na região das lagoas do Rio Grande do Sul destina-se a espécies cujos ciclos de vida e reprodução dependem da díade das águas doces e salgadas. O relato de Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142., no final do século XIX, aponta exatamente para essa díade no contexto da Laguna dos Patos. A descrição da natureza da Laguna, de suas transformações mediadas principalmente pelos ventos e dos movimentos sazonais da água revela, em um primeiro momento, um contexto completamente imprevisível das condições de pesca na Laguna e seus tributários. No entanto, Ihering (1969 [1885]) destaca que todo o conhecimento dessas condições e das constantes mudanças é parte do saber local dos pescadores. O autor aponta que há um controle diário das condições da Laguna e do tempo atmosférico, bem como um calendário sazonal, no qual o grande corpo d’água assume determinadas características. Em resumo, Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. demonstra a relação dialética entre o imprevisível e o previsível, revelando que, no contexto de curto prazo, podem existir variações significativas nas condições de pesca e, ao mesmo tempo, em uma escala temporal mais ampla, é possível fazer prognósticos mais consistentes sobre as possibilidades de pesca e do comportamento da Laguna.

Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. traz um levantamento detalhado das espécies pescadas, bem como da relação das mesmas com o ambiente estuarino. A flutuação da salinidade4 4 Segundo Ihering (1969 [1885]), essa flutuação da salinidade ocorre principalmente por conta dos ventos, da evaporação da Laguna e do fluxo de águas depositadas na mesma. da Laguna é apontada como um dos principais fatores para a variação das espécies no local, especialmente na região mais próxima ao canal da barra de Rio Grande. Ao observar a coloração da água, os pescadores podem diagnosticar as espécies com maior potencial de captura, pois, quanto mais clara a cor da água, mais salgada a mesma estaria, e, no caso contrário, mais escura e com coloração semelhante ao barro, menor o índice de salinidade (Ihering, 1969Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. [1885]). Esse tipo de observação identifica, por exemplo, a entrada de peixes marinhos, como a corvina (Micropogonias furnieri) e a miraguaia, (Pogonias cromis) para uma salinidade maior da Laguna e indica o possível perecimento dos peixes de água doce, como as traíras (Hoplias malabaricus) e jundiás (Rhamdia sp.). Quando há diminuição da salinidade, permanecem os peixes marinhos e reaparecem os peixes de água doce.

As corvinas (Micropogonias furnieri) e as miraguaias (Pogonias cromis) são comuns no estuário da Laguna dos Patos. A pesca dessas espécies já fazia parte das práticas pesqueiras, e, segundo Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142., os pescadores costumavam se orientar pelos ruídos emitidos pelas duas espécies. O autor relata que as corvinas emitem um som característico quando se aproximam das embarcações. Já as miraguaias fazem um som grave, identificável mesmo quando o peixe está em maior profundidade5 5 Ihering (1969 [1885]) destaca que o som da miraguaia é semelhante a um “bum surdo”, algo abafado, enquanto as corvinas costumam fazer um ruído como: “chrr, chrr”. . Considerando a alternância significativa na salinidade da região terminal da Laguna (proximidade do canal), Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. aponta que a corvina, junto com a tainha (Mugil sp.), o peixe-rei (Odontesthes sp.) e o linguado (Paralichthys brasiliensis) são espécies abundantes por conta de suas capacidades adaptativas a diferentes níveis de salinidade da água.

O caso das tainhas (Mugil sp.) e dos bagres (Ariidae) merece uma descrição à parte, pois são espécies que circulam com facilidade nos dois contextos. Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. destaca que a presença massiva das duas espécies nos mercados de peixe da cidade de Rio Grande demonstra a importância dessa pesca na região. Como já destacado, as tainhas ocorrem principalmente nos meses de inverno, com ênfase para o mês de maio (Ihering, 1969Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. [1885]). Já os bagres ocorrem igualmente nos meses de inverno, mas podem ser capturados com certa recorrência ao longo de todo o ano. O autor ressalta a pesca com anzol, que é voltada especificamente para a captura dessa espécie. Na pesca com anzol, se utilizavam como iscas os camarões e, na ausência dos mesmos, os pescadores usam as próprias ovas dos bagres (Ihering, 1969Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. [1885]).

Roquette-Pinto (1962 [1906], p. 22) descreveu com detalhes a pesca dos bagres em Tramandaí, nos anos iniciais do século passado, sugerindo que o vilarejo existia basicamente em razão dessa “indústria”. “A pesca do bagre e o seu preparo para a exportação constituem a ocupação única da massa dos habitantes, que têm, nos lagos da vizinhança, um farto viveiro. Também os bagres assenhoram-se dêle. Algumas vezes aparecem tainhas. . . e miraguaias”. Os pescadores identificavam cinco tipos diferentes de bagres: o leitão, o cabeçudo, o gerubelê, o catinga e o catingão. A pesca era de cerco, com quatro canoas que empurravam os peixes para dentro da armadilha, com o bater dos remos na água. Depois da salga e secagem, feita em varais ao sol, o bagre se destinava ao Rio de Janeiro, via Porto Alegre, onde era vendido como bacalhau importado.

