Resumos
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de diferentes combinações de variedades copa e porta-enxertos sobre respostas de plantas de citros ao deficit hídrico em casa de vegetação. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com cinco repetições no esquema fatorial: cinco variedades copa; dois porta-enxertos; e dois regimes hídricos. A tangerineira 'Poncan' é a variedade copa mais sensível ao deficit hídrico, expressado pelo potencial hídrico foliar, quando enxertada sobre o citrumeleiro 'Swingle'. Sob deficit hídrico severo, as variedades copa enxertadas sobre limoeiro 'Cravo' apresentam maior desenvolvimento da copa das plantas cítricas, em comparação ao citrumeleiro 'Swingle'.
Citrus; estresse hídrico; tolerância; plantas enxertadas
The aim of this work was to study the influence of different scion and rootstock combinations on responses of citrus plants to water deficit in greenhouse. The experimental design was formed by randomized blocks with five replications in the fallowing factorial scheme: five scion varieties; two rootstocks; and two hydro regimes. 'Poncã' tangerine is the scion variety more sensible to water deficit, expressed by leaf water potential, when grafted on 'Swingle' citrumelo. Under severe water deficit, the scion varieties grafted on 'Rangpur' lime present greater development of citric plants scion compared to 'Swingle' citrumelo.
Citrus; water stress; tolerance; grafted plants
NOTAS CIENTÍFICAS
Respostas de combinações de variedades copa e porta-enxerto de citros à deficiência hídrica
Responses of citrus scion and rootstocks varieties combinations to water deficiency
Sérgio Luiz Rodrigues DonatoI; Cassiano Spaziani PereiraII; Zoraia de Jesus BarrosII; Dalmo Lopes de SiqueiraII; Luiz Carlos Chamhum SalomãoII
IEscola Agrotécnica Federal Antônio José Teixeira, Caixa Postal 009, CEP 46430-000 Guanambi, BA. E-mail: sergiodonato@eafajt.gov.br
IIUniversidade Federal de Viçosa, Av. P.H. Rolfs, s/nº, CEP 36570-000 Viçosa, MG. E-mail: caspaziani@yahoo.com.br, zoraiabarros@hotmail.com, siqueira@ufv.br, lsalomao@ufv.br
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de diferentes combinações de variedades copa e porta-enxertos sobre respostas de plantas de citros ao deficit hídrico em casa de vegetação. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com cinco repetições no esquema fatorial: cinco variedades copa; dois porta-enxertos; e dois regimes hídricos. A tangerineira 'Poncan' é a variedade copa mais sensível ao deficit hídrico, expressado pelo potencial hídrico foliar, quando enxertada sobre o citrumeleiro 'Swingle'. Sob deficit hídrico severo, as variedades copa enxertadas sobre limoeiro 'Cravo' apresentam maior desenvolvimento da copa das plantas cítricas, em comparação ao citrumeleiro 'Swingle'.
Termos para indexação:Citrus, estresse hídrico, tolerância, plantas enxertadas.
ABSTRACT
The aim of this work was to study the influence of different scion and rootstock combinations on responses of citrus plants to water deficit in greenhouse. The experimental design was formed by randomized blocks with five replications in the fallowing factorial scheme: five scion varieties; two rootstocks; and two hydro regimes. 'Poncã' tangerine is the scion variety more sensible to water deficit, expressed by leaf water potential, when grafted on 'Swingle' citrumelo. Under severe water deficit, the scion varieties grafted on 'Rangpur' lime present greater development of citric plants scion compared to 'Swingle' citrumelo.
Index terms:Citrus, water stress, tolerance, grafted plants.
O requerimento hídrico para uma boa produção de frutos em citros é cerca de 900 a 1.200 mm por ano e varia com a demanda evapotranspirométrica, solo, copa e principalmente com o porta-enxerto utilizado.
