icse
Interface - Comunicação, Saúde, Educação
Interface
1414-3283
1807-5762
UNESP
En medio del crecimiento de un modelo neoliberal conservador en la actual agenda pública brasileña, la Educación Popular y Salud (EPS) se presenta como posibilidad para la producción de experiencias dirigidas a la constitución de la salud como derecho; además, también tiene compromiso con el desarrollo del protagonismo de las personas en la búsqueda por el buen vivir y por el enfrentamiento crítico a las determinaciones sociales de la salud. El presente artículo aborda la EPS en los procesos formativos, sus desafíos y perspectivas. Centralmente, se problematizan aspectos como: la criticidad en los movimientos y en las prácticas de EPS, los procesos formativos críticos y movilizadores del protagonismo; la acción en red y la articulación de la lucha de los movimientos y de las prácticas de EPS. Se espera que esas reflexiones contribuyan a la alimentación del debate alrededor de la EPS y su papel como factor referencial teórico y metodológico para la formación en el área de la salud.
Do povo buscamos a força
Não basta que seja pura e justa a nossa causa
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós.
Na mesma barca nos encontramos.
Todos concordam – vamos lutar.
Lutar pra quê?
Pra dar vazão ao ódio antigo?
ou pra ganharmos a liberdade
e ter pra nós o que criamos?
(Agostinho Neto)
Introdução
O atual contexto brasileiro vem sendo marcado pelo adensamento da exploração humana, sobretudo por meio do paulatino estabelecimento de uma agenda ultraliberal no campo econômico e social. Especialmente após o ano de 2016, uma série de reorientações na perspectiva política da ação estatal tem se colocado na vida nacional. Isso tem acarretado no desmonte de políticas sociais públicas ao retirar do Estado a responsabilidade de promover direitos humanos e sociais essenciais.
Em 2020, a emergência da pandemia da Covid-19 traz à cena uma crise sanitária de proporções consideráveis. Tal pandemia (e seus desdobramentos nos territórios) passa então a acentuar, de forma substancial e crescente, a insistente investida de processos de exclusão social da maioria da população brasileira, centralmente por meio da intensificação do efeito das determinações sociais, econômicas, políticas e culturais no âmbito da saúde1,2.
Como uma onda, essa tendência ultraliberal (ou neoliberal totalitária) vem dando sinais, em diversas partes do mundo, de que as saídas para as recentes crises capitalistas seriam pela ofensiva de restauração conservadora e pela afirmação do fundamentalismo de mercado, a partir do qual tudo é mercantilizado. Todas as formas de vida e as relações passam a ser transformadas em objetos de compra e venda.
Esse cenário evidencia também processos como a produção de insistentes desgastes da democracia, de suas instituições e das relações democráticas; o reforço às lógicas de dominação, exploração e alienação nos âmbitos sociais, econômicos, culturais, de trabalho e de poder; o aumento da polarização com o uso da força e das mais variadas formas de violência; o controle da produção de subjetividades e intersubjetividades; a tentativa de impor padrões hegemônicos de crenças e rituais com base conservadora, racista, misógina e preconceituosa; e tentativas de abafar e/ou destruir aspectos fundamentais das identidades e diversidades étnicas e culturais, tão fortes na sociedade brasileira1,3,4. Esses processos são desenvolvidos não apenas pela ação governamental ocupante dos espaços públicos eletivos, mas também com apoio de parte da população, inclusive com organizações em grupos e movimentos de base neofacista e conservadora.
Assim, é precisamente neste momento que urge a necessidade de movimentos, práticas e experiências que tanto denunciem esses contextos desumanizadores quanto anunciem outros caminhos pedagógicos, culturais, políticos e sociais. Caminhos que possibilitem a construção permanente de outro modelo de sociedade, de forma necessariamente acompanhada da tessitura imediata de outras relações e sociabilidades, sobretudo aquelas orientadas pelo horizonte da justiça social e por uma perspectiva de emancipação humana4.
No contexto da Saúde Coletiva, a EPS apresenta-se como um campo profícuo de possibilidades para o desvelamento de uma ação social, científica e profissional em saúde, compromissada com a produção coletiva de práticas, experiências e movimentos que, por meio do compartilhamento dialógico de saberes, contribuam com a transformação social e com a emancipação das pessoas. Em especial, pela colaboração em mutirão de promoção da vida e de luta pela realização da dignidade humana, refletida em processos de ensino e de aprendizagem profundamente conectados com o enfrentamento à exclusão social das classes populares e de seus protagonistas5.
No multifacetado cenário da saúde brasileira, a concepção da Educação Popular vem merecendo destaque como uma abordagem metodológica, política e epistemológica orientadora da ação de trabalhadores, de protagonistas de movimentos sociais e de práticas populares, bem como de atores da cena universitária. A EPS atua na promoção de experiências sociais e de processos de ensino e de aprendizagem direcionados à constituição da saúde como direito e ao desenvolvimento do protagonismo das pessoas na busca pelo bem viver e pelo enfrentamento crítico às determinações sociais da saúde e do viver. Seu componente fundante é a metodologia, pois tem como base a ação participativa e dialógica, intermediando a formação de sujeitos para a construção da vida com qualidade e dignidade, a partir da participação em trabalhos sociais em diferentes territórios, contextos e situações6.
O presente manuscrito constitui um ensaio crítico e reflexivo produzido a partir da síntese da interpretação de seus autores acerca dos desafios da EPS e de seus processos formativos no atual contexto brasileiro. Portanto, teve como base de sua redação as reflexões dos autores em suas experiências na coordenação do Núcleo Gestor do Grupo Temático de EPS da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), no período entre outubro de 2016 e fevereiro de 2020. Centralmente, são problematizados os seguintes aspectos: a criticidade nos movimentos e nas práticas de EPS; os processos formativos críticos e mobilizadores do protagonismo; a ação em rede; e a articulação da luta dos movimentos e das práticas de EPS.
Como assevera Mello7, os tensionamentos em curso na conjuntura precisam de respostas que não sejam simplistas, tampouco dualistas. Acima de tudo, torna-se prudente e premente exercitar a dimensão crítica, autocrítica e reflexiva para aqueles e aquelas que protagonizam experiências de EPS.
Exige-se a complexidade e o refinamento no pensar e no agir para o desvelamento processual de uma compreensão cada vez mais rigorosa, precisa e assertiva da atual realidade social brasileira, a qual tem se transformado celeremente. Se é verdade que, em si, a EPS dispõe de subsídios teóricos e metodológicos para apoiar esse processo, a capacidade de estudo, de análise, de problematização é essencial de ser construída com, na e a partir das experiências, a fim de se produzir uma teoria e uma prática críticas, capazes de oferecer elementos de análise e de superação do estágio social no qual nos encontramos7.
Em nosso ver, o esforço reflexivo compartilhado neste artigo revela-se importante como exercício autocrítico e de alimentação da problematização das práticas e dos movimentos de EPS em todo o país. As perspectivas aqui apontadas certamente não são as únicas possíveis maneiras de olhar para a EPS e seus desafios, mas podem constituir ideias provocantes do pensamento e mobilizar a sistematização de suas práticas e de seus resultados, acarretando na emergência de outros olhares e ideias para esse campo.
O desafio de promover a criticidade nos movimentos e nas práticas de EPS
A pergunta que sustenta a apresentação desse desafio está em compreender em que medida os movimentos e as práticas de EPS, em seus diferentes espaços, têm aplicado, efetivamente, a criticidade em uma perspectiva ética, política e emancipadora. Isso se evidencia pela sua presença no discurso dos protagonistas da EPS e os traz como uma preocupação tão cotidiana e sistemática que, então, reflete-se na forma como se conduz, avalia-se e se desvelam suas ações e reflexões.
A ação transformadora nas práticas cotidianas das pessoas e dos processos sociais – na perspectiva de construção de uma sociedade liberta de todas as formas de opressão, dominação, exploração, discriminação e violência – é um desafio ético-político e pedagógico presente nas ações de EPS. Para isso, é preciso desenvolver a capacidade crítica, entendida como um modo de analisar a realidade, considerando-a por meio de um prisma dialético, ou seja, tomando-a em sua essência contraditória e em permanente transformação8.
No enfrentamento aos contextos de opressão política, de desumanização e de exclusão social, torna-se premente a utilização de teorias que deem conta de compreender e explicar a realidade dominante, que é eticamente injusta e contraditória em nossa sociedade. Ao pressupor a análise dessas contradições, a dialética em Karl Marx se qualifica como um dos mais importantes alicerces teóricos para a condução desses trabalhos.
Para tanto, a criticidade deverá se configurar em um cuidadoso estudo e se debruçar sobre a realidade e suas determinações, tomando como ponto de partida a complexidade a elas inerente, suas várias facetas, contradições, aparências e ilusões. Assim, uma compreensão importante de criticidade consiste justamente naquela que aponta para o desvelamento da capacidade de enxergar a realidade, suas determinações em suas contradições e suas diversas e (muitas vezes) contrastantes facetas, na linha filosófica fundamentada por Karl Marx.
