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A violência verbal em comentários eletrônicos: um estudo discursivo-interacional

A study of hostile language in electronic comments from a discursive-interactional perspective

RESUMO

O artigo analisa a violência verbal em posts publicados em um site de notícias, após campanha eleitoral brasileira de 2014. Para tanto, são introduzidos os conceitos de flaming (Kayani 1998) e discurso polêmico (Amossy 2011). O corpus é analisado com as categorias de Bousfield (2008) para a impolidez na linguagem. Foram identificadas, no corpus, ameaças à face positiva e negativa dos interlocutores, que se textualizam na forma de linguagem radical e polarizada, no âmbito do discurso polêmico. Os achados sugerem que categorias interacionais caracterizam o flaming de forma mais eficiente do que o uso exclusivo de categorias lexicais.

Palavras-chave:
flaming; impolidez na linguagem; discurso polêmico

ABSTRACT

The article focuses on hostile language used in electronic comments, published in a news site, after the Brazilian electoral campaign of 2014. To this end, the concepts of flaming (Kayany 1998) and polemical discourse (Amossy 2011) are introduced. For corpus analysis, Bousfield´s (2008) categories for the study of impoliteness in language are adopted. Negative and positive face threats were identified in the corpus, within the scope of polemical discourse. The research findings suggest that interactional categories stand a better chance towards the characterization of the phenomenon of flaming than the exclusive use of lexical categories.

Key-words:
flaming; impoliteness in language; polemical discourse

Introdução

A linguagem hostil e agressiva, também chamada por alguns de violência verbal ou flaming, tem sido estudada de diferentes perspectivas, no âmbito dos estudos da linguagem. Herring (1993HERRING, S.C. 1993. Gender and democracy in computer-mediated communication. Electronic Journal of communication 3. p. 1-17.) pode ser considerado o primeiro trabalho sobre a relação entre linguagem e agressividade online. Seu ponto de partida são padrões de dominação e submissão entre homens e mulheres em diálogos na web, analisando dois casos de agressão verbal em sites acadêmicos distintos. Sua conclusão é a de que as estratégias linguísticas para a ofensa são semelhantes e independem do site. Culpeper (2011CULPEPER, Jonathan. 2011. Impoliteness: using language to cause offence. Cambridge and NY: Cambridge University Press.) toma o arcabouço teórico de Brown e Levinson (1987BROWN, Penelope; LEVINSON, Stephen C. 1987. Politeness: some universals in language usage. Cambridge: Cambridge University Press.) sobre o fenômeno da polidez como ponto de partida para a análise de aspectos linguísticos da ‘linguagem usada para ofender’. O autor colige um corpus heterogêneo e amplo, mas não se ocupa exclusivamente da linguagem hostil em mídias digitais. O fenômeno do flaming em mídia digital também é estudado por Amossy (2011AMOSSY, Ruth. 2011. La coexistence dans le dissensus, Semen [Online], 31. Disponível em: Disponível em: http://semen.revues.org/9051 . Acessado em outubro de 2014.
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), que argumenta que a linguagem agressiva e polarizada, embora possa ser relacionada a alguns traços da mídia digital, não resulta exclusivamente desta. A autora enfatiza ainda que, embora alguns pesquisadores vejam a violência verbal, do ponto de vista psicossocial, como comportamento não regido por regras (“comportement dénué d´inhibition”), o fenômeno deve ser entendido a partir das características do discurso polêmico.

Este estudo contribui para esta última tradição de pesquisas, ao investigar os traços de linguagem agressiva e hostil em um corpus de fragmentos textuais coletados em um site de notícias. Esse fenômeno já foi estudado em diferentes suportes e mídias: em blogs, comunidades virtuais, jogos virtuais, sites pornográficos e de pedofilia, comentários no YouTube, relações interpessoais online, conflitos em organizações (Lapidot-Lefler; Barak 2012LAPIDOT-LEFLER, Noam; BARAK, Azy. 2012. Effects of anonymity, invisibility, and lack of eye-contact in toxic online disinhibition. Computers in Human Behavior 28, Elsevier. p. 434-443.), mas há, do conhecimento destas pesquisadoras, apenas dois estudos sobre o flaming em discussões sobre política (Hutchens et al 2015HUTCHENS, Miyah; CICCHIRILLO, Vincent; HMIELOWSKI, Jay. 2015. How could you think that?!?! New Media & Society 17 (8), London: Sage. p. 1201-1219.; Amossy 2011AMOSSY, Ruth. 2011. La coexistence dans le dissensus, Semen [Online], 31. Disponível em: Disponível em: http://semen.revues.org/9051 . Acessado em outubro de 2014.
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).

O objetivo do presente artigo é estudar instâncias de flaming em um corpus de textos sobre política, aplicando a esse corpus as categorias de Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. ) para o estudo da linguagem da impolidez. O argumento que subjaz à análise é o de que a mídia digital, por si só, não motiva o uso de linguagem agressiva e hostil.

Para reunir elementos para esta reflexão, adota-se o conceito de flaming de Kayany (1998KAYANY, Joseph. 1998. Contexts of uninhibited online behavior: Flaming in social newsgroups on Usenet. Journal of the American Society for Information Science. (Special Issue: Social Informatics). Volume 49, Issue 12. p. 1135-1141.) e articula-se o conceito de discurso polêmico (Amossy 2011AMOSSY, Ruth. 2011. La coexistence dans le dissensus, Semen [Online], 31. Disponível em: Disponível em: http://semen.revues.org/9051 . Acessado em outubro de 2014.
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) a partir do gênero do discurso conhecido como comentário eletrônico. Com base nestes elementos e na análise empírica de comentários eletrônicos, postados no site de notícias oglobo.com, pretende-se verificar se as categorias que lidam com a impolidez na linguagem dão conta do fenômeno do flaming.

Suporte teórico

Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :1) argumenta que os discursos contendo ilocuções polêmicas (apenas um conjunto delas sendo constituídas de linguagem ofensiva) não são fenômenos marginais. Pelo contrário, em alguns discursos, a polêmica é mais central do que em outros, continua o autor, e cita Culpeper (2008), para alguns exemplos: o discurso do treinamento de oficiais no Exército, das cortes judiciais, da família, o discurso terapêutico, o discurso dos adolescentes, dentre vários outros.

