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Percepções de bem-estar nas favelas da Maré: uma análise das desigualdades e estratificação das subjetividades

Perceptions of well-being in the favelas of Maré: an analysis of inequalities and stratification of subjectivities

Percepciones de bienestar en las favelas de Maré: un análisis de las desigualdades y la estratificación de las subjetividades

Resumo:

O artigo investiga a distribuição do bem-estar subjetivo (BES) nas favelas brasileiras, destacada como uma entre tantas dimensões das desigualdades de condições sociais e modalidades de estratificação persistentes no contexto brasileiro. Para tanto, foram utilizados dados de um survey domiciliar recente, aplicado a uma amostra representativa da população adulta residente no Conjunto de 16 favelas da Maré, região do subúrbio do município do Rio de Janeiro. O bem-estar subjetivo foi captado com perguntas sobre a satisfação das pessoas em relação a diferentes domínios da vida cotidiana, coletadas segundo um protocolo chamado Mansa (Manchester short assessment of quality of life). Foram descritos padrões de desigualdade e diferenças nos níveis de bem-estar subjetivo segundo características da população da Maré. Gênero e renda, condições de saúde, relações afetivas, exposição à violência armada e medo da violência foram alguns dos fatores relevantes associados a tais padrões.

Palavras-chave
Desigualdades; Bem-estar subjetivo; Mansa; Favelas; Conjunto de favelas da Maré

Abstract:

The article deals with the distribution of subjective well-being (SWB) in Brazilian favelas, highlighted as one among many dimensions of the inequalities of social conditions and stratification modalities that persist in the country. The study has used data from a recent household survey, applied to a representative sample of the adult population residing in one of 16 favelas in Maré, a peripheral region of the city of Rio de Janeiro. Subjective well-being was measured from questions about people’s satisfaction in relation to different domains of daily life, collected according to a protocol called Mansa (Manchester short assessment of quality of life). We have described patterns of inequality and differences in levels of subjective well-being according to characteristics of the Mare’s population. Gender and income, health conditions, affective relationships, exposure to armed violence, and fear of violence were some of the relevant factors associated with these patterns.

Keywords
Inequalities; Subjective well-being; Mansa; Brazilian Favelas; Mare’s favelas

Resumen

El artículo investiga la distribución del bienestar subjetivo (BS) en las favelas brasileñas, destacada como una de las muchas dimensiones de las desigualdades en las condiciones sociales y las modalidades de estratificación persistentes en el contexto brasileño. Para ello, se utilizaron datos de una encuesta domiciliaria reciente, aplicada a una muestra representativa de la población adulta residente en las 16 favelas de Maré, suburbio de la ciudad de Río de Janeiro. El bienestar subjetivo se capturó con preguntas sobre la satisfacción de las personas con diferentes dominios de la vida cotidiana, recopiladas según un protocolo denominado Mansa (Manchester short assessment of quality of life). Se describieron patrones de desigualdad y diferencias en los niveles de bienestar subjetivo según las características de la población de Maré. El género y los ingresos, las condiciones de salud, las relaciones afectivas, la exposición a la violencia armada y el miedo a la violencia fueron algunos de los factores relevantes asociados a tales patrones.

Palabras clave
Desigualdades; Bienestar subjetivo; Mansa; Favelas; Favelas en Maré

Introdução

Quando falamos sobre igualdade social, a partir da noção de que os indivíduos devem ser tratados como iguais nas esferas sociais e institucionais que afetam suas biografias, é tradicional a distinção entre igualdade (e desigualdade) de oportunidades e igualdade de condições. A igualdade de oportunidades remete à ideia de que todas as pessoas devem ter igual possibilidade de alcançar benefícios, posições e recompensas disponíveis em suas sociedades, sem que barreiras ou privilégios imputem, a qualquer indivíduo, vantagens ou desvantagens comparativas. Supõem-se a garantia de um mesmo “ponto de partida”, e as recompensas alcançadas dependeriam apenas dos esforços, capacidades e decisões individuais (Miller 1967Miller, David. Igualdade e desigualdade. 1967. In Dicionário de Sociologia, organizado por Emilio Willems, 128-129. Porto Alegre: Globo.). Estudos sobre desigualdades de oportunidades investigam como diferentes origens se traduzem em desfechos distintos, observando chances de mobilidade no interior das estruturas sociais (Ribeiro 2009Ribeiro, Carlos Antonio Costa. 2009. Desigualdade de oportunidades no Brasil. Belo Horizonte: Argvmentvm.).

A igualdade de condições (ou de resultados) diz respeito à defesa de uma distribuição igualitária de benefícios e de recompensas societários, de modo que todos alcancem um mesmo “ponto de chegada”, com iguais condições de vida e acesso uniforme a serviços públicos e sociais (Miller 1967Miller, David. Igualdade e desigualdade. 1967. In Dicionário de Sociologia, organizado por Emilio Willems, 128-129. Porto Alegre: Globo.). Os estudos mostram diferenças nas condições de vida em dimensões como saúde, renda e bem-estar social.

Desigualdades de oportunidades se reproduzem pela transmissão intergeracional de vantagens e desvantagens, que ocorre ao longo dos ciclos de vida, e está condicionada pela distribuição de bens sociais e condições de vida em certos momentos e lugares (Ribeiro 2009Ribeiro, Carlos Antonio Costa. 2009. Desigualdade de oportunidades no Brasil. Belo Horizonte: Argvmentvm.). As biografias também estão ligadas a contextos e territórios, que influem sobre desfechos, trajetórias e probabilidades de sucesso.

O artigo trata de uma forma específica de desigualdade de condições: a distribuição de bem-estar subjetivo (BES) nas favelas do complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Parte-se de um survey domiciliar aplicado em 2019, na pesquisa “Construindo pontes: impactos sociais da exposição à violência armada na Maré”,2 2 Coordenada por Paul Heritage e Eliana Sousa Silva e realizada por People’s Palace Projects do Brasil, Redes da Maré, Queen Mary University of London, Escola de Serviço Social e Instituto de Psiquiatria da UFRJ e Neccult, com apoio do Economic and Social Research Council e Arts and Humanities Research Council do Reino Unido – programa Global Challenges Fund e Arts Council. que investigou condições de vida, saúde, exposição à violência e bem-estar da população com mais de 18 anos residente na Maré (Heritage e Silva 2021Heritage, Paul e Eliana Sousa Silva. 2021. Estudo com Moradores das 16 Favelas da Maré. Rio de Janeiro: People’s Palace Projects do Brasil.).