A observação de Roquette-Pinto (1962 [1906])Roquette-Pinto, E. (1962 [1906]). Relatório de excursão ao litoral e à região das lagoas do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS. sobre a pesca dos bagres na região de Tramandaí revela, além da abundância dessa espécie na região, as práticas coletivas de pesca, conhecidas na época como ‘emendas’, sendo estas compostas por pescadores organizados em diferentes atividades especializadas para o cerco e captura dos bagres. Tamanha era a importância dessa espécie na região, que o autor descreveu as etapas produtivas e sugeriu o potencial da região como uma produtora de recursos pesqueiros para o Brasil. De modo semelhante a Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142., Roquette-Pinto (1962 [1906])Roquette-Pinto, E. (1962 [1906]). Relatório de excursão ao litoral e à região das lagoas do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS. aponta para a presença de outras espécies relevantes para a pesca na localidade, especialmente pela presença das tainhas e miraguaias.

Ainda atual é a pesca em colaboração com os golfinhos, relatada por Roquette-Pinto (1962 [1906])Roquette-Pinto, E. (1962 [1906]). Relatório de excursão ao litoral e à região das lagoas do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS.. O autor destaca que a presença dos botos é um indicativo da entrada de cardumes na lagoa. Catão (2021)Catão, B. (2021). Águas de dançar juntos: coordenação e sintonização multiespécies na pesca com os botos em Laguna (SC, Brasil). Ilha - Revista de Antropologia, 23(1), 30-49. https://doi.org/10.5007/2175-8034.2021.e77519
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realizou um estudo etnográfico sobre essa prática colaborativa entre pescadores e botos na região de Laguna, Santa Catarina. No trabalho, destacam-se alguns elementos importantes para a presente argumentação sobre a previsibilidade da pesca. O primeiro é a referência direta entre a presença dos botos junto aos cardumes de tainhas. O segundo aspecto é a interação complexa entre os botos e os pescadores, na qual há uma série de gestos corpóreos que indicam o momento certo para o arremesso das tarrafas. E, por fim, a interação de todos os seres envolvidos (peixes, botos e pescadores) com o ambiente. Aquele contexto de interação é marcado pela pluriagentividade, isto é, pela ação de múltiplos seres, materialidades e fenômenos (ambientais), atuando de maneira simultânea na pesca, em colaboração com os botos. A previsibilidade, neste caso, associa-se a essa complexa teia pluriagentiva: por exemplo, na compreensão dos sinais corpóreos dos botos, na avaliação dos melhores pesqueiros conforme as condições de vento e maré e no conhecimento dos calendários associados à entrada dos peixes e dos botos na região dos pesqueiros.

Com isso, buscou-se demonstrar que existe um caráter de certa previsibilidade que marca a vida através da pesca. Em um primeiro plano, no nível do uso dos lugares, os pesqueiros se destacam por sua historicidade, isto é, pela trajetória de pescarias de sucesso realizadas em determinado lugar. Portanto, a sequência de boas pescarias é lembrada como um critério para delimitar um lugar propício e previsível para a pesca. Em um segundo plano, atuam os diferentes ‘calendários’ que se sobrepõem nas atividades pesqueiras. Há peixes que são propícios em determinadas épocas – as tainhas da grande migração – e outros que são recorrentes ao longo do ano, como os bagres e corvinas. E, além disso, também atuam os calendários associados às circunstâncias ambientais, tais como o inverno e o verão (frio e quente), os ciclos dos ventos, as cheias e vazantes e as marés. Todas essas diferentes temporalidades possuem previsibilidade fundada na recorrência e, ao mesmo tempo, encontram-se agenciadas pela ação de curto prazo, na qual o prognóstico cotidiano conduzido pelos pescadores indicará a melhor estratégia de pesca. Por fim, o terceiro e último plano reúne ‘os sinais’ característicos para a captura de determinadas espécies. Uma determinada direção de vento, a salinidade da água, a sinalização dos botos ou os barulhos dos peixes são sugestivos para o prognóstico realizado por um pescador. Por meio de seu conhecimento, o pescador reúne ‘os sinais’ para buscar uma pescaria de sucesso, na qual será definido o pesqueiro, espécie e artepesca mais adequados às condições avaliadas – sempre considerando os lugares e os calendários em sobreposição.