O conhecimento do comportamento dos porta-enxertos, das copas e da combinação mais adequada a diferentes situações é crucial, pois os porta-enxertos afetam várias características da planta, particularmente a resistência a estresses ambientais (Carboneau, 1985; Pompeu Júnior, 1991; Nogueira et al., 2001; Souza et al., 2001; Cerqueira et al., 2004).
De forma geral, sob condições de estresse, as plantas alocam mais recursos para o sistema radicular (Larcher, 2000). Sob deficiência hídrica, a interação entre porta-enxerto e copa pode se tornar mais significativa, o que pode influenciar no grau de tolerância à seca da cultivar copa (Carboneau, 1985; Souza et al., 2001). Assim, a magnitude da afinidade entre a combinação copa e porta-enxerto é imperativa, para que essas características sejam maximizadas, principalmente quando se considera a predominância, no País, de citricultura sob condições de sequeiro.
O limoeiro 'Cravo' é o porta-enxerto mais usado no Brasil, e o principal porta-enxerto da citricultura paulista (Stuchi et al., 2004), baiana e sergipana (Prudente et al., 2004), que são o primeiro, segundo e terceiro maiores produtores de laranja do país, respectivamente. É clássica, na literatura citrícola, a informação de que o limoeiro 'Cravo' induz maior tolerância à seca nas diversas copas cultivadas no Brasil (Pompeu Júnior, 1991; Medina et al., 2005). Este porta-enxerto é considerado como indutor de boa qualidade aos frutos das variedades nele enxertadas, mas não satisfaz a todas as variedades, pois é intolerante ao declínio (Pompeu Júnior, 1991) e à morte súbita dos citros, por isso, é premente a necessidade de diversificação do uso de porta-enxertos. O citrumeleiro 'Swingle' é considerado mais suscetível ao deficit hídrico do que o limoeiro 'Cravo' (Pompeu Júnior, 1991).
Alguns autores têm empreendido estudos que envolvem respostas adaptativas de porta-enxertos ou combinações copa porta-enxerto de citrus a estresses abióticos estreitamente relacionados como hídrico e salino (Bañuls & Primo-Millo, 1995; Medina et al., 1999; Cerqueira et al., 2004; Molinari et al., 2004; Ortuño et al., 2004). Diversos caracteres são empregados na avaliação de plantas ao estresse hídrico, entre eles o potencial hídrico foliar.
O objetivo deste trabalho foi estudar as respostas ao deficit hídrico de dois porta-enxertos de citros, em combinação com cinco variedades copa.
O trabalho foi realizado entre maio e junho de 2005, durante 16 dias em casa de vegetação, sem controle de umidade relativa e temperatura, do Setor de Fruticultura, do Dep. de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Foram utilizadas mudas de citros enxertadas, com 12 meses de idade, plantadas em citropotes com 4,6 L de volume, com substrato de mistura de terra textura média e esterco de curral curtido na proporção 3:1.
Utilizou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso, com uma planta por parcela e cinco repetições, em esquema fatorial 5x2x2. O primeiro fator foi constituído por cinco variedades copa de citros: laranjeira 'Bahia' Citrus sinensis (L.) Osb.; laranjeira 'Valência' Citrus sinensis (L.) Osb.; tangor 'Murcote' [C. reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osb.]; tangerineira 'Poncã' C. reticulata Blanco; e mexerica 'Rio'; C. deliciosa Tem. O segundo fator foi constituído por dois porta-enxertos: limoeiro 'Cravo' C. limonia (L.) Osb. e citrumeleiro 'Swingle' citrumeleiro CPB 4475 [C. paradisi Macf. x P. trifoliata (L.) Raf.]. O terceiro fator foi o regime hídrico pelo qual as plantas cítricas foram irrigadas com freqüência diária, para manter o teor de água próximo à capacidade de campo e, no sequeiro, com a suspensão total da rega.
