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The Peter prescription, how to make things go right. How to be creative, confident and competent

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt Ernst Weil

The Peter prescription, how to make things go right. How to be creative, confident and competent

Por Laurence J. Peter. William Morrow, 1972. New York, Bantam Edition, 1973. 238 p.

Após ter escrito o livro Todo mundo é incompetente (The Peter principie), já traduzido para o português, e, com toda razão, um imenso sucesso, eis o autor caminhando ao encontro daquilo que está na p. 6 do livro: "Sempre há uma solução fácil para todos os problemas humanos - simples, plausível e errada." (H. L Mencken)

Desta vez, após uma introdução cintilante de bom humor, o autor entra no pantanal das recomendações. Mas, de acordo com a p. 175 do livro: "A maior parte do nosso assim chamado raciocínio é constituída na procura e encontro de argumentos para que possamos continuar acreditando naquilo, do que já estamos convencidos." (J. H. Robinson)

E na p. 163: "O único homem que pode mudar de idéia é aquele que tem uma." (E. Westcott)

Devido ao fato de que todos os críticos do livro em epígrafe têm suas receitas infalíveis da felicidade administrativa e empresarial, a imprensa leiga, seus críticos (todos os que não são administradores com título de, no mínimo, bacharel, mas preferencialmente mestrado ou doutorado) e os profissionais (os "ditos cujos", mais sociólogos, advogados, etc.) não fizeram crítica muito lisonjeira para o autor. Todos concordam em que a receita de Peter nada mais é do que o repisar de velhas teorias. Isto é verdade. Tais críticas são, contudo, daqueles que não preferem ler velhas teorias apresentadas como uma coleção de bon mot. E, vista a amostra acima, tais aforismos contribuem para fazer as pessoas prestarem atenção no que se segue, o que já é um sucesso. Outra qualidade do livro é a de procurar despertar nas pessoas um reconhecimento de suas próprias limitações, a fim de evitar que caiam na incompetência. E essas duas imensas vantagens, além de proporcionar sorriso permanente ao leitor, muito mais equilibram as duas desvantagens da apresentação: a interrupção pelos aforismos da continuidade da obra e a subdivisão em pequenos capítulos com conselhos do Dr. Acácio A, D. e Miss Trativo (estes são o tipo de nomes empregados pelo autor).

O eventual tom crítico empregado nas resenhas aqui apresentadas deve-se ao fato de levar-se em conta a faculdade e capacidade técnica de cada um dos professores leitores. Quando um livro é técnico, a resenha pode, além do conteúdo, ter uma crítica técnico-científica, que permita ao leitor da RAE tomar a decisão de comprar eventualmente o livro. Quando o livro é evidentemente de divulgação, no sentido da chamada "Escola Absurda da Administração" (palavra cunhada pelo colega João Bosco Lodi), a resenha pode ser devidamente crítica, menos no conteúdo e mais na maneira de apresentar o célebre rident castigat mores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, nos seus trotes históricos.

Apesar de toda pieguice dos conselhos, dos quais damos uma amestra a seguir, eles não deixam de ser interessantes para os administradores:

P. 212, receita n.º 55: "Assegure ao empregado competente a segurança, por meio de aumento sistemático do status no seu lugar de trabalho." Por exemplo: nome pintado na porta do escritório, tamanho do escritório, tapetes etc.

P. 215, receita n.º 56: "Encoraje es empregados, fazendo-os acreditar que os pagamentos feitos a eles são baseados no desempenho."

P. 217, receita n.º 57: "Deve haver diferenças reais entre os benefícios que advêm de bom ou mau desempenho."

P. 219: O que se lê, por exemplo, na receita n,º 58 é a totalidade da receita, "Faça de seu trabalho uma empresa cooperativa, fazendo com que os empregados participem nos lucros."

"Todo homem deve ser respeitado como indivíduo e ninguém deve ser ídolo." (A. Einstein)

Observa-se que não há nada de novo nas receitas. Contudo, para se ter uma idéia do sabor do livro, bastam alguns trechos que exemplificam o aforismo conciso com que o autor líquida certos assuntos:

P. 193: "São as aparências que contam, não o desempenho", referindo-se à entrevista de admissão de pessoal; de fato, aspectos como cultura etc, são os fatores que determinam a preferência por um candidato, e a explicação vem nas imortais palavras de Gilvert, colaborador de texto na dupla Gilvert & Sullivan, da Época Vitoriana: "As coisas são raramente o que parecem ser, leite desnatado mascara-se de nata." (W. Gilvert)

Porém, não é somente em administração de pessoal que jorram conselhos que todo neófito pode identificar com facilidade como sendo repetição de velhas histórias. Por exemplo, na p. 183, a receita n.º 46 afirma que o "futuro, e provável, promovido deve ser testado antes", o que não deixa de ser profundamente acaciano.

Receita n.º 25; "Use palavras para mistificar em lugar de clarificar" é uma receita muito velha.

Restam as primeiras 64 páginas de pura alegria. Nelas, na parte chamada "círculo fechado da incompetência" tudo é relembrado, desde a lei de Murphy:

"1) Nada é tão fácil como parece ser.

2) Tudo leva mais tempo do que você estava pensando.

3) Se alguma coisa puder falhar, falhará." (p. 38).

Até Sexo e a sociedade ou A vida após o nascimento - que começa com o brilhante aforismo: "Meu bem, estamos vivendo numa época de transição, disse Adão, enquanto acompanhava Eva para fora do paraíso" (W. Inge) e continua: "Noiva é uma mulher com um bom futuro, de felicidade deixada no passado." (Ambrose Bierce)

Portanto, recomendamos o livro para uma tarde chuvosa em casa, pois em umas quatro horas pode-se terminá-lo e se uns 10 aforismos ficarem na memória, o leitor, como administrador, não aprendeu muito, ou mesmo nada, mas como orador ou como companheiro de conversas poderá dar a palavra exata no momento certo, o que lhe parecerá ter adquirido certo brilhantismo - e afinal é isso o que mais desejamos; ou como diz o autor: "As coisas são mais facilmente faladas do que feitas, a não ser que você gagueje," (R. Lewton)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 1974
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