Para a discussão sobre estratificação e desigualdades sociais, o trabalho oferece algumas contribuições. Descreve padrões na distribuição de uma condição pouco explorada: as percepções de bem-estar. Observa padrões de desigualdade circunscritos em um complexo de favelas, permitindo observar a existência de “desigualdades dentro da pobreza” (Preteceille e Valladares 2000Preteceille, Edmond e Licia Valladares. 2000. A desigualdade entre os pobres –favela. In Desigualdade e pobreza no Brasil, organizado por Ricardo Henriques, 459-85. Rio de Janeiro: Ipea., 482). Finalmente, discute os condicionantes do BES, e traz duas dimensões particularmente relevantes para análise das desigualdades no contexto brasileiro – exposição à violência armada e sensação de insegurança. Toma-se a Maré como caso para pensar desigualdades e pobreza nas favelas brasileiras.

Definição e estudos empíricos sobre bem-estar subjetivo

Percepções de bem-estar, avaliações subjetivas sobre condições de vida, quão satisfeitas estão as pessoas com suas vidas e cotidiano ou, simplesmente, como as pessoas concebem o que seria uma “vida boa” e percebem sua posição/distância em relação a tal concepção (Diener 1984Diener, Ed. 1984. Subjective well-being. Psychological Bulletin 95 (3), 542–575. https://doi.org/10.1037/0033-2909.95.3.542.
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, 543). Estes são objetos de um campo mais amplo, dedicado ao estudo do que se convencionou chamar de bem-estar subjetivo (Diener 1984Diener, Ed. 1984. Subjective well-being. Psychological Bulletin 95 (3), 542–575. https://doi.org/10.1037/0033-2909.95.3.542.
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).

Tendo em vista que as formas (felicidade, satisfação etc.), natureza e as fontes de BES intrigam cientistas sociais há décadas (alguns filósofos e pensadores sociais, há séculos), no âmbito de várias disciplinas foram elaboradas teorias e estudos empíricos sobre o tema, tratando sua definição, mensuração e análise de fatores explicativos.

Em diversos trabalhos, o BES pode ser compreendido como a avaliação que uma pessoa faz sobre sua situação de vida em geral, relacionada a prazeres, conforto ou qualidade de vida (Diener 1984Diener, Ed. 1984. Subjective well-being. Psychological Bulletin 95 (3), 542–575. https://doi.org/10.1037/0033-2909.95.3.542.
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; Watson 1988Watson, David. 1988. Intraindividual and interindividual analyses of positive and negative affect: their relation to health complaints, perceived stress, and daily activities. Journal of Personality and Social Psychology 54 (6): 1020-30. https://doi.org/10.1037/0022-3514.54.6.1020.
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). Seguimos a definição de Diener (2000)Diener, Ed. 2000. Subjective well-being: the science of happiness and a proposal for a national index. American Psychologist 55 (1): 34-43. https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.1.34.
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, que explica o BES como um tipo de julgamento da vida. Uma pessoa tem altos níveis de BES caso experimente satisfação com a vida e alegria frequentes.

BES na Psicologia

A construção conceitual do BES foi ancorada em diferentes disciplinas, mas a participação dos estudos da Psicologia foi fundamental na consolidação do tema e na identificação de fatores relevantes (Kirti et al. 2020Das, Kirti V., Carla Jones-Harrell, Yingling Fan, Anu Ramaswami, Ben Orlove e Nisha Botchwey. 2020. Understanding subjective well-being: perspectives from Psychology and Public Health. Public Health Reviews 41 (1): 1-32. https://doi.org/10.1186/s40985-020-00142-5.
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). Tais estudos se concentraram na análise de determinantes, incluindo variáveis demográficas (Hnilica 2011Hnilica, Karel. 2011. Discrimination and subjective well-being: protective influences of membership in a discriminated category. Central European Journal of Public Health 19 (1): 3-6. https://doi.org/10.21101/cejph.a3608.
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), personalidade (Lucas et al. 2008Lucas, Richard E., Portia S. Dyrenforth e Ed Diener. 2008. four myths about subjective well-being. Social and Personality Psychology Compass 2 (5): 2001–15. https://doi.org/10.1111/j.1751-9004.2008.00140.x.
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; Ha e Kim 2013Ha, Shang E. e Seokho Kim. 2013. Personality and subjective well-being: evidence from South Korea. Social Indicators Research 111 (1): 341-59. https://doi.org/10.1007/s11205-012-0009-9.
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), geografia e infraestrutura (Winters e Li 2016Winters, John V. e Yu Li. 2017. Urbanisation, natural amenities and subjective well-being: evidence from US counties. Urban Studies 54 (8): 1956-73. https://doi.org/10.1177/0042098016631918.
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).

Os estudos utilizam dados demográficos, sobretudo, como variáveis de controle. Porém, algumas variáveis são analisadas com mais profundidade, como gênero, idade e raça. As pesquisas que analisaram a associação entre idade e BES, por exemplo, não encontraram consenso em seus resultados. Algumas mostraram relação positiva entre idade e BES (Jivraj e Nazroo 2014Jivraj, Stephen e James Nazroo. 2014. Determinants of Socioeconomic inequalities in subjective well-being in later life: a cross-country comparison in England and the USA. Quality of Life Research 23 (9): 2545-58. https://doi.org/10.1007/s11136-014-0694-8.
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), outras uma relação negativa (Lamu e Olsen 2016Lamu, Admassu N. e Jan Abel Olsen. 2016. The relative importance of health, income and social relations for subjective well-being: an integrative analysis. Social Science and Medicine 152: 176–85. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2016.01.046.
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). Outros estudos mostraram uma relação não linear, em forma de “U”, normalmente achatada aos 40 anos (Hnilica 2011Hnilica, Karel. 2011. Discrimination and subjective well-being: protective influences of membership in a discriminated category. Central European Journal of Public Health 19 (1): 3-6. https://doi.org/10.21101/cejph.a3608.
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).

A variável gênero também apresenta historicamente resultados díspares. Algumas pesquisas encontraram associação positiva com o BES (Lamu e Olsen 2016Lamu, Admassu N. e Jan Abel Olsen. 2016. The relative importance of health, income and social relations for subjective well-being: an integrative analysis. Social Science and Medicine 152: 176–85. https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2016.01.046.
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) e outras relação negativa (Calys-Tagoe et al. 2015Calys-Tagoe, B. N.L., S. A. Hewlett, P. Dako-Gyeke, A. E. Yawson, N. A. Baddoo, N. A.H. Seneadza, G. Mensah, et al. 2014. Predictors of subjective well-being among older ghanaians. Ghana Medical Journal 48 (4): 178-84. https://doi.org/10.4314/gmj.v48i4.2.
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). Wadsworth e Pendergast (2014)Wadsworth, Tim e Philip M. Pendergast. 2014. Obesity (sometimes) matters: the importance of context in the relationship between obesity and life satisfaction. Journal of Health and Social Behavior 55 (2): 196-214. https://doi.org/10.1177/0022146514533347.
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realizaram estudo nos EUA sobre o efeito da obesidade no BES, mostrando que mulheres afro-americanas, asiáticas e hispânicas relatavam níveis mais baixos de BES do que as brancas.

