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O JORNAL DIÁRIO ESPORTIVO E O ETHOS DOS JOGADORES: O JOGO DISCURSIVO ENTRE AMADORES E PROFISSIONAIS (1945-1946)

THE DIÁRIO ESPORTIVO NEWSPAPER AND THE ETHOS OF FOOTBALLERS: THE DISCURSIVE GAME BETWEEN AMATEURS AND PROFESSIONALS (1945-1946)

EL PERIÓDICO DIÁRIO ESPORTIVO Y EL ETHOS DE LOS JUGADORES: EL JUEGO DISCURSIVO ENTRE AFICIONADOS Y PROFESIONALES (1945-1946)

Resumo

O presente artigo teve como objetivo analisar, por meio de reportagens do jornal Diário Esportivo, como os jogadores amadores e profissionais, assim como a ideia de amadorismo e profissionalismo, eram representados e veiculados entre os anos de 1945 e 1946, na cidade de Belo Horizonte/MG. Foi possível perceber uma veiculação discursiva ambígua em relação aos jogadores profissionais, ora destacados e elogiados por manterem “almas” de amadores, ora criticados e denunciados por não cumprirem de maneira satisfatória com suas obrigações laborais. A verificação de um cenário ambíguo, conflituoso e diverso demonstra as complexidades dessa experiência futebolística no contexto específico da cidade de Belo Horizonte, sugerindo um olhar mais cuidadoso para a coexistência dos regimes amador e profissional e ampliando a perspectiva da simples passagem que a ideia de transição comumente supõe.

Palavras-chave:
Amadorismo; Profissionalismo; Futebol; Jornal.

Abstract

This paper unfolds how amateur and professional football players as well as the idea of amateurism and professionalism, were represented and broadcasted, in the city of Belo Horizonte, MG, between 1945 and 1946. It particularly focuses on the news published by the sports newspaper Diário Esportivo. Through this material, the manuscript explores the ambiguous discursive placement in relation to professional players. It shows how sometimes the news highlighted and praised for maintaining “souls” of amateurs, sometimes they criticized and denounced the players for not fulfilling their work obligations satisfactorily. The verification of an ambiguous, conflicting and diverse scenario demonstrates the complexities of this football experience in the specific context of the city of Belo Horizonte. Moreover, it also suggests a more careful look at the coexistence of amateur and professional regimes and expanding the perspective of the simple passage that the idea of transition commonly suppose.

Keywords:
Amateurism; Professionalism; Football; Newspaper.

Resumen

El objetivo de este artículo es analizar, a través de reportajes del periódico Diário Esportivo, cómo jugadores aficionados y profesionales, así como la idea de afición y profesionalidad, fueron representados y difundidos entre 1945 y 1946, en la ciudad de Belo Horizonte, MG. Fue posible percibir una difusión discursiva ambigua con relación a los jugadores profesionales, a veces destacados y elogiados por mantener “almas” de aficionados, otras veces criticados y denunciados por no cumplir satisfactoriamente con sus obligaciones laborales. La constatación de un escenario ambiguo, conflictivo y diverso demuestra las complejidades de esta experiencia futbolística en el contexto específico de la ciudad de Belo Horizonte, lo que pide una mirada más cuidadosa hacia la coexistencia de los regímenes aficionado y profesional, ampliando la perspectiva de que se trata de un simple paso que suele suponer la idea de transición.

Palabras clave:
Afición; Profesionalidad; Fútbol; Periódico.

1 INTRODUÇÃO1 1 Este artigo é um desdobramento da tese de doutorado de SOUTTO MAYOR, Sarah Teixeira. O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. 2017. 359 f. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

Em maio de 1933, os clubes mineiros que disputavam o torneio estadual de futebol resolvem aderir ao regime profissional, após a medida ter sido tomada pelo Rio de Janeiro (em janeiro de 1933) e por São Paulo (em março de 1933). A tentativa de conter o êxodo de jogadores e a ideia de que o profissionalismo traria vantagens econômicas aos clubes e, consequentemente, aprimoraria as condições do futebol no estado, foram justificativas frequentemente citadas nos periódicos da época. Outro forte fator mencionado referia-se à possibilidade de separação rígida entre os regimes profissional e amador, entre aqueles que jogavam por dinheiro e entre os que jogavam por amor. A ideia de que o amadorismo marrom (prática em que se remunerava os jogadores às escondidas, seja em forma de salário, seja em forma de outras gratificações materiais) seria suprimido com a oficialização do profissionalismo era veiculada como a solução para a moralização da prática esportiva em Minas Gerais (SOUTTO MAYOR, 2017SOUTTO MAYOR, Sarah Teixeira. O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. 2017. 359 f. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.).

No entanto, o que se desenhou no período posterior a maio de 1933 foi um contexto bem diverso do esperado. Um cenário confuso, interposto por mesclas entre os regimes e repleto de ambiguidades pôde ser percebido com facilidade, especialmente na década de 1940 (SOUTTO MAYOR, 2017SOUTTO MAYOR, Sarah Teixeira. O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. 2017. 359 f. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.). Tal fato alimentava atitudes controversas e inúmeros discursos críticos dos periodistas, importantes atores de uma imprensa esportiva que crescia significativamente em Belo Horizonte, especialmente em se tratando do futebol.

Nesse momento havia um embate mais generalista em torno do significado do próprio esporte, que se desdobrava em funções que se opunham: de um lado, o esporte amador, com o ideário purista de formação integral do atleta sem pretensões financeiras; de outro, o esporte profissional, com a máxima na competitividade e no lucro, fundada na formação do jogador rentável.

Vale sinalizar que este embate era desencadeado em nível mundial, alcançando os países de acordo com o grau de adiantamento das transformações da prática esportiva. Se na Inglaterra, por exemplo, as discussões em torno do amadorismo versus profissionalismo já se faziam presentes desde pelo menos a década de 1880 (IWANCZUK, 1992IWANCZUK, Jorge. Historia del fútbol amateur en la Argentina. Buenos Aires: Autores Editores, 1992.), no Brasil pode-se destacar as décadas de 1910 e 1920, com a institucionalização do profissionalismo no começo da década de 1930.

O ideário amadorista, de acordo com Holt (2008)HOLT, Richard. O corpo trabalhado: ginastas e esportistas no século XIX. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo: da revolução à Grande Guerra. Petrópolis: Vozes, 2008. v. 2, p. 393-478., adquire maior entusiasmo em meados do século XIX, concomitantemente aos novos objetivos vislumbrados em torno do esporte e à sua paulatina valorização enquanto elemento de formação e divertimento da nova classe burguesa que se consolidava na Inglaterra após a revolução industrial. Ainda segundo o autor, o princípio fundamental do esporte era a meritocracia, seguido de outros destaques que conferiam sentido à noção da prática amadorista: elegância, dignidade e honra. Características oriundas da “arte de viver aristocrática” (HOLT, 2008HOLT, Richard. O corpo trabalhado: ginastas e esportistas no século XIX. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo: da revolução à Grande Guerra. Petrópolis: Vozes, 2008. v. 2, p. 393-478., p. 420), implicadas na formação idealizada do gentleman.

