Acessibilidade / Reportar erro

Xingamentos entre homossexuais: transgressão da heteronormatividade ou replicação dos valores de gênero?

Resumo

Os xingamentos são poderosas armas de controle social. Neles, os valores de gênero são não apenas representados, mas também perpetuados. A partir dos resultados de pesquisas anteriores, que demonstraram a existência de valores binários e sexistas nos xingamentos, o presente estudo teve como escopo fazer um levantamento e comparação de xingamentos considerados piores pelos grupos autodeclarados homossexuais, para verificar se os mesmos valores de gênero se fazem presentes ou são diferentes. Foram aplicados 303 questionários, divididos em 150 homens (75 homossexuais e 75 heterossexuais) e 153 mulheres (74 homossexuais e 79 heterossexuais). As respostas passaram por análise semântica e pragmática e, posteriormente, foram classificados em categorias analíticas. Após essa etapa, realizou-se comparação quantitativa e qualitativa entre os grupos. Notou-se que os piores xingamentos eleitos pelos grupos homossexuais foram semelhantes aos dos heterossexuais, o que sugere a validade da hipótese da replicação de valores heteronormativos na escolha das ofensas.

Sexismo; Discriminação social; Homossexualidade

Abstract

Swearing words are powerful weapons of social control. In the act of swearing, gender values are not only represented but perpetuated. Based on previous research showing that there are binary and sexist values in swear words, the present study aimed to survey and compare the swear words considered as worst by self-declared homosexual groups in order to verify if the same kind of gender values are present or if they are subverted. A total of 303 questionnaires were applied, divided in 150 men (75 homosexuals and 75 heterosexuals) and 153 women (74 homosexuals and 79 heterosexuals). The answers underwent semantic and pragmatic analysis and were subsequently classified in analytical categories. After this stage, a quantitative and qualitative comparison between groups was conducted. It was observed that the worst swear words elected by homosexual categories were similar to those elected by the heterosexuals, pointing to the replication of heteronormative values in the choice of insults.

Sexism; Social discrimination; Homosexuality

Resumen

Los insultos son poderosas armas de control social. En ellos, los valores de género no sólo están representados, sino que también se perpetúan. A partir de los resultados de investigaciones hechas previamente, con las cuales se demostró que existen valores binarios y sexistas en los insultos, el presente estudio tuvo como objetivo recopilar y comparar los insultos considerados como los peores por parte de los grupos auto-declarados homosexuales, para determinar si los mismos valores de género se hacen presentes o son diferentes. Fueron aplicados 303 cuestionarios, divididos entre 150 hombres (75 homosexuales y 75 heterosexuales) y 153 mujeres (74 homosexuales y 79 heterosexuales). Las respuestas pasaron por un análisis semántico y pragmático, y fueron posteriormente clasificadas en categorías analíticas. Después de esta etapa se llevó a cabo una comparación cuantitativa y cualitativa entre los grupos. Se observó que los peores insultos seleccionados por los grupos homosexuales fueron similares a los escogidos por los heterosexuales, lo cual sugiere la validez de la hipótesis de duplicación de valores heteronormativos en la elección de las ofensas.

Sexismo; Discriminación social; Homosexualidad

A homossexualidade, entendida contemporaneamente como relação sexual e afetiva entre pessoas do mesmo sexo, pressupõe inúmeros “pré-conceitos” (representações) culturais e históricos, entre eles a noção de identidade sexual 11. Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010.

2. Wittig M. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madrid: Egales; 2006.
-33. Laqueur T. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2001.. A representação dessa relação pode ser bastante diferente em uma comunidade indígena, por exemplo, na qual a noção de pessoa não seja baseada na ideia de uma identidade constante 44. Fry P, McRae E. O que é homossexualidade? São Paulo: Brasiliense; 1983. (Coleção Primeiros Passos). Além disso, no passado, as diversas sociedades, e mesmo a nossa, ocidental, interagiram diferentemente com a prática da homossexualidade 55. Spencer C. Homossexualidade: uma história. Rio de Janeiro: Record; 1996.. Desse modo, igualar o relacionamento sexual de um jovem grego com seu mentor na Grécia Antiga à união entre dois homens na atualidade seria equivocado, levando em consideração o olhar distinto sobre o fenômeno que ambos os períodos apresentam.

A aceitação social da relação sexual entre pessoas do mesmo sexo coaduna-se com o aparato ideológico estabelecido em determinado momento. Segundo a historiografia, desde a ascensão do cristianismo até o século XVIII, esse comportamento era encarado como circunstancial, sujeito a proibição e penalidade pelo caráter pecaminoso 66. Rodrigues RCC. Homofilia e homossexualidades: recepções culturais e permanências. História. 2012;31(1):365-91.. A partir do avanço do saber médico ao longo do século XIX, com a ampla elaboração das classificações patológicas, nos moldes conhecidos atualmente, a relação sexual e afetiva entre pessoas do mesmo sexo foi vinculada às definições identitárias, materializada na criação da representação social do sujeito homossexual a partir do termo homossexualidade, concebido ao final da década de 1860 77. Badinter E. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1993.,88. Foucault M. História da sexualidade: a vontade de saber. 13ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 1999. v. 1..

No momento em que a figura do indivíduo “homossexual” é difundida, a heterossexualidade fundamenta-se como modo naturalizado de expressão do prazer. Ou seja, a manutenção da sexualidade como identidade oportunizou o estabelecimento de um binarismo essencialista, no qual a homossexualidade foi percebida como diferença e anormalidade, enquanto a heterossexualidade seria concebida como a via autêntica de relação afetiva e sexual, biologicamente manifestada nos seres humanos 11. Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010.,22. Wittig M. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madrid: Egales; 2006.. Durante as décadas seguintes à criação do termo homossexualidade, mulheres e homens homossexuais conviveram com o estigma de ter sua sexualidade marcada por diagnósticos médicos, além das técnicas de cura agressivas e, em muitos casos, invasivas 66. Rodrigues RCC. Homofilia e homossexualidades: recepções culturais e permanências. História. 2012;31(1):365-91.,99. Trevisan JS. Devassos no paraíso. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record; 2004..