Bousfield argumenta, ainda citando Culpeper (2005), que a impolidez é “parasita do sistema de polidez”, no sentido de que os modelos linguísticos propostos para o estudo da primeira derivam de estudos sobre a polidez na linguagem. O próprio modelo proposto por Bousfield apóia-se fortemente nos estudos da polidez na linguagem de Brown e Levinson (1987BROWN, Penelope; LEVINSON, Stephen C. 1987. Politeness: some universals in language usage. Cambridge: Cambridge University Press.), baseados no conceito de face de Goffman (1971GOFFMAN, Erving. 1971. The presentation of self in everyday life. NY: Anchor Books.). Para este último, face refere-se ao valor social positivo que cada indivíduo reclama para si próprio na interação com o outro.

Para complementar seu quadro teórico analítico, Bousfield adota o conceito de norma social (ou visão leiga da polidez) e as máximas conversacionais de Lakoff (1973LAKOFF, Robin Tolmach. 1973. The logic of politeness; or, minding your P´s and Q´s. Papers from the Ninth Regional Meeting of the Chicago Linguistics Society. Chicago: Department of Linguistics, Chicago University. p. 292-305) e Leech (1983LEECH, Geoffrey. 1983. Principles of pragmatics. London, NY: Longman.). O acréscimo destes últimos autores, segundo Bousfield, justifica-se pelo fato de o modelo de Brown e Levinson ter sido consistentemente criticado, faltando-lhe um viés funcional, que a visão baseada em máximas conversacionais de Lakoff (depois desenvolvida por Leech) preconiza. Quanto ao conceito de norma social, o autor argumenta que é preciso olhar para a forma como os leigos compreendem as regras de conduta social.

Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :72) define a impolidez como o oposto da polidez. Se na polidez tenta-se mitigar atos que constituem ameaças potenciais à face, na impolidez tais atos são intencionalmente gratuitos e polêmicos. Os atos que ameaçam a face são produzidos de forma direta ou indireta, como mostra o quadro abaixo:


Modelo de Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. ) baseado em Culpeper (1996, 2005)

O modelo de Bousfield parte de forma clara de Culpeper (1996, 2005), mas distingue-se deste último por abandonar a distinção, considerada por ele muito problemática, entre estratégias de impolidez negativa ou positiva. Por exemplo, a primeira estratégia de impolidez reconhecida por Bousfield (Desdenhe o outro) pode ser vista como um ataque à face positiva ou negativa do interlocutor. Desdenhar o outro não somente expressa desaprovação (ameaça à sua face positiva, seu desejo de reconhecimento, de ser visto de forma favorável), mas também o impede de interagir com aquele que adota a estratégia (ameaça à face negativa do outro, seu desejo de preservar o seu território e a sua liberdade de ação). Além disso, o autor (2008:99) argumenta que as estratégias de impolidez (negativa e positiva) não costumam ocorrer de forma isolada, mas de forma combinada, o que também contribuiu para sua decisão de abandonar a dicotomia, que lhe parece insustentável (Bousfield 2008:143). Neste texto, no entanto, os termos ‘ameaça à face positiva’ ou ‘negativa’ serão mantidos, apenas para facilidade na apresentação dos resultados da pesquisa.

Para fechar o quadro teórico, releva notar que Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :73) argumenta que, para que haja impolidez, a intenção do locutor de ofender (ameaçar ou causar danos à face) precisa ser compreendida pelo interlocutor. Neste sentido, o autor acompanha Culpeper (2011CULPEPER, Jonathan. 2011. Impoliteness: using language to cause offence. Cambridge and NY: Cambridge University Press.), que propõe duas condições necessárias para a ocorrência de ofensa verbal: 1) a linguagem deve estar em conflito com as expectativas (baseadas em normas sociais) do interlocutor, em relação à forma como a linguagem lhe é endereçada; 2) a linguagem deve produzir, pelo menos junto ao interlocutor direto, o efeito perlocucionário de ofensa (ou ter consequências emocionais negativas).

Observa-se, ainda, que as percepções de ofensa dependem do contexto: aquilo que é considerado ofensivo, para determinado interlocutor, em certa situação, pode não ser percebido da mesma forma em situação distinta. Para Bousfield, interessa aos estudos da linguagem não a impolidez acidental, mas aquela estratégica ou instrumental, que realiza uma função específica.

Um aspecto importante do trabalho de Bousfield e que o distingue, também, de modelos anteriores (inclusive Culpeper 1996; 2005) é a sua atenção para aspectos analíticos voltados para a forma como a impolidez é negociada no discurso (entendido como unidade supra-sentencial) e não meramente sua ocorrência em enunciados isolados, o que permite descrever o seu modelo como mais sensível ao contexto. No entanto, esta dimensão do trabalho de Bousfield está fora do escopo deste artigo.

Revisão da literatura sobre flaming

O’Sullivan e Flanagin (2003O’SULLIVAN, Patrick; FLANAGIN, Andrew. 2003. Reconceptualizing ‘flaming’ and other problematic messages. New Media and Society, 5(1): 69-94. Disponível em: Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.134.9223&rep=rep1&type=pdf . Acessado em janeiro de 2015.
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) indicam que o termo flaming tem origem no discurso leigo de comunidades virtuais, com o sentido de um comportamento verbal negativo, com o poder metafórico de incendiar um debate, ou “fritar” um internauta.

O fenômeno do flaming, ou linguagem usada intencionalmente para ofender, tem sido estudado em diversas abordagens, desde a área dos estudos da comunicação e da psicologia social, até a área dos estudos da linguagem.