O esporte amador era, assim, o esporte normatizado e codificado por uma série de exigências que o tornavam importante elemento de formação, sobretudo, da juventude. Tal ideário foi associado a uma “cultura moralmente mais pura”, direcionada à educação ética e à disciplina (HOLT, 2008HOLT, Richard. O corpo trabalhado: ginastas e esportistas no século XIX. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo: da revolução à Grande Guerra. Petrópolis: Vozes, 2008. v. 2, p. 393-478., p. 433-434), distanciando-se, progressivamente, da aquisição de benefícios materiais ou financeiros. Vigarello (2009VIGARELLO, Georges. Estádios - O espetáculo esportivo das arquibancadas às telas. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org). História do corpo: as mutações do olhar. Petrópolis: Vozes, 2009. v. 3, p. 445-480., p. 457) expõe tal intenção ao sinalizar como raciocínio sistemático das grandes vozes esportivas do fim do século XIX a ideia de que “ganhar músculos para ganhar dinheiro é tornar servil a sua força, é aceitar eventualmente ‘trair’, depender do pagador e não de si mesmo”. O autor evidencia a multiplicação de imagens pejorativas sobre o corpo do atleta profissional como “um corpo mercenário, que não se pertence” (idem). Nesta perspectiva, delineava-se a construção de oposições, como “culto verdadeiro do corpo” X dinheiro; e “aquisição verdadeira de força X profissionalização” (VIGARELLO, 2009VIGARELLO, Georges. Estádios - O espetáculo esportivo das arquibancadas às telas. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org). História do corpo: as mutações do olhar. Petrópolis: Vozes, 2009. v. 3, p. 445-480., p. 457).

Vigarello (2009VIGARELLO, Georges. Estádios - O espetáculo esportivo das arquibancadas às telas. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org). História do corpo: as mutações do olhar. Petrópolis: Vozes, 2009. v. 3, p. 445-480., p. 457) chama a atenção para a “tendência ao dogma” presente nesta acepção de esporte. O autor cita as “cartas ao amadorismo” editadas pela Revue Olympique, que, desde o começo do século XX, exigiam uma tendência de que todos os esportes rumassem para o amadorismo puro, “já que não existe nenhum motivo permanente, em nenhum esporte, para legitimar os prêmios em espécie”. Tais argumentações estão presentes em vários escritos de Pierre de Coubertin, considerado o responsável pela idealização dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, no ano de 1896. Em um de seus discursos, proferido em Praga no ano de 1925, encontra-se o seguinte manifesto: “Mercado ou templo! Aqueles que se envolvem com o esporte devem escolher. Não podem querer as duas coisas, têm de optar por uma. Envolvidos com o esporte, escolhei!” (MULLER; TODT, 2015MULLER, Norbert; TODT, Nelson Schneider. Pierre de Coubertin: 1863-1937. Olimpismo: seleção de textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015., p. 628). O esporte era considerado uma dimensão sacralizada. A utilização da palavra templo sugere o purismo a ele atribuído, virtude das origens olímpicas gregas.

E entre as muitas ambiguidades do contexto belo-horizontino emergente também se destacava o que se entendia e se valorizava por jogador amador e por jogador profissional e as significações de cada categoria ou posição social, ora empregadas para valorizar características distintivas do jogador que mantinha condutas de amador em pleno profissionalismo e criar “distâncias diferenciais”, como as apregoadas pelo Olimpismo (BOURDIEU, 2007BOURDIEU, Pierre. A distinção. Crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007.), ora para valorizar o verdadeiro profissional, que honrava com os compromissos laborais em uma conjuntura que ainda colocava em questão a prática do esporte por dinheiro.

Diante do contexto anunciado, o presente artigo tem como objetivo analisar como os jogadores amadores e profissionais, assim como a ideia de amadorismo e profissionalismo, eram representados e veiculados, nos anos de 1945 e 1946, por meio de reportagens do jornal Diário Esportivo. A temporalidade estudada coincide com o período de existência do referido periódico. Sua escolha deve-se à importância que tinha na imprensa belo-horizontina, sendo considerado o primeiro jornal especializado na temática esportiva (LINHARES, 1995LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais; Editora UFMG, 1995.).

Os títulos fazem parte de um importante acervo existente na cidade de Belo Horizonte sob a guarda da Universidade Federal de Minas Gerais: a Coleção Linhares. Esta é composta de 839 títulos de jornais e revistas que circularam na cidade entre o final do século XIX e meados do século XX. Joaquim Nabuco Linhares coletou os impressos e produziu um catálogo contendo as principais características de cada exemplar que mantinha em sua posse. Para Linhares (1995)LINHARES, Joaquim Nabuco. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte: 1895-1954. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais; Editora UFMG, 1995., o Diário Esportivo era a melhor publicação esportiva e a que mais havia durado nessa temporalidade em Belo Horizonte, o que pode ser confirmado por meio de pesquisas realizadas em outros importantes acervos da cidade, como o da Hemeroteca da Biblioteca Estadual Luiz de Bessa.

Vale destacar a efemeridade da imprensa belo-horizontina à época e a constância na publicação do Diário Esportivo nesses dois anos, com 67 números. Não há motivo explicitado para seu término, que acontece, de forma abrupta, em 28 de novembro de 1946. O jornal não apenas noticiava os eventos esportivos, notadamente o futebol, como emitia opiniões acerca dos embates que se gestavam (dentre eles, o amadorismo e o profissionalismo), relatava histórias de vida de jogadores, enaltecendo conquistas e destacando derrocadas (como a coluna “estrelas no futebol”), problematizava os êxodos de jogadores (como a coluna “cracks que se foram”) e dava visibilidade aos torneios varzeanos e suburbanos. Tudo isso com amplas gravuras que ilustravam o contexto da época. Mas vale ressaltar que nessa pesquisa, em específico, foram analisadas as produções textuais em forma de reportagens2 2 Ao longo do texto as referências extraídas dos periódicos preservarão a grafia da época. Optamos assim em função do maior alcance da ambiência em que foram publicadas. .

Grandes atores principais do espetáculo futebolístico, os jogadores foram, assim, alvo de inúmeras reportagens do impresso, extrapolando a sua ação em campo. O que se entendia por amador ou por profissional ainda estava em debate, em disputa, o que demonstra as complexidades que a ideia de uma simples transição de um regime para outro poderiam suprimir.

No exercício de compreensão desse cenário de ambiguidades, duas categorias analíticas foram criadas, a saber: 1) jogadores profissionais com “alma de amadores”, que vislumbrou as representações destinadas àqueles atletas que mesmo inseridos como profissionais tinham o comportamento veiculado como de amadores; 2) jogadores profissionais com “alma de profissionais”, que retratou os jogadores que, a despeito de uma ideia ainda valorativa do atleta com amor à camisa, adentraram no verdadeiro jogo profissional.

