RESUMO
Georges Devereux (1908-1985) é conhecido como, juntamente com Géza Rohéim (1891-1953), um dos criadores da etnopsicanálise, disciplina que articula os saberes da Psicanálise e da Antropologia. Sua primeira grande obra foi Psychoterapie d’un indien des plaines, livro publicado em 1951 e que narra a análise de um indígena Blackfoot, ex-combatente da Segunda Guerra. O livro foi a base para a elaboração do filme Jimmy P., traduzido no Brasil como Terapia intensiva. O objetivo deste artigo é apresentar uma discussão introdutória a algumas das ideias de Devereux a partir de recortes do filme Jimmy P., dirigido por Arnaud Desplechin em 2013. Além disso, também buscamos as aproximações e inovações do autor em relação a Freud. Concluímos que, no que diz respeito às aproximações enquanto técnica e prática entre Devereux e Freud, observamos no filme que Devereux incorpora à sua técnica a prática da interpretação dos sonhos, a associação livre e faz referências à teoria freudiana durante o tratamento, como o complexo de Édipo e a transferência. A partir das intuições freudianas sobre a relação entre cultura e psiquismo, Devereux avança para a formulação de uma etnopsicanálise, resultado do reconhecimento do entrelaçamento inseparável de esquemas individuais e culturais. Se as proposições de Devereux fomentaram na França o desenvolvimento de uma prática clínica que considera as diferenças culturais de populações de imigrantes oriundas de diferentes países, mais promissoras ainda parecem ser as chances de florescimento de uma psicanálise transcultural num terreno fértil em diversidade étnica como o Brasil.
Palavras-chave:
Etnopsicanálise; psicanálise e cultura; psiquiatria transcultural