As plantas das dez combinações copa porta-enxerto, sob regime de irrigação, foram irrigadas todos os dias. As plantas sob condição de sequeiro não receberam nenhuma irrigação, a partir do início do experimento, e foram avaliadas até o início da abscisão das folhas, ocorrida no 16º dia após a suspensão da irrigação.
Foram realizadas cinco avaliações de potencial hídrico foliar de antemanhã (Yw), medido às 5h30min, com uma bomba de pressão (Soil-Moisture Modelo 3005) (Souza et al., 2001). Para isso, coletou-se uma folha da parte mediana de cada planta. As folhas foram limpadas com algodão, secadas, embaladas em saco de plástico e armazenadas em isopor.
Ao final do experimento, foram avaliados: a altura total das plantas e os diâmetros das copas, com paquímetro. Posteriormente, determinaram-se as massas de matéria fresca e seca das folhas, ramos e total da parte aérea das plantas de três repetições. A determinação da massa de matéria seca foi feita após a secagem do material, à temperatura de 70ºC até peso constante, em estufa.
Os dados foram submetidos à análise de variância, e foi verificada a significância das interações entre os fatores testados, com desdobramento daquelas significativas a 5% de probabilidade. Para comparação das médias, utilizou-se o teste de Tukey, a 5% de probabilidade, com auxílio do SAEG (Ribeiro Júnior, 2001).
As variedades copa sobre limoeiro 'Cravo', em regime irrigado, não diferiram entre si quanto ao potencial hídrico das folhas; porém, sob regime de sequeiro, a tangerineira 'Poncã' mostrou decréscimo em relação às variedades copa laranjeiras 'Bahia' e 'Valência' e do tangor 'Murcote', após quatro dias da suspensão da rega, e diferiu significativamente entre regimes hídricos, com menor potencial hídrico foliar no regime de sequeiro (Tabela 1). Tangor 'Murcote' sobre citrumeleiro 'Swingle', no regime irrigado, decresceu o potencial hídrico e diferiu das demais combinações. Sob sequeiro, as variedades copa não diferiram significativamente em potencial hídrico foliar, entretanto, entre regimes hídricos, a mexerica 'Rio', enxertada sobre o citrumeleiro 'Swingle', apresentou maior redução no potencial hídrico foliar.
Após oito dias de suspensão da rega, as variedades copa sobre o limoeiro 'Cravo' foram iguais, independentemente do regime hídrico (Tabela 1). Contudo, as variedades copa diminuíram o potencial hídrico foliar, em relação à avaliação após quatro dias de suspensão da rega. Não obstante, sobre o citrumeleiro 'Swingle', o maior e o menor decréscimos do potencial hídrico foliar ocorreram na tangerineira 'Poncã' e no tangor 'Murcote', respectivamente.
Decorridos oito dias de exposição à falta d'água, Medina et al. (1999) constataram reduções do potencial hídrico foliar de -0,5 MPa para -2 e -2,5 Mpa, em mudas de 18 meses de idade de laranjeira 'Valência', enxertadas sobre limoeiro 'Cravo' e Poncirus trifoliata, respectivamente. Os decréscimos no potencial hídrico foliar foram maiores em comparação aos observados neste trabalho (Tabela 1). A discrepância, provavelmente, seja conseqüência das diferenças entre os substratos usados nos dois trabalhos. Medina et al. (1999) utilizaram substrato composto de três partes de terra e uma de areia, sobre uma camada de 0,02 m de pedras britadas, o que propicia maior eficiência de drenagem, enquanto o substrato deste trabalho constituiu-se de uma mistura de terra e esterco de curral curtido na proporção 3:1.
Não foram constatadas diferenças significativas entre copas e entre porta-enxertos quanto ao potencial hídrico foliar avaliado aos 12 e 16 dias após a suspensão da rega (Tabela 2). Entretanto, a evolução do potencial hídrico foliar mostrou diferenças significativas entre regimes hídricos aos 12 e 16 dias de exposição à falta d'água.
