Acessibilidade / Reportar erro

Aspectos bacteriológicos do pescado da costa sul do Brasil: I. das áreas de pesca até o pôrto de descarga

Resumos

Desejando colher informações sobre os aspectos bacteriológicos da indústria pesqueira da região sul do Brasil, com o objetivo de verificar onde e como poderia ser melhorada a situação vigente em relação à qualidade do pescado fresco, foram estudadas as condições microbiológicas existentes na pesca de arrasto de alto-mar e de parelhinhas de sol-a-sol, pesca com traina e pesca da baleia, assim como na água de lavagem, gelo e caixas de madeira utilizadas no acondicionamento e manipulação do pescado. A pesquisa foi levada a efeito por meio de contagens totais de bactérias aeróbicas e em meio de extrato-de-peixe/peptona/agar, e contagem de bactérias coliformes em meio de agar/bile/vermelho-violeta, usando o método do número-mais-provável. O pescado capturado pelas parelhinhas apresentou nos locais de pesca, contagens de 10(5) - 10(7) bactérias por cm² de superfície da pele, mantendo nível quase idêntico no porto de descarga, com presença constante de bactérias coliformes. O peixe de arrasto de alto-mar demonstrou ter um número de bactérias igual a 10³ por cm² de superfície da pele, elevando-se a 10(4) - 10(6) ou números mais altos, no porto de descarga. Na pesca de traineira e da baleia o número de bactérias contadas atingir a 10(5) - 10(6) por ocasião da descarga. O número de bactérias das condições ambientes demonstrou ser alto: 10(5) - 10(6) bactérias por cm² da superfície do convés, 10(5) - 10(6) por cm² da superfície interna das caixas de madeira, 10(5) - 10(6) por ml de gelo derretido e 10³ - 10(4) por ml da água de lavagem retirada do canal de Santos, com presença constante de bactérias coliformes. São discutidos e sugeridos alguns métodos para melhorar as condições bacteriológicas acima mencionadas. Recomenda-se o uso da clorotetraciclina pelo método de imersão ou como aditivo ao gelo, cloração e filtração da água do canal para fins de lavagem e uso de caixas mais limpas para o acondicionamento do peixe.


In order to obtain information on bacteriological aspects of the South Brazilian fish industry, with the object of finding out where and how to improve the actual situation for the better quality of fresh fish, microbiological conditions in short distance trawling, long distance trawling, purse-seining, whaling, wash-water, ice and wooden fish boxes, were studied by means of total aerobic counts on peptone-fish-extract-agar and coliform bacterial counts on violet-red-bile-agar and by the most probable number method. In short distance trawling, fish at capture showed 10(5) - 10(7) level of bacterial counts per cm² of skin surface, and an almost equal level at landing with ordinary presence of coliform bacteria. In long distance trawling, bacterial count at capture was 10³ per cm² of skin surface and at landing, 10(4) - 10(6) or higher. In purse-seining and whaling, 10(5) - 10(6) level contamination was obtained at landing. Fishery environmental conditions showed rather high bacterial counts of 10(5) - 10(6) per cm² of deck surface, 10(5) - 10(6) per cm² of used wooden fish boxes (inside surface), 10(5) - 10(6) per ml of melted ice, and 10³ - 10(4) per ml of wash-water from canal, with the usual presence of coliform bacteria. Some methods to improve the above mentioned bacteriological conditions were discussed. The use of chlortetracycline in immersion method or as an additive to ice, chlorination and filtration of canal water for washing purpose, and the use of cleaner fish boxes are recommended.


Aspectos bacteriológicos do pescado da costa sul do Brasil I. Das áreas de pesca até o pôrto de descarga

Ko Watanabe

SUMÁRIO

Desejando colher informações sobre os aspectos bacteriológicos da indústria pesqueira da região sul do Brasil, com o objetivo de verificar onde e como poderia ser melhorada a situação vigente em relação à qualidade do pescado fresco, foram estudadas as condições microbiológicas existentes na pesca de arrasto de alto-mar e de parelhinhas de sol-a-sol, pesca com traina e pesca da baleia, assim como na água de lavagem, gelo e caixas de madeira utilizadas no acondicionamento e manipulação do pescado. A pesquisa foi levada a efeito por meio de contagens totais de bactérias aeróbicas e em meio de extrato-de-peixe/peptona/agar, e contagem de bactérias coliformes em meio de agar/bile/vermelho-violeta, usando o método do número-mais-provável.

O pescado capturado pelas parelhinhas apresentou nos locais de pesca, contagens de 105 - 107 bactérias por cm2 de superfície da pele, mantendo nível quase idêntico no porto de descarga, com presença constante de bactérias coliformes. O peixe de arrasto de alto-mar demonstrou ter um número de bactérias igual a 103 por cm2 de superfície da pele, elevando-se a 104 - 106 ou números mais altos, no porto de descarga. Na pesca de traineira e da baleia o número de bactérias contadas atingir a 105 - 106 por ocasião da descarga.

O número de bactérias das condições ambientes demonstrou ser alto: 105 - 106 bactérias por cm2 da superfície do convés, 105 - 106 por cm2 da superfície interna das caixas de madeira, 105 - 106 por ml de gelo derretido e 103 - 104 por ml da água de lavagem retirada do canal de Santos, com presença constante de bactérias coliformes.

São discutidos e sugeridos alguns métodos para melhorar as condições bacteriológicas acima mencionadas. Recomenda-se o uso da clorotetraciclina pelo método de imersão ou como aditivo ao gelo, cloração e filtração da água do canal para fins de lavagem e uso de caixas mais limpas para o acondicionamento do peixe.