2 JOGADORES PROFISSIONAIS COM “ALMA DE AMADORES”

Uma vertente possível para se analisar as mesclas entre amadorismo e profissionalismo na década de 1940, em Belo Horizonte, manifesta-se na frequente veiculação de jogadores profissionais que teriam, como predicado valoroso, “alma de amadores”. Embora seja comum o estabelecimento de uma relação entre o processo de expansão e popularização do futebol (em termos de acessibilidade social e econômica) e o advento do profissionalismo, reportagens publicadas no jornal Diário Esportivo revelam indícios da permanência de jogadores oriundos de classes sociais mais abastadas no novo regime. Ao mesmo tempo, revelam uma valorização de características de comportamento atribuídas a um amadorismo purista, em contraposição ao que esse regime passara a representar na prática, após a oficialização do profissionalismo.

Ao analisar estudos como os de Holt (2008)HOLT, Richard. O corpo trabalhado: ginastas e esportistas no século XIX. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo: da revolução à Grande Guerra. Petrópolis: Vozes, 2008. v. 2, p. 393-478., Vigarello (2009)VIGARELLO, Georges. Estádios - O espetáculo esportivo das arquibancadas às telas. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org). História do corpo: as mutações do olhar. Petrópolis: Vozes, 2009. v. 3, p. 445-480. e Bourdieu (2003)BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Lisboa: Fim de Século, 2003., é notoriamente perceptível que a construção do ideário esportivo supracitado (que em sua base interpretativa associava as prerrogativas “moderno” e “amador” como partes de um mesmo fenômeno) foi produto de uma dada aristocracia. Isso não implica desconsiderar que outras camadas sociais vivenciaram as práticas esportivas com os mesmos princípios ou construíram suas próprias ressignificações (como é o caso dos exemplos citados por Hobsbawm (2000)HOBSBAWM, Eric. Mundos do trabalho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. acerca da apropriação do futebol pelas classes operárias inglesas); contudo, a precedência da produção discursiva foi aliada de uma mentalidade educativa preconizada por uma parcela populacional restrita.

A associação de uma suposta pureza contida em um ideário de esporte e em uma moral aceitável, também caracterizada como pura, é problemática chave para o entendimento do amadorismo. Para Bourdieu (2003BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Lisboa: Fim de Século, 2003., p. 188), a definição moderna de esporte é parte integrante de um “ideal moral”, de um “ethos que é o das fracções dominantes da classe dominante”. O autor fala em uma “teoria do amadorismo”, como “dimensão de uma filosofia aristocrática”, que faz do esporte uma “prática desinteressada, à maneira de atividade artística, […] uma disposição cavalheiresca em tudo oposta à busca vulgar da vitória a todo o preço” (BOURDIEU, 2003BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Lisboa: Fim de Século, 2003., p. 186).

Ainda que cada localidade tenha vivenciado a prática esportiva com suas próprias particularidades, pode-se situar um movimento amplo de circulação de discursos normativos que vinculavam a prática do futebol a classes econômicas mais privilegiadas. Claussen (2014)CLAUSSEN, Detlev. Béla Guttman: uma lenda do futebol do século XX. São Paulo: Estação Liberdade, 2014., Giullianotti (2010)GIULIANOTTI, Richard. Dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. Rio de Janeiro: Nova Alexandria, 2010., Llopis Goig (2006)LLOPIS GOIG, Ramón. Clubes y selecciones nacionales de fútbol. La dimensión etnoterritorial del fútbol español. Revista Internacional de Sociología, v. 64, n. 45, p. 37-66, 2006. Disponível em: https://revintsociologia.revistas.csic.es/plugins/generic/pdfJsViewer/pdf.js/web/viewer.html?file=https%3A%2F%2Frevintsociologia.revistas.csic.es%2Findex.php%2Frevintsociologia%2Farticle%2Fdownload%2F15%2F15%2F15. Acesso em: 10 nov. 2021.
https://revintsociologia.revistas.csic.e...
Whal (1997)WAHL, Alfred. Historia del Fútbol, del juego al deporte. Barcelona: Ediciones B.S.A, 1997. e Wilson (2016)WILSON, Jonathan. A pirâmide invertida: a história da tática no futebol. Campinas: Editora Grande Área, 2016. sinalizam essa circunstância ao abordarem o futebol na Inglaterra e sua migração para outras regiões da Europa. Especificamente sobre a realidade argentina, Alabarces (2007)ALABARCES, Pablo. Fútbol y patria. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007., Archetti (2003)ARCHETTI, Eduardo. Masculinidades: Fútbol, tango y polo en la Argentina. Buenos Aires: Antropofagia, 2003., Frydenberg (2011)FRYDENBERG, Julio. Historia social del fútbol: del amateurismo a la profesionalización. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2011. e Reyna (2014)REYNA, Francisco D. La difusión y apropiación del fútbol en el proceso de modernización en Córdoba (1900-1943). Actores, prácticas, representaciones e identidades sociales. Tese (Doutorado em História) - Facultad de Filosofia y Humanidades, Universidad Nacional de Córdoba, 2014. corroboram o entendimento de que o jogo foi inicialmente protagonizado por uma pequena parcela da elite. Campomar (2014)CAMPOMAR, Andreas. Golazo. De los aztecas a la Copa del Mundo: la historia completa del fútbol en América Latina. Buenos Aires: Deldragón, 2014. também relata situação semelhante em países como Uruguai, Peru, Chile e México. Em se tratando do Brasil, não faltam narrativas análogas, como as que deram forma aos ensaios de DaMatta (1982DAMATTA, Roberto. Universo do futebol: Esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.,1994DAMATTA, Roberto. Antropologia do óbvio. Notas em torno do significado social do futebol brasileiro. Revista USP, n. 22, 1994, p.10-17.) e às inúmeras investigações acadêmicas que resultaram em teses, dissertações, artigos e livros, como as de Buarque de Hollanda (2004)BUARQUE DE HOLLANDA, Bernardo Borges. O descobrimento do futebol: modernismo, regionalismo e paixão esportiva em José Lins do Rego. Rio de Janeiro: Edições Biblioteca Nacional, 2004., Franco Júnior (2007)FRANCO JUNIOR, Hilário. A dança dos deuses. São Paulo: Companhia das Letras: 2007., Franzini (2009)FRANZINI, Fábio. A futura paixão nacional: chega o futebol. In: DEL PRIORI, Mary; MELO, Victor Andrade de (org.). História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Editora UNESP, 2009., Lopes (2004)LOPES, José Sérgio Leite. Classe, etnicidade e cor na formação do futebol brasileiro. In: BATALHA, Cláudio; SILVA, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre (org.). Culturas de classe: identidade e diversidade na formação do operariado. Campinas: Editora da Unicamp, 2004., Pereira (2000)PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro,1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. e Wisnik (2008)WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008..

