Resumos
O consórcio de eucalipto com sesbânia na reabilitação de cavas de extração de argila pode representar uma forma de uso com benefícios ecológicos e econômicos, tendo em vista a sub-utilização a que essas cavas estão sendo submetidas. Este trabalho teve por objetivo avaliar a sobrevivência, o crescimento inicial e características fisiológicas de Eucalyptus camaldulensis, E. tereticornis, E. robusta e E. pellita, em monocultivos e plantios consorciados com Sesbania virgata. Foram instalados dois experimentos (monocultivo e plantio consorciado), numa cava de extração de argila, segundo o delineamento em blocos casualizados com quatro repetições. Os plantios consorciados favoreceram a sobrevivência das espécies. Os eucaliptos no monocultivo apresentaram maior crescimento inicial em diâmetro do colo e em área de copa. As espécies de eucalipto responderam aos efeitos do consórcio e das podas ao longo do tempo, exceto E. tereticornis.
Eucalyptus spp.; monocultivo; plantio consorciado
Intercropping of Eucalyptus and sesbania for the recovery of clay mining diggings can represent ecological and economic benefits. This work aimed to evaluate survival, initial growth and physiological characteristics of Eucalyptus camaldulensis, E. tereticornis, E. robusta and E. pellita, monocropped and intercropped with Sesbania virgata. Two experiments (monocropping and intercropped) were set up in a clay mining digging, arranged in a randomized block design with 4 replicates. Intercropping favored the survival of the species. Eucalyptus monocropping presented a greater initial growth in soil level diameter and canopy area. The eucalyptus species responded to the effects of intercropping and pruning, along time, except for E. tereticornis.
Eucalyptus spp.; monocropping; intercropping
Monocultivo de eucalipto e consórcio com sesbânia: crescimento inicial em cavas de extração de argila
Eucalyptus monocropping and intercropped with sesbania: initial growth in clay mining diggings
Anderson Ribeiro SantiagoI; Deborah Guerra BarrosoII; Andrea Vita Reis MendonçaIII; Eliemar CampostriniII; José Geraldo de Araújo CarneiroII; Edênio DetmannIV
IInstituto Natureza do Tocantins, Araguaína-TO. E-mail: <andersantiago@ibest.com.br>
IIUniversidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Campos dos Goytacazes-RJ. E-mail: <deborah@uenf.br>; <carneiro@uenf.br>
IIIDepartamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) - Cruz das Almas-BA. E-mail: <avrmendonca@hotmail.com>
IVDepartamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: <detmann@ufv.br>
RESUMO
O consórcio de eucalipto com sesbânia na reabilitação de cavas de extração de argila pode representar uma forma de uso com benefícios ecológicos e econômicos, tendo em vista a sub-utilização a que essas cavas estão sendo submetidas. Este trabalho teve por objetivo avaliar a sobrevivência, o crescimento inicial e características fisiológicas de Eucalyptus camaldulensis, E. tereticornis, E. robusta e E. pellita, em monocultivos e plantios consorciados com Sesbania virgata. Foram instalados dois experimentos (monocultivo e plantio consorciado), numa cava de extração de argila, segundo o delineamento em blocos casualizados com quatro repetições. Os plantios consorciados favoreceram a sobrevivência das espécies. Os eucaliptos no monocultivo apresentaram maior crescimento inicial em diâmetro do colo e em área de copa. As espécies de eucalipto responderam aos efeitos do consórcio e das podas ao longo do tempo, exceto E. tereticornis.
Palavras-chave:Eucalyptus spp., monocultivo e plantio consorciado.
ABSTRACT
Intercropping of Eucalyptus and sesbania for the recovery of clay mining diggings can represent ecological and economic benefits. This work aimed to evaluate survival, initial growth and physiological characteristics of Eucalyptus camaldulensis, E. tereticornis, E. robusta and E. pellita, monocropped and intercropped with Sesbania virgata. Two experiments (monocropping and intercropped) were set up in a clay mining digging, arranged in a randomized block design with 4 replicates. Intercropping favored the survival of the species. Eucalyptus monocropping presented a greater initial growth in soil level diameter and canopy area. The eucalyptus species responded to the effects of intercropping and pruning, along time, except for E. tereticornis.
