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Imagem e contestação: regimes emocionais no enquadramento midiático a eventos de protesto 1 1 Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 42º Encontro Anual ANPOCS.

Image and contestation: emotional regimes in the media framing of protest events

Imagen y contestación: regímenes emocionales en el encuadre mediático de las protestas

Image et contestation : les régimes émotionnels dans le cadrage médiatique des manifestations contestataires

Este artigo analisa como as emoções são incorporadas ao enquadramento pela mídia corporativa de eventos de protesto por meio do estudo de imagens. A partir da articulação entre as teorias do enquadramento interpretativo e das emoções na ação coletiva, construiu-se um modelo de análise visual baseado na identificação dos quadros dominantes e dos processos de refinamento do olhar em três dimensões: técnicas fotográficas, interações e emoções. O modelo foi aplicado à cobertura do jornal Zero Hora ao protesto de 20 de junho de 2013 em Porto Alegre. Os resultados indicam que o jornal incorpora regimes emocionais ambivalentes: associa o protesto a símbolos de grandiosidade, patriotismo e festividade, os quais tendem a vincular-se a emoções morais (ex.: orgulho) e de lealdade e compromisso (ex.: confiança); por outro lado, táticas “violentas” são associadas a perigo/risco, ligadas a emoções reflexas (ex.: medo) e morais (ex.: indignação). Tais achados introduzem elementos visuais e emocionais à teoria dos enquadramentos da ação coletiva, com a proposição de um modelo analítico que pode ser replicado em estudos futuros.

ação coletiva; eventos de protesto; enquadramentos midiáticos; análise visual; emoções


Abstract

Through the study of published images, the present work analyzes how emotions are incorporated into mass media framing of protest events. By coordinating interpretive framing and emotion theories, we built a visual analysis model based on the identification of the dominant frames and keying processes in three dimensions: photographic techniques, interactions, and emotions. The model was used to analyze the newspaper Zero Hora’s coverage of the June 20, 2013 protest in Porto Alegre. The results indicate that the periodical incorporates ambivalent emotional regimes. On the one hand, it associates protesting with symbols of grandiosity, patriotism, and festivity, which tend to be related to moral emotions (e.g., pride) and affective commitment or loyalties (e.g., trust); on the other hand, “violent” tactics are associated with danger/risk and linked to reflex emotions (e.g., fear) and moral emotions (e.g., indignation). The model proved to be efficient and can be replicated in future studies.

collective action; protest events; media framing; visual analysis; emotions

Resumen

Analizamos cómo se incorporan las emociones al encuadre de los medios de comunicación corporativos en los eventos de protesta a través del estudio de las imágenes publicadas. A partir de la articulación entre las teorías de encuadre interpretativo y de las emociones en la acción colectiva, se construyó un modelo de análisis visual basado en la identificación de encuadres dominantes y de procesos de refinamiento en tres dimensiones: técnicas fotográficas, interacciones y emociones. El modelo se aplicó a la cobertura del periódico Zero Hora de la protesta del 20 de junio de 2013 en Porto Alegre. Los resultados indican que el periódico incorpora regímenes emocionales ambivalentes: asocia la protesta con símbolos de grandiosidad, patriotismo y festividad, los cuales tienden a estar vinculados a emociones morales (p. ej. orgullo) y lealtad y compromiso (p. ej. confianza); por otro lado, las tácticas “violentas” se asocian con peligro / riesgo y están vinculadas a emociones reflejas (p. ej. miedo) y morales (p. ej. indignación). Esos resultados introducen elementos visuales y emocionales a la teoría de los encuadres de la acción colectiva, con la propuesta de un modelo analítico que podrá replicarse en estudios futuros.

acción colectiva; protestas; encuadre de mediático; análisis visual; emociones

Résumé

Nous analysons comment les émotions sont incorporées au cadrage des médias de masse couvrant des manifestations à travers l'étude d'images publiées. A partir de l’articulation entre les théories de cadrage interprétatif et des émotions dans l’action collective, nous avons construit un modèle d’analyse visuelle fondé sur l’identification des cadrages dominants et les processus de saisie en trois dimensions : techniques photographiques, interactions, et émotions. Ce modèle a été appliqué à la couverture du journal Zero Hora de la manifestation du 20 juin 2013 à Porto Alegre. Les résultats indiquent que le journal incorpore des régimes émotionnels ambivalents : il associe la manifestation à des symboles de grandeur, de patriotisme et de festivité, qui ont tendance à être liés aux émotions morales (par exemple la fierté) et de loyauté et d’engagement (par exemple la confiance); d’autre part, les tactiques « violentes » sont associées au danger/risque et liées aux émotions réflexes (par exemple la peur) et aux émotions morales (par exemple l'indignation). Ces résultats introduisent des éléments visuels et émotionnels à la théorie des cadrages de l’action collective, avec la proposition d’un modèle analytique qui pourra être reproduit dans des études futures.

action collective; manifestations contestataires; cadrage médiatique; analyse visuelle; émotions

Introdução

Em junho de 2013, diversas cidades do Brasil foram tomadas por protestos que tiveram como pauta inicial o valor do transporte público, mas que, durante o curso do ciclo de protestos, mobilizaram uma heterogeneidade de demandas e de atores ( Alonso; Mische, 2016Alonso, A.; Mische, A. “Changing repertoires and partisan ambivalence in the new Brazilian protests”. Bulletin of Latin American Research, vol. 36, no2, p. 144-159, 2016. ; Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Silva, 2016Silva, C. F. “Inovações nos repertórios de contestação: o confronto em torno do transporte público em Porto Alegre”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Bringel, 2017Bringel, B. Crisis política y polarización en Brasil: de las protestas de 2013 al golpe de 2016. In: Bringel, B; Pleyers, G. (eds.). Protesta e indignación global: Los movimientos sociales en el nuevo orden mundial. Buenos Aires: CLACSO; Rio de Janeiro: FAPERJ, p. 141-154, 2017. ; Tatagiba; Galvão, 2019Tatagiba, L.; Galvão, A. “Os protestos no Brasil em tempos de crise (2011-2016)”. Opinião Pública, vol. 25, no1, p. 63-95, 2019. ; Teixeira; Fernandes; Silva, 2020). Dadas a grandiosidade das manifestações, a ausência de lideranças claramente definidas e a utilização de táticas inovadoras no contexto brasileiro (como as táticas black bloc4 4 Black bloc é um termo adotado originalmente pela polícia alemã nos anos 1980 para identificar ativistas que lutavam contra a repressão policial em ocupações. O que diferencia as táticas black bloc , além do uso da ação direta, é seu aspecto visual, com o predomínio de roupas pretas e a utilização de máscaras e símbolos ligados à estética anarcopunk ( Dupuis-Déri, 2014 ). ), junho de 2013 ficou marcado pela “surpresa” como foi deflagrado e pela diversidade de interpretações conflitantes em relação – no sentido de Goffman (2012)Goffman, E. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012. – ao que “estava acontecendo ali”. Desse modo, instaurou-se uma disputa interpretativa entre diversos atores (veículos midiáticos, ativistas, governos) em torno do sentido dos protestos ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Teixeira; Fernandes; Silva, 2020).

Em especial, os protestos de junho foram marcados pela centralidade dos papéis exercidos pelos veículos midiáticos nas arenas políticas. Por um lado, as mídias corporativas tornaram-se objeto de reivindicação, sendo duramente criticadas pela produção de enquadramentos que, na visão de diversos manifestantes, estariam deslegitimando os protestos; por outro lado, presenciou-se a emergência de mídias alternativas, impulsionadas pelas redes sociais e caracterizadas pela divulgação de interpretações recorrentemente distintas daquelas produzidas pelos veículos corporativos.

A literatura que se debruçou sobre a cobertura midiática do ciclo de protestos de 2013 aponta, de modo geral, que os grandes veículos de mídia corporativa inicialmente se posicionaram no sentido de questionar a legitimidade dos protestos, enfatizando a adoção de táticas violentas por alguns manifestantes. Durante o mês de junho, com a multiplicação de pautas e de atores nas ruas (por exemplo, atores vinculados a um espectro político que poderia ser chamado genericamente como “conservador”5 5 Angela Alonso (2017) refere-se a esse campo a partir do repertório utilizado por tais atores, assim, estes estariam associados ao repertório patriótico. Outros autores chamam tal campo de direita (Cruz; Kaysel; Codas, 2015). Nossa interpretação está associada às pautas promovidas por esses atores, que podem ser relacionadas a um viés conservador. ), ocorreu uma mudança interpretativa, e diversos veículos inicialmente opostos aos protestos passaram a demonstrar apoio a causas e, no limite, a construir as pautas dos eventos ( Lima, 2013Lima, V. Mídia, rebeldia urbana e crise de representação. In: Maricato, E., et al. (eds.). Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. ; Araújo, Alves Filho; Nunes, 2014; Cammaerts; Jiménez-Martínez, 2014Cammaerts, B.; Jiménez-Martínez, C. “The Mediation of the Brazilian V-for-Vinegar Protests: From vilification to legitimation and back?”. Liinc em Revista, vol. 10, no1, p. 44-68, 2014. ; Moraes, 2015Moraes, E. “Brasil ‘redemocratizado’: um gigante que acordou? A discursividade midiática sobre os protestos de junho de 2013”. Mídia e Cotidiano, vol. 6, no6, p. 131-151, 2015. ; Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Teixeira, Fernandes; Silva, 2020).

Uma característica compartilhada por esses estudos é o foco analítico sobre os elementos textuais e interpretativos do conteúdo midiático. Entendemos, todavia, que os enquadramentos midiáticos não apenas configuram disputas interpretativas a respeito do sentido dos fenômenos sociais, como também produzem efeitos sobre os processos de mobilização, seja pelo apoio ou seja pela oposição aos protestos. Para que tais efeitos sejam eficazes de acordo com o posicionamento do jornal, algumas estratégias são mobilizadas. Dentre estas, está o que Karin Wahl-Jorgensen (2013)Wahl-Jorgensen, K. “The strategic ritual of emotionality: a case study of Pulitzer Prize-winning articles”. Journalism, vol. 14, no1, p. 129-145, 2013. chama de ritual estratégico de emocionalidade ( strategic ritual of emotionality ), uma prática sistemática e institucionalizada dos jornalistas de incorporar no conteúdo do jornal elementos que tendem a ter efeitos emotivos.

As formas como sentimos o mundo constroem nossa compreensão sobre ele. Ou seja, os significados disponíveis sobre determinado fenômeno tornam-se inteligíveis e tendem a ser interpretados também por fatores emocionais ( Jasper, 2016Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. ). Nossas ações não são guiadas apenas pela forma que pensamos, mas também como sentimos e como nossos corpos reagem a tais sentimentos ( Gorton, 2009Gorton, K. Media audiences: television, meaning and emotion. Edinburgh: Endinburgh University Press, 2009. ).