Também é consenso na literatura acadêmica que trata da história do futebol belo-horizontino de que seus primeiros movimentos na cidade, a partir do ano de 1904, foram protagonizados por jovens estudantes de classe alta e que o ideal do amadorismo, nos moldes europeus, vigorava como um princípio moral constituinte do próprio jogo (COUTO, 2003COUTO, Euclides de Freitas. Belo Horizonte e o futebol: integração social e identidades coletivas (1897-1927). 2003. 142 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.; LAGE, 2013LAGE, Marcus Vinícius Costa. Deixem em paz os nossos cracks: análise sociológica da profissionalização do futebol belo-horizontino: a regulamentação e os significados sociais. 2013. 162 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, PUC, Belo Horizonte, 2013.; RIBEIRO; 2007RIBEIRO, Raphael Rajão. A bola em meio a ruas alinhadas e a uma poeira infernal: os primeiros anos do futebol em Belo Horizonte (1904-1921). 2007. 180 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.; RODRIGUES, 2006RODRIGUES, Marilita Aparecida Arantes. Constituição e enraizamento do esporte na cidade: uma prática moderna de lazer na cultura urbana de Belo Horizonte (1894- 1920). 2006. 338 f. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.; SOUTTO MAYOR; 2017; SOUZA NETO, 2010SOUZA NETO, Georgino Jorge de. A invenção do torcer em Belo Horizonte: da assistência ao pertencimento clubístico (1904-1930). 2010. 134 f. Dissertação (Mestrado em Lazer) - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, UFMG, Belo Horizonte, 2010.).

Diante disso, pode-se dizer que a adoção do profissionalismo propiciou uma paulatina reconfiguração das características iniciais do futebol, sob vários aspectos. No entanto, não se pode afirmar que as mudanças gestadas resultaram em um processo unidimensional. Não necessariamente o novo regime alterou as hierarquias sociais presentes no período do amadorismo e, tampouco, substituiu o público participante - atletas e espectadores. O amadorismo excludente não cedeu lugar a um profissionalismo democrático, como se uma situação pudesse simplesmente substituir a outra.

O olhar para os detalhes nas veiculações discursivas dos periódicos descortina um cenário ainda excludente, segregacionista e recheado de predicados valorativos. As figuras do gentleman e do sportman, do jogador cavalheiro e estudante, admirador das artes e da leitura, ainda figuravam como exemplos do legítimo esportista. Designação que raramente se dirigia aos “colored”, aos “negros de alma branca” ou aos nascidos pobres que não tiveram a mesma sorte de Domingos da Guia e Leônidas da Silva.

Em tempos de expansão do profissionalismo, jogadores eram elogiados por jogarem “por mero prazer”. Esse foi o caso de Aziz Malab, integrante do Siderúrgica e que já havia composto os quadros do Vasco e do América do Rio. O jogador, que trabalhava na empresa que era vinculada ao seu atual clube (Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira), foi citado como “exemplo de dedicação e competência”3 3 AZIZ, o ‘crack’ que vem jogando por mero prazer. Diário Esportivo, n. 2, p. 3, 2 ago. 1945. .

Aziz Malab é um rapaz às direitas. Não quer saber nada com os acontecimentos que não estão ligados aos motivos de sua vida. Para ele, só o lar, o trabalho e alguma diversão. No lar, formado há quatro anos, está a sua esposa carinhosa e dedicada. Para o trabalho dá todo o entusiasmo de uma juventude de 28 anos, muita assiduidade e rara competência. […] O lar e o trabalho já foram focalizados. Falta-nos […] penetrar na diversão preferida de Aziz. É o futebol, o esporte das multidões. O pivô do Siderurgica não faz do futebol um meio de vida. Lança-se a ele apenas […] pelo prazer de jogá-lo4 4 AZIZ, o ‘crack’ que vem jogando por mero prazer. Diário Esportivo, n. 2, p. 3, 2 ago. 1945. .

Outra reportagem já indicava no próprio título os caracteres valorativos que expressaria: “Os cracks elegantes de Minas”5 5 OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945. . Segundo o texto, a elegância do “player” era um predicado manifesto dentro e fora de campo. Em se tratando da segunda possibilidade, elegância seria “aquela que a pessoa do jogador revela, e não a do seu uniforme, pois o calção, as meias e a camisa são iguais”. Outras caraterísticas seriam: “[…] o ‘player’ que não mete o pé, que não ‘chora’, que não reclama contra o juiz, o adversário ou contra os seus próprios companheiros, é o que reconhece o mérito de uma boa jogada de seu contendor, cumprimenta os vitoriosos”6 6 OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945. .

Em contrapartida, a elegância manifesta fora do campo estaria relacionada às formas de vestimentas e às condutas: “Muita gente é capaz de não conhecer Fogosa com paletó, calças e chapéu na Praça Sete. O rapaz fica mesmo diferente. E assim sucede a vários players quando - digamos assim - estão à paisana”. Para o autor da reportagem, o posto de craque mais elegante “dos nossos grandes clubes” seria o de Lucas, “o esplendido ponta direita carijó”: “O paranaense é, com efeito, um homem esmerado no vestir-se e em apresentar-se nos diversos pontos da cidade. Convivendo com rapazes do Iate, América, Minas e grande número de universitários, Lucas frequenta os principais salões da cidade […]”7 7 OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945. . O texto mencionava três dos mais aristocráticos clubes belo-horizontinos à época para exemplificar o meio social frequentado pelo craque elegante.

“Cuidar da indumentária com carinho”, aparar o bigode e a barba eram também atitudes citadas pelo periódico para designar a elegância dos jogadores. Ao retratar o América, o jornal destacava Jorge, Noronha, Wilson, Aldo, Alfredinho e “outros, que se mostram sempre bem trajados”. E enfatizava: “é o clube que apresenta maior contingente, mesmo porque é o gremio profissional preferido pela elite mineira e os players sentem o reflexo disso”8 8 OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945. .

Jogadores de outras equipes também foram mencionados na reportagem: do Atlético, Cafunga, Murilo e Ramos; do Sete de Setembro, Dirceu; do Uberaba, Nino; do Cruzeiro, Niginho: “são os melhores representantes de seus clubes nesse particular”. Concluindo a série encontrava-se Braguinha, que contrariando as “normas de elegância”, gostava de “andar com a gola virada, numa atitude de ‘crack’ jovem”; e Juvenal, “’habitué’ da sessão das 4 horas da tarde do Cine Gloria, o que não deixa de ser muito social”9 9 OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945. .

Dentre os “cracks” mencionados anteriormente, Lucas seria veiculado como o maior exemplo do “bom jogador”. Em dois clichés do Diário Esportivo Lucas aparecia em uma livraria, trajando terno. A legenda detalharia a cena: “Em cima, o crack compra um livro, pois um futeboler10 10 Futeboler (ou footballer) era a expressão comum utilizada em periódicos para designar os praticantes de futebol, ou seja, jogadores de futebol. também pode ser culto. Em baixo, na fila do cinema, o divertimento predileto”11 11 LUCAS. Diário Esportivo, n. 11, p. 8, 4 out. 1945. . Em outra reportagem, Lucas foi mencionado como o “craque-cavalheiro”: “de trato finíssimo dentro e fora das canchas, de uma educação primorosa, de uma linha soberba, […] é um verdadeiro orgulho e um autêntico exemplo no futebol das montanhas”12 12 LUCAS, o craque-cavalheiro. Diário Esportivo, n. 33, p. 2, 14 mar. 1946. .