Jane (2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.) é autora de um estudo na área da comunicação social, que aponta três tendências (ou ”ondas sucessivas”) nas pesquisas, que se desenvolvem ao longo dos últimos trinta anos. Na primeira onda de estudos, buscou-se responder à questão se o flaming é o resultado das propriedades das mídias digitais ou motivado pelos contextos sociais em que ocorre (Lea et al. 1992LEA, Martin; O’SHEA, Tim; FUNG, Pat; SPEARS, Russell. 1992. ‘Flaming’ in computer-mediated communication: A recursive review. In: LEA, M. (ed.). Contexts of Computer-Mediated Communication. p. 89-112. New York: Harvester Wheatsheaf. Disponível em: Disponível em: http://martinlea.com/contributed-flaming-computer-mediated-communication-observations-explanations-implications / Acessado em novembro de 2014.
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; Kiesler et al. 1985KIESLER, Sara et al. 1985. Affect in computer-mediated communication: an experiment in synchronous terminal-to-trminal discussion. Human computer interaction 1. p. 77-104.; Spears et al. 1992SPEARS, Russell; LEA, Martin. 1992. Social influence and the influence of the ‘social’ in computer-mediated communication. In: LEA, M. (ed.). Contexts of computer-mediated communication. London: Harvester Wheatsheaf. p. 30-65.). Nestas pesquisas, adotou-se uma concepção muito ampla do fenômeno, o que levou a críticas e a uma nova onda de estudos, com foco na definição rigorosa de seu objeto de estudo e em questões de conceituação e delimitação do fenômeno, como por exemplo, a possibilidade de se identificar o flaming; os instrumentos para classificá-lo e mensurar a sua intensidade (Turnage 2007TURNAGE, Anna K. 2007. Email flaming behaviors and organizational conflict. Journal of Computer-Mediated Communication 13, International Communication Association. p. 43-59.; Kaufer 2000KAUFER, David. 2000. Flaming: A white paper. Carnegie Mellon, Department of English.; Thompsen; Foulger 1996THOMPSEN, Phillip; FOULGER, Davies. 1996. Effects of pictographs and quoting on flaming in electronic mail. Computers in Human Behavior, 12. p. 225-243.; O´Sullivan; Flanagin 2003). Finalmente, na terceira onda, redefine-se o termo flaming, em vista das dificuldades encontradas pelas pesquisas anteriores e da ausência de recursos conceituais, metodológicos e epistemológicos na sua teorização (Lange 2006LANGE, Patricia G. 2006. What is your claim to flame? First Monday volume 11, number 9. The University of Illinois at Chicago. Disponível em: Disponível em: http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/1393/1311 . Acessado em maio de 2016.
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; Hunsinger et al. 2010HUNSINGER, Jeremy; KLASTRUP, Lisbeth; ALLEN, Matthew M. 2010. International Handbook of Internet research. London, New York: Springer.; Dutton 2013DUTTON, William H. 2013. Internet studies: The foundations of a transformative field. In: DUTTON, William H. (ed.). The Oxford handbook of internet studies. Oxford: Oxford University Press. p. 1-26.; Consalvo; Ess 2011CONSALVO, Mia; ESS, Charles 2011. The handbook of internet studies. West Sussex: Wiley-Blackwell.).

Representativo da chamada “primeira onda” de pesquisas, o estudo de Spears e Lea (1992SPEARS, Russell; LEA, Martin. 1992. Social influence and the influence of the ‘social’ in computer-mediated communication. In: LEA, M. (ed.). Contexts of computer-mediated communication. London: Harvester Wheatsheaf. p. 30-65.) ocupa-se dos fatores que motivam o comportamento descrito como flaming. Para os autores, a anonimidade proporcionada pela interação online leva ao que se convencionou chamar de “efeito de perda de inibição” e a uma sensação de impunidade por parte dos indivíduos em relação aos seus atos. Argumentam ainda os autores que os indivíduos perdem o seu senso de identidade pessoal em uma interação online (descrito como o efeito de des-individualização, ou despersonalização), o que resulta em maior apoio na identidade social: as marcas de identidade social recuperadas em uma interação online são usadas para categorizar os outros em grupos com os quais os participantes se identificam (in-groups) e grupos com os quais não se identificam (out-groups). Nos termos de Kiesler et al. (1985KIESLER, Sara et al. 1985. Affect in computer-mediated communication: an experiment in synchronous terminal-to-trminal discussion. Human computer interaction 1. p. 77-104.:99 apudJane 2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.:67), observa-se, nestes casos, uma “submersão [do indivíduo] no grupo ou na multidão”.

Além dos efeitos de despersonalização e des-individualização, a interação via mídia digital (ou IMC, interação mediada por computador) não incorpora os traços não-verbais e contextuais da interação face a face, tais como as expressões faciais, a gesticulação, o tom de voz, indicadores de posição social e status, dentre outros fatores da situação imediata em que se dá a interação. Esta redução de recursos expressivos (ou “fraqueza dramatúrgica das mensagens”, segundo Kiesler et al. 1984 apudJane 2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.:67) levaria à busca de elementos para compensar aquela falta, na expressão verbal da emoção, indiretamente motivando um impacto reduzido das normas sociais que regulam as interações verbais.

Há vários problemas analíticos na conceituação do flaming, pois este é um fenômeno complexo, que depende de normas culturais, locais e interacionais, que variam no tempo e têm formas distintas em função de seus suportes interacionais. A interpretação de um enunciado contendo linguagem ofensiva depende, em última análise, da compreensão de um indivíduo, em particular, das normas operando em dada troca interacional. Em vista destas dificuldades, vários estudos com foco em métodos de pesquisa foram desenvolvidos, em uma segunda onda de estudos, inclusive do ponto de vista da recepção de flames. Nesta segunda onda, discutiu-se até que ponto aquilo que é considerado um flame por um analista seria também visto como linguagem hostil e agressiva por seu destinatário.

Thompson & Foulger (1996) é uma pesquisa representativa desta segunda onda de pesquisas sobre o flaming: em estudo de caráter experimental, que busca identificar o grau de “intensidade socioemocional” necessário para transformar um flame em linguagem hostil e agressiva, os autores ocupam-se da recepção de flames e concluem que os mesmos são percebidos como hostis e agressivos quando expressam antagonismo em relação a outro participante de uma interação via mídia digital. Este é um aspecto importante dos flames, que será retomado adiante. Interessa apontar ainda que a pesquisa de Thompsen e Foulger (1996THOMPSEN, Phillip; FOULGER, Davies. 1996. Effects of pictographs and quoting on flaming in electronic mail. Computers in Human Behavior, 12. p. 225-243.) levanta o problema das funções dos flames: estes nem sempre expressam hostilidade, podendo ser usados em interações com pares, para fins de reforçar o senso de identidade de um grupo específico, por pura diversão, dentre várias outras possibilidades.

O’Sullivan e Flanagin (2003) é outro estudo relevante nesta segunda onda de pesquisa, voltada para a delimitação do fenômeno (Jane 2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.:68). Os autores problematizam a vinculação do flaming à esfera digital e questionam a visão do fenômeno como “negativo e destrutivo”. Para os autores, os flames são comunicações nas quais há intenção de violar as normas de interação social e em que tanto o destinatário quanto uma terceira pessoa percebem a violação daquelas normas. O quadro analítico proposto pelos autores propõe apreciação dos flames de três perspectivas (daquela do produtor da mensagem, da do destinatário e da de um terceiro) ao longo de um contínuo, que varia em função da interpretação da mensagem como mais ou menos apropriada. A ser destacado, do estudo dos autores, é a importância de se levar em consideração aspectos interacionais no estudo de flaming, sob o risco de se negligenciar a ocorrência de normas de interação aceitas no interior de determinado grupo social (“intra-group norms”).