A PESCA INDÍGENA PRÉ-COLONIAL

Cerritos e sambaquis são sítios arqueológicos em que se materializam histórias de sociedades eminentemente pescadoras. Os estudos zooarqueológicos e as análises isotópicas demostram a importância dos recursos marinhos e lacustres para o modo de vida associado às populações construtoras de cerritos e sambaquis (Oppitz, et al., 2018Oppitz, G., Bastos, M., Scherer, L., Lessa, A., Martins, V., Camargo, P., & Deblasis, P. (2018). Pensando sobre mobilidade, dieta e mudança social: análises isotópicas no sítio Armação do Sul, Florianópolis/SC. Cadernos do Lepaarq, 15(30), 237-266. https://doi.org/10.15210/lepaarq.v15i30.13034
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; Chanca et al., 2021Chanca, I., Borges, C., Colonese, A., Macario, K., Toso, A., Fontanals-Coll, M., . . . Milheira, R. (2021). Food and diet of the pre-Columbian mound builders of the Patos Lagoon region in southern Brazil with stable isotope analysis. Jornal of Archaeology Science, 133, 105439. https://doi.org/10.1016/j.jas.2021.105439
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; Toso et al., 2021Toso, A., Hallingstad, E., Mcgrath, K., Fossile, T., Conlan, C., Ferreira, J., . . . Colonese, A. (2021). Fishing intensification as response to Late Holocene socio-ecological instability in southeastern South America. Scientfic Reports, 11, 23506. https://doi.org/10.1038/s41598-021-02888-7
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). Esses recursos oriundos da pesca organizavam e organizam as sociedades por meio de práticas produtivas e simbólicas e, com isso, reforçam as identidades associadas aos contextos aquáticos (Adomilli, 2007Adomilli, G. (2007). Terra e mar, do viver e do trabalhar na pesca marítima: tempo, espaço e ambiente junto a pescadores de São José do Norte – RS [Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul].; Duarte, 1999Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor - a reprodução social dos trabalhadores da pesca em Jurujuba. Editora da UFF. [1978]).

A prática da pesca estabelece relações, constrói identidades, estrutura sociedades e compõe territórios diversos. Esse conhecimento envolve uma base de informações cruciais para o manejo desses recursos, como: comportamento dos peixes, taxonomia, habitat, percepção das águas e ventos (Diegues, 2004Diegues, A. (2004). A pesca construindo sociedades. NUPAB-USP.; L. Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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). A partir disso, compreende-se que o levantamento das espécies presentes nos sítios arqueológicos pode indicar uma série de características produtivas e simbólicas associadas a essas populações pré-coloniais.

Posto isso, realizou-se um levantamento bibliográfico de dados de análises zooarqueológicas realizadas em cerritos e sambaquis do Rio Grande do Sul que possuíssem Número Mínimo de Indivíduo (NMI) e/ou biomassa da ictiofauna presente nos sítios. De modo geral, remanescentes de peixes são variáveis em tamanho, forma e características físicas mais que qualquer outro grupo de vertebrados encontrados em sítios arqueológicos. Por um lado, os ossos de peixe são particularmente característicos, por outro, é extremamente difícil identificar o elemento anatômico, especialmente quando a amostra está fragmentada (Schiffer, 1990Schiffer, M. (1990). Archaeological method and theory (Vol. 2). University of Arizona Press.; Lyman, 1994Lyman, R. L. (1994). Vertebrate taphonomy. Cambridge Manuals in Archaeology, Cambridge University Press. http://dx.doi.org/10.1017/CBO9781139878302
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).

A ictiofauna encontrada nos sítios é fortemente afetada por diferentes fatores de preservação. Contar fragmentos é uma forma fácil e rápida para calcular a relativa abundância de diferentes espécies em uma amostra, mas apresenta resultados distorcidos, visto que elementos anatômicos variam de espécie para espécie (Schiffer, 1990Schiffer, M. (1990). Archaeological method and theory (Vol. 2). University of Arizona Press.).

Não foram consideradas, neste trabalho, amostras que possuam apenas o Número de Espécimes Identificadas (NISP), já que alguns dos conflitos causados pelo NISP são, primeiramente, os acentuados valores, além de ignorar que o esqueleto de algumas espécies tem mais partes que os esqueletos de outras. São muito sensíveis para fragmentações ósseas, ressaltando, assim, elementos de certas espécies que, na verdade, só sofreram processos tafonômicos. Dessa forma, altos graus de fragmentação causam altos NISP, ou seja, o NISP será perfeito somente para amostras perfeitas (Klein & Cruz-Uribe, 1984Klein, R., & Cruz-Uribe, K. (1984). The analysis of animal bones from archaeological sites. University of Chicago Press.; O’Connor, 2000O’Connor, T. (2000). The archaeology of animal bones. Texas A&M University Press.). Em contrapartida, o NMI tem um poder maior que o NISP, em quantificações que objetivam interpretar abundância de espécies e determinar dieta a partir de amostras comparadas (Lyman, 1982Lyman, L. (1982). Archaeofaunas and subsistence studies. In M. Schiffer (Ed.), Advances in archaeological method and theory (Vol. 5, pp. 331-393). Academic Press.; O’Connor, 2000O’Connor, T. (2000). The archaeology of animal bones. Texas A&M University Press.).

