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O princípio da adjacência e o grau de integração entre verbo e objeto

The adjacency principle and the verb-object bonding

Resumos

Em diversos estudos funcionalistas, a estreita ligação, comprovada translingüisticamente, entre verbo e objeto é considerada um reflexo de um princípio natural (icônico): o princípio da adjacência. Este estudo se propõe a discutir a propagada relação entre o princípio da adjacência e o grau de integração entre verbo e objeto, buscando demostrar que: (a) existem alguns problemas importantes relacionados tanto à definição quanto à validação do princípio em pauta; (b) a ligação acentuada entre verbo e objeto pode ser explicada em termos pragmático-discursivos, nos quais aspectos ligados à veiculação de informação (informação nova vs. informação velha) desempenham um importante papel.

princípio da adjacência; integração verbo-objeto; questões; problemas


Several functionalist studies have argued that the tendency for verb and object to occur close together in the clause -- attested in different languages of the world and named verb-object bonding-- follows a natural (iconic) principle: the adjacency principle. This study is, then, about the adjacency principle and the verb-object bonding, whose conclusions suggest that: (a) there are some important problems with both definition and validation of the adjacency principle; (b) the link between verb and object can be explained in pragmatic-discursive terms in which aspects related to new/old information play an important role.

adjacency principle; verb-object bonding; questions; problems


O PRINCÍPIO DA ADJACÊNCIA E O GRAU DE INTEGRAÇÃO ENTRE VERBO E OBJETO

(The Adjacency Principle and the Verb-Object Bonding)

Jussara ABRAÇADO

(Universidade Federal Fluminense)

ABSTRACT: Several functionalist studies have argued that the tendency for verb and object to occur close together in the clause ¾ attested in different languages of the world and named verb-object bonding ¾ follows a natural (iconic) principle: the adjacency principle. This study is, then, about the adjacency principle and the verb-object bonding, whose conclusions suggest that: (a) there are some important problems with both definition and validation of the adjacency principle; (b) the link between verb and object can be explained in pragmatic-discursive terms in which aspects related to new/old information play an important role.

KEY-WORDS: adjacency principle; verb-object bonding; questions; problems.

RESUMO: Em diversos estudos funcionalistas, a estreita ligação, comprovada translingüisticamente, entre verbo e objeto é considerada um reflexo de um princípio natural (icônico): o princípio da adjacência. Este estudo se propõe a discutir a propagada relação entre o princípio da adjacência e o grau de integração entre verbo e objeto, buscando demostrar que: (a) existem alguns problemas importantes relacionados tanto à definição quanto à validação do princípio em pauta; (b) a ligação acentuada entre verbo e objeto pode ser explicada em termos pragmático-discursivos, nos quais aspectos ligados à veiculação de informação (informação nova vs. informação velha) desempenham um importante papel.

PALAVRAS-CHAVE: princípio da adjacência; integração verbo-objeto; questões; problemas.

0. Introdução

Segundo Givón (1991), são dois os princípios fundamentais da abordagem funcionalista: o princípio da iconicidade e o princípio da marcação. A eles, associam-se outros princípios e critérios que dão conta de sua manifestação nas línguas. Interessa-nos aqui o princípio da iconicidade e, mais especificamente, um princípio a ele associado: o princípio da adjacência. De acordo com o princípio da adjacência, a contigüidade lingüística tende a refletir uma proximidade no plano conceptual e, de acordo com diversos estudos funcionalistas (cf. Givón (1995) e Votre (1992), entre outros), a ligação acentuada entre verbo e objeto (V e O), observada translingüisticamente, constitui um reflexo de uma ligação também acentuada no plano cognitivo.

Sem pretender negar a existência de uma estreita ligação entre V e O, questionamos a explanação segundo a qual tal ligação, que se manifesta superficialmente na estrutura lingüística, constitui um reflexo de uma ligação também existente no plano conceptual. É nosso propósito, então, levantar e discutir alguns problemas relacionados ao princípio da adjacência e mostrar que a ligação em questão pode ser mais consistentemente explicada em termos pragmático-discursivos: o objeto é menos pressuposto do que o sujeito (S) e, por isso, a ligação entre V e O tende a ser menos flexível do que aquela existente entre S e V.

