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A propósito da III Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador

EDITORIAL EDITORIAL

A propósito da III Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador

A data que assinala os vinte anos das primeiras experiências de Atenção em Saúde do Trabalhador na rede de serviços públicos e a realização da III Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (III CNST), em novembro de 2005, ensejam a publicação deste número temático. Ao longo do período pode-se observar um processo lento e sinuoso, com avanços e retrocessos nas formas de atenção à saúde dos trabalhadores. Velhas questões, próprias de condições de trabalho degradantes, persistem e a elas se somam novos problemas decorrentes das transformações no mundo do trabalho em todos os setores produtivos. Hoje, a heterogeneidade das situações de trabalho e de vida se faz mais presente, as diferenças são mais gritantes, a competitividade mais acirrada e a precariedade mais intensa nas relações e nos vínculos. Esse cenário multifacetado de instabilidade e insegurança – em níveis e graus diversos – constitui a tônica dominante para a maioria dos trabalhadores.

Nos últimos vinte anos, o país vem acumulando expressiva produção científica localizada em determinados programas de pós-graduação em Saúde Coletiva e outras áreas de conhecimento. É notável também a produção intelectual procedente do setor dos serviços que vêm implementando ações na área de saúde dos trabalhadores. Apesar desses avanços no âmbito do conhecimento, o referencial do trabalho como dimensão fundamental das condições de vida ainda não é uma questão assumida na prática cotidiana da saúde pública e das políticas de prevenção e promoção da saúde.

Este número temático foi pensado com o intuito de contribuir para o amplo debate que vem acontecendo na preparação da III CNST. Para isso reúne três níveis de contribuição: (a) textos analíticos e críticos, necessários à contextualização do "estado da arte". Esse primeiro grupo de artigos expressa preocupações de caráter geral sobre a dimensão dos problemas de saúde de grandes contingentes da população trabalhadora e as lacunas na incorporação das questões do trabalho na Saúde Pública/Saúde Coletiva; (b) artigos relativos a pesquisas sobre segmentos específicos de trabalhadores, dando-se ênfase a alguns dos mais vulneráveis na sociedade brasileira contemporânea, fazendo contraponto com a ênfase das investigações tradicionais que privilegiaram categorias consideradas mais dinâmicas do ponto de vista do seu poder de transformação social; (c) o terceiro grupo de artigos amplia o marco teórico convencional e sugere novas perspectivas de ação.

Espera-se que o esforço de juntar importantes estudiosos da área possa desencadear reflexões e práticas fundamentais que eles e nós próprios desejamos. O desafio continua a ser o mesmo apontado em 1994 pela II CNST: a necessidade da unificação de órgãos com vistas a uma efetiva política de caráter intersetorial, com participação social. O fato de a III CNST ser convocada por ato conjunto dos ministros da Saúde, do Trabalho e Emprego e da Previdência Social pode representar um começo na busca da superação das resistências que vêm travando o processo de unificação das ações de Estado em Saúde do Trabalhador. Novos atores devem agora ser envolvidos como os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, entre outros. Neste momento de balanço e de celebrações, é importante destacar que as forças inquietas e renovadoras estão vivas, buscando atuar em um horizonte complexo e comprometido com as classes trabalhadoras do país.

Carlos Minayo Gomez

Francisco Antônio de Castro Lacaz

Editores convidados

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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