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“Soldado é superior ao tempo”: da ordem militar à experiência do corpo como locus de resistência* * Uma versão deste trabalho foi apresentada no GT Antropologia do Corpo e da Medicina, durante a 21a Reunião da Associação Brasileira de Antropologia – ABA, realizada em Vitória – ES, em abril de 1998. O trabalho de campo foi financiado pela Wenner-Gren Foundation for Anthropological Research – (Grant – N° 5969). Estou imensamente grata a todas as pessoas e trabalhadores de instituições envolvidas no Desastre Radiológico de Goiânia que partilharam comigo lembranças, arquivos e experiências diárias. Estas reflexões não teriam sido viáveis sem esta ajuda. Com a intenção de preservar a privacidade das pessoas entrevistadas e mencionadas neste texto, fiz opção pelo uso de iniciais dos nomes verdadeiros e, em alguns casos, pelo uso de pseudônimo.

Resumo

Em 1997, dez anos após o Desastre Radiológico de Goiânia, um grupo de policiais militares (PM’s) que trabalharam nas áreas contaminadas pelo césio-137 reivindicam como causa de seus distúrbios físicos e psicológicos o contato que tiveram com a radiação em 1987. Este trabalho, através das representações construídas sobre a noção de corpo contaminado e das experiências cotidianas vividas por PM’s em confronto com autoridades governamentais, militares, médicas e parlamentares, analisa a emergência do conceito de doença de radiação e a construção da noção de resistência em situação de desastre. Indo além do pressuposto foucaultiano de que a biomedicina articula formas de poder e controle sobre os corpos, suas percepções e tratamentos, eu discuto como as experiências de resistência destes policiais, através do uso simbólico do corpo, engendram novas formas de conceptualização do “corpo político”.

Abstract

In 1997, ten years after the Goiânia Radiological Disaster, a group of police officers claims their 1987 work on the Cesium-137 contaminated areas as the cause of their illnesses. Based on the body contamination representations and on the police officers everyday experiences of power confrontation, this paper examines the notions of radiation illness and resistance engendered in disaster context. I argue that the police officer’s everyday practices of resistance through the symbolic use of their body point out to the disclosure of new forms of the “political body”. Thus, I review the Foucauldian assumption of biomedical control of bodies in context where there is individuals’ struggle against the power of the medical knowledge.

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    Uma versão deste trabalho foi apresentada no GT Antropologia do Corpo e da Medicina, durante a 21a Reunião da Associação Brasileira de Antropologia – ABA, realizada em Vitória – ES, em abril de 1998. O trabalho de campo foi financiado pela Wenner-Gren Foundation for Anthropological Research – (Grant – N° 5969). Estou imensamente grata a todas as pessoas e trabalhadores de instituições envolvidas no Desastre Radiológico de Goiânia que partilharam comigo lembranças, arquivos e experiências diárias. Estas reflexões não teriam sido viáveis sem esta ajuda. Com a intenção de preservar a privacidade das pessoas entrevistadas e mencionadas neste texto, fiz opção pelo uso de iniciais dos nomes verdadeiros e, em alguns casos, pelo uso de pseudônimo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 1998
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