Lange (2006LANGE, Patricia G. 2006. What is your claim to flame? First Monday volume 11, number 9. The University of Illinois at Chicago. Disponível em: Disponível em: http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/1393/1311 . Acessado em maio de 2016.
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) representa a terceira onda de pesquisas: a autora questiona a preocupação excessiva com a delimitação do fenômeno e sugere que a comunidade científica se ocupe das relações entre os flames e as alegações de flames, para entender como os grupos “estabelecem, negociam e ameaçam tanto as normas culturais quanto as micro-hierarquias sociais” (Jane 2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.:69). O risco que se corre, com a preocupação metodológica excessiva, é o de incorrer em erro na codificação de um flame (designar algo como um flame quando, na verdade, ele não funciona desta forma, em certa comunidade). É melhor adotar-se uma definição mais ampla de flame, continua a autora, para evitar a sub-codificação do fenômeno.

Nesta pesquisa, adota-se conceituação de Kayany (1998KAYANY, Joseph. 1998. Contexts of uninhibited online behavior: Flaming in social newsgroups on Usenet. Journal of the American Society for Information Science. (Special Issue: Social Informatics). Volume 49, Issue 12. p. 1135-1141.), que define uma ocorrência de flaming, ou um flame, como “uma expressão de hostilidade, livre de inibições, tal como xingar, injuriar, ridicularizar, lançar insultos a outra pessoa, seu caráter, religião, raça, inteligência, e habilidades física ou mental”. Como indica a seção de metodologia adiante, nesta pesquisa, aspectos textuais ou lexicais são levados em consideração na identificação de flames, como o uso de letras maiúsculas, símbolos e pontuação; termos ou enunciados sarcásticos, negativos, cínicos ou contendo insultos; xingamentos (Lapidot-Leffer; Barak 2012). A partir destas marcas textuais, será usado o quadro analítico de Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. ), centrado no conceito de face, para a identificação de flames no corpus. Antes, no entanto, de proceder à análise, é preciso indicar a ordem do discurso à qual os comentários eletrônicos pertencem, tema da próxima seção.

Comentários eletrônicos: discurso político ou discurso midiático?

Para Pinto (2012PINTO, Céli Regina. 2012. Elementos para uma análise de discurso político. Disponível em Disponível em http://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/viewFile/821/605 . Acessado em: 6.dez.2012.
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:79), o discurso político é geralmente reconhecido com base em seus lugares de enunciação tradicionais, ligados a figuras públicas, políticos ou representantes do Estado (em pronunciamentos públicos, ou falas/textos em circulação no âmbito local, nacional, ou internacional, como sessões no parlamento, campanhas eleitorais, discursos oficiais, entrevistas). A mesma autora adverte, no entanto, que o discurso político hoje abrange novos espaços de enunciação, que colocam em cena não somente os emissores tradicionais do discurso político, mas também seus receptores, que encontram espaço na mídia para se pronunciar a respeito de temas de seu interesse. Os comentários eletrônicos poderiam, assim, ser vistos como novos espaços de articulação do discurso político.

Nesta pesquisa, no entanto, os comentários eletrônicos não são classificados no âmbito do discurso político, mas no do discurso midiático. Segundo Van Dijk (1997VAN DIJK, Teun. 1997. What is political discourse analysis? Belgian Journal of Linguistics, vol. 11, issue 1. p. 11-52.:15), a categorização de determinado discurso como político depende de sua funcionalidade sobre processos políticos, ou de o mesmo ter influência, direta ou indireta, sobre determinado processo político. Como os comentários eletrônicos não são diretamente funcionais nos processos políticos, ou seja, não são discursos produzidos em fóruns políticos, com repercussões sobre aqueles processos, eles são tratados como instanciações do discurso midiático (embora seu tema seja política). A seguir, são trazidas considerações sobre o comentário eletrônico como um gênero e aspectos de seu funcionamento discursivo.

O comentário eletrônico como um gênero

Os comentários eletrônicos (ou posts) em sites de notícias compartilham com as cartas do leitor, no jornalismo impresso, o fato de serem espaços bem demarcados, que não obedecem aos princípios e às regras do jornalismo (Balocco 2010BALOCCO, Anna Elizabeth. 2010. O sistema do engajamento aplicado a espaços opinativos na mídia escrita. In: VIAN JR., Orlando (ed.). A linguagem da avaliação em língua portuguesa: estudos sistêmicos com base no Sistema de Avaliatividade. São Carlos: Pedro & João Editores, v.1. p. 41-55.). São textos opinativos, em que os locutores expressam seus pontos de vista em relação a temas veiculados no jornal. Por outro lado, diferentemente do que ocorre com as cartas do leitor em jornais, nos comentários eletrônicos em sites de notícias tudo pode ser dito e publicado, pois, em geral, eles não são editados (embora haja notícias de sites que adotam a figura do moderador da sessão de comentários). Além disso, existe, nos comentários eletrônicos, a possibilidade de interação em tempo real com outros internautas.

Os comentários eletrônicos são publicados em diferentes sites da internet; há comentários em blogs, em sites de notícias, ou em redes sociais, como o Facebook, dentre várias outras possibilidades. O presente trabalho centra-se unicamente na análise de comentários em sites de notícias, com o objetivo de levantar questões relevantes para os estudos da linguagem e do discurso. Aqui adota-se o termo ‘gênero’ para os comentários ou posts, no entendimento de que os mesmos compartilham, pelo menos, os seguintes traços: fazem referência a um texto anterior; são de responsabilidade de um usuário; são textos opinativos que ocorrem em espaços delimitados no jornalismo digital, ou seja, são textos que sofrem restrições impostas pelo software (tamanho); são assim denominados (‘comentários’) pela própria mídia digital.

Na seção a seguir, aborda-se a forma como o gênero ‘comentário eletrônico em site de notícias’ textualiza-se no corpus.

Discurso polêmico

Para Amossy (2011AMOSSY, Ruth. 2011. La coexistence dans le dissensus, Semen [Online], 31. Disponível em: Disponível em: http://semen.revues.org/9051 . Acessado em outubro de 2014.
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), o discurso polêmico é uma prática discursiva destinada a destruir o adversário. Segundo a pesquisadora, a polêmica pode ou não se expressar em linguagem agressiva e violenta (insultos, injúrias, xingamentos, desqualificação do outro), mas caracteriza-se necessariamente pela polarização extrema e pela confrontação radical de posições antagonistas.

Thompsen e Foulger (apudJane 2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.), em pesquisa com foco na recepção de flames, relatam a percepção de seus sujeitos de pesquisa de que a linguagem agressiva e hostil por eles estudada é percebida como um flame exclusivamente quando expressa antagonismo em relação a outro participante do evento discursivo.