Outros estudos analisaram o peso da geografia e da infraestrutura como fatores explicativos. Ludwing et al. (2012, 1505) mostraram que a mobilidade habitacional de um bairro de “alta pobreza” para um de “baixa pobreza” levava a melhoras de longo prazo no BES de adultos. Descobriram ainda que o BES era mais afetado por mudanças na desvantagem econômica da vizinhança do que pela segregação racial.

Em pesquisa realizada na Polônia com 3 mil alunos de 8, 10 e 12 anos, Strózik et al. (2016)Strózik, Dorota, Tomasz Strózik e Krzysztof Szwarc. 2016. The subjective well-being of school children. The first findings from the children’s worlds study in Poland. Child Indicators Research 9 (1): 39-50. https://doi.org/10.1007/s12187-015-9312-8.
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mensuraram o BES de crianças em termos da satisfação com a vida familiar e com o corpo (aparência física). Chamou atenção o fato de a localização da escola (se urbana ou rural) representar diferença significativa em todas as análises. A escala que mensura a satisfação com a vida foi mais alta para crianças das escolas rurais.

Parte da literatura discute como a personalidade afeta o BES (Deneve e Cooper 1998DeNeve, Kristina M., e Harris Cooper. 1998. The happy personality: a meta-analysis of 137 personality traits and subjective well-being. Psychological Bulletin 124 (2): 197-229. https://doi.org/10.1037/0033-2909.124.2.197.
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), considerando a replicabilidade dessa relação em diferentes contextos e culturas. Para Lucas e Diener (2008)Lucas, Richard E., Portia S. Dyrenforth e Ed Diener. 2008. four myths about subjective well-being. Social and Personality Psychology Compass 2 (5): 2001–15. https://doi.org/10.1111/j.1751-9004.2008.00140.x.
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, a personalidade é o fator mais relevante na determinação do BES. Ferrer-i-Carbonell e Gowdy (2007)Ferrer-i-Carbonell, Ada e John M. Gowdy. 2007. Environmental degradation and happiness. Ecological Economics 60 (3): 509-16. https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2005.12.005 .
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mostraram que personalidade correlacionava com a satisfação com a vida, e Ha e Kim (2013)Ha, Shang E. e Seokho Kim. 2013. Personality and subjective well-being: evidence from South Korea. Social Indicators Research 111 (1): 341-59. https://doi.org/10.1007/s11205-012-0009-9.
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, a partir de uma pesquisa nacional, de larga escala, mostraram relação significativa e substantiva entre traços de personalidade e BES. Usando o World Values Survey, Helliwell (2006)Helliwell, John F. 2006. Well‐Being, social capital and public policy: what’s new? The Economic Journal 116 (510): C34-C45. https://doi.org/10.1111/j.1468-0297.2006.01074.x.
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encontrou relação apenas moderada entre personalidade e BES, controlando fatores como confiança e religiosidade.

BES na Economia

Na Economia, pesquisas identificadas remetiam à Economia do consumidor e à teoria da produção doméstica. A relação entre altos níveis de BES e maior renda era explicada pelo aumento da capacidade de consumo. Uma pessoa com maior poder aquisitivo teria maior número de necessidades satisfeitas.

Para Easterlin (2010)Easterlin, Richard A. 2010. Well-being, front and center: a note on the Sarkozy Report. Population and Development Review 36 (1): 119-24. https://doi.org/10.1111/j.1728-4457.2010.00320.x.
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, a percepção sobre BES se baseia em normas sociais e comparações com outros indivíduos, não sendo construída apenas a partir da condição material objetiva. Ao se estudar a relação entre distribuição de renda e BES, seria possível verificar que os mais ricos são mais felizes. Contudo, ao observar dois momentos no tempo, mostrou-se que o aumento da renda não levava a uma maior felicidade.

Nikolova e Graham (2013)Nikolova, Milena e Carol Graham. 2013. Well-being in Europe and the United States. The Journal of Socio-Economics 44: 126–39. https://doi.org/10.1016/j.socec.2013.02.025.
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analisaram a relação entre BES e trabalho, tipo de emprego e de aposentadoria, para vários países europeus e EUA. Trabalhadores de meio período eram mais felizes, experimentavam menos estresse e raiva, e tinham maior satisfação com trabalho, em comparação com trabalhadores em tempo integral. As autoras mostraram ainda que pessoas com idade avançada que trabalhavam em qualquer jornada possuíam mais bem-estar do que os aposentados, controlando pela renda.

Outros estudos identificaram que pessoas com altos níveis de felicidade tendiam a ter melhor desempenho no mercado de trabalho e auferir maior renda (Diener et al. 2003Diener, Ed, Shigehiro Oishi e Richard E. Lucas. 2003. Personality, culture, and subjective well-being: emotional and cognitive evaluations of life. Annual Review of Psychology 54: 403-25. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.54.101601.145056.
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). Pesquisa longitudinal realizada por Deneve e Oswald (2012)DeNeve, Jan Emmanuel e Andrew J. Oswald. 2012. Estimating the influence of life satisfaction and positive affect on later income using sibling fixed effects. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 109 (49): 19953-58. https://doi.org/10.1073/pnas.1211437109.
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mostrou que adolescentes e jovens que se declaravam satisfeitos com a vida passaram a ter renda mais elevada com o passar do tempo. Binder e Coad (2011)Binder, Martin e Alex Coad. 2011. From Average Joe’s happiness to miserable Jane and cheerful John: using quantile regressions to analyze the full subjective well-being distribution. Journal of Economic Behavior and Organization 79 (3): 275-90. https://doi.org/10.1016/j.jebo.2011.02.005.
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realizaram estudo longitudinal analisando um conjunto maior de mudanças com o BES dos indivíduos. O aumento do bem-estar mental teve relação com o acréscimo da renda e ganhos em termos de casamento, emprego e saúde.

BES e a perspectiva sociológica

O BES não é um tema com grande apelo no campo da Sociologia, sobretudo, na academia brasileira. São exceções os estudos de Nolan e Lenski (2004)Nolan, Patrick e Gerhard Lenski. 2004. Human: An introduction to macrosociology society. Bounder: Paradigm Publishers. e Ribeiro (2015)Ribeiro, Carlos A. C. 2015. Renda, relações sociais e felicidade no brasil. Dados 58 (1): 37-78. https://doi.org/10.1590/00115258201538.
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. No entanto, o tema não está totalmente distante na Sociologia. A satisfação com a vida foi tema regular em diferentes estudos (Shorter 1985Shorter, Frederic C. 1985. The Population of Turkey after the war of independence. International Journal of Middle East Studies 17 (4): 417-41. https://doi.org/10.1017/S002074380002941X.
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; Torns 2007Torns, Teresa. 2007. El tiempo de trabajo y las relaciones de género: las dificultades de un cambio ineludible. In Trabajo, Género y Tiempo Social, 269-78.), satisfação com trabalho é tópico comum na Sociologia do trabalho, e satisfação conjugal é variável reconhecida na Sociologia da família (Araújo e Veiga 2015Araújo, Clara e Alinne Veiga. 2015. Domesticidade, trabalho e satisfação pessoal:horas no trabalho doméstico e bem-estar no estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciência Política 18: 179-209. https://doi.org/10.1590/0103-335220151807.
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).

