Open-access A LUTA MARAJOARA NA ATUALIDADE: PERCEPÇÕES DE ATLETAS E EX-ATLETAS DA MODALIDADE

THE MARAJOARA WRESTLING TODAY: PERCEPTIONS OF ATHLETES AND FORMER ATHLETES OF THE MODALITY

LA LUCHA MARAJOARA HOY: PERCEPCIONES DE ATLETAS Y EX ATLETAS DE LA MODALIDAD

Resumo

A Luta Marajoara (LM) vem aos poucos sendo conhecida nacional e internacionalmente como uma prática de combate corporal de expressiva efetividade e com elementos culturais importantes. O presente texto resulta de investigação exploratória que objetivou compreender, a partir das percepções de atletas e ex-atletas da LM, as tensões que envolvem essa prática corporal no âmbito de suas dimensões cultural, educacional e esportiva. A amostra é composta por 13 participantes masculinos, com idade entre 30 a 60 anos, residentes no Arquipélago do Marajó. Para a coleta de dados, foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturado com sete perguntas abertas. Os resultados demonstraram que a LM atravessa um processo de esportivização, de escolarização e de busca pela preservação de suas tradições. Percebe-se, ainda, a crença de que o ensino das tradições da LM para crianças pode resgatar o interesse pela modalidade, destacando o aspecto da identidade cultural do povo marajoara.

Palavras-chave: Luta Marajoara; Esportivização; Escolarização; Educação Física; Cultura.

Abstract

Marajoara Wrestling (MW) is being recognized, nationally and internationally, as a practice of corporal combat of expressive effectivity and with important cultural elements. The following text is the product of exploratory investigation that had the objective of identifying the perspective of athletes and former athletes of the modality about MW. The sample is composed of 13 male participants, from 30 to 60 years old, residents of the Marajó Archipelago. For the data collection a semi-structured interview script with seven open questions was utilized. The results show that MW is undergoing a process of sportification, schooling and of longing for the preservation of its traditions. It is perceptible, furthermore, that the schooling of traditions of MW to children can retrieve the interest for the modality, giving emphasis to the cultural identity of the marajoara people.

Keywords: Marajoara Wrestling; Sportification; Scholarization; Schooling; Physical Education; Culture.

Resumen

La Lucha Marajoara (LM) viene siendo, poco a poco, conocida nacional e internacionalmente, como una práctica de combate corporal de expresiva efectividad y con elementos culturales importantes. El siguiente texto resulta de la investigación exploratoria que tuvo como objetivo la identificación de perspectivas de atletas y ex atletas de LM. La muestra está compuesta por 13 participantes masculinos, con edad entre 30 y 60 años, residentes del Archipiélago de Marajó. Para la recolección de datos fue utilizado un plan de preguntas semiestructuradas con siete cuestiones abiertas. Los resultados demuestran que la LM pasa por un proceso de deportificación, de escolarización y de búsqueda por la preservación de sus tradiciones. Es nítido, además, que la enseñanza de las tradiciones de la LM a niños puede rescatar el interés de ellas por la modalidad, destacando el aspecto de la identidad cultural del pueblo marajoara.

Palabras clave: Lucha Marajoara; Deportificación; Escolarización; Educación Física; Cultura.

1 INTRODUÇÃO

A região do Marajó, no estado do Pará, é formada por um conjunto de ilhas, por isso é conhecida como Arquipélago do Marajó (BRASIL, 2007). A região é composta por 16 municípios e se apresenta com grande diversidade e belezas naturais. Entretanto, apresenta fatores degradantes, como a visível pobreza de 12 deles1, os quais estão entre os 50 menores no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país (BRASIL, 2020). Porém, sua riqueza cultural, manifestada na música, na religiosidade, no artesanato e na culinária, é marcante no Arquipélago. Dentre essas diversidades encontra-se a Luta Marajoara (LM).

Como manifestação cultural tradicional da região, a LM é encontrada em alguns municípios da região, como: Soure, Salvaterra, Ponta de Pedra, Breves e Cachoeira do Arari. Concomitante às suas características culturais, a LM se insere, atualmente, enquanto prática corporal de combate, em um iminente processo de esportivização2 (CAMPOS; ANTUNES, 2021).

Ainda que não haja consenso sobre sua origem, a LM vem, gradualmente, se tornando mais conhecida, talvez como resultado de alguns fenômenos, como o aumento do interesse científico sobre o tema, sua inserção na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), pelo apelo nas propagandas turísticas da região do Arquipélago do Marajó ou mesmo pelo processo de esportivização ora em curso, com a formação de instituições esportivas de organização da modalidade como a Federação Paraense de Luta Marajoara e a Liga Nacional de Luta Marajoara.

Ao longo da última década, alguns praticantes nativos da LM estão galgando expressivos resultados em esportes de combate, como o Mixed Martial Arts (MMA). Antunes, Borba-Pinheiro e Campos (2021) apontam para esse fato como um dos catalizadores da saída da LM de uma condição local para a projeção no Brasil e no mundo. Pois, antes desses fatos, a LM não era nem citada como uma forma de wrestling folclórico ou étnico na literatura especializada (SAYENGA, 1995; GREEN, 2001; JONES, 2002; GREEN; SVINTH, 2010). Com esse aporte é possível prever que tal projeção como esporte de combate decorra da integração de elementos culturais com aspectos relacionados à efetividade de combate, onde se observa dinâmicas de desempenho, força física e técnicas de projeção similares a outras modalidades de wrestling3.