O discurso polêmico, nesta pesquisa, é entendido como uma forma de textualização discursiva, em que há polarização entre os participantes de um evento discursivo, identificada através da existência de um contra-discurso1 1 . As noções de ‘discurso’ e ‘contra-discurso’ são de Fairclough (2003:124), que argumenta que todos os enunciados podem ser posicionados ideologicamente: “discursos diferentes representam diferentes perspectivas sobre o mundo, e são associados com as diferentes relações que as pessoas têm com o mundo, que, por sua vez, dependem de sua posição no mundo, de suas identidades pessoais e sociais, e das relações sociais que estabelecem com outras pessoas”. Para ‘contra-discurso’, ou ‘discurso protagonista’ e ‘discurso antagonista’, veja página 126. antagonista e de estratégias discursivas que visam desconstruir o adversário (por exemplo, através de argumentos ad personam2 2 . Cf. Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996:125): “(…) argumento ad personam, um ataque contra a pessoa do adversário, que visa, essencialmente, a desqualificá-lo”. , que atacam a pessoa e não o discurso que ela sustenta). Diferentemente do discurso argumentativo, que busca a adesão do interlocutor e o seu envolvimento (Perelman; Olbrechts-Tyteca 1996PERELMAN, Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. 1996. Tratado da argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes.:61), o discurso polêmico tem como objetivo distanciar-se de seu interlocutor, visto como um adversário.

Amossy (2011AMOSSY, Ruth. 2011. La coexistence dans le dissensus, Semen [Online], 31. Disponível em: Disponível em: http://semen.revues.org/9051 . Acessado em outubro de 2014.
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) questiona a noção de que qualquer uso de linguagem ofensiva, ou contendo injúrias, pode ser incluído no âmbito do flaming. Para a autora, é preciso distinguir entre o uso gratuito de linguagem ofensiva e o uso de linguagem ofensiva no interior de um quadro de conflito. No primeiro caso, observa-se a transgressão de normas de conduta verbal (facilmente caracterizada como comportamento livre de inibições e uma violência verbal sem propósito e sem direção). No segundo caso, no entanto, a violência verbal acomoda-se, não a uma situação particular de interação problemática (O’Sullivan; Flanagin 2003), mas a um quadro mais amplo de negociação de sentidos tensa, que se desenvolve a partir de um contexto de “trocas agonísticas” (Amossy 2011), ou situadas num ambiente de dissenso.

Neste estudo de caso, adota-se a mesma perspectiva discursiva de Amossy, de abordar o flaming no âmbito do discurso polêmico, caracterizado pela polarização e pelos ataques abusivos contra um indivíduo. A ocorrência de flames, neste contexto, parece ser a norma, mais do que a exceção: os flames são previsíveis (eles obedecem a regras tácitas); não levam à interrupção da interação; constituem, antes, uma rotina interacional, cuja função será apontada neste estudo.

Na seção a seguir, são delineados os procedimentos metodológicos para o estudo da linguagem agressiva e polarizada dos comentários, que forneceram elementos para a caracterização dos posts como uma instanciação do discurso polêmico.

Metodologia

A coleta de textos para o corpus de estudo aconteceu durante o período pós-eleitoral: a primeira coleta de comentários foi feita, no site de notícias oglobo.com, em 10/08/2015, após notícia sobre a participação do senador Aécio Neves em evento público, em que convoca os brasileiros a aderirem à manifestação contra a então presidente Dilma Roussef. A segunda coleta foi em 11/08/2015, após notícia sobre o presidente Lula e a Marcha das Margaridas, convocada para dar apoio à presidente.

Embora o site oglobo.com seja de domínio público¸ decidiu-se por anonimizar os comentários publicados, indicando-se apenas as iniciais dos nomes dos internautas. Alguns internautas usam apelidos em suas postagens, outros usam seus nomes completos, ou apenas os seus nomes de batismo.

Os fragmentos retirados do corpus são identificados, também, por sua ocorrência após a primeira notícia (SC1, subcorpus 1) ou após a segunda notícia (SC2, subcorpus 2). Os comentários são apresentados sem revisão, da forma como publicados, com erros de gramática, de pontuação, de ortografia, dentre vários outros.

Tabela 1 -
Perfil do corpus de estudo

A relação entre o número de participantes e o de comentários atesta a densidade das trocas interacionais no site de notícias, ou seja, os participantes postam mais de uma vez e, além de postarem seus comentários, respondem a outros internautas, ou os atacam. Dos 67 comentários no subcorpus 1, 43 (64%) contêm flaming (insultos, xingamentos, etc.). Dos 29 comentários no subcorpus 2, 11 (37%) contêm flaming.

No que diz respeito ao tratamento dos dados, a análise foi manual e qualitativa, tendo sido adotados os seguintes procedimentos. As categorias de Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. ) para o estudo da impolidez na linguagem, apresentadas em seção anterior, foram aplicadas ao corpus, depois de identificados os enunciados contendo flaming.

Na identificação de enunciados contendo linguagem agressiva e hostil, foram usados critérios exclusivamente lexicais. Em primeiro lugar, observou-se a ocorrência de léxico marcadamente valorativo, em expressão cuja função é injuriar, ou ofender a honra: “vai sair ladrão e entrar outro ladrão”; “bando de oportunistas”; “Srs. Petistas, integrantes da Organização Criminosa vulgo PT”; “Clepto Collor”.

Foi igualmente identificado o léxico marcadamente valorativo, em expressão cuja função é o insulto pessoal, como nos exemplos: “são muito otários esses petistas”; “bando de desocupado com bolsa”; “os baderneiros”; “Aécio Neves e Eduardo Cunha, Os achacadores do Brasil”; “UNE, esses vaggabundos marginais”.

Observa-se uma área de indeterminação entre injúrias (ou ofensas à honra) e insultos pessoais. No caso desta pesquisa, as áreas de indeterminação entre ofensa à honra (por exemplo, “vaggabundos marginais”) e insulto pessoal (“bando de oportunistas”) não prejudicam os seus resultados, pois, no quadro analítico de Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. ), tanto uma quanto outra são categorizadas como ameaças à face do interlocutor.

Foram identificados também xingamentos, como nos seguintes exemplos: “VAGA BONDS”; “fodam-se a Dilma, o Lula e principalmente os eleitores e simpatizantes da Organização Criminosa vulgo PT”; “a corjjja de filhos da puta”; “um zé buc.. desses”; “d[esses] comentaristas chupadores de rôla”.