Outro texto, dessa vez dedicado a retratar um jogador americano, Carlos Alberto, enaltecia o fato de que o player, “apesar de formado, com diploma e anel de doutor, assinando um DR antes do nome […] continua fazendo das suas no quadro de amadores do América”. Também sua participação era evidenciada no time de profissionais: “[…] Sempre solícito, sempre à disposição do técnico nos momentos difíceis, Carlos Alberto joga, às vezes, no quadro principal”13 13 CARNEIRO, Januário. Estrelas no futebol. Diário Esportivo, n. 11, p. 10, 4 out. 1945. .

Com o título “Assim vive a ala direita do América”14 14 ASSIM vive a ala direita do América. Diário Esportivo, n. 17, p. 4, 15 nov. 1945. , um artigo descrevia os gostos de Alfredo e Baiano, dois jogadores do quadro alviverde: “Vão juntos ao cinema, a diversão predileta. Frequentam a biblioteca, onde devoram, diariamente, todos os bons livros que conseguem […]”.

Outro título de reportagem também se mostrava emblemático nesse caso: “A história do jovem ponteiro do Cruzeiro. Nogueirinha: livros, trabalho, futebol”15 15 A HISTÓRIA do jovem ponteiro do Cruzeiro. Diário Esportivo, n. 34, p. 6, 21 mar. 1946. . O jogador foi citado como um “exemplo entre os inúmeros craques que militam no futebol mineiro”, como “um símbolo daqueles que não se deixaram embriagar pelas glorias efêmeras em que o futebol é prodígio, […] exemplo edificante, exemplo soberbo nesse futebol tremendamente malandro e viciado que é o profissional”. Ao ser indagado sobre o que fazia fora do futebol, Nogueirinha respondeu:

[…] Não deixo os livros e atualmente estou fazendo um curso técnico de Contabilidade, onde curso o segundo ano. Pretendo terminar, ou melhor, obter o certificado de Cambridge, fornecido pela Cultura Inglesa do Brasil, e desejo falar fluentemente o idioma britânico, para justificar o desejo de meus pais. Além disso, tenho o meu trabalho no Escritorio da cia. a que pertenço, pois ali acima de tudo tenho o dever sagrado de justificar a confiança que em mim depositam os meus chefes e diretores16 16 A HISTÓRIA do jovem ponteiro do Cruzeiro. Diário Esportivo, n. 34, p. 6, 21 mar. 1946. .

Neste contexto, veiculava-se uma repetida valorização de características distintivas da personalidade e das atitudes dos jogadores em uma conjuntura pautada por novos ordenamentos propiciados pelo profissionalismo e por novos princípios, direcionados, fortemente, à expansão de um mercado esportivo, à competitividade e ao lucro. A igualdade que se manifestava em campo, a exemplo da menção aos uniformes dos jogadores (todos iguais), era, de alguma forma, compensada com a exclusividade manifestada na vida particular. Jorge, jogador do América, foi assim descrito: “Fora da cancha leva uma vida exemplar. Não gosta de noitadas alegres, cuida do seu preparo físico como poucos […]”17 17 ES UN dínamo en cancha. Diário Esportivo, n. 2, p. 9, 2 ago. 1945. . Já Bituca, jogador do Cruzeiro, foi relatado como “senhor de um lar próspero e feliz, […] dedicado funcionário da secretaria do próprio Cruzeiro”18 18 SENHOR de um lar próspero e feliz... Diário Esportivo,n. 2, p. 10, 2 ago. 1945. . Paulinho, do Siderúrgica, foi mencionado como “orgulho do futebol mineiro”19 19 PAULINHO, orgulho do futebol mineiro. Diário Esportivo, n. 22, p. 8, 20 dez. 1945. : “era dedicado, útil e completo, era o profissional com “a alma de amador”20 20 PAULINHO, orgulho do futebol mineiro. Diário Esportivo, n. 22, p. 8, 20 dez. 1945. .

O recrudescimento do futebol possibilitou uma nova relação de visibilidade - da particularidade dos clubes e associações ao expansionismo dos estádios e das multidões. Nesta lógica, novas formas de distinção foram criadas, novas exclusividades foram produzidas, outras configurações de poder e de legitimidade foram postas em cena.

Ou seja, com o aumento de jogadores pertencentes aos inúmeros quadros profissionais, de origens, costumes e classes sociais heterogêneas, há um abalo da força distintiva daquele “espaço de posições” (BOURDIEU, 2003BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Lisboa: Fim de Século, 2003., p. 119) e, assim, outras formas de segregação e de pertencimento social são produzidas para além da atuação em campo. Embora a fórmula do amadorismo tenha se tornado retrógrada e pouco valorizada no futebol, as suas características - no que se referem às condutas, às vestimentas e aos costumes - foram mantidas e valorizadas como predicados dos poucos jogadores que detinham a exclusiva “alma de amadores”, mantendo-se as “distâncias diferenciais” no meio social (BOURDIEU, 2007BOURDIEU, Pierre. A distinção. Crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007., p. 212).

Em contrapartida, o Diário Esportivo também se prestava a retratar em suas páginas o que se era esperado do verdadeiro profissional (cenário em que atuava a maior parte de seus “cracks elegantes”), tendo em vista o cumprimento das obrigações laborais. O impresso também se prestou a criticar os jogadores que haviam se “corrompido” pelo dinheiro, em um esporte que reconhecidamente caminhava em direção ao espetáculo e ao lucro.

3 JOGADORES PROFISSIONAIS “COM ALMA DE PROFISSIONAIS”

Em variadas ocasiões, os jogadores que atuavam no regime profissional foram acusados de não se portarem de maneira condizente com a profissão, o que se traduzia na não obediência das regras dos clubes; em comportamentos indisciplinados; na falta de respeito com a agremiação, com os torcedores e com os dirigentes; e no pouco entusiasmo que dedicavam à defesa de seus quadros.

A preocupação excessiva com a aquisição de altas luvas e salários cada vez mais elevados também constava na lista dos hábitos dos “maus jogadores”. Outras características faziam referência a práticas que se direcionavam aos preceitos do amadorismo: como o amor à camisa e a vinculação única a um clube durante toda a carreira; predicados elogiados e cobrados pelo impresso, mas que não condiziam com as finalidades do esporte tornado profissão. O trânsito crescente de jogadores para equipes que lhes possibilitassem maiores vantagens e a falta de apego a clubes que eram provisórios eram partes constituintes do próprio regime, construído sob as leis do mercado. Neste contexto, imperavam os “jogadores profissionais com alma de profissionais”.

A aceitação dessas mudanças - do amadorismo, que criava laços entre o atleta e o clube, ao profissionalismo, que desconstruía esses laços e valorizava as relações mercantis - não foi simples e nem consensual. O velho paradoxo se manifestava novamente: ao mesmo tempo em que se exigia que o jogador fosse profissional (na acepção mais rígida da palavra), também se exigia que ele manifestasse predicados amadoristas, que eram pouco ou nada condizentes com o profissionalismo. As reportagens apresentadas a seguir intentam demonstrar parte desse cenário de ambiguidades.