Nos dias de hoje, é fundamental que os protagonistas dos movimentos e das práticas de EPS adensem a dimensão da criticidade em seus pensares e em seus fazeres. Para isso, em primeiro lugar, precisaremos conceber a ação em EPS não apenas em sua dimensão prática, mas também em sua faceta reflexiva e produtora de novos conhecimentos sobre o mundo, sobre a própria EPS, sobre cada uma de suas experiências e sobre nós mesmos.
A criticidade está, portanto, potencialmente presente no fazer de cada prática de EPS, mas exige-se, para seu desvelamento, que os seus protagonistas se disponham a ampliar o olhar sobre esse fazer, entendendo, assim, que faz parte do “fazer EPS” o empreendimento sistemático de uma análise crítica propiciadora de aprendizados e reveladora de limites de cada ação.
Desse modo, qualifica-se o conhecimento da realidade, o autoconhecimento dos protagonistas e o aprimoramento das ações na busca pela emancipação humana ao serem destacados acertos e erros; potencialidades e situações-limites. Portanto, elucidando social, cultural, econômica e politicamente os caminhos trilhados pela EPS, inclusive para verificar em que medida suas iniciativas estão efetivamente promovendo processos de mudança, mesmo que moleculares, nas situações e nas relações promotoras de exclusão.
Destarte, exigem-se atitudes nas quais fique cristalina a consciência do inacabamento de cada um dos sujeitos envolvidos nas experiências de EPS e, entre eles, a compressão da mutabilidade da realidade, ou simplesmente de que transformar é possível. Transformar nós e o mundo. Na perspectiva dialética, esse pensamento provém de Heráclito, que disse que a todo momento nossa realidade está permeada por diferentes tensões, resultantes de distintos interesses humanos. Esse embate tenso e permanente é o motor das mudanças, pois ora prevalece uma atitude/querer/modo de agir, ora será outro, e assim por diante. Por isso, “a essência, o elemento primordial, é o vir-a-ser. Tudo está em perpétuo movimento. A realidade está sujeita a um vir-a-ser contínuo”8 (p. 21).
Nessa direção, outra dimensão fundante para a criticidade dos protagonistas da EPS está na constante provocação de, além de excelentes ativistas das transformações, serem primorosos pensadores da transformação. Ou seja, conceber que o protagonismo não se faz apenas na ação, mas no pensamento. O exercício do pensamento crítico, revolucionário e inconformista é uma das marcas fundamentais para a EPS, especialmente na atualidade. É, então, patente a necessidade de formarmos pensadores, via EPS, e não apenas ativistas sociais. Ou melhor: é preciso formar ativistas sociais que, concebendo sua inconclusão e os limites de seus trabalhos e ideias, busquem na reflexão crítica a base e essência da produção permanente de sua ação social. Uma reflexão dialética que se dê individualmente, mas também de modo coletivo, favorecendo diferentes olhares e percepções sob distintas perspectivas e pontos de vista. Dimensões várias.
A criticidade, enquanto processo, estimula, na EPS, a prática do diálogo como condição essencial na pactuação, planejamento e implementação das ações. O diálogo é elemento emulsificante das interações humanas e subjetivas. Torna-se condição fundante para a condução dos trabalhos de modo participativo, solidário e gerador de conscientização. Nas palavras de Zea-Bustamante9, o diálogo não é outra coisa senão um encontro intencionado e nunca neutro.
Hablar del diálogo como epicentro de las acciones de la educación popular implica entender la educación como un acto de amor, como un encuentro intencionado y nunca neutral, donde, a través de la palabra, se logra que quienes participan en el acto educativo − estudiantes, docentes y comunidade − signifiquen su mundo, reconozcan los aspectos que lo constituyen y puedan así establecer procesos de empoderamiento para transformar sus realidades9. (p. 63)
No que tange à criticidade, importa ainda assinalar que ela recomenda aos atores da EPS considerar a historicidade dos fatos, das realidades e dos sujeitos. Nessa perspectiva, o olhar histórico surge como condição básica a ser considerada no desenvolvimento do trabalho em EPS. Por ele, não se pode considerar um fenômeno sem historicizá-lo, pois o movimento da criticidade concebe que as coisas possuem determinações várias que lhe constituem. As pessoas, as coisas e as realidades são, em um dado momento, sínteses de muitas e distintas determinações.
Portanto, não se pode pensar em uma ação pela criticidade, coerente com a realidade circundante e suas determinações, visando sua transformação, sem considerar sua historicidade. A EPS precisa, então, ser concebida e praticada como processo dialético que se concretiza na formação de atores sociais pensadores da edificação da sociedade, como reivindicam Melo Neto10 e Santos11, e dedicados ao desenvolvimento permanente de um trabalho social significativo para a transformação rumo a um projeto societário plural, solidário e participativo. Como fundamenta Mello7, a partir do diálogo entre as ideias de Michael Apple e de Paulo Freire, a educação popular prioriza a criticidade quando se propõe a desvelar a formação de subjetividades compromissadas com a busca de relações e de experiências que possibilitem a ruptura com quaisquer ilusões e subjetividades conformistas – as quais têm como pressuposto a crença de que os modos em que nossas sociedades e seus aparatos educacionais estão atualmente organizados podem levar à justiça social. Para tanto, Mello7 posiciona como conteúdos centrais para o processo educativo crítico a política de redistribuição (processos e dinâmicas econômicas de exploração) e a política do reconhecimento (lutas culturais contra a dominação e lutas pela identidade).
Por tais elementos, acreditamos ser imprescindível pensar a EPS com a criticidade, entendida como dimensão teórica e epistemológica da prática e da produção do pensamento em saúde. Nesse sentido, como adverte Melo Neto12, ao se estudar uma realidade por meio de um olhar crítico, faz-se necessária uma maior exigência metodológica.
Conforme estudou Mello7, a educação popular possui, em sua construção teórica, dimensões da educação crítica que consubstanciam seu aprofundamento na direção da criticidade. Tal compreensão é, nas palavras do referido autor, mais robusta e envolve colocar em pauta transformações radicais (no sentido de raiz) dos pressupostos epistemológicos e ideológicos subjacentes nos processos educativos. Isso implica, também, uma prática pedagógica eminentemente fundamentada em mudanças radicais dos compromissos de cada pessoa com o social. Acostando-se nas ideias de Apple, Mello7 diz que a educação, para ser efetivamente crítica, precisa cultivar atitudes coerentes com a transformação social.
O desafio de desvelar processos formativos na EPS que sejam críticos e mobilizadores do protagonismo
É preciso ponderar, no âmbito dos movimentos e das práticas de EPS, em que medida e por quais caminhos essas iniciativas têm repercutido em uma alteridade concreta. Ou seja, é preciso ponderar quais têm sido os percursos trilhados pelos protagonistas dessas experiências para que elas possam promover concretamente inéditos-viáveis, refletidos em novas possibilidades sociais, culturais e políticas para a vida em sociedade. Essas questões são as que mobilizarão as reflexões tecidas neste tópico.
A EPS não se restringe a um fazer pedagógico, tampouco a um ativismo social. Seu arcabouço teórico-metodológico aponta e propõe claramente novas perspectivas para o fazer e pensar em saúde, na busca por novas sociabilidades e por horizontes sociais diferentes dos atualmente hegemônicos. Espera-se, portanto, que o desenvolver de suas práticas e de seus movimentos enseje a formação de protagonistas e a constituição de relações marcadas, sobretudo, pela defesa intransigente e pela promoção permanente de princípios como justiça, solidariedade, igualdade e liberdade, possibilitando o desenvolver da vida com alegria e dignidade para todas as pessoas e conferindo-lhes a chance de buscar “ser mais”, como diria Paulo Freire13.
Nesse sentido, fazer EPS é construir, desde já, novas possibilidades de ser, de estar e de atuar no mundo. Não é preciso esperar o mundo mudar para se instalar novas relações sociais e novas formas de participar, de intervir e de construir. Pela EPS, aponta-se ser possível promover experiências que consigam, com elas mesmas e pelos espaços por elas criados, delinear coletiva e processualmente novos horizontes sociais e novas hegemonias políticas.
Concordamos, portanto, com Paro et al.14, que destacam o caráter praxiológico como pressuposto de qualquer processo pedagógico que intencione mobilizar a construção da mudança, ou, nos termos freireanos, dos inéditos viáveis13. Para tanto, os autores destacam ser fundante uma:
[...] consubstancialidade entre as dimensões ontológica e política [...]. Colocando em evidência as relações excludentes e de injustiça, a leitura da realidade pode suscitar uma miríade de sentimentos envolvendo espanto, rebeldia, inconformismo, raiva, mas também coragem, ousadia e esperança. Nesse momento, faz-se presente o imbricamento entre as dimensões ontológica e política da pedagogia freireana, na medida em que a indignação e a esperança só se justificam quando são mobilizadoras de mudanças14. (p. 9)
Um novo agir em saúde já vem sendo tecido a partir de diversas iniciativas de EPS nas quais se desvelam outros princípios e diferentes metodologias e se elabora uma teoria do conhecimento. Um agir no qual os serviços de saúde sejam espaços capazes de qualificar a busca de “ser mais” das pessoas, de relações respeitosas e democráticas, além de propiciar subsídios concretos para melhorar mais a vida em sociedade, sendo ela pautada pelos princípios da solidariedade, justiça, liberdade e igualdade.