O BES é visto ainda como um determinante do comportamento social. Segundo Lyubomirsky e Diener (2005)Lyubomirsky, Sonja, Laura King e Ed Diener. 2005. The benefits of frequent positive affect: does happiness lead to success? Psychological Bulletin 131 (6): 803-55. https://doi.org/10.1037/0033-2909.131.6.803.
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, pessoas felizes tenderiam a ser “melhores cidadãos” e mais bem informadas sobre questões políticas, ao usar direitos de voto com mais frequência, e se envolver mais em ações civis. Seriam ainda menos radicais em suas visões políticas. O BES individual seria produto dos sistemas sociais, assim como fator para seu funcionamento e de suas instituições – família, redes de apoio, amizades e organizações.

É sabido que a desigualdade exerce, de modo geral, efeitos negativos nas sociedades (Oishi et al. 2011Oishi, Shigehiro, Selin Kesebir e Ed Diener. 2011. Income inequality and happiness. Psychological Science 22 (9): 1095-1100. https://doi.org/10.1177/0956797611417262.
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). Particularmente, estudos têm buscado compreender a relação entre desigualdade de renda e BES. A partir de estudo longitudinal com uma amostra de cidadãos de 84 países, Paolo Verme3 3 Verme, Paolo. 2007. Happiness and inequality aversion worldwide. International conference on comparative development. Indian Statistical Institute, 18-20 dez. 2007. Acessado em 28 ago. 2021, https://www.isid.ac.in/~planning/ComparativeDevelopmentConference.html. verificou a redução da satisfação com a vida associada ao aumento da desigualdade de renda. Em um estudo com 119 nações, de 2000 a 2006, Berg e Veenhoven (2010)Berg, Maarten e Ruut Veenhoven. 2010. Income inequality and happiness in 119 nations. In Happiness and Social Policy in Europe, organizado por Bent Greve, 174-194. Cheltenham: Edward Elgar Publishing. https://doi:10.4337/9781781000731.00017.
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mostraram que as pessoas ficavam menos felizes quando experimentavam desigualdades amplas. Depois de controlar pela riqueza, as nações do “mundo ocidental” apresentavam forte relação negativa entre desigualdade de renda e de felicidade. Na Ásia, América Latina e Europa Oriental a desigualdade dentro das nações era positivamente relacionada com o BES.

No Brasil, mostrou-se que quanto maior a renda maior o BES (Luz et al. 2011Luz, Tatiana Chama Borges, Cibele Comini César, Maria Fernanda Lima-Costa e Fernando Augusto Proietti. 2011. Satisfaction with the neighborhood environment and health in older elderly: cross-sectional evidence from the Bambuí Cohort Study of Aging. Cadernos de Saúde Pública 27 (3): 390-98. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2011001500009.
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; Cavalcanti et al. 2009Cavalcanti, Tiago V. de V., Juliana Ferraz Guimarães e José Ricardo Nogueira. 2009. Is Brazil the land of happiness? A comparative study using a sample with economics students from UFPE and Purdue. Brazilian Review of Econometrics 29 (1): 17-35. https://doi.org/10.12660/bre.v29n12009.2694.
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). Ribeiro (2015)Ribeiro, Carlos A. C. 2015. Renda, relações sociais e felicidade no brasil. Dados 58 (1): 37-78. https://doi.org/10.1590/00115258201538.
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analisou a associação entre renda e felicidade, considerando fatores relacionados à sociabilidade dos indivíduos (capital social, religiosidade, relações sociais e relações íntimas). O estudo mostrou que a sociabilidade e a percepção dos indivíduos se somavam aos efeitos da renda na explicação de variações no grau de felicidade da população. Para o autor, as relações sociais foram centrais para explicar probabilidades de felicidade dos indivíduos e a perspectiva sociológica seria relevante na compreensão da distribuição de felicidade na sociedade brasileira.

Medindo bem-estar subjetivo a partir do Mansa

O BES pode ser mensurado perguntando às pessoas quão felizes ou satisfeitas estão com suas vidas (Kahneman e Krueger 2006Kahneman, Daniel e Alan B Krueger. 2006. Developments in the Measurement of subjective well-being. Journal of Economic Perspectives 20 (1): 3-24. https://doi.org/10.1257/089533006776526030.
https://doi.org/10.1257/0895330067765260...
). Entretanto, tal tipo de medida não contempla a diversidade trazida pela base teórica do BES (Praag e Ferrer-I-Carbonell 2011Praag, Bernard M.S. Van e Ada Ferrer-I-Carbonell. 2011. Happiness Economics: a new road to measuring and comparing happiness. Foundations and Trends in Microeconomics 6 (1): 1-97. https://doi.org/10.1561/0700000026.
https://doi.org/10.1561/0700000026...
). Na prática, como construção multidimensional, o BES pode ser mensurado de diferentes formas, dependendo da perspectiva conceitual adotada (Vanhoutte 2014Vanhoutte, Bram. 2014. The multidimensional structure of subjective well-being in later life. Journal of Population Ageing 7 (1): 1-20. https://doi.org/10.1007/s12062-014-9092-9.
https://doi.org/10.1007/s12062-014-9092-...
). Nessa linha, diferentes autores ensaiaram combinações e procuraram confirmar a confiabilidade das medidas de BES (Ferrer-I-Carbonell 2011Ferrer-I-Carbonell, Ada. 2011. Economía de la felicidad. Els Opuscles del CREI 28: 1-31.; Layard 2010Layard, R. 2010. Measuring subjective well-being. Science 327 (5965): 534-35. https://doi.org/10.1126/science.1186315.
https://doi.org/10.1126/science.1186315...
). Embora existam críticas sobre o uso das perguntas sobre satisfação, como julgamento de bem-estar, seu uso é amplamente aceito entre os pesquisadores.

