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Os desafios éticos nas organizações modernas

Resumos

O reaparecimento das preocupações éticas traduz o profundo mal-estar de nossas sociedades em conseqüência do triunfo da racionalidade instrumental, que tende a fazer dos seres humanos objetos manipuláveis. Esta perversão da racionalidade manifesta-se particularmente nas empresas que atualmente procuram integrar a preocupação ética dentro de seu funcionamento. Pode-se constatar que, agindo desta forma, elas têm como objetivo, na maior parte das vezes, desenvolver um forte consenso em torno de seus próprios ideais tanto da parte de seus membros quanto do conjunto do corpo social. Devemos nos perguntar quais são os verdadeiros desafios é ticos com os quais as organizações modernas se confrontam. Com este objetivo, são revistos os conceitos de ética da convicção, da responsabilidade e da discussão. Uma quarta forma de ética, a ética da finitude, é vislumbrada. As organizações podem lhe dar um lugar? A questão merece, em todo caso, ser formulada.

desafios éticos; racionalidade; organizações modernas; responsabilidades


The reappearance of ethical concems reflects the profound disquiet in our societies in the wake of the triumph of instrumental rationality, with its tendency of making human beings into manipulatable objects. This perversion of rationality finds its expression particularly in companies, in spite of the fact that they are attempting to integrate a concem for ethics into their functioning at this time. It can be observed that, in doing this, their goal is most frequently to develop a strong consensus around the ideais from which they take their inspiration, both from their members and from the social body as a whole. We must ask what are the real ethical issues that confront modem organizations. To this end, the ethics of conviction, of responsability and of discussion are reviewed here. A fourth form of ethics, the ethics of finitude are considered. Can organizations make a place for this ethics? The question is in any case worth asking.

ethical issues; rationality; modern organizations; responsabilities


ORGANIZAÇÃO, RECURSOS HUMANOS E PLANEJAMENTO

Os desafios éticos nas organizações modernas

Eugène Enriquez

Professor e Diretor do DEA e do Curso de Doutorado em Sociologia da Universidade de Paris VII, Diretor Adjunto do Laboratório de Mudança Social da Universidade Paris VII. Conferencista na EAESP/FGV no 2º semestre de 1996

RESUMO

O reaparecimento das preocupações éticas traduz o profundo mal-estar de nossas sociedades em conseqüência do triunfo da racionalidade instrumental, que tende a fazer dos seres humanos objetos manipuláveis. Esta perversão da racionalidade manifesta-se particularmente nas empresas que atualmente procuram integrar a preocupação ética dentro de seu funcionamento. Pode-se constatar que, agindo desta forma, elas têm como objetivo, na maior parte das vezes, desenvolver um forte consenso em torno de seus próprios ideais tanto da parte de seus membros quanto do conjunto do corpo social. Devemos nos perguntar quais são os verdadeiros desafios é ticos com os quais as organizações modernas se confrontam. Com este objetivo, são revistos os conceitos de ética da convicção, da responsabilidade e da discussão. Uma quarta forma de ética, a ética da finitude, é vislumbrada. As organizações podem lhe dar um lugar? A questão merece, em todo caso, ser formulada.

Palavras-chave: desafios éticos, racionalidade, organizações modernas, responsabilidades.

ABSTRACT

The reappearance of ethical concems reflects the profound disquiet in our societies in the wake of the triumph of instrumental rationality, with its tendency of making human beings into manipulatable objects. This perversion of rationality finds its expression particularly in companies, in spite of the fact that they are attempting to integrate a concem for ethics into their functioning at this time. It can be observed that, in doing this, their goal is most frequently to develop a strong consensus around the ideais from which they take their inspiration, both from their members and from the social body as a whole. We must ask what are the real ethical issues that confront modem organizations. To this end, the ethics of conviction, of responsability and of discussion are reviewed here. A fourth form of ethics, the ethics of finitude are considered. Can organizations make a place for this ethics? The question is in any case worth asking.

Key words: ethical issues, rationality, modern organizations, responsabilities.

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Full text available only in PDF format.

1. DUVIGNAUD, J. La solidarité. Paris: Fayard, 1986.

2. MAFFESOLl, M. Le temps des tribus. Paris: Méridiens Klincksieck, 1988.

3. BELL, D. Les contradictions culturelles du capitalisme. Paris: P.U.F.,1979.

4. Em um texto anterior, L' identification comme processus d'intégration/exclusion In: MAPPA, S. L' Europe des douze et les outres, Paris: Karthala, 1992, analisamos mais completamente as conseqüências da racionalidade ocidental.

5. Tentamos analisar a emergência da perversão em nossos estudos Le pouvoir et la mor! (1973) e Le gardien des clés (1979), reproduzidos em Les figures du maître. Paris: Arcantére, 1991, como também em nossa obra De la horde à I ' Etat. Paris: Gallimard, 1983.

6. ENRlQUEZ, E. L'entreprise comme lieu social: un colosse aux pieds d'argile Irr. SAINSAULIEU,R. L'entreprise, une affaire de société, Paris: Fondation Nacionale des Sciences Poliliques, 1991.

7. CANETTI, E. Masse et puissance. Paris: Gallimard, 1960.

8. MONGIN, O. La peur du vide. Paris: Seuil, 1991.

9. LE GUYADER, A. Éthique et autorité. Texto mimeografado.

10. FABER, E. Main bassé sur la cité. Paris: Seuil, 1991.

11. Idem, ibidem. O autor ampliou a noção de empresa para "responsabilidade ilimitada".

12. ENRIQUEZ, E. Imaginaire social, refoulement et répression dans les organisations In: Connexions 3, Paris: EPI, 1972. A partir deste texto, numerosos autores tentaram analisar os processos de integração e de submissão ao poder da empresa.