Mas como esse agir pode ser promovido e cultivado? Em nosso ver, um caminho relevante consiste na característica pedagógica da EPS quanto à instituição permanente do protagonismo das pessoas em todas as etapas do processo educativo. Tal protagonismo não é dado às pessoas, mas é promovido e mobilizado, sobretudo, pelo incentivo à construção de análises críticas protagonizadas por esses atores e pelo estabelecimento de espaços próprios para que eles consigam refletir sobre os processos sociais que vivenciam.
O protagonismo será tecido e aprimorado a partir do momento em que cada ator exercite uma reflexão crítica capaz de apontar não apenas inconsistências e lacunas no outro, mas em si mesmo, evidenciando sua capacidade de errar e a concepção de que seu saber não é o único. Assim, aprendendo sempre a fazer junto com os envolvidos em relações de aprendizados e transformações mútuas, superando as lógicas autoritárias e verticais no agir cotidiano.
Em continuidade ao legado freiriano, comprometido com a emancipação humana e a transformação social, nós nos colocamos diante da necessidade de lutar e construir um mundo com justiça social para todos e todas. Nesse sentido, o reconhecimento da diversidade está atrelado à luta pelo direito à diferença como ponto de partida, vislumbrando a igualdade material como ponto de chegada. Assim se traduz a urgência em lutarmos pela equidade, entendida como direito à igualdade de oportunidades, considerando as diferenças15. (p. 18)
O estímulo ao protagonismo não pode, no entanto, consistir apenas de uma etapa, de um dispositivo ou de uma dinâmica pontual do processo formativo. Pela EPS, o protagonismo deve ser considerado como princípio pedagógico essencial que deve ser tecido e exercitado na transversalidade de seus fazeres. Com isso, apontamos para a relevância de ponderar o quanto esse aspecto não pode ser reduzido à visão pedagógica utilitarista, mas precisa se constituir em um preceito ético que impacta em toda a organização e orientação das práticas e dos movimentos de EPS.
Assim, por essa compreensão, tal protagonismo apenas será gerado quando se compartilha, no espaço educativo em questão, o exercício da confiança nas atitudes das pessoas, espelhada na valorização de seus saberes e na crença de que sua ousadia e coragem possibilitará a construção de ações, intervenções e iniciativas promissoras. Promover o protagonismo em EPS passará, necessariamente, por um processo em movimento. Ou seja, um caminhar. Por essa razão, há que se ter também paciência com as lacunas e os limites de cada protagonista, de seus movimentos e de suas práticas; encarar os obstáculos como pontos de análise crítica e substratos para novos direcionamentos às ações empreendidas.
Nessa esteira, outra dimensão revelada por esse debate estará na imprescindível busca por uma relação efetivamente horizontal entre docente e estudante, sem autoritarismos, pautada pelo diálogo e pelo vínculo amoroso. Zea-Bustamante9 aponta elementos que avalia serem centrais para os processos educativos com tais características:
El reconocimiento del otro como agente válido, histórico y con saberes; Replantear los espacios de poder en el acto educativo, la educación como escenario de negociación cultural, donde se pongan en juego los saberes, las experiencias y las prácticas comunitarias, donde la historia y los conocimientos de las personas sean el punto de partida para la concreción del acto educativo; Establecer un acto de amor, es decir, el diálogo como encuentro y reconocimiento de la alteridad, reconocimiento del otro con quien se puede transformar el mundo9. (p. 64)
Até que ponto estamos conseguindo, nos processos formativos dos movimentos e das práticas de EPS, promover esse tipo de relação? Em muitas das propostas progressistas de formação em saúde, enquanto muito se discute dinâmicas e iniciativas para encorajar o protagonismo e criticidade estudantil, pouco se mexe com o poder absoluto do educador nos espaços educativos. Como dizem Rios e Caputo16, apesar do processo evolutivo do ensino em saúde nas experiências brasileiras, tem seus aspectos tanto curriculares quanto metodológicos, ainda há importantes lacunas a superar na perspectiva de uma formação humanista e integral. Nesse sentido, destaca-se a ideia de que:
[...] não basta apenas transformar as metodologias e a grade curricular; é fundamental inserir os estudantes em espaços de prática e reflexão, onde eles possam ter contato com atividades que extrapolem a formação puramente técnica e dialoguem com a realidade. [...] o sujeito reflete não apenas sobre a sua atuação como futuro profissional, mas também acerca do seu papel de cidadão16. (p. 185)
Nosso olhar, diante desses desafios, está na acepção de ser preciso incentivar na EPS uma relação de companheirismo e de fraternidade entre educadores e educandos, na qual a tarefa de aprender seja uma caminhada compartilhada entre seres humanos com a mesma característica de serem contraditórios, de terem seus gostos, de cultivarem seus sonhos.
O educador, em qualquer processo formativo pela EPS, precisa exercitar sua humanidade, com toda a inconclusão imersa nela. O que é, sem dúvida, um ato de coragem, pois implica se abrir e se expor, mas não significa retirar seu papel de orientação, apoio, estímulo e incentivo pedagógicos. Implica criar espaços de gestão participativa do espaço educativo e das ações educativas. Nessa perspectiva, há um envolvimento concreto do educador com o desenvolvimento do educando e sua busca de “ser mais”. Há um companheirismo na trilha dessa longa e dura jornada chamada formação.
Isso se aplica, em nossa compreensão, para o processo educativo não apenas na Academia, mas para muito além desta, envolvendo os serviços de saúde, os contextos de promoção de políticas públicas, as escolas de educação básica, fundamental e de ensino médio, os movimentos sociais populares, os grupos populares e as práticas comunitárias.
Ainda no âmbito do desafio discutido neste item, torna-se necessário ponderar a promoção de outras relações e de novas sociabilidades. Ou seja, os processos formativos em EPS precisam frisar não somente a abordagem de uma série de conteúdos, mas também a tessitura de novas formas de estar no mundo e com os outros. Sendo assim, em nossa visão, as metodologias formativas em EPS não podem estar separadas da ética e da estética do mundo novo que se quer construir.
Portanto, pelo olhar da EPS, não adianta se falar em metodologias ativas no interior da formação em saúde sem priorizar uma presença ativa nos serviços de saúde, nos espaços dos movimentos sociais e das práticas e em outros contextos sociais. Isso é fortalecido em Freire13, quando este chama a atenção, em sua obra Pedagogia da Autonomia, para o fato de que ensinar exige corporificação pelo exemplo. O mergulho em trabalhos sociais inseridos no mundo concreto e em suas determinações permite a produção desejante e constitui a base fundamental para qualquer proposta de formação em saúde cujo interesse esteja no desenvolvimento crítico, cidadão e emancipatório.
Dessa forma, aponta-se que não se pode desenvolver processos formativos em EPS sem uma firme, orgânica e profunda articulação dos conteúdos e das experiências de ensino e de aprendizagem com a dinâmica da realidade social, a vida pulsante nos territórios e os desafios concretos e as questões palpitantes presentes em cada realidade. Isso somente pode ser compreendido quando sentido pela presença consistente e sistemática em trabalhos sociais no contexto das práticas e dos movimentos de EPS, o que inclui contribuir na construção da autonomia das pessoas que atuam e intervêm nesse território vivo.
Aprender, pela EPS, passa necessariamente por aprender a mobilizar as pessoas envolvidas nos processos do fazer saúde a, efetivamente, criar, desenvolver e aprimorar um agir crítico e reflexivo sobre os problemas concretos de seus respectivos contextos.
O desafio de fomentar a ação em rede e a articulação da luta dos movimentos e das práticas de EPS
Em nossa concepção, o formar-se em EPS deve se construir de forma atrelada ao exercício concreto da participação em movimentos sociais populares e outras formas de organização social e política. Como nos diz Dantas et al.17, a EPS “visa ao resgate da organicidade interna, orientada à prática e vinculada a uma análise mais ampla da questão de saúde por meio do incentivo e da construção da autonomia transformada em luta”17 (p. 7).
Dessa forma, o presente tópico é tecido a partir da ponderação sobre em que medida os processos formativos promovidos pelos movimentos e pelas práticas de EPS estão se desdobrando em protagonismos de cunho individual e na mobilização da participação das pessoas nesses mesmos espaços e em contextos mais amplos, na perspectiva de sua inserção crítica e atuação política diante da realidade social e de suas determinações.
