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O pensamento em crise e as artimanhas do poder

RESENHAS

Afrânio Mendes Catani

Professor no Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da Faculdade de Educação da USP

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O PENSAMENTO EM CRISE E AS ARTIMANHAS DO PODER.

José Castilho Marques Neto e Milton Lahuerta (org.).

São Paulo, Editora da UNESP, 1988,114 p.

É com satisfação que registramos aqui a publicação do primeiro volume da série "Debates e Seminários" da Editora da UNESP, que havia, até o momento, lançado algumas publicações (como, por exemplo, o clássico A Revolução Industrial, de Paul Mantoux; Psicologia e Literatura, de Dante Moreira Leite; O Saber Militante: ensaios sobre Florestan Fernandes, coordenado por Maria Ângela D'Incao etc.) sob a forma de co-edição. Esse primeiro texto, O Pensamento em Crise e as Artimanhas do Poder, organizado pelos Professores José Castilho Marques Neto e Milton Lahuerta, reúne onze comunicações apresentadas na I Semana de Filosofia e Política, realizada em setembro de 1987, no Instituto de Letras, Ciências Sociais e .Educação de Araraquara, unidade da Universidade Estadual Paulista.

O Pensamento em Crise e as Artimanhas do Poder satisfaz plenamente o espírito da série "Debates e Seminários" que, conforme pode-se ler na "Apresentação", define-se "pela busca da integração e da crítica, da reflexão em comum e do diálogo, bem como pela disposição em se confrontar com temas novos ou reiterados, 'malditos' ou 'bem comportados'", espelhando "o pluralismo e a ousadia intrínsecos à experiência universitária" (p.7).

Constatamos que se observa no Brasil, no momento, o predomínio "de uma onda de niilismo sem precedentes", os organizadores do Seminário acreditam que "respeitado o pluralismo de posições e reconhecidas como válidas as razões dos interlocutores, o debate acadêmico ainda é um caminho possível para se defrontar com a crise de perspectivas que assola a sociedade contemporânea" (p. 9). Nos últimos anos, acrescentam, alguns traços mais marcantes podem ser sentidos no Brasil da "transição", tais como "crise de representação, abalo profundo da moral e dos valores tradicionais, descrença , nas soluções positivas e nas instituições, desesperança em relação à política e à esfera pública", conduzindo a um sentimento de que nada mais tem sentido, constituindo-se em séria dificuldade no sentido "de se criar qualquer consenso, qualquer comunicação" (p. 9).

José Castilho Marques Neto e Milton Lahuerta destacam ainda na "Introdução" que as reflexões oriundas dos campos da filosofia e da política nos ajudam, em tais situações, a colocar a casa em ordem, a entender melhor o processo de modernização acelerada ocorrido no Brasil sob um regime autocrático, desdobrando-se numa "transição" interminável. Entretanto, reconhecem, "qualquer iniciativa de debate que pretenda sair da especialização, colocando em discussão os dilemas do momento, esbarra em dois problemas: "a premência da conjuntura e a dificuldade de se constituir um patamar mínimo entre disciplinas e abordagens distintas" (p. 10).

Assim, os onze textos do livro, em diferentes graus de complexidade para o leitor, acabam se defrontando com a seguinte questão, exemplarmente colocada por Marques Neto e Lahuerta: em tempos de intensa renovação tecnológica e das comunicações, "o saber científico, necessariamente rigoroso e crítico, não está acompanhando o ritmo das mudançâs no univers? das relações políticas e sociais. Este, sem dúvida, é um dos momentos mais difíceis da atribulada convivência no exercício científico com a urgência da prática política" (pp. 10-11). Os textos são, pela ordem de apresentação, os seguintes: "Filosofia e Política" - Nilo Odália; "Há uma Crise nas Ciências Sociais? "- José Carlos Bruni; "A Tirania do Olhar" - Roberto Romano; "Crise do Marxismo e Política" - Marco Aurélio Nogueira; "'A Morte' do Marxismo e a Democracia" - Iná Camargo Costa: "Democracia e Revolução" - Cristina Diniz Mendonça; "Rumos do Estado na Sociedade Contemporânea" - Oliveiros S. Ferreira "Voto e Mercado na Sociedade Competitiva" - Reginaldo de Moraes; "Transição e Cidadania no Brasil Contemporâneo - Gildo Marçal Brandão; "Ai Determinações da Longa Duração e sua Conversão; o impasse" - Fausto Castillho; e "A Astúcia do Príncipe e a Invenção da República" - Luiz Werneck Vianna.

O Pensamento em Crise e as Artimanhas do Poder, na maioria de seus textos, constitui-se em instigante reflexão acerca das possibilidades e dos limites das ciências (humanas) no sentido de fornecer alguns parâmetros para a compreensão de várias dimensões da sociedade brasileira atual - o que, no meu entender, transforma-o em leitura fundamental para os cidadãos que se interessam pela "realidade" que os cercam.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1989
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