Ao longo do período em que esteve submetida ao veredito da medicina, a homossexualidade também foi objeto de estudo da psicologia e da psicanálise. A partir da teoria freudiana 1010. Freud S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1976. v. 7. p. 123-252., que se debruçou sobre o psiquismo humano e sua relação com a sexualidade, o saber psicanalítico passou a contribuir para a ampliação do conceito de desvio sexual nos psicodiagnósticos, que logo foi incorporado à semiologia psiquiátrica 1111. Russo J, Venâncio ATA. Classificando as pessoas e suas perturbações: a “revolução terminológica” do DSM III. Rev Latinoam Psicopatol Fundam. 2006;9(3):460-83.. Contudo, na metade do século XX, movimentos sociais começaram a questionar a permanência da acepção de homossexualidade como doença. Diante da discriminação baseada no rótulo de anormalidade, formaram-se grupos compostos por sujeitos identificados como homossexuais que, em razão de se enxergarem como categoria marginalizada, acabaram por criar laços de identidade 1212. Facchini R. Histórico da luta de LGBT no Brasil. In: Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região, organizador. Psicologia e diversidade sexual. São Paulo: CRPSP; 2011. p. 10-19.. Com o fortalecimento de um elo político-identitário, a militância gay nos Estados Unidos exigiu que a Associação Americana de Psiquiatria retirasse o homossexualismo da classificação das doenças mentais, o que ocorreu em 1973 1313. Bayer R. Homosexuality and American psychiatry: the politics of diagnosis. Princeton: Princeton University Press; 1987..

No Brasil, os primeiros movimentos de homossexuais surgiram ao longo da década de 1970, no contexto da ditadura militar, período em que foram criados diversos grupos militantes, a fim de questionar o autoritarismo vigente 99. Trevisan JS. Devassos no paraíso. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record; 2004.. Assim como ocorria nos Estados Unidos, essas organizações, a princípio, buscavam discutir as implicações sociais e individuais de sua orientação sexual, além de questionar a discriminação e a intolerância. À medida que as diferentes formas de opressão eram questionadas nos movimentos homossexuais, o impacto negativo do machismo também passava a ser debatido.

Foi principalmente o grupo das lésbicas que buscou denunciar e contestar a reprodução de comportamentos machistas dentro da própria militância. Com isso, criou-se um distanciamento entre os grupos formados por homens e mulheres homossexuais, na medida em que elas optaram por se aproximar dos movimentos feministas, os quais, já possuidores de grande organização e estudos na área, poderiam de certo modo responder com maior compreensão e afinidade às demandas dos grupos lésbicos 44. Fry P, McRae E. O que é homossexualidade? São Paulo: Brasiliense; 1983. (Coleção Primeiros Passos).

Os estudos feministas de gênero surgiram nos anos 1960-70, com o propósito de desconstruir a ideia de uma essência feminina, conceito que contribui para a permanência das mulheres em lugares sociais desprivilegiados 1414. Nicholson L. Interpretando o gênero. Rev Estud Fem. 2000;8(2):9-41.. Progressivamente, essa antiga concepção reducionista de mulher foi substituída por uma compreensão mais plural, composta, por exemplo, dos diferentes atributos que podem ser incorporados pelas mulheres, como os etários, étnicos e econômicos. Além disso, tais estudos passaram a enfatizar a necessidade de olhar para o gênero considerando seu caráter relacional, de forma que os homens também fossem abarcados nessa perspectiva 1515. Scott JW. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & Realidade. 1995;20(2):71-99.. Essa condição baseia-se na complementaridade e na superposição das diversas categorias relacionadas aos papéis de gênero, que pertencem ao mesmo modo de funcionamento social 1616. Zanello V, Bukowitz B. Loucura e cultura: uma escuta das relações de gênero nas falas de pacientes psiquiatrizados. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2011-2012 [acesso 5 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys20/brasil/valeska.htm
http://www.labrys.net.br/labrys20/brasil...
.

O entendimento do caráter relacional de gênero, por outro lado, não deveria reforçar a ideia da diferenciação entre homens e mulheres com base no determinismo biológico, implícito nos conceitos usuais de “sexo” e “diferença sexual”. O movimento da terceira onda do feminismo, na década de 1980, rompeu com essa lógica de compreensão, ao sugerir que a própria compreensão do sexo é uma construção do gênero. Esse novo feminismo propôs também a desconstrução do conceito de identidade, herdeiro, segundo Judith Butler 11. Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010., de uma tradição metafísica ocidental marcada pela ideia de substância.

Para Butler, gênero não é, de maneira alguma, estável, tampouco seria um lócus operativo do qual procederiam os diferentes atos; é, antes, uma identidade debilmente construída no tempo, uma identidade instituída por uma repetição estilizada de atos 1717. Butler J. Actos performativos y constitución del género: un ensayo sobre fenomenología y teoría feminista. Debate Feminista. 1990;18:296-314.. Nesse sentido, gênero é uma performance que vai aos poucos se cristalizando como consequência da repetição estilizada dos atos, produzindo a ideia (equivocada) de substancialização. Tal repetição não ocorre livremente: como declara a pensadora, há uma “estratégia de sobrevivência” que sugere uma situação de coação social claramente punitiva, na qual se dá essa performance. Assim, o tornar-se mulher ou o tornar-se homem, em nossa sociedade binária, seria obrigar o corpo a conformar-se com uma ideia histórica 1818. Butler J. Op. cit. 1990. p. 300.de “mulher” ou “homem”.

Assim, regulação dualista da sexualidade é vista por Butler 11. Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010. como uma forma de apagar a multiplicidade de uma sexualidade subversiva, que romperia com a hegemonia heterossexual, cuja reprodução contou com grande respaldo teológico-médico-jurídico. De acordo com a pensadora – que salienta a pressão social existente na compulsória linearidade entre sexo, gênero e sexualidade –, a heterossexualização do desejo requer e institui a produção de oposições discriminadas e assimétricas entre “feminino” e “masculino”, em que estes são compreendidos como atributos de “macho” e “fêmea” 1919. Butler J. Op. cit. 2010. p. 39.. Ou seja, tal qual o pensamento de Wittig 22. Wittig M. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madrid: Egales; 2006., Butler compreende a sexualidade humana como materialização paradigmática da incorporação dos valores de gênero na sociedade.

Teresa de Lauretis 2020. Lauretis T. Tecnologia de gênero. In: Hollanda HB, organizadora. Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco; 1994. p. 206-42. denominou tecnologias de gênero os processos sociais que envolvem discursos e epistemologias, além das práticas institucionais e da vida cotidiana que vão influenciar a representação social do masculino e do feminino ao longo da história. Segundo a autora, o gênero consistiria em uma tecnologia produzida e reproduzida mediante as mais diversas técnicas sociais, práticas institucionalizadas e atos da vida diária, cuja função é transformar indivíduos concretos em homens e mulheres, promovendo o engajamento em modelos de subjetividade socialmente desejáveis. Entre as tecnologias de gênero, estão as mídias em geral, e também o uso dos xingamentos.