E, finalmente, foram identificados enunciados que não contêm léxico valorativo explícito, mas que desqualificam o outro, podendo ser tratados como instâncias de impolidez. Nestes casos, o critério na identificação de um enunciado portador de flaming é encontrado nas categorias de Bousfield. Por exemplo, em “[Glauber] brigou com seu garotão”, o internauta é alvo de ofensa, de teor marcadamente homofóbico, através da estratégia de “desdenhar o outro, atacando sua face positiva”.

Levantamento de dados

Predominam, no corpus, os ataques à face positiva do interlocutor, através de várias estratégias, que serão exemplificadas a seguir. A primeira delas é ofender o seu interlocutor, usando termos derrogatórios (injúrias, insultos):

G • há 3 horas (SC1)

X A, dizer que eu defendo o Lula é a prova de seu retardo mental. Faça o seguinte: fique de quatro pastando enquanto um jumento TI cobre por trás.

A F • há 3 horas (SC1)

Ê COM UM DETALHE.... ESSE GLAUBER COMEÇOU CEDO HOJE..... A MULHER DEVE TER COLOCADO ELE PRA FORA DA CAMA ...

G • há 3 horas (SC1)

Múmia de extrema direita, viúva da dentadura, digo, ditadura. Todas as mehdas feitas pelo PT não apagam as mehdas feitas pela direitalha golpista.

Observa-se que as ofensas são de caráter sexual (muito comuns, no corpus), nos dois primeiros casos, e de natureza ideológica (“múmia de extrema direita”), no terceiro enunciado. Mas há também uma ofensa pessoal, no primeiro excerto (“prova de seu retardo mental”).

Nestes exemplos, os internautas interagem em tempo real e ofendem-se, mutuamente, de forma direta. No entanto, podem ser considerados usos de impolidez enunciados em que os internautas não se dirigem a seus interlocutores, mas fazem comentários ofensivos sobre terceiros. Uma estratégia muito comum, nestes casos, é o uso de linguagem tabu (uso de palavrões ou de linguagem abusiva, expressando opiniões fortes, opostas à de seu interlocutor):

I P A • há 2 horas (SC1)

Olha só a cara de cachacei.. desse sujeito. Como pode um zé buc.. desses, ter tanta importância nesse país? Um país com 200 milhões de habitantes? Um povo que vota no Collor, no Renan, no Maluf ... Todo sofrimento para esses eleitores ainda é pouco.

S R • há 2 horas (SC1)

OLHEM A CARA DE D.E.S.E.S.P.E.R.O DESSE VERME. Hilário.

Em exemplos como estes, não há troca direta entre os internautas. Os xingamentos, os palavrões, são atribuídos a terceiros (nos exemplos acima, ao ex-presidente Lula); no entanto, as ofensas são dirigidas a qualquer outro internauta visitando o site, com posições diferentes daquelas de quem faz a postagem. É um leitor imaginado, de posição ideológica (contra ou a favor da presidente Dilma) distinta da do internauta.

Para Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :138), para que os palavrões sejam considerados ofensivos, eles não precisam endereçar-se ao interlocutor, ou mesmo ser usados para dar ênfase a uma estratégia de impolidez dirigida ao interlocutor. O uso de palavrões, ou quaisquer outras formas de expressão consideradas tabu, pode ser ofensivo, nestes casos, pois é um uso de linguagem que causa desconforto àqueles que a ouvem.

No entanto, continua o autor, a questão da intenção de ofender deve ser problematizada. Nesta pesquisa, depreende-se a natureza ofensiva da linguagem no próprio texto que circunda o flaming: os internautas têm posições antagônicas, no interior de um quadro de dissenso, e ofendem seus interlocutores quando ofendem terceiros alinhados às suas posições. Isto fica claro em enunciados como o que segue:

J W • há 1 hora (SC2)

Senhores Petistas única palavra de consolo do fundo do meu coração é FO DAM-SEEEEEEEEEEEEEEEE a Dilma, o Lula e PRINCIPALMENTE os eleitores e simpatizantes do PT, Ex-tesoureiro do PT visitou sede da Andrade Gutierrez 53 vezes em sete anos, diz MPF, e ainda tem idio/ta que quer defender esses ladrões do PT.

Neste enunciado, a linguagem abusiva (“fodam-se”) é dirigida a terceiros (à ex-presidente Dilma, ao ex-presidente Lula, além de a “simpatizantes do PT”), mas o enunciado é claramente endereçado. Através do uso do vocativo “Senhores Petistas”, dá-se consistência, no discurso, ao interlocutor imaginado do internauta. Ele ofende, não um interlocutor especificamente, mas todos aqueles (“senhores petistas”) que figuram no contra discurso antagonista.

Tanto no caso de ilocuções endereçadas a interlocutores específicos, quanto no caso de ilocuções endereçadas a um leitor imaginado, localizado no contra discurso antagonista, os enunciados ofensivos ameaçam a face positiva do interlocutor, ou seja, o seu desejo de reconhecimento, de ser visto de forma favorável. Mas foram observadas também ameaças à face negativa do interlocutor (seu desejo de preservar o seu território, sua liberdade de ação e permanecer livre de imposições).

Várias estratégias são usadas nos ataques à face negativa do interlocutor. A primeira delas é amedrontar seu interlocutor, instilando a crença de que ações prejudiciais a ele irão acontecer:

M V • há 3 horas (SC2)

É nessa hora que eu gostaria que surgisse no Brasil um novo Hitler para colocar diante de um pelotão de fuzilamento toda essa turma do PT (Dies ist, wenn ich in Brasilien entstanden wünschen eine neue Hitler vor einem Erschießungskommando diese ganze Klasse von PT setzen)

Neste comentário, a internauta mobiliza os medos de seus antagonistas através da referência a Hitler e ao pelotão de fuzilamento. Como forma de exacerbar sua ameaça, a internauta repete-a em alemão, como se a adoção daquela língua tivesse o poder mágico de realizar a ameaça. Também aqui o comentário é codificado em relação a um terceiro (“essa turma do PT”) e não endereçada diretamente a um interlocutor, mas o fato de coocorrer com comentários de internautas em posição ideológica claramente contrária à da internauta é evidência de que há intenção de ofender.

Outra estratégia de ameaça à face negativa do interlocutor é condescender, ou ridicularizar seu interlocutor - enfatizando o seu próprio poder, ou através do uso de diminutivos, ou ainda demonstrando desprezo, diminuindo o outro, ou não levando o outro a sério:

M F • há 3 horas (SC2)

Incrivel, ele foi no encontro dos senadores com a presidenta? Não. Mas na passeata vai. Né? Olha trabalhar que é bom ninguem quer. Mas fica de prosa contra o pais todo. Só um detalhe: O PT é uma droga, o Psdb idem, quem está ao lado ou atra da Dilma idem. O mais importante nisso que todos desastras delas e imperfeições adiministrativas. Ninguem pode meter o dedo na cara dela e dizer você é ladra. Agora isso eu não tenho certeza dos que querem o lugar dela e é muita gente. Acorda Brasil acorda.

