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Construção coletiva do entendimento de lazer na saúde mental territorial por terapeutas ocupacionais: um estudo qualitativo

Resumo

Introdução

O lazer é considerado uma ocupação presente nos estudos, avaliações e intervenções da terapia ocupacional. Na América Latina, há poucos trabalhos que se dedicam à construção do entendimento dos profissionais ou suas percepções acerca do lazer. São ainda mais escassos os estudos que correlacionam com a ciência ocupacional o entendimento destes profissionais sobre tal ocupação dentro do campo da saúde mental.

Objetivo

Conhecer o entendimento de lazer por terapeutas ocupacionais atuantes na saúde mental de serviços públicos substitutivos ao modelo psiquiátrico asilar.

Metodologia

Esta pesquisa foi qualitativa, descritiva e exploratória, com desenho transversal. Foi utilizado grupo focal e análise temática da informação advinda do processo de construção coletiva de terapeutas ocupacionais, atuantes em serviços públicos de base territorial de urgência em saúde mental, da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, sobre seus entendimentos quanto ao lazer.

Resultados

Três categorias emergiram: (a) Lazer - prazer; (b) Lazer - livre escolha; e (c) Lazer - transcendência da dureza.

Conclusão

O lazer é uma ocupação importante para terapeutas ocupacionais atuantes em saúde mental no território; pode encontrar ressonância em práticas que fomentam a contratualidade e autonomia, especialmente ao se aliar aos princípios da ciência ocupacional de valorização do fazer humano em suas variáveis formas de vivenciá-lo. Acredita-se que esta pesquisa possa auxiliar terapeutas ocupacionais e cientistas da ocupação no entendimento do lazer contemporâneo, em diálogo com o cuidado no território e posicionamento antimanicomial.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Atividades de Lazer; Centros de Atendimento Psicossocial

Abstract

Introduction

Leisure is considered an occupation present in studies, evaluations and interventions of occupational therapy. In Latin America, there are few works dedicated to building the understanding of professionals or their perceptions about leisure. There are even fewer studies that correlate the understanding of these professionals with occupational science on this occupation within the field of mental health.

Objective

To know the understanding of leisure by occupational therapists working in the mental health of public services that substitute the asylum psychiatric model.

Methodology

: This research was qualitative, descriptive and exploratory, with a cross-sectional design. A focus group and thematic analysis of information arising from the process of collective construction of occupational therapists, working in public services with a territorial base of urgency in mental health, in the city of Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil, on their understandings regarding leisure were used.

Results

Three categories emerged: (a) Leisure - pleasure; (b) Leisure - free choice; and (c) Leisure - transcendence of hardness.

Conclusion

Leisure is an important occupation for occupational therapists working in mental health in the territory; may find resonance in practices that encourage contractuality and autonomy, especially when combined with the principles of occupational science of valuing human doing in its variable ways of experiencing it. It is believed that this research can help occupational therapists and occupation scientists in understanding contemporary leisure, in dialogue with care in the territory and anti-asylum positioning.

Keywords:
Occupational Therapy; Mental Health; Leisure Activities; Mental Health Services

Introdução

A Ciência Ocupacional é um campo de pesquisa que se expande pouco a pouco, na América Latina (Jara et al., 2016Jara, R. M., Guajardo, A., & Schliebener, M. (2016). Conferencia: debates y reflexiones para una Ciencia de la Ocupación crítica y social. Diálogos para comprender la Ocupación Humana. Revista Argentina de Terapia Ocupacional, 2(1), 40-58.; Morrison et al., 2021Morrison, R., Silva, C. R., Correia, R. L., & Wertheimer, L. (2021). Por que uma Ciência Ocupacional na América Latina? Possíveis relações com a Terapia Ocupacional com base em uma perspectiva pragmatista. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, 1-13.; Queiroz et al., 2021aQueiroz, A. G., Castro, L. R., & Morrison, R. (2021a). Ciência Ocupacional: perspectivas gerais e propostas para a América Latina. In A. Petten, A. Cardoso & M. Brito (Orgs.), Fazer, ser e tornar-se: desafios e possibilidades no estudo da ocupação (pp. 17-32). Jundiaí: Paco Editorial.). Consequentemente, as pesquisas que consideram conceptualizações acerca do lazer, sob a óptica da terapia ocupacional, são escassas. Nesse contexto, este texto apresenta o entendimento de lazer, por terapeutas ocupacionais de uma cidade brasileira, atuantes na saúde mental de serviços públicos substitutivos ao modelo psiquiátrico asilar, e o correlaciona à Ciência Ocupacional. Para tanto, contextualiza os entendimentos de lazer recorrentes na literatura da ciência ocupacional e na terapia ocupacional brasileira. Apresenta a saúde mental brasileira com recorte na assistência de urgência, e traceja a relação entre ciência ocupacional, terapia ocupacional, lazer e saúde mental.

Em busca exploratória de artigos, sem determinação de ano, realizada durante o mês de junho de 2022, usando apenas a palavra leisure, lazer em inglês, no Journal of Occupational Science — principal meio científico com foco em ciência ocupacional —, foram encontrados 1058 artigos com o descritor leisure presente no título, resumo e/ou palavras-chave. Observou-se que o lazer foi recorrentemente abordado, tendo o trabalho como referência aplicada como contraponto, complementariedade e recurso para equilíbrio trabalho/lazer (Passmore, 1998Passmore, A. (1998). Does leisure support and underpin adolescents’ developing worker role? Journal of Occupational Science, 5(3), 161-165.; Håkansson & Ahlborg Junior, 2010Håkansson, C., & Ahlborg Junior, G. (2010). Perceptions of employment, domestic work, and leisure as predictors of health among women and men. Journal of Occupational Science, 17(3), 150-157.).

O recorte antropológico e cultural também foi identificado durante a pesquisa (Darnell, 2009Darnell, R. (2009). Cross‐cultural constructions of work, leisure and community responsibility: some first nations reflections. Journal of Occupational Science, 16(1), 4-9.), frequentemente com ênfase na dicotomia entre trabalho/lazer ou atividades obrigatórias/lazer (Downs, 2008Downs, M. L. (2008). Leisure routines: parents and children with disability sharing occupation. Journal of Occupational Science, 15(2), 105-110.). Encontravam-se também artigos que relatavam práticas como lazer ocupação, associando-as à qualidade de vida e bem-estar (Costa & Cox, 2018Costa, A. L. B., & Cox, D. L. (2018). A experiência do significado na dança circular. Journal of Occupational Science, 25(3), iii-xvi.), relacionando-as à identidade e personalidade (Daily et al., 2021Daily, L. Z., DiLima, R., Streett, A., & Healy, K. (2021). The relationship of leisure occupation, personality, and well-being: A comparison of model builders and visual artists. Journal of Occupational Science, 28(4), 479-495.), à socialização (Jacob et al., 2009Jacob, C., Guptill, C., & Sumsion, T. (2009). Motivation for continuing involvement in a leisure‐based choir: the lived experiences of university choir members. Journal of Occupational Science, 16(3), 187-193.) ou, ainda, à identidade, contextos de marginalização e participação social (Almeida, 2022Almeida, D. E. R. G. (2022). Night-time leisure: gender and sexuality intersected by generation, style, and race in the São Paulo pop LGBTQ+ scene. Journal of Occupational Science, 29(1), 52-67.; Gonçalves & Malfitano, 2022Gonçalves, M. V., & Malfitano, A. P. S. (2022). Jovens brasileiros em situação de pobreza: o cotidiano na favela. Journal of Occupational Science, 29(2), 263-278.; Suto, 2013Suto, M. J. (2013). Leisure participation and well-being of immigrant women in Canada. Journal of Occupational Science, 20(1), 48-61.).

Quando se limitou a busca aos descritores saúde mental e lazer, sem restrição de data de publicação, foram encontrados 5 artigos com a inclusão destes dois descritores, no caso, contidos no abstract. Daqueles, 2 são de 1998 e tratavam do lazer e trabalho de adolescentes (Passmore, 1998Passmore, A. (1998). Does leisure support and underpin adolescents’ developing worker role? Journal of Occupational Science, 5(3), 161-165.), e do uso do tempo, do estresse, qualidade de vida e saúde mental (Zuzanek, 1998Zuzanek, J. (1998). Time use, time pressure, personal stress, mental health, and life satisfaction from a life cycle perspective. Journal of Occupational Science, 5(1), 26-39.); o terceiro dizia respeito a um estudo exploratório sobre pessoas idosas e o engajamento na dança (Owen-Booth & Lewis, 2020Owen-Booth, B., & Lewis, E. (2020). An exploratory study of older persons’ perceptions of engaging in line dancing classes. Journal of Occupational Science, 27(2), 216-221.); e os dois estudos restantes abordavam os efeitos ocupacionais diante da pandemia do COVID-19 (Jokić & Jokić-Begić, 2022Jokić, C. A., & Jokić-Begić, N. (2022). Occupational disruption during the COVID-19 pandemic: exploring changes to daily routines and their potential impact on mental health. Journal of Occupational Science, 29(3), 336-351.; Richardson et al., 2022Richardson, G., Cleary, R., & Usher, R. (2022). The impact of the COVID-19 restrictions on nursing home residents: an occupational perspective. Journal of Occupational Science, 29(3), 386-401.).