Considerando esses fatores, foram identificados os seguintes sítios de cerritos: PSG-02, PSG-07, PT-02, RS-RG-48, RS-LC:42, RS-LC:21 e RS-LS-11. Quanto aos sambaquis, foram identificados os sítios: Dorva (LII-43), Recreio (LII-18), Itapeva (RS-LN-201), RS-LC-16 e RS-LC-59 (Figura 1) (Calippo, 2000Calippo, F. (2000). Análise do crescimento e da composição de comprimentos de Pogonias cromis e Micropogonias furnieri (Teleostei: Sciaenidade), capturados pelos grupos pré-históricos da restinga da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, Brasil [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal do Rio Grande]., 2021Calippo, F. (2021). Novas análises radiocarbônicas e isotópicas dos sítios Nilton Dutra (RS_LC-42), Farol do Capão da Marca (RS-LC-16) e Capão d’Areia (RS-LC-59), Restinga da Lagoa dos Patos, RS, Brasil. In XXI Congresso da SAB. Apresentação Oral.; Oliveira, 2006Oliveira, K. (2006). Um sítio de pesca na margem ocidental da Lagoa dos Patos: RS-RG-48. Pesquisas. Antropologia, (63), 307-336.; Hilbert, 2011Hilbert, L. (2011). Análise ictioarqueológica dos sítios: Sambaqui do Recreio, Itapeva e Dorva, municípios de Torres e Três Cachoeiras, Rio Grande do Sul, Brasil [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul].; Ulguim, 2010Ulguim, P. (2010). Zooarqueologia e o estudo dos grupos construtores e cerritos: um estudo de caso no litoral da Laguna dos Patos - RS, Sítio PT-02 Cerrito Sotéia [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Pelotas]., 2018Ulguim, V. (2018). Espinhos, esporões e especulações: análise zooarqueológica do cerrito PSG-02 Valverde, Pelotas-RS [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Pelotas].; Chim, 2013Chim, E. (2013). Análise de otólitos provenientes do sítio RS-LS-11 – Rio Grande/RS [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal do Rio Grande].; Sens, 2020Sens, L. (2020). Pesca, comida e identidade: um estudo zooarqueológico em cerritos de índio no Sul do Brasil [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Pelotas].; Wagner et al., 2020Wagner, G., Silva, L., & Hilbert, L. (2020). O Sambaqui do Recreio: geoarqueologia, ictioarqueologia e etnoarqueologia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190084. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0084
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).

Figura 1
Mapa de localização de cerritos e sambaquis.

O conjunto de cerritos analisados possui características gerais como a presença significativa de corvinas e bagres e, em contraponto, a pouca presença de tainhas associadas ao registro arqueológico. O gráfico da Figura 2 demonstra essas duas características e, além disso, reforça a descrição da pesca realizada por Ihering (1969 [1885]), no final do século XIX, na região do estuário da Laguna dos Patos, na qual o autor ressalta a importância da pesca das corvinas e bagres e a combinação de fatores ambientais e do saber das comunidades locais.

Figura 2
NMI total dos cerritos analisados.

Observando cada um dos sítios, é possível notar algumas particularidades. Nos sítios PSG-02 e PSG-07, preponderam os bagres (Figura 3). Como descreve Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142., bagres são peixes que se adaptam a diversos contextos e são especialmente resistentes às mudanças de salinidade – que são comuns no estuário da Laguna dos Patos. Por esses motivos, pode-se inferir a presença desses peixes pelo aspecto ambiental, pois os sítios estão mais afastados do encontro das águas, mas também por uma possível escolha de pesca ligada aos pesqueiros e aos materiais usados. A pesca de bagres está associada aos locais de maior profundidade (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2018Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro].; Wagner et al., 2020Wagner, G., & Silva, L. (2020). A pesca e o pescador: por uma haliêutica historicizada. Oficina do Historiador, 13(1), p. 1-6. https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.1.36763
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), especialmente em canais de rios, boca de barra ou áreas mais profundas das lagoas. Quanto aos materiais utilizados para a pesca, apesar de Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. ressaltar a importância da pesca de anzol, é recorrente a modalidade feita com uso de redes (L. Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2018Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro].). Como destacado por Roquette-Pinto (1962 [1906])Roquette-Pinto, E. (1962 [1906]). Relatório de excursão ao litoral e à região das lagoas do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS., pode-se considerar até mesmo a prática do cerco dos cardumes de bagres, já que os mesmos possuem esse hábito de deslocamento.

Figura 3
NMI dos cerritos PSG-02 e PSG-07.

Já os sítios PT-02, RS-LS-11 e RS-RG-48 (Figura 4) apresentam as corvinas como principal espécie pescada. Como são sítios arqueológicos mais próximos à barra da Laguna dos Patos, possivelmente estavam associados a pesqueiros mais suscetíveis ao aumento da salinidade das águas, seja pela influência do regime de ventos, seja pelos períodos de seca mais extensos. Com isso, reforça-se o argumento de Ihering (1969 [1885]) no qual o autor aponta para a grande presença de corvinas na região mais próxima ao atual município de Rio Grande. Nesse sentido, novamente se destaca a importância dos pesqueiros e da relação de saber dos pescadores a partir da observação das características dos locais em associação com os hábitos dos peixes.

Figura 4
NMI dos cerritos PT-02, RS-LS-11 e RS-RG-486 6 Os sítios RS-RG-48 e PT-02 apresentam a espécie Netuma barba, atualmente denominada de Genidens barbus. Para saber mais, ver Higuchi et al. (1982). .