A organização deste trabalho é a seguinte: em (1), fazemos um rápido preâmbulo, introduzindo informações de caráter geral sobre o princípio da iconicidade e sobre os princípios a ele associados, passando, em seguida, a focalizar a relação entre o princípio da adjacência e o grau de integração entre V e O na cadeia lingüística; em (2), dedicamo-nos a questões e problemas relacionados ao princípio da adjacência; e finalmente, em (3), apresentamos nossas conclusões e considerações pertinentes ao tema aqui discutido.

1. O princípio da iconicidade

O princípio da iconicidade em sua formulação clássica (nos termos de Bolinger, 1977) prevê uma conexão não-arbitrária e a existência de uma correlação de um-para-um entre forma e função na gramática da língua. Porém, para Givón (1991), esta correlação idealizada entre forma e função é 'super-estendida'. O autor admite a existência de arbitrariedade na codificação lingüística, argumentando que a iconicidade do código lingüístico está sujeita a pressões diacrônicas corrosivas tanto na forma (código/estrutura) quanto na função (mensagem): o código sofre constante erosão provocada pelo atrito fonológico, e a mensagem costuma ser alterada em virtude da elaboração criativa. Os dois tipos de pressão geram ambigüidades: quanto ao código, verifica-se a correlação entre uma forma e várias funções; quanto à mensagem, observa-se a correlação entre várias formas e uma função.

Os princípios associados ao princípio de iconicidade são: (I) princípio da quantidade, (II) princípio da adjacência e (III) princípio da ordenação linear. Givón (1991) considera que a gramática é construída a partir desses três princípios icônicos, cognitivamente transparentes, que se combinam com convenções estruturais aparentemente mais arbitrárias. Passamos, então, a uma descrição sumária dos três princípios, baseada nas definições contidas em Givón (1991, p. 87-9) e Martelotta et alli (1996b, p. 118-9).

I ¾ Princípio da quantidade

(a) Uma fatia maior de informação receberá uma fatia maior de codificação.

(b) A informação menos previsível receberá mais material de codificação.

(c) A informação mais importante receberá mais material de codificação.

A base cognitiva do princípio da quantidade está ligada especialmente a áreas de atenção e esforço mental. Um dos mais citados exemplos de manifestação desse princípio é a forma de codificação dos referentes nominais, que apresenta a seguinte gradação:

SN pleno > pronome > anáfora zero.

II ¾ Princípio da adjacência

• Os conceitos mais integrados no plano cognitivo se manifestam no nível da codificação lingüística com maior integração morfossintática.

Este princípio tem sua base cognitiva calcada no postulado de que a ativação de um conceito desencadeia a ativação de outros conceitos estreitamente a ele relacionados. Um exemplo da atuação deste princípio freqüentemente apontado, como já dissemos, é o grau de integração acentuado entre V e O.

III ¾ Princípio da ordenação linear

(a) A informação mais importante ou urgente tende a ser colocada em primeiro lugar na cadeia lingüística.

(b) A informação mais previsível tende a ser colocada em primeiro lugar na cadeia lingüística.

(c) A informação menos acessível ou menos previsível que desempenha função de contraste tende a ser colocada em primeiro lugar na cadeia lingüística.

Givón (1990, 1993) tem considerado a importância e a acessibilidade como dois subcomponentes da topicidade: o primeiro definido em termos catafóricos (referente importante permanece no discurso) e o segundo, em termos anafóricos (referente anteriormente mencionado é mais acessível). De acordo com ele, cognitivamente, a informação mais importante e imprevisível demanda mais atenção. Assim sendo, é natural que ela seja colocada em primeiro lugar na cadeia lingüística, pois o elemento inicial do fluxo discursivo é o que controla mais atenção e é melhor memorizado. O autor cita como exemplo da atuação do princípio da ordenação linear a colocação inicial de SNs plenos indefinidos, ou importantes, em línguas cuja ordem de constituintes é flexível (p. 94).

1.1. O Princípio da Adjacência e a contigüidade entre V e O na cadeia lingüística

Givón (1995) defende a existência do nódulo SV (Sintagma Verbal) com base no princípio da adjacência11De acordo com Givón (1995, p.180-1), não há porque se fazer objeções ao mais elevado e mais abstrato nódulo (S), já que sua realização é manifestada tanto rítmica quanto semanticamente. Mas é o status de nódulos intermediários (SN e SV), aqueles que agrupam dois ou mais itens lexicais em um nível médio de constituintes abstratos , que tem dado mais dor de cabeça aos gramáticos. , que ele enuncia da seguinte forma:

Spatio-temporal distance in the stream of speech tends to reflect conceptual distance (p.179).