Nossas análises se basearam em um índice de BES construído a partir de questões sobre a satisfação percebida em relação a distintos domínios da vida.4 4 Foram incluídas as seguintes dimensões: trabalho e ocupação, situação financeira, amizades, lazer, moradia, segurança, vida sexual, família, coabitação, saúde física e saúde mental. Tais questões fazem parte do Mansa (Manchester short assessment of quality of life), protocolo reduzido de avaliação de BES, cujas propriedades psicométricas foram internacionalmente testadas (Priebe et al. 1999Priebe, Stefan, Peter Huxley, Susan Knight e Sherrill Evans. 1999. Application and results of the Manchester short assessment of quality of life (Mansa). International journal of social psychiatry 45 (1): 7-12. https://doi.org/10.1177/002076409904500102.
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). Para cada uma das 1.211 pessoas entrevistadas,5 5 Para maiores detalhes sobre a metodologia do survey, ver Ribeiro (2021). residentes na Maré com mais de 18 anos, o indicador geral de BES foi calculado como a média dos escores obtidos nas 12 questões6 6 São considerados válidos os casos com pelo menos 9 das 12 questões respondidas. do Mansa, que possuíam escala ordinal de sete pontos.7 7 A classificação das variáveis seguia a seguinte escala: 1. Muito insatisfeito; 2. Insatisfeito; 3. Mais para insatisfeito; 4. Mais ou menos; 5. Mais para satisfeito; 6. Satisfeito; 7. Muito satisfeito.

Os resultados do Mansa vêm sendo utilizados em populações vulneráveis e contextos delicados de pesquisa, como em estudos sobre estresse pós-traumático em refugiados e populações afetadas por guerras (Priebe et al. 2009Priebe, Stefan, Jelena Matonov, Paul Gravilovic, Goran Damir, Abdulah Knezenic e Tanja Kucukalic. 2009. Consequences of untreated posttraumatic stress disorder following war in former Yugoslavia: morbidity, subjective quality of life, and care costs. Croatian medical journal 50 (5): 465-475. https://doi.org/10.3325/cmj.2009.50.465.
https://doi.org/10.3325/cmj.2009.50.465...
; Giacco et al 2013Giacco, Domenico, Aleksandra Matanov e Steban Priebe. 2013. Symptoms and subjective quality of life in post-traumatic stress disorder: a longitudinal study. PLoS One 8 (4): e60991. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0060991.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.006...
); pesquisas com pessoas com doenças mentais severas (Hansson e Björkman 2007Hansson, Lars e Tommy Björkman. 2007. Are factors associated with subjective quality of life in people with severe mental illness consistent over time? A 6-year follow-up study. Quality of Life Research 16 (1): 9-16. https://doi.org/10.1007/s11136-006-9119-7.
https://doi.org/10.1007/s11136-006-9119-...
); e pessoas com risco de suicídio (Petrakis e Joubert 2013Petrakis, Melissa e Lynette Joubert. 2013. Use of the Manchester short assessment of quality of life (Mansa). Social work in health care 52 (2-3): 239-257. https://doi.org/10.1080/00981389.2012.737903.
https://doi.org/10.1080/00981389.2012.73...
). No Brasil, o indicador foi utilizado para analisar efeitos da violência armada sobre saúde mental e bem-estar da população adulta da Maré (Cruz et al. 2021aCruz, Marcelo Santos, Eliana Sousa Silva, Zivile Jakaite, Miriam Krenzinger, Leandro Valiati e Dalcio Gonçalver. 2021a. Experience of neighbourhood violence and mental distress in Brazilian favelas: a cross-sectional household survey. Lancet Regional Health 4: 1-8. https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100067.
https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.1000...
; Ribeiro 2021Ribeiro, Eduardo. 2021. Considerações metodológicas e panorama dos resultados da pesquisa Construindo Pontes. In Estudo com Moradores das 16 Favelas da Maré (livro 1), organizado por Paul Heritage e Eliana Sousa Silva, 101-178. Coleção Construindo Pontes. Rio de Janeiro: People’s Palace Projects do Brasil.), e de frequentadores de cenas de uso de drogas (Cruz et al. 2021bCruz, Marcelo Santos, Karla Amado, Ana Carolina Robbe Mathias e Eduardo Ribeiro. 2021b. Frequentadores de cenas de uso de drogas: violência, saúde mental e qualidade de vida. In Estudo com frequentadores das cenas de uso de drogas na Maré e entorno (livro 2), organizado por Eliana Sousa Silva e Paul Heritage, 157-187. Coleção Construindo Pontes. Rio de Janeiro: People’s Palace Projects do Brasil.).

Tipos de satisfação e percepções de bem-estar na Maré

As percepções de bem-estar foram captadas com questões sobre a satisfação das pessoas em relação à vida como um todo, e outros onze domínios da vida cotidiana. Nos dois extremos da escala, comparando parcelas da população satisfeitas ou muito satisfeitas com pessoas que se disseram insatisfeitas ou muito insatisfeitas, é possível verificar que, de modo geral, os níveis de satisfação são mais elevados. No que se refere à satisfação com a vida, o percentual de adultos satisfeitos ou muito satisfeitos foi o dobro dos insatisfeitos (24% contra 12%). Esse padrão foi regular entre os domínios, cujas razões ficaram por volta de duas vezes.

Dois tipos de exceção fugiram a esse padrão. Para situação financeira e segurança, a parcela da população insatisfeita foi maior do que a satisfeita – 19% estavam insatisfeitos com a vida financeira contra 14% satisfeitos; para segurança, foram 21% insatisfeitos contra 14% satisfeitos. Por outro lado, o percentual de satisfação foi maior em relação às pessoas com quem se mora (41,5% satisfeitos contra 6% insatisfeitos) e nas relações com a família (39% satisfeitos contra 8% insatisfeitos), padrão que não se estendeu a outros domínios das relações interpessoais, como na satisfação com as amizades e com a vida sexual, nem na satisfação em morar sozinho.

Gráfico 1
Níveis de insatisfação e satisfação na população adulta da Maré segundo diferentes domínios da vida cotidiana

Estrutura fatorial do Mansa

Com os dados da Maré, os 12 itens do Mansa para mensurar BES tiveram boa consistência interna (alfa de Cronbach8 8 O Coeficiente Alfa de Cronbach é uma medida utilizada para verificar a confiabilidade ou validade interna de perguntas de questionário (Matthiensen 2010). Os valores de α variam de 0 a 1; quanto mais próximo de 1, maior confiabilidade entre os indicadores. = 0,75).9 9 No estudo de Priebe et al. (1999), no Reino Unido, o alfa de Cronbach foi similar ao da Maré (0,74). Contudo, há diferenças na distribuição da satisfação entre os domínios da vida. Baseado nisso e no trabalho de Petkari et al. (2020)Petkari, Eleni, Domenico Giacco e Stefan Priebe. 2020. Factorial structure of the Manchester short assessment of quality of life in patients with schizophrenia-spectrum disorders. Quality of Life Research 29 (3): 833-841. https://doi.org/10.1007/s11136-019-02356-w.
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, analisamos a composição do indicador a partir de análises fatoriais exploratórias por componentes principais.10 10 Ver resultados das análises nos Anexos 1 a 4.