Como afirmado, as pesquisas sobre os protestos de 2013 no Brasil demonstram a produção de enquadramentos midiáticos sobre tais fenômenos; no entanto, não conferem centralidade à dimensão das emoções. Para além dos elementos textuais, o processo de mobilização das emoções parece atribuir ênfase a conteúdos visuais a respeito dos protestos, dado que as imagens publicadas sobre os eventos traduzem de modo mais direto os eventuais significados vinculados a eles. Entendemos, assim, que a articulação entre as teorias dos enquadramentos interpretativos ( Snow; Benford, 1992Snow, D.; Benford, R. Master frames and cycles of protest. In: Morris, A.; Mueller, C. (orgs.). Frontiers in Social Movement Theory. New Haven: Yale University Press, p. 133-155, 1992. ) e as teorias das emoções ( Jasper, 2016Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. ), adotando-se como fonte empírica os elementos visuais das notícias, é uma abordagem promissora no campo de estudos da ação coletiva.

Especificamente, nosso interesse de pesquisa recai sobre a seguinte questão: como as emoções são incorporadas, por meio de imagens, ao enquadramento pela mídia corporativa de eventos de protesto? Essa questão enfatiza nossa preocupação em analisar como se dá o uso estratégico do conteúdo emocional das imagens por veículos midiáticos nas arenas de confronto político.

Com vistas a enfrentar tal problemática, o artigo está assim dividido: na próxima seção, apresentamos o debate da literatura dos movimentos sociais sobre a análise visual de enquadramentos e emoções. Na seção seguinte, construímos um modelo metodológico para a análise visual das emoções no enquadramento midiático de eventos de protesto. Na seção posterior, aplicamos o modelo à cobertura do jornal Zero Hora ao protesto de 20 de junho de 2013 em Porto Alegre. Por fim, apresentamos as considerações finais com os achados do artigo.

A análise visual de enquadramentos e emoções nas teorias da ação coletiva: aspectos teóricos

Elementos visuais constituem importante faceta dos fenômenos ligados aos movimentos sociais. Seja por meio da produção de imagens por ativistas e por organizações, seja por meio da interpretação de atores externos (mídia, instituições policiais, governantes), componentes performáticos e estéticos são mobilizados nas disputas em torno das mensagens transmitidas pelos diversos atores do confronto político.

Segundo Robalinho Lima (2017)Lima, R. R. “Cartografia das imagens ardentes: imagens, política e produção subjetiva nos protestos de junho de 2013”. Tese de Doutorado em Comunicação Social. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Artes e Comunicação Social, Niterói, 2017. , a partir de uma gestão das imagens, os conflitos ocorrem não apenas nas ruas, mas nos sentidos das ruas, na constituição dos sujeitos e na potência dos protestos. As imagens também produzem os protestos. Os atos de junho de 2013, por exemplo, foram pautados, entre outras questões, por disputas imagéticas, fazendo-se presente uma “economia da imagem”. Segundo o autor, nesses processos de gestão de imagem, gestos políticos, sujeitos e espaços são constituídos. Logo, diante de uma economia da imagem como uma estratégia de poder, a disputa dos corpos se torna também uma disputa de imagens ( Lima, 2017Lima, R. R. “Cartografia das imagens ardentes: imagens, política e produção subjetiva nos protestos de junho de 2013”. Tese de Doutorado em Comunicação Social. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Artes e Comunicação Social, Niterói, 2017. ).

Ainda assim, as teorias sobre movimentos sociais, embora não ignorem totalmente elementos visuais, historicamente atribuem centralidade à análise do texto escrito. Quando consideradas, imagens tendem a ser abordadas em caráter ilustrativo para reafirmar argumentos extraídos de uma fonte textual. Nesse contexto, identificado nas pesquisas em ciências sociais de modo geral – e assim não restrito à literatura dos movimentos sociais –, análises sistemáticas de elementos visuais são raras (Doerr; Mattoni; Teune, 2013, p. xi-xii).

Segundo Doerr, Mattoni e Teune (2013, p. xii), apenas no início da década de 1990 o giro visual ( visual turn ) nas humanidades e nos estudos culturais passou a considerar o “poder das imagens” no confronto político. Esse “poder” refere-se ao reconhecimento de que as imagens são “não apenas um campo de batalha para o confronto político, como também um universo de significado culturalmente compartilhado” (Doerr; Mattoni; Teune, 2013, p. xii)6 6 Todas as citações diretas foram traduzidas pelos autores. . No mesmo sentido, Della Porta (2013Della Porta, D. What we can do with visual analysis in social movement studies: some (self) reflections. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 137-144, 2013. , p. 142) afirma que “imagens visuais [...] oferecem preciosos materiais para entender características culturais (e não somente) dos movimentos sociais”.

Ao buscarem sistematizar as pesquisas em análise visual de movimentos sociais, Doerr, Mattoni; Teune (2013, p. xii) distinguem três diferentes áreas de pesquisa: as expressões visuais dos movimentos sociais por meio do uso de imagens; a representação visual dos movimentos sociais por outros atores nas arenas políticas; o aspecto da visibilidade dos movimentos sociais no contexto social mais amplo. Enquanto a primeira área foca-se nas mensagens produzidas pelos próprios ativistas e organizações de movimentos sociais por meio de diversos elementos visuais (vestimentas, táticas, etc.) e a terceira trata do elemento específico da visibilidade, interessa-nos neste artigo a segunda área tratada por Doerr, Mattoni e Teune (2013, p. xii).

Segundo a perspectiva da teoria do confronto político, a ação dos movimentos sociais é necessariamente dinâmica e interativa (McAdam; Tarrow; Tilly, 2001), ou seja, nas arenas do confronto político, os atores que compõem os movimentos sociais interagem com outros atores (externos às organizações e aos grupos ativistas) na mobilização de recursos, mensagens e significados em torno do confronto. O processo de produção de mensagens sobre causas, injustiças e demais elementos do ativismo envolve não apenas a forma como grupos e organizações de movimentos sociais mobilizam símbolos, mas também a forma como outros atores interpretam o conflito. Esses processos interpretativos, concebidos conceitualmente como enquadramento ( framing ), configuram, portanto, um campo de disputa, no qual veículos midiáticos são atores centrais.

O ponto de partida deste artigo é a teoria dos quadros ( frames ) de Goffman (2012)Goffman, E. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012. aplicada aos movimentos sociais. Segundo essa teoria de matriz interacionista, diante das múltiplas possibilidades de interpretação da realidade, o quadro ( frame ) é a síntese do processo de enquadramento ( framing ) pelos atores sociais, na medida em que estes dão ênfase a determinados elementos da realidade em detrimento de outros. Snow e Benford (1992)Snow, D.; Benford, R. Master frames and cycles of protest. In: Morris, A.; Mueller, C. (orgs.). Frontiers in Social Movement Theory. New Haven: Yale University Press, p. 133-155, 1992. aplicam esse conceito às teorias dos movimentos sociais, entendendo que os enquadramentos interpretativos da ação coletiva são o “esquema interpretativo que simplifica e condensa o ‘mundo lá fora’, salientando e codificando seletivamente objetos, situações, eventos, experiências e sequências de ações num ambiente presente ou passado” ( Snow; Benford, 1992Snow, D.; Benford, R. Master frames and cycles of protest. In: Morris, A.; Mueller, C. (orgs.). Frontiers in Social Movement Theory. New Haven: Yale University Press, p. 133-155, 1992. , p. 137).

No campo da comunicação, os estudos de “efeitos da mídia” ( media effects ) têm discutido há considerável tempo como determinados assuntos tornam-se aqueles entendidos como os mais relevantes para uma determinada sociedade. Nesse sentido, a mídia jornalística é vista como a “janela para o mundo” (Lippman, 1922), influenciando a construção e a interpretação da realidade7 7 No campo da comunicação há um debate consolidado sobre a hipótese de agenda-setting, que abarca vastos estudos sobre a influência da mídia na sua audiência, direcionando o público sobre o que pensar, de modo que as pessoas hierarquizem temas a partir do que é veiculado pela mídia ( McCombs, 2004 ). Nos debates mais recentes, autores têm relacionado os enquadramentos com o segundo nível da agenda-setting (ver sobre em McCombs, 2004 ). Neste artigo não será desenvolvida a discussão a respeito de tal relação, dado que a abordagem escolhida tem como foco o campo de estudo dos movimentos sociais. . Assim, quando se fala em enquadramento midiático, trata-se de um processo de construção no qual são selecionados determinados aspectos da realidade, tornando-os “mais salientes num texto comunicativo, de maneira a promover uma definição particular de um problema, interpretação causal, valoração moral, e/ou recomendação de solução” ( Entman, 2004Entman, R. Projections of Power: framing news, public opinion and U.S. foreign policy. Chicago: The University of Chicago Press, 2004. , p. 5). As palavras e imagens têm capacidade de produzir adesão ou repúdio às diferentes ações e posições de um conflito político, principalmente por meio da ressonância cultural e da magnitude dos quadros narrativos publicizados ( Entman, 2004Entman, R. Projections of Power: framing news, public opinion and U.S. foreign policy. Chicago: The University of Chicago Press, 2004. ).

Os estudos que abordam o enquadramento midiático de movimentos sociais formam um campo consolidado internacionalmente ( Gitlin, 1981Gitlin, T. The whole world is watching: mass media in the making & unmaking of the new left. Berkeley, CA: University of California Press, 1981. ; Boyle et al., 2004Boyle, M.; et al. “The influence of level of deviance and protest type on coverage of social protest in Wisconsin from 1960 to 1999”. Mass Communication and Society, vol. 7, no1, p. 43-60, 2004. ; McLeod, 2007McLeod, D. M. “News coverage and social protest: how the media's protest paradigm exacerbates social conflict”. Journal of Dispute Resolution, vol. 2007, no1, p. 185-194, 2007. ; McCluskey, 2008McCluskey, M. R. “Activist group attributes and their influences on news portrayal”. Journalism and Mass Communication Quarterly, vol. 85, no4, p. 769-84, 2008. ). No Brasil, diversas pesquisas indicam o viés negativo da mídia corporativa sobre representantes da esquerda no campo da política institucional desde o período da redemocratização, principalmente quanto à cobertura do Partido dos Trabalhadores (Feres Jr.; Sassara, 2016; Azevedo, 2017Azevedo, F. A. A grande imprensa e o PT (1989-2014). São Carlos: Editora UFSCar, 2017. ). Já os estudos nacionais sobre mídia e movimentos sociais tendem a privilegiar a análise da representação dos movimentos, raramente abordando a cobertura de eventos de protesto (Feres Jr. et al., 2019). Parcela significativa desses estudos analisa o caso do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), explicitando representações negativas da mídia sobre o MST a partir de elementos como a ênfase à violência e a invisibilização das reivindicações dos ativistas ( Berger, 1996Berger, C. L. “Campos de confronto: jornalismo e movimentos sociais – as relações entre o Movimento Sem Terra e a Zero Hora”. Tese de Doutorado em Comunicação. Universidade de São Paulo, Escola de Comunicação de Artes, 1996. ; Budó, 2013Budó, M. de N. Mídia e controle social: da construção da criminalidade dos movimentos sociais à reprodução da violência estrutural. Rio de Janeiro: Revan, 2013. ; Bringel, 2014Bringel, B. “Ativismo transnacional, o estudo dos movimentos sociais e as novas geografias pós-coloniais”. Estudos de Sociologia, vol. 2, no16, p. 185-215, 2014. ).