Givón explica que, como todos os princípios icônicos na gramática, o princípio da adjacência não é uma lei inviolável e exemplifica com o caso da tendência à cliticização dos verbos auxiliares em inglês com o sujeito ((a)I've seen it; (b) She'll leave soon; (c ) They're not here (p. 180)), o que constitui um obstáculo à postulação do nódulo SV e da estreita ligação entre V e O que ele se propõe a defender. Sua argumentação se baseia, principalmente, em critérios estruturais superficiais. Em relação aos critérios semânticos, Givón diz que

The semantic arguments for the VP node have not changed much since Aristotle. They still revolve, in Aristotle's terms, around what falls under the logical scope of assertion on denial and what is excluded; or what the predicate (VP) is "all about"(its subject). At issue is also what, in more updated terms of Bybee (1985), is more relevant to what; or which constituents are semantically more closely connected (p.182).

Givón considera, pautando-se no estudo de Bybee (1985), que se pode argumentar no sentido de ser o auxiliar, semanticamente, parte e parcela do SV. Isto porque, de acordo com o autor,

temporally-related notions of tense and aspect, or epistemic or deontic notions of modality, are semantically more relevant to the predicate, or to the state-or-event-verb which is its core (p.182).

Acrescenta, porém, que o argumento é consideravelmente fraco quando aplicado ao objeto direto e ao indireto, uma vez que sua relevância semântica para o verbo ¾ considerada maior do que a do sujeito ¾ não é tão óbvia, já que os verbos transitivos são sub-categorizados semanticamente em relação a todos os seus argumentos obrigatórios.

Os critérios estruturais utilizados por Givón em sua argumentação favorável ao nódulo SV são:

a. adjacency

b. joint extraction/movement

c. joint anaphoric reference

d. NP incorporation

e. unifying VP morphology (p. 182)

Através desses critérios, ele comprova a existência de uma estreita ligação entre V e O, mostrando que eles formam uma unidade maior: o nódulo SV.

Givón também rebate outros contra-argumentos como, por exemplo, aquele pautado nas línguas que possuem a ordem rígida VSO, nas quais a norma é a seguinte: se o sujeito e o objeto estão presentes explicitamente, então o verbo e o objeto não são adjacentes. De acordo com Givón, que menciona o estudo de Dubois (1987), a freqüência de argumentos explícitos em oposição a argumentos não-explícitos em narrativas contínuas nas línguas VSO é tal, que a incidência de construções transitivas com todos os argumentos explícitos (verbo-sujeito-objeto) é bem menor do que a de construções com apenas um argumento realizado explicitamente (geralmente, verbo-objeto). O que corresponde a dizer que, na prática, o princípio da adjacência funciona. O princípio da adjacência para Givón (1995) é an explanatory principle that predicts frequency distributions. (p. 179)

Entretanto, em Dubois (1987), que constitui um estudo sobre o sacapulteco, uma língua maia ergativa, a ênfase recai sobre a influência de fatores pragmático-discursivos no fenômeno que envolve a distribuição de SNs em construções mono-argumentais e de mais de um argumento. Levantando a hipótese da Estrutura Argumental Preferida (EAP), que se refere à função formal e discursiva dos argumentos do verbo ¾ isto é: sujeito e objeto ¾ o autor explica que a EAP não deve ser concebida como uma estrutura sintática por si mesma, mas como uma preferência discursiva mensurável por meio da estrutura sintática. Segundo ele, a EAP apresenta duas dimensões, (I) gramatical e (II) pragmática, que se relacionam a tendências que influenciam a distribuição de SNs nas construções:

I. Dimensão gramatical:

• Restrição de um único argumento lexical (reflete a predominância de construções com somente um argumento lexical);

• Restrição de sujeitos transitivos lexicais (reflete a propensão a se expressar o sujeito transitivo por meio de pronomes ou anáfora zero).

II. Dimensão pragmática :

• Restrição de um único argumento novo (reflete a tendência a se evitar mais de um argumento novo em uma mesma construção);

• Restrição de sujeito transitivo dado (reflete a preferência à colocação do elemento novo como objeto ou como sujeito de construções mono-argumentais).