Em termos de aporte teórico, com foco na construção de uma prática ou raciocínio com base na conceituação de lazer escolhida, grande parte dos estudos elegem as concepções do pesquisador Robert Stebbins (Lobo, 1999Lobo, F. (1999). The leisure and work occupations of young people: A review. Journal of Occupational Science, 6(1), 27-33.; Rampley et al., 2019Rampley, H., Reynolds, F., & Cordingley, K. (2019). Experiences of creative writing as a serious leisure occupation: an interpretative phenomenological analysis. Journal of Occupational Science, 26(4), 511-523.; Taylor & Kay, 2015Taylor, J., & Kay, S. (2015). The construction of identities in narratives about serious leisure occupations. Journal of Occupational Science, 22(3), 260-276.). Stebbins é um sociólogo pesquisador do campo dos estudos do lazer que, desde a década de 1970, desenvolve o marco teórico denominado “Perspectiva do Lazer Sério”, cujo estudo trata esta ocupação como lazer sério, lazer casual e/ou lazer baseado em projeto.

Em suma, na Perspectiva do Lazer Sério, Stebbins (2008)Stebbins, R. A. (2008). Right leisure: serious, casual, or project-based? NeuroRehabilitation, 23(4), 335-341. parte do princípio que associa lazer às atividades em que pessoas se engajam de forma voluntária, sentem-se satisfeitas e até mesmo completas com as atividades, e as desenvolvem em seu tempo livre. Este tempo é entendido como dedicado às atividades prazerosas e não obrigatórias, o que implica a dualidade entre as ocupações — obrigatórias e não obrigatórias — e caracteriza seu tempo de vivência como tempo livre. Neste marco, ressalta-se que as habilidades e capacidades das pessoas são utilizadas para alcançar certa satisfação com a atividade (Stebbins, 2008Stebbins, R. A. (2008). Right leisure: serious, casual, or project-based? NeuroRehabilitation, 23(4), 335-341.).

Na literatura brasileira da terapia ocupacional, quatro entendimentos sobre lazer se mostraram recorrentes em uma busca exploratória dentro do contexto da profissão, realizada pelos autores deste artigo, em publicações das últimas duas décadas, nas revistas, dissertações e teses nacionais sobre o tema.

O primeiro e mais difundido entendimento advém da Estrutura da Prática Domínio e Processo da Associação Americana de Terapia Ocupacional (Gomes et al., 2021Gomes, D., Teixeira, L., & Ribeiro, J. (2021). Enquadramento da prática da terapia ocupacional: domínio & processo (4. Ed.). Leiria: Politécnico de Leiria. ), que considera o lazer como uma “atividade não obrigatória que é intrinsecamente motivada e realizada durante o tempo livre, ou seja, o tempo não comprometido com ocupações obrigatórias, tais como trabalho, autocuidado ou sono” (Gomes et al., 2021, pGomes, D., Teixeira, L., & Ribeiro, J. (2021). Enquadramento da prática da terapia ocupacional: domínio & processo (4. Ed.). Leiria: Politécnico de Leiria. . 250).

O segundo foi desenvolvido na década de 1970 pelo sociólogo Jofre Dumazedier e muito se assemelha ao utilizado pela AOTA, em que ocorre a centralidade das atividades obrigatórias como organizadoras da rotina. Dumazedier defendia o lazer como o conjunto de ocupações entendidas como atividades e práticas, com as quais o ser humano ocupa o seu tempo, sendo que, as de lazer, eram desenvolvidas em um tempo livre de obrigações. As ocupações de lazer eram destinadas ao descanso, à diversão ou ao desenvolvimento da pessoa que o vivenciava (Dumazedier, 1979Dumazedier, J. (1979). Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva.).

O terceiro entendimento é do pesquisador brasileiro Marcellino (2006)Marcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados., que, assim como os antecessores, apresenta o lazer de forma apartada de outras ocupações, embora enumere elementos que valorizam a pessoa em experiência de lazer, como: tempo; atitude; valores; e conteúdo do lazer para que uma atividade seja considerada como tal (Marcellino, 2006Marcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados.). O autor reforça o caráter “desinteressado” na prática e a sua ocorrência em um tempo liberado.

Marcellino acrescenta ainda os valores de descanso, divertimento, desenvolvimento pessoal e social à sua compreensão do lazer e crença de que as pessoas devam ser “estimuladas a participar e recebam um mínimo de orientação que lhes permita a opção” (Marcellino, 2006, pMarcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados.. 17). O autor classifica o lazer em seis áreas: artísticas, intelectuais, físicas, manuais, turísticas e sociais. Ele afirma que, embora o trânsito das pessoas em mais de uma área seja o ideal, isso não ocorre devido à falta de conhecimento dos conteúdos.

Ainda que Marcellino (2006) assinaleMarcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados. pontos importantes para se refletir o lazer em diálogo com a pessoa que o experiencia, sua perspectiva é reducionista e sutilmente sugere uma hierarquia de saberes ao minimizar o saber das pessoas sobre seus lazeres. Além disso, reforça a ideia de tempo para lazer como algo distante do dia a dia das pessoas.

Por fim, o quarto entendimento é de Gomes (2014)Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20., que discute o lazer como um contexto dinâmico, caracterizado por amplo diálogo com o tempo sócio, histórico, político, econômico e cultural da sociedade. Desta forma, apresenta o lazer como uma dimensão da cultura em que é experienciado, além de uma necessidade básica do ser humano, tais quais outras necessidades (Gomes, 2014Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20.). Nesta perspectiva, o lazer acontece em um tempo-espaço singular de quem o experiencia, e não necessariamente no institucionalizado, como as férias e feriados.

Observa-se que o primeiro entendimento (Gomes et al., 2021Gomes, D., Teixeira, L., & Ribeiro, J. (2021). Enquadramento da prática da terapia ocupacional: domínio & processo (4. Ed.). Leiria: Politécnico de Leiria. ) está alinhado com os preceitos que enfatizam a dicotomia entre as ocupações humanas, os quais tiveram seu auge na revolução industrial, sendo que esta reforçava uma sociedade com foco no trabalho (Gomes, 2015Gomes, C. L. (2015). Reflexões sobre os significados de recreação e de lazer no Brasil e emergência de estudos sobre o assunto (1926-1964). Conexões, 1(2), 131-144.). Os três últimos entendimentos (Dumazedier, 1979Dumazedier, J. (1979). Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva.; Gomes, 2014Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20.; Marcellino, 2006Marcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados.) foram forjados no seio dos estudos do lazer, sendo necessário alinhamento de pesquisadores às propostas da terapia ocupacional (Acácio et al., 2021Acácio, M. da S., Reis, M. C. S., Moreira, S. L. B., Lins, A. E. S., Souza, M. A., & Barros, A. R. (2021). Leisure: a significant occupation in occupational therapy students. Research Social Development, 10(11), 1-15.; Martinelli, 2011Martinelli, S. A. (2011). A importância de atividades de lazer na terapia ocupacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 19(1), 111-118.; Queiroz et al., 2020aQueiroz, A. G., Barreto, L. C. S., & Frois, R. (2020a). O turismo na construção do cotidiano no cuidado em saúde mental: relato de experiência com pacientes em Belo Horizonte - Brasil. In K. S. Alves (Org.), Diálogos sociais em turismo: elementos hegemônicos e contra hegemônicos. Belo Horizonte: Dialética., 2021bQueiroz, A. G., Galan, A. C., Darbyshire, L., Smith, J., & Lawson, L. M. (2021b). Leisure in mental health occupational therapy interventions: a qualitative investigation. Research Social Development, 10(11), 1-12.; Saito, 2010Saito, C. M. (2010). Atividade de lazer: tessitura de espaços para a alteridade (Dissertação de mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo. ) e da ciência ocupacional (Oliveira & Carretta, 2020Oliveira, M. L. V. M., & Carretta, R. Y. D. (2020). Lazer e participação social na percepção da pessoa com deficiência visual. Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, 23(1), 561-581.; Queiroz et al., 2021aQueiroz, A. G., Castro, L. R., & Morrison, R. (2021a). Ciência Ocupacional: perspectivas gerais e propostas para a América Latina. In A. Petten, A. Cardoso & M. Brito (Orgs.), Fazer, ser e tornar-se: desafios e possibilidades no estudo da ocupação (pp. 17-32). Jundiaí: Paco Editorial.; Queiroz, 2020Queiroz, A. G. (2020). Leisure in Occupational Therapy assistance to adults users: perception of occupational therapists from reference centers in mental health in Belo Horizonte / MG (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ).