Apesar do avanço teórico no campo dos estudos de gênero, valores machistas relacionados à imagem das mulheres subsistem em nossa cultura, entre os quais estão o ideal de supressão dos desejos sexuais em favor da imagem de recatada e pura 2121. Perrot M. Os silêncios do corpo da mulher. In: Matos MI, Soihet R, organizadoras. O corpo feminino em debate. São Paulo: Unesp; 2003. p. 13-27.,2222. Maia C. Corpos que escapam: as celibatárias. In: Stevens C, Swain T, organizadoras. A construção dos corpos: perspectivas feministas. Florianópolis: Mulheres; 2008. p. 51-83.; o ideal de zelo, expresso por uma suposta essência cuidadora, marcada pela abdicação 2323. Bordo SR. O corpo e a reprodução da feminidade: uma apropriação feminista de Foucault. In: Jaggar AM, Bordo SR, organizadoras. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; 1997. p. 19-41.,2424. Swain TN. La construction des femmes: le renouveau du patriarcat [texto inédito]. [Internet]. Suíça; 2012 [acesso 22 ago 2015]. Disponível: http://www.tanianavarroswain.com.br/francais/lausanne%20fr.htm
http://www.tanianavarroswain.com.br/fran...
; a fabricada volição pela conjugalidade e maternidade 2525. Badinter E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1985.,2626. Kehl MR. Deslocamentos do feminino. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago; 2007.; o controle dos corpos, que impede a deliberação da mulher sobre a continuidade de sua gravidez ou a incentiva à busca constante por um ideal de beleza que a destaque no mercado afetivo 2727. Wolf N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco; 1992.; a violência 2828. Diniz GRS, Pondaag M. Explorando significados do silêncio e do segredo nos contextos de violência doméstica. In: Maluschke G, Bucher-Maluschke J, Hermanns K, organizadoras. Direitos humanos e violência: desafios da ciência e da prática. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer; 2004. p. 171-85.,2929. Kronbauer JFD, Meneghel SN. Perfil da violência de gênero perpetrada por companheiro. Rev Saúde Pública. 2005;39(5):695-701., e a exclusão de benefícios que garantam autonomia e liberdade para usufruir das mesmas oportunidades asseguradas aos homens.

Em relação às masculinidades, evidencia-se o caráter imperativo do ser homem. Segundo Badinter, ser homem se diz mais no imperativo do que no indicativo 3030. Badinter E. Op. cit. 1993. p. 3.. Ser homem é, nesse sentido, a interpelação a não ser uma “mulherzinha”, objetivo do qual será demandado a dar provas durante toda a sua vida, no convívio e no pertencimento à casa dos homens 3131. Welzer-Lang D. A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia. Rev Estud Fem. 2001;9(2):460-82.. Dois valores-pilares aí se destacam: a virilidade sexual e a laborativa. O primeiro coaduna-se com a ideia de um “comedor sexual ativo3232. Bourdieu P. La domination masculine. Paris: Seuil; 1998.

33. Zanello V, Gomes T. Xingamentos masculinos: a falência da virilidade e da produtividade. Caderno Espaço Feminino. 2010;23(1-2):265-80.
-3434. Azize RL, Araújo ES. A pílula azul: uma análise de representações sobre masculinidade em face do Viagra. Antropolítica. 2003;(14):133-51.. Já o segundo afirma a ideia de produtividade, cuja chancela de êxito é o acúmulo de riquezas. Como esse modelo não abarca todos os homens, formulou-se o conceito de masculinidades hegemônicas, nas quais os grupos que se adaptam aos padrões normativos seriam dominantes, enquanto os subordinados seriam os que não satisfazem plenamente as expectativas sociais, como os homens homossexuais, por exemplo 3535. Connell RW, Messerschmidt JW. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Rev Estud Fem. 2013;21(1):241-82..

Como visto, gênero consiste em uma performance garantida ou evocada por práticas sociais, entre as quais sobressaem as tecnologias de gênero. Na condição de ato performativo, o xingamento pode ser compreendido como uma das manifestações dessas tecnologias, já que, ao ser proferido, indica ao interlocutor lugares e valores sociais interditados 3636. Zanello V. Xingamentos: entre a ofensa e a erótica. [Internet]. Fazendo Gênero 8: corpo, violência e poder. Florianópolis: UFSC; 2008 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST33/Valeska_Zanello_33.pdf
http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/S...
. Segundo Houaiss e Villar, “xingar” é um verbo que expressa a ação de agredir por meio de palavras insultuosas, injuriosas; ofender, descompor, destratar, afrontar 3737. Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2001. p. 2897..

Considerando a característica da ação indicada pelo verbo “xingar”, a escolha do vocábulo utilizado nunca é aleatória, mas se dá, sobretudo, em função dos valores de gênero. Essa escolha não abrange apenas o aspecto semântico da palavra, mas também seu modo de utilização quando atribuída a pessoas percebidas como de sexos diferentes em contextos diversos, ou seja, o sentido de seu uso, seu aspecto pragmático 3838. Zanello V, Romero C. “Vagabundo” ou “vagabunda”? Xingamento e relações de gênero. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2012 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/valeskapt.htm
http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/...
. Com o intuito de elencar os valores de gênero presentes nos xingamentos, Zanello e Gomes 3939. Zanello V, Gomes T. Xingamentos: sintoma e reprodução da sociedade patriarcal. Actas do Congresso Feminista. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; 2008. realizaram pesquisa que contou com amostra de 376 adultos em Brasília. Por meio de questionários, solicitou-se aos participantes que apontassem quais os piores xingamentos atribuíveis a uma mulher e a um homem, além de indicar a situação em que se daria a ofensa.

No resultado da investigação, observou-se que os xingamentos considerados piores pelas mulheres, quando atribuídos a elas mesmas, eram os que denotavam comportamento sexual ativo (66,2%), como “puta”, “piranha” e “vagabunda”. Na segunda posição, apareceram aqueles que possuíam caráter relacional (10,94%), tais como “interesseira” e “falsa”. Em terceiro lugar, evidenciaram-se os xingamentos relacionados ao ideal estético, como “gorda”, por exemplo. Desse modo, as três formas de ofensa consideradas piores seriam justamente aquelas que vão de encontro aos valores que nossa sociedade cultua em relação às mulheres: contenção e renúncia sexual; disponibilidade e dedicação ao outro; e beleza.

Em relação aos homens, os piores xingamentos atribuíveis a eles próprios estavam relacionados ao comportamento sexual passivo (46,6%), como “veado”, “bichinha” e “boiola”. Em seguida, destacaram-se os de traço de caráter de autoinvestimento (37,8%), entre eles “vagabundo” e “fracassado”. Portanto, nota-se que as ofensas pretendiam afrontar a virilidade sexual e laborativa, fundamento identitário na constituição de um “verdadeiro” homem em nossa cultura.

Na pesquisa, a separação dos participantes por sexo mostrou que tanto homens quanto mulheres compartilhavam valores sociais machistas e utilizavam as ofensas como reafirmação dos padrões de gênero. Além disso, constatou-se que, em certas ocasiões, o mesmo termo tomou sentidos distintos de acordo com seu uso (aspecto pragmático), quando utilizado para homem ou para mulher. Exemplo disso foi o termo “vagabundo”, que, utilizado para xingar um homem, adquiriu o significado de “homem que não trabalha”, “preguiçoso”, ao passo que, usado para ofender uma mulher, tomou o sentido de “mulher de comportamento sexual ativo”. No entanto, mesmo no caso das mulheres, houve respostas em que esse xingamento assumiu o sentido de “mulher que não trabalha” 3838. Zanello V, Romero C. “Vagabundo” ou “vagabunda”? Xingamento e relações de gênero. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2012 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/valeskapt.htm
http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/...
.