Na qualidade de parte do processo de esportivização, o já mencionado crescente movimento em torno da institucionalização da LM como esporte de combate tem um sinal significativo de consolidação desde a criação da Federação Paraense de Luta Marajoara, em setembro de 2020 (ANTUNES; CAMPOS, 2021). A caracterização da LM como esporte de combate passa por debates envolvendo a criação de um modelo unificado que permita sua padronização, institucionalização e difusão enquanto modalidade esportiva. Atrelado a isso, o reconhecimento como componente curricular da Educação Física escolar é outro importante fator que vem impulsionando e legitimando socialmente a LM na atualidade (BRASIL, 2018).

Por outro lado, o crescimento da modalidade não se dá apenas por meio da divulgação efetivada pela migração de praticantes da LM para o MMA. Isso é algo que tem contribuído bastante para a visibilidade da prática corporal marajoara que já foi muito popular em todo o Arquipélago, mas depois de um período de estagnação ficou restrita a alguns municípios e grupos tradicionais (CAMPOS; PINHEIRO; GOUVEIA, 2019).

Segundo os mesmos autores, há outro fator que contribui para o crescimento do interesse pela modalidade, e isso se deve à ampliação de pesquisas sobre a LM. As pesquisas, mesmo que em número reduzido, têm se pautado pela problematização da LM nos aspectos técnicos, pedagógicos, culturais e morfofuncionais (CAMPOS; PINHEIRO; GOUVEIA, 2019; SEABRA; CAMPOS; ANTUNES, 2020; SANTOS; ANDRADE; FREITAS, 2021; ANTUNES; CAMPOS, 2021).

Cabe ainda destacar diferentes configurações empíricas que permeiam o universo da LM, aproximando-a ao contexto nativo da região. Uma delas é a dimensão do lazer nas fazendas de gado no interior da região, cuja prática está associada aos momentos que antecedem ao banho dos praticantes (vaqueiro marajoara) nos rios ao final da lida com o rebanho (ASSIS; PINTO; SANTOS, 2011). Em outra dimensão, pode-se encontrar registros da LM durante eventos religiosos, associando-a à religiosidade local, como a Festa do Glorioso São Sebastião, que ocorre todo mês de janeiro, em Cachoeira do Arari (ANTUNES; CAMPOS, 2021).

Contudo, na esteira do movimento de expansão e divulgação da LM, há questões que ainda geram debates interessantes por envolver dimensões relacionadas ao seu caráter cultural, esportivo e educacional. Essa manifestação multidimensional gera tensionamentos entre a manutenção das tradições e da identidade cultural, a modernização e padronização da prática para seu uso esportivo, além das questões sobre quem serão os responsáveis por ensinar a LM nas escolas. Essa situação reforça a necessidade de ampliar trocas de experiências e investigações que gerem novas problematizações a serem equacionadas envolvendo a modalidade.

Nesse sentido, Seabra, Campos e Antunes (2020) observam convergências em relação às problematizações sobre a LM. Entretanto, precisam ser corroboradas por novos estudos que possam subsidiar o cenário atualmente percebido da LM. Portanto, o presente estudo pretende compreender, a partir das percepções de atletas e ex-atletas da LM, as tensões que envolvem essa prática corporal no âmbito de suas dimensões cultural, educacional e esportiva. Entendemos que atletas e ex-atletas da modalidade têm muito a nos dizer, de forma que possam nos ajudar na discussão quanto a encaminhamentos necessários para que a prática corporal seja difundida e ainda assim mantenha sua identidade.

2 MÉTODO

De acordo com Richardson (1999), o presente estudo tem características de pesquisa qualitativa de cunho exploratório. Com esse prisma, a pesquisa foi realizada no Arquipélago do Marajó, por ser a região original da modalidade e onde se observa seu desenvolvimento. Ainda seguindo as orientações de Richardson (1999), operou-se uma pesquisa de campo nos municípios de Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure, regiões onde se encontra mais presente a LM. A amostra da pesquisa se constituiu de 13 participantes do gênero masculino, residentes no Arquipélago do Marajó, na faixa etária de 30 a 60 anos.

Como critério de inclusão, os participantes deveriam ter destaque reconhecido como atleta ou ex-atleta da LM na região. Para isso, se utilizou o princípio da bola de neve de Becker (1997), segundo o qual um participante contatado indica outros possíveis participantes, que por sua vez, indicarão outros. Quando as indicações só contiverem nomes repetidos, o procedimento de contato com novos participantes se encerra e a amostra é finalizada.

Para a escolha do primeiro participante utilizou-se o documentário Terra de Luta: as origens da luta no Brasil (JUNGLE, 2017), que apresenta entrevista com um dos lutadores nativos mais famosos. Esse lutador foi contatado e aceitou participar do estudo, indicando em seguida outros nomes. Sucessivas indicações, de acordo com o método escolhido, culminaram com a amostra de 13 participantes com notório reconhecimento no Arquipélago do Marajó. Esse reconhecimento também foi confirmado pela ocorrência de seus nomes nas mídias locais, percebida durante o período de coleta de dados. Dos 13 participantes, oito ainda competem na modalidade, cinco não competem mais e quatro migraram para o MMA profissional.

Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada. Para Thomas, Nelson e Silverman (2012), a entrevista é um instrumento adequado para coletar informações sobre as percepções de diferentes informantes. Além das questões sobre o perfil dos participantes, o instrumento foi composto por sete perguntas abertas que buscaram captar as percepções dos mesmos sobre diferentes aspectos da LM como, regiões e lugares da prática, formas de ensino, esportivização, eventos tradicionais relacionados à modalidade, sua cultura e tradições.