SUMMARY

In order to obtain information on bacteriological aspects of the South Brazilian fish industry, with the object of finding out where and how to improve the actual situation for the better quality of fresh fish, microbiological conditions in short distance trawling, long distance trawling, purse-seining, whaling, wash-water, ice and wooden fish boxes, were studied by means of total aerobic counts on peptone-fish-extract-agar and coliform bacterial counts on violet-red-bile-agar and by the most probable number method.

In short distance trawling, fish at capture showed 105 - 107 level of bacterial counts per cm2 of skin surface, and an almost equal level at landing with ordinary presence of coliform bacteria. In long distance trawling, bacterial count at capture was 103 per cm2 of skin surface and at landing, 104 - 106 or higher. In purse-seining and whaling, 105 - 106 level contamination was obtained at landing.

Fishery environmental conditions showed rather high bacterial counts of 105 - 106 per cm2 of deck surface, 105 - 106 per cm2 of used wooden fish boxes (inside surface), 105 - 106 per ml of melted ice, and 103 - 104 per ml of wash-water from canal, with the usual presence of coliform bacteria.

Some methods to improve the above mentioned bacteriological conditions were discussed. The use of chlortetracycline in immersion method or as an additive to ice, chlorination and filtration of canal water for washing purpose, and the use of cleaner fish boxes are recommended.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

XI - AGRADECIMENTOS

Somos gratos à "Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira" e à "Sociedade de Pesca Taiyo Ltda." pelas facilidades a nós concedidas a bordo e pelas inúmeras sugestões apresentadas. Os agradecimentos também são extensivos à Srta. Eunice M. dos Santos pela sua assistência técnica e aos Srs. Hitoshi Nomura e Eduardo B. Ramos pela revisão lingüística do texto.

XIV - BIBLIOGRAFIA

(Recebido em 4/1/62)

Publ. n.º 165 do Inst. Ocean. da USP.

  • BRAMSNAES, F. 1954. How to handle fresh fish, improved quality and packing of fresh fish as a means of stimulating consumption. Report on the workshop sponsored by European Productivity Agency, O. E. E. C, p. 24-36.
  • CASTELL, C. H. et al. 1948. Relation of bacterial counts to quality of cod fillets. J. Fish. Res. Bd. Can., vol. 7, p. 378-388.
  • CASTELL, C. H. et al. 1957. Spoilage problems in fresh fish production. Fish. Res. Bd. Can., Bull. n.ş 100, p. 9-10.
  • COLWELL, R. R. & LISTON, J. 1960. Microbiology of shellfish. Appl. Microbiol., vol. 8, n.ş 2, p. 104-109.
  • CREAN, P. B. et al. 1956. Control of post-mortem bacterial spoilage of whales with chlortetracycline. Fish. Res. Bd. Can., Prog. Rept. Pacific Coast Sta., n.ş 105, p. 6-10.
  • DIFCO MANUAL. 1958. Difco Manual for dehydrated culture media and reagents, 9th edition, Difco Laboratories, Detroit, p. 61.
  • HESS, E. 1950. Bacterial fish spoilage and its control. Food Techn., vol. IV, n.ş 12, p. 477-480.
  • JEPSEN, A. 1957. Application of bacteriological and biochemical tests in the hygienic judgement of meat and meat products. Geneva, W. H. O., Monograph Series n.ş 33, p. 235-250.
  • MCCALLUM, W. A. 1955. Fish handling and hold construction in Canadian North Atlantic trawlers. Fish. Res. Bd. Can., Bull. n.ş 103, p. 9-13.
  • REAY, G. A. & SHEWAN, J. M. 1949. The spoilage of fish and its preservation by chilling. Advances in Food Research, vol. II, New York, Academic Press, p. 343-392.
  • REAY, G. A. & SHEWAN, J. M. 1960. The care of the catch. Fishing Boats of the World: 2, Bath, Fishing News (Books) Ltd., p. 200-207.
  • SPENCER, R. 1955. Wooden fish boxes: their bacteriology and cleanability. Fish Trade Gazette, December 31.
  • SPENCER, R. 1959. The sanitation of fish boxes, 1. Quantitative and qualitative bacteriology of commercial wooden fish boxes. J. Appl. Bact., vol. 22, n.ş 1, p. 73-84.
  • TARR, H. L. A. 1954. Microbiological deterioration of fish post-mortem, its detection and control. Bacteriol. Rev., vol. 18, p. 1-15.
  • TARR, H. L. A. 1960. Antibiotics in fish preservation. Fish. Res. Bd. Can., Bull. n.ş 124, p. 2-3.
  • WATANABE, Ko 1958. O uso de antibióticos na preservação dos filés de corvina a várias temperaturas. A Ciência e a Indústria da Pesca, Min. Agr., n.ş 4, p. 16-19.
  • WATANABE, Ko 1960. Bacterial flora of commercial fresh codfish. Nordisk Veterinaer-Medicin, vol. 12, p. 541-554.
  • WATANABE, Ko 1962. Spoilage in iced "Pescada-foguete" - Macrodon ancylodon - from South Brazilian fishing grounds. Bol. Inst. Ocean., vol. XII, n.ş 2, p. 65-77.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    1962

Histórico

  • Recebido
    04 Jan 1962
Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo Praça do Oceanográfico, 191, 05508-120 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3091 6513, Fax: (55 11) 3032 3092 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: amspires@usp.br