A presença da tainha é pontual em todos os cerritos7 7 Para os sítios analisados por Calippo (2000), a tainha (Mugil sp.) não estava inclusa na amostra, o objetivo do autor era estimar o tamanho dos peixes capturados e determinar a sazonalidade e os locais onde foram pescados, a partir da análise de otólitos de Micropogonias furnieri, Pogonias cromis e bagres da família Ariidae. , perfazendo menos de 1% das amostras analisadas. É possível que a vulnerabilidade dos ossos tenha relação aos fatores tafonômicos ou, como observado nos relatos de Staden (1900)Staden, H. (1900). Suas viagens e cativeiro entre os selvagens do Brasil. Typographia da Casa Eclectica., pelo modo como as tainhas (paratis) eram processadas pelos tupinambás:

Também em Agosto devíamos espera-los, porque neste tempo vão a caça de uma espécie de peixes que então saem do mar para água doce, onde desovam. Estes peixes chamam elles em sua lingua Bratti (parati) e os hespanhóes lhes dão o nome de Lysses. Neste tempo costumam sair para o combate, com o fim de ter também mais abundância de comida. Os taes peixes, elles apanham com pequenas redes ou matam-n-os com flechas, e levam-n-os fritos comsigo, em grande quantidade; também fazem delles uma farinha que chamam Pira-Kui (Pira-iquê)

(Staden, 1900Staden, H. (1900). Suas viagens e cativeiro entre os selvagens do Brasil. Typographia da Casa Eclectica., p. 42).

Por sua vez, a miraguaia (Pogonias cromis) está presente em todos os cerritos analisados. Porém, por ser um peixe robusto, a biomassa pode representar evidências significativamente maiores que o NMI, como nas análises de Calippo (2000)Calippo, F. (2000). Análise do crescimento e da composição de comprimentos de Pogonias cromis e Micropogonias furnieri (Teleostei: Sciaenidade), capturados pelos grupos pré-históricos da restinga da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, Brasil [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal do Rio Grande]. (Tabela 1).

Tabela 1
Biomassa dos cerritos RS-LC:42 e RS-LC:21.

Em todos os sítios analisados, a presença da miraguaia (Pogonias cromis) parece manter um padrão, não apresentando grandes diferenças entre os índices de NMI observados. Na primeira metade do século XIX, Dreys (1990 [1839])Dreys, N. (1990 [1839]). Notícia descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Nova Dimensão. apresenta um relato interessante sobre a presença das miraguaias no estuário da Laguna dos Patos:

As águas doces ou salgadas do Rio Grande abundam em peixe, e[,] todavia, os habitantes parecem fazer pouco uso deles; vimos muitas vezes, depois do vento sul soprar com violência, a praia de Mangueira, na entrada de Rio Grande, ficar coberta de miraguaias, lançadas em terra pelas ondas, sem que a ninguém lembrasse mandá-las apanhar, nem sequer para os escravos. Geralmente, o habitante do Rio Grande não é ictiófago

(Dreys, 1990Dreys, N. (1990 [1839]). Notícia descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Nova Dimensão. [1839], p. 59).

A partir da observação do autor sobre o fenômeno do vento sul e os peixes depositados na praia, pode-se reafirmar a importância da observação diária das condições de pesca. Ainda que a miraguaia (Pogonias cromis) apareça em menores quantidades, a presença no registro arqueológico pode apontar para práticas associadas ao calendário de curta duração, isto é, para a pesca cotidiana associada ao vento sul e ao encalhe de indivíduos nas praias.

Os sambaquis apresentam uma grande diversidade de espécies pescadas e, além disso, uma variação significativa das mesmas quando se comparam os registros dos três sítios arqueológicos analisados – Dorva, Itapeva e Recreio. Essa diversidade pode indicar diferentes estratégias de pesca, principalmente no uso dos pesqueiros. No entanto, ressalta-se a presença constante dos bagres nos três sítios arqueológicos, destacando a transversalidade desses peixes no contexto da região. Diversidade e transversalidade, presentes no gráfico da Figura 5, são aspectos gerais observados nos dados desses sítios arqueológicos analisados.

Figura 5
NMI total dos sambaquis analisados.

Diversidade e transversalidade podem ser mais bem compreendidas, observando o caso de cada sítio arqueológico. No sambaqui da Dorva, três peixes figuram como os mais pescados, o cará (Cichlidae), os bagres (Genidens sp.) e as traíras (Hoplias sp.) (Figura 6). O argumento do uso dos pesqueiros aqui é mais relevante, pois, se comparado com os sítios de Itapeva e Recreio, o sambaqui da Dorva se encontra relacionado com o contexto lagunar, já que o mesmo está na margem ocidental da lagoa do Itapeva, ou seja, muito distante do mar. Os peixes pescados evidenciam o uso de pesqueiros da lagoa, seja nas áreas rasas para a pesca dos carás e traíras, seja nas porções mais profundas para a pesca dos bagres.

Figura 6
NMI do sambaqui da Dorva.