Cremos ser interessante, neste ponto específico do trabalho, a substituição dos rótulos de sujeito e objeto pelos símbolos S, A e P ¾ que foram derivados, respectivamente, dos termos Sujeito, Agente e Paciente ¾ para fazer referência ao sujeito de construções mono-argumentais (S), ao sujeito de construções de mais de um argumento (A) e ao objeto direto (P)22Conforme proposta de Conrie (1981). . A partir da adoção de tais símbolos, podemos dizer, então, que a EAP constitui um efeito do grau de pressão informacional, de modo que o aparecimento de SNs novos e lexicais como S e P, mas não como A, está relacionado à função de continuidade tópica, já que os protagonistas humanos são participantes centrais na maioria dos discursos narrativos. Ou seja: na posição de objeto (P), observa-se uma grande variedade de SNs caracterizados como não-humanos, que não são retomados na seqüência discursiva. A função de sujeito em construções mono-argumentais (S), por outro lado, costuma ser a de introduzir um referente humano novo no discurso.

Além de Dubois, outros pesquisadores já investigaram e comprovaram a existência da EAP em muitas outras línguas, sugerindo a sua universalidade (Ashby & Bentivoglio (1992), por exemplo, estudaram a EAP no francês e no espanhol). Preocuparam-se em determinar a EAP no português brasileiro Dutra (1987) e Pezatti (1996)33Em relação ao português, Pezatti conclui que, apesar de ser considerado uma língua acusativa ou de ergatividade cindida (cf. Dutra, 1987; e Pezatti, 1992, 1993), tem comportamento semelhante à ergativa sacapulteco, com relação à distribuição de SNs na sentença. (p. 277). .

Conforme já assinalamos, não temos a intenção de discutir ou negar a existência de uma ligação bastante estreita entre verbo e objeto. O que questionamos não é esse fato lingüístico, mas a explicação (em termos de argumentação/fundamentação) de que a ligação superficial que se verifica entre V e O seja um reflexo de uma dada ligação observada no plano conceptual.

Votre (1992), discorrendo sobre as contribuições neurolingüísticas no estudo da linguagem, diz o seguinte:

enquanto esperamos que cognitivistas nos dêem suporte cognitivo sobre o funcionamento dos processos que a língua codifica, eles é que esperam de nós, lingüistas, as teorias e hipóteses que possam testar. Suas expectativas se justificam, porque levando-se em conta sua complexidade e a série de habilidades e representações que envolve, o discurso é uma fonte fundamental de informação sobre as representações e os processos cognitivos humanos (p. 30).

O autor cita, ainda, o que ele chama de 'confissão de dependência' dos cognitivistas em relação aos postulados dos lingüistas, presente no seguinte trecho transcrito por ele de Joanette & Brownell (1990, p. 46):

The linguistic analysis of some form, even one that incorporates 'concept' into its explanation, is only a starting point for explaining how people understand that form. To conclude, then, the ultimate goal of this line research must be to use linguistic theory to develop psychological accounts both of purely grammatical processing and contextual processing in order to arrive at complete explanation of the comprehension of situated discourse [grifo do autor] (p. 30).

Votre conclui, então, que os lingüistas devem continuar a investigar o funcionamento da língua em condições reais de comunicação e oferecer suporte empírico e teórico para os modelos lingüísticos formulados, cabendo aos cognitivistas, por outro lado, testar e validar esses modelos.

Embora consideremos a importância da interação entre os planos cognitivo e da codificação lingüística, julgamos que a relação entre proximidade na codificação lingüística e proximidade no plano conceptual precisa ser aprofundada. E, para justificarmos nossa posição, revolveremos alguns problemas relacionados ao princípio da adjacência.

2. Questões

A primeira questão que levantamos referente ao princípio da adjacência é: como definir e, a partir daí, medir a distância em termos conceptuais? Haiman (1985b) propõe a seguinte definição:

Two ideas are conceptually close to the extent that they

a. share semantic features, properties or parts;

b. affect each other;

c. are factually inseparable;

d. are perceived as a unit, whether factually inseparable or not(p.106-7).