Em âmbito internacional, a ênfase em aspectos negativos do protesto é sintetizada a partir do conceito de “paradigma do protesto”. Desenvolvido inicialmente por Chan e Lee (1984)Chan, J. M.; Lee, C. C. Journalistic “paradigms” of civil protests: a case study of Hong Kong. In: Arno, A.; Dissanayake, W. (eds.). The news media in national and international conflict. Boulder, CO: Westview, p. 183-202, 1984. , o paradigma do protesto é um modelo de cobertura jornalística que, diante de mobilizações coletivas, adota os seguintes procedimentos: seleciona certos elementos que podem gerar mais audiência (como situações de violência e confronto) em detrimento de debates substanciais sobre as causas e as reivindicações dos protesto; confia prioritariamente em “fontes oficiais” (como autoridades policiais e políticas) em relação aos manifestantes; distingue os manifestantes da “sociedade” de modo geral, tendendo a “demonizá-los” como uma minoria irracional de extremistas, deslegitimando, assim, o protesto como um todo ( Boyle et al., 2004Boyle, M.; et al. “The influence of level of deviance and protest type on coverage of social protest in Wisconsin from 1960 to 1999”. Mass Communication and Society, vol. 7, no1, p. 43-60, 2004. ; McCluskey, 2008McCluskey, M. R. “Activist group attributes and their influences on news portrayal”. Journalism and Mass Communication Quarterly, vol. 85, no4, p. 769-84, 2008. ; McLeod, 2007McLeod, D. M. “News coverage and social protest: how the media's protest paradigm exacerbates social conflict”. Journal of Dispute Resolution, vol. 2007, no1, p. 185-194, 2007. ).

O paradigma do protesto, no entanto, é construído de formas específicas a depender do contexto e, em alguns casos, não se configura. Pesquisas têm demonstrado que representações pejorativas dos protestos dependem, entre outros fatores, da orientação ideológica do veículo midiático, da identidade dos manifestantes, do conteúdo das reivindicações e do grau de radicalidade das táticas ( McLeod, 2007McLeod, D. M. “News coverage and social protest: how the media's protest paradigm exacerbates social conflict”. Journal of Dispute Resolution, vol. 2007, no1, p. 185-194, 2007. ). No Brasil, a pesquisa de Feres Jr. et al. (2019) sobre a cobertura da grande mídia das greves gerais de 2017 confirma a ocorrência do paradigma do protesto a partir do enquadramento que enfatiza o protesto como violento, resultante de uma ação egoísta e desorganizada, sem legitimidade popular, causando transtornos ao espaço público e prejuízo à economia.

Os enquadramentos interpretativos, portanto, fornecem significados sobre o fenômeno ao qual se referem. No entanto, são as emoções que dão a tais compreensões o poder de atrair a atenção ou motivar a ação ( Jasper, 2016Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. ). O enquadramento “funciona”, ou seja, alcança o objetivo daqueles que o produzem, quando tem um impacto emocional sobre as pessoas (Jasper; Polletta e Goodwin, 2000).

As emoções são entendidas neste artigo como um rótulo verbal que é aplicado a um conjunto de processos subjacentes que afetam nossos corpos, atuando no processamento de informações sobre o que se passa e assim nos ajudando a lidar com o mundo ( Jasper, 2016Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. ). Elas não são produzidas de forma isolada, pois tornam-se partes de esquemas ou padrões de ação aprendidos em interação com o ambiente, esquemas que são internalizados desde a socialização primária no início da infância, reforçados e/ou transformados durante a socialização secundária e acionados de acordo com cada contexto. O aprendizado de como, quando e por quem certo sentimento deve ser manifestado inclui expressões faciais, gestos e posturas específicas ( Rezende; Coelho, 2010Rezende, B. C.; Coelho, C. Antropologia das emoções. Rio de Janeiro: FGV, 2010. ). Adota-se neste artigo, portanto, um estudo das emoções a partir de uma abordagem cultural ( Jasper, 2007Jasper, J. Cultural approaches in the sociology of social movements. In: Klandermans, B.; Roggeband, C. (eds.). Handbook of social movements across disciplines. New York: Springer, p. 59-109, 2007. ). As emoções só fazem sentido em determinadas circunstâncias e estão associadas à construção de significados compartilhados ( Jasper, 1998Jasper, J. “The emotions of protest: affective and reactive emotions in and around social movements”. Sociological Forum, Nova Iorque, vol. 13, no3, p. 397-424, 1998. ). As emoções geralmente têm objetos de referência – ou seja, ficamos tristes com “alguma coisa”, temos medo de “alguma coisa” – e, assim, dependem de entendimentos cognitivos. Elas são, portanto, condicionadas por nossas expectativas e derivam do conhecimento sobre o mundo ( Jasper, 1998Jasper, J. “The emotions of protest: affective and reactive emotions in and around social movements”. Sociological Forum, Nova Iorque, vol. 13, no3, p. 397-424, 1998. ; Jasper; Polletta; Goodwin, 2007).

As emoções, enquanto parte da cultura, são governadas pelas regras sociais. Logo, tais regras implicam “padrões” de como as pessoas devem sentir-se dependendo das situações que encontram. Regimes emocionais ( feeling rules ) dizem respeito às normas social e culturalmente aprendidas nas quais as pessoas se baseiam para expressarem e experienciarem as emoções ( Hochschild, 1979Hochschild, A. “Emotion work, feeling rules, and social structure”. American Journal of Sociology, vol. 85, no3, p. 551-575, 1979. ). Dito isso, o uso de elementos visuais e/ou textuais em um conteúdo jornalístico tende a impor regimes emocionais específicos sobre sua audiência ( Flam; Doerr, 2015Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. ).

Assim, a dimensão emocional deve ser considerada na análise dos enquadramentos. No entanto, como já mencionado, a literatura sobre enquadramentos, em geral, não incluiu em seu quadro teórico/metodológico tal dimensão ( Jasper, 1998Jasper, J. “The emotions of protest: affective and reactive emotions in and around social movements”. Sociological Forum, Nova Iorque, vol. 13, no3, p. 397-424, 1998. ). Enquadramentos exercem sua influência por meio das emoções, as quais podem disparar a atenção do público sobre o fenômeno enquadrado ( Jasper, 2007Jasper, J. Cultural approaches in the sociology of social movements. In: Klandermans, B.; Roggeband, C. (eds.). Handbook of social movements across disciplines. New York: Springer, p. 59-109, 2007. , p. 81). Os enquadramentos midiáticos, em especial, são produzidos, sobretudo, a partir de elementos estratégicos que objetivam provocar determinadas emoções. A cobertura jornalística a partir de notícias é “um local central para a produção de emoções, como uma importante fonte de emoções políticas e morais, bem como um local de gestão de emoções” ( Pantti, 2010Pantti, M. “The value of emotion: an examination of television journalists’ notions on emotionality”. European Journal of Communication, vol. 25, no2, p. 168-181, 2010. , p. 170).

Alguns trabalhos do campo de pesquisa em ação coletiva que relacionam os três elementos abordados neste artigo – enquadramentos, emoções e imagens – analisam o processo de enquadramento realizado pelos movimentos sociais. Olesen (2013)Olesen, T. “We are all khaled said”: visual injustice symbols in the egyptian revolution, 2010-2011. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 3-26, 2013. apresenta como Kahled Said, um jovem assassinado por policiais durante a Revolução Egípcia em 2011, transformou-se em um símbolo visual importante de injustiça. O autor demonstra como os ativistas foram motivados por uma foto do jovem morto. Para tanto, foi necessário que os ativistas vinculassem estrategicamente a imagem aos enquadramentos de injustiça já existentes no Egito para universalizar o caso. Olesen (2013)Olesen, T. “We are all khaled said”: visual injustice symbols in the egyptian revolution, 2010-2011. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 3-26, 2013. utiliza a teoria dos enquadramentos, especificamente o conceito de quadros de injustiça ( injustice frames ), o qual oferece ferramentas para formular e especificar dinâmicas entre fotografias, sociedade e ativismo. Além disso, o autor mobiliza os estudos sobre emoções, especificamente o conceito de choques morais ( moral shocks ), demonstrando como o poder de símbolos visuais de injustiça no ativismo político está intrinsecamente ligado à capacidade da fotografia em gerar ressonância emocional na audiência.

Também sobre a Revolução Egípcia, Kharroub e Bas (2015)Kharroub, T.; Bas, O. “Social media and protests: an examination of Twitter images of the 2011 Egyptian revolution”. New Media & Society, vol. 18, no9, p. 1.973-1.992, 2015. analisam imagens publicadas no Twitter quanto ao seu potencial emocional e eficácia para a motivação do ativismo. Os autores concluem que imagens com potencial emocional (especificamente relacionadas à violência) diminuem, enquanto as relacionadas à eficácia (que demonstram multidões, atividades de protesto e símbolos religiosos e nacionais) aumentam quantitativamente em tempos de crise.

McLaren (2013)McLaren, K. The emotional imperative of the visual: images of the fetus in contemporary Australian pro-life politics. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 81-104, 2013. analisa o uso das imagens de fetos por grupos “pró-vida” no debate sobre aborto na Austrália. A autora argumenta que estudar o significado e a importância do feto como um símbolo visual “leva à percepção do movimento pró-vida, bem como à interação entre emoção, intuição e razão na formulação e reprodução de crenças morais e políticas” ( McLaren, 2013McLaren, K. The emotional imperative of the visual: images of the fetus in contemporary Australian pro-life politics. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 81-104, 2013. , p. 82). Similarmente aos trabalhos descritos acima, este artigo propõe a combinação desses três elementos – enquadramentos, emoções e imagem. No entanto, o fazemos a partir da produção de enquadramentos por veículos midiáticos, e não pelos próprios movimentos sociais.

Considerando o acúmulo e as lacunas da literatura acima sintetizada, apresentamos a seguir um modelo de análise que combina enquadramentos, emoções e imagem para o estudo da cobertura midiática de eventos de protesto.

Como analisar enquadramentos, imagens e emoções em coberturas de eventos de protesto? Aspectos metodológicos

O uso do conceito de enquadramentos, apesar de recorrentemente mobilizado nos estudos do confronto político, é criticado pela ausência de explicitação da operacionalização metodológica de identificação dos quadros ( Entman, 1994Entman, R. Framing: toward clarification of a fractured paradigm. In: Levy, M.; Gurevitch, M. (eds.). Defining media studies. New York, Oxford University Press, p. 51-58, 1994. ; Benford, 1997Benford, R. “An insider's critique of the social movement framing perspective”. Sociological Inquiry, Austin, vol. 67, no4, p. 409-430, 1997. ). Essa lacuna de instrumentos metodológicos é também identificada, como já ressaltado, na análise de imagens em ciências sociais. Partindo desse desafio, adotamos como inspiração inicial o trabalho de Luhtakallio (2013)Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. . Tal opção justifica-se dado que a autora também opta pela operacionalização da análise de enquadramentos para comparar elementos visuais no ativismo.