Compreensões sobre um fenômeno, aqui especificamente o lazer, são importantes, pois apresentam as reflexões e comprometimentos da profissão com a época em questão. Naquelas citadas anteriormente (Dumazedier, 1979Dumazedier, J. (1979). Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva.; Gomes, 2014Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20.; Gomes et al., 2021Gomes, D., Teixeira, L., & Ribeiro, J. (2021). Enquadramento da prática da terapia ocupacional: domínio & processo (4. Ed.). Leiria: Politécnico de Leiria. ; Marcellino, 2006Marcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados.), observa-se a intrínseca relação com as atividades obrigatórias, norteadas pela lógica da revolução industrial, do capitalismo e da contínua produção de capital. Nestes entendimentos, a ocupação lazer seria vivenciada com base em uma produção capitalista, a qual se define e se redefine sem limites claros, servindo a si mesma e sendo capaz de “absorver e metabolizar qualquer coisa que entre em contato”1 1 Tradução livre dos autores. (Fisher, 2009, pFisher, M. (2009). Capitalist realism: is there no alternative? United Kingdom: Zero Books.. 6). Ao passo que os entendimentos que se aproximam do dinamismo da sociedade não buscam servi-la, mas dialogar com ela, validam não só a sua produção de capital, mas, principalmente, a sua produção cultural e interlocução com o dinamismo da vida.

Recentemente, Queiroz (2020)Queiroz, A. G. (2020). Leisure in Occupational Therapy assistance to adults users: perception of occupational therapists from reference centers in mental health in Belo Horizonte / MG (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. desenvolveu um entendimento de lazer a partir da percepção de lazer de terapeutas ocupacionais atuantes na urgência em saúde mental, triangulando preceitos da ciência ocupacional, saúde mental brasileira/reabilitação psicossocial e lazer como dimensão da cultura e necessidade humana. A pesquisadora explana que lazer é uma ocupação humana necessária, que manifesta a cultura de quem o vivencia, sendo subjetiva a eleição de o que é, de fato, lazer ou não. Calcada nesta perspectiva, afirma que esta ocupação engloba quatro elementos importantes para a terapêutica ocupacional: consciência ocupacional; autonomia; prazer; e pertencimento social. A relação destes elementos, tendo como princípio o entendimento de lazer de Gomes (2014)Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20., é significativa para a profissão, assim como para a pessoa em cuidados, pois auxilia o profissional em sua compreensão acerca do conceito e contexto de ocupação para aquela pessoa, bem como do seu lazer.

Na literatura científica da terapia ocupacional, o lazer é constantemente abordado como recurso terapêutico (Parker et al., 2001Parker, C. J., Gladman, J. R., Drummond, A. E., Dewey, M. E., Lincoln, N. B., Barer, D., Logan, P. A., & Radford, K. A. (2001). A multicentre randomized controlled trial of leisure therapy and conventional occupational therapy after stroke. TOTAL Study Group. Trial of Occupational Therapy and Leisure. Clinical Rehabilitation, 15(1), 42-52.; Queiroz, 2015Queiroz, A. G. (2015). Não tô boa. Preciso passear!: o lazer de moradores de dois serviços residenciais terapêuticos de Belo Horizonte (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ; Silva, 2015Silva, S. M. A. F. (2015). Engajamento ocupacional de acadêmicos e sua percepção sobre o equilíbrio ocupacional (Trabalho de Conclusão de Curso). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. ; Wensley & Slade, 2012Wensley, R., & Slade, A. (2012). Walking as a meaningful leisure occupation: the implications for occupational therapy. British Journal of Occupational Therapy, 75(2), 85-92.). Quando, focado na saúde mental, a terapia ocupacional faz diálogo com este campo, associando o lazer como recurso terapêutico ao conceito de contratualidade (Moura et al., 2014Moura, A. C. M. D., Dutra Facundes, V. L., Barros de Moura, M. L., Andrade Lima Filho, I., Carvalho de Albuquerque Maranhão, L., & Lopes Borges, M. J. (2014). A relação entre sujeitos com transtorno mental e equipamentos sociais. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 22(2), 263-270.). Segundo Saraceno (1996, pSaraceno, B. (1996). Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio. In A. Pitta (Org.), Reabilitação psicossocial no Brasil (pp. 13-18). São Paulo: Hucitec.. 16), a contratualidade é definida “pela habilidade do indivíduo em efetuar trocas”. Estas trocas podem acontecer de diversas formas: econômicas; culturais; políticas, mas sempre demandam interação social.

Considerando o estigma que paira sobre o público atendido na saúde mental, o trabalho dos profissionais deve favorecer “o processo de restituição do poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia” (Kinoshita, 1996, pKinoshita, R. T. (1996). Contratualidade e reabilitação psicossocial. In A. Pitta (Org.), Reabilitação psicossocial no Brasil (pp. 55-59). São Paulo: Hucitec.. 56), sem tutelar, superestimar ou subestimar. O poder contratual pode ser expresso em vários cenários do cotidiano, o que é interessante para o lazer, visto que ele também pode ser experienciado em diversos ambientes.

No contexto da saúde mental brasileira, que teve sua reforma psiquiátrica no fim da década de 1970 e início de 1980, o lazer pode dialogar com a abordagem de cuidado difundida por Benedeto Saraceno, na década de 1990, quando esteve no país como representante da Associação Mundial de Reabilitação Psicossocial (Pitta, 2001Pitta, A. (2001). Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec.).

Os cuidados em saúde mental no Brasil são fomentados, em sua política nacional de saúde mental, a serem substitutivos ao paradigma do cuidado asilar (Brasil, 2001Brasil. (2001, 6 de abril). Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, Brasília.). Isso implica não apenas a mudança do paradigma, mas também das ações de cuidado, que passam a acontecer em rede, ou seja, de forma capilarizada com outros serviços, e em nível territorial — onde as pessoas vivem, onde desenvolvem suas relações na comunidade. Nesse sentido, “O paradigma psicossocial faz oposição ao paradigma psiquiátrico ainda hegemônico, privilegia o indivíduo em suas condições sociais, utiliza formas de intervenção pautadas pelas necessidades do usuário e tem como objetivo a inclusão social” (Leão & Barros, 2012, pLeão, A., & Barros, S. (2012). Território e serviço comunitário de saúde mental: as concepções presentes nos discursos dos atores do processo da reforma psiquiátrica brasileira. Saúde e Sociedade, 21(3), 572-586.. 574).

Para Saraceno, a reabilitação psicossocial é “um processo de reconstrução, um exercício pleno na cidadania e, também de plena contratualidade nos três grandes cenários” (Saraceno, 1996, pSaraceno, B. (1996). Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio. In A. Pitta (Org.), Reabilitação psicossocial no Brasil (pp. 13-18). São Paulo: Hucitec.. 16): habitar; rede social; e trabalho com valor social. A reabilitação psicossocial não é uma técnica específica, é um posicionamento ético de cuidado, o qual contempla “um conjunto de práticas intersetoriais de saúde, previdência, moradia, trabalho, escola, lazer, cultura e outros (Pitta, 2001, pPitta, A. (2001). Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec.. 6). Portanto, é passível de diálogo com outros modelos, a exemplo do recovery (Anastácio & Furtado, 2012Anastácio, C. C., & Furtado, J. P. (2012). Reabilitação Psicossocial e Recovery: conceitos e influências nos serviços oferecidos pelo Sistema de Saúde Mental. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 4(9), 72-83.).