Participar ativamente da construção de movimentos sociais populares permite às pessoas em formação desenvolver, por exemplo, o protagonismo, como reivindicamos anteriormente neste texto. Vivenciar espaços de articulação e de organização política e social, em especial pelos movimentos sociais populares, permite, de um lado, que as pessoas se envolvam na tessitura de novas sociabilidades. Essas sociabilidades, por sua vez, são espelhadas em outras formas de conviver em coletivo, em novas perspectivas de relacionamento social, na valorização da mística e da solidariedade, bem como no desenrolar de uma organização da vida a partir das lutas por mudança daquilo que oprime e incomoda. A inserção em espaços de participação política mais ampla permite ainda às pessoas extrapolar a dimensão de uma participação-observação, rumo a uma participação-ação concreta, por meio da experimentação de suas contribuições em várias lutas sociais. Transbordar a ação crítica e criativa, de cunho individual, para um protagonismo tecido coletivamente. O trabalho social empenhado em prol de um desejo coletivo e mediatizado necessariamente por uma comunicação dialógica.
É no fazer concreto das lutas dos movimentos sociais populares que os protagonistas da EPS poderão ampliar seus olhares para além das práticas locais e perceber, certamente, a potencialidade da construção coletiva e da ação social organizada de forma participativa e cooperativa entre gentes com saberes distintos, inclusive técnicas e profissões variadas. Aprende-se, por exemplo, a interprofissionalidade e a transdisciplinaridade por meio da prática e do trabalho vivo em ato.
Especificamente no campo da EPS, a inserção no espaço dos coletivos nacionais de EPS possui um potencial pedagógico rico para as pessoas participantes, ampliando sua capacidade crítica e sua visão estratégica pelo aprendizado de lidar com as conjunturas macropolíticas e o desafio de lutar pela EPS como princípio ético das relações sociais, humanas, culturais e educativas na universidade. Para mais, a participação na construção desses coletivos enseja a vivência dos protagonistas da EPS na luta pelo reconhecimento desta no Sistema Único de Saúde (SUS), na inserção ativa de suas práticas e em seus movimentos nos serviços e nas políticas de saúde, sobretudo pela promoção e pela defesa da Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS (PNEPS-SUS).
A trajetória dos coletivos de EPS na construção, na implementação e na defesa da PNEPS-SUS demonstra ser fundamental ativar, de modo permanente e capilarizado, redes de comunicação entre atores sociais da EPS e suas lutas. Assim, a aprendizagem dos protagonistas dos movimentos e das práticas de EPS poderá ocorrer também pela compreensão dos sentidos, dos significados e dos caminhos de diferentes experiências em diversos contextos e cenários. Valorizar a participação das pessoas em redes e em articulações de movimentos e práticas implica mobilizar cada pessoa a aprender com o outro, com as iniciativas de outras regiões do país e com empreendimentos bastante diferentes dos seus.
O cultivo da possibilidade do diálogo em redes de experiências de EPS pode se desvelar, por exemplo, tanto apresentando o processo de construção dos trabalhos de EPS de cada pessoa, seus movimentos e suas práticas, quanto escutando as apresentações de companheiros do campo. Vai-se, então, acumulando aprendizados sobre metodologias e perspectivas teóricas; e ampliando o olhar para os mesmos problemas que geraram as ações em destaque. Percebe-se que as demandas comunitárias não se adscrevem àquela comunidade na qual se desenvolveu a experiência, nem as problemáticas em foco limitam-se àquela cidade, mas transcorrem em outras regiões, com formas semelhantes e diferentes de luta e enfrentamento. Compartilhar experiências viabiliza aos protagonistas da EPS, nos processos formativos, exercitar um olhar conjuntural acerca das questões sociais, o que vai se dando de maneira processual e de acordo com seu próprio tempo.
Assim, percebe-se a relevância de estimular a participação nos coletivos de EPS em encontros de caráter regional e nacional, ampliando a dimensão do compartilhamento de experiências. Especialmente para aqueles atores em pleno processo de protagonismo local, a convivência com outros atores em nível regional e nacional lhes permitirá constatar que as lutas sociais e a EPS constituem iniciativas em diversos recantos dentro e fora do país.
Com tal constatação, poderá conferir mais importância e valor ao trabalho localmente desenvolvido por ele em sua comunidade e em sua universidade. Perceberá que a EPS não se trata de um sonho distante de alguns poucos “loucos” do contexto onde estudam. Descobrem que há muitos outros sonhos e uma diversidade imensa de outros “loucos” dedicados à viabilização desses sonhos em muitos outros locais.
Como se não bastasse, nesses encontros, também as pessoas envolvidas descobrem a importância significativa de seus trabalhos para a geração de inovações e conhecimentos em saúde, a partir do momento em que constatam a dinamicidade com que pessoas de outras regiões não apenas admiram seus trabalhos, mas também aprendem com eles e incorporam muitos de seus elementos na construção de suas ações locais. Percebem, então, a dimensão de conhecimento que suas experiências carregam e a relevância desse saber ser continuamente sistematizado e divulgado.
Considerações finais
Com base nos objetivos propostos para as reflexões empreendidas neste ensaio, podemos concluir que, quando falamos de EPS, estamos falando de um corpo prático que ilustra uma ética de viver. Todavia, alcançar essa harmonia entre o que se faz na prática com o que se acredita ser ideal compõe um desafio constante para aqueles e aquelas que se lançam nas experiências de EPS.
A constituição de um agir em saúde que se afirma na Educação Popular deve se dar em uma relação dialética entre o prático e o ético, na medida em que, em certo ponto, ideais/ideologias/utopias constituem uma ética que leva determinados sujeitos a empreenderem ações que busquem alcançar um novo modo de viver em sociedade (ética levando à constituição de outra prática); ao mesmo tempo aquelas ações vão constituindo novas formas de relação e sociabilidade18,19, reverberando em uma nova ética (prática levando à constituição de outra ética, agora universal).
Diante de tudo isso, concluímos que, ao falar de EPS, referimo-nos ao desafio de trazer uma outra perspectiva teórica e epistemológica para o agir em saúde, capaz de apontar caminhos possíveis para outras realizações que estejam pautadas firmemente na busca por uma racionalidade solidária, humana e ambientalmente amorosa.
Com a EPS, poderemos ainda (quem sabe) ensaiar respostas fortes contra o movimento hegemônico de significação dos homens e mulheres enquanto valores de mercado, no qual a grande preocupação é a sua estabilidade, a movimentação e o equilíbrio das empresas. Nesse contexto, esforços sem medida são empreendidos para recuperação de crises financeiras, enquanto a crise da existência material humana continua em voga – seja expressada por fome, pobreza econômica e miséria, seja refletida na violência cotidiana com a qual o mundo convive, espelhada na discriminação e na competitividade – na construção de uma ideia eticamente avessa de que as desigualdades são naturais e de responsabilidade individual.
Como lugar propício para a reflexão crítica e a produção de conhecimentos e tecnologias emancipatórios, os serviços de saúde bem que poderiam, pela EPS, direcionar suas ações e reflexões para a superação desse quadro; ensaiar cantigas e gerar movimentos populares que respondam aos reclames da maioria da população mundial; e recomendar, por meio de suas ações e interações, uma decisão firme de que precisamos remar em outra direção. Por tudo que pudemos refletir ao longo destas páginas, acreditamos firmemente que a EPS dá corpo metodológico e orientações éticas/filosóficas para a constituição de outra formação em saúde, configurando um caminho na direção da realização de utopias sonhadas e compartilhadas coletivamente.
Nesse sentido, destacamos que a EPS é, ao mesmo tempo, a realização da aplicação da ciência de modo edificante e emancipatório junto com as classes populares e um caminho de lutas em movimento pela transformação da sociedade na qual está inserida. A efetivação de ações educativas pautadas por princípios éticos definidos, com reforço ao coletivo e com preocupações voltadas às maiorias sociais, será conduzida no sentido de garantir que alternativas sejam possíveis, inibindo modelos de produção que só mantenham ou fortaleçam os mecanismos de exclusão. EPS em processos formativos necessariamente empenhados na necessidade de resistir e re-existir, na construção cotidiana do esperançar e do bem viver, no tecer de inéditos-viáveis com experiências voltadas a uma nova sociedade e uma nova humanidade.
Agradecimentos
A todas as pessoas que compõem o Grupo Temático de Educação Popular e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), pela generosidade na formulação solidária e colaborativa de reflexões sobre o campo da Educação Popular e Saúde, seus caminhos, desafios e perspectivas. Também registramos a gratidão à Secretaria Executiva e à Diretoria da Abrasco pelo sistemático apoio às atividades desse grupo temático ao longo dos anos.
Referências
1
1. Rocha C. “Imposto é roubo!” A formação de um contrapúblico ultraliberal e os protestos pró- impeachment de Dilma Rousseff. Dados. 2019; 62(3):e20190076.
Rocha
C
“Imposto é roubo!” A formação de um contrapúblico ultraliberal e os protestos pró- impeachment de Dilma Rousseff
Dados
2019
62
3
e20190076
2
2. Miranda L, Carvalho AI, Brito C, Mendonça MHM, Vasconcellos MTL, Lima SML. Crise e saúde: implicações para a política, a gestão e o cuidado em saúde. Cienc Saude Colet. 2019; 24(12):4372.