Assim como faz Luktakallio (2013), entendemos que o primeiro procedimento para análise de enquadramentos consiste na observação geral do conteúdo coletado e no questionamento clássico de Goffman (2012Goffman, E. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012. , p. 30): “o que está acontecendo aqui?”. O resultado desse primeiro procedimento é a visão mais ampla do que é transmitido pela imagem, o que Luhtakallio (2013Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. p. 36) denomina quadro dominante ( dominant frame ).

Após esse momento inicial, Luhtakallio (2013)Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. propõe a análise mais aprofundada dos elementos que compõem a imagem a partir do conceito de Goffman (2012)Goffman, E. Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012. de refinamento ( keying ). Segundo Luhtakallio (2013Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. , p. 36), refinamento é a “interpretação que dirige e foca – e às vezes transfere ou até troca – o significa de uma imagem em uma dada situação”. Em outros termos, trata-se da forma como uma situação mais ampla (quadro dominante) é interpretada a partir de focos específicos em determinados elementos, os quais definem e refinam um determinado ponto de vista da situação. Se o quadro dominante resulta da “primeira impressão” sobre uma imagem, a identificação do refinamento se dá por meio da análise detalhada de como os diversos elementos da imagem conduzem a determinada interpretação.

Propomos que os elementos que compõem esses fragmentos específicos da imagem (refinamento) sejam analisados em três dimensões , organizadas progressivamente em termos de grau de abstração. A primeira dimensão refere-se a elementos técnicos de fotografia nas imagens, também tratados por Luhtakallio (2013Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. , p. 36) a partir da literatura sobre o entendimento semiótico de objetos visuais: “perspectiva, ângulo de visualização, tamanho relativo dos elementos e das pessoas, direção do olhar”8 8 Luhtakallio (2013 , p. 36) inclui nessa dimensão outros elementos, como expressão facial, características corporais e movimentos. Optamos por não tratar de tais elementos nessa dimensão específica de análise, pois entendemos que eles são abrangidos pelos conjuntos seguintes (interações e emoções). . Esse primeiro conjunto de características fornece indicações iniciais sobre o direcionamento que a imagem dá à situação.

A segunda dimensão , inspirada no trabalho de Johnston e Alimi (2012)Johnston, H.; Alimi, E. “Primary frameworks, keying and the dynamics of contentious politics: the Islamization of the Chechen and Palestinian national movements”. Political Studies, vol. 60, no3, p. 603-620, 2012. , trata das posições em que os atores são semanticamente enquadrados na imagem, ou seja, como é enquadrada a interação dos sujeitos (ativistas) na relação com determinados objetos (pautas reivindicadas, oponentes, etc.) por meio de verbos (confrontar, agredir, pleitear, lutar, etc.). Especificamente, a partir da operacionalização proposta por Fernandes e Teixeira (2018)Fernandes, E. G.; Teixeira, A. N. “Por um modelo analítico no estudo dos enquadramentos midiáticos a processos de mobilização”. Sociedade e Estado, Brasília, vol. 33, no3, p. 915-937, 2018. para eventos de protesto, adapta-se o modelo semântico de Johnston e Alimi (2012)Johnston, H.; Alimi, E. “Primary frameworks, keying and the dynamics of contentious politics: the Islamization of the Chechen and Palestinian national movements”. Political Studies, vol. 60, no3, p. 603-620, 2012. com a análise de três elementos: (1) identidade dos manifestantes (sujeito), (2) táticas adotadas na interação entre os atores (verbo), e (3) reivindicações (objeto).

A terceira dimensão trata especificamente dos elementos utilizados para provocar emoções, como inspiração, principalmente, nos trabalhos de Jasper e Poulsen (1995)Jasper, J.; Poulsen, J. “Recruiting strangers and friends: moral shocks and social networks in animal rights and anti-nuclear protests”. Social Problems, vol. 42, no4, p. 493-512, 1995. , Flam e Doerr (2015)Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. e Jasper (2016)Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. . Tal dimensão, como geralmente não é incorporada nos modelos de análise de enquadramento no campo de estudo em ação coletiva, terá maior detalhamento em sua explicação, na medida em que é parte central do nosso modelo. Para os fins deste artigo, adota-se a proposta de classificação das emoções de Jasper (2016)Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. . Trabalhar com uma tipologia de emoções oferece vantagens analíticas principalmente no que diz respeito a separar diferentes processos que poderiam estar classificados apenas como “emoções”, assim simplificando e generalizando características específicas ( Jasper, 2007Jasper, J. Cultural approaches in the sociology of social movements. In: Klandermans, B.; Roggeband, C. (eds.). Handbook of social movements across disciplines. New York: Springer, p. 59-109, 2007. ). Jasper apresenta cinco tipos de emoções, conforme o Quadro 1:

Quadro 1
: Tipologia das Emoções

Os enquadramentos são apreendidos em símbolos que implicitamente conotam seus argumentos e significados. Tais símbolos são agrupados de forma que difundem uma qualidade emocional ( Jasper; Poulsen, 1995Jasper, J.; Poulsen, J. “Recruiting strangers and friends: moral shocks and social networks in animal rights and anti-nuclear protests”. Social Problems, vol. 42, no4, p. 493-512, 1995. , p. 498). No modelo analítico deste artigo, tal fenômeno é chamado de quadro dominante. Do quadro identificado, questiona-se o que ele sugere sobre os regimes emocionais, ou seja, no que se refere ao significado identificado, o que “deveríamos” sentir (considerando-se o contexto histórico e cultural da população ao qual se destina, além do próprio contexto de produção da imagem e da notícia)? Por exemplo, uma foto de um gato em uma gaiola com eletrodos implantados em sua pele refere-se, em determinado contexto histórico e cultural, à tortura animal (quadro dominante). Tal compreensão tende a provocar sentimentos como pena ou raiva, pois seria “dever” sentir compaixão por esses animais, o que implica a “obrigação” do sentimento da raiva (e seus semelhantes) sobre tal prática (Jasper; Poulsen, p. 1995)9 9 Um exemplo da configuração de regimes emocionais e seus efeitos pode ser encontrado na literatura, no clássico O Estrangeiro , de Albert Camus (2019) . Um dos elementos centrais do livro é a estigmatização pela qual o personagem principal, Meursault, passa ao não chorar no enterro da mãe; ou seja, ao desviar do regime emocional culturalmente esperado (“ficar triste com a morte da mãe”), Meursault sofre diversas consequências relacionadas a julgamentos de âmbito moral. .

Para a operacionalização da análise do conteúdo emocional das imagens, são aqui realizados alguns dos passos sugeridos por Flam e Doerr (2015)Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. . As autoras sugerem que, antes de se iniciar a análise propriamente, quatro ações devem ser realizadas: (1) pensar em qual das áreas de pesquisa está a análise visual proposta e assim fazer a seleção do material, ou seja, quais as melhores imagens para indicar a representação dos regimes emocionais; (2) contextualizar o material, ou seja, identificar quem o produziu e para quais audiências; (3) traçar se a representação do fenômeno mudou ao longo da exposição das imagens no tempo e contexto de produção; (4) identificar qual a reação do próprio pesquisador ao olhar as imagens, ou seja, engajar-se com o objeto em um nível simbólico e emocional, fazendo uma reflexão com empatia, porém com distanciamento crítico10 10 Para formular e aplicar o modelo de análise proposto neste artigo, seguiu-se essa etapa sugerida por Flam e Doerr (2015) como uma primeira aproximação com o objeto empírico no sentido de experimentar a interação com a imagem e não necessariamente uma reprodução da forma de sentir e pensar que qualquer outra pessoa possa vir a experienciar. Ainda, no que diz respeito ao distanciamento crítico, este foi incorporado como uma reflexão sobre a experiência, ou seja, foi empreendido um movimento de refletir sobre o que levou os pesquisadores a sentirem-se de tal maneira ao interagir com a imagem. . Tal distanciamento, segundo as autoras, é possível a partir da realização dos passos anteriores e pelo fato de a análise não ser da recepção das imagens no público em geral (o que demandaria uma pesquisa de recepção com a audiência).

Realizados tais passos, adentra-se a análise do conteúdo da imagem propriamente: o que a imagem “diz” para seu público? O primeiro passo para a análise emocional do conteúdo reside na livre associação entre o que entendemos sobre o mundo, seus símbolos e regimes emocionais transmitidos. Com uma livre associação do pesquisador, “esse primeiro passo é intensamente pessoal: ele apela para um engajamento emocional e interpretativo, e pode produzir resultados muito idiossincráticos” ( Flam; Doerr, 2015Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. , p. 235). Segundo, deve-se olhar para além do que é um conhecimento imediato acessível, desmembrar seus elementos e pesquisar sobre cada um deles:

O uso de dicionários etimológicos e idiomáticos, enciclopédias, ou outra literatura científica/artística, até que se atinja um tipo de ponto de saturação investigativa, ajuda a formular um argumento mais enraizado e convincente. A discussão da interpretação entre diferentes pessoas é também útil, como é o caso com entrevista ou material discursivo. Um passo intermediário ou final poderia ser entrevistar os produtores e/ou espectadores sobre o que eles “veem” ( Flam; Doerr, 2015Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. , p. 235).

Ou seja, “conhecimento cotidiano, primeiro, pesquisa intensiva, em segundo lugar” ( Flam; Doerr, 2015Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. , p. 235). Para estudar quais regimes emocionais estariam agindo por meio da imagem, deve-se, segundo as autoras, questionar quais elementos da imagem são importantes e quais associações estereotípicas eles revelam, ou seja, a quais representações sociais estão associados os elementos da imagem. As representações sociais dizem respeito à construção de significados coletivos ( Moscovici, 2003Moscovici, S. Representações sociais: investigações em Psicologia Social. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. ) e, assim, emergem a partir dos imperativos culturais e históricos da sociedade ( Jovchelovitch, 2000Jovchelovitch, S. Representações sociais e esfera pública: a construção simbólica dos espaços públicos no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000. ). No modelo proposto, não se investiga o processo histórico-cultural de construção das representações sobre os objetos que compõem o enquadramento, adotando-se para tanto o diálogo com a literatura científica consolidada.

Em síntese, a dimensão das emoções no modelo analítico está decomposta em dois elementos: a partir do quadro dominante, primeiramente, destacam-se quais associações estereotipadas a interpretação indica (representações sociais) e, em segundo lugar, quais regimes emocionais tendem a estar incorporados11 11 Essa questão refere-se a como as pessoas “devem” se sentir frente aos elementos da imagem (esse dever está inscrito em um tempo/espaço definido, ou seja, em um contexto histórico e cultural específico). Por outro lado, nesse modelo, não é possível extrapolar a análise do conteúdo da imagem, ou seja, não se pode saber se de fato houve vinculação entre a intencionalidade do jornal e a recepção do público. . Assim como Luhtakallio (2013)Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. , partimos do conceito de refinamento para analisar os elementos das imagens selecionadas. O foco consiste na análise do conteúdo das imagens e não dos efeitos que as imagens produzem sobre aqueles que a veem (recepção). Decompondo as imagens com base nas categorias do refinamento (técnicas, interações, emoções), busca-se identificar eventuais padrões de enquadramento de eventos de protestos nos jornais analisados e quais regimes emocionais estão incorporados.

