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Carta do Editor

CARTA AO EDITOR

Carlos Alberto de Castro Pereira

Pneumologista

Senhor Editor:

A surpresa está na página 1475 da edição 2004 do Current Medical Diagnosis and treatment: Pneumocystosis (Pneumocystis jiroveci Pneumonia)(1). Nas considerações gerais o autor do capitulo diz que o Pneumocystis carinii é um fungo que foi encontrado nos pulmões de uma variedade de animais selvagens e domesticados e que o Pneumocystis jiroveci, a espécie que afeta os humanos, é distribuída mundialmente. A fonte citada destas afirmações é um artigo de Stringer Jr e col, publicado em 2002(2).

P. carinii foi primeiramente descrito em 1909 por Carlos Chagas, que o confundiu com uma forma cística de Trypanosoma cruzi em um cobaio expermentalmente infectado com T. cruzi. Em 1910, o ítalo-brasileiro, Antonio Carinii observou cistos semelhantes em ratos com tripanossomíase experimental, mas ele suspeitou que os cistos eram de um agente desconhecido. Ele enviou amostras a seu colega Laveran, dom Instituto Pasteur, para exames. Em 1912, os estudantes de Laveran e Delanoe, encontram cistos semelhantes em ratos livres de Trypanossoma, e chamaram o novo agente de P.carinii, em homenagem ao pesquisador brasileiro.

P. carinii foi inicialmente associado com pneumonia clínica em humanos logo após a Segunda Guerra Mundial em órfãos europeus desnutridos e submetidos a aglomerações. Daquela época até os anos 80, a pneumonia por P. carinii era incomum, ocorrendo primeiramente em pacientes imunocomprometidos por terapia para o câncer ou deficiências imunológicas congênitas. Sua incidência então subiu acentuadamente, coincidindo com o surgimento da AIDS.

Técnicas elaboradas de biologia molecular na última década, por análise de DNA, demonstraram que o Pneumocystis é um fungo, embora impar, não tendo ergosterol e sendo de difícil crescimento em cultura. Logo após a classificação apropriada do Pneumocystis, estudos adicionais de DNA mostraram que os Pneumocystis de diversas espécies são bastante diferentes, o que levou Frenkel em 1999 a propor o nome P.jiroveci, em homenagem ao parasitologista tcheco Otto Jirovec, a quem o autor credita a descrição do agente em humanos(3). O artigo de Stringer fortalece a sugestão de Frenkel, e o nome foi adotado por este popular livro de medicina.

Em uma carta à revista onde Stringer e cols sugeriram a mudança de nome, Walter T. Hughes, do Tennesee, questiona esta sugestão, com base em duas afirmações: 1) O arrazoado para a escolha de jiroveci não é convincente. O código Internacional de Nomenclatura Botânica afirma que a nomenclatura de um grupo taxonômico é baseada na prioridade de publicação e; 2) a publicação de Jirovec em 1952 não foi a primeira a relatar a infecção por P.carinii em pulmões humanos, o que foi feito em 1942 por dois investigadores alemães.

Continuemos com Antonio Carini. Lembram da recente discussão Santos Dumont vs irmãos Whight?

Referências

1. Hamill RJ. Infectious diseases: Mycotic. In: Tiemey LM; MaPhee SJ; Papadakis MA (Eds). Current diagnosis and treatment. Mc Graw Hill, New York, 2004, p.1471-85.

2. Stringer JR, Beard CB, Miller RF, Wakefield AE. A new name (Pneumocystis jiroveci) for Pneumocystis from humans. Emerg infect Dis. 2002; 8:891-6.

3. Frenkel JK. Pneumocystis pneumonia, an immunodeficiency-dependent disease (1DD): a critical historical overview. J Eukaryot Microbiol. 1999; 46: 89S-92S.

4. Hughes WT. Pneumocystis carinii vs. Pneumocystis jiroveci: another misnomer. Emerg Infect Dis. 2003; 9:276-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Fev 2004
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