Um destes cenários é o que se remete ao eixo habitar. Neste caso, dentro da política de saúde mental brasileira, o lazer é citado na literatura, no contexto dos serviços residenciais terapêuticos, como facilitador de um novo cotidiano (Queiroz, 2015Queiroz, A. G. (2015). Não tô boa. Preciso passear!: o lazer de moradores de dois serviços residenciais terapêuticos de Belo Horizonte (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ; Queiroz et al., 2020aQueiroz, A. G., Barreto, L. C. S., & Frois, R. (2020a). O turismo na construção do cotidiano no cuidado em saúde mental: relato de experiência com pacientes em Belo Horizonte - Brasil. In K. S. Alves (Org.), Diálogos sociais em turismo: elementos hegemônicos e contra hegemônicos. Belo Horizonte: Dialética., 2020bQueiroz, A. G., Porfírio Couto, A. C., Silva Barreto, L. C., & Drumond de Brito, C. M. (2020b). Expresión de la sexualidad de una habitante de una residencia terapéutica como ocio: encuentros entre Elias y Dunning y la Terapia Ocupacional. Revista Ocupación Humana, 20(1), 106-117.), uma oportunidade de construção, pelo ex-egresso de hospital psiquiátrico, do seu papel como morador e cidadão de uma localidade.

O cenário das redes sociais também se caracteriza como fértil para o lazer e, ao dialogar com a terapia ocupacional, frequentemente o remete a elementos de participação, socialização, interação social e garantia de direitos (Moura et al., 2014Moura, A. C. M. D., Dutra Facundes, V. L., Barros de Moura, M. L., Andrade Lima Filho, I., Carvalho de Albuquerque Maranhão, L., & Lopes Borges, M. J. (2014). A relação entre sujeitos com transtorno mental e equipamentos sociais. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 22(2), 263-270.). Contudo, esses elementos muitas vezes são exemplificados pelo lazer como prática (Alcântara & Brito, 2012Alcântara, D. B., & Brito, C. M. D. (2012). Projeto brincar e contar: a terapia ocupacional na atenção básica em saúde. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 20(3), 455-461.) e, devido a isto, ainda que ressaltem o caráter lúdico e o potencial de favorecimento de contratualidade, acarretam o distanciamento do entendimento desta ocupação de forma ampla. Portanto, chama-se a atenção para reflexões e ações que evitem que o lazer se reduza a uma listagem de práticas, como um arsenal de recursos, que trazem divertimento e relaxamento, durante uma fase da vida e/ ou do contexto (Chen & Chippendale, 2018Chen, S. W., & Chippendale, T. (2018). Leisure as an end, not just a means, in occupational therapy intervention. The American Journal of Occupational Therapy, 72(4), 1-5.).

A rede de cuidados em saúde, da cidade de Belo Horizonte, onde este estudo foi conduzido, atua como rede substitutiva ao hospital psiquiátrico, mesmo com ataques recentes à política de saúde mental brasileira com redução de financiamento e/ou autonomia ao cuidado em base territorial ou de retomada do hospital psiquiátrico como equipamento de cuidado (Brasil, 2016Brasil. (2016, 15 de novembro). Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016. Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília., 2020Brasil. (2020, 28 de janeiro). Nota Técnica Nº 3/2020-DESF/SAPS/MS, de 28 de janeiro de 2020. Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e Programa Previne Brasil. Ministério da Saúde, Brasília.). Fazem parte desta rede e estão no recorte deste estudo os centros de referência em saúde mental (CERSAM) e os centros de referência em saúde mental álcool e/ou outras drogas (CERSAM ads), que se dedicam a acolher usuários em crise no seu sofrimento psíquico e/ou em uso abusivo de álcool e/ou outras drogas. Funcionam 24 horas, sete dias da semana, possuem camas-leito para usuários que precisem de cuidado imediato, e equipes multidisciplinares.

Essa rede se constrói diariamente dentro dos três eixos/cenários do modelo de reabilitação psicossocial e dentro dos princípios da reforma psiquiátrica brasileira (Brasil, 2001Brasil. (2001, 6 de abril). Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, Brasília.), a qual tem em seus princípios o cuidado em rede no território, a autonomia do usuário, e a pluralidade de saberes interprofissionais.

Diante do exposto, este estudo pergunta qual o entendimento de lazer para os terapeutas ocupacionais atuantes na saúde mental de serviços públicos substitutivos ao hospital psiquiátrico. Há influência do modelo base de cuidado (reabilitação psicossocial) no entendimento de lazer? E, em caso positivo, como ele influencia esse entendimento? Acredita-se que a busca por respostas a estas perguntas possa auxiliar terapeutas ocupacionais e cientistas da ocupação na compreensão do lazer contemporâneo, em contextos de urgência em saúde mental e outros.

Considerações Metodológicas

Ressalta-se que esta pesquisa faz uso dos dados coletados durante o estudo de doutorado da primeira autora (Queiroz, 2020Queiroz, A. G. (2020). Leisure in Occupational Therapy assistance to adults users: perception of occupational therapists from reference centers in mental health in Belo Horizonte / MG (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ). De outubro a novembro de 2018, foram enviados e-mails às gerências de terapeutas ocupacionais de serviços territoriais públicos de urgência em saúde mental, de atendimento a adultos na cidade de Belo Horizonte (Centros de Referência em Saúde Mental - CERSAM), convidando-os a responderem entrevista individual sobre sua percepção de lazer no contexto de suas práticas. Dos 23 profissionais entrevistados, 6 aceitaram o convite para discutir em grupo focal suas percepções sobre lazer, saúde mental e terapia ocupacional. Conflitos de agenda foram o maior motivo para a ausência dos demais terapeutas ocupacionais entrevistados, sendo a data escolhida a de maior congruência. A pesquisa qualitativa resultou neste artigo que se dedica às construções advindas das discussões sobre lazer, no citado grupo focal.

Esta técnica de produção de informação tem como característica entrevistas mais aprofundadas de tópicos específicos em formato de discussão em grupo (Gundumogula, 2020Gundumogula, M. (2020). Importance of focus groups in qualitative research. International Journal of Humanities and Social Science, 8(11), 299-302.), proporcionando compreensão de percepções e crenças dos participantes sobre o tema (Trad, 2009Trad, L. A. B. (2009). Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis (Rio de Janeiro, Brazil), 19(3), 777-796.). A literatura não aponta consenso sobre a frequência do grupo focal, sendo que se faz comum a não menção da quantidade de encontros (Seïler, 2016Seïler, N. R. (2016). Designing interaction strategies for companions interacting with children. In S. Tettegah & S. Noble (Eds.), Emotions, technology, and design (pp. 129-168). Massachusetts: Academic Press.). Entretanto, faz-se consenso quanto à importância de discussão facilitada e ambiência convidativa (Dias, 2000Dias, C. A. (2000). GRUPO FOCAL: técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Informação & Sociedade: Estudos, 10(2), 1-12.; Gundumogula, 2020Gundumogula, M. (2020). Importance of focus groups in qualitative research. International Journal of Humanities and Social Science, 8(11), 299-302.; Rodriguez et al., 2011Rodriguez, K. L., Schwartz, J. L., Lahman, M. K. E., & Geist, M. R. (2011). Culturally responsive focus groups: reframing the research experience to focus on participants. International Journal of Qualitative Methods, 10(4), 400-417.).

Neste sentido, o grupo focal chega ao seu objetivo quando responde profundamente sobre a questão levantada, apresentando “os significados na perspectiva dos sujeitos, das relações que estão presentes e das interconexões entre os atores e os fatos” (Minayo, 2017, pMinayo, M. C. S. (2017). Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, 5(7), 1-12.. 9). Nesta lógica, saturação não é uma busca, até porque um pesquisador experiente pode sempre apresentar novos questionamentos e interpretações ao grupo, e o propósito de um pesquisador qualitativo não é de chegar à saturação, mas “de dar corpo a sua pesquisa e torná-la defensável” (Mason, 2010 como citado em Minayo, 2017, pMinayo, M. C. S. (2017). Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, 5(7), 1-12.. 9), a partir da contribuição dos participantes.

Baseado em Costa (2021)Costa, M. P. (2021). Conducting cross-cultural, multi-lingual and multi-country focus groups: guidance for researchers. International Journal of Qualitative Methods, 20., é possível inferir que o desenvolvimento do grupo desta pesquisa foi facilitado não apenas pela ambiência, mas também devido ao fato de que a maioria dos participantes e a pesquisadora já se conheciam de outros encontros laborais ou eventos de saúde mental e/ou saúde pública. Assim sendo, com base na disponibilidade dos participantes, nesta pesquisa foi realizado um grupo focal, com duração de 3 horas, o qual é coerente com o desenho e escopo deste estudo exploratório, transversal e descritivo.

O grupo focal, gravado e transcrito pela primeira autora, foi realizado em uma manhã de sábado, em novembro de 2018, na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, em Belo Horizonte, onde os 6 terapeutas ocupacionais se graduaram. Os participantes foram convidados a escrever em tarjetas seus entendimentos sobre lazer, sem limite de tarjetas por participante. A partir de então, o grupo construiu coletivamente o entendimento do termo citado. Sob a mediação das pesquisadoras, houve a discussão e a apresentação do entendimento grupal de lazer.