Análise visual das emoções na cobertura do jornal Zero Hora ao protesto de 20 de junho de 2013 em Porto Alegre

Para aplicação do modelo acima explicitado, optamos pela realização da análise da cobertura da mídia corporativa a um evento de protesto ocorrido em 20 de junho, em Porto Alegre. A opção pela análise de um evento específico justifica-se pela proposta de operacionalização experimental do modelo metodológico acima explicitado. Entendemos que a análise aprofundada sobre a cobertura de um evento permite a identificação das potencialidades e limitações do modelo, o qual poderá ser aprimorado para análises posteriores. Especificamente, a escolha do protesto de 20 de junho decorre da magnitude do protesto – o maior do ciclo de 2013 na cidade – e da heterogeneidade de atores, reivindicações e táticas noticiados no protesto.

A opção pela análise da cobertura do jornal Zero Hora justifica-se pela representatividade do veículo no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre. O jornal, ligado nacionalmente à Rede Globo e regionalmente ao Grupo RBS , é considerado o maior jornal do Rio Grande do Sul. Seu conteúdo direciona-se centralmente às classes A e B do estado, embora, por sua abrangência, atinja também outras camadas da população, sendo definido como o “jornal do gaúcho” ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. , p. 78).

A análise parte do pressuposto de que o jornal Zero Hora não é um ator “neutro”, mas sim que representa interesses políticos relacionados à sua orientação ideológica e ao seu público-alvo. Historicamente, Zero Hora situa-se como um veículo conservador ligado às elites políticas do estado do Rio Grande do Sul ( Berger, 1996Berger, C. L. “Campos de confronto: jornalismo e movimentos sociais – as relações entre o Movimento Sem Terra e a Zero Hora”. Tese de Doutorado em Comunicação. Universidade de São Paulo, Escola de Comunicação de Artes, 1996. ; Budó, 2013Budó, M. de N. Mídia e controle social: da construção da criminalidade dos movimentos sociais à reprodução da violência estrutural. Rio de Janeiro: Revan, 2013. ), o que aumenta a probabilidade de adoção do “paradigma do protesto” diante de mobilizações que contestam e/ou tensionam o status quo (Feres Jr. et al., 2019; McLeod, 2007McLeod, D. M. “News coverage and social protest: how the media's protest paradigm exacerbates social conflict”. Journal of Dispute Resolution, vol. 2007, no1, p. 185-194, 2007. ).

Situamos, assim, Zero Hora como um jornal representante da mídia corporativa, a qual inclui os veículos que concentram uma significativa quantidade de recursos – econômicos, humanos, sociais e simbólicos – em torno de uma lógica que tende à reprodução do discurso social dominante e à busca por hegemonia. À mídia corporativa opõe-se a mídia alternativa, a qual engloba veículos com, comparativamente, baixos recursos e que tendem à produção de discursos contra-hegemônicos e dissonantes12 12 Embora consideremos pertinente e relevante o estudo comparativo entre mídia corporativa e mídia alternativa na cobertura de eventos de protesto, optamos, neste artigo, por centrar a análise sobre a mídia corporativa como forma de delimitação do objeto para testagem do modelo. .

O protesto de 20 de junho de 2013 em Porto Alegre

O protesto de 20 de junho insere-se em um contexto político mais amplo. No início do século XXI, Porto Alegre era uma cidade efervescente. Reconhecida por gestar e abrigar iniciativas ligadas ao campo da participação social, como o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial, a cidade também era o cenário de uma série de mobilizações de rua, as quais se multiplicavam no início da década de 2010, com destaque para protestos e manifestações artísticas em torno do direito à cidade e à ocupação do espaço público ( Silva, 2016Silva, C. F. “Inovações nos repertórios de contestação: o confronto em torno do transporte público em Porto Alegre”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ).

Seguindo esse processo, os protestos de 201313 13 Em Porto Alegre, ao longo do ano de 2013, foram realizados 12 eventos que podem ser enquadrados no ciclo de protestos de 2013, cuja pauta inicial foi o valor do transporte público: 21 de janeiro, 18 de fevereiro, 27 de março, 1 de abril, 4 de abril, 11 de abril, 13 de junho, 17 de junho, 20 de junho, 23 de junho, 27 de junho e 4 de julho. iniciaram-se em janeiro, tendo como pauta central a contrariedade ao aumento do valor da tarifa de transporte público. Nos primeiros protestos, que ocorreram até abril, o perfil dos manifestantes era constituído majoritariamente por centenas de jovens progressistas, pertencentes a uma ou mais das seguintes categorias: estudantes, anarquistas, artistas e integrantes da juventude de partidos políticos de esquerda. Em alguns desses atos iniciais houve escaladas de conflitividade, com a adoção de táticas de depredação do patrimônio e confrontos com as forças policiais. No período, a cobertura da mídia corporativa, representada centralmente por Zero Hora , tendia a se focar sobre eventuais situações de violência nos protestos, estigmatizando os manifestantes como “baderneiros” e invisibilizando as suas reivindicações ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ). A cobertura negativa não impediu que os protestos atingissem uma vitória política, com a revogação do aumento da tarifa ainda em abril.

Os protestos de junho, por outro lado, foram inicialmente motivados pela solidariedade a manifestações pelo transporte público que estavam ocorrendo em outras regiões do Brasil, mas logo tomaram características próprias. Junho de 2013 em Porto Alegre é marcado pela heterogeneização de pessoas às ruas, com a emergência de manifestantes de diversos campos do espectro político e a proliferação de pautas, como o combate à corrupção, a crítica a projetos de lei específicos, a crítica à violência policial e à própria cobertura midiática dos protestos. Nesse período, os protestos passaram a ser compostos por milhares de pessoas nas ruas, com demandas e formas de ação diversas e, recorrentemente, opostas ou contraditórias. Táticas mais disruptivas – como depredações e saques – e conflitos com as forças policiais continuaram ocorrendo, embora parcela significativa dos manifestantes se mostrasse contrária a ações classificadas como “violentas”. O maior protesto de Porto Alegre em 2013 foi o de 20 de junho, que reuniu ao menos 20 mil pessoas, segundo estimativa da Brigada Militar ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ). Nacionalmente, estima-se que nesse dia cerca de 1 milhão e 400 mil pessoas foram às ruas no Brasil ( Lima, 2013Lima, V. Mídia, rebeldia urbana e crise de representação. In: Maricato, E., et al. (eds.). Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. ).

O estudo de Fernandes (2016)Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. analisou o enquadramento feito pelo jornal Zero Hora do ciclo de protestos de 2013 em Porto Alegre. A referida pesquisa demonstrou que durante os protestos iniciais do ano (pré-junho), quando os eventos se centravam na crítica ao aumento do valor das passagens de ônibus, com um número não muito grande de manifestantes, Zero Hora produziu enquadramentos predominantemente negativos sobre os eventos, enfatizando a utilização de táticas violentas por ativistas. No curso do mês de junho, com a multiplicação de pautas e a entrada de novos atores nas ruas, Zero Hora passou a ter uma cobertura predominantemente positiva dos eventos, enfatizando ainda assim a adoção de táticas violentas, mas as atribuindo a uma “minoria” de ativistas ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Silva; Fernandes, 2017Silva, C. F.; Fernandes, E. G. “Ciclo de protestos de 2013: construção midiática das performances de contestação”. Ciências Sociais Unisinos, vol. 53, no2, p. 202-215, 2017 ). Nas referidas pesquisas, porém, as imagens publicadas por Zero Hora foram incorporadas de forma ilustrativa à análise, não tendo sido feita uma análise visual propriamente dita. As emoções igualmente não foram objeto de análise.

A cobertura de Zero Hora do protesto de 20 de junho foi publicada por meio de uma reportagem especial, que ocupou três páginas do jornal. A reportagem foi dividida em duas manchetes principais: “Em Porto Alegre milhares sob chuva e frio” ( Figuras 2 e 3 ); “Confronto, depredação, saque: A violência se repete” ( Figura 4 ). As manchetes indicam uma interpretação que distingue momentos (e táticas) específicos da passeata, enfatizando-se, por um lado, a grandiosidade do evento e, por outro, a adoção de táticas qualificadas como violentas. O texto também apresenta conteúdo sobre a postura do então governador Tarso Genro (Partido dos Trabalhadores – PT) e da Polícia Militar do Rio Grande do Sul (PMRS) diante dos protestos. O conteúdo escrito da reportagem confirma o que sugerem as manchetes, sendo fortemente marcado pela distinção entre um primeiro momento, em que ativistas teriam se reunido em uma grande, festiva e pacífica manifestação, e um segundo momento, em que atos de depredação (qualificados como “vandalismo”) teriam sido adotados por um conjunto pequeno de pessoas14 14 A análise aprofundada do conteúdo escrito do texto pode ser encontrada em Fernandes (2016) e em Teixeira, Fernandes e Silva (2020). .

Figura 2
: Primeira página da reportagem de Zero Hora sobre o protesto de 20 de junho de 2013

Figura 3
: Segunda página da reportagem de Zero Hora sobre o protesto de 20 de junho de 2013

Figura 4
: Terceira página da reportagem de Zero Hora sobre o protesto de 20 de junho de 2013

Quanto ao conteúdo visual, a reportagem apresenta 6 imagens, a seguir analisadas conforme as dimensões que compõem o modelo proposto. Para cada imagem são analisados o quadro dominante e o refinamento (técnicas, interações, emoções).

Na Figura 5 , o quadro dominante é a grande manifestação. Essa impressão inicial passada pela imagem é reforçada a partir das técnicas fotográficas utilizadas: a visão aérea deixa os manifestantes em tamanho pequeno, enfatizando, por outro lado, o grande número de ativistas na manifestação, a qual se estende por todos os pontos focalizados da avenida. A identidade e as reivindicações dos manifestantes não são especificadas, e se apreende da imagem que a tática de ação utilizada é a passeata.