A análise desses resultados, contudo, indicou que seria interessante interrogar sobre a sexualidade dos participantes, a fim de observar se haveria distinção entre as ofensas eleitas pelos grupos homossexuais e os heterossexuais ou se os valores heteronormativos também permeiam o discurso dos indivíduos homossexuais, de forma que seja encontrada equivalência entre ambos.

Com base nessa reflexão, levantaram-se as seguintes questões: será que a homofobia está presente nos xingamentos dos grupos de homens autodeclarados homossexuais? Entre as mulheres homossexuais, haveria, nas ofensas, uma ocorrência dos valores de contenção sexual, em detrimento das referências à homossexualidade? E, se a resposta for afirmativa para ambas as perguntas, será que os valores machistas e misóginos prevaleceriam até mesmo entre tais grupos? Esses grupos xingam distintamente homens e mulheres heterossexuais e homossexuais?

Assim, diante desses questionamentos, a presente pesquisa buscou dar continuidade a trabalhos sobre xingamentos realizados anteriormente, tendo agora como público-alvo de estudo os grupos de lésbicas e gays. Considerando as especificidades da linguagem adotada por esses grupos, a presente pesquisa teve como objetivo geral levantar, em um público autodenominado homossexual, os xingamentos considerados piores, dirigidos tanto a mulheres e homens heterossexuais quanto a mulheres e homens homossexuais. Além disso, buscou-se fazer uma comparação entre as formas de xingamento quando a ofensa é atribuída a pessoas em geral, homossexuais ou não, e a seguir confrontar esses dados com os resultados obtidos em um grupo autodenominado heterossexual.

Método

O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (CEP/ICH-UnB). Após a aceitação pelo CEP, os questionários foram aplicados em grupos de frequentadores de diferentes eventos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) espalhados pelas regiões administrativas do Distrito Federal, bem como os locais de maior frequência do público-alvo da pesquisa, ao longo do segundo semestre de 2012 e início do ano de 2013.

Os questionários consistiam em quatro questões (cada uma delas contendo indagação complementar, destinada a esclarecer o uso desses xingamentos): 1) Quais são os piores xingamentos atribuídos a uma mulher heterossexual? Em que situação?; 2) Quais são os piores xingamentos atribuídos a um homem heterossexual? Em que situação?; 3) Quais são os piores xingamentos atribuídos a uma mulher homossexual? Em que situação?; 4) Quais são os piores xingamentos atribuídos a um homem homossexual? Em que situação?

Os questionários foram aplicados na Universidade de Brasília, em bares e restaurantes frequentados pelo público LGBT e na parada gay de Brasília. Ao final da pesquisa, foram utilizados os dados de 303 questionários, sendo 150 homens (75 homossexuais e 75 heterossexuais) e 153 mulheres (79 heterossexuais e 74 homossexuais). Foram excluídos 73 questionários, os quais não estavam devidamente respondidos, seja pela ausência de autodenominação da orientação sexual, seja porque mais da metade dos quatro itens apresentavam-se em branco. Acredita-se que o alto índice de respostas incompletas deveu-se ao fato de a aplicação dos questionários ter ocorrido sobretudo nos momentos de lazer dos entrevistados. Optou-se pela aplicação nesses locais, pela facilidade de acesso ao público-alvo. A transcrição dos dados realizou-se mediante a transferência de todas as informações sociodemográficas e respostas dos sujeitos para índices eletrônicos, a fim de facilitar o processo de análise de dados.

No grupo das mulheres homossexuais, a idade das participantes ficou entre 16 e 62 anos (média 28,27 anos), com 43% de escolaridade média e 57%, superior. Entre as mulheres heterossexuais, a idade variou de 17 a 65 anos (média 27,80 anos), com 2,6% de escolaridade fundamental; 57,1%, média, e 40,3%, superior. No grupo dos homens homossexuais, a idade dos participantes foi de 16 a 47 anos (média 24,68 anos), com 1,5% de escolaridade fundamental; 51,5%, média, e 47%, superior. Entre os homens heterossexuais, a idade variou de 17 a 59 anos (média 27,73), com 57,2% de escolaridade média e 42,8%, superior.

Os dados foram submetidos tanto a análise de conteúdo 4040. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1997. quanto a análise pragmática 4141. Searle J. Os actos de fala: um ensaio de filosofia da linguagem. Coimbra: Almedina; 1984.,4242. Searle J. Expressão e significado: estudo da teoria dos atos de fala. São Paulo: Martins Fontes; 1995., buscando assim avaliar o conteúdo semântico do termo e, ao mesmo tempo, o sentido de seu uso (aspecto pragmático) 3838. Zanello V, Romero C. “Vagabundo” ou “vagabunda”? Xingamento e relações de gênero. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2012 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/valeskapt.htm
http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/...
. Nessa etapa, os dados foram trabalhados de forma a permitir a seleção e o agrupamento das respostas dos sujeitos em categorias representativas de seus conteúdos, bem como facilitar seu entendimento. Ao longo do processo, efetivou-se a contabilidade das respostas e das categorias.

A partir dos eixos temático-semânticos obtidos nos grupos, foi possível realizar uma comparação dos grupos, no que tange a: 1) conteúdos que surgiram; 2) valores de gênero aí presentes. A fim de organizar as informações coletadas, os resultados foram distribuídos em quatro grandes blocos, de acordo com as divisões analisadas de sexo (homem e mulher) e orientação sexual autodesignada (homossexual e heterossexual).

Discussão e resultados

No que concerne aos xingamentos citados pelos homens homossexuais, quando interrogados sobre as piores ofensas atribuídas ao seu próprio grupo, os principais resultados encontrados estavam associados a comportamento sexual (68%) e exclusão e repúdio (12%). Além da significativa diferença percebida entre o primeiro e o segundo lugar em ocorrência, verificou-se, dentro da categoria de comportamento sexual, o maior número de xingamentos na subcategoria “comportamento sexual passivo” (90%). Ou seja, de acordo com as respostas, os piores xingamentos que homens homossexuais consideram para si são aqueles que denotam passividade ou comportamentos que os aproximam de traços tidos como femininos. Entre os exemplos mais encontrados, estão “viado”, “viadinho” e “bicha”. Na categoria “exclusão e repúdio”, verificaram-se, como exemplos, “aberração” e “doente”.