Os participantes foram terapeutas ocupacionais, do sexo feminino, com faixa etária de 26 e 55 anos, atuantes nos serviços públicos de base territorial de urgência em saúde mental de Belo Horizonte (CERSAM), onde atendem usuários adultos com transtornos psiquiátricos, com psicose e neuroses graves; ou usuários de álcool e ou outras drogas em concomitância com transtornos psiquiátricos ou não, em CERSAMs ads.

Todas as 6 participantes realizaram educação continuada em saúde mental, sendo que 2 possuem mestrado em áreas afins, e 1 se formou antes da Lei da reforma psiquiátrica brasileira (Brasil, 2001Brasil. (2001, 6 de abril). Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, Brasília.), tendo feito estágio em hospitais psiquiátricos. São 3 as participantes que trabalham em CERSAMs, sendo que 1 também atua na atenção primária; e as outras em CERSAMs ad. A média de tempo de trabalho como terapeuta ocupacional na saúde mental de 4 participantes é de 5 anos, estando atuante a mais antiga há 20 anos e a mais nova a menos de 4 anos.

Questões éticas

A pesquisa foi aprovada por meio do parecer consubstanciado n. 2.692.844, pelos comitês de ética em pesquisa da UFMG e da Prefeitura de Belo Horizonte. Todos os participantes assinaram termo de consentimento livre esclarecido, com autorização inclusive para gravação de áudio e imagem. Usou-se codificação (E0-E6) para garantir o anonimato das participantes e os nomes e localizações dos serviços não foram mencionados. As informações coletadas serão armazenadas pela primeira autora por 5 anos, em dispositivo eletrônico com senha que apenas esta possui acesso. Os autores relatam que não há interesses concorrentes para declarar.

Rigor e credibilidade

Para manter o rigor e a credibilidade, além da facilitadora, o grupo focal teve três observadores participantes, sendo: uma terapeuta ocupacional com doutorado em semiótica; uma terapeuta ocupacional com mestrado em Sociologia; e um observador com graduação em filosofia e doutorando em Estudos Interdisciplinares do Lazer. As anotações dos observadores e as gravações da discussão foram especialmente importantes para a organização das falas consensuadas.

Análise

A análise metodológica escolhida foi a temática (Vaismoradi et al., 2013Vaismoradi, M., Turunen, H., & Bondas, T. (2013). Content analysis and thematic analysis: implications for conducting a qualitative descriptive study. Nursing & Health Sciences, 15(3), 398-405.). Os autores mantiveram os nomes e as categorias geradas pelo grupo durante a discussão, no entanto, o resultado das transcrições e análise não foi apresentado ao grupo. As categorias foram criadas após a análise das anotações dos observadores participantes, das imagens e das falas do grupo, considerando o modelo de cuidado desenvolvido a partir da reforma psiquiátrica brasileira e baseado na reabilitação psicossocial difundida por Benedeto Saraceno, na década de 1990. Diante da constância das informações respondentes às perguntas deste estudo, entendeu-se que a categoria estava contemplada, sem, no entanto, assumir saturação dos dados, pois o conhecimento não se satura (Minayo, 2017Minayo, M. C. S. (2017). Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, 5(7), 1-12.).

Resultados e Análises

A construção coletiva do entendimento de lazer do grupo se deu em três categorias. A primeira categoria (a), Lazer - prazer, explora essa interação, questionando e ampliando o entendimento de prazer nesta ocupação. A segunda categoria (b), Lazer - livre escolha, discute a relação do lazer com a livre escolha, bem como o que é a livre escolha dentro do contexto de usuários atendidos pela urgência em saúde mental. A terceira categoria (c), lazer - transcendência da dureza cotidiana, reflete sobre os elementos que impactam o engajamento do lazer no cotidiano. Em busca de uma nomenclatura consensual, o grupo se referiu às práticas, atividades e vivências de lazer como experiências. As falas, grafadas em itálico ao longo dos parágrafos, são aquelas que se fizeram constante e foram consensuadas pelos participantes como fala grupal, sendo apresentadas como E0.

(a) Lazer - prazer

Esta categoria foi marcada pela presença frequente do termo prazer. Na perspectiva do grupo, prazer é “diversão; é tesão como solução” (E0). Este último no sentido de satisfação: “de desejo e pessoal” (E0).

Para o grupo, o prazer “é pré-requisito” (E0) para o lazer, enfatizando que os dois possuem “relação muito íntima” (E0). E, embora o prazer esteja “diretamente relacionado” (E0) com o lazer, a partir da lógica de que “se uma atividade não é prazerosa não tem como ter lazer” (E0), ainda reconhece que nem tudo que é prazeroso é lazer: “Trabalhar é prazeroso, mas não é atividade de lazer” (E0).

Os autores interpretaram que as falas do grupo estão em alinhamento com a literatura da terapia ocupacional pesquisada no tocante ao lazer, visto que ela também reforça a presença do prazer como elemento substancial no lazer (Alcântara & Brito, 2012Alcântara, D. B., & Brito, C. M. D. (2012). Projeto brincar e contar: a terapia ocupacional na atenção básica em saúde. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 20(3), 455-461.; Alegría et al., 2013Alegría, P., Castillo, N., del Solar, P., Varas, J., Gómez, S., & Gutiérrez, P. (2013). Factores que inciden en la participación social de los adultos mayores en actividades físicos recreativas. Revista Chilena de Terapia Ocupacional, 13(1), 59-69.; Almeida et al., 2018Almeida, D. E. R. G., Andrade, A. L. M., Cruz, F. D., & Micheli, D. (2018). Perception of freedom in leisure among substance users and nonusers. Psico-USF, 23(1), 13-24.; Costa, 2008Costa, C. T. (2008). Percepção de Liberdade no Lazer: perspectiva dos trabalhadores de saúde mental dos Centros de Referência e Centros de Convivência do Município de Belo Horizonte (Dissertação de mestrado). Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto. ; Queiroz, 2020Queiroz, A. G. (2020). Leisure in Occupational Therapy assistance to adults users: perception of occupational therapists from reference centers in mental health in Belo Horizonte / MG (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ). O mesmo pode ser dito no reduto da ciência ocupacional, uma vez que sentimentos que envolvem o prazer — como alegria, felicidade e satisfação — estão presentes na literatura que aborda o lazer (Atler et al., 2016Atler, K. E., Eakman, A., & Orsi, B. (2016). Enhancing construct validity evidence of the daily experiences of pleasure, productivity and restoration profile. Journal of Occupational Science, 23(2), 278-290.; Bentz et al., 2022Bentz, H. H., Madsen, S. H., Pilegaard, M. S., Østergaard, L. G., Brandt, Å., Offersen, S. M. H., & la Cour, K. (2022). Occupations creating joy for people living with advanced cancer: A qualitative descriptive study. British Journal of Occupational Therapy, 85(3), 187-198.).

O grupo ressaltou ainda que a mesma vivência pode ser encontrada em mais de uma ocupação: “Todo dia você vai pra academia, aquele dia foi chato, mas você foi. Não é lazer. É obrigação quase” (E0). Neste exemplo do grupo, o que fez uma ocupação mudar de lazer para algo como simples gerenciamento da saúde foi a ausência do elemento prazer. Tal entendimento remete ao que Cutchin & Dickie (2012)Cutchin, M., & Dickie, V. (2012). Transactionalism: occupational science and the pragmatic attitude. In G. Whiteford & C. Hocking (Eds.), Occupational science: society, inclusion, participation. Nova Jersey: Wiley-Blackwell. explanam sobre ocupação como algo em movimento, uma ação. No caso, uma ação influenciada pelo sentimento de prazer desperto na vivência da ocupação.

Esse trânsito entre ocupações apresenta a possibilidade de redução das distâncias entre elas. Desta forma, a dicotomia defendida por Dumazedier (1979)Dumazedier, J. (1979). Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva., Marcellino (2006)Marcellino, N. C. (2006). Estudos do lazer: uma introdução. Campinas: Autores Associados. e Gomes et al. (2021)Gomes, D., Teixeira, L., & Ribeiro, J. (2021). Enquadramento da prática da terapia ocupacional: domínio & processo (4. Ed.). Leiria: Politécnico de Leiria. , dentro da compreensão da dinâmica da vivência do lazer e das ocupações, passa a ser questionada ou, até mesmo, a não existir.