As entrevistas ocorreram no mês de julho de 2020 e foram agendadas segundo as disponibilidades dos participantes e gravadas com auxílio de aplicativo de gravação de voz para aparelho celular. As gravações foram transcritas e analisadas a partir da análise de conteúdo de Bardin (2011). Seguindo orientações da autora, foi realizada uma análise prévia, observando aspectos gerais relacionados aos objetivos do estudo. Em seguida, os dados foram organizados mediante a sistematização das recorrências temáticas, o que permitiu o estabelecimento de duas categorias de análise: 1) diagnóstica; e 2) perspectiva. A diagnóstica concentra as análises nas respostas sobre a LM na atualidade; a perspectiva apresenta os anseios sobre o desenvolvimento da modalidade para o futuro. Pôde-se ainda identificar três subcategorias, tanto na categoria diagnóstica, quanto na perspectiva, nomeadamente: a) tradição e manifestação cultural; b) desenvolvimento da LM como esporte; c) difusão da LM no currículo escolar.

Para preservação do anonimato, os participantes foram identificados pela letra P e pelo número referente à ordem em que responderam a entrevista. Assim, os 13 participantes foram identificados na sequência de P1 a P13. Cabe ainda destacar que todos os princípios éticos expostos pelas Resoluções nº 466/21 e nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde foram rigorosamente observados.

3 RESULTADOS

No perfil dos participantes, as informações mais relevantes são de que quatro deles eram do município de Soure (P4, P5, P12 e P13) e nove do município de Salvaterra (P1, P2, P3, P6, P7, P8, P9, P10 e P11). Ambos os municípios são próximos, separados apenas pelo rio Paracauari, com grande fluxo de pessoas circulando entre eles e, respectivamente, possuem uma população de 25.565 e 24.075 habitantes (IBGE, 2020a; 2020b). A seguir, são apresentados os dados relacionados às dimensões diagnóstica e perspectiva, além de suas subcategorias.

3.1 CATEGORIA DIAGNÓSTICA

Os resultados obtidos a designar nessa categoria indicam diferentes aspectos a respeito da LM: distribuição geográfica; eventos culturais e religiosos; apoio público e/ou privado; personalidades de destaque; e características dos locais de ensino e prática.

Quanto à distribuição geográfica no Arquipélago do Marajó, os resultados apontam para Cachoeira do Arari e Soure como as principais cidades que desenvolvem eventos de LM, ambas com nove indicações dos participantes. Em segundo lugar ficou Salvaterra com quatro indicações e em terceiro, empatados com uma indicação, as cidades de Muaná e Ponta de Pedras. Apesar da maioria dos participantes (9) ser de Salvaterra, os dados apontam que essa cidade não promove tantos eventos como gostariam os conterrâneos. Interessante destacar que Salvaterra e Soure estão muito próximas, sendo fronteiriças, entretanto, as atividades de LM se concentram em Soure. Esse fato pode indicar razões políticas e comerciais que as justifiquem, uma vez que Soure é considerada “a capital do Marajó”.

Por fazer parte da cultura local, a LM se insere em diferentes eventos do Arquipélago. Os participantes sinalizam a importância de cada evento em relação às práticas da modalidade destacando ainda sua identificação com a cultura marajoara através do seu vínculo com eventos religiosos, sociais e até políticos. Oito participantes indicaram a Festa do Glorioso São Sebastião como a mais importante para a LM. Em seguida, os eventos no mês de julho e o período de férias escolares receberam cinco indicações. Em terceiro lugar foram os aniversários das cidades em geral e a corrida do cavalo marajoara com, três indicações. Na sequência, os aniversários da cidade de Salvaterra, com duas indicações, e por fim, empatados, ficaram os aniversários da cidade de Cachoeira do Arari, os eventos quilombolas da Vila União (em Salvaterra) e a Festa do Camarão4, todas com uma indicação cada.

A associação das festas religiosas ou sociais com a LM recebe especial atenção dos participantes. Gallo (1997) descreve a Festa do Glorioso São Sebastião, destacando como uma das festividades mais concorridas do Arquipélago, quando ocorre um evento competitivo entre os mais atraentes de LM. Além dessa, outras festas fazem parte do calendário de eventos do Arquipélago. O mês de julho concentra diversos eventos na região por ser um período de férias escolares. Isso pode explicar a sua indicação como um dos períodos que mais se realizam atividades com a LM.

Nesse período ocorrem diversos eventos, como: a Festa do Camarão, no município de Afuá na última semana de julho; a Festa de Nossa Senhora de Santana, no município de Breves, no segundo sábado de julho; em Melgaço ocorrem as festividades de São Miguel Arcanjo, padroeiro do município e a de São Francisco de Assis, entre junho e julho; a Festa do Camarão em Muaná, em junho.

Apesar dos aniversários das cidades terem sido indicados por três participantes, não foram determinadas quais as cidades contemplam a LM em seus eventos. Entretanto, há indicação de que eventos de aniversários de Salvaterra e Cachoeira do Arari possuem atividades de LM. A corrida do cavalo marajoara, que ocorre em Soure no mês de outubro, destaca-se como uma das festas onde ocorre a LM. Os jogos quilombolas, que ocorrem no mês de novembro, em Salvaterra, também congregam a LM em suas atividades, demonstrando estreito vínculo entre a cultura afro-brasileira e a modalidade.