Miranda
L
Carvalho
AI
Brito
C
Mendonça
MHM
Vasconcellos
MTL
Lima
SML
Crise e saúde: implicações para a política, a gestão e o cuidado em saúde
Cienc Saude Colet
2019
24
12
4372
3
3. Rech MJ. Crise e golpe. Rev Direito Praxis. 2019; 10(4):3116-25.
Rech
MJ
Crise e golpe
Rev Direito Praxis
2019
10
4
3116
3125
4
4. Mascaro AL. Crise e golpe. São Paulo: Boitempo; 2018.
Mascaro
AL
Crise e golpe
São Paulo
Boitempo
2018
5
5. Cruz PJSC, organizador. Educação popular em saúde: desafios atuais. São Paulo: Hucitec; 2018.
Cruz
PJSC
organizador
Educação popular em saúde: desafios atuais
São Paulo
Hucitec
2018
6
6. Botelho BO, Vasconcelos EM, Carneiro DGB, Prado EV, Cruz PJSC, organizadores. Educação popular no sistema único de saúde. São Paulo: Hucitec; 2018.
Botelho
BO
Vasconcelos
EM
Carneiro
DGB
Prado
EV
Cruz
PJSC
organizadores
Educação popular no sistema único de saúde
São Paulo
Hucitec
2018
7
7. Mello M. Educação crítica e educação popular: um diálogo (norte-sul) entre comadres. Pedagogica. 2013; 1(30):68-104.
Mello
M
Educação crítica e educação popular: um diálogo (norte-sul) entre comadres
Pedagogica
2013
1
30
68
104
8
8. Melo Neto JF. Heráclito: um diálogo com o movimento. João Pessoa: UFPB; 1996.
Melo
JF
Neto
Heráclito: um diálogo com o movimento
João Pessoa
UFPB
1996
9
9. Zea-Bustamante LE. La educación para la salud y la educación popular, una relación posible y necesaria. Rev Fac Nac Salud Publica. 2019; 37(2):61-6.
Zea-Bustamante
LE
La educación para la salud y la educación popular, una relación posible y necesaria
Rev Fac Nac Salud Publica
2019
37
2
61
66
10
10. Melo Neto JF. Extensão popular. 2a ed. João Pessoa: UFPB; 2014.
Melo
JF
Neto
Extensão popular
2a
João Pessoa
UFPB
2014
11
11. Santos BS. Para uma pedagogia do conflito. In: Silva LH, Azevedo JC, organizadores. Novos mapas culturais, novas perspectivas educacionais. Porto Alegre: Sulina; 1996. p. 15-33.
Santos
BS
Para uma pedagogia do conflito
Silva
LH
Azevedo
JC
organizadores
Novos mapas culturais, novas perspectivas educacionais
Porto Alegre
Sulina
1996
15
33
12
12. Melo Neto JF. Extensão universitária: bases ontológicas. In: Melo Neto JF, organizador. Extensão universitária: diálogos populares. João Pessoa: UFPB; 2002. p. 7-22.
Melo
JF
Neto
Extensão universitária: bases ontológicas
Melo
JF
Neto
organizador
Extensão universitária: diálogos populares
João Pessoa
UFPB
2002
7
22
13
13. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25a ed. São Paulo: Paz e Terra; 1996.
Freire
P
Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa
25a
São Paulo
Paz e Terra
1996
14
14. Paro CA, Ventura M, Silva NEK. Paulo Freire e o inédito viável: esperança, utopia e transformação na saúde. Trab Educ Saude. 2020; 18(1):e0022757.
Paro
CA
Ventura
M
Silva
NEK
Paulo Freire e o inédito viável: esperança, utopia e transformação na saúde
Trab Educ Saude
2020
18
1
e0022757
15
15. Pini FR. Educação popular em direitos humanos no processo de alfabetização de jovens, adultos e idosos: uma experiência do projeto Mova-Brasil. Educ Rev. 2019; 35:e214479.
Pini
FR
Educação popular em direitos humanos no processo de alfabetização de jovens, adultos e idosos: uma experiência do projeto Mova-Brasil
Educ Rev
2019
35
e214479
16
16. Rios DRS, Caputo MC. Para além da formação tradicional em saúde: experiência de EPS na formação médica. Rev Bras Educ Med. 2019; 43(3):184-95.
Rios
DRS
Caputo
MC
Para além da formação tradicional em saúde: experiência de EPS na formação médica
Rev Bras Educ Med
2019
43
3
184
195
17
17. Dantas ACMTV, Martelli PJL, Albuquerque PC, Sá RMPF. Relatos e reflexões sobre a Atenção Primária à Saúde em assentamentos da Reforma Agrária. Physis. 2019; 29(2):e290211.
Dantas
ACMTV
Martelli
PJL
Albuquerque
PC
Sá
RMPF
Relatos e reflexões sobre a Atenção Primária à Saúde em assentamentos da Reforma Agrária
Physis
2019
29
2
e290211
18
18. Batista MSX. Movimentos sociais e educação: construindo novas sociabilidades e cidadania [Internet]. In: Anais do 8o Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais; 2004; Coimbra, Portugal. Coimbra: Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra; 2004 [citado 10 Abr 2020]. Disponível em: https://www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/MAriadoSocorroXavierBatista.pdf
Batista
MSX
Movimentos sociais e educação: construindo novas sociabilidades e cidadania
Internet
Anais do
8o Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais
2004
Coimbra, Portugal
Coimbra
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
2004
citado 10 Abr 2020
https://www.ces.uc.pt/lab2004/pdfs/MAriadoSocorroXavierBatista.pdf
19
19. Calado AJF. Novos e velhos movimentos sociais populares: quais saberes necessários à construção de uma sociabilidade alternativa? In: Scocuglia AC, Jezine E, organizadores. Educação popular e movimentos sociais. João Pessoa: UFPB; 2006. p. 59-76.
Calado
AJF
Novos e velhos movimentos sociais populares: quais saberes necessários à construção de uma sociabilidade alternativa?
Scocuglia
AC
Jezine
E
organizadores
Educação popular e movimentos sociais
João Pessoa
UFPB
2006
59
76
*
O presente manuscrito é resultado de um ensaio crítico e reflexivo. Não houve coleta de dados e tampouco foram abordados seres humanos, razão pela qual a pesquisa não foi apreciada por Comitê de Ética em Pesquisa.
Dossier
Popular Education in Health
Popular Education and Health in educational processes: challenges and perspectives*
0000-0003-0610-3273
Cruz
Pedro José Santos Carneiro
(a)
0000-0002-6086-6901
Silva
Maria Rocineide Ferreira da
(b)
0000-0002-1918-0916
Pulga
Vanderleia Laodete
(c)
(a)
Brasil
Departamento de Promoção da Saúde, Centro de Ciências Médicas, Universidade Federal da Paraíba. Cidade Universitária, s/n. João Pessoa, PB, Brasil. 58051-900. pedrojosecruzpb@yahoo.com.br
(b)
Brasil
Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. <rocineideferreira@gmail.com>
(c)
Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul. Passo Fundo, RS, Brasil. vanderleia.pulga@gmail.com
Authors’ contributions
All authors had actively participated in all stages of the manuscript preparation.
Amidst the growth of a conservative neoliberal model in the current Brazilian public agenda, Popular Education and Health (EPS) presents itself as a possibility for the production of experiences directed to the constitution of health as a right; moreover, it is also committed to the development of people's role in the search for good living and for the critical confrontation with social determinations of health. The present article addresses EPS in formative processes, their challenges and perspectives. Centrally, it problematizes aspects such as: criticality in the movements and practices of EPS; the critical and mobilizing processes of protagonism; network action and the articulation of the struggle of movements and EPS practices. It is expected that these reflections will contribute to the debate on EPS and its role as a theoretical and methodological referential for training in the health area.
Popular education and health
Health training
Social movements
Popular participation
From the people, we seek strength
“It is not enough for our cause
to be pure and just
It is necessary that purity and justness
exist within us.
We are on the same boat.
All of us agree – we must fight.
Fight for what?
To release old hatred?
or to attain freedom
and to possess what we have created?
(Agostinho Neto)
Introduction
The current Brazilian context has been characterized by the upscaling in human exploitation, predominantly through the gradual establishment of an ultraliberal agenda in the economic and social field. A series of realignments in the political approach of state action has been put into practice in the national life, especially after 2016. This has incurred the dismantling of public social policies by removing from the State the responsibility for promoting essential human and social rights.
In 2020, the arise of the COVID-19 pandemic reveals a health crisis of remarkable proportions. Such pandemic (and its outcomes in the territories) highlights, in a substantial and growing way, the persistent onslaught of social exclusion processes in the lives of the majority of the Brazilian population. It occurs mostly by intensifying the effect of social, economic, political and cultural determinants on the health field1,2.
This ultraliberal (or totalitarian neoliberal) trend has been signaling, in different parts of the world, that the solutions to the recent capitalist crises would be the conservative restoration and the affirmation of the market fundamentalism, by which everything is commodified. All forms of life and relationships become merely objects of purchase and sale.