13. Idem, ibidem.

14. ENRIQUEZ, E. Le pouvoir et la mort In: Les figures du maitre. Paris: L'Arcantére, 1973.

15. BLOCH & HABABOU, citados por FABER, E. Op. cít.

16. Quanto mais idealizamos o homem com palavras, mais o rebaixamos com atos. Este aforismo, mil vezes verificado, deveria ser reconhecido como uma lei sociológica.

17. Se não está em questão hipostasiar a natureza porque, deixando de lado (ainda) a floresta amazônica, toda a natureza é produto das ações humanas. É evidente que o problema "natural" é, enfim, colocado, e torna-se uma preocupação de todos os dirigentes políticos e não somente de alguns marginais (cf. a Conferência do Rio, 1992).

18. ENRIQUEZ, E. Op. cit. 1991.

19. Título do livro de MUSIL, R. O homem sem qualidades. Lisboa: Livros do Brasil, 1952.

20. FREUD, S. L'homme Morse et la religion monothéiste. Tradução recente. Paris: Gallimard, 1986.

21. Expressão de H. Ibsen, freqüentemente citada por Freud, particularmente em Moisés e o monoteísmo, Op. cit.

22. Cfr. MOSCOVICI, S. Psychologie des minorités actives. Paris: P.U.F., 1971.

23. WEBER, M. Le savant et le politique 10/18. lª ed., 1919, p. 173.

24. FREUD, S. & BULlTT. Le président Wilson. Tradução francesa. Paris: Payot, 1990.

25. Um autor como M. Crozier, particularmente reservado em relação a ações desmesuradas, nota, com humor, que, às vezes, a cabeça não fracassa e as paredes se quebram. Cfr. CROIZIER & FRIEDBERG. L'acteuret te systeme. Paris: Seuil, 1986.

26. ENRIQUEZ, E. Indlvidu, création et histoire. Connexions 44, EPI.

27. WEBER, M. Op. cit., p. 192.

28. HABERMAS, J. Raison et légitimilé. Paris: Payot, 1978, p. 150.

29. ____________. Morale et communication. Paris: Cerf, 1987, p. 87.

30. FERRY, L. Les puissances de I'expérience. Paris: Cerf, 1991, p. 172.

31. ENRIQUEZ, E. Chemins vers l'autre, chemins vers soi. In: MAPPA, S. Ambitionset iIIusions de la eoopération Nard-Sud. Paris: L'Harmallan, 1990.

Artigo originalmente publicado na revista Sociologie et Soeiétés, v. XXV, n. 1, p. 25-38, printemps 1993, sob o título Les enjeux éthiques dans les organizations modernes. Tradução de Maria José Tonelli, Professora do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurldicos da Administração da EAESP/FGV.

  • 1. DUVIGNAUD, J. La solidarité Paris: Fayard, 1986.
  • 2. MAFFESOLl, M. Le temps des tribus. Paris: Méridiens Klincksieck, 1988.
  • 3. BELL, D. Les contradictions culturelles du capitalisme. Paris: P.U.F.,1979.
  • 4. Em um texto anterior, L' identification comme processus d'intégration/exclusion In: MAPPA, S. L' Europe des douze et les outres, Paris: Karthala, 1992,
  • 6. ENRlQUEZ, E. L'entreprise comme lieu social: un colosse aux pieds d'argile Irr. SAINSAULIEU,R. L'entreprise, une affaire de société, Paris: Fondation Nacionale des Sciences Poliliques, 1991.
  • 7. CANETTI, E. Masse et puissance. Paris: Gallimard, 1960.
  • 8. MONGIN, O. La peur du vide. Paris: Seuil, 1991.
  • 9. LE GUYADER, A. Éthique et autorité. Texto mimeografado.
  • 10. FABER, E. Main bassé sur la cité. Paris: Seuil, 1991.
  • 12. ENRIQUEZ, E. Imaginaire social, refoulement et répression dans les organisations In: Connexions 3, Paris: EPI, 1972.
  • 14. ENRIQUEZ, E. Le pouvoir et la mort In: Les figures du maitre. Paris: L'Arcantére, 1973.
  • 19. Título do livro de MUSIL, R. O homem sem qualidades. Lisboa: Livros do Brasil, 1952.
  • 20. FREUD, S. L'homme Morse et la religion monothéiste. Tradução recente. Paris: Gallimard, 1986.
  • 22. Cfr. MOSCOVICI, S. Psychologie des minorités actives. Paris: P.U.F., 1971.
  • 23. WEBER, M. Le savant et le politique 10/18. lª ed., 1919, p. 173.
  • 24. FREUD, S. & BULlTT. Le président Wilson. Tradução francesa. Paris: Payot, 1990.
  • 25. Um autor como M. Crozier, particularmente reservado em relação a ações desmesuradas, nota, com humor, que, às vezes, a cabeça não fracassa e as paredes se quebram. Cfr. CROIZIER & FRIEDBERG. L'acteuret te systeme. Paris: Seuil, 1986.
  • 26. ENRIQUEZ, E. Indlvidu, création et histoire. Connexions 44, EPI.
  • 28. HABERMAS, J. Raison et légitimilé. Paris: Payot, 1978, p. 150.
  • 29. ____________. Morale et communication. Paris: Cerf, 1987, p. 87.
  • 30. FERRY, L. Les puissances de I'expérience. Paris: Cerf, 1991, p. 172.
  • 31. ENRIQUEZ, E. Chemins vers l'autre, chemins vers soi. In: MAPPA, S. Ambitionset iIIusions de la eoopération Nard-Sud. Paris: L'Harmallan, 1990.
  • Artigo originalmente publicado na revista Sociologie et Soeiétés, v. XXV, n. 1, p. 25-38, printemps 1993,

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1997
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