Ainda sobre o contexto da academia, exemplificado pelo grupo, foi apontado que a vivência de algo chato ou tenso não elimina o prazer existente no lazer. Para tanto, delineia entre sentimento experienciado em lazer, bem como a experiência em si, sendo que o mote é atingir o momento prazeroso.

Uma coisa é falar qual é o sentimento que eu experimentei quando eu estava ali. Outra coisa é você vivenciar com sentimento de angústia. São duas etapas, eu acho que não é mesma coisa. Quantas vezes eu chego a falar assim: ah eu quero chegar em casa, eu quero fazer nada. Quero ver um filme para chorar. E aquilo para mim é o momento de ter o prazer. Não necessariamente a vivência ali dentro é de alegria (E1).

Quando E1 menciona o encontro de sentimentos, comumente entendidos como antagônicos — angústia e prazer — ela expressa o prazer como algo não romanceado, podendo ser exposto como contentamento e/ou satisfação.

Os autores ressaltam que o reconhecimento do grupo quanto a ser possível existir “prazer nas coisas que não fazem bem” (E0) aproxima o entendimento deles da compreensão do(s) lazer(es) como subversivo(s) à ordem da saúde normativa, curativa e reabilitadora. Aproxima também do entendimento de literaturas que apontam que o lazer reflete modos de vida em uma cultura (Darnell, 2009Darnell, R. (2009). Cross‐cultural constructions of work, leisure and community responsibility: some first nations reflections. Journal of Occupational Science, 16(1), 4-9.; Gomes, 2014Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20.). Isto reforça o lazer como algo muito além de uma ferramenta terapêutica: uma ocupação que expressa o dinamismo da vida.

A duplicidade do lazer-prazer na vida cotidiana aparece não apenas no segmento saúde, mas também na compreensão do lazer como ocupação, quando o entendem como “subjetivo, o sujeito que vai decidir” (E0). A este ponto o grupo fez certo movimento que olhou o lazer para além de conceituações e julgamentos prévios. Ainda assim, há duplicidade de pensamentos e ações, pois partem muitas vezes de suas próprias vivências de lazer para compreender o lazer dos usuários.

Assim, ressalta a importância da atenção ao prazer como relevante elemento na vivência das ocupações, exemplificando o argumento com uma atividade vivenciada de formas distintas no cotidiano: “Quando eu danço a dois é muito diferente de ficar 8 horas ensaiando. Apesar de ter prazer nas duas coisas. Há o prazer da atividade profissional e da atividade de lazer” (E2).

Em seu entendimento sobre o prazer experimentado no lazer da atividade, estando esta assegurada pela percepção de liberdade, o grupo destaca: “Acho que é uma coisa mais livre, você sai a hora que quer, cansou você para [refere-se ao dançar]” (E5).

Com base em suas próprias vivências, o grupo traz a correlação do sentimento de liberdade com o sentimento de bem-estar, apontando que o primeiro qualifica o segundo. Nesse sentido, com base na percepção da relação de seu lazer com o prazer, ampliando para satisfação pessoal em diálogo com o sentir-se livre, concorda com o entendimento de lazer como “experiência(s) de prazer, nas quais este é entendido como satisfação de desejo e satisfação pessoal, sendo, o lazer em si, algo que traz bem-estar físico e psíquico” (E0).

Essa conclusão de entendimento a partir do prazer é coerente com os entendimentos de lazer encontrados na terapia ocupacional e na ciência ocupacional, ainda que na primeira o lazer seja considerado terapêutico e um meio para alcance de algo. Acrescenta-se que o entendimento das participantes se alinhou ao realce que é dado ao sentimento de prazer e à satisfação pessoal advinda da experiência proporcionada pela ocupação lazer. Isto visto tanto na literatura estudada da terapia ocupacional quanto na da ciência ocupacional.

(b) Lazer - livre escolha

Você ser obrigado a fazer, mesmo quando não te dá prazer não dá. Assim, não é lazer não.

Todo lazer tem livre escolha? - facilitadora.

Eu acho que tem um ponto de livre escolha. Eu acho que tem uma decisão (E6).

Na visão do grupo, livre escolha está relacionada ao poder de decisão, o que, dentro do modelo de reabilitação psicossocial, dialoga com um dos princípios da contratualidade: a autonomia. Esta, segundo Kinoshita (1996)Kinoshita, R. T. (1996). Contratualidade e reabilitação psicossocial. In A. Pitta (Org.), Reabilitação psicossocial no Brasil (pp. 55-59). São Paulo: Hucitec., deve ser complexa, diversa, subjetiva ao ser construída a partir de enlaces com vários pontos da vida, ou seja, diz do potencial para a pessoa se ligar a diversos processos de participação na comunidade e interação social. Essa participação exige posicionamento, escolha, decisão, vinculação. A fala do grupo corrobora o potencial do lazer como uma ocupação que favorece a contratualidade, em especial pelos elementos da autonomia e do prazer:

Ainda que você experimente e depois acabe desistindo porque você se vinculou a alguma outra coisa. Porque você achou que seria uma coisa prazerosa. E mesmo que desvincule do prazer... Se bem que eu acho que isso não desvincula do prazer (E1).

A prática da contratualidade coloca em cena a corresponsabilidade, uma característica do paradigma de cuidado de base territorial, que respeita a autonomia do usuário nas tomadas de decisões quanto ao seu próprio cuidado (Streb, 2015Streb, T. J. (2015). A autonomia como garantia de direitos sociais nas práticas de corresponsabilidade em saúde mental (Pós-Graduação). Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Porto Alegre. ).

Toda vez que vou ao forró2 2 Forró é uma dança brasileira, praticada em pares. é maravilhoso? Não, não é. Mas continua sendo a minha atividade, que continuo mesmo não sendo muito bom; tem uma escolha (E2).

O ponto da decisão, o ponto que faz você escolher aquela experiência é livre mesmo. Ainda que isso não te garanta prazer de alguma coisa que não dá para você voltar (E4).

O elemento da responsabilidade pela escolha possibilita ao grupo entender uma experiência como lazer ao analisar toda a ocupação, e não suas partes.

Se você pensa de uma forma mais longitudinal, talvez consiga classificar a experiência toda (ir à academia) ‘Como uma coisa de lazer’. Tem momentos pontuais ali que foram bons (E3).

Quando pensa nas pessoas que atendem — pessoas em sofrimento psíquico, geralmente psicóticos e neuróticos graves e/ou em uso de álcool e outras drogas —, o grupo discute se há livre escolha para elas quanto ao lazer, ou se elas participam por já estarem no ambiente do CERSAM/ CERSAM ad.

A princípio tem alguma oferta. Se a pessoa vai se envolver não tem como saber (E6).

O nosso orientador é atividade como terapêutica. Mas, alguns quadros mais patológicos às vezes não vão conseguir escolher. E tem coisas que vai ser a gente falando mesmo. A gente vai considerar o sujeito que existe, mas eu tive um paciente que a tudo que a gente perguntava, ele respondia “sei não”. É um outro sentido de oferta (E1).

Ainda que justificadas pelo fazer terapêutico, o próprio grupo percebe que, por vezes, “se faz o combinado com o usuário, mas na verdade você não está fazendo combinado, você leva uma proposta pronta. O usuário responde que sim” (E3).

Esta reflexão do grupo remete ao propósito dos cuidados em base territorial, no qual o “estimular a pensar o que de fato está sendo proposto” (E0) seria facilitado não apenas pelos profissionais nos serviços, mas também em diversos pontos da comunidade onde o usuário estivesse exercendo sua autonomia e contratualidade. O grupo identifica dois momentos para o estímulo a esses elementos que influenciam a escolha da pessoa.

São dois momentos: quando o sujeito, usuário, cidadão chega em crise não consegue dar conta de escolher. Ele começa o tratamento, retoma um pouco do que ele entende do que é conviver com a sociedade, com a cultura, com a família. Aí a gente começa a construir acordos com usuário em crise (E3).

A partir da escuta do sofrimento e dos sinais daquilo que o usuário apresenta ser possível de contratualidade dentro do seu momento de necessidade de cuidados, os acordos parecem ser os pontos de medida da escolha. E, portanto, a possibilidade de escolha pode ser barrada a partir do pré-julgamento do profissional, advindo de sua própria experiência de lazer.

Quando a gente pensa o que é lazer, a gente considera as nossas experiências. Agora, quando a gente considera uma condição patológica... Ah, então acho que essa questão da livre escolha barra justamente nisso (E6).

A sintomatologia se torna não apenas a justificativa para barrar a possibilidade de escolha, mas algo que desencoraja o investimento desta. Aliado a isso, há a precariedade vivenciada nos serviços, a qual torna as possibilidades “limitadas” (E0), seja por falta de recursos nos serviços e comunidade, seja porque o profissional não consegue sair da unidade para buscar alternativas no território. Um dos resultados é a dificuldade na construção de um projeto terapêutico que contemple o lazer e que auxilie o usuário a se engajar com a vida fora do serviço.