Figura 5
: Imagem “grande manifestação”

Quanto às emoções, o quadro dominante de grande manifestação, no contexto de produção da notícia, indica algumas associações estereotipadas (representações coletivas) relacionadas à ocorrência de um evento coletivo e relevante. A literatura especializada tem indicado que fatores relacionados às características dos protestos tendem a influenciar a probabilidade de cobertura pela mídia ( Earl et al., 2004Earl, J., et al. “The use of newspaper data in the study of collective action”. Annual Review of Sociology, vol. 30, p. 65-80, 2004. ; Hutter, 2014Hutter, S. Protest event analysis and its offspring. In: Della Porta, D. Methodological practices in social movement research. Oxford: Oxford University Press, p. 335-367, 2014. ; Swank, 2000Swank, E. “In newspaper we trust? ‘Assessing the credibility of news sources that cover protest campaigns’”. Research in Social Movements, Conflicts, and Change, vol. 22, p. 27-52, 2000. ). Esses estudos indicam que fontes jornalísticas tendem a cobrir mais frequentemente protestos mais numerosos ( Earl et al., 2004Earl, J., et al. “The use of newspaper data in the study of collective action”. Annual Review of Sociology, vol. 30, p. 65-80, 2004. ; Hutter, 2014Hutter, S. Protest event analysis and its offspring. In: Della Porta, D. Methodological practices in social movement research. Oxford: Oxford University Press, p. 335-367, 2014. ). Assim, protestos ocorridos em picos de mobilização de ciclos de protestos têm maiores chances de serem cobertos em comparação àquelas manifestações que iniciam ou terminam tais ciclos ( Swank, 2000Swank, E. “In newspaper we trust? ‘Assessing the credibility of news sources that cover protest campaigns’”. Research in Social Movements, Conflicts, and Change, vol. 22, p. 27-52, 2000. ). Além disso, a literatura aponta que protestos numerosos têm maior probabilidade de serem bem-sucedidos nas arenas midiáticas e políticas, ou seja, de serem visibilizados e reconhecidos como legítimos ( McAdam; Su, 2002McAdam, D.; Su, Y. “The war at home: antiwar protests and congressional voting, 1965 to 1973”. American Sociological Review, vol. 67, no5, p. 696-721, 2002. ; Walgrave; Vliegenthart, 2012Walgrave, S.; Vliegenthart, R. “The complex agenda-setting power of protest: demonstrations, media, parliament, government, and legislation in Belgium, 1993-2000”. Mobilization, vol. 17, no2, p. 129-56, 2012. ; Wouters; Van Camp, 2017Wouters, R.; Van Camp, K. “Less than expected? How media cover demonstration turnout”. The International Journal of Press/Politics, vol. 22, no4, p. 450-470, 2017. ).

Como visto, em cada cultura existem regimes emocionais, ou seja, imposições de como as pessoas devem se sentir em relação a determinados objetos, situações, etc. Tais regimes estão incorporados nos enquadramentos para que estes cumpram com o seu objetivo. A Figura 5 , ao enfatizar a grandiosidade do evento, tende a associar o protesto principalmente a dois tipos de emoção da tipologia de Jasper (2016)Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.: moral (como orgulho e aprovação) e de lealdades ou compromissos afetivos (como gosto e respeito). No contexto analisado, é importante salientar que uma parcela do principal público-alvo de Zero Hora (classes A e B de Porto Alegre) compareceu ao protesto ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ). A ênfase sobre a grandiosidade do protesto pode eliciar a identificação do público-leitor com a cobertura, sentindo-se assim, por exemplo, orgulho, aprovação, gosto e respeito.

Como afirma Jasper (2016)Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. , o quadro produzido pode contribuir para aproximação ou rejeição do ator sobre o fenômeno a qual se refere. A partir da análise realizada sobre a Figura 5 , conclui-se que o quadro que ela compõe tende a reforçar uma intencionalidade de produzir a aproximação do leitor com o fenômeno.

O primeiro olhar (quadro dominante) perante a Figura 6 remete à ocorrência de uma manifestação patriótica/regionalista. As técnicas fotográficas adotadas fornecem a visão de quem está no palco, detrás dos manifestantes em destaque, gerando uma perspectiva de proximidade com os ativistas. Os manifestantes com as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul são enquadrados em um tamanho maior do que o restante dos manifestantes, de modo que é aos ativistas com as bandeiras que se dirige o olhar da imagem. A identidade dos manifestantes é associada ao patriotismo e ao regionalismo, e a tática de ação enfocada pela imagem é a manifestação em praça pública, com destaque à atividade em palanque, embora nenhuma reivindicação seja especificada.

Figura 6
: imagem “manifestação patriótica/regionalista”

No que se refere às emoções, dentre as associações estereotipadas (representações coletivas) possíveis ao quadro dominante “manifestação patriótica/regionalista”, está a representatividade territorial, ou seja, o indício de que o evento representaria a população local. Os símbolos nacionais/regionais são declarações de identidade, representam grupos ou comunidades em forma de unidade política; ou seja, se experimenta a realização física da comunidade imaginada ( Cerulo, 1993Cerulo, K. A. “Symbols and the world system: national anthems and flags”. Sociological Forum, vol. 8, no2, p. 243-271, 1993. ; Anderson, 2005Anderson, B. Comunidades imaginadas. Lisboa: Edições 70, 2005. ). Logo, ao se sustentar tais símbolos, se recriam e reproduzem lealdades a um sujeito coletivo abstrato (Estévez, 2004).

O contexto de junho de 2013 marca a (re)emergência do uso de simbologias patrióticas e regionalistas em eventos de protesto, elemento que tem se tornado objeto privilegiado de análise da literatura nacional (Cruz; Kaysel; Codas, 2015; Alonso; Mische, 2016Alonso, A.; Mische, A. “Changing repertoires and partisan ambivalence in the new Brazilian protests”. Bulletin of Latin American Research, vol. 36, no2, p. 144-159, 2016. ; Alonso, 2017Alonso, A. “A política das ruas: protestos em São Paulo de Dilma a Temer”. Novos Estudos Cebrap, vol. especial, p. 49-58, 2017. ). Em Porto Alegre, enquanto os protestos dos meses iniciais do ano mobilizaram símbolos historicamente ligados à esquerda e a partidos políticos progressistas – momento em que a cobertura de Zero Hora aos protestos era centralmente negativa ( Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ) –, a emergência de símbolos nacionais e regionais em junho tende a ser exaltada por Zero Hora , e o jornal busca enfatizar o pertencimento de manifestantes a uma comunidade nacional/regional compartilhada. Enquanto, por um lado, esse procedimento pode disparar emoções dos tipos moral (como orgulho) e de lealdades e compromissos afetivos (como confiança e gosto), opera-se um relativo silenciamento da heterogeneidade, dos conflitos e das diferenças entre manifestantes. Novamente, ao se colocar como o “jornal do gaúcho”, Zero Hora mobiliza o “orgulho regional”, traço cultural historicamente marcante da população do Rio Grande do Sul.

Em suma, essa associação indica ao público-leitor que se deve sentir, principalmente, emoções do tipo moral (como orgulho) e de lealdades ou compromissos afetivos (como admiração e confiança). A Figura 6 , assim como a anterior, reforça no enquadramento midiático a intencionalidade de aproximar o leitor.

Na Figura 7 , o quadro dominante é a manifestação como festividade. As técnicas fotográficas oferecem a perspectiva de dentro do túnel, em frente aos manifestantes em destaque. O ângulo da imagem recai sobre manifestantes jovens, sorridentes, com os braços levantados, em movimento e entoando palavras de ordem e/ou cantos, enquanto, ao fundo, identifica-se a continuidade do protesto, com faixas e cartazes. A imagem indica, como identidade dos manifestantes, referências à multidão em festa; as reivindicações, por outro lado, não são especificadas.

Figura 7
: Imagem “manifestação como festividade”

Na dimensão das emoções, as associações estereotipadas (representações coletivas) tendem a reforçar elementos de festividade, enquadrando a multidão em movimento, com foco sobre manifestantes jovens e sorridentes. Em especial, a simbologia do túnel reforça elementos de coesão, e a imagem evoca os sons que estavam, naquele momento, ecoando no túnel.

A não especificação das reivindicações reforça o enquadramento relativamente genérico das pautas pelo jornal e amplia as possibilidades de que o próprio leitor preencha os significados do protesto, identificando-se com este. Assim como nas imagens anteriores, portanto, o regime emocional da Figura 7 vincula-se a emoções dos tipos moral (como aprovação) e lealdades ou compromisso afetivo (como gostar, confiar).

A Figura 8 evoca como primeira impressão (quadro dominante) manifestantes mascarados. As técnicas fotográficas assumem a perspectiva de quem está na rua, em frente aos manifestantes em destaque, os quais estão em tamanho grande em relação aos demais manifestantes. O olhar direciona-se para os ativistas. O que predomina na identidade dos manifestantes é o fato de eles estarem mascarados, ou seja, não se sabe de fato quem eles são; as reivindicações, por sua vez, não são especificadas.

Figura 8
: Imagem “manifestantes mascarados”

Quanto às emoções, as associações estereotipadas ao quadro “manifestantes mascarados” remetem aos símbolos ligados à máscara de Guy Fawkes. Essa máscara, que simboliza a tentativa de explosão do Parlamento Inglês em 1605, foi criada na série de histórias em quadrinho V de Vingança ( Moore; Lloyd, 1995Moore, A.; Lloyd, D. V for Vendetta. XX: Vertigo, 1995. ) e tem sido incorporada por grupos ativistas para representar a solidariedade das multidões (em detrimento da personalização e do individualismo) ( Jasper, 2016Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. ). A máscara, apropriada como um símbolo do grupo Anonymous , foi extensamente utilizada nos protestos brasileiros de 2013, representando de modo geral uma crítica às formas de representação política e uma revolta contra o poder estabelecido ( Antonio, 2013Antonio, B. L. C. T. “Nós somos Anonymous: as relações comunicacionais entre o coletivo Anonymous e a mídia”. Dissertação de Mestrado em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, São Paulo, 2013. ; Cardoso, 2014Cardoso, G. A. M. “A máscara do anonimato: uma perspectiva discursiva”. Dissertação de Mestrado em Ciências da Linguagem. Universidade do Sul de Santa Catarina, Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem, Palhoça, 2014. ).

O quadro produzido pela imagem, nesse sentido, reforça regimes emocionais ligados a lealdades e compromisso afetivo (como confiança e solidariedade). Novamente, a não especificação das reivindicações na imagem tende a amplificar as possibilidades de aproximação do jornal com o leitor.

A Figura 9 , que se situa logo após a manchete “Confronto, depredação, saque: A violência se repete”, marca a “virada” emocional no enquadramento da reportagem. O quadro dominante é o confronto entre manifestantes e policiais. Não se trata de confronto físico, mas sim da representação de uma oposição, com policiais e manifestantes ocupando posições antagônicas na rua. A perspectiva aérea da imagem deixa ativistas e policiais em tamanho pequeno, mas identifica-se que o conjunto de manifestantes supera em número o conjunto de agentes policiais. É interessante notar que a imagem está mais próxima do ponto de vista dos policiais, transmitindo a impressão de que os policiais estão “acuados” pelos manifestantes, e o olhar direciona-se para a situação de tensão e confronto. A identidade dos manifestantes e as reivindicações não são especificadas, e as táticas enquadradas são a passeata (pelos ativistas) e a barreira de contenção espacial (pela polícia).