Ao noticiar as más atuações do selecionado mineiro no campeonato brasileiro de 194621 21 O Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de Futebol foi o único torneio de âmbito nacional envolvendo seleções de vários estados brasileiros. Organizado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), foi disputado entre 1922 e 1962, com uma edição isolada em 1987. , o Diário Esportivo lamentava o ocorrido destacando que “estava em jogo o prestigio de toda Minas Gerais Esportiva”. A culpa recaída sobre os técnicos e, sobretudo, sobre os jogadores profissionais: “Não lhes pertence o sentido de responsabilidade, falta combatividade, não sabem cumprir com as suas obrigações de empregados como praticamente o são. Enfim, tudo está errado”22 22 MAS, estava em jogo... Diário Esportivo, n. 24, p. 3, 10 jan. 1946. .

No caso específico dos clubes, o que mais receberia destaque era o América. Os seus jogadores profissionais foram constantemente criticados por suas atitudes pouco correspondentes ao tratamento e às vantagens que recebiam do clube. Uma reportagem citava como exemplo o caso do jogador Gabardinho, que havia exigido 25 mil cruzeiros para renovar o seu contrato: “em menos de uma semana, diretores americanos levantaram a importância pretendida, entregando-a ao ‘player’”. Com isso, os demais jogadores, “que até então percebiam vencimentos razoáveis e recebiam luvas também razoáveis” passaram a exigir “mundos e fundos”, forçando a diretoria americana a submeter-se às suas exigências23 23 ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945. .

O maior problema, no entanto, residia na constatação de que ações do clube não reverberavam de forma positiva na conduta dos jogadores, ao menos, em uma conduta que se esperava. Com a indagação “Amor ao clube?”, o texto polemizava: “Com o tratamento generoso que recebem, seria de esperar-se que os profissionais alvi-verdes nutrissem pelo seu clube, pelo menos como princípio de gratidão, uma grande afeição”24 24 ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945. .

O que se vê, porém, é justamente o contrário. É bastante findar um mês para que eles corram a tesouraria, reclamando os ordenados e, se por acaso, há um jogo de campeonato próximo, revelam quase todos má vontade enquanto a ‘gaita’ não aparece. A diretoria tem que dar pulos, fazer, às vezes, até ‘milagres’, para satisfazer aos compromissos. Entretanto, nas mesas dos cafés, rodeados de adeptos e ‘cornetas’, os ‘cracks’ apregoam seu amor ao América e costumam até chorar depois de uma derrota. Mas, a verdade é que nunca se esquecem de reclamar os vencimentos, no dia imediato ao mês vencido25 25 ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945. .

Esta situação foi mencionada como principal motivo da derrocada do clube no campeonato mineiro de 1945: “Líder absoluto e invicto da tabela do certame de 1945, o América perdeu, em três jogos consecutivos, nada menos de 6 pontos”. A reportagem citava como um “triste exemplo” a suspensão do jogador Jorge pelo Tribunal de Penas da Federação Mineira de Futebol (F.M.F) por “ofensa moral à assistência”, o que contribuiu para uma das derrotas do clube contra o Cruzeiro: “Culpa de quem? Terá o jogador direito de insultar a torcida, mesmo em revide? Não é ele um profissional?”26 26 ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945. .

Ao final, o texto destacava que este não era um mal exclusivo do América, embora o atingisse mais diretamente: “Todos os demais em dose maior ou menor, sofrem dos mesmos males. E assim, de um modo geral, tudo se reflete em prejuízo do próprio futebol mineiro, ou melhor, do profissionalismo das montanhas”. Diante da constatação, o periódico propunha uma ação conjunta de todas as agremiações, “numa política de união” em que fosse possível lutar por objetivos comuns a elas: “a padronização de luvas e ‘bichos’”27 27 ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945. .

Se o jogador X exige luvas elevadas de determinado clube, é porque sabe que um outro lhe pagará aquela importância. Daí advém as situações críticas, pois os responsáveis vêem-se obrigados a despender quantias vultuosas para garantir a permanência do ‘crack’ quando, se não houvesse a concorrência de um co-irmão, o mesmo lhe ficaria muito mais barato28 28 ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945. .

Em outra reportagem, mencionava-se a insatisfação da torcida americana com as exibições da equipe: “Nota-se quase absoluto desinteresse dos jogadores pelos prélios, falta de fibra, sangue, entusiasmo, energia, amor à camisa”29 29 CARTAS imagináveis. Diário Esportivo, n. 11, p. 2, 4 out. 1945. . Destacava-se que alguns dos jogadores não sabiam “cumprir com as suas obrigações contratuais e morais”. Eram “profissionais sem moral, sem noção da palavra empenhada”, incapazes de “atitudes superiores, de gestos viris”. Propunha-se, assim, a eliminação dos “maus profissionais” e a criação de uma equipe com “gente de casa, playeres [sic] novos e sem máscara, profissionais sem exigências e que se não se ‘contundem’ por qualquer encontrozinho”30 30 CARTAS imagináveis. Diário Esportivo, n. 11, p. 2, 4 out. 1945. .

Intitulada “Luta contra a indisciplina e a falta de fibra”31 31 SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945. , outra publicação anunciava os problemas enfrentados por América e Atlético em razão dos “jogadores mercenários, sem fibra, displicentes, aos quais só interessava o dinheiro”. A vitória dos clubes pouco importaria a esses jogadores, “salvo quanto ao bicho ou a recompensa […]. Que se dane o clube!”. Essa era a opinião manifestada pelo texto que ainda criticava o pouco interesse dos jogadores pelos sacrifícios da diretoria e dos associados: “Os diretores e os fans que percam a cabeça, o dinheiro em apostas, escutem provocações do adversário. Esquecem-se de que, quando vencem, são regiamente pagos pelo triunfo - pelo clube e pela torcida”32 32 SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945. .

A reportagem frisava a existência de exceções nos dois clubes, de “playeres [sic] que lutam do primeiro ao último minuto com ardor e combatividade”, que “não param em campo, nem ficam a reclamar dos próprios companheiros” e que manifestam “um nobre exemplo de dignidade profissional”. Entretanto, a centralidade da escrita voltava-se novamente para os “cracks de má vontade”, “legítimos cofres à procura de níqueis”, que não reagiam na disputa dos jogos, que não tinham “sangue, nem dignidade para isso”33 33 SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945. .

Então, serão obrigados a tal, por um processo - eficiente contra eles […] os clubes tirar-lhes-ão parte de seus salários e aplicarão outras punições, de ordem financeira. […] O caso de Noronha é típico: está sempre alegando contusões, não acompanha o clube sistematicamente em suas excursões. Ainda na sexta-feira última deixou de embarcar para Campo Belo. Resultado: teve o seu contrato suspenso por 30 dias, por ser reincidente e o técnico Magno anuncia que nunca mais o escalará, pois o considera o jogador mais indisciplinado que já encontrou em seus 22 anos de futebol34 34 SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945. .