Com base no percentual de variância explicada foram observados modelos de dois a cinco fatores. Os primeiros cinco fatores explicam cerca de 60% da variância. No modelo com dois fatores, a divisão entre os domínios ocorre entre a satisfação com características pessoais e relações interpessoais (família, coabitação, vida sexual, saúde física e mental), e a satisfação com condições objetivas de vida – situação financeira, ocupação, moradia e segurança. A satisfação com a vida como um todo parece estar mais ligada a este último conjunto de variáveis. As satisfações com amizades e com atividades de lazer possuem baixo peso em ambos os fatores, e pouco poder explicativo. Modelos com números adicionais de fatores podem ser descritos da seguinte forma:

  • com três fatores se mantém a estrutura fatorial descrita. Um novo fator inclui a satisfação com as amizades e as atividades de lazer;

  • com quatro fatores são separados a saúde física e metal, características pessoais, dos aspectos interrelacionais;

  • com cinco fatores a satisfação com as condições objetivas de vida é dividida em dois fatores: situação financeira e ocupacional; e satisfação em relação à moradia e à segurança. As cargas fatoriais para esses novos fatores são mais elevadas do que a dos demais, reafirmando a importância dos aspectos objetivos na satisfação geral com a vida.

Os resultados permitiram entender melhor o peso de cada domínio na estimação do BES, e motivaram duas novas medidas: uma sobre a avaliação das condições objetivas de vida; outra relacionada a relações interpessoais e características pessoais (e percepções sobre saúde). As medidas mostraram alfas de Cronbach iguais a 0,55 (4 itens) e 0,69 (5 itens),11 11 Satisfação com ocupação, situação financeira, moradia e segurança compõem as “percepções sobre condições objetivas de vida”. Satisfação com vida sexual, família, coabitação, saúde física e saúde mental compuseram a medida de “relações interpessoais e características pessoais”. A satisfação com a vida como um todo, com as amizades e atividades de lazer não foram consideradas. Os subíndices foram calculados com a soma de seus respectivos itens. e estavam fortemente correlacionadas com o índice geral de BES (correlações de 0,79 e 0,82), mas possuíam baixa correlação entre si (0,39), indicando representar construtos distintos, talvez associados com dinâmicas sociais e fatores diferentes.

Fatores associados ao BES na população adulta da Maré

Em análises exploratórias, variáveis socioeconômicas e demográficas, como gênero e raça, faixa etária, escolaridade, origem e renda, comumente utilizadas para apresentar desigualdades, mostraram baixo poder para explicar a variação dos índices de BES.12 12 Ver modelos ajustados no Anexo 5. Os ajustes utilizaram o procedimento backward (≤ 0.05). Modelos de regressão múltipla ajustados a partir dessas variáveis explicam apenas 6,8%13 13 Estatística R² ajustado. da variância do índice geral, e 9,2% do subíndice relacionado à satisfação com condições objetivas de vida. Nos dois modelos, raça e escolaridade não foram significativas. Por sua vez, as demais variáveis mostraram o seguinte padrão:

  • homens apresentaram, em média, maiores índices de BES;

  • pessoas mais velhas apresentaram maiores níveis de BES. Essa desvantagem ocorreu particularmente para os mais jovens (entre 18 e 29 anos) e em menor grau para os adultos de 30 a 49 anos em relação às pessoas com mais de 50 anos;

  • pessoas que haviam nascido na Maré tinham menores níveis de BES em relação a moradores de origem externa ao território;

  • os modelos apontam relação positiva entre renda domiciliar mensal per capita e BES, expressa pelo sinal negativo da variável que indica pessoas em domicílios no 1º quintil de renda per capita (mais pobres) e pelo sinal positivo da variável que indica pessoas em domicílios no 4º quintil de renda per capita (mais abastadas).

Para o subíndice relativo à satisfação com relações interpessoais e características pessoais, o modelo mostrou poder ainda menor, explicando apenas 2,7% da variação. Nesse modelo, apenas duas variáveis foram significativas: gênero e o primeiro quintil de renda. Ambas com o mesmo padrão exposto acima.

Embora tais resultados sejam relevantes e evidenciem desigualdades, existe um amplo espaço analítico para melhores explicações, identificando outros condicionantes do BES. Sob essa perspectiva, selecionamos dimensões comumente apontadas na literatura e, a partir daí, passamos ao questionário do survey domiciliar, buscando interseção entre nossas aspirações teórico-conceituais e os dados.

Foram selecionadas variáveis que permitiam observar distinções socioeconômicas e demográficas, e um conjunto específico de variáveis que dialogavam com a literatura, incluindo arranjos familiares, prática de esportes, atividades de lazer e cultura, religião e saúde. Além disso, incorporamos às análises duas dimensões particularmente relevantes para pensar as condições de vida nas favelas brasileiras: a exposição à violência armada e a sensação de insegurança relacionada aos conflitos armados e risco de vitimização.14 14 Uma lista com as variáveis testadas consta no anexo.

Assim, novos modelos de regressão múltipla foram ajustados, incluindo tanto as variáveis socioeconômicas e demográficas como esse conjunto extra de variáveis. Aquelas com coeficientes significativos15 15 Os ajustes utilizaram o procedimento backward (≤ 0.05). foram selecionadas no ajuste de três modelos, para o índice geral de BES/Mansa e os dois subíndices definidos nesse trabalho. Estes modelos finais (Tabela 1) tiveram poder explicativo superior aos elaborados a partir apenas das variáveis socioeconômicas. Para o índice geral, 15,1% da variância foi explicada (contra 6,8% do modelo anterior). Nos modelos para os subíndices o percentual de variância explicada foi de 14,6% (antes 9,2%) e 11,4% (antes 2,7%).

Tabela 1
Modelos de regressão múltipla para explicação do Bem-Estar subjetivo

No que se refere às variáveis demográficas, gênero se manteve como dimensão relevante para explicar variações de BES nos Modelos 7 (do índice geral) e 9 – do subíndice de satisfação com características pessoais e relações interpessoais. Os homens têm maior BES, dialogando com os resultados encontrados por Jivraj e Nazroo (2014)Jivraj, Stephen e James Nazroo. 2014. Determinants of Socioeconomic inequalities in subjective well-being in later life: a cross-country comparison in England and the USA. Quality of Life Research 23 (9): 2545-58. https://doi.org/10.1007/s11136-014-0694-8.
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. As desigualdades de gênero relativas ao BES devem-se, entre outros aspectos, a estereótipos e diferenças de socialização de ambos os sexos. Na dimensão mais objetiva do BES, o gênero não foi significativo.

