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As Muitas Faces do Exílio de um “Judeu Sem Deus”: A Herança Paterna de Sigmund Freud

The Many Faces of Exile of a "Jew Without God": The Paternal Inheritance of Sigmund Freud

Resumo

Em sua Selbstdarstellung (2011 [1924]), Sigmund Freud (1856-1939), ressalta as origens judaicas e, nessa linhagem, o êxodo que marca sua família: percurso que desemboca em Viena e, posteriormente, em Londres, estação final. As marcas do exílio nos escritos freudianos reforçam o vínculo com o judaísmo, índice da herança paterna. O episódio do “gorro na lama”, descrito na Interpretação dos Sonhos (2019 [1900]FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Obras completas. v. 4. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras , 2019 [1900].), como a humilhação do pai de Freud, Jakob, aos olhos da criança que aspirava a sonhos de grandeza, assim como o presente do Velho Testamento (DERRIDA 2001DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Trad. Claudia de Morais Rego. Relume Dumará: Rio de Janeiro, 2001.; YERUSHALMI 1992YERUSHALMI, Yosef Hayim. O moisés de Freud: judaísmo terminável e interminável. Rio de Janeiro: Imago, 1992.), abrem portas para outras questões centrais nas teorias freudianas. O pai, a “judeidade” (FUKS 2000FUKS, Betty B. Freud e a Judeidade: a vocação do exílio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.), remetem às reflexões de Freud sobre religião, notadamente nas obras Totem & Tabu (2012 [1913]FREUD, Sigmund. Totem e Tabu, Contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos. Obras completas. v. 11. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras , 2012 [1912-1914].), O Futuro de uma ilusão (2014 [1927]FREUD, Sigmund. O futuro de uma ilusão e outros textos. Obras completas. v. 17. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras , 2014 [1926-1929].), Moisés e o Monoteísmo (2018 [1939]FREUD, Sigmund. Moisés e o monoteísmo, Compêndio de psicanálise e outros textos. Obras completas. v. 19. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras , 2018 [1937-1939].). Dessas, o Moisés de Freud é o texto derradeiro, cujas raízes ligam-se ao povo judeu. Outros temas, como o anti-semitismo, as vantagens das “teses universalistas” da intelectualidade judaica, (SAID 2004SAID, Edward W. Freud e os não-europeus. Trad. Arlene Clemesha. São Paulo: Boitempo, 2004.), o isolamento e a resistência (GAY 1990GAY, Peter. Sigmund Freud: um alemão e seus dissabores. In: SOUZA, Paulo César et alii (Orgs.). Sigmund Freud e O Gabinete do Dr Lacan. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990, 1-71.) são igualmente importantes para os estudos psicanalíticos. Ser judeu é ser o Outro, e por isso, transitar pelo (des)território psicanalítico: da pulsão, da escuta das histéricas, da sexualidade infantil, da insistência da neurose, do valor do sonho.

Palavras-chave:
Herança paterna; Judaísmo; “Judeidade”; Religião

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