A ofensa inicial (“vai na passeata mas não vai ao encontro dos senadores”) é dirigida ao senador Aécio Neves, com o sentido de que ele não deve ser levado a sério. Este sentido é reforçado pela expressão “trabalhar que é bom ninguém quer”, uma ofensa de caráter mais geral, haja vista o pronome indefinido (“ninguém quer trabalhar”), que se aplica tanto ao senador quanto a qualquer outro indivíduo que participe de passeata. Prova de que há também outro destinatário para o enunciado (todo aquele que não se alinha às posições do próprio internauta) fica evidente no último enunciado: “Acorda Brasil acorda.” A convocação dirigida ao país é, na verdade, uma ameaça à face negativa dos leitores da notícia, através da estratégia “Ameace/amedronte”: instile a crença de que o espaço do outro (literal ou metafórico) pode ser invadido.

No caso desta última ocorrência, a invasão de espaço é metafórica, entendendo-se que certas rotinas interacionais (ordens, perguntas de foro íntimo, proibições) são admitidas apenas quando a relação entre os participantes discursivos é próxima, o que não é o caso aqui. Em “Acorda Brasil acorda”, o internauta dá ordens a um interlocutor indefinido, recuperado na metonímia ‘Brasil’, que tem como referente os brasileiros em geral. No exemplo a seguir, observa-se a mesma estratégia:

F F D • há 4 horas (SC2)

Senador Aécio, desça do palanque, desde que terminou as eleições, você não faz outra coisa há não ser querer derrubar um governo eleito legitimante pelo povo brasileiro, se foi estelionato eleitoral, quem vai cobrar é o povo brasileiro nas próximas eleições, não queira ser o salvador da pátria, apenas não seja um irresponsável, apoiando manifestações contra um governo que está passado pela uma crise econômica e politica, TODA MANIFESTAÇÃO É JUSTA DESDE QUE SEJA PARA PROTESTAR E NÃO PRA DA GOLPE

A ordem para o senador “descer do palanque” caracteriza-se como uma ameaça à sua face negativa, através da mesma estratégia de invadir o espaço do outro. Acresce a esta ameaça à face negativa do senador uma ameaça à sua face positiva, através da estratégia de xingar o outro, usando termos derrogatórios: “não queira ser o salvador da pátria”, “não seja um irresponsável”.

Outra possibilidade de classificação aqui, em relação ao mesmo exemplo, seria entender que o comentário realiza a estratégia “force a mudança de papel [de seu interlocutor]” (Bousfield 2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :131)3 3 . Na verdade, esta é uma estratégia de Culpeper (1996), que é citada por Bousfield (2008:131), mas não está incluída em seu modelo, sob o mesmo rótulo. . Em “Senador Aécio, desça do palanque”, a estratégia funciona ao convocar o senador a sair de um papel social (de candidato a presidente) e assumir outro (de senador da República). Trata-se de uma ameaça à face negativa do senador, pois invade o seu território, a sua liberdade de ação; ao mesmo tempo, funciona como uma ameaça à face positiva do senador, pois representa uma crítica à sua atuação “no palanque”. A dupla ameaça (à face negativa e positiva) é frequente no corpus, como mostra o exemplo a seguir:

A F • há 16 horas (SC2)

O que cabe ao PSDB já “cabeu”! Como o Vasco da Gama, um “vice”, nada mais, na última eleição. No mais, é o tradicional “jus esperniandi” de quem PERDEU A ELEIÇÃO POR MAIS DE 3 MILHÕES DE3 VOTOS. Pedir outra eleição é válido. Vai ter outra mesmo, mas no prazo constitucional. Golpe de mão, só na construção de aeroporto em terras de “parentes”. Para Miami já, “pray-boy” capiau!

A ameaça à face negativa mais uma vez traduz-se em um enunciado com uma ordem (“para Miami, já”), que ameaça a liberdade de ação do senador. E o léxico valorativo (““pray-boy” capiau”) representa uma ameaça à face positiva do senador, além do uso da palavra “Miami”, que tem juízo de valor implícito, negativo.

Mais uma vez é preciso lidar com a dificuldade analítica de um quadro que tem como condição necessária para a impolidez o reconhecimento, por parte do interlocutor, da natureza ofensiva do enunciado. O que justifica o reconhecimento destas ilocuções como ofensivas é que as mesmas buscam, intencionalmente, causar danos à face do outro. Ainda que este outro seja um terceiro, o dano à sua face (positiva ou negativa) é um dano à face daqueles que se alinham a ele, naquela faixa do espectro ideológico. Estes enunciados (que não ofendem diretamente seus interlocutores, mas terceiros) poderiam, em princípio, ser considerados “ameaças incidentais” à face, segundo proposta de Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :68).

O autor observa que as ofensas incidentais ocorrem quando há efeitos não-planejados de uma ação e dá como exemplo o questionamento, por parte de um indivíduo, de uma multa de trânsito. Quando resiste a aceitar a multa, o indivíduo ameaça a face do policial de trânsito, colocando em dúvida sua autoridade para penalizá-lo. É exatamente por esta percepção de que sua ilocução é uma ameaça potencial à face do policial que o indivíduo usa várias formas linguísticas para amenizar o impacto de seu comentário.

No caso dos comentários com ofensas a terceiros, aqui em discussão, as ameaças são intencionais, em primeiro lugar, tanto à face do terceiro quanto à daqueles que com ele se alinham, no espectro ideológico, visto tratar-se do discurso polêmico. Em segundo lugar, elas cumprem determinadas funções, quais sejam, 1) a de distanciamento; 2) a de dar nitidez às posições, no espectro ideológico, que animam os internautas.

Interpretação dos resultados

Os comentários eletrônicos em sites de notícias estudados nesta pesquisa textualizam-se na forma de um discurso polêmico, que se caracteriza por estratégias de distanciamento do outro (ataques à face positiva e negativa, de forma direta ou indireta), com farta ocorrência de violência verbal (insultos, injúrias, xingamentos, desqualificação do outro).

Embora Bousfield considere a distinção face positiva versus face negativa difícil de ser sustentada (como apontado na seção que expõe o seu modelo), o exame do corpus desta pesquisa demonstrou que a distinção pode ser produtiva. O que parece motivar esta produtividade é a materialização dos enunciados no interior do discurso polêmico, que favorece estratégias de distanciamento do outro.