Como se pode observar, há forte vínculo da LM com os eventos culturais e talvez por isso exista uma forte preocupação com a preservação das tradições da luta, uma vez que essa é também expressão da cultura local. É consenso entre os participantes que há uma gradual perda das tradições, das formas de transmissão da modalidade e dos seus elementos característicos, ligados à lida nas fazendas e sua dimensão de lazer. Sobre isso, destaca-se a seguinte fala:

[...] antigamente a gente via mais os pais incentivar os filhos a fazer parte, a lutar, conhecer mais a LM, hoje em dia é bem pouco, bem pouco os pais que incentivam os filhos a lutar “marajoara” e conhecer um pouco dessa cultura [...] (P1).

Talvez por isso os participantes vejam, no processo de esportivização e de escolarização, pontos de apoio para a continuidade da tradição. No entanto, ambos os processos devem levar em consideração a prática corporal em questão enquanto cultura, para que elementos tradicionais da LM não se percam. Nesse sentido, os participantes falam sobre a preservação de técnicas tradicionais da LM como forma ideal para sua difusão. Um participante afirma que:

antigamente a LM não tinha regras, as pessoas chegavam no local e rapidamente lutavam. Para eles era uma questão de honra lutar [...] hoje em dia é diferente, a LM já é mais esportivizada, não existem mais as quedas antigas e foram criadas novas regras, para que o atleta não venha a se contundir por golpes perigosos, pois, alguns podiam chegar até a matar (P4).

A preocupação com a preservação da tradição foca, principalmente, nas técnicas mais antigas, ainda que se reconheça a necessidade de controles. Entretanto, alguns golpes estão gradativamente caindo em desuso. Nas falas de alguns participantes, esse é o caso do golpe chamado “boi laranjeira”. Trata-se de um golpe que humilhava o oponente, pois quem o recebia era considerado “mole”, “fraco” e “pouco esperto”, tornando-se motivo de “chacota” entre amigos. Com o processo de esportivização e a preocupação de controle sobre a segurança das práticas, o golpe foi retirado e poucos o utilizam atualmente.

Sobre a escolarização da LM, alguns participantes afirmam que essa prática corporal deve ser inserida na escola. Acreditam que esse movimento possa resgatar o ensino da história e das tradições da luta, despertando o interesse das crianças sobre ela. Pelas respostas dos participantes é possível verificar a crença de que a escolarização também contribua para a preservação das tradições, supostamente ameaçadas na contemporaneidade.

Também foi observada a preocupação com as crianças e jovens na atualidade, no sentido de protegê-las do envolvimento com ilegalidades. Assim, há a crença de que a LM ajudaria crianças e jovens a incorporar valores como disciplina e respeito, além de se socializarem de forma positiva.

Nesse sentido, um dos participantes afirma que:

Para mim, a luta marajoara ela é um meio de tirar os jovens..., dar outro caminho para esses jovens..., para que não se percam..., no mundo das drogas, na marginalização, como está acontecendo com mais jovens por não ter um espaço; por não ter uma oportunidade. Então é por isso que de vez em quando a gente coloca uns projetos para ir pra frente, mas, temos que ter com certeza o apoio das gestões públicas, devido espaço; devido material, que a gente não tem como colocar esse material aí... (P4)

Nas respostas dos participantes, percebe-se o desalento com relação aos apoios institucionais, principalmente por parte do Poder Público. Quando indagados sobre apoios recebidos dos governos para o desenvolvimento da LM, sete participantes afirmam que não há nenhum apoio. Entre os que mencionaram algum apoio, quando ocorrem são de forma pontual, dispersa e diversa, como o destaque do apoio à LM durante a gestão de Almir Gabriel, quando responsável pelo governo do Pará, de 1995 a 2003, e apoios esparsos dos governos municipais de Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure. Esses últimos apoios se configuram por premiações em dinheiro para os finalistas e para os campeões de eventos. Logo, os apoios são pontuais e, predominantemente, em dinheiro para os lutadores.

Quando questionados sobre as personalidades mais influentes no desenvolvimento da LM, os participantes indicaram Adenildo Imperial (seis indicações) como o praticante que mais se envolve na divulgação da modalidade. Imperial, como é mais conhecido, é morador de Soure e iniciou na LM por influência do seu pai, que assumiu o papel de seu professor na modalidade. Em seguida, empatados, estão Dário Pedrosa e Iuri Alcântara, com quatro indicações cada. Dário Pedrosa é professor de Educação Física e radialista, morador de Salvaterra, e divulga a LM tanto pelos meios de comunicação quanto em sua rede de relações no Arquipélago. Iuri Alcântara, conhecido como Iuri Marajó, é natural de Soure, ex-atleta de LM e, atualmente, atleta e técnico contratado pelo Ultimate Fighting Championship (UFC). É considerado ídolo da região, com grande visibilidade nacional e internacional. Em terceiro lugar, com três indicações, aparece Ildemar Marajó, irmão de Iuri Marajó. Também trabalha com MMA em academia especializada, em Belém do Pará. Por fim, entre as personalidades locais, houve a citação de Idalino Marajó e de “pessoas antigas da região”, com uma indicação cada. Ainda houve menções ao grupo que organiza a fundação da federação esportiva da modalidade e às academias de luta, com uma indicação cada. Nesse último caso, a academia dos irmãos Marajó é uma referência clara.

Quanto aos locais onde se pratica e ensina a LM para crianças, dez participantes indicam que não existe local estruturado para esse fim. Um deles indicou conhecer locais para ensino da LM para crianças, mas não foi claro quanto à caracterização e localização. Houve afirmações de que as práticas são realizadas na praia e de que já houve local próprio, porém, por falta de apoio governamental tanto o local como a atividade não existem mais. Um último participante afirma que não existe, porém, deposita suas esperanças no surgimento de um lugar apropriado por iniciativa da federação que está sendo criada. As respostas corroboram com a percepção da carência de locais apropriados para o ensino e prática da modalidade.