As outras categorias presentes foram: traços de caráter relacional (4%), em ofensas como “sem-vergonha” e “má companhia”; traços de caráter de autoinvestimento (1%), como “vagabundo”, “sem futuro” e “incompetente”; sexualidade como xingamento (1%), que nesse caso seria ofender o homem homossexual ao chamá-lo de “heterossexual”; atributos físicos (1%), como “feio” e “fora de forma”; atributos intelectuais (1%), como “burro”, e, por fim, a categoria “outros” (2%), na qual as ofensas não se enquadram nas demais categorias, como “da moda” e “xiboca”.

Os xingamentos referentes aos traços de caráter relacional são aqueles que contradizem a dignidade e a honestidade, enquanto as ofensas associadas aos traços de caráter de autoinvestimento são as que contestam a produtividade, ou seja, o papel profissional e a capacidade de gerar renda. Além das categorias citadas, houve questionários (10%) nos quais o participante, ou utilizou de expressões ou termos que não seriam xingamentos se comparados aos padrões previamente estabelecidos pela pesquisa, ou deixou os espaços das respostas em branco.

Entre os homens heterossexuais, também foram considerados piores xingamentos atribuíveis aos homens homossexuais a categoria “comportamento sexual” (79%). Nela, o comportamento sexual passivo, expresso por ofensas como “viado” e “bichinha”, é igualmente predominante (93%). Também apareceram outras categorias, como: traços de caráter relacional (7%); traços de caráter de autoinvestimento (3%); exclusão e repúdio (2%); atributos físicos (1%); atributos intelectuais (1%); sexualidade como xingamento (1%), e outros (2%). Em 4% dos questionários, ou foram utilizados termos ou expressões que não seriam xingamentos em comparação com os padrões previamente definidos pela pesquisa, ou o item ficou sem resposta.

Analisando os dados encontrados, nota-se que a atribuição de características culturalmente associadas às mulheres, como a passividade, é considerada o pior meio de insultar o homem homossexual. Essas evidências também surgiram nos grupos de xingamentos das mulheres homossexuais e heterossexuais dirigidos aos homens homossexuais, em que a subcategoria “comportamento sexual passivo” predominou na categoria “comportamento sexual” (96% e 98%, respectivamente). Portanto, é possível perceber a misoginia predominante nos xingamentos atribuídos aos homens homossexuais, visto que as piores ofensas referem-se ao ódio às qualidades femininas 77. Badinter E. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1993.. O próprio grupo dos homens homossexuais, maior alvo desse padrão de xingamento e hipoteticamente capaz de subverter esse cenário, corroborou a reafirmação misógina (Figura 1).

Figura 3.
Xingamentos de mulheres homossexuais atribuídos a mulheres homossexuais na categoria “comportamento sexual”

Figura 1.
Xingamentos de homens homossexuais atribuídos a homens homossexuais na categoria “comportamento sexual”

Da Figura 1 depreende-se a dimensão da presença do comportamento sexual passivo nos xingamentos de homens homossexuais atribuídos ao seu próprio grupo. Esse dado denota a presença de discurso homofóbico na homossexualidade e a apropriação de valores viris como representação da homossexualidade aceitável. Segundo Badinter, enquanto praticada na sua forma ativa, a homossexualidade pode ser considerada pelo homem como um meio de afirmar o seu poder; sob sua forma “passiva”, ela é, ao contrário, um símbolo da decadência 4343. Badinter E. Op. cit. 1993. p. 118..

Para os homens heterossexuais, as principais categorias dos piores xingamentos que eles atribuem ao seu grupo são comportamento sexual (48%), traços de caráter relacional (27%) e traços de caráter de autoinvestimento (12%). Quatro categorias tiveram 2% de ocorrência; são elas: exclusão e repúdio; atributos físicos; atributos intelectuais, e outros. A categoria “politicamente correto” teve apenas 1%. Na categoria de comportamento sexual, houve maior distribuição entre as subcategorias se comparada ao grupo anterior.

O comportamento sexual passivo segue predominante, com 57%, e o comportamento sexual de apassivação por traição, expresso em xingamentos como “corno” e “chifrudo” – que denotam a incapacidade do homem de ter controle sobre os comportamentos sexuais do(a) parceiro(a) no relacionamento – encontra-se em segundo lugar (26%). Em seguida, aparecem o comportamento sexual ativo (10%), com ofensas como “safado” e “machão”, e o comportamento sexual de eficiência (7%), com “brocha” e “ruim de cama”. A subcategoria “comportamento sexual de eficiência” é aquela que contesta a eficácia do homem durante a relação sexual, manifestada em expressões como “pau mole” e “impotente”. Em 4% dos questionários, não houve resposta a essa questão.

Na opinião dos homens homossexuais, as categorias que tiveram maior relevância como piores xingamentos direcionados aos homens heterossexuais foram comportamento sexual (57%), traços de caráter de autoinvestimento (19%) e traços de caráter relacional (15%). Nas subcategorias dos comportamentos sexuais apareceram: comportamento sexual passivo, em primeiro lugar (74%); apassivação por traição, em segundo (15%); comportamento sexual de eficiência, em terceiro (6%); e, finalmente, o comportamento sexual ativo (5%). Além das principais categorias, também apareceram nesse grupo: exclusão e repúdio (4%), em ofensas como “desgraçado”; atributos físicos (2%), tais como “gordo” e “pinto pequeno”; politicamente correto (1%), como ofender o homem heterossexual ao chamá-lo de “machista”; e outros (1%), entre os quais se encontrou o aparentemente desconhecido “frakking”. Embora essa palavra possa ser a grafia incorreta da gíria inglesa “freaking”, que designa algo ou alguém anômalo e esquisito, os erros ortográficos somente foram levados em consideração quando eram óbvios, como no caso de “bixa”, em vez de “bicha”. Em 1% dos questionários, não houve resposta nesta questão.

As mulheres homossexuais seguiram o padrão dos homens homossexuais nas principais categorias de xingamento dirigido aos homens heterossexuais. O comportamento sexual ficou em primeiro lugar (53%); os traços de caráter de autoinvestimento, em segundo (20%), e, em terceiro, os traços de caráter relacional (13%). As subcategorias de comportamento sexual foram: comportamento sexual passivo (64%); comportamentos sexuais de apassivação por traição e de eficiência, ambos com o mesmo valor (16%); além do comportamento sexual ativo (4%).

As outras categorias apareceram nesse grupo: atributos físicos (4%), com xingamentos como “bombado” e “careca”; exclusão e repúdio (3%), com as ofensas “sujo” e “lodo”; atributos intelectuais (2%), com “burro” e “ignorante”; e, finalmente, politicamente correto (1%), na qual novamente se encontrou o termo “machista” como xingamento. Em 4% dos questionários, ou foram utilizadas expressões ou termos que não seriam propriamente ofensas quando comparados aos padrões previamente estabelecidos pela pesquisa, ou o item não foi respondido.