O registro dos peixes do sambaqui da Itapeva segue a diversidade e transversalidade já destacadas (Figura 7). O sítio arqueológico apresenta um grande número de peixes, indicando que a atividade pesqueira era acentuada durante a ocupação do assentamento e que havia uma diversidade de pesqueiros utilizados. Com maior recorrência, aparecem as tainhas (Mugil sp.) e os bagres (Genidens sp.), pescados nas lagoas e no mar; já as corvinas (Micropogonias furnieri) e o papa-terra (Menticirrhus littoralis) relacionam-se com os pesqueiros marinhos. Ainda que o número de tainhas pescadas seja maior, os bagres novamente se fazem presentes, mesmo que o sambaqui da Itapeva esteja em um contexto diferente, por exemplo, do sambaqui da Dorva. Isso reforça que a transversalidade da pesca dos bagres pode estar relacionada ao calendário de curta duração, isto é, dentro da previsibilidade do dia após dia e da ampla circulação dessas espécies em diversos contextos ambientais.

Figura 7
NMI do sambaqui da Itapeva.

Por fim, o sambaqui do Recreio apresenta outro quadro diverso de espécies pescadas. Prevalecem as tainhas (Mugil sp.), em maior número de peixes pescados; em segundo lugar, o papa-terra (Menticirrhus littoralis) e, por fim, os bagres (Genidens sp.) (Figura 8). De modo geral, se repetem as espécies pescadas no sambaqui da Itapeva, mas se alteram as quantidades de cada peixe presente no registro arqueológico. Essa semelhança entre os registros dos dois sítios pode ser explicada pelo contexto de pesca compartilhado, pois ambos se encontram em uma região com acesso aos pesqueiros de água doce (lagoas, rios e banhados) e água salgada (mar). A presença dos bagres (Genidens sp.) novamente indica a importância dessa espécie para os sambaquieiros, ainda que em menor quantidade se comparado com as tainhas (Mugil sp.), por exemplo.

Figura 8
NMI do sambaqui do Recreio.

Quando se observa o conjunto dos três sambaquis, é notável a recorrência dos bagres (Genidens sp.). Ainda que haja variação do número de pescado, a espécie está presente com proporções relevantes nos sambaquis da Dorva, Itapeva e Recreio. As diferenças contextuais do sambaqui da Dorva – um sítio eminentemente lacustre – podem explicar a preferência pela pesca do cará (Cichlidae) e a pouca presença de tainhas (Mugil sp.) na amostra. Por conseguinte, os sambaquis da Itapeva e do Recreio, rodeados por águas doces e salgadas, apresentam uma variedade significativa de espécies e um número expressivo, principalmente, de tainhas (Mugil sp.). Conforme destacado por Wagner et al. (2020)Wagner, G., Silva, L., & Hilbert, L. (2020). O Sambaqui do Recreio: geoarqueologia, ictioarqueologia e etnoarqueologia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190084. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0084
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, a predominância das tainhas e dos bagres, associados ao sambaqui do Recreio, pode ser entendida a partir de estratégias complementares do ponto de vista material – do uso de determinadas artepescas – e da exploração de pesqueiros específicos, onde cada peixe pode ser encontrado.

Outros peixes, como o papa-terra (Menticirrhus littoralis), a corvina (Micropogonias furnieri), a traíra (Hoplias sp.) e o jundiá (Rhamdia sp.), reforçam o caráter generalista e costeiro da pesca associada aos três sambaquis. Além disso, essa variedade de peixes indica o uso da estratégia cotidiana de pesca, na qual o pescador avalia as condições e faz prognósticos de curto prazo, observando os fenômenos atmosféricos, o uso de artepescas, o potencial dos pesqueiros e o comportamento dos peixes.

PESCADORES DOS CERRITOS E DOS SAMBAQUIS: PESCA COMUM E PESCA PREVISÍVEL

Ao observar os dados apresentados até então, foram diferenciados os contextos culturais e ambientais – em escala local e regional. Os pescadores dos cerritos, notadamente, tinham uma preferência pela pesca das corvinas e dos bagres. Ao mesmo tempo, é possível identificar sítios com maior presença de corvinas e outros com maior número de bagres. Esses dois grupos de sítios parecem se relacionar com locais propícios à pesca das espécies supracitadas. Já no caso dos sambaquis, é evidente a transversalidade da pesca dos bagres, que aparecem nos três sítios analisados. Por sua vez, os mesmos sítios também possuem diferenças na composição de espécies presentes, também indicando a proximidade com pesqueiros específicos.

Mesmo com as diferenças culturais e ambientais, os dados demonstram a presença dos bagres em todos os sítios analisados. Ressalta-se, ainda, que, em grande parte dos sítios, os bagres figuram entre as espécies mais pescadas, indicando com mais destaque a importância desses peixes para as sociedades pescadoras pré-coloniais.