Sob sequeiro, o potencial hídrico foliar decresceu a -1,54 Mpa, aos 12 dias, e a -2,08 Mpa, ao final do período de exposição, enquanto sob irrigação manteve-se constante, independentemente da combinação copa porta-enxerto (Tabelas 2). Cerqueira et al. (2004) verificaram valores de potencial hídrico foliar de -3,2, -3,3, -2,9, -1,5, -3,1 e -2,2 Mpa, em plântulas dos porta-enxertos limoeiros 'Cravo' e 'Volkameriano', laranjeira 'Azeda' e dos híbridos trifoliolados HTR051, TSKxCTTR002 e TSKxCTTR017, respectivamente, após 12 dias de exposição ao deficit hídrico. Estes autores utilizaram plântulas em vasos com capacidade para 0,3 L, cheios de mistura composta de substrato comercial e fibra de coco na proporção 1:1.
Num período de 12 dias após a suspensão da rega, Souza et al. (2001) também constataram, em mudas de videira de seis meses de idade, valores de potencial hídrico foliar de -2,80 e -2,10 Mpa, para as combinações copa e porta-enxertos Niágara Rosada/101-14 e Niágara Rosada/1103 Paulsen, respectivamente. Estes autores observaram diferenças significativas (p<0,05), entre porta-enxertos, quanto ao potencial hídrico. As mudas foram cultivadas em vasos de plástico de 8 L, que continha como substrato uma mistura de Latossolo Vermelho-Escuro (LVE) textura argilosa, esterco de curral e areia, na proporção 2:1:1.
Assim como neste trabalho, nos demais trabalhos revisados, as plantas submetidas à deficiência hídrica, no final do período experimental, apresentaram decréscimo do potencial hídrico foliar para valores inferiores -2 MPa. Neste experimento, o potencial hídrico foliar alcançou esta magnitude aos 16 dias de exposição à falta d'água. Valores de potencial hídrico foliar desta ordem foram registrados noutros experimentos, conduzidos com citros, aos nove e 12 dias, conforme Medina et al. (1999) e Cerqueira et al. (2004), respectivamente, e 12 dias para videira (Souza et al., 2001). Diferenças entre substratos utilizados, idade das mudas, volume dos recipientes, espécies e cultivares utilizadas podem explicar parcialmente as pequenas variações observadas nos valores do potencial hídrico e no tempo necessário para atingir os valores.
Variedades copa sobre limoeiro 'Cravo' exibiram maior diâmetro, maior altura, maiores massas de matéria fresca e seca da folhas e massa de matéria seca da parte área, sob regime irrigado, e também maior massa de matéria fresca de parte aérea, nos dois regimes hídricos, do que sobre citrumeleiro 'Swingle' (Tabela 3).
Não ocorreram grandes alterações nas características morfológicas, com relação ao regime hídrico. O curto período de exposição ao deficit hídrico (16 dias) e a intensidade do estresse aplicado (-2,08 MPa) justificam parcialmente o ocorrido. Cerqueira et al. (2004) não observaram redução da matéria seca da parte aérea, com deficit hídrico de 12 dias e de -3,3 MPa, para plântulas de híbridos trifoliolados, mas, encontraram essa redução em porta-enxertos não trifoliolados e atribuíram este fato ao menor tamanho e formato dos folíolos dos híbridos. Na citricultura, são considerados estresses hídricos severo e de curta duração e moderado e de longa duração, o potencial hídrico de -3 MPa aplicado durante 30 dias, e o de -2 MPa durante 50 dias, respectivamente, embora esses valores de potencial hídrico não sejam suaves e sim extremamente severos, mesmo para o menor tempo de aplicação (Medina et al., 2005).
Recebido em 6 de março de 2007 e aprovado em 11 de setembro de 2007
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Out 2007 -
Data do Fascículo
Out 2007
Histórico
-
Aceito
11 Set 2007 -
Recebido
06 Mar 2007