Já a idade se manteve relevante apenas no subíndice de satisfação com condições objetivas de vida. Quanto mais velhos, maiores os níveis de BES para as condições objetivas (Jivraj e Nazroo 2014Jivraj, Stephen e James Nazroo. 2014. Determinants of Socioeconomic inequalities in subjective well-being in later life: a cross-country comparison in England and the USA. Quality of Life Research 23 (9): 2545-58. https://doi.org/10.1007/s11136-014-0694-8.
https://doi.org/10.1007/s11136-014-0694-...
). Cabe lembrar que os dados se referem às favelas da Maré e o resultado indica que jovens moradores destes territórios tendem a estar mais insatisfeitos com segurança, moradia e situação financeira do que os mais velhos.

As variáveis que indicavam nível de escolaridade e origem territorial dos moradores se mantiveram relevantes apenas no modelo para o índice geral. Maiores níveis de escolaridade implicavam menores níveis de BES, assim como ter nascido na Maré. Embora tais resultados pareçam contraditórios, eles podem responder a mecanismos mais complexos. Uma educação melhor poderia aumentar expectativas de bem-estar, aumentando as chances de que tais expectativas sejam frustradas. Pode representar, também, maior sensibilização e conscientização, um olhar mais crítico sobre a vida.

Os níveis de BES menores dos nascidos na Maré, em relação aos imigrantes, pode responder tanto a características dos primeiros quanto dos segundos. Uma maior familiaridade e vínculo com o território pode se traduzir em um olhar mais criterioso ou esperançoso de melhora que, no limite, geraria, na permanência da precariedade, frustração e insatisfação. Por outro lado, o resultado pode responder a um perfil específico de migrante ou a dinâmicas da própria migração para Maré, como redes de apoio para instalação e oportunidades de trabalho, por exemplo.

Nos três modelos ajustados a renda per capita se manteve relevante, sendo mantidos sentidos e magnitude dos efeitos. Maiores rendimentos mensais per capita estiveram associados a melhores níveis de BES. Estar em um domicílio cuja renda per capita está no 1º quintil, de até 300 reais per capita, implica índices menores. Na outra ponta, estar em um domicílio no 4º quintil, com renda per capita igual ou maior que 1 mil reais, aparece junto com maiores níveis de BES. Todavia, no modelo para satisfação com as relações interpessoais, essa última variável deixou de ser significativa. A maior renda poderia afetar o BES através de um aumento da capacidade de consumo. A explicação econômica, no entanto, parece não explicar o BES nas relações interpessoais.

Em termos de arranjos familiares, o fato de viver com um cônjuge mostrou relação positiva com BES. Tal resultado foi consistente, sendo verificado nos três modelos e resistindo a grande número de controles estatísticos. Viver com cônjuge está associado a maiores níveis de BES. O fato desta variável ser relevante para ambos os subíndices pode indicar que não se trata apenas de uma questão de afetividade e companhia, mas pode também possuir caráter mais objetivo, tendo a ver com apoio e cumplicidade na supervisão dos filhos ou nos cuidados com a casa e tarefas domésticas, por exemplo, além de uma maior comodidade e segurança financeira. Obviamente, outros dados, como a qualidade das relações afetivas, precisariam ser observados. Cabe destacar que morar com os filhos não foi uma variável explicativa relevante.

No campo das relações humanas, as amizades parecem ter uma associação positiva com o BES, sobretudo, com uma dimensão da satisfação relacionada às relações interpessoais. Isso explica por que tal variável foi significativa nos modelos 7 e 9, e não no modelo 8, voltado à percepção de condições de vida objetivas. Ter alguém que se possa dizer um “amigo de verdade” está associado a maiores níveis de BES. Vale frisar que não há qualquer referência à frequência dos encontros. De fato, outra variável que registrava se na última semana a pessoa encontrou algum amigo não foi relevante, mostrando que a dimensão se refere mais a aspectos simbólicos e perceptuais, do que à convivência regular concreta.16 16 Cabe uma distinção entre a variável sobre a satisfação da pessoa em relação ao número e a qualidade de suas amizades – incluída como variável dependente no índice geral de BES. E as variáveis “esteve com algum amigo na última semana” e “possui um amigo de verdade”, testadas como variáveis independentes.

As condições de saúde também estão associadas ao BES. Ter tido nos últimos três meses problemas de saúde física e, sobretudo, de saúde mental, reduz os níveis de BES. Estas variáveis tiveram peso considerável em relação ao tamanho dos efeitos de outras variáveis nos modelos, sendo relevantes, sobretudo, para o subíndice que incluía em sua composição perguntas sobre a satisfação com a saúde. Os padrões de desigualdade em saúde e, por conseguinte, a satisfação com a saúde física e mental, têm relação com o acesso aos bens e serviços de saúde e as políticas sociais.

Na linha do apontado por Cruz et al. (2021a)Cruz, Marcelo Santos, Eliana Sousa Silva, Zivile Jakaite, Miriam Krenzinger, Leandro Valiati e Dalcio Gonçalver. 2021a. Experience of neighbourhood violence and mental distress in Brazilian favelas: a cross-sectional household survey. Lancet Regional Health 4: 1-8. https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100067.
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, as dinâmicas de violência armada recorrentes nas favelas e periferias foram relevantes na compreensão da variação do BES. No artigo, os autores utilizaram índices sintéticos de “exposição à violência comunitária” e medo ou “violência subjetiva”. Aqui, testamos uma variável que indicava se a pessoa esteve em meio a um tiroteio no último ano. Ter presenciado pessoalmente um tiroteio esteve associado à redução do BES nos três modelos, o que mostra que este evento não é tratado de forma aleatória ou corriqueira pelos moradores da Maré, e que vivenciar tal experiência traz consequências emocionais negativas e perenes.

Testamos ainda duas variáveis para tipos diferentes de medo e insegurança. Uma tratava do medo de ser atingido por uma bala perdida, outra do medo de circular na Maré. Medo e percepções de risco tiveram relação negativa com a percepção de bem-estar. Pessoas que tinham medo apresentavam índices mais baixos de BES. Esse padrão foi detectado para o índice geral em relação ao medo de bala perdida, e para o subíndice de condições de vida objetivas, para ambos os tipos de medos. O medo do crime afeta, sobretudo, a satisfação com a segurança e a moradia. Podemos compreender o fato de o medo de bala perdida ter sido significativo para dois modelos, enquanto o medo de circular nas ruas ter sido em apenas um, pela especificidade do “tipo de medo”. O medo retratado de forma mais específica apresentou impacto maior do que um medo mais geral e difuso. Na prática, é clara a existência da relação entre medo e BES.