Essa relevância pode ser entendida a partir de dois aspectos complementares. Primeiro, como já destacado, o conhecimento dos pescadores e a complexa teia de relações que envolvem a pesca cotidiana. Nessa ação de curto prazo, marcada pelos prognósticos com proximidade temporal, o pescador avalia o potencial dos pesqueiros, das artepescas, das condições atmosféricas e também da espécie com maior viabilidade de captura, conforme as condições do prognóstico. Os bagres, como apontado por Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142., Roquette-Pinto (1962 [1906])Roquette-Pinto, E. (1962 [1906]). Relatório de excursão ao litoral e à região das lagoas do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS. e L. Silva (2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015)Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. http://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
https://doi.org/10.1590/1981-81222015000...
, são pescados em diversas condições e maneiras: pesqueiros em lagoas, rios e no mar; com variadas artepescas (anzóis e redes); em condições atmosféricas de frio, calor, com ventos ou calmaria; e, por fim, com inúmeras iscas (L. Silva, 2018Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro].). Todo esse saber associado à pesca cotidiana dos bagres escapa aos ‘grandes’ calendários de pesca, observados pelas etnografias da costa sul-brasileira.

O segundo aspecto complementar da presença dos bagres está relacionado à sua importância simbólica. Segundo Klokler (2012Klokler, D. (2012). Consumo ritual, consumo no ritual: festins funerários e sambaquis. Habitus, 10(1), 83-104., 2016)Klokler, D. (2016). Animal para toda obra: fauna ritual em sambaquis. Habitus, 14, 21-34. https://doi.org/10.18224/hab.v14.1.2016.21-34
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, o registro arqueológico faunístico, associado aos sepultamentos dos sambaquis do sul de Santa Catarina, aponta uma preferência por espécies abundantes na região, em vez de animais exóticos. O consumo (ritual ou alimentar) de bagres e corvinas evidencia o caráter coletivo das práticas de pesca, por conta do volume de alimento necessário e, principalmente, pela previsibilidade associada à pesca do bagre e da corvina na região estudada pela autora. Para o caso dos sambaquis do Rio Grande do Sul, pode-se considerar a díade tainhas e bagres; já para os cerritos, as corvinas e os bagres. A ausência de estudos detalhados sobre os acompanhamentos funerários dos sítios aqui analisados impossibilita uma afirmação direta sobre a importância ritual dos peixes. Apesar disso, é possível compreender o caráter simbólico da pesca cotidiana a partir do encadeamento entre saber, memória e gestos. Por exemplo, a apropriação e o uso de determinados pesqueiros são fundados no sucesso de pescarias antigas, na repetição de gestos e artepescas utilizadas e no prognóstico de curto prazo das condições de pesca. Esse encadeamento não linear se encontra na figura do mestre – sujeito respeitado pela sua experiência e habilidade na condução da pescaria.

Nesse sentido, a recorrência dos bagres na pesca costeira do Rio Grande do Sul indica que essas espécies organizavam e organizam as comunidades ao redor de práticas comuns, centradas nos prognósticos e ações de curto prazo, em oposição à pesca de calendário de outras espécies. A possibilidade de pescar os bagres em diversas condições, associada à estruturação dos grupos para desenvolver uma pesca cotidiana, é atestada pelos dados históricos, etnográficos e arqueológicos apresentados até então.

O PREVISÍVEL NO IMPREVISÍVEL, CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como destacado, a imprevisibilidade é um fenômeno presente nas sociedades pescadoras. As condições atmosféricas, as águas e o comportamento dos peixes, associados às ações dos pescadores, podem impactar de diferentes modos uma pescaria e delimitar o sucesso ou o fracasso da mesma. Contudo, quando se observa a esfera de ação de curto prazo – cotidiano –, nota-se a existência de certa previsibilidade, especialmente pela possibilidade de o pescador realizar um prognóstico mais concreto das condições de pesca. Aqui, a ideia de um prognóstico concreto pode seguir em dois sentidos. O primeiro se dá pela observação das condições reais de pesca, por meio da mediação dos conhecimentos do pescador, já o segundo segue em uma ação de escala temporal mais próxima, isto é, na elaboração de uma pescaria pensando no dia seguinte. Neste caso, a previsibilidade da pesca corresponde também a um calendário de curto prazo, construído pela avaliação das condições de pesca, dia após dia. Portanto, entende-se que o previsível não se relaciona apenas aos ‘grandes’ fenômenos de pesca associados aos calendários reprodutivos, como a migração da tainha.

Parte do problema da previsibilidade associada apenas aos ‘grandes’ fenômenos da pesca pode estar relacionada à pouca duração dos trabalhos etnográficos junto às comunidades. Isso inviabilizou a compreensão da pesca enquanto um fato social de maior abrangência – que organiza uma sociedade mediante práticas de longa duração. Ao caracterizar a pesca da tainha como algo estruturante das comunidades costeiras, a literatura socioantropológica esqueceu-se de observar os fenômenos cotidianos que marcam o caráter previsível da pesca no curto prazo.

Os dados históricos, etnográficos e arqueológicos demonstram como a pesca dos bagres constitui um fenômeno transversal nas comunidades pescadoras pré-coloniais e também para o presente. A recorrência dessas espécies em contextos culturais e ambientais distintos reforça essa interpretação. Junta-se a isso o fato de esses peixes serem expressivos numericamente nos sítios arqueológicos, reforçando a continuidade das pescarias em diferentes épocas do ano. Nesse sentido, pode-se afirmar que a pesca dos bagres está menos sujeita aos impactos da sazonalidade e, portanto, se oferece como uma alternativa concreta para a manutenção do modo de vida pescador.

