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A organização cordial: ensaio de cultura organizacional do grêmio Gaviões da Fiel

RAE CASES

A organização cordial: ensaio de cultura organizacional do grêmio Gaviões da Fiel

André Lucirton Costa

Professor da ESPM e Coordenador das Faculdades Tibiriçá

Palavras-chave: cultura organizacional, futebol, organizações brasileiras, cultura brasileira, torcida organizada.

Keywords: organizational culture, soccer, Brazilian organization, Brazilian culture, organized rooters.

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Artigo recebido pela Redação da RAE em outubro/1995, avaliado e aprovado para publicação em novembro/1995.

1. Nasceu da mesma matriz esportiva que o rugby, do qual se separou por divergências sobre as regras entre os praticantes. Ver maiores detalhes sobre a história do futebol (inclusive suas variantes mais antigas e violentas, presentes na história da humanidade) em SANTOS, Luiz T. Futebol empresa e a democracia corinthiana: uma administração que deu dribling na crise. São Paulo: UNICAMP, nov.1990. p. 25-32. (Dissertação de Mestrado)

2. CALDAS, Waldenyr. Aspectos sociopolíticos do futebol brasileiro. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 41-9, Jun.lAgo. 1994.

3. Idem, ibidem.

4. ANTUNES, F. M. R. F. O futebol nas fábricas. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 102-9, jun./ago.1994.

5. Idem, ibidem.

6.SEVCENKO, N. Futebol, metrópoles e desatinos. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 30-7, jun./ago. 1994.

7. Idem, ibidem.

8.Neste sentido, o Brasil é ainda mais pródigo em demonstrar esta falta de padrão físico. O folclore futebolístico narra uma passagem em que o jogador Nilton Santos, vendo a primeira apresentação de Garrincha, chegou a comentar, em tom de indignação, que estavam aceitando até aleijado para jogar no Bofafogo.

9. SEVCENKO, N. Op. cit., p.30-7.

10. DaMATTA, Roberto. A antropologia do óbvio. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 10-7, jun./ago. 1994.

11. RODRIGUES, Nelson. Enten:dido, salvo do ridículo. In: À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. Seleção de Rui Castro. Companhia das Letras. 5ª reimpressão. 1993. (Publicada em O Globo, 10 jun.1970).

12. Esta representação e dramatização pode ser vista em DaMATTA. A antropologia do óbvi ... Op. cit., p. 10-7.

13. Idem, ibidem.

14. RODRIGUES, Nelson. É chato ser brasileiro! In: À sombra das chuteiras... Op. cit. (Publicado em Manchete Esportiva, 12-07-1958).

15. Ressalte-se que não é um ariano ou um branco europeu o atleta do século, mas um negro, brasileiro, que conseguiu reunir o vigor físico, a habilidade com os pés, o raciocino rápido e a visão de jogo e, por que não, a malícia.

16. SANTOS, Luiz T. Op. cit.

17. Essa característica de sofredor foi marca registrada do corinthiano durante as décadas de 60 e 70, quando o time ficou 24 anos sem ganhar um campeonato (como se o povo não ganhasse nenhuma disputa nesta época). Houve até uma famosa marchinha carnavalesca que falava do torcedor sofredor: "Doutor, eu não me engano, meu coração é corinthiano!". (M. Ferreira, R. Amaral e G. Júnior).

18. TOLEDO, L. H. Transgressão e violência entre os torcedores de futebol. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 93-101, jun./ago. 1994.

19. Na época presidente do Corinthians (hoje deputado federal).

20. "Gaviões da Fiel" é também uma marca registrada.

21. O nome Gaviões nasceu, segundo seus diretores, porque o gavião é uma ave guerreira, astuta, com garra, que não tem medo de enfrentar seus inimigos.

22. DaMATIA, R. O Que faz o Brasil, Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. 104 p.

23. Este capítulo faz-se necessário em razão das crescentes ocorrências envolvendo torcedores e torcidas nos campos de futebol. Há uma corrente que responsabiliza diretamente as torcidas uniformizadas pela violência, mas esta argumentação, sem a devida reflexão, pode contradizer as conclusões do estudo feito junto ao Grêmio Gaviões da Fiel.

24. Como não conhecemos outras torcidas organizadas, não queremos generalizar o que pôde ser observado na dos Gaviões da Fiel, mesmo porque, segundo seu próprio presidente, esta é uma das poucas torcidas em que existe alternância de poder e muita preocupação com seu reconhecimento social.

25. DaMATTA, R. O que faz o Brasil... Op. cit.

26. Ver-se-á a seguir que os membros dos Gaviões da Fiel tratam os corinthianos como "família corinthiana" e a quadra da organização como "casa".

27. TOLEDO, L. H. Transgressão e violência entre... Op. cit., p. 93­101.

28. Os dirigentes dos Gaviões da Fiel são categóricos ao afirmar que se um torcedor é flagrado cometendo um ato de violência "grave" (pixar ônibus, soltar bomba etc.) é sumariamente expulso do quadro de associados.