This scenario also highlights processes such as: insistent attritions on democracy, its institutions and relations; the reinforcement of the logic of domination, exploitation and alienation in the social, economic, cultural, labor and power spheres; the increase in polarization with the use of force and multiple ways of violence; the control on the production of subjectivities and intersubjectivities; the attempt to impose hegemonial beliefs and rituals with a conservative, racist, misogynistic and prejudiced basis; and attempts to suppress and/or destroy fundamental aspects of ethnic and cultural identities and diversities, which are so strong in Brazilian society1,3,4. These processes are not only carried out by the governmental action occupying the elective public spaces, but it also has the support of part of the population organized in neo-fascist and conservative groups and movements.
Thus, it is precisely at this moment that is urgent the need for movements, practices and experiences that both denounce these dehumanizing contexts and announce other pedagogical, cultural, political and social paths. Paths that enable the permanent construction of another model of society, necessarily in conjunction with the immediate formation of other relationships and sociability, especially those guided by social justice and a perspective of human emancipation4.
In the context of Collective Health, the Popular Education and Health (EPS) presents itself as a fruitful field of possibilities for the unveiling of a social, scientific and professional action in health. The EPS is committed to the collective production of practices, experiences and movements which, through the dialogical sharing of knowledge, contribute to social transformation and the emancipation of people. In particular, for collaborating in a joint effort to promote life and struggle for the realization of human dignity, reflected in teaching and learning processes which are deeply connected to the confrontation with social exclusion of the popular classes and their protagonists5.
In the multifaceted scenario of Brazilian health, the concept of Popular Education has been highlighted as a methodological, political and epistemological approach guiding the action of workers, protagonists of social movements and popular practices, as well as actors from the university scene. EPS works to promote social experiences and teaching and learning processes aimed at establishing health as a right, and also the development of people’s protagonism in the search for good living and for the critical confrontation with the social determinations of health and living. The methodology is its founding component, as it is based on participatory and dialogical action. It intermediates the formation of subjects for the construction of life with quality and dignity by having them participating in social works in different territories, contexts and situations6.
This present work constitutes a critical and reflective essay produced from the interpretation of its authors about the challenges of EPS and its formative processes in the current Brazilian context. Therefore, its writing is based upon the reflections by the authors in their experiences in the coordination of the Management Group of the Thematic Group of EPS at the the Brazilian Association of Public Health (Abrasco), in the period between October 2016 and February 2020. The following aspects are centrally problematized: the criticality in the movements and practices of EPS; the critical and mobilizing processes of protagonism; network action and the articulation of the struggle of movements and EPS practices.
As Mello7 asserts, the tensions underway need answers that are not simplistic, nor dualistic. Above all, it is prudent and urgent to exercise the critical, self-critical and reflective dimension for those who are the protagonists of EPS experiences.
Complexity and refinement in thinking and acting are required for unveiling a rigorous, precise and assertive understanding of the current social reality in Brazil, which has been changing rapidly. If it is true that EPS has theoretical and methodological subsidies to support this process, the ability to study, analyze, and problematize is essential to be built with, in and from experiences, in order to produce a critical theory and practice, capable of offering elements of analysis and overcoming the current social7.
In our opinion, the reflective effort shared in this article proves to be important as a self-critical exercise. It also nurtures the problematization of EPS practices and movements across the country. If on the one hand the perspectives outlined here are certainly not the only possible ways of looking at EPS and its challenges, on the other hand, they can be ideas for provoking the thoughts, and they can also mobilize the systematization of its practices and outcomes, resulting in the emergence of other perspectives and ideas.
The challenge of promoting criticality in EPS movements and practices
The question that sustains this challenge is to understand to what extent the movements and practices of EPS, in their different spaces, have effectively applied criticality in an emancipating ethical-political perspective. Being evidenced not just in the speech of the protagonists of EPS, but having it as a concern so daily and systematic that it is reflected in the way it conducts, evaluates and unveils the actions and reflections.
The transforming action in people’s daily practices and social processes – in the perspective of building a society free from all forms of oppression, domination, exploitation, discrimination and violence – is an ethical-political and pedagogical challenge present in EPS actions. In this regard, it is necessary to develop critical capacity, understood as a way of analyzing reality, considering it through a dialectical prism. In other words, taking it in its contradictory essence and in permanent transformation8.
By confronting the contexts of political oppression, dehumanization and social exclusion, it is urgent to use theories that can comprehend and explain the dominant reality in our society, which is ethically unjust and contradictory. By assuming the analysis of these contradictions, the dialectic in Karl Marx qualifies as one of the most important theoretical foundations for the conduct of these works.
Therefore, the criticality must be configured in a careful study and must focus on reality and on its determinations, by taking as its starting point the inherent complexity and its various facets, contradictions, appearances and illusions. Thus, an important understanding of criticality consists precisely in that which points to the unveiling of the ability to see reality and its determinations in its contradictions, its diverse and (often) contrasting facets, in the philosophical line founded by Karl Marx.
Nowadays, it is essential that the protagonists of the EPS movements and practices contemplate the dimension of criticality in their thoughts and actions. For that, first of all, we need to conceive the action in EPS not only in its practical dimension, but also in its reflective facet, producer of new knowledge about the world, about EPS itself, about each one of its experiences and about ourselves.
Criticality is, therefore, potentially present in the making of each EPS practice. However, its protagonists must be willing to broaden the view on this doing in order to unveil it. Understanding, thus, that the systematic undertaking of a critical analysis that fosters learning and reveals the limits of each action is part of “doing EPS”.
Therefore, qualifying the knowledge of reality, the protagonists’ self-knowledge, and the improvement of actions in the search for human emancipation, as hits, mistakes, potentialities, and limit situations are highlighted. Consequently, elucidating socially, culturally, economically and politically the paths taken by EPS, so as to verify to what extent its initiatives are promoting changing processes in situations and in relations that promote exclusion.
It is important to have clear the awareness of the unfinished nature of each of the subjects involved in the EPS, and also the compression of the changing reality, or simply that transformation is possible: The transformation of us and of the world. In the dialectic perspective, this thought comes from Heraclitus, who said that our reality is permeated by different tensions at all times, resulting from different human interests. This permanent, tense struggle is the engine of changes, because sometimes an attitude/will/way of acting prevails, sometimes it will be another, and so on. Therefore, “a essência, o elemento primordial, é o vir-a-ser. Tudo está em perpétuo movimento. A realidade está sujeita a um vir-a-ser contínuo”8 (p. 21).
In this sense, another fundamental dimension for the criticality of the EPS protagonists is the constant provocation to be exquisite transformation thinkers, in addition to being excellent transformation activists. In other words, to conceive that protagonism is not only done in action, but in thought. The exercise of critical, revolutionary, non-conformist thinking is one of the fundamental marks for EPS, especially today. It is clear, then, the need to train thinkers through EPS, and not just social activists. That is to say: it is necessary to train social activists who, conceiving their inconclusion and the limits of their work and ideas, seek in critical reflection the basis and essence of their social action; a dialectical reflection that happens individually, but also collectively, favoring different perceptions from different perspectives and points of view. That is to say, various dimensions.
The criticality encourages the practice of dialogue as an essential condition in the agreement, planning and implementation of actions. Dialogue is an emulsifying element of human and subjective interactions. It becomes a fundamental condition for conducting work in a participatory, supportive and awareness-raising manner. As Zea-Bustamante states9, it is nothing but an intentional and never neutral encounter.
Hablar del diálogo como epicentro de las acciones de la educación popular implica entender la educación como un acto de amor, como un encuentro intencionado y nunca neutral, donde, a través de la palabra, se logra que quienes participan en el acto educativo − estudiantes, docentes y comunidade − signifiquen su mundo, reconozcan los aspectos que lo constituyen y puedan así establecer procesos de empoderamiento para transformar sus realidades9. (p. 63)
With regard to criticality, it is also worth noting that it recommends EPS actors to consider the historicity of facts, realities and subjects. In this perspective, the historical look emerges as a basic condition to be considered in the development of work in EPS. One cannot consider a phenomenon without historicizing it, because the criticality movement conceives that things have different determinations in its constitution. People, things, realities are, at a given moment, syntheses of many different determinations.
Therefore, without considering its historicity, one cannot think of an action for criticality, consistent with the surrounding reality and its determinations, aiming at its transformation. EPS must then be conceived and practiced as a dialectical process, as Melo Neto10 and Santos11 claim. As Mello7 explains, based on the dialogue between the ideas of Michael Apple and Paulo Freire, the Popular Education prioritizes criticality when it proposes to reveal the formation of subjectivities committed to the search for relationships and experiences that make it possible to break with any illusions and conformist subjectivities. Such committed subjectivities are based on the belief that the ways in which our societies and their educational apparatus are currently organized can lead to social justice. To this end, Mello7 positions as central content for the critical educational process: the policy of redistribution (processes and economic dynamics of exploitation) and the policy of recognition (cultural struggles against domination and struggles for identity).
We believe that such elements are essential to think about EPS with criticality, understood as a theoretical and epistemological dimension of the practice and production of health thinking. In this sense, when studying a reality through a critical eye, a greater methodological demand is necessary, as Melo Neto12 advises.
