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RESENHAS

Pedro Jacobi

Doutor em Sociologia, Professor da Faculdade de Educação da USP e Pesquisador do CEDEC

O capital e seu espaço

Autor: Alain Lipietz

Editora: Nobel, São Paulo, 1988.

Apesar deste livro ter sido publicado na França em 1977 é extremamente oportuno o seu lançamento,principalmente pelo fato incluir uma revisão do autor em torno de dois aspectos que despertaram muita polêmica à época, os pressupostos metodológicos e o seu parti pris político.

O capital e seu espaço representa, acima de tudo, uma abordagem instigante em torno das relações entre o capitalismo e a estruturação do espaço. Entretanto como o próprio autor afirma não se trata de um livro militante, mas um registro de interpretação configurado tanto por questões teóricas quanto metodológicas.

O livro está subdividido em 5 partes, que como um todo representam um estimulante percurso de reflexão sobre as relações entre o capitalismo e a estruturação do espaço.

Na primeira parte desenvolve uma reflexão em torno do significado do espaço e das relações que este mantém com o modo de produção capitalista. A partir de uma rápida revisão crítica dos pressupostos que norteiam a concepção empirista do espaço, o autor formula a sua proposta de trabalho centrada na crítica da economia regional e na necessidade de explicitar como as relações sociais, na medida que tem uma dimensão espacial, polarizam o espaço social.

No segundo capítulo, o autor mostra, a partir do exemplo francês, a existência de regiões desigualmente desenvolvidas num só espaço referencial, rio bojo de um referencial teórico que permite dar conta de certos traços que conferem às regiões sua especificidade e explicando as relações que se estabelecem entre as mesmas.

No terceiro capítulo, Lipietz analisa as relações que existem entre a divisão inter-regional do trabalho e as transformações na divisão internacional do trabalho a partir de pressupostos teórico-metodológicos marxistas, centrando sua ênfase na dinâmica que assume o capital monopolista nos seus desdobramentos espaciais e nos impactos no plano das relações sociais e notadamente na reestruturação que ocorre nas novas implantações industriais e seus reflexos sobre a composição operária. Segundo Lipietz o espaço social é estruturado pelo capital e a lógica de localização é definida pelos interesses privados.

No capitulo cinco, o autor, inicialmente, aponta as diferentes abordagens da localização na ótica neoclássica situando as suas limitações estruturais e explicita, a seguir, os elementos que configuram uma abordagem marxista em tomo da relação fundamental entre o Estado e o espaço, na medida em que se formaliza uma relação umbilical entre os grupos monopolistas e a administração no desenvolvimento regional da França no pós-60.

Lipietz conclui o livro com uma análise feita à luz do embate ideológico que ocorria por ocasião dos reflexos do pós-68 na França, explicitando, conforme afirmações do autor no prefácio do livro, tratar-se de indagações que apesar de certas ingenuidades colocavam em pauta questões relativas ao papel dos movimentos sociais no processo de reestruturação sócio-espacial, ora em curso.

Alain Lipietz é ousado na sua abordagem, uma vez que inscreve o caráter assumido pelas condições da reprodução ampliada da dominação do capital monopolista e seus reflexos na organização do espaço nas suas múltiplas dimensões. A sua crítica tem um endereço, as abordagens convencionais em torno da localização espacial, pautadas pelos pressupostos da economia neoclássica, fundadas na racionalidade automática das leis da economia capitalista. Lipietz recorre aos clássicos para buscar alguns elementos de aproximação, ou seja, a interpretação da gestação de novos terrenos de luta e as conseqüentes associações no plano teórico-metodológico.

O espaço para Lipietz não é um objeto com configuração teórica próprio mas um locus, onde se explicitam nas suas diversas facetas a dinâmica do capital monopolista, seja no plano macro, seja no micro. O autor ressalta o caráter assumido pela presença do Estado na organização do espaço territorial, trazendo à tona contradições que não se resolvem ao plano dos mecanismos de mercado.

A leitura deste livro serve não somente para compreender a multidimensionalidade da problemática espacial e suas derivações, mas também como um fértil campo de indagações sobre a dinâmica do capitalismo dos dias atuais, principalmente quanto às transformações que ocorrem no seio da nova divisão internacional do trabalho a nível global e seus reflexos na organização dos espaços macro-regionais.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jan 2011
  • Data do Fascículo
    Out 1988
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