3.2 CATEGORIA PERSPECTIVA

Os participantes da pesquisa também manifestaram suas opiniões sobre a LM em termos de perspectivas. Os dados apontam suas concepções enquanto atividade ou costume que representa a cultura do Arquipélago do Marajó, algo importante dentro de suas expectativas sobre a esportivização e a escolarização da luta.

Em relação à percepção sobre a atividade ou costume que melhor retrata a cultura local, os participantes, em sua maioria, sinalizam a LM como representante mais importante (oito indicações). Essa afirmação pode ser explicada pelos perfis dos participantes que são todos ligados à modalidade como atletas ou ex-atletas. O búfalo aparece como símbolo da cultura marajoara em duas ocorrências.

Sobre isso, o búfalo destaca-se como “símbolo que representa as pessoas sofridas e fortes” (P11). Quanto às demais manifestações mencionadas como representantes da cultura marajoara, foram mencionadas: as danças, com destaque para o carimbó; a cerâmica (marajoara); a culinária; o artesanato; e a pesca. Todas com uma indicação cada.

Quanto à percepção sobre a LM como esporte organizado e às tensões inerentes ao processo, os participantes afirmam, em unanimidade, que são a favor da esportivização. Entretanto, manifestam-se de formas diferentes quanto ao que eles esperam. Palavras como desenvolvimento, crescimento e difusão surgiram com frequência. A expectativa geral quanto à esportivização pode ser observada nas seguintes respostas: “Espero que desenvolva mais a prática” (P2); “Espero o desenvolvimento, crescimento do esporte” (P3); “Que a luta marajoara se difunda cada vez mais” (P7); “Que a luta seja mais difundida pelas regiões” (P10).

Observa-se que há uma esperança de investimentos para o desenvolvimento e promoção da modalidade nas seguintes respostas: “Espero que tenha mais apoio dos órgãos maiores [...]” (P4); “Espero que exista incentivo do governo” (P5); “Espero que as autoridades apoiem a Luta Marajoara, pois não há incentivo” (P6); “Espero que melhore com novos investimentos” (P9). Percebe-se que as expectativas dos participantes quanto à esportivização da LM são diversificadas. De modo geral, há a crença de que o cenário da esportivização da LM pode viabilizar maior divulgação, fazendo com que ela ganhe maiores proporções por meio de mais eventos esportivos, propagandas e investimentos.

Como a esportivização tem relação com a institucionalização das práticas, verificou-se a expectativa dos participantes em relação à recente criação da Federação Paraense de Luta Marajoara, que tem sua sede em Soure. Sobre esse aspecto, destacam-se as seguintes respostas:

A esportivização ajuda no lado que é tipo..., vão criando regras para colocar até como se fosse Educação Física nas escolas, vão criando regras. Mas, em outro lado, tira a essência totalmente da luta marajoara, porque colocando regras, tira as quedas que justamente é..., dariam a essência dela, então, ajuda uma parte, mas tira o outro lado. Tira a parte cultural das quedas. Mas, como nem tudo dura para sempre, a cultura da luta marajoara foi se transformando devido a influência de outras artes marciais trazidas para cá (P4).

[...] é uma modalidade cultural que não pode morrer. Espero que com a criação da Associação, essa prática esteja presente nas escolas e demais eventos (P5).

Antigamente eu achava uma brincadeira, hoje em dia não, já evoluiu bastante, admiro como se fosse uma competição (P10).

As respostas refletem a expectativa que a LM será alavancada por uma federação. Isso poderia, além de definir um calendário anual de competições, também definir regras de competição para todas as regiões onde a LM é praticada, facilitando, ainda, o seu reconhecimento no âmbito escolar. Tudo isso pode ocorrer por causa de uma suposta seriedade que a institucionalização pode oferecer. No entanto, a institucionalização da LM parece constituir uma ameaça ao caráter tradicional dessa prática. Percebe-se um tensionamento entre a preservação das tradições e a regulamentação da LM como modalidade esportiva de combate, que se estabelece como paradoxo para seus praticantes.

As expectativas quanto à esportivização da LM parecem ter seduzido muitos praticantes no que diz respeito aos impactos na economia, na educação e na cultura. Observa-se parte dessas expectativas nas respostas apresentadas a seguir: “[...] resgate da cultura” (P1); “[...] um apoio de órgão social, para dar um novo rumo às crianças” (P4); “Salvando a história da Luta e abrindo portas para as crianças [...]” (P8); “[...] que a Luta Marajoara seja mais difundida pelas regiões” (P5); “Espero que exista incentivo do governo para a fundação de uma academia para expansão da Luta Marajoara pelo Mundo” (P6).

Percebe-se que o movimento de esportivização parece gerar esperanças quanto ao impacto positivo para a sociedade local através da institucionalização da modalidade, que pode trazer sólido apoio governamental que extrapole o contexto atual.

4 DISCUSSÃO

A análise das respostas dos participantes impõe a compreensão do conceito de cultura proposto por Geertz (1989). Para ele, cultura é uma teia de significados, em que cada fio apresenta possibilidades diferentes dessa tecitura. Essa ideia permite considerar a LM na perspectiva de cultura local, ainda que esteja permeada de elementos já acolhidos pelo contato com diferentes culturas.

Outra consideração importante é a tensão percebida nas falas dos participantes no que tange à relação entre a concepção de tradicional e de moderno. Essa tensão foi discutida por Balandier (2014, p. 33), segundo o qual:

A situação colonial traz problemas ao povo subjugado - que lhes responde na medida em que certo “jogo” lhe é concedido -, à administração que representa a suposta nação tutora (e defende seus interesses locais), ao Estado recentemente criado sobre o qual pesa toda uma inércia colonial. Atual, ou em fase de liquidação, esta situação gera problemas específicos que devem provocar a atenção do sociólogo.