Na distribuição dos piores xingamentos entre as mulheres heterossexuais dirigidos aos homens heterossexuais, o comportamento sexual seguiu predominante (51%), apesar de os traços de caráter relacional também terem obtido alta ocorrência (20%), seguido pelos traços de caráter de autoinvestimento (15%), atributos intelectuais (5%), exclusão e repúdio (4%) e atributos físicos (2%). As categorias “sexualidade como xingamento” e “outros” obtiveram apenas 1%.

Nas subcategorias de comportamentos sexuais, o comportamento sexual passivo continuou apresentando maior ocorrência (60%), e o comportamento sexual de apassivação por traição também obteve considerável manifestação (21%). O comportamento sexual ativo e o comportamento sexual de eficiência foram menos expressivos (7% e 12%, respectivamente). Em 1% dos questionários, não houve resposta a essa questão.

Ainda que a distribuição de categorias e subcategorias de comportamento sexual tenha sido maior nos piores xingamentos atribuídos aos homens heterossexuais, é evidente que o comportamento sexual passivo segue proeminente nos questionários. Unindo esse resultado ao do grupo dos homens homossexuais, verifica-se que, independentemente do sexo e da sexualidade daqueles que responderam à pesquisa, os homens sempre são chamados a responder ao ideal de virilidade exigido pela sociedade, seja ele heterossexual ou homossexual 77. Badinter E. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1993.. Esse resultado corrobora a teoria de Daniel Welzer-Lang de que os homens devem combater os aspectos que poderiam fazê-los serem associados às mulheres 4444. Welzer-Lang. Op. cit. p. 462..

Em relação aos questionários nos quais os piores xingamentos foram dirigidos às mulheres, assim como no caso dos homens, também é possível perceber elementos prevalecentes na eleição das piores ofensas. Ao serem indagadas sobre as piores ofensas atribuídas ao seu próprio grupo, as mulheres heterossexuais elegeram o comportamento sexual ativo (74%), que foi a única subcategoria de comportamento sexual a aparecer nos resultados, com xingamentos como “puta”, “vadia” e “piranha”.

Outras categorias, menos expressivas, foram: atributos intelectuais (6%), com “burra”, “barbeira” e “dona Maria”; traços de caráter relacional (6%), com “pistoleira”, “desonesta” e “traíra”; atributos físicos (5%), com “gorda” e “baranga”; exclusão e repúdio (4%), com “nojenta” e “porca”; traços de caráter de autoinvestimento (3%), com as ofensas “fracassada” e “incompetente”; e outros (2%), em que foram encontrados termos desconhecidos, como “banda” e “rupiada”.

Nas piores ofensas que as mulheres homossexuais elegeram para as mulheres heterossexuais, está o comportamento sexual (76%), no qual a subcategoria “comportamento sexual ativo” representa 89%, seguida pelo comportamento sexual invertido (8%) e comportamento sexual de frustração (3%) – essa última tendo como xingamentos as expressões “mal-amada” e “mal-comida”. As outras categorias encontradas foram atributos intelectuais (3%), traços de caráter relacional (3%), atributos físicos (6%), exclusão e repúdio (4%), traços de caráter de autoinvestimento (3%) e outros (1%).

Na subcategoria “comportamento sexual invertido”, as ofensas predominantes são “sapata”, “sapatona” “caminhoneira”, que exprimem, no imaginário social, a conduta de uma mulher que almeja aproximar-se dos papéis socialmente atribuídos aos homens, ou seja, uma “inversão de papéis”. A escolha do termo “invertido” justifica-se pelas respostas à questão complementar Em que situação?, as quais sugeriram uma ideia de quebra da relação “necessária” (no imaginário social) entre sexo, gênero e desejo 11. Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010.. Em 4% dos questionários não houve resposta a essa questão.

Os homens homossexuais elegeram como os piores xingamentos para as mulheres heterossexuais aqueles relacionados principalmente ao comportamento sexual (80%), em que a subcategoria “comportamento sexual ativo” ficou com 93%, seguida pelo comportamento sexual invertido (5%) e pelo comportamento passivo, com o xingamento “pau no cu”, e o de frustração, cada qual com apenas 1%.

Nesse grupo, surgiram outras categorias: traços de caráter relacional (6%); atributos físicos (5%); atributos intelectuais (2%); exclusão e repúdio (2%); outros (2%); além de traços de caráter de autoinvestimento e sexo biológico como xingamento, cada qual com 1%. Em 1% dos questionários não houve resposta a essa questão. Os xingamentos associados ao comportamento sexual de frustração, como “mal-amada” e “encalhada”, referem-se à dificuldade da mulher de ser escolhida como o objeto de amor e/ou desejo de um homem, o que fere em cheio o “dispositivo amoroso2525. Badinter E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1985., caminho privilegiado, em nossa cultura, na constituição subjetiva das mulheres 4545. Zanello V. Saúde mental, mulheres e conjugalidade. In: Stevens C, Oliveira S, Zanello V, organizadoras. Estudos feministas e de gênero: articulações e perspectivas. Florianópolis: Mulheres; 2014. p. 108-18..

No grupo dos piores xingamentos de homens heterossexuais dirigidos às mulheres heterossexuais, o comportamento sexual e os atributos físicos foram as categorias de maior ocorrência: 70% e 13%, respectivamente. As outras foram menos expressivas: traços de caráter relacional (7%), exclusão e repúdio (4%), atributos intelectuais (3%), traços de caráter de autoinvestimento (1%) e outros (1%). Em 1% dos questionários, ou não houve respostas, ou foram utilizadas expressões ou termos que não seriam xingamentos se comparados aos padrões predefinidos pela pesquisa. Na categoria de comportamento sexual, seguiu majoritário o comportamento sexual ativo (97%). Os outros três subgrupos foram comportamento sexual invertido, de frustração e passivo, cada qual com apenas 1% de ocorrência.

Com base nos resultados do presente trabalho e nas pesquisas pregressas sobre xingamentos 3838. Zanello V, Romero C. “Vagabundo” ou “vagabunda”? Xingamento e relações de gênero. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2012 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/valeskapt.htm
http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/...
,3939. Zanello V, Gomes T. Xingamentos: sintoma e reprodução da sociedade patriarcal. Actas do Congresso Feminista. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; 2008.,4646. Zanello V, Bukowitz B, Coelho E. Xingamentos entre adolescentes em Brasília: linguagem, gênero e poder. Interacções. 2011;(17):151-69., é possível perceber que o comportamento sexual ativo, independentemente da orientação sexual de quem xinga, segue como a principal ferramenta de ofensa às mulheres heterossexuais. Ou seja, existe uma padronização nesses mecanismos de insulto cuja prerrogativa é a coação aos comportamentos considerados adequados às mulheres 2626. Kehl MR. Deslocamentos do feminino. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago; 2007.. Uma vez que a docilidade e a feminilidade constituem atributos socialmente impostos às mulheres, ser “puta” ou “vagabunda” é visto como algo ofensivo, daí serem considerados os piores xingamentos. Esse fenômeno ficou bastante evidente nos xingamentos dos homens homossexuais dirigidos às mulheres heterossexuais (Figura 2).