Em seu trabalho, Haiman apresenta vários exemplos de coordenação, transitividade, possessão e outros domínios para comprovar, em diferentes línguas, o postulado do princípio da adjacência. A atuação desse princípio tem sido considerada em diversos níveis da codificação lingüística:

o grau de integração e liberdade relativa entre constituintes de uma palavra, de um sintagma, de uma cláusula, de um período ou de um parágrafo são indícios do grau de integração entre os componentes cognitivos desses constituintes (Votre, 1992).

Bybee (1985), por exemplo, dedicou-se ao estudo do caráter icônico da ordenação de afixos em nomes e formas verbais complexos:

It has often been observed that the proximity of elements in a clause follows some natural (iconic) principle whose result is that elements that go together semantically tend to occur close together in the clause. Following this principle, we would expect that elements whose position is defined in terms of the position of the noun would have meanings that modify or relate to the meaning of the noun or noun stem. While elements whose position is defined in terms of the position of the verb would have meanings that modify or relate in some way to the meaning of the verb or verb stem. Similarly, elements whose position is determined with respect to the whole clause would have the entire proposition in their semantic scope (p. 11).

Para fundamentar o postulado do isomorfismo estrutural44Croft (1990) diz que o princípio da adjacência é an example of what we have called (following the more common mathematical use of the term) structural isomorphism: the structure of the utterance reflects the structure of the (complex) concept. (p. 174) em formas verbais complexas, Bybee define distância conceptual, considerando o grau de afetamento que o significado do afixo produz sobre o significado do verbo. Propõe, então, uma escala de proximidade conceptual referente à relação entre afixos flexionais e a raiz verbal:

valência<voz<aspecto<tempo<modo<concordância de pessoa/número

De acordo com Bybee,

Verbal inflections differ with respect to the extent to which they are RELEVANT to the verb, that is, the extent to which meaning DIRECTLY AFFECT THE LEXICAL CONTENT OF THE VERB STEM. The different degrees of relevance of verbal categories that can be inflectional is reflected diagrammatically in three ways: (1) The more relevant a category is to the verb, the more likely it is to occur in a synthetic or bound constructions with the verb; (2) The more relevant a morphological category is to the verb, the closer its marker will occur with respect to the verb stem; (3) The more relevant a morphological category is to the verb, the greater will be the morpho-phonological fusion of that category with the stem (p.11).

Para Croft (1990, p. 176-80), os argumentos apresentados por Bybee para justificar a distância conceptual entre afixos e a raiz verbal são incertos em muitos casos. Segundo ele, uma das anomalias verificadas é que, nos casos em que há concordância com o objeto e com o sujeito simultaneamente, a marca de concordância relativa ao objeto costuma estar mais próxima da raiz verbal, indicando grande relevância. Porém, contraditoriamente, a concordância com o objeto é menos freqüente do que com o sujeito, constituindo um indicativo de menor relevância. Apesar dos problemas apontados, Croft conclui que, embora se observem problemas relacionados tanto aos dados quanto à definição de proximidade conceptual referente aos afixos verbais, a ordem dos afixos em nomes e verbos, de uma forma geral, confirma a hipótese levantada por Bybee (1985).

Contudo, se considerarmos, de acordo com Givón (1995), que o princípio da adjacência descreve uma tendência geral, não sendo portanto uma lei inviolável, e procedermos como ele ¾ que ao analisar a questão das línguas VSO, considerou válido assegurar a atuação do referido princípio com base na freqüência mais expressiva de construções VO do que de construções formadas pelos três constituintes explícitos, VSO ¾ podemos concluir, calcados nesse mesmo princípio, que S e V estão mais próximos conceptualmente do que V e O, uma vez que a concordância verbal com o sujeito é mais freqüente do que com o objeto. Isto é, de acordo com a definição de distância conceptual, tanto nos termos de Haiman quanto nos de Bybee, na maioria dos casos, o sujeito está mais próximo na codificação lingüística do verbo do que o objeto. No entanto o que mais nos interessa ressaltar é que as definições e análises que sustentam o princípio da adjacência tendem à circularidade: o conceito de distância conceptual se baseia na distância observada na codificação lingüística e a distância na codificação lingüística, por outro lado, é explicada em termos de distância conceptual.