Balandier (2014) problematiza questões históricas de colonização e de como o Estado moderno, ainda considerado jovem, incide sua dominação sobre os povos, impondo-lhes novas formas de viver, não sem tensionamentos e conflitos. Nesse sentido, as relações de fronteiras entre culturas, apontadas por Hannerz (1997), como os espaços-tempos de hibridização dos diversos elementos culturais, as tensões entre as tradições dos povos e as seduções da modernidade apresentadas pelo desenvolvimento do Estado e da industrialização, vêm à tona de modo conflituoso e parecem se refletir nas percepções dos sujeitos do presente estudo.

As tensões entre tradicional e moderno surgem da necessidade de manutenção da tradição versus o desejo de desfrutar dos convincentes benefícios da modernidade e seu estilo de vida. Não é fácil conciliar os dois desejos e as formas muitas vezes ambivalentes do que se considera necessidade. Assim, os participantes demonstram estar imersos na tensão entre o tradicional e o moderno quando associam a LM, enquanto prática cultural, aos acontecimentos contemporâneos com os quais ela se relaciona.

Por outro lado, para Hobsbawm (1997), as tradições legítimas são pontos de apoio e convergências dos sujeitos que compõem certo grupo social. E a percepção de sua importância faz sentido quando a cultura de um grupo pode ser colocada em risco. Portanto, os tensionamentos entre a manutenção das tradições e sua evolução colocam os sujeitos envolvidos em dilemas que podem ser relativizados para adaptação aos novos cenários sociais. Nesse sentido, Antunes (2019) destaca que as tradições legítimas são aquelas que possuem capacidade de se adaptar frente às mudanças culturais e sociais. Entretanto, tais mudanças não podem desconfigurar a prática de modo a não ser mais reconhecida por seus membros mais antigos.

Quando observamos a comparação de semelhanças entre gestos da LM e lutas dos búfalos, podemos perceber certa aproximação com as culturas totêmicas, citadas por Levi-Strauss (2012), que relacionam as características de um animal ou elemento da natureza incorporadas por certo grupo social; todavia, os dados apontam que tal associação pode ser diluída pela modificação que a LM vem sofrendo sob influência de aspectos modernizantes, inclusive com o controle de golpes e regras padronizadas, características do esporte moderno.

Considerando a LM como expressão cultural, percebe-se sua prática associada às festividades religiosas a partir da literatura consultada e das falas dos participantes. Essa relação é de reciprocidade, uma vez que a tradição da LM está presente nas festas religiosas e vice-versa. A Festa do Glorioso São Sebastião é um exemplo vivo dessa associação. A realização da festa religiosa acontece anualmente por volta da segunda semana do mês de janeiro, quando a LM tem protagonismo cultural.

Segundo o Inventário Nacional de Referências Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2010), a devoção que as pessoas têm a São Sebastião, na região do Marajó-PA, tem origem no século XVI, época de colonização e ação missionária. O padroeiro (São Sebastião) é considerado protetor dos marajoaras e se relaciona com a LM por ter sua imagem associada às virtudes do guerreiro (IPHAN, 2010). O IPHAN reconhece a festividade como patrimônio imaterial da cultura brasileira e nela se inclui a LM, além de outras atividades consideradas como bens culturais. A festa congrega diversos municípios e costumes, construindo a identidade dos nativos marajoaras (IPHAN, 2010).

As festas populares, enquanto manifestação cultural, são expressivas ao longo da história e são encontradas em diferentes povos (GROPPO, 2005). Para esse autor, as festas de santos padroeiros são tradições da Igreja Católica e foram se constituindo como eventos culturais, além de manifestações religiosas, algo similar à Festa de São Sebastião do Arquipélago do Marajó. Nesse sentido, Assis, Pinto e Santos (2011) corroboram com o argumento de Groppo (2005), ao afirmar que a prática da LM nas festas desperta sentimentos de valorização das tradições do povo marajoara, reforçando sua cultura para além da dimensão religiosa. A manutenção de tradições provavelmente ajuda a entender a preocupação dos sujeitos com a preservação da identidade cultural da LM.

As respostas dos participantes revelam um desejo de expandir e difundir a LM para o maior número de lugares possíveis. Na maioria dos casos, as expectativas estão centradas no processo de esportivização, por facilitar a divulgação por meio, sobretudo, da publicidade. A esse respeito Seabra, Campos e Antunes (2020) comentam que o processo de esportivização possibilita maior representatividade para a LM em um cenário globalizado, considerando o grande apelo que as lutas despertam enquanto produto midiático. Furtado e Borges (2019, p. 9) afirmaram ser a esportivização “[...] processo de tornar universal, educativa, regulada, burocrática e racional a cultura expressa por camadas sociais diferentes na Inglaterra do século XVIII”, sendo assim um fenômeno que transforma práticas originais em esporte institucionalizado.