According to this author7, the Popular Education has, in its theoretical construction, dimensions of critical education that substantiate its deepening in the direction of criticality. Such understanding is, in his words, more robust and involves placing on the agenda radical changes of the underlying epistemological and ideological assumptions in educational processes. This also implies a pedagogical practice eminently based on radical changes in each person’s commitments to the social. Based on Apple’s idea, Mello7 states that education needs to cultivate attitudes consistent with social transformation in order to be effectively critical.
The challenge of unveiling educational processes in EPS that are critical and mobilize protagonism
It is necessary to consider, in the scope of the movements and practices of EPS, to what extent and in what ways these initiatives have reflected in the concrete alterativeness. In other words, which paths the protagonists of these experiences have taken so that they can concretely promote viable-unknowns, reflected by new social, cultural and political possibilities for life in society. These questions are the ones that will mobilize the reflections made in this topic.
EPS is not restricted to pedagogical action, nor to social activism. Its theoretical-methodological framework clearly points and proposes new perspectives for doing and thinking about health, in the search for new sociability and for social horizons, different from those currently hegemonic. It is expected, therefore, that the development of its practices and movements will lead to the formation of protagonists and the formation of relationships characterized by the intransigent defense and the permanent promotion of principles such as justice, solidarity, equality and freedom, enabling life with joy and dignity for all people. Thus, gving them the chance to seek “to be more”, as Paulo Freire would claim13.
Seen in this these terms, doing EPS means building new possibilities of being and acting in the world. There is no need to wait for the world to change in order to establish new social relationships and new ways of participating, intervening and building. Through EPS, it is possible to promote experiences that manage to collectively and procedurally outline new social horizons and new political hegemonies in the spaces created by EPS.
We agree, therefore, with Paro et al.14, who highlight the praxiological character as a presupposition of any pedagogical process that intends to mobilize the construction of change, or in Freirian terms, of the viable-unkown13. To this end, the authors emphasize that a
[...] consubstancialidade entre as dimensões ontológica e política [...]. Colocando em evidência as relações excludentes e de injustiça, a leitura da realidade pode suscitar uma miríade de sentimentos envolvendo espanto, rebeldia, inconformismo, raiva, mas também coragem, ousadia e esperança. Nesse momento, faz-se presente o imbricamento entre as dimensões ontológica e política da pedagogia freireana, na medida em que a indignação e a esperança só se justificam quando são mobilizadoras de mudanças14. (p. 9)
A new act in health has already been woven from several EPS initiatives, where other principles and different methodologies are unveiled, and a theory of knowledge is elaborated. An act in which health services are spaces capable of qualifying people’s search for “being more”, of respectful and democratic relationships, in addition to providing concrete subsidies to improve life in society, being guided by the principles of solidarity, justice, freedom and equality.
But how can this action be promoted and cultivated? In our view, a relevant path consists of the pedagogical characteristic of EPS regarding the permanent institution of people’s protagonism in all stages of the educational process. Such protagonism is not given to people, but is promoted and mobilized by encouraging the construction of critical analyzes carried out by these actors and by establishing their own spaces so that they can reflect on the social processes they experience.
The protagonism will be woven and improved from the moment each actor exercises a critical reflection capable of pointing out not only inconsistencies and gaps in the other, but in themselves, showing their likeliness to make mistakes and the conception that their knowledge is not the only one. Thus, always learning to act together with those involved in learning relationships and mutual transformations, overcoming the authoritarian and vertical logics in the daily action.
Em continuidade ao legado freiriano, comprometido com a emancipação humana e a transformação social, nós nos colocamos diante da necessidade de lutar e construir um mundo com justiça social para todos e todas. Nesse sentido, o reconhecimento da diversidade está atrelado à luta pelo direito à diferença como ponto de partida, vislumbrando a igualdade material como ponto de chegada. Assim se traduz a urgência em lutarmos pela equidade, entendida como direito à igualdade de oportunidades, considerando as diferenças15. (p. 18)
The stimulus to protagonism cannot, however, consist only of a stage, a device or a specific dynamic of the formative process. According to EPS, protagonism must be considered as an essential pedagogical principle that must be woven and exercised in the transversality of its activities. With this, we point to the relevance of considering how much this aspect cannot be reduced to the utilitarian pedagogical view, but it needs to constitute an ethical precept that impacts the entire organization and orientation of the practices and movements of EPS.
Thus, by this understanding, such protagonism will only be generated when sharing, in the educational space in question, the exercise of trust in people’s attitudes, mirrored in the valorization of their knowledge and in the belief that their boldness and courage will enable the construction of actions, promising interventions and initiatives. Promoting protagonism in EPS will necessarily result in a moving process, that is, a walk. For this reason, it is also necessary to be patient with the gaps and limits of each protagonist, their movements and their practices; it is also necessary to face obstacles as points of critical analysis and substrates for new directions for the actions undertaken.
In this context, another dimension revealed by this debate will be in the essential search for an effectively horizontal relationship between teacher and student, without authoritarianism, guided by dialogue and a loving bond. Zea-Bustamante9 points out elements that he considers to be central to educational processes with such characteristics:
El reconocimiento del otro como agente válido, histórico y con saberes; Replantear los espacios de poder en el acto educativo, la educación como escenario de negociación cultural, donde se pongan en juego los saberes, las experiencias y las prácticas comunitarias, donde la historia y los conocimientos de las personas sean el punto de partida para la concreción del acto educativo; Establecer un acto de amor, es decir, el diálogo como encuentro y reconocimiento de la alteridad, reconocimiento del otro con quien se puede transformar el mundo9. (p. 64)
To what extent are we managing to promote this type of relationship in the EPS formative processes of movements and practices? In many of the progressive proposals for health education, while dynamics and initiatives are much discussed to encourage student protagonism and criticality, the absolute power of the educator in educational spaces is little affected. As Rios and Caputo16 argue, despite the evolutionary process of health education in Brazilian experiences, both in its curricular and methodological aspects, there are still important gaps to be overcome in the perspective of a humanistic and integral formation. In this sense, the idea that
[...] não basta apenas transformar as metodologias e a grade curricular; é fundamental inserir os estudantes em espaços de prática e reflexão, onde eles possam ter contato com atividades que extrapolem a formação puramente técnica e dialoguem com a realidade. [...] o sujeito reflete não apenas sobre a sua atuação como futuro profissional, mas também acerca do seu papel de cidadão16. (p. 185)
Our view, in the face of these challenges, is in the sense that it is necessary to encourage in EPS a relationship of companionship and fraternity between educators and students, in which the task of learning is a shared journey between human beings with the same characteristic of being contradictory, of having their tastes and cultivate their dreams.
The educator, in any formative process through EPS, needs to exercise his humanity, with all the inconclusion immersed in it. It is undoubtedly an act of courage, because it implies opening up, exposing oneself, but it does not mean withdrawing its role of pedagogical guidance, support, encouragement and incentive. It implies creating spaces for participatory management of the educational space and educational actions. In this perspective, there is a concrete involvement of the educator with the development of the student and his search to “be more”. There is a companionship on the path of this long and hard journey called formation.
In our understanding, this applies to the educational process not only at the academy, but far beyond it, involving health services, contexts of public policy promotion, basic, elementary and secondary education schools, popular social movements, popular groups and community practices.
Still within the scope of the challenge discussed in this item, it is necessary to consider promoting other relationships and new sociability. That is, the EPS formative processes need to emphasize not only the approach of a series of contents, but also the production of new ways of being in the world and with others. Thus, the formative methodologies in EPS cannot be separated from the ethics and aesthetics of the new world to be built.
Therefore, from the point of view of EPS, there is no point in talking about active methodologies within health education without prioritizing an active presence in health services, in the spaces of social movements and practices, and in other social contexts. This is strengthened in Freire13, when he draws attention, in his work Pedagogia da Autonomia, that teaching requires embodiment by example. The immersion into social work inserted in the concrete world and in its determinations allows the desiring production and constitutes the fundamental basis for any proposal of health education whose interest is in the critical, citizen and emancipatory development.
In that way, we point out that it is not possible to develop formative processes in EPS without a firm, organic and deep articulation of the contents, the teaching and learning experiences with the dynamics of social reality, with the pulsating life in the territories and with the concrete challenges and throbbing questions present in each reality. This can only be understood when felt by the consistent and systematic presence in social works in the context of EPS practices and movements, which includes contributing to the construction of the autonomy of the people who work and intervene in this living territory.
In EPS, learning necessarily involves learning to mobilize the people involved in the processes of doing health, so to effectively create, develop and improve a critical and reflective action on the concrete problems of their respective contexts.
The challenge of fostering network action and articulating the struggle of the movements and EPS practices
In our view, graduating in EPS should be built in a manner linked to the concrete exercise of participation in popular social movements and other forms of social and political organization. As Dantas et al.17 states, EPS “visa ao resgate da organicidade interna, orientada à prática e vinculada a uma análise mais ampla da questão de saúde por meio do incentivo e da construção da autonomia transformada em luta”17 (p. 7).