Por fim, entende-se que o estudo da pesca a partir de um viés arqueológico deve também evidenciar a organização das comunidades pescadoras, combinando diferentes fontes e dados. A partir disso, ao identificar a importância dos bagres para a pesca artesanal na longa duração, buscou-se também destacar como os fatos sociais cotidianos e de curta duração permeiam a vida das comunidades pescadoras. Ao observar a recorrência dos bagres em todos os sítios arqueológicos analisados, nos relatos históricos e nas conversas com pescadores, fica evidenciado o caráter estruturante dessa pesca previsível no cotidiano.

  • 1
    Risco de vida e de fartura são temas amplamente desenvolvidos na literatura sobre sociedades pescadoras no Brasil. De modo geral, o risco de vida envolve a exposição dos pescadores à imprevisibilidade da atmosfera e das águas, já o risco de fartura opera simultaneamente como uma possibilidade de fartura de peixes capturados agenciada pelos saberes dos pescadores.
  • 2
    Estes temas são igualmente trabalhados em L. Silva (2018Silva, L. A. (2018). Os materiais de pesca fluindo: uma arqueologia com os pés na água [Tese de doutorado, Museu Nacional-Universidade Federal do Rio de Janeiro]., 2019)Silva, L. A. (2019). A fluidez das relações materiais. Uma arqueologia com os pés na água. Revista de Arqueologia, 32(1), 108-128. http://doi.org/10.24885/sab.v32i1.620
    https://doi.org/10.24885/sab.v32i1.620...
    e Wagner e Silva (2020Wagner, G., Silva, L., & Hilbert, L. (2020). O Sambaqui do Recreio: geoarqueologia, ictioarqueologia e etnoarqueologia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 15(2), e20190084. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0084
    https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELD...
    , 2021aWagner, G., & Silva, L. (2021a). “Outros pesqueiros”: apontamentos sobre a pesca, os pescadores e os ambientes do Sul do Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências. Humanas, 16(1), e20200024. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2020-0024
    https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELD...
    , 2021b)Wagner, G., & Silva, L. (2021b). Saberes e pesqueiros: reflexões sobre conhecimento e território na pesca tradicional do Sul do Brasil. Revista de Arqueologia, 34(2), 63-86., bem como em Silva e Wagner (2022)Silva, L., & Wagner, G. (2022). Imagens da pesca: uma etnografia arqueológica na região das lagoas do Rio Grande do Sul. JAS Arqueología Editorial..
  • 3
    Grandes e pesadas canoas.
  • 4
    Segundo Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142., essa flutuação da salinidade ocorre principalmente por conta dos ventos, da evaporação da Laguna e do fluxo de águas depositadas na mesma.
  • 5
    Ihering (1969 [1885])Ihering, H. (1969 [1885]). A Lagoa dos Patos. Organon, 14(14), 101-142. destaca que o som da miraguaia é semelhante a um “bum surdo”, algo abafado, enquanto as corvinas costumam fazer um ruído como: “chrr, chrr”.
  • 6
    Os sítios RS-RG-48 e PT-02 apresentam a espécie Netuma barba, atualmente denominada de Genidens barbus. Para saber mais, ver Higuchi et al. (1982)Higuchi, H., Reis, E. G., & Araújo, F. G. (1982). Uma nova espécie de bagre marinho do litoral do Rio Grande do Sul e considerações sobre o gênero nominal Netuma (Bleeker, 1858) no Atlântico Sul Ocidental (Siluriformes, Ariidae). Atlântica, 5(1), 1-15..
  • 7
    Para os sítios analisados por Calippo (2000)Calippo, F. (2000). Análise do crescimento e da composição de comprimentos de Pogonias cromis e Micropogonias furnieri (Teleostei: Sciaenidade), capturados pelos grupos pré-históricos da restinga da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, Brasil [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal do Rio Grande]., a tainha (Mugil sp.) não estava inclusa na amostra, o objetivo do autor era estimar o tamanho dos peixes capturados e determinar a sazonalidade e os locais onde foram pescados, a partir da análise de otólitos de Micropogonias furnieri, Pogonias cromis e bagres da família Ariidae.
  • 8
    “Embora os otólitos de bagres sejam os mais abundantes, sua utilização foi restrita devido à impossibilidade de se realizar uma diferenciação morfológica entre os otólitos das três espécies de bagre que ocorrem na região (Netuma barba, Netuma planifrons e Genidens genidens)” (Calippo, 2000Calippo, F. (2000). Análise do crescimento e da composição de comprimentos de Pogonias cromis e Micropogonias furnieri (Teleostei: Sciaenidade), capturados pelos grupos pré-históricos da restinga da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, Brasil [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal do Rio Grande]., p. 20).
  • Silva, L. A., Wagner, G. P., & Ulguim, V. F. (2023). A previsibilidade da pesca na imprevisibilidade do mar: o cotidiano da pesca nos cerritos e sambaquis do Rio Grande do Sul, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220032. doi: 10.1590/2178-2547-BGOELDI-2022-0032

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Editado por

Responsabilidade editorial: Cristiana Barreto

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2022
  • Aceito
    22 Set 2022
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