Outro aspecto que pode ser entendido como motivado por esta dimensão do corpus é a ausência de estratégias de impolidez indireta, como “retenha a polidez, mantendo-se em silêncio ou deixando de fazer o trabalho de face que é esperado”. Dadas as características do corpus, em situação de polarização e dissenso (discurso polêmico), o que parece ser esperado é justamente a impolidez, ou estratégias de confrontação direta entre os internautas. Ao invés de atenderem às necessidades da face de seus interlocutores, os internautas buscam ameaçá-las ou agravá-las, como forma de realizar seus objetivos extra-linguísticos.

Esta é justamente uma pergunta levantada por Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. 2008. Impoliteness in interaction. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins. :142) na análise da impolidez na linguagem: quais são os objetivos extra-linguísticos dos participantes do discurso? Observou-se que as ocorrências de flaming no corpus se dão em contexto em que os internautas vêm suas ideias ameaçadas de forma direta ou indireta (Hutchens et al 2015HUTCHENS, Miyah; CICCHIRILLO, Vincent; HMIELOWSKI, Jay. 2015. How could you think that?!?! New Media & Society 17 (8), London: Sage. p. 1201-1219.), ou seja, a motivação para o flaming não se vincula exclusivamente ao conteúdo das mensagens, ou a temas de forte conteúdo emocional (política ou esportes), mas a aspectos interacionais, identificados nas práticas textuais/discursivas de distanciamento em relação a um adversário, em um cenário de dissenso e conflito (Johnson et al 2009JOHNSON, Norman; COOPER, Randolph; CHIN, Wynne. 2009. Anger and flaming in computer-mediated negotiation among strangers. Decision Support Systems 46, The Netherlands: Elsevier. p. 660-672.).

Do ponto de vista da primeira “onda” de estudos apontada por Jane (2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.), que indaga se o fenômeno é o resultado das propriedades das mídias digitais ou motivado pelos contextos sociais em que ocorre, os resultados desta pesquisa sugerem que há vários fatores (ligados aos contextos sociais em que ocorre) que motivam o flaming, além da anonimidade propiciada pelas mídias digitais.

No corpus em discussão, o flaming ocorre em situação de polarização entre os internautas, identificada através da existência de discursos e contradiscursos antagonistas (a favor ou contra a ex-presidente Dilma). A função do flaming, no interior do discurso polêmico do corpus de estudo, é a de criar distanciamento entre os participantes discursivos, marcando suas posições, no espectro político, de forma nítida e clara.

Do ponto de vista da segunda onda de pesquisas apontada por Jane (2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.), que diz respeito a questões de metodologia e de definição, a aplicação das categorias de Bousfield ao corpus em discussão permitiu avançar além das definições baseadas exclusivamente no léxico, de forma a caracterizar o fenômeno do ponto de vista de suas características interacionais. Um bom exemplo é a ocorrência de enunciados contendo ordens (“desça do palanque”), cujo léxico, por si só, não permite a caracterização do flame.

Conclusão

Pode-se afirmar que o modelo de Bousfield, por sua natureza essencialmente pragmática, demonstrou grande produtividade ao ser aplicado ao corpus desta pesquisa. Isto se deu porque não somente possibilitou a identificação de ameaças à face positiva e negativa de interlocutores imediatos ou imaginados, como também iluminou aspectos interacionais da linguagem da impolidez (estratégias de distanciamento); e aspectos pragmáticos relativos aos ganhos extra-linguísticos da linguagem da impolidez (o que se ganha com o distanciamento conseguido mediante o uso de enunciados contendo flaming é a nitidez de posição ideológica dos internautas, em um cenário de dissenso e conflito).

Este é um estudo de natureza descritiva, voltado para a caracterização do fenômeno do flaming, para suas funções e para o que o motiva, mas acata-se aqui o argumento de Jane (2015JANE, Emma A. Flaming? What flaming? The pitfalls and potentials of researching online hostility. 2015. Ethics Inf Technol 17, Springer Scienc+Business Media, Dordrecht. p. 65-87.:82) de que suas implicações éticas devem ser estudadas, em vista da relevância do tema da participação online e da cidadania digital.

Outro ponto que merece ser pesquisado, em corpora distintos, é a relação entre sincronicidade (ou assincronicidade) e flaming: no corpus de estudo, observou-se que as ofensas à honra ou ataques pessoais ocorrem em trocas interacionais síncronas, o que sugere que a sincronicidade pode ser um gatilho para o flaming. Mas este aspecto não foi plenamente investigado.

Também merece investigação o exame de contextos específicos em que o fenômeno sugere comportamento normativo, ou seja, em que o flaming é usado como forma de marcar identidade, ou pertencimento a grupo (Moor et al 2010MOOR, Peter J.; HEUVELMAN, Ard; VERLEUR, Ria. 2010. Flaming on Youtube. Computers in human behavior 26, Elsevier: Netherlands. p. 1536-1546.). Para tanto, será necessário coligir corpora distintos, com características específicas, como jogos virtuais, comentários no YouTube (Lehti et al 2016LEHTI, Lotta; ISOSÄVI, Johanna; LAIPPALA, Veronica; LUOTOLAHTI, Matti. 2016. Linguistic analysis of online conflicts: A case study of flaming in the Smokahontas comment thread on YouTube. Widerscreen.fi 1(2). University of Turku, Turku, Finland.), dentre outros.

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  • 1
    . As noções de ‘discurso’ e ‘contra-discurso’ são de Fairclough (2003FAIRCLOUGH, Norman. 2003. Analysing discourse; textual analysis for social research. London: Routledge.:124), que argumenta que todos os enunciados podem ser posicionados ideologicamente: “discursos diferentes representam diferentes perspectivas sobre o mundo, e são associados com as diferentes relações que as pessoas têm com o mundo, que, por sua vez, dependem de sua posição no mundo, de suas identidades pessoais e sociais, e das relações sociais que estabelecem com outras pessoas”. Para ‘contra-discurso’, ou ‘discurso protagonista’ e ‘discurso antagonista’, veja página 126.
  • 2
    . Cf. Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996:125): “(…) argumento ad personam, um ataque contra a pessoa do adversário, que visa, essencialmente, a desqualificá-lo”.
  • 3
    . Na verdade, esta é uma estratégia de Culpeper (1996), que é citada por Bousfield (2008:131), mas não está incluída em seu modelo, sob o mesmo rótulo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    17 Ago 2016
  • Aceito
    05 Set 2017
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