Therefore, the present topic is woven from the consideration of the extent to which the formative processes promoted by the EPS movements and the practices are unfolding into individual protagonism. Not only this, but also in the mobilization of people’s participation in these same spaces and in broader contexts, in the perspective of their critical insertion and political performance in the face of social reality and its determinations.
Actively participating in the construction of popular social movements allows people in training to develop, for example, protagonism, as we claimed earlier in this text. Experiencing spaces of articulation and political and social organization, especially by popular social movements, allows, on the one hand, that people get involved in the production of new sociability. These, in turn, are mirrored in other ways of living together, in new perspectives of social relationship, in the valorization of mystique and solidarity, as well as in the development of an organization of life based on the struggles for change of what oppresses and bothers. The insertion in spaces of broader political participation also allows people to extrapolate the dimension of participation-observation, towards a concrete participation-action, through the experimentation of their contributions in various social struggles. That is, overflow the critical and creative action, of individual nature, for a protagonism collectively made; social work committed to a collective desire and necessarily mediated by dialogical communication.
It is in the concrete making of the struggles in popular social movements that the protagonists of the EPS will be able to broaden their views beyond local practices and to perceive the potential of collective construction and organized social action among people with different knowledge, including varied techniques and professions. One learns, for example, interprofessionality and transdisciplinarity through practice and live work in action.
Specifically in the field of EPS, the insertion in the space of national EPS collectives has a rich pedagogical potential for the participating people, expanding their critical capacity and their strategic vision by learning to deal with macro-political situations and the challenge of fighting for EPS as a principle ethics of social, human, cultural and educational relations at the university. In addition, participation in the construction of these collectives gives rise to the experience of the EPS protagonists in the struggle for recognition of this in the Brazilian National Health System (SUS), in the active insertion of their practices and their movements together with health services and policies, especially for the promotion and defense of the National Policy for Popular Education in Health in SUS (PNEPS-SUS).
The trajectory of EPS collectives in the construction, implementation and defense of PNEPS-SUS demonstrates that it is essential to activate, in a permanent and capillarized way, the communication networks between EPS social actors and their struggles. Thus, the learning of EPS protagonists movements and practices may also occur by understanding the senses, meanings and paths of different experiences in different contexts and scenarios. Valuing the participation of people in networks and in articulations of movements and practices implies mobilizing each person to learn from the other, with the initiatives of other regions of the country, and with ventures quite different from their own.
The possibility of dialogue in networks of EPS experiences can be unveiled, for example, both by presenting the process of each person’s EPS construction works, their movements and their practices, as well as listening to the presentations of companions in the field. This way, one learns about methodologies and theoretical perspectives, and the view to the same problems that generated such actions is broadened. It is noticed that the community demands are not assigned to that community where the experience was developed, nor are the problems in focus limited to that city, but they occur in other regions with similar and different forms of struggle and confrontation. Sharing experiences enables the EPS protagonists in the formative processes, to exercise a conjunctural look on social issues, which is done in a procedural way and according to their own time.
Thus, the relevance of encouraging participation in EPS groups in regional and national meetings is perceived, which expands the dimension of sharing experiences. Especially for those actors in the midst of a process of local protagonism, the coexistence with other actors at the regional and national level will allow them to see that social struggles and EPS constitute initiatives in different corners within the country and outside of it.
With this verification, they will be able to give more importance and value to the work locally developed in their communities and at their university. They will realize that EPS is not a distant dream of a few “crazy” people in the context where they study. They discover that there are many other dreams and an immense diversity of other “crazy people” dedicated to making those dreams possible in many other places.
As if that were not enough, in these meetings, the people involved also discover the significant importance of their work for generating innovations and knowledge in health, from the moment they see the dynamism with which people from other regions not only admire their work, but also learn from them and incorporate many of the elements in the construction of their local actions. They then perceive the dimension of knowledge that their experiences carry and the relevance of that knowledge being continuously systematized and disseminated.
Final considerations
Based on the objectives proposed for the reflections in this essay, we can conclude that, when we speak of EPS, we are talking about a practical body that illustrates an ethics of living. However, achieving the harmony between what is done in practice and what is believed to be ideal poses a constant challenge for those who are involved in the EPS experiences.
The constitution of a health action that is affirmed in Popular Education must take place in a dialectical relationship between the practical and the ethical. Insofar as, at a certain point, ideals/ideologies/utopias constitute an ethics that leads certain subjects to undertake actions that seek to achieve a new way of living in society (ethics leading to the constitution of another practice). At the same time, those actions constitute new forms of relationship and sociability18,19, reverberating in a new ethics (practice leading to the constitution of another ethics, now universal).
In view of all this, we conclude that, when talking about EPS, we refer to the challenge of bringing another theoretical and epistemological perspective to act in health. A perspective that is able to point out possible paths for other achievements firmly guided in the search for a solidary, humane and environmentally loving rationality.
With EPS, we can also rehearse strong responses against the hegemonic movement of signification of men and women as market values, in which the main concern is their stability, movement and balance of companies. Context in which unparalleled efforts are made to recover from financial crises, while the crisis of human material existence remains in vogue, whether expressed by hunger, economic poverty and misery, or reflected in the daily violence with which the world lives, and mirrored in discrimination and competitiveness; in the construction of an ethically averse idea that inequalities are natural and individual responsibilities.
As a favorable place for critical reflection and production of emancipatory knowledge and technologies, health services could, through EPS, direct their actions and reflections to overcome this situation. This can be attained by rehearsing songs and generating popular movements that respond to the demands of the majority of the world population. Also by recommending, through its actions and interactions, a firm decision that we need to move towards another direction. After all the reflections made throughout these pages, we firmly believe that EPS gives methodological body and ethical/philosophical guidelines for the constitution of other health education, as it sets a path towards the realization of utopias dreamed and shared collectively.
In this sense, we emphasize that EPS is, at the same time, the application of science in an edifying and emancipatory way along with the popular classes, and a path of struggles in motion for the transformation of the Society in which it is inserted. The implementation of educational actions guided by defined ethical principles, with reinforcement to the collective and with concerns aimed at social majorities, will be conducted in order to ensure that alternatives are possible, inhibiting production models that only maintain or strengthen the mechanisms of exclusion. EPS in formative processes necessarily committed to the need to resist and re-exist, in the daily construction of hope and good living, in the weaving of viable-unknown experiences with a new society and a new humanity.
Acknowledgments
To all the people who make up the Thematic Group on Popular Education and Health of the Brazilian Association of Collective Health (Abrasco), for their generosity in the solidary and collaborative formulation of reflections on the field of Popular Education and Health, their paths, challenges and perspectives. We also express our gratitude to the Executive Secretariat and the Abrasco Board for their systematic support for the activities of this Thematic Group over the years.
*
This present article results from a critical and reflective essay. There was no data collection, nor were human subjects approached, which is why such research was not assessed by Research Ethics Committee.
Translator: Thiago Fernandes Dantas
Autoría
Pedro José Santos Carneiro Cruz
Departamento de Promoção da Saúde, Centro de Ciências Médicas, Universidade Federal da Paraíba. Cidade Universitária, s/n. João Pessoa, PB, Brasil. 58051-900. pedrojosecruzpb@yahoo.com.brUniversidade Federal da ParaíbaBrasilJoão Pessoa, PB, BrasilDepartamento de Promoção da Saúde, Centro de Ciências Médicas, Universidade Federal da Paraíba. Cidade Universitária, s/n. João Pessoa, PB, Brasil. 58051-900. pedrojosecruzpb@yahoo.com.br
Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. <rocineideferreira@gmail.com>Universidade Estadual do CearáBrasilFortaleza, CE, BrasilCentro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. <rocineideferreira@gmail.com>
Universidade Federal da Fronteira Sul. Passo Fundo, RS, Brasil. vanderleia.pulga@gmail.comUniversidade Federal da Fronteira Sul.BrasilPasso Fundo, RS, BrasilUniversidade Federal da Fronteira Sul. Passo Fundo, RS, Brasil. vanderleia.pulga@gmail.com
Todos os autores participaram ativamente de todas as etapas de elaboração do manuscrito.
SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS
Departamento de Promoção da Saúde, Centro de Ciências Médicas, Universidade Federal da Paraíba. Cidade Universitária, s/n. João Pessoa, PB, Brasil. 58051-900. pedrojosecruzpb@yahoo.com.brUniversidade Federal da ParaíbaBrasilJoão Pessoa, PB, BrasilDepartamento de Promoção da Saúde, Centro de Ciências Médicas, Universidade Federal da Paraíba. Cidade Universitária, s/n. João Pessoa, PB, Brasil. 58051-900. pedrojosecruzpb@yahoo.com.br
Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. <rocineideferreira@gmail.com>Universidade Estadual do CearáBrasilFortaleza, CE, BrasilCentro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. <rocineideferreira@gmail.com>
Universidade Federal da Fronteira Sul. Passo Fundo, RS, Brasil. vanderleia.pulga@gmail.comUniversidade Federal da Fronteira Sul.BrasilPasso Fundo, RS, BrasilUniversidade Federal da Fronteira Sul. Passo Fundo, RS, Brasil. vanderleia.pulga@gmail.com