O processo de esportivização em artes marciais que se estruturam como esporte de combate na perspectiva moderna pode ser verificado em diferentes modalidades, algumas das quais com longa história de desenvolvimento, a exemplo de algumas asiáticas (RIOS, 2006; MARTINS; KANASHIRO, 2010; FILIPIAK, 2010). Como apontam Marta, Pires e Rocha (2011), esse é um fenômeno também observado no Brasil, a partir das modalidades asiáticas que aqui desembarcaram no início do século XX. Na perspectiva de Guttmann (2004), antigas práticas corporais passam por diferentes processos de organização que contemplam secularização, igualdade de oportunidades, especialização das regras, racionalização, burocratização, quantificação e busca por marcas ou recordes. Esses elementos conferem às modalidades características, quando contempladas em sua totalidade, de esporte moderno. Assim, as atividades de combate corporal também podem se organizar, manifestando-se de diferentes formas esportivas, legitimadas por seus praticantes e pelo grupo social a qual pertencem. Pode-se observar que o fenômeno que vem ocorrendo com a LM também surge com a capoeira, de acordo com as reflexões de Alves e Montagner (2008).

Aspectos particulares da esportivização, como universalidade, regulamentação e burocratização, fazem parte do mecanismo de institucionalização, o qual é parcela importante desse processo (FURTADO; BORGES, 2019). Esse mecanismo é identificado no Arquipélago por meio da iniciativa recente de criação da Federação Paraense de Luta Marajoara, que tem sua sede no município de Soure-Marajó-PA.

As percepções relativas à criação da federação refletem entendimentos parciais do processo de institucionalização. Os participantes esperam que a LM possa ser difundida e que a federação estabeleça calendários de competições com regras padronizadas a partir da perspectiva marajoara. Isso pode até ocorrer, mas não é verdade que a institucionalização possa facilitar o processo de escolarização, ou a racionalização dos procedimentos de ensino e treinamento.

Sobre a racionalização dos treinamentos, embora seja um aspecto importante do processo de esportivização, não está dirigido pela burocratização de uma federação, mas é efetivado em outras esferas de caráter acadêmico, através de pesquisas e produção de conhecimentos. É por meio do acúmulo de estudos teóricos e experimentais que métodos racionalizados para a melhoria da performance são desenvolvidos. Esse processo de racionalização inicial do treinamento da LM pode ser percebido nos estudos de Campos, Pinheiro e Gouveia (2019), que tratam da modelagem do comportamento técnico da modalidade.

Por outro lado, Furtado e Borges (2019) afirmam que aqueles mesmos mecanismos de universalização de regras, institucionalização e racionalização de métodos de treinamento, entre outros, que transformam diferentes práticas corporais em esportes, podem ser revertidos, retornando a prática ao seu estado original.

De acordo com Furtado e Borges (2019), a condição esportiva pode atribuir a uma prática corporal aspectos positivos e negativos, e, apesar das grandes expectativas quanto à esportivização da LM, esse aspecto polarizado é percebido pelos participantes do presente estudo. Corroborando com eles, Seabra, Campos e Antunes (2020) comentam que um dos pontos desfavoráveis da esportivização da LM pode ser a perda de alguns aspectos da cultura, de seus elementos próprios, como as regras e técnicas tradicionais. Porém, esse é um efeito esperado dos processos de esportivização.

No que diz respeito ao processo de escolarização, aparecem dialeticamente em duas dimensões a institucionalização da modalidade e o seu ensino formal em ambiente escolar. Em ambas, percebe-se a preocupação com a formação das crianças e dos jovens na perspectiva de valores, tais como disciplina, respeito, sociabilidade e valorização das tradições. Esses valores são comuns em discursos de praticantes de outros esportes de combate como se percebe nos estudos de Farias, Wiggers e Almeida (2019), Coelho et al. (2016), Paes, Galatti e Reverdito (2016), Rufino e Darido (2015), Drigo et al. (2011) e Nascimento e Almeida (2007), entre outros.

A primeira das duas dimensões está vinculada à institucionalização com a criação da federação, que não lhe confere o elemento educativo escolarizado; a segunda remete ao sistema de ensino formal e, nesse ponto, houve participantes com a expectativa de que, com a inserção da LM na escola, seja possível resgatar o ensino das práticas, histórias e tradições da modalidade, estimulando o interesse das crianças na modalidade e sua cultura. Contudo, a escolarização, muitas vezes, se dá pela busca de reconhecimento (BRANDÃO, 1989), uma vez que os saberes externos ao meio escolar são frequentemente esquecidos, estigmatizados e até excluídos. Nesse sentido, as práticas corporais são saberes presentes na escolarização de forma curricular, predominantemente da Educação Física (SOARES et al., 1992). Assim sendo, a LM é conteúdo legitimo dessa disciplina que deve ser desenvolvida no âmbito escolar, como aponta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018). Tudo isso independe do processo de esportivização/institucionalização tão esperado pelos sujeitos que circulam nos ambientes da LM.

Enquanto conteúdo escolar, Campos, Pinheiro e Gouveia (2019) sinalizam que, além de enriquecer a bagagem motriz do aluno, a LM deve estimular a liberdade de movimento, a criatividade e sua capacidade de tomada de decisões, fazendo com que ele evite a repetição de movimentos estereotipados. Nessa linha, a LM apresenta um grande potencial social e educacional, levando-se em conta sua regionalidade e elementos culturais (SANTOS; FREITAS, 2018; SANTOS; GOMES; FREITAS, 2020). Entretanto, estudos específicos sobre a LM na escola, como conteúdo curricular ou extracurricular, em que pese a sua inserção na BNCC (BRASIL, 2018), são escassos. Estudos sobre o ensino da LM em ambiente escolar e pesquisas que envolvem alunos da Educação Básica envolvidos com a prática da LM também são incipientes, podendo-se citar os estudos que se aproximam do tema como sendo os de Santos e Freitas (2018), de Santos, Gomes e Freitas (2020) e de Antunes e Campos (2021). Esse cenário evoca a necessidade do desenvolvimento de estudos que deem conta dessa lacuna; porém, o próprio campo de pesquisa sobre a LM ainda é muito jovem.