Em uma publicação veiculada dias depois, anunciava-se que Noronha, “o crack mignon, campeão da indisciplina”35 35 ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 14, p. 3, 25 out. 1945. , teria seu contrato rescindido com o América. Na opinião manifestada pelo texto, a rescisão do contrato seria resultante de uma medida de “ingenuidade primitiva” do clube americano, “pois o que deseja o ponteiro esquerdo, de há muito, é exatamente o passe livre, para ingressar num dos clubes cariocas, falando-se que tem em vista o Vasco”36 36 ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 14, p. 3, 25 out. 1945. . Interessante destacar que o mesmo Noronha havia sido citado de forma elogiosa pelo Diário Esportivo como um dos craques elegantes do futebol mineiro, que mantinham “alma de amadores”.

Outro jogador dispensado pelo América, fruto da “campanha de limpeza” efetuada pelo clube, seria o atacante Gabardo. A reportagem enaltecia as qualidades do jogador nos gramados: “Inegavelmente, o impetuoso centro-avante é um jogador de qualidades. Decidido, bom artilheiro, distribui com certa visão, tendo sido um dos bons dianteiros do alvi-verde na temporada”37 37 DIÁRIO ESPORTIVO, n. 19, p. 2, 29 nov. 1945. . Em contrapartida, descrevia os motivos que o fizeram ser desligado do clube.

Mas, é, sobretudo, indisciplinado. Está sempre alegando contusões que o impedem de jogar, por menores que sejam. É um ‘crack’ caro e de má vontade. Nos jogos, porém, em que o ‘bicho’ é ‘gordo’, êle nunca deixa de atuar. Assim, participou de todos os jogos do América contra o Atlético, pois as vitórias eram regiamente pagas pela diretoria e pelos associados do ‘deca’38 38 DIÁRIO ESPORTIVO, n. 19, p. 2, 29 nov. 1945. .

O América chegou a ser mencionado como um “clube que não sabe vencer campeonatos” e uma das razões para tal situação seria o vício do “endeusamento” de jogadores: “Ah! ‘A máscara’. Como são fáceis de convencimento os elementos do América”39 39 COTTA, José de Araújo. A história de um clube que não sabe vencer campeonatos. Diário Esportivo, n. 27, p. 5, 17 jan. 1946. .

Do convencimento partem eles para um punhado de defeitos. Tornam-se exigentes, pensam agir como malandros, fingindo-se machucados, recusando-se a jogar e excursionar. O tratamento que recebem por parte da diretoria e associados é o culpado disto […]. Quantas e quantas vezes o jogador A ou B é apanhado discutindo assuntos administrativos do clube, organizando movimento para exigir a saída ou entrada de tal diretor. Por que? Porque não são tratados como o deviam ser. Humanamente, mas como profissionais. Nem respeito aos diretores da agremiação eles têm. Tratam de igual para igual, num ambiente que fica mais para eles do que para os dirigentes40 40 COTTA, José de Araújo. A história de um clube que não sabe vencer campeonatos. Diário Esportivo, n. 27, p. 5, 17 jan. 1946. .

Novamente, o problema dos “maus profissionais” da equipe americana ganharia centralidade. Desta vez, na ocasião de um jogo disputado entre o alviverde e o clube Libertad, do Paraguai. Nos dizeres do Diário Esportivo, a atuação da equipe paraguaia foi uma mostra contundente de que “o futebol precisa de ‘sangue’ e de jogadores fortes, viris, que ‘topem qualquer parada”41 41 ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 24. p. 3, 10 jan. 1946. . Suas características, segundo o texto, poderiam “servir de espelho para muitos dos nossos clubes locais”42 42 ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 24. p. 3, 10 jan. 1946. .

Ao mencionar o confronto do Libertad com o América, o periódico enfatizou que a exibição do alviverde frente ao campeão paraguaio “constituiu verdadeira desolação para os seus adeptos”. O motivo já seria conhecido: “Irreconhecíveis, com um ataque absolutamente inofensivo, jogando sem alma e sem fibra […]”. Ao final, o texto propunha: “O América […] precisa tomar providencias serias para renovar o seu esquadrão para a temporada de 1946. A várzea está aí, cheia de elementos novos e promissores. Os medalhões, decididamente, não resolvem”43 43 ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 24. p. 3, 10 jan. 1946. .

O Cruzeiro era constantemente mencionado como um exemplo a ser seguido pelos outros clubes. O sucesso da equipe nas disputas do campeonato mineiro era atribuído à política administrativa do clube e ao tratamento que dispensava aos jogadores, bem diferente do que faziam América e Atlético.

[…] todo o mundo sabe que o team do Cruzeiro é um team relativamente barato. Cracks famosíssimos, como Geraldo II, Juvenal, Selado, Niginho e Ismael custam relativamente pouco ao clube das cinco estrelas. Principalmente se os compararmos com outros medalhões que figuram em outros teams, mascarados, machucadores, fricoteiros, e que andam pondo o Atletico e o America (principalmente estes dois), em palpos de aranha… […]. Vejamos: o team está ganhando, está brilhando, os profissionais jogam não só por dinheiro, mas também por amor a camisa. Enfim, o team está dando gosto. Se o crack começa a fazer exigências demais que va passear… E se encontra propostas vantajosas demais, que as aproveite. […] E o Cruzeiro sabe que terá elementos sempre com que contar, principalmente na varzea44 44 CRUZEIRO x scratch da cidade. Diário Esportivo, n. 21, p. 10, 13 dez.1945. .

Em outro texto, revelava-se a história de um jogador do América para se criticar a situação de troca de clubes. Nesse caso, o exemplo do “player” americano foi motivo de elogio por parte do jornalista, contrariando a maioria das reportagens que se referiam a este clube. Por meio deste exemplo, o texto manifestava um descontentamento em relação a uma das características mais fortes do profissionalismo: o trânsito de jogadores. O atleta americano em questão era Alfredinho e assim foi destacado:

Sua vida esportiva, toda ela vivida para servir de maneira tão própria e eficiente a um só pavilhão encerra exemplos soberbos, todos eles dignos de serem imitados por muitos supostos craques, que andam por aí, vagando de clube em clube, mantendo seu prestígio, graças, apenas, ao delírio das manchetes e dos microfones de amigos45 45 A HISTÓRIA de Alfredinho. Diário Esportivo, n. 32, p. 3, 28 fev.1946.

Finalizando o cerne de ambiguidades discursivas observadas no impresso, em que profissionalismo e amadorismo se mesclavam nas avaliações acerca da conduta dos jogadores, tanto regidas pelas exigências contratuais (afeitas às prerrogativas do profissionalismo), como pelas reivindicações morais e comportamentais (mais próximas aos princípios do amadorismo), tem-se o exemplo bastante significativo de uma reportagem que abordava uma situação ocorrida na capital do país. O tema discutido se referia ao “caso Ademir”, um imbróglio que envolvia os clubes Vasco da Gama e Fluminense: “Toda a gente sabe do ‘caso’ Ademir. O grande atacante ‘tretou’ com o Vasco e assinou contrato com o Fluminense. A colonia lusa ficou ‘fula’ com o rapaz e promete vinditas tremendas”46 46 O CASO Ademir. Diário Esportivo, n. 36, p. 3, 4 abr. 1946. . O jornal Diário Esportivo, que, por repetidas vezes, criticou a imoralidade dos jogadores, assim se manifestou sobre esse caso: “Mas, por que esse barulho? Ademir não é um profissional? Não joga futebol por dinheiro? Então? Porque há de causar ‘ademir...ação’ o gesto do crack?’...”47 47 O CASO Ademir. Diário Esportivo, n. 36, p. 3, 4 abr. 1946. .