Um outro problema relacionado ao princípio da adjacência é o que envolve línguas cuja ordem dos constituintes é determinada pragmaticamente: como relacionar a variabilidade na ordenação de elementos na cadeia da fala com a distância no plano conceptual? Croft (1990) discute o caso da língua russa, que admite SNs descontínuos, ilustrando o fenômeno com exemplo extraído de Fowler (1987, p.97):

A explicação de Croft para o fenômeno relatado é que, nesse caso, fatores pragmáticos competem com o princípio da adjacência na determinação da estrutura lingüística. A este respeito, Givón (1995) diz que línguas com a ordem de palavras controladas por fatores pragmáticos, total ou parcialmente, tendem a enrijecer ou a re-enrijecer sua ordem de palavras, e que isso se verifica inicialmente através do processo de gramaticalização, quando inversões de caráter pragmático assumem o status de inversões semânticas e se tornam obrigatórias. Ele acrescenta (p.101) que o princípio da gramaticalização que opera sobre tal fenômeno tem sido descrito variavelmente como:

a) be grammaticalized as an obligatory 'semantic' rule". (Givón 1979, ch. 5)

b) "Languages grammaticalize most explicitly what speakers do "A high-frequency pragmatically controlled behavior can easily most frequently".(Dubois 1985)

c) "Semantics is grammaticalized or frozen pragmatics". (Langacker 1987)

Podemos inferir, a partir do que foi exposto, que a distância conceptual é determinada por fatores pragmáticos? Givón (1995), discorrendo sobre o papel da experiência no processamento e aquisição da linguagem, diz que

For functional linguists (...) frequency of behavior is of paramount importance, since grammatical competence is believed to be both reflected in and shaped by the frequency of experience. (p.195)

3. Considerações finais

Finalizando, enfatizamos a necessidade de buscarmos, em estudos de base cognitiva, esclarecimentos para os pontos obscuros existentes no postulado do princípio da adjacência. Entre tais pontos, destacamos o papel dos fatores pragmático-discursivos nos fenômenos lingüísticos rotulados como reflexos do princípio em pauta. Enquanto isso, entendemos que é perfeitamente possível explicarmos a ligação entre V e O, baseando-nos em aspectos pragmático-discursivos que têm sido ostensivamente ressaltados na literatura especializada (incluindo trabalhos de Givón):

(1) a posição pré-verbal, normalmente ocupada pelo sujeito que, por sua vez, costuma ser tópico, é onde geralmente são alocadas informações velhas e mais pressupostas;

(2) a posição pós-verbal, comumente ocupada pelo objeto, costuma veicular informações novas.

Assim, o sujeito tende a ser altamente pressuposto e, como tópico, tende a ser recorrente no discurso, o que viabiliza o processo de pronominalização e justifica sua usual omissão. Diferentemente, o objeto tende a não ser recorrente e, por isso, é mais freqüentemente explicitado por intermédio de SNs plenos (fenômeno previsto pelo princípio da quantidade).

Sendo o objeto menos pressuposto do que o sujeito, é perfeitamente compreensível que sua ligação com o verbo seja menos flexível do que aquela existente entre o sujeito e o verbo. Sob a perspectiva pragmático-discursiva, então, a natureza rígida da ligação que se observa entre V e O constitui, na verdade, evidência de uma integração relativamente frouxa, que depende da contigüidade na codificação lingüística para ser assegurada.

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  • 1
    De acordo com Givón (1995, p.180-1), não há porque se fazer objeções ao mais elevado e mais abstrato nódulo (S), já que sua realização é manifestada tanto rítmica quanto semanticamente. Mas é o
    status de nódulos intermediários (SN e SV), aqueles que agrupam dois ou mais itens lexicais em um nível médio de constituintes abstratos , que tem dado mais dor de cabeça aos gramáticos.
  • 2
    Conforme proposta de Conrie (1981).
  • 3
    Em relação ao português, Pezatti conclui que,
    apesar de ser considerado uma língua acusativa ou de ergatividade cindida (cf. Dutra, 1987; e Pezatti, 1992, 1993), tem comportamento semelhante à ergativa sacapulteco, com relação à distribuição de SNs na sentença. (p. 277).
  • 4
    Croft (1990) diz que o princípio da adjacência é
    an example of what we have called (following the more common mathematical use of the term)
    structural isomorphism
    : the structure of the utterance reflects the structure of the (complex) concept. (p. 174)
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Maio 2002
    • Data do Fascículo
      2001
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