Figura 9
: Imagem“confronto entre manifestantes e policiais"

Quanto à dimensão das emoções, o confronto entre manifestantes e policiais relaciona-se a associações estereotipadas, principalmente ligadas à ideia de perigo. Esse tipo de quadro tem sido associado pela literatura dos movimentos sociais ao conceito de “paradigma do protesto” ( McLeod; Hertog, 1998McLeod, D.; Hertog, J. Social control, social change and the mass media’s role in the regulation of protest groups. In: Demers, D.; Viswanath, K. (eds.). Mass media, social control, and social change: a macrosocial perspective. Iowa: Iowa State University Press, p. 305-330, 1998. ; Feres Jr. et al., 2019), ou seja, à representação negativa dos manifestantes a partir de elementos como a violência e a desordem, principalmente quando as táticas são radicalizadas ( McLeod, 2007McLeod, D. M. “News coverage and social protest: how the media's protest paradigm exacerbates social conflict”. Journal of Dispute Resolution, vol. 2007, no1, p. 185-194, 2007. ).

O foco da imagem sobre a situação de perigo tende a produzir um regime emocional ligado principalmente a dois tipos de emoções: reflexas (como medo e ameaça) e morais (como desaprovação e indignação). Diferentemente, porém, do que ocorre no paradigma do protesto, a Figura 9 não representa a totalidade do enquadramento de Zero Hora ao evento. Dado que nas imagens anteriores predomina uma cobertura de legitimação do protesto, identifica-se que no contexto de produção, o jornal tende a interpretar especificamente as situações de confronto de forma negativa (sem generalizá-las para todos os ativistas), o que sugere que Zero Hora busca nos leitores a rejeição ao fenômeno específico (confronto com a polícia).

A Figura 10 tem como quadro dominante os manifestantes violentos. A perspectiva de dentro do banco permite visualizar os manifestantes em frente. Os manifestantes violentos são enquadrados em tamanho grande na imagem, de modo que o destaque do olhar é para as performances individuais e violentas, enquanto o conjunto mais amplo da manifestação não é visualizado. Quanto à identidade, os ativistas são enquadrados como “vândalos” ou adeptos das táticas black bloc . As táticas representadas são de depredação de patrimônio, e não há nenhuma reivindicação especificada.

Figura 10
: Imagem “manifestantes violentos”

Na dimensão das emoções, o quadro dominante “manifestantes violentos” vincula-se a associações estereotipadas que sugerem condutas reprováveis e, no limite, classificadas pelo jornal como criminosas. No contexto de 2013, a mobilização das táticas black bloc , relacionadas a simbologias anarquistas (vestimentas pretas, lenços que cobrem o rosto, etc.) e a ações diretas, foi recorrentemente deslegitimada pelas mídias corporativas ( Mendonça; Daemon, 2014Mendonça, K.; Daemon, F. “Os “outros” da rua: o acontecimento discursivo das manifestações de 2013”. Comunicação, Mídia e Consumo, vol. 11, no30, p. 37-55, 2014. ; Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Silva; Fernandes, 2017Silva, C. F.; Fernandes, E. G. “Ciclo de protestos de 2013: construção midiática das performances de contestação”. Ciências Sociais Unisinos, vol. 53, no2, p. 202-215, 2017 ; Almeida, 2020Almeida, F. “’Vândalos’, ‘trabalhadores’ e ‘cidadãos’: sujeição criminal e legitimidade política na criminalização dos protestos de junho de 2013”. Dados, vol. 63, no4, 2020. ). A forma como Zero Hora constrói sua reportagem reforça uma extrema cisão entre um grupo de manifestantes (enquadrados como nacionalistas/regionalistas, pacíficos e festivos nas primeiras imagens) e um grupo de ativistas enquadrados como violentos e ameaçadores. No limite, o jornal reproduz, quanto aos últimos, um modelo de cobertura do noticiário criminal ( Ramos; Paiva, 2007Ramos, S.; Paiva, A. Mídia e violência: tendências na cobertura de criminalidade e segurança no Brasil. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2007. ), destituindo desse grupo o status de “manifestantes”.

A Figura 10 , em suma, tende a impor sentimentos que fazem parte principalmente dos tipos de emoção reflexa (como medo e raiva) e moral (como indignação, desaprovação e vergonha). De modo similar à imagem anterior, a Figura 10 reforça o enquadramento midiático do jornal Zero Hora que deslegitima tais ações, indicando assim, uma intencionalidade de provocar nos leitores rejeição e, no limite, um “choque moral” ( moral schock ) ( Jasper, 2016Jasper, J. Protesto: uma introdução aos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. ) ligado à extrema condenação ao uso de ações diretas e disruptivas (considerando o forte caráter de rejeição moral que a associação de sujeitos à prática de crimes de dano ao patrimônio pode incitar no contexto brasileiro).

Síntese do enquadramento

Embora a análise individual das imagens seja adotada para fins analíticos, o enquadramento resulta em uma composição de quadros visuais. A seguir analisamos, a partir do conjunto de imagens, as dimensões identificadas no tópico anterior, bem como as formas por meio das quais tais dimensões interagem.

Percebe-se que, ao primeiro olhar (quadro dominante), as imagens enfatizam a grandeza das manifestações ou performances individuais. Por outro lado, Zero Hora também confere centralidade ao confronto/violência. Tal resultado confirma os argumentos de parte da literatura sobre o ciclo de protestos de 2013: a mídia corporativa tendeu inicialmente a deslegitimar as manifestações, enfatizando seu caráter disruptivo, mas nos protestos do dia 20 de junho predominou a exaltação da grandeza das manifestações “pacíficas”, estigmatizando ações específicas que se apresentavam mais disruptivas, por meio da caracterização de uma pequena parcela de manifestantes como “vândalos” ou “baderneiros” ( Mendonça; Daemon, 2014Mendonça, K.; Daemon, F. “Os “outros” da rua: o acontecimento discursivo das manifestações de 2013”. Comunicação, Mídia e Consumo, vol. 11, no30, p. 37-55, 2014. ; Fernandes, 2016Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. ; Silva; Fernandes, 2017Silva, C. F.; Fernandes, E. G. “Ciclo de protestos de 2013: construção midiática das performances de contestação”. Ciências Sociais Unisinos, vol. 53, no2, p. 202-215, 2017 ; Almeida, 2020Almeida, F. “’Vândalos’, ‘trabalhadores’ e ‘cidadãos’: sujeição criminal e legitimidade política na criminalização dos protestos de junho de 2013”. Dados, vol. 63, no4, 2020. ). Essa ambivalência está representada, portanto, na cobertura do protesto analisado, sendo reforçada pelas imagens selecionadas pelo jornal para representar o protesto.

A dimensão de refinamento do modelo de análise proposto neste artigo dividiu-se em três etapas: (1) técnicas; (2) interações e (3) emoções. Quanto às técnicas, identificou-se que, por vezes, foi adotada a perspectiva aérea, enfatizando o tamanho da manifestação, mas na maioria das imagens destacaram-se performances individuais ou de pequenos grupos. Isso ocorre, principalmente, porque a técnica tende a ser adotada em função do significado que o enquadramento busca conferir ao fenômeno. Percebe-se que, quando é enfatizado o tamanho da manifestação (perspectiva de visão aérea), o enquadramento diz respeito a questões vinculadas à legitimidade do protesto. Quando as técnicas fotográficas produzem um foco nas performances individuais ou de pequenos grupos, o significado associado à imagem privilegia determinadas performances em meio à multidão (uso de bandeiras e de máscaras, por exemplo); por outro lado, o foco em ações de grupos específicos (no caso, aqueles que adotam táticas enquadradas como violentas) tende a enquadrá-los como à parte da manifestação, ou seja, como pessoas que não representariam a coletividade.

A análise das interações foi dividida em três elementos: (a) a identidade dos manifestantes diz respeito a características que pudessem indicar algum perfil representado nas imagens. Em geral, identificam-se características ligadas ao patriotismo/regionalismo, à festividade e à solidariedade, além da representação do estereótipo “vândalo/baderneiro”. Assim, percebe-se no caso estudado uma dicotomia na caracterização dos manifestantes. Avalia-se que esse resultado está relacionado principalmente ao fato de o enquadramento do jornal separar quem seriam os manifestantes legítimos e quem seriam os ilegítimos (“bons” versus “maus” manifestantes), procedimento já apontado na literatura internacional como recorrente no enquadramento das mídias – e de outros atores, como agentes policiais – aos protestos ( de Fazio, 2007de Fazio, G. “Police knowledge revised: insights from the policing of the civil rights movement in Northern Ireland”. Research in Social Movements, Conflict and Change, vol. 27, p. 63-87, 2007. ; McLeod, 2007McLeod, D. M. “News coverage and social protest: how the media's protest paradigm exacerbates social conflict”. Journal of Dispute Resolution, vol. 2007, no1, p. 185-194, 2007. ; Della Porta; Atak, 2015Della Porta, D.; Atak, K. The police. In: Duyvendak, J. W.; Jasper, J. M. (eds.). Breaking down the state. Amsterdam: Amsterdam University Press, p. 113-132, 2015. ). No entanto, quando a imagem se foca na multidão ou em manifestantes usando máscaras, não fazendo referência à identidade dos manifestantes, a tendência é o enquadramento do fenômeno como uma manifestação coletiva. A representação do coletivo como espécie de “significante vazio” ( Laclau, 2013Laclau, E. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013. , p. 117-188) pode facilitar a identificação emocional do leitor com o protesto; ao mesmo tempo, a rejeição ao grupo caracterizado como “vândalo/baderneiro” pode ter o efeito de, por oposição, reforçar a coesão daqueles que se identificam como os “legítimos/bons/verdadeiros” manifestantes ( Laclau, 2013Laclau, E. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013. ).

Outro ponto analisado na dimensão da interação é a (b) tática explícita nas imagens. O protesto ao qual refere-se a cobertura tem como tática a passeata; esta, no entanto, é colocada em prática por diversas ações. Algumas imagens explicitam performances classificadas pelo jornal como violentas, enquanto outras imagens ilustram performances classificadas pelo jornal como “pacíficas” e representantes da “maioria” das pessoas nas ruas (uso de máscaras, bandeiras, faixas e cartazes).

Já as (c) reivindicações não são explicitadas em nenhuma imagem. O enquadramento produzido nas imagens é geral e abstrato a ponto de permitir ao leitor uma ampla margem de preenchimento do significado das pautas do protesto ( Laclau, 2013Laclau, E. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013. ). No caso estudado, a classificação midiática sobre o que é uma manifestação legítima e, por outro lado, o que são práticas condenadas está mais associada às ações desempenhadas (se enquadradas como “pacíficas” ou “violentas”) do que ao conteúdo das reivindicações.

Quando analisamos a dimensão das emoções no modelo analítico, percebemos que as imagens compõem o enquadramento, reforçando ora a intencionalidade de aproximar o leitor do fenômeno ao qual se refere a cobertura (protesto), ora a intencionalidade de rejeitar determinados grupos e atos (confronto, depredações e saques). Esse processo ocorre principalmente a partir dos regimes emocionais que são incorporados na construção do enquadramento. No que diz respeito à aproximação, as emoções são vinculadas a associações estereotipadas de grandiosidade e relevância do evento, bem como de patriotismo/regionalismo, festividade e solidariedade entre os manifestantes. Tais associações, no contexto estudado e considerando o público-leitor do jornal, tendem a eliciar emoções morais (como orgulho) e de lealdade e compromisso afetivo (como gostar e confiar). Já no que diz respeito à rejeição, as emoções têm como referência associações estereotipadas que envolvem situações de perigo e atitudes reprováveis, no limite classificadas como “criminosas” (relacionadas ao quadro de confronto e violência), potencialmente despertando emoções reflexas (como medo, raiva e ameaça) e morais (como desaprovação e indignação).