O que me angustia é enquanto ele está lá e eu não tenho condição de ofertar. Não tenho como sair para buscar ofertas. Se saio, paro de atender. Se saio do plantão, falto e sou chamada atenção (E4).

Diante dos impasses do processo de trabalho que atravessam a inclusão do lazer no cuidado, o grupo reflete sobre o modo de vida da sociedade capitalista e como ele influencia na experiência de lazer. Neste momento, observa-se que o grupo expande seu entendimento de lazer para além de uma ocupação centrada na pessoa, mas que é atravessada pelos contextos de vida e situações macro, como economia e política. Esse entendimento dialoga com a visão da ciência ocupacional, a qual compreende que os processos imersos nos contextos sócio-históricos de uma sociedade são dinâmicos e interligados (Humphry, 2005Humphry, R. (2005). Model of processes transforming occupations: exploring societal and social influences. Journal of Occupational Science, 12(1), 36-44.; Morrison, 2022Morrison, R. (2022). An early occupational science? A pragmatic interpretation of the ideas of Eleanor Clarke Slagle. Journal of Occupational Science, 29(2), 225-251.), influenciando e impactando ocupações. Portanto, o entendimento de lazer deve refletir esse movimento.

De forma geral, a gente tem um modo de vida capitalista. Lazer é de interesse zero. Proporcionar experiência de prazer, para quê? Porque eu posso ter muito prazer no meu trabalho, mas eu foco na produção de subsistência da minha vida. O lazer está para o segundo plano (E3).

Vamos minando o investimento em todas as experiências de prazer porque isso não tem lugar neste mundo (E5).

Tudo o que falamos é que não queremos só cuidar do sintoma, mas chegamos no serviço e estamos lidando com sintoma. Isso me incomoda profundamente (E6).

Com base na fala do grupo e na literatura estudada, considera-se que a exigência de aceleração do sobreviver cotidiano, por parte do capitalismo, apresenta-se no fazer terapêutico ocupacional como obstáculo no cuidado, para além da sintomatologia. Isto acaba minando as possibilidades de cuidado em diálogo com a reabilitação psicossocial, as quais demandam investimento financeiro e de tempo na pessoa em sofrimento e suas relações transacionais. Ainda assim, o grupo aponta possibilidades em nível institucional a partir do diálogo com a ciência ocupacional, que compreende que o ser humano não está isolado no mundo, tampouco em si mesmo, mas está conectado a diversas interações com pessoas, comunidades e histórias (Persson & Erlandsson, 2002Persson, D., & Erlandsson, L.-K. (2002). Time to reevaluate the machine society: post-industrial ethics from an occupational perspective. Journal of Occupational Science, 9(2), 93-99.).

Dentro daquilo que é da programação institucional não tem muita flexibilidade, é tal passeio, tal horário e vai fazer aquilo. O que dá para o terapeuta construir é: cabe para você ou não cabe para você? Tem alguma coisa que podemos tentar fazer diferente? Mas, tem uma programação da instituição que é necessária até para organizar (E1).

Nesta categoria, o grupo discutiu sobre as influências do lazer, como livre escolha, problematizando o adjetivo “livre” ao perceber que, para si mesmas, a total liberdade já não existe, visto as responsabilidades societárias às quais estão submetidas. Para o usuário, a escolha em si já é barrada, ainda que esteja comprometido com o cuidado que respeita a autonomia e a contratualidade.

A barreira (“escolha barrada”) citada é entendida pelo grupo como necessária, quando o usuário está em crise, o que suscita reflexões sobre o cuidado centrado em sintomas. O grupo apresenta resistência a esta forma de pensar e às influências de produção do capital, buscando brechas para o estímulo da autonomia e da contratualidade.

Os autores deste artigo interpretam que, para este grupo, quando a livre escolha é a variável norteadora do entendimento de lazer, esta aparece no momento do planejamento como decisão, uma forma de exercer autonomia. O lazer está para a lógica capitalista como uma ocupação subversiva ao estimular prazer, autonomia e contratualidade, ainda que não em todos os seus momentos, sendo necessário enxergar toda a experiência para identificá-la como lazer.

Raciocínio corroborado quando se lê as reflexões de Persson & Erlandsson (2002)Persson, D., & Erlandsson, L.-K. (2002). Time to reevaluate the machine society: post-industrial ethics from an occupational perspective. Journal of Occupational Science, 9(2), 93-99. sobre a ação das sociedades ocidentais que vivem em uma competição contínua que traz prestígio à medida que tenta controlar o mundo e, de forma mais agressiva, o tempo das pessoas. A forma mais comum do controle do tempo é em atividades obrigatórias, mais especificamente em trabalho ou demandas educacionais. Nessa direção, quando a pessoa vivencia o lazer, enfrenta resistência ao controle de seu tempo e, ainda que o lazer não garanta a sobrevivência do ser humano, ele se faz ocupação importante que pode favorecer o pensamento crítico de profissionais e usuários.

(c) Lazer - Transcendência da dureza da vida

O primeiro ponto que surge neste bloco é a importância do lazer como ocupação que “transcende a dureza na rotina diária e auxilia nos encontros com as pequenas alegrias” (E0). A rotina seria ações “padronizadas, que repetem; você não consegue sair” (E0). Para conseguir sair, faz-se necessária leveza.

Pra mim a dureza da rotina é essa: acordar! [risos altos]

A dureza da vida é estar vivo.

Acordar já tem um tanto de trem em casa, depois no trabalho um tanto de trem.

É dureza das obrigações mesmo (E5).

A dureza da rotina se remete às opressões diárias, a exemplo daquilo que a sociedade espera de mulheres; a precariedade no ambiente do trabalho; as vivências no cotidiano como estigma à saúde mental; racismo; depreciação do que é público etc. As opressões influenciam não apenas no processo de trabalho de profissionais de serviço de urgência em saúde mental, mas também no projeto terapêutico dos usuários e no viver diário das participantes (Merçom & Constantinidis, 2020Merçom, L. N., & Constantinidis, T. C. (2020). Work processes and mental health of mental health professionals: an integrative review. Contextos Clínicos, 13(2), 666-695.; Queiroz, 2015Queiroz, A. G. (2015). Não tô boa. Preciso passear!: o lazer de moradores de dois serviços residenciais terapêuticos de Belo Horizonte (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. , 2020Queiroz, A. G. (2020). Leisure in Occupational Therapy assistance to adults users: perception of occupational therapists from reference centers in mental health in Belo Horizonte / MG (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ).

Na perspectiva do grupo, o lazer ajudaria a transcender as durezas ao favorecer encontros com as pequenas alegrias, as quais seriam vivenciadas em “atividade simples ou complexas que diz profundamente de nós mesmos” (E0), permeadas por leveza e espontaneidade.

Com desejo é algo relaxado, descansado, com outro tom, que não necessariamente prazer. Um descanso, uma leveza às vezes sair da rotina (E4).

Uma pessoa que atendi conseguiu transcender da dor e angústia. Um belo dia ela conseguiu ver o pôr do sol e sentir-se extremamente feliz. Que não exige absolutamente nenhum recurso! (E3).

Para o grupo, ver o pôr do sol seria uma atividade simples, “porque não requer nenhum instrumento, não requer recurso financeiro, não requer habilidade, é só ser pessoa no mundo” (E0); “a atividade pode ser simples por recurso material, mas de cognitivo ser alto” (E0).

Atividades complexas seriam as que demandam mais habilidades: “Para algumas pessoas construir uma fórmula, descobrir os enredos dessas fórmulas é absoluto de tão bom. Na minha visão, é complexo porque eu não tenho os instrumentos e não vou dar conta de fazer, acho difícil” (E0).

A presença ou ausência das atividades simples e/ou complexas na vida do usuário dialogam com a percepção do grupo quanto ao que seria um cotidiano pobre ou não:

Pobre é ficar em casa só dormindo e vendo televisão, sem demanda de outras atividades.

Se não suporta estar em relação com outros, em sociedade, ainda pode ter um cotidiano muito rico, ser produtivo. A pessoa pode ler, cuidar de coisas, até escrever. É rico porque estão produzindo vida (E3).