29. Os dirigentes dos Gaviões da Fiel, pelo menos formalmente, nas entrevistas realizadas, são insistentes na condenação da violência pelos associados. Argumentam que tentam controlar seus sócios reprimindo-os (expulsão, suspensão), usando palavras de controle (lealdade, humildade e procedimento) e fazendo palestras disciplinadoras (o sócio é obrigado a freqüentar duas reuniões para adquirir a camisa da organização).

30. Por exemplo, um grito de guerra famoso da Torcida Independente do São Paulo, incorporado ao universo futebolístico, fala, do começo ao fim, em "dar porrada" (vou dar porrada eu vou), e que ninguém vai segurar o torcedor (nem a Pofícia Militar).

31. TOLEDO, L. H. Por que xingam os torcedores de futebol? Cadernos de Campo. São Paulo, n. 3, p. 20-8, 1993.

32. Idem, ibidem.

33.Este comportamento também é condenado pela direção do Grêmio Gaviões da Fiel, como poderá ser observado mais adiante no ritual por que passa o torcedor quando se filia a entidade (rito de iniciação). Outra atitude efetiva dessa torcida no sentido da contenção da violência é observada num sistema de controle informal, amplamente difundido, que existe dentro da entidade e foi resumido nas palavras "humildade, lealdade e procedimento". Estas passagens serão apresentadas no próximo capítulo.

34. TOLEDO, L. H. Transgressão e violência entre... Op. cit., p. 93­106.

35. CÉSAR, B. Tadeu. Os Gaviões da Fiel e a Águia do Capitalismo. Campinas: UNICAMP, 1981, 178 p. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós­Graduação em Antropologia Social).

36. Ressalta-se que neste caso, ao contrário dos argumentos predominantes, as torcidas uniformizadas têm, ou podem ter, papel efetivo de controle da violência manisfestada por estes grupos caóticos. Neste caso seria mais eficaz se se utilizassem estas organizações para coibir e educar estes jovens para a não­violência do que simplesmente proibi-las, perdendo um real canal de interlocução.

37. Esta é a definição de cordialidade de HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia da Letras, 1995. 147 p.

38. CANDIDO, A. O significado de raízes do Brasil: texto introdutório. In: Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

39. O presidente dos Gaviões afirmou ainda que esse procedimento é uma prática histórica.

40. Leal à "família" Gaviões, aos laços de identidade coletiva.

41. Apesar de se tratar de marca patenteada, camisas e objetos com a marca Gaviões da Fiel são vendidos livremente por lojas e camelôs. Esse fato faz os dirigentes dos Gaviões da Fiel afirmarem que muito dos atos de violência creditados a associados dos Gaviões sejam feitos por pessoas com essas camisas "falsas".

42. O culto à camisa (que é diferente do uniforme do Corinthians), demonstrado neste ritual de iniciação, já denuncia, por si só, um mito revelador dos laços de identidade.

43. Ver a Casa e a Rua em DaMATTA, R. O que faz o Brasi ... Op. cit.

44. Tanto no campo como na sede social observei várias mulheres (em torno de 10 a 20%) que participam da vida cotidiana do grêmio. Nas festas e nos ensaios da escola de samba, um membro chegou a afirmar que a quadra do Gaviões parece o "litoral norte" - balneário paulista famoso pelo número e beleza das mulheres.

45. O Coríntlüans tem tradição de torcedoras femininas. O torcedor símbolo do Corinthians, por muito tempo, foi uma mulher (Eliza).

46. Ver DaMATTA, R. O que faz o Brasil... Op. cit.

47. Paulo Sérgio S. Corrêa, 27 anos, formado em Administração de Empresas e coordenador de estatística da indústria Votorantim. Texto extraído do jornal Os Gaviões, São Paulo. mar. 1995, ano VIII, n. 38.

  • 2. CALDAS, Waldenyr. Aspectos sociopolíticos do futebol brasileiro. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 41-9, Jun.lAgo. 1994.
  • 4. ANTUNES, F. M. R. F. O futebol nas fábricas. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 102-9, jun./ago.1994.
  • 6.SEVCENKO, N. Futebol, metrópoles e desatinos. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 30-7, jun./ago. 1994.
  • 10. DaMATTA, Roberto. A antropologia do óbvio. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 10-7, jun./ago. 1994.
  • 11. RODRIGUES, Nelson. Enten:dido, salvo do ridículo. In: À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. Seleção de Rui Castro. Companhia das Letras. 5ª reimpressão. 1993. (Publicada em O Globo, 10 jun.1970).
  • 18. TOLEDO, L. H. Transgressão e violência entre os torcedores de futebol. Revista da USP, São Paulo, n. 22, p. 93-101, jun./ago. 1994.
  • 22. DaMATIA, R. O Que faz o Brasil, Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. 104 p.
  • 31. TOLEDO, L. H. Por que xingam os torcedores de futebol? Cadernos de Campo. São Paulo, n. 3, p. 20-8, 1993.
  • 38. CANDIDO, A. O significado de raízes do Brasil: texto introdutório. In: Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jul 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 1995
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