Nas categorias dos piores xingamentos que as mulheres heterossexuais atribuem às mulheres homossexuais, estão: comportamento sexual (63%); exclusão e repúdio (17%), nas quais se encontram ofensas como “doente” e “nojenta”; atributos físicos (5%), como “gorda” e “peluda”; atributos intelectuais (2%), como “burra”. Em 10% dos questionários, ou a entrevistada não conseguiu definir nenhum xingamento, ou mencionou expressões como “você gosta de aranha”. Os traços de caráter de autoinvestimento e relacionais, bem como a referência à celebridade, ficaram cada qual com 1% das ocorrências. Essa última categoria refere-se à utilização de nomes de pessoas famosas como forma de xingamento. Nesse grupo, o nome eleito foi o do cantor Justin Bieber. Entre as subcategorias de comportamento sexual, o comportamento sexual invertido é predominante (72%), com “sapatão” e “mulher macho”, seguido pelo comportamento sexual ativo (25%), com “vadia” e “puta”, e o de frustração (3%), por meio das ofensas “solteirona” e “mal-amada”.

Figura 2.
Xingamentos de homens homossexuais atribuídos a mulheres heterossexuais na categoria “comportamento sexual”

A categoria de comportamento sexual é de ocorrência bastante expressiva nos piores xingamentos dos homens heterossexuais dirigidos às mulheres homossexuais (77%). As demais categorias surgiram como: traços de caráter relacional (7%), exclusão e repúdio (5%), atributos físicos (3%), seguidas por atributos intelectuais, referência à celebridade e outros, cada qual com 1%. Em 5% dos questionários, o sujeito não respondeu a essa questão. As subcategorias de comportamento sexual foram comportamento sexual invertido (59%), comportamento sexual ativo (33%), além dos comportamentos sexuais passivo e de frustração, cada um com 4%.

Se comparado com o grupo anterior, é maior o rol de categorias que apareceram nos piores xingamentos dos homens homossexuais às mulheres homossexuais: comportamento sexual (71%), traços de caráter relacional (5%), exclusão e repúdio (5%), atributos físicos (4%), traços de caráter de autoinvestimento (3%). Além de categorias “atributos intelectuais” e “outros”, o sexo biológico como xingamento, quando se consideram as palavras “homem” ou “mulher” como ofensa, ficaram cada qual com 1%. Como subcategorias de comportamento sexual, surgiram: comportamento sexual invertido, ainda a principal, com 83%, seguido pelo comportamento sexual ativo (11%) e comportamentos sexuais de frustração e passivo, cada um com 3%. Em 9% dos questionários, essa questão ficou sem resposta.

O comportamento sexual permaneceu como categoria majoritária nos piores xingamentos eleitos pelas mulheres homossexuais para o seu próprio grupo (80%). Além disso, o subgrupo mais destacado dessa categoria também foi o comportamento sexual invertido (76%), seguido pelo comportamento sexual ativo (16%), e o passivo e de frustração, com 8% cada. As outras categorias que apareceram com menor frequência foram exclusão e repúdio (5%), atributos físicos (4%), traços de caráter relacional (3%), atributos intelectuais (2%) e outros (1%). Em 5% dos questionários, não houve resposta a essa questão. Percebe-se, portanto, que as mulheres homossexuais seguiram os mesmos comportamentos majoritários presentes no grupo dos homens homossexuais, homogeneizando, consequentemente, os resultados (Figura 3).

Considerações finais

O intuito desta pesquisa foi identificar de que modo os sujeitos autodeclarados homossexuais utilizam os xingamentos e, sobretudo, verificar se os valores de gênero permanecem na manutenção dos papéis sociais tradicionais. Com base nos resultados, foi possível verificar pouca distinção no emprego dos xingamentos nos grupos analisados, o que sugere a perpetuação dos princípios machistas e dos valores de gênero em nossa sociedade.

Entre os homens homossexuais, as ofensas atribuídas aos homens, tanto homossexuais quanto heterossexuais, mantêm a categoria de comportamento sexual passivo como insulto predominante, ainda que os xingamentos sejam dirigidos ao próprio grupo. Portanto, embora muitas vezes sejam marginalizados e oprimidos por causa de sua homossexualidade, os entrevistados recorrem aos mesmos mecanismos homofóbicos contra os homens em geral. Além disso, os homens homossexuais consideraram os piores xingamentos para as mulheres heterossexuais aqueles associados ao comportamento sexual ativo e, para as mulheres homossexuais, aqueles relacionados ao comportamento sexual invertido, reafirmando padrões normativos impostos às mulheres.

Analogamente aos homens homossexuais, as mulheres autointituladas homossexuais também apresentam a tendência de apropriação dos valores heteronormativos na eleição dos piores xingamentos dirigidos aos diferentes grupos. Logo, também atribuem como as piores ofensas aos homens, sejam eles heterossexuais ou homossexuais, aquelas que denotam comportamento sexual passivo. Além do mais, ratificam a divisão encontrada no grupo das mulheres heterossexuais, no qual os piores xingamentos atribuídos ao seu grupo referem-se à subcategoria de comportamento sexual ativo, enquanto as piores ofensas dirigidas ao próprio grupo das mulheres homossexuais correspondem à subcategoria de comportamento sexual invertido.

Em suma, a partir dos dados obtidos, pode-se inferir que homens e mulheres homossexuais, ainda que não estejam enquadrados nos padrões da heterossexualidade oposicional 11. Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010., reiteram os papéis sociais e tradicionais de gênero, os quais apregoam a virilidade para os homens e o recato sexual para as mulheres. Além disso, apesar de se encontrarem à margem da heteronormatividade, eles reproduzem os comportamentos de seus arautos. Diante desse quadro, este estudo pretende salientar a importância da reflexão acerca dos mecanismos que constroem a subjetividade e orientam os juízos morais na vida social, pois se entende que são fundamentais para a tomada de consciência sobre os padrões de comportamento vigentes, os quais, ao reproduzirem moralidades iníquas, repressivas, e até mesmo contrárias às bases da cidadania, vão de encontro ao respeito pela autonomia individual.