Com a perspectiva educacional aqui evocada, rejeita-se a imposição do ensino tradicional em lutas, permitindo que o aluno experimente, de forma ampla, diversas possibilidades de contato corpo a corpo tipificadas nas lutas de domínio (CAMPOS; PINHEIRO; GOUVEIA, 2019). Tal condição reforça a importância do conteúdo de lutas e permite reflexões tanto retomadas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1998) quanto a ser discutidas a partir do documento da BNCC (BRASIL, 2018) sobre o lugar da LM como elemento da Educação Básica e, em especial, da Educação Física escolar. Isso porque na tensão entre esportivização e escolarização da LM, além de não haver consenso entre os atores sociais praticantes dessa prática corporal, também não há consenso no campo da Educação Física, se considerarmos as incidências dos movimentos de esportivização de práticas e os debates calorosos quanto à implementação da BNCC (FURTADO; BORGES; 2019, 2020).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, as lutas ocupam posições importantes no meio esportivo e educacional, seja pela presença impactante na mídia ou pelo destaque atribuído a elas enquanto conteúdo curricular da Educação Física. Os dados levantados no presente estudo evidenciam uma busca permanente pela difusão da LM, para que ela não caia no esquecimento. Assim, as relatadas contribuições dos participantes são associadas ao desejo de resgate das manifestações culturais do Arquipélago do Marajó. Desse modo, os colaboradores entendem que seja o trato pedagógico da LM uma importante ferramenta socioeducativa, agregando regionalismo, respeito, educação, valores morais e sociais entrelaçados ao esporte e à escola.

Quanto à dimensão da esportivização da LM, espera-se que ela se concretize ao longo do tempo, a partir de sua expansão e regulamentação. Porém, apesar de também ser um desejo da maioria dos atores sociais envolvidos com a prática corporal, algumas questões como costumes, regras e normas técnicas são pontos que ainda não são consensuais. Há um claro tensionamento entre a manutenção das tradições e o desejado processo de esportivização.

No que se refere à escolarização da LM, por mais que se perceba sua necessidade, acredita-se ser essencial maior embasamento teórico e prático por parte dos professores de Educação Física. Nesse sentido, ainda será necessário que o conhecimento a ser transmitido através da educação perpasse pelo debate entre esporte de combate, cultura marajoara e tradição, pontos sobre os quais ainda persistem alguns tensionamentos. Quanto aos atores sociais do presente estudo, os tensionamentos não estão resolvidos, assim como suas contribuições indicam a necessidade de que os professores de Educação Física busquem o conhecimento sobre a prática, em suas dimensões técnicas e culturais, para compartilharem com os discentes e atenderem as demandas educacionais.

Por fim, vale destacar que todos os pontos aqui discutidos visam ampliar o conhecimento dos professores de Educação Física e outros interessados, tanto os do Arquipélago, quanto de outras regiões do país. Para isso, é importante que a empiria gerada por quem vive a prática a partir de dentro contribua para que se produza mais conhecimento.

O conhecimento produzido se faz importante para instrumentalizar a discussão do que vem sendo proposta e que deve também ser estudada, como, por exemplo, as proposições da BNCC quanto ao currículo da Educação Física, os tensionamentos sobre a prática e o ensino da LM, seus aspectos técnicos, culturais e históricos. São aspectos que, vinculados à cultura local, se associam à global e se fazem importantes e necessários para o pleno exercício profissional docente na escola e fora dela. Finalizando o texto, observamos espantados que nossa conversa está apenas começando!

  • 1
    Santa Cruz do Arari, Afuá, Anajás, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, São Sebastião da Boa Vista e Soure (BRASIL, 2007).
  • 2
    Esportivização neste estudo é considerado o processo de conversão de práticas corporais em esporte. Assim, é designada a prática que passa por um processo de universalização de seu sistema de regras, o que é garantido pelo mecanismo de institucionalização. Dessa forma, as práticas adquirem também outras características, entre as quais destacamos: racionalização do treinamento, busca de records, busca de alta performance etc. Um debate interessante sobre a temática pode ser visitado em Bracht (2005) e Furtado e Borges (2019)
  • 3
    Termo utilizado a partir do entendimento de que representam um grupo de modalidades que objetivam agarrar e derrubar o oponente ao solo, tendo progressão ou não da luta no solo.
  • 4
    Trata-se de uma festividade muito comum em todo o Arquipélago do Marajó, em razão da grande ocorrência do crustáceo, o que permite pesca constante. Em determinadas épocas do ano, o aumento da produção possibilita as festividades, ocorrendo em períodos diferentes em cada cidade onde se celebra.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.
  • COMO REFERENCIAR
    NUNES, Murilo Cardoso; LOPES, Ítalo Sérgio; NAZARENO, Carlos; ANTUNES, Marcelo Moreira. A luta marajoara na atualidade: perspectivas de atletas e exatletas da modalidade. Movimento, v. 29, p. e29012, jan./dez. 2023. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.124101

ÉTICA DE PESQUISA

O trabalho seguiu os protocolos vigentes nas Resoluções 466/12 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil e foi apreciado e aprovado no Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Augusto Motta/ UNISUAM, número de protocolo 1.359.041.

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Editado por

  • RESPONSABILIDADE EDITORIAL
    Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
    *Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 2022
  • Aceito
    26 Jan 2023
  • Publicado
    19 Abr 2023
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rua Felizardo, 750 Jardim Botânico, CEP: 90690-200, RS - Porto Alegre, (51) 3308 5814 - Porto Alegre - RS - Brazil
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