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Exames de apoio ao diagnóstico

7. Exames de apoio ao diagnóstico

Pacientes com TEP apresentam-se frequentemente com sintomas torácicos agudos. Nesse sentido, existem exames que auxiliam no diagnóstico diferencial, reforçando a suspeita clínica ou tendendo a outro diagnóstico, mas não permitindo confirmar ou excluir com segurança o diagnóstico de TEP. Exames séricos, como leucograma, enzimas cardíacas, gasometria arterial e provas hepáticas, demonstraram alterações em percentuais variáveis dependendo da série estudada e da gravidade da apresentação de TEP. Entre eles, a gasometria arterial é a mais estudada. Apesar de possível, é incomum TEP com valores gasométricos (PaO2, PaCO2 e gradiente alvéolo-arterial) inteiramente normais.

Radiografia de tórax

Os achados à radiografia de tórax raramente são conclusivos para o diagnóstico de TEP aguda, sendo mais importantes para o diagnóstico diferencial e para a avaliação da cintilografia de perfusão. Pode ser normal e, na presença de dispneia de causa não definida, reforça a suspeita de TEP aguda. Os achados mais comuns são atelectasias laminares nas bases, elevação da cúpula diafragmática e derrame pleural, geralmente pequeno. Podem-se observar sinais clássicos de oligoemia regional, aumento das artérias pulmonares centrais e opacidade periférica em cunha.(1-3)

A radiografia de tórax é útil para o diagnóstico diferencial de TEP, permitindo somente evidenciar outras causas para os sintomas, mas não excluir ou confirmar TEP.(C)

ECG

É incomum o ECG ser normal, e é infrequente o achado do padrão clássico S1-Q3-T3 descrito para TEP aguda. Às vezes, a única alteração é a presença de taquicardia sinusal. Há outros sinais de sobrecarga direita que podem ser observados, além do padrão S1-Q3-T3, principalmente em pacientes com TEP maciça, como desvio do eixo QRS para a direita, inversão de onda T nas precordiais de V1-V3, bloqueio do ramo direito transitório total ou parcial, padrão Qr em V1, onda P pulmonale, onda Q na derivação III, padrão Q3-T3 e taquiarritmias atriais.(2-4) Todos os achados são inespecíficos, e a principal relevância do exame é excluir outras entidades, como IAM ou pericardite.(2) Alguns estudos têm avaliado o ECG para a estratificação de risco, o diagnóstico e o prognóstico, mas demonstraram pouca utilidade clínica devido à baixa sensibilidade e à baixa razão de probabilidade.(4-6)

O ECG, à semelhança da radiografia de tórax, é útil, sobretudo, para o diagnóstico diferencial de TEP.(C)

Ecocardiograma

O ecocardiograma é um exame não invasivo e de baixa sensibilidade para o diagnóstico de TEP. Entretanto, pode ser uma ferramenta útil no diferencial de dispneia aguda, dor torácica, colapso cardiovascular e outras situações clínicas em que a TEP é considerada como um dos diagnósticos.(3) Outra importância do ecocardiograma é na avaliação prognóstica e na estratificação de risco de pacientes com TEP.(7,8)

O ecocardiograma transtorácico raramente consegue visualizar o êmbolo pulmonar, mas às vezes revela um trombo flutuando no átrio ou no VD. É incapaz de excluir TEP com segurança, e sua principal relevância é em pacientes hemodinamicamente instáveis com TEP maciça, nos quais a visualização do trombo proximal (que confirma o diagnóstico, em geral, pelo ecocardiograma transesofágico), a dilatação aguda do VD e a presença de hipertensão pulmonar (diagnóstico presuntivo) permitirão a rápida decisão da terapêutica (uso de trombolíticos).(9-12) Embolia pulmonar com importante repercussão hemodinâmica é improvável na presença de ecocardiograma normal. O ecocardiograma transesofágico à beira do leito pode ser considerado como o teste diagnóstico de primeira escolha, podendo confirmar embolia pulmonar em pacientes em choque ou durante a ressuscitação cardiopulmonar.(3,13)

O ecocardiograma pode ser útil no diagnóstico de TEP clinicamente maciça.(C)

Dímero D

O dímero D é um produto da degradação da fibrina, podendo estar elevado na presença de trombos, mas também em outras situações, como no pós-operatório, na gestação, no puerpério, na doença vascular periférica, no câncer, na insuficiência renal, na sepse e em várias doenças inflamatórias, assim como aumenta com a idade, o que limita sua utilidade clínica.(3,14) Tem alta sensibilidade, mas a sua especificidade é baixa; portanto, deve ser analisado com cautela, em conjunto com a avaliação de probabilidade clínica.(15)

Há diferentes métodos para a realização do teste (ELISA ou ELISA rápido quantitativo, semiquantitativo ou qualitativo; aglutinação por látex quantitativo ou semiquantitativo ou aglutinação do sangue total), diferindo, entre eles, na sensibilidade, especificidade e razão de probabilidade, além da variabilidade entre pacientes com suspeita de TVP ou TEP. Dentre todos os métodos utilizados, o teste por ELISA ou ELISA rápido quantitativo são os que têm melhor sensibilidade e maior probabilidade de excluir TEP (razão de probabilidade negativa) e são os que têm melhor utilidade clínica. O dímero D é um teste unidirecional; logo, um teste negativo é usado para excluir o diagnóstico.(1,16)

Numa revisão sistemática para a avaliação de estratégias para o diagnóstico de TEP aguda em pacientes com baixa probabilidade clínica préteste, um teste negativo para dímero D (qualquer teste) esteve associado com uma probabilidade pós-teste < 5%, não sendo necessários outros testes para se excluir a embolia pulmonar.(1,12) Já em pacientes com probabilidade clínica intermediária, para a exclusão de TEP, só pode ser valorizado um teste quantitativo utilizando o dímero D pelo método ELISA (valor < 500 µg/L). Em pacientes com alta probabilidade clínica, outros testes serão necessários para se excluir esse diagnóstico com segurança. Nesses pacientes, se o teste for positivo, não acrescentará ajuda no diagnóstico, sendo que outros exames deverão ser realizados.(15)

Recomenda-se o seguinte:

• O dímero D deve ser usado somente em pacientes após a avaliação da probabilidade clínica.(B)

• O dímero D não deve ser usado em pacientes com alta probabilidade clínica.(B)

• Um teste negativo exclui TEP em pacientes com baixa (qualquer método) ou intermediária (ELISA) probabilidade clínica, sem a necessidade de exames de imagem adicionais.(B)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Out 2010
  • Data do Fascículo
    Mar 2010
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