Referências

  • 1
    Butler J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2010.
  • 2
    Wittig M. El pensamiento heterosexual y otros ensayos. Madrid: Egales; 2006.
  • 3
    Laqueur T. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 2001.
  • 4
    Fry P, McRae E. O que é homossexualidade? São Paulo: Brasiliense; 1983. (Coleção Primeiros Passos)
  • 5
    Spencer C. Homossexualidade: uma história. Rio de Janeiro: Record; 1996.
  • 6
    Rodrigues RCC. Homofilia e homossexualidades: recepções culturais e permanências. História. 2012;31(1):365-91.
  • 7
    Badinter E. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1993.
  • 8
    Foucault M. História da sexualidade: a vontade de saber. 13ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 1999. v. 1.
  • 9
    Trevisan JS. Devassos no paraíso. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record; 2004.
  • 10
    Freud S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1976. v. 7. p. 123-252.
  • 11
    Russo J, Venâncio ATA. Classificando as pessoas e suas perturbações: a “revolução terminológica” do DSM III. Rev Latinoam Psicopatol Fundam. 2006;9(3):460-83.
  • 12
    Facchini R. Histórico da luta de LGBT no Brasil. In: Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região, organizador. Psicologia e diversidade sexual. São Paulo: CRPSP; 2011. p. 10-19.
  • 13
    Bayer R. Homosexuality and American psychiatry: the politics of diagnosis. Princeton: Princeton University Press; 1987.
  • 14
    Nicholson L. Interpretando o gênero. Rev Estud Fem. 2000;8(2):9-41.
  • 15
    Scott JW. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & Realidade. 1995;20(2):71-99.
  • 16
    Zanello V, Bukowitz B. Loucura e cultura: uma escuta das relações de gênero nas falas de pacientes psiquiatrizados. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2011-2012 [acesso 5 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys20/brasil/valeska.htm
    » http://www.labrys.net.br/labrys20/brasil/valeska.htm
  • 17
    Butler J. Actos performativos y constitución del género: un ensayo sobre fenomenología y teoría feminista. Debate Feminista. 1990;18:296-314.
  • 18
    Butler J. Op. cit. 1990. p. 300.
  • 19
    Butler J. Op. cit. 2010. p. 39.
  • 20
    Lauretis T. Tecnologia de gênero. In: Hollanda HB, organizadora. Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco; 1994. p. 206-42.
  • 21
    Perrot M. Os silêncios do corpo da mulher. In: Matos MI, Soihet R, organizadoras. O corpo feminino em debate. São Paulo: Unesp; 2003. p. 13-27.
  • 22
    Maia C. Corpos que escapam: as celibatárias. In: Stevens C, Swain T, organizadoras. A construção dos corpos: perspectivas feministas. Florianópolis: Mulheres; 2008. p. 51-83.
  • 23
    Bordo SR. O corpo e a reprodução da feminidade: uma apropriação feminista de Foucault. In: Jaggar AM, Bordo SR, organizadoras. Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; 1997. p. 19-41.
  • 24
    Swain TN. La construction des femmes: le renouveau du patriarcat [texto inédito]. [Internet]. Suíça; 2012 [acesso 22 ago 2015]. Disponível: http://www.tanianavarroswain.com.br/francais/lausanne%20fr.htm
    » http://www.tanianavarroswain.com.br/francais/lausanne%20fr.htm
  • 25
    Badinter E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1985.
  • 26
    Kehl MR. Deslocamentos do feminino. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago; 2007.
  • 27
    Wolf N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco; 1992.
  • 28
    Diniz GRS, Pondaag M. Explorando significados do silêncio e do segredo nos contextos de violência doméstica. In: Maluschke G, Bucher-Maluschke J, Hermanns K, organizadoras. Direitos humanos e violência: desafios da ciência e da prática. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer; 2004. p. 171-85.
  • 29
    Kronbauer JFD, Meneghel SN. Perfil da violência de gênero perpetrada por companheiro. Rev Saúde Pública. 2005;39(5):695-701.
  • 30
    Badinter E. Op. cit. 1993. p. 3.
  • 31
    Welzer-Lang D. A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia. Rev Estud Fem. 2001;9(2):460-82.
  • 32
    Bourdieu P. La domination masculine. Paris: Seuil; 1998.
  • 33
    Zanello V, Gomes T. Xingamentos masculinos: a falência da virilidade e da produtividade. Caderno Espaço Feminino. 2010;23(1-2):265-80.
  • 34
    Azize RL, Araújo ES. A pílula azul: uma análise de representações sobre masculinidade em face do Viagra. Antropolítica. 2003;(14):133-51.
  • 35
    Connell RW, Messerschmidt JW. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Rev Estud Fem. 2013;21(1):241-82.
  • 36
    Zanello V. Xingamentos: entre a ofensa e a erótica. [Internet]. Fazendo Gênero 8: corpo, violência e poder. Florianópolis: UFSC; 2008 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST33/Valeska_Zanello_33.pdf
    » http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST33/Valeska_Zanello_33.pdf
  • 37
    Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2001. p. 2897.
  • 38
    Zanello V, Romero C. “Vagabundo” ou “vagabunda”? Xingamento e relações de gênero. [Internet]. Labrys: Estudos Feministas. 2012 [acesso 18 mar 2015]. Disponível: http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/valeskapt.htm
    » http://www.labrys.net.br/labrys22/libre/valeskapt.htm
  • 39
    Zanello V, Gomes T. Xingamentos: sintoma e reprodução da sociedade patriarcal. Actas do Congresso Feminista. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; 2008.
  • 40
    Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1997.
  • 41
    Searle J. Os actos de fala: um ensaio de filosofia da linguagem. Coimbra: Almedina; 1984.
  • 42
    Searle J. Expressão e significado: estudo da teoria dos atos de fala. São Paulo: Martins Fontes; 1995.
  • 43
    Badinter E. Op. cit. 1993. p. 118.
  • 44
    Welzer-Lang. Op. cit. p. 462.
  • 45
    Zanello V. Saúde mental, mulheres e conjugalidade. In: Stevens C, Oliveira S, Zanello V, organizadoras. Estudos feministas e de gênero: articulações e perspectivas. Florianópolis: Mulheres; 2014. p. 108-18.
  • 46
    Zanello V, Bukowitz B, Coelho E. Xingamentos entre adolescentes em Brasília: linguagem, gênero e poder. Interacções. 2011;(17):151-69.
  • Aprovação CEP/ICH-UnB 05-04/2012
  • Errata

    A pedido dos autores, publicamos retificação no artigo Xingamentos entre homossexuais: transgressão da heteronormatividade ou replicação dos valores de gênero?, com número DOI 10.1590/1983-80422015233099, publicado na Revista Bioética, volume 23, número 3, na página onde se lia:
    Figura 1 Xingamentos de homens homossexuais atribuídos a homens homossexuais na categoria “comportamento sexual”
    Leia-se:
    Figura 1 Xingamentos de homens homossexuais atribuídos a homens homossexuais na categoria “comportamento sexual”

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    23 Maio 2015
  • Revisado
    13 Jul 2015
  • Aceito
    3 Ago 2015
Conselho Federal de Medicina SGAS 915, lote 72, CEP 70390-150, Tel.: (55 61) 3445-5932, Fax: (55 61) 3346-7384 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: bioetica@portalmedico.org.br