A compreensão da complexidade do cotidiano da pessoa auxilia o grupo a perceber seu papel no dia a dia, e como a relação terapêutica pode ser facilitadora e mantenedora de opressões. Nesse sentido, concluem que a ausência/presença no cotidiano se relaciona com a participação da pessoa em sua própria vida e como essa participação é singular, inclusive como reconhecimento de que estar quieto pode significar que a pessoa “está super presente. O tanto de movimento interno que estar ali observando outras pessoas gera!” (E0).

Neste movimento, o grupo compreende que o lazer dos usuários, rico ou pobre, requer uma gama de elementos e contextos que se interrelacionam:

Pode ser da oferta, de recursos para se engajar, do acesso, de uma maneira geral é a partir de uma percepção nossa no sentido de que tem poucas atividades mesmo, talvez acontecendo, pouco engajamento. Agora, para conceituar (o lazer) nós iríamos na relação dele (usuário) com a atividade e participação (E4).

E ao longo da vida, porque quando chega adoecido, e você vai construir a história de vida... Ele não teve nenhuma oferta, nem possibilidades muito ao longo da vida e aí já chegou naquela altura muitas vezes desinteressado (E6).

Por fim, o grupo reflete sobre os termos pobre/rico e simples/complexo e, como a primeira dupla carrega julgamento econômico. Assim como a lógica de presença/ausência, as reflexões do grupo dialogam com o entendimento de consciência ocupacional de Ramugondo (2015)Ramugondo, E. L. (2015). Occupational consciousness. Journal of Occupational Science, 22(4), 488-501., sendo uma possível brecha para pensamentos críticos sobre as experiências de lazer e como elas influenciam e são influenciadas pelas durezas da vida.

Nesta categoria, o entendimento de lazer foi desenvolvido como: “Lazer é quando podemos transcender da dureza da vida diária e nos engajar em atividades simples ou complexas que nos tragam descontração, leveza, encontro com pequenas alegrias” (E0).

Ressalta-se que os entendimentos criados pelo grupo demonstram “um esforço de conceituar o lazer por ele mesmo e não como contraponto ao trabalho. O lazer é mais um ponto: tem o autocuidado, tem o trabalho, tem o descanso, tem o sono etc.” (E0). Nesse sentido, as percepções do grupo se aproximam de entendimentos em que o lazer deve ser uma ocupação em diálogo com as outras, e não em contraponto (Gomes, 2014Gomes, C. L. (2014). Lazer: necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer, 1(1), 3-20.; Queiroz et al., 2020aQueiroz, A. G., Barreto, L. C. S., & Frois, R. (2020a). O turismo na construção do cotidiano no cuidado em saúde mental: relato de experiência com pacientes em Belo Horizonte - Brasil. In K. S. Alves (Org.), Diálogos sociais em turismo: elementos hegemônicos e contra hegemônicos. Belo Horizonte: Dialética.; Queiroz, 2015Queiroz, A. G. (2015). Não tô boa. Preciso passear!: o lazer de moradores de dois serviços residenciais terapêuticos de Belo Horizonte (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. , 2020Queiroz, A. G. (2020). Leisure in Occupational Therapy assistance to adults users: perception of occupational therapists from reference centers in mental health in Belo Horizonte / MG (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ; Queiroz et al., 2021bQueiroz, A. G., Galan, A. C., Darbyshire, L., Smith, J., & Lawson, L. M. (2021b). Leisure in mental health occupational therapy interventions: a qualitative investigation. Research Social Development, 10(11), 1-12.).

Esse diálogo se daria no cotidiano. Elemento entendido pelo grupo como especificidade da terapia ocupacional, estando as ocupações entremeadas nele, e sendo impossível olhar apenas o cotidiano ou apenas as ocupações. É nesse sentido que os autores deste trabalho corroboram a conclusão do grupo sobre o papel do terapeuta ocupacional quanto ao lazer, o qual inclui “avaliar o cotidiano. Fazer a avaliação de como o sujeito está, a partir do pressuposto de quais são as atividades que fazem parte do repertório” (E0). A partir do repertório da pessoa e das opções que a terapeuta ocupacional tem junto à rede de cuidados, estabelece-se a retomada a essa ocupação e o desenvolvimento de outras.

Considerações Finais

Este estudo apresentou a construção coletiva sobre o entendimento de lazer por terapeutas ocupacionais, atuantes na saúde mental de serviços públicos de urgência substitutivos ao hospital psiquiátrico, tomando por base os conhecimentos da Ciência Ocupacional. Para tanto, além do questionamento a estes profissionais sobre seus entendimentos quanto ao lazer, buscou-se saber também se há influência do modelo base de cuidado no entendimento de lazer. Ademais, em caso positivo, como ele influencia esse entendimento?

A pesquisa apontou que os profissionais entendem o prazer como elemento essencial para a caracterização de uma ocupação como lazer, mas ressaltam que este é acompanhado por corresponsabilidade e que nem toda ocupação prazerosa é lazer, sendo que é a compreensão de toda a experiência que a nomeia como lazer, e não apenas alguns pontos prazerosos.

A escolha do lazer está associada à sensação de prazer, a qual se assemelha à satisfação e expressão dos desejos. A autonomia, como propagada pela reabilitação psicossocial, segundo a análise realizada sobre as falas do grupo, é permeada de forma intensa pelas relações das pessoas e suas experiências de lazer. Desta forma, fica mais evidente o impacto destas experiências nas pessoas com sofrimento psíquico, visto o estigma e a avaliação quanto à capacidade de escolha destes indivíduos, quando em crise.

Por fim, o lazer é entendido como forma de transcender a dureza da vida, constantemente atravessada pelas mudanças socioeconômicas e políticas, as quais geram durezas não apenas em uma rotina massificante, mas também em cotidianos pouco complexos, dos quais as pessoas são cada vez mais expulsas.

A partir desta pesquisa, afirmou-se que o lazer pode encontrar ressonância em práticas que fomentam a contratualidade e autonomia, elementos presentes no processo de cuidado voltado para a saúde mental brasileira. No entanto, a precariedade do trabalho associada à falta de investimento do poder público no território e nos serviços substitutivos da Rede de Atenção Psicossocial, assim como o “pré-conceito” dos profissionais quanto ao lazer e à capacidade de escolha dos usuários, mostram-se impeditivos para um trabalho respeitoso, alinhado com o cuidado em rede e que se coloque para além dos sintomas nos três cenários da reabilitação psicossocial: habitar, rede social e trabalho com valor social.

Por fim, o esforço das profissionais em buscar entender o lazer por si mesmo corrobora pesquisas que apresentam pensamentos críticos de terapeutas ocupacionais e cientistas da ocupação, em geral correlacionados a sua prática, conceitos e entendimentos. Isso, neste recorte, aponta para entendimentos de lazer dentro das singularidades culturais, políticas e econômicas do contexto brasileiro.

Dessa forma, pensamos que este artigo também contribui para a integração entre ciência ocupacional e terapia ocupacional ao estabelecer como os conceitos de ambas as disciplinas podem dialogar para fortalecer o desenvolvimento teórico e a compreensão de diferentes construtos que permitam outros debates nesta matéria.

Limitações e Implicações do Estudo

Apesar de os resultados não poderem ser generalizados para as cinco regiões da Nação brasileira, eles suscitam discussões que perpassam e enriquecem o fazer terapêutico ocupacional, assim como o raciocínio clínico de terapeutas ocupacionais de todo o país, uma vez que a pesquisa traz reflexões pertinentes ao trabalho destes profissionais dentro da política pública de saúde mental, bem como à própria política e sua base teórica. Uma pesquisa nacional seria pertinente para o desenvolvimento de entendimento de lazer condizente com a história e a cultura da sociedade brasileira, a quem o fazer do terapeuta ocupacional dentro das políticas públicas serve. As reflexões sobre lazer como ocupação humana também favorecem cientistas da ocupação de diversas áreas, pois elas refletem a cultura, na qual esses entendimentos foram forjados, o modo de viver, de desenvolver relações de pertencimento, e como e o quê cada cultura compreende como prazer e autonomia.

  • 1
    Tradução livre dos autores.
  • 2
    Forró é uma dança brasileira, praticada em pares.
  • Como citar: Queiroz, A. G., & Morrison, R. (2023). Construção coletiva do entendimento de lazer na saúde mental territorial por terapeutas ocupacionais: um estudo qualitativo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31, e3546. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO265035461
  • Fonte de Financiamento

    Programa de internacionalización del Magíster en Ocupación y Terapia Ocupacional, Facultad de Medicina, Universidad de Chile e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Editado por

Editora de Seção

Profa. Dra. Marta Carvalho de Almeida

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    16 Nov 2022
  • Revisado
    20 Nov 2022
  • Revisado
    05 Abr 2023
  • Aceito
    21 Jun 2023
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
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