Finalmente, uma participação frequente em atividades de cultura e lazer está relacionada ao aumento do BES. Essa variável influi, principalmente, sobre a satisfação geral com a vida e com as atividades de lazer, mas também com a coabitação, a satisfação com as pessoas com quem se mora.

Considerações finais

Com área de quase 6 km² e população de mais de 140 mil habitantes, o complexo da Maré é composto por 16 favelas, com contingentes populacionais e históricos de assentamento próprios. Ela configura um caso típico-ideal, bom para pensar estratificação em escala intraurbana, sob a perspectiva de observar desigualdades entre os pobres.

Para pensar padrões do que poderíamos chamar “estratificação de subjetividades” ou os efeitos das desigualdades sobre percepções de bem-estar, analisamos variações nos níveis de bem-estar subjetivo (BES), construto com estrutura multidimensional baseado na satisfação com vários domínios da vida cotidiana.

Os resultados deste estudo mostram que os homens e os que se encontram em uma posição mais privilegiada na dimensão socioeconômica (medida pela escolaridade e pela renda domiciliar per capita) apresentam maior BES na Maré. Viver com o cônjuge, frequentar eventos e ter amigos de verdade também são relevantes para compreender o bem-estar subjetivo no sentido de quanto maior as relações sociais e afetividades, maior o BES. Assim como encontrado por Ribeiro (2015)Ribeiro, Carlos A. C. 2015. Renda, relações sociais e felicidade no brasil. Dados 58 (1): 37-78. https://doi.org/10.1590/00115258201538.
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, a sociabilidade e a percepção dos indivíduos, bem como a renda, explicam o BES da população estudada.

Outro resultado interessante diz respeito à relação entre problemas de saúde física e mental e o BES. As pessoas que disseram ter problemas de saúde foram aquelas que, em média, apresentaram menores índices de BES.

No que diz respeito às variáveis independentes que representam experiências e percepções sobre a violência na Maré, todas apresentaram uma relação na mesma direção, indicando que, quanto maior o medo ou a exposição a tiroteios, menor o BES.

Nossa contribuição está na elucidação de mecanismos que operam na reprodução de desigualdades na percepção de bem-estar e felicidade. Mesmo em contextos de exposição generalizada à pobreza, precariedade urbana e violência armada, variações nesses mecanismos (condições de saúde, relações pessoais e afetivas, exposição à violência e medo) parecem substantivamente relevantes. No limite, o estudo evidencia que o bem-estar social está relacionado à necessidade de políticas públicas e sociais, de saúde, segurança e voltadas para a redução das desigualdades.

  • 2
    Coordenada por Paul Heritage e Eliana Sousa Silva e realizada por People’s Palace Projects do Brasil, Redes da Maré, Queen Mary University of London, Escola de Serviço Social e Instituto de Psiquiatria da UFRJ e Neccult, com apoio do Economic and Social Research Council e Arts and Humanities Research Council do Reino Unido – programa Global Challenges Fund e Arts Council.
  • 3
    Verme, Paolo. 2007. Happiness and inequality aversion worldwide. International conference on comparative development. Indian Statistical Institute, 18-20 dez. 2007. Acessado em 28 ago. 2021, https://www.isid.ac.in/~planning/ComparativeDevelopmentConference.html.
  • 4
    Foram incluídas as seguintes dimensões: trabalho e ocupação, situação financeira, amizades, lazer, moradia, segurança, vida sexual, família, coabitação, saúde física e saúde mental.
  • 5
    Para maiores detalhes sobre a metodologia do survey, ver Ribeiro (2021).
  • 6
    São considerados válidos os casos com pelo menos 9 das 12 questões respondidas.
  • 7
    A classificação das variáveis seguia a seguinte escala: 1. Muito insatisfeito; 2. Insatisfeito; 3. Mais para insatisfeito; 4. Mais ou menos; 5. Mais para satisfeito; 6. Satisfeito; 7. Muito satisfeito.
  • 8
    O Coeficiente Alfa de Cronbach é uma medida utilizada para verificar a confiabilidade ou validade interna de perguntas de questionário (Matthiensen 2010Matthiensen, Alexandre. 2010. Uso do coeficiente Alfa de Cronbach em avaliações por questionários. Embrapa Roraima-Documentos 48 (1-31).). Os valores de α variam de 0 a 1; quanto mais próximo de 1, maior confiabilidade entre os indicadores.
  • 9
    No estudo de Priebe et al. (1999)Priebe, Stefan, Peter Huxley, Susan Knight e Sherrill Evans. 1999. Application and results of the Manchester short assessment of quality of life (Mansa). International journal of social psychiatry 45 (1): 7-12. https://doi.org/10.1177/002076409904500102.
    https://doi.org/10.1177/0020764099045001...
    , no Reino Unido, o alfa de Cronbach foi similar ao da Maré (0,74).
  • 10
    Ver resultados das análises nos Anexos 1 a 4.
  • 11
    Satisfação com ocupação, situação financeira, moradia e segurança compõem as “percepções sobre condições objetivas de vida”. Satisfação com vida sexual, família, coabitação, saúde física e saúde mental compuseram a medida de “relações interpessoais e características pessoais”. A satisfação com a vida como um todo, com as amizades e atividades de lazer não foram consideradas. Os subíndices foram calculados com a soma de seus respectivos itens.
  • 12
    Ver modelos ajustados no Anexo 5. Os ajustes utilizaram o procedimento backward (≤ 0.05).
  • 13
    Estatística R² ajustado.
  • 14
    Uma lista com as variáveis testadas consta no anexo.
  • 15
    Os ajustes utilizaram o procedimento backward (≤ 0.05).
  • 16
    Cabe uma distinção entre a variável sobre a satisfação da pessoa em relação ao número e a qualidade de suas amizades – incluída como variável dependente no índice geral de BES. E as variáveis “esteve com algum amigo na última semana” e “possui um amigo de verdade”, testadas como variáveis independentes.
  • Os textos deste artigo foram revisados pela Poá Comunicação e submetidos para validação do(s) autor(es) antes da publicação.

Referências

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    » https://doi.org/10.1590/0103-335220151807
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Anexos

Anexo 1
Total de variância explicada pelos fatores extraídos na análise fatorial
Anexo 2
Matriz de cargas rotacionadas para os 12 itens do MANSA. Modelo com 2 fatores
Anexo 3
Matriz de cargas rotacionadas para os 12 itens do MANSA. Modelo com 5 fatores
Anexo 4
Lista de Variáveis e estatísticas exploratórias (regressões univariadas)
Anexo 4
Lista de Variáveis e estatísticas exploratórias [continuação] (regressões univariadas)
Anexo 5
Modelos de regressão múltipla para explicação do bem-estar subjetivo. Variáveis socioeconômicas e demográficas

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    14 Set 2021
  • Aceito
    10 Jan 2021
  • Publicado
    03 Nov 2022
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