Em suma, a ambivalência emocional do enquadramento de Zero Hora, com a ampla variação que circula entre a exaltação ao protesto e a extrema condenação moral das ações disruptivas, é um importante resultado deste artigo. A incorporação dos regimes emocionais, portanto, faz parte da construção do enquadramento. Ao significado presente no quadro estão associadas emoções que deveriam ser experimentadas pelo público ao qual refere-se a notícia, ou seja, existe uma intencionalidade do jornal de provocar uma aproximação ou uma rejeição no leitor sobre o fenômeno ao qual se destina a cobertura.

Considerações finais

O argumento defendido neste artigo é que o processo de enquadramento de um fenômeno envolve uma dimensão emocional; assim, para análise de enquadramentos se faz necessária a inclusão de tal dimensão no modelo analítico. Ainda, propomos que a imagem é uma fonte importante para o estudo dos enquadramentos, em especial os midiáticos, tanto por questões de acesso – muitas vezes as imagens são o meio pelo qual se chega à notícia ou se tornam o próprio fim, quando o leitor recorre às imagens sem a leitura do texto escrito –, quanto por seu potencial de representatividade – o conteúdo da imagem pode sintetizar a representação do fenômeno a uma audiência.

Assim, ao fazermos a articulação entre enquadramento, emoções e imagens, propomos que os enquadramentos midiáticos, a partir das imagens que os expressam, incorporam regimes emocionais ( feeling rules ). Tal processo ocorre a partir de técnicas (ângulo, luz, foco, etc.) e da combinação de um conjunto de elementos, cujos significados, já compartilhados na sociedade (em um determinado contexto e período histórico), estão associados a determinados tipos de emoções.

A partir da proposta acima exposta, analisamos imagens da cobertura do jornal Zero Hora do protesto de 20 de junho de 2013 em Porto Alegre. A análise resultou na identificação da ambivalência emocional do enquadramento de Zero Hora , com a ampla variação que circula entre a exaltação ao protesto e a extrema condenação moral das ações disruptivas. Por um lado, o jornal relacionou o protesto a associações estereotipadas de grandiosidade, patriotismo/regionalismo e festividade, tendendo a vinculá-lo às emoções de tipo moral e de lealdade e compromisso afetivo (como orgulho, aprovação, gosto e respeito); por outro lado, as ações diretas de depredação e saques foram vinculadas a associações estereotipadas de perigo/risco, tendendo a relacioná-las às emoções de tipo reflexa (como medo, raiva e ameaça) e moral (como desaprovação e indignação).

Considerando, ainda, que “métodos para entender imagens no conflito político estão longe de estarem disponíveis” (Doerr; Mattoni; Teune, 2013, p. xii), um dos desafios deste artigo foi contribuir para o desenvolvimento de uma abordagem metodológica que, com base nos estudos já produzidos na área, seja eficaz para análise dessa espécie de conteúdo. No presente artigo, buscou-se desenvolver e aplicar uma metodologia para análise visual da incorporação de emoções aos enquadramentos midiáticos de eventos de protesto ( Figura 1 ). Tendo como principal inspiração a proposta de Luhtakallio (2013)Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. , distinguiu-se a análise das imagens entre as dimensões quadro dominante ( dominant frame ) e refinamento ( keying ), essa última subdividida em técnicas, interações e emoções. A dimensão das emoções foi a principal inovação aqui apresentada em relação à proposta de Luhtakallio (2013)Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. .

Figura 1
: Modelo para análise visual de enquadramento midiático a eventos de protesto

Uma das potencialidades do modelo consiste na decomposição da análise entre uma dimensão mais generalizante da imagem (quadro dominante) e dimensões mais específicas (refinamento), dado que podem ser identificadas diversas formas de construção de um mesmo enquadramento geral (quadro dominante). Ademais, os elementos do refinamento permitem que técnicas, interações e emoções se relacionem, de modo que possam ser encontrados padrões, por exemplo, sobre quais emoções determinadas técnicas e interações tendem a evocar (por exemplo, perspectivas aéreas que enquadram multidões nas ruas podem evocar associações estereotipadas de grandiosidade e relevância, relacionados a emoções morais e de lealdade e compromisso). A aplicação mais ampla e continuada desse modelo tende à identificação desses padrões de relação entre os diferentes elementos do refinamento.

Como desafio, aponta-se a necessidade de experimentação desse modelo em conjuntos mais amplos de imagens e de casos, indicando-se tendências mais gerais de enquadramento visuais para determinados contextos, veículos midiáticos ou eventos. Como todo modelo em construção, a metodologia aqui empregada deve ser aperfeiçoada e/ou contestada em trabalhos futuros.

Destaca-se, ainda, que existem dissonâncias entre a intencionalidade incorporada no enquadramento midiático e a forma como os leitores interpretam a reportagem. A recepção do leitor ao conteúdo do jornal, que não foi objeto de análise deste artigo, é um passo a ser dado em estudos futuros, por meio de pesquisas que investiguem se e como ocorre o alinhamento/a rejeição de enquadramentos entre jornal e leitor na recepção à cobertura da mídia corporativa a eventos de protesto.

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  • Zero Hora. “Em Porto Alegre milhares sob chuva e frio”, 21 jun. 2013.
  • 1
    Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 42º Encontro Anual ANPOCS.
  • 4
    Black bloc é um termo adotado originalmente pela polícia alemã nos anos 1980 para identificar ativistas que lutavam contra a repressão policial em ocupações. O que diferencia as táticas black bloc , além do uso da ação direta, é seu aspecto visual, com o predomínio de roupas pretas e a utilização de máscaras e símbolos ligados à estética anarcopunk ( Dupuis-Déri, 2014Dupuis-Déri, F. Black blocs. São Paulo: Veneta, 2014. ).
  • 5
    Angela Alonso (2017)Alonso, A. “A política das ruas: protestos em São Paulo de Dilma a Temer”. Novos Estudos Cebrap, vol. especial, p. 49-58, 2017. refere-se a esse campo a partir do repertório utilizado por tais atores, assim, estes estariam associados ao repertório patriótico. Outros autores chamam tal campo de direita (Cruz; Kaysel; Codas, 2015). Nossa interpretação está associada às pautas promovidas por esses atores, que podem ser relacionadas a um viés conservador.
  • 6
    Todas as citações diretas foram traduzidas pelos autores.
  • 7
    No campo da comunicação há um debate consolidado sobre a hipótese de agenda-setting, que abarca vastos estudos sobre a influência da mídia na sua audiência, direcionando o público sobre o que pensar, de modo que as pessoas hierarquizem temas a partir do que é veiculado pela mídia ( McCombs, 2004McCombs, M. Setting the agenda: the mass media and public opinion. Cambridge: Polity, 2004. ). Nos debates mais recentes, autores têm relacionado os enquadramentos com o segundo nível da agenda-setting (ver sobre em McCombs, 2004McCombs, M. Setting the agenda: the mass media and public opinion. Cambridge: Polity, 2004. ). Neste artigo não será desenvolvida a discussão a respeito de tal relação, dado que a abordagem escolhida tem como foco o campo de estudo dos movimentos sociais.
  • 8
    Luhtakallio (2013Luhtakallio, E. Bodies keying politics: a visual frame analysis of gendered local activism in France and Finland. In: Doerr, N.; Mattoni, A; Teune, S. (eds.). Advances in the visual analysis of social movements. Bingley: Emerald, p. 27-54, 2013. , p. 36) inclui nessa dimensão outros elementos, como expressão facial, características corporais e movimentos. Optamos por não tratar de tais elementos nessa dimensão específica de análise, pois entendemos que eles são abrangidos pelos conjuntos seguintes (interações e emoções).
  • 9
    Um exemplo da configuração de regimes emocionais e seus efeitos pode ser encontrado na literatura, no clássico O Estrangeiro , de Albert Camus (2019)Camus, A. O estrangeiro. 45ª edição. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2019. . Um dos elementos centrais do livro é a estigmatização pela qual o personagem principal, Meursault, passa ao não chorar no enterro da mãe; ou seja, ao desviar do regime emocional culturalmente esperado (“ficar triste com a morte da mãe”), Meursault sofre diversas consequências relacionadas a julgamentos de âmbito moral.
  • 10
    Para formular e aplicar o modelo de análise proposto neste artigo, seguiu-se essa etapa sugerida por Flam e Doerr (2015)Flam, H.; Doerr, N. Visuals and emotions in social movements. In: Flam, H.; Kleres, J. (eds.). Methods of exploring emotions. Abingdon and New York: Routledge, p. 229-239, 2015. como uma primeira aproximação com o objeto empírico no sentido de experimentar a interação com a imagem e não necessariamente uma reprodução da forma de sentir e pensar que qualquer outra pessoa possa vir a experienciar. Ainda, no que diz respeito ao distanciamento crítico, este foi incorporado como uma reflexão sobre a experiência, ou seja, foi empreendido um movimento de refletir sobre o que levou os pesquisadores a sentirem-se de tal maneira ao interagir com a imagem.
  • 11
    Essa questão refere-se a como as pessoas “devem” se sentir frente aos elementos da imagem (esse dever está inscrito em um tempo/espaço definido, ou seja, em um contexto histórico e cultural específico). Por outro lado, nesse modelo, não é possível extrapolar a análise do conteúdo da imagem, ou seja, não se pode saber se de fato houve vinculação entre a intencionalidade do jornal e a recepção do público.
  • 12
    Embora consideremos pertinente e relevante o estudo comparativo entre mídia corporativa e mídia alternativa na cobertura de eventos de protesto, optamos, neste artigo, por centrar a análise sobre a mídia corporativa como forma de delimitação do objeto para testagem do modelo.
  • 13
    Em Porto Alegre, ao longo do ano de 2013, foram realizados 12 eventos que podem ser enquadrados no ciclo de protestos de 2013, cuja pauta inicial foi o valor do transporte público: 21 de janeiro, 18 de fevereiro, 27 de março, 1 de abril, 4 de abril, 11 de abril, 13 de junho, 17 de junho, 20 de junho, 23 de junho, 27 de junho e 4 de julho.
  • 14
    A análise aprofundada do conteúdo escrito do texto pode ser encontrada em Fernandes (2016)Fernandes, E. G. “Campos de batalha jornalística: os enquadramentos construídos por Zero Hora, Diário Gaúcho e Sul21 na luta pela (i)legitimidade do ciclo de manifestações de 2013, em Porto Alegre/RS”. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Porto Alegre, 2016. e em Teixeira, Fernandes e Silva (2020).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    9 Jul 2021
  • Aceito
    26 Jan 2023
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