Assim, pode-se perceber que, para cada situação específica, as ideias e as expectativas conferidas ao amadorismo e ao profissionalismo se diferiam, dependendo dos interesses da veiculação da reportagem. Nesse caso, é possível também perceber o quão diverso e ambíguo era o cenário do futebol belo-horizontino mais de dez anos após a implantação oficial do profissionalismo, o que demonstra a necessidade de uma compreensão mais ampliada acerca da coexistência dos regimes amador e profissional, com suas mesclas, ressignificações, seus princípios e valores. Estes não são únicos, rígidos e coesos; ao contrário, são complexos, diversos e conflitantes.

4 CONCLUSÃO

O presente artigo teve como objetivo analisar, por meio de reportagens do jornal Diário Esportivo, como os jogadores amadores e profissionais, assim como a ideia de amadorismo e profissionalismo, eram representados e veiculados entre os anos de 1945 e de 1946, na cidade de Belo Horizonte/MG.

Foi possível perceber uma veiculação discursiva ambígua em relação aos jogadores profissionais, ora destacados e elogiados por manterem condutas de amadores, ora criticados e denunciados por não cumprirem de maneira satisfatória com suas obrigações laborais. Nesse último caso, alguns jogadores foram acusados de não terem “amor à camisa” ou criticados por se transferirem de clubes, prerrogativas próprias do profissionalismo que, em outros momentos, era exigido.

A verificação de um cenário ambíguo, conflituoso e diverso demonstra as complexidades dessa experiência futebolística no contexto específico da cidade de Belo Horizonte, sugerindo um olhar mais cuidadoso para os regimes amador e profissional, alargando a perspectiva de um entendimento comum pautado na simples passagem de um estado a outro que a ideia de transição comumente supõe.

  • 1
    Este artigo é um desdobramento da tese de doutorado de SOUTTO MAYOR, Sarah Teixeira. O futebol na cidade de Belo Horizonte: amadorismo e profissionalismo nas décadas de 1930 e 1940. 2017. 359 f. Tese (Doutorado em Estudos do Lazer) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
  • 2
    Ao longo do texto as referências extraídas dos periódicos preservarão a grafia da época. Optamos assim em função do maior alcance da ambiência em que foram publicadas.
  • 3
    AZIZ, o ‘crack’ que vem jogando por mero prazer. Diário Esportivo, n. 2, p. 3, 2 ago. 1945.
  • 4
    AZIZ, o ‘crack’ que vem jogando por mero prazer. Diário Esportivo, n. 2, p. 3, 2 ago. 1945.
  • 5
    OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945.
  • 6
    OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945.
  • 7
    OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945.
  • 8
    OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945.
  • 9
    OS CRACKS elegantes de Minas. Diário Esportivo, n. 5, p. 4, 23 ago. 1945.
  • 10
    Futeboler (ou footballer) era a expressão comum utilizada em periódicos para designar os praticantes de futebol, ou seja, jogadores de futebol.
  • 11
    LUCAS. Diário Esportivo, n. 11, p. 8, 4 out. 1945.
  • 12
    LUCAS, o craque-cavalheiro. Diário Esportivo, n. 33, p. 2, 14 mar. 1946.
  • 13
    CARNEIRO, Januário. Estrelas no futebol. Diário Esportivo, n. 11, p. 10, 4 out. 1945.
  • 14
    ASSIM vive a ala direita do América. Diário Esportivo, n. 17, p. 4, 15 nov. 1945.
  • 15
    A HISTÓRIA do jovem ponteiro do Cruzeiro. Diário Esportivo, n. 34, p. 6, 21 mar. 1946.
  • 16
    A HISTÓRIA do jovem ponteiro do Cruzeiro. Diário Esportivo, n. 34, p. 6, 21 mar. 1946.
  • 17
    ES UN dínamo en cancha. Diário Esportivo, n. 2, p. 9, 2 ago. 1945.
  • 18
    SENHOR de um lar próspero e feliz... Diário Esportivo,n. 2, p. 10, 2 ago. 1945.
  • 19
    PAULINHO, orgulho do futebol mineiro. Diário Esportivo, n. 22, p. 8, 20 dez. 1945.
  • 20
    PAULINHO, orgulho do futebol mineiro. Diário Esportivo, n. 22, p. 8, 20 dez. 1945.
  • 21
    O Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de Futebol foi o único torneio de âmbito nacional envolvendo seleções de vários estados brasileiros. Organizado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), foi disputado entre 1922 e 1962, com uma edição isolada em 1987.
  • 22
    MAS, estava em jogo... Diário Esportivo, n. 24, p. 3, 10 jan. 1946.
  • 23
    ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945.
  • 24
    ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945.
  • 25
    ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945.
  • 26
    ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945.
  • 27
    ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945.
  • 28
    ESTARÁ perdido o campeonato para o América? Diário Esportivo, n. 10, p. 3, 27 set. 1945.
  • 29
    CARTAS imagináveis. Diário Esportivo, n. 11, p. 2, 4 out. 1945.
  • 30
    CARTAS imagináveis. Diário Esportivo, n. 11, p. 2, 4 out. 1945.
  • 31
    SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945.
  • 32
    SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945.
  • 33
    SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945.
  • 34
    SOLON. Aconteceu na semana. Diário Esportivo, n. 13, p. 3, 18 out. 1945.
  • 35
    ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 14, p. 3, 25 out. 1945.
  • 36
    ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 14, p. 3, 25 out. 1945.
  • 37
    DIÁRIO ESPORTIVO, n. 19, p. 2, 29 nov. 1945.
  • 38
    DIÁRIO ESPORTIVO, n. 19, p. 2, 29 nov. 1945.
  • 39
    COTTA, José de Araújo. A história de um clube que não sabe vencer campeonatos. Diário Esportivo, n. 27, p. 5, 17 jan. 1946.
  • 40
    COTTA, José de Araújo. A história de um clube que não sabe vencer campeonatos. Diário Esportivo, n. 27, p. 5, 17 jan. 1946.
  • 41
    ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 24. p. 3, 10 jan. 1946.
  • 42
    ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 24. p. 3, 10 jan. 1946.
  • 43
    ACONTECEU na semana. Diário Esportivo, n. 24. p. 3, 10 jan. 1946.
  • 44
    CRUZEIRO x scratch da cidade. Diário Esportivo, n. 21, p. 10, 13 dez.1945.
  • 45
    A HISTÓRIA de Alfredinho. Diário Esportivo, n. 32, p. 3, 28 fev.1946.
  • 46
    O CASO Ademir. Diário Esportivo, n. 36, p. 3, 4 abr. 1946.
  • 47
    O CASO Ademir. Diário Esportivo, n. 36, p. 3, 4 abr. 1946.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. "This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001"

ÉTICA DE PESQUISA

A pesquisa seguiu os protocolos vigentes nas Resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *

* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    04 Fev 2022
  • Aceito
    01 Jun 2022
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