Keywords: Eucalyptus spp., monocropping and intercropping.
1. INTRODUÇÃO
O impacto ambiental causado pela atividade de extração de argila, no Município de Campos dos Goytacazes, RJ, tem sido relatado por alguns autores (COSTA JÚNIOR, 1997; COUTINHO, 2003; SANTIAGO et al., 2004; SCHIAVO et al., 2004).
Estima-se que as cerâmicas da região retiram da camada subsuperficial do solo um total de 5.700 m3 dia-1 de matéria-prima. No entanto, geram cerca de 6.000 empregos diretos e movimentam em torno de R$ 168 milhões por ano, destacando-se o município como o segundo maior produtor de tijolos do Brasil (RAMOS et al., 2003).
A atividade de extração de argila causa, assim, sérios danos ambientais, ao mesmo tempo que gera empregos e movimenta uma economia importante. Segundo a Constituição Federal (Artigo 225, Parágrafo 2º), o explorador é obrigado a recuperar o ambiente degradado. O plantio de espécies florestais de uso múltiplo, que auxiliem a melhorias química e física das cavas, resultante de um ciclo mais longo de produção, pode representar uma possibilidade vantajosa de utilização dessas áreas, permitindo conciliar retorno econômico e sustentabilidade ao empreendimento.
É necessário, entretanto, avaliar o comportamento das espécies e sua adaptação às condições das cavas, identificando material com potencial produtivo.
Várias técnicas de plantio, como consórcio entre espécies, cultivo em aléias, conduzidas via podas, e sistemas agroflorestais, têm sido testadas em ambientes com algum estágio de degradação (AMADOR e VIANA, 1998; ARATO et al., 2003; MAFRA et al. , 1998a; NÓBREGA et al., 2002). Os resultados indicaram aumento no teor de matéria orgânica no solo e, de maneira geral, na disponibilidade de nutrientes, além da diversificação da produção agrícola (CECCON et al. , 1999).
Schiavo et al. (2004), avaliando o consórcio de Eucalyptus camaldulensis Dehn com Acacia mangium Willd, em cavas de extração de argila, constataram que o crescimento do eucalipto foi favorecido, entre outros fatores, pelo consórcio com a leguminosa arbórea. Rodrigues et al. (2003a), consorciando Eucalyptus grandis com Sesbania virgata (Cav.) Pers, em condições controladas, comprovaram, em todos os tratamentos, a transferência de N das plantas de sesbânia para o eucalipto.
Vezzani et al. (2001), avaliando o crescimento em altura e diâmetro de E. saligna (Smith), aos 45 meses, em plantios puros e consorciados com Acacia mearnsii (Wild.), no espaçamento de 4,0 x 1,5 m, não constataram diferenças entre os sistemas de plantio. Ao contrário, Parrota (1999), em monocultivos e plantios consorciados de Casuarina equestifolia, Eucalyptus robusta e Leucaena leucocephala, aos 8,5 anos de idade, verificou que a produtividade total de biomassa da parte aérea no consórcio do eucalipto com qualquer uma das outras espécies foi quase duas vezes maior que no seu monocultivo. Também, Baliero et al. (2004) observaram no consórcio de E. grandis com guachapele (Pseudosamanea guachapele), plantados em linhas alternadas no espaçamento de 3 x 1 m, que as árvores de eucalipto apresentaram diâmetro 29% maiores no plantio consorciado, com relação ao monocultivo, aos 7 anos. No entanto, Jesus e Dias (1988), trabalhando com espaçamento menor (2,73 x 2,73 m), observaram que a produtividade em m3 ha-1 ano-1 de E. urophylla Blake, aos sete anos, foi menor no consórcio com Leucaena leucocephala Lam.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a sobrevivência e o crescimento inicial da parte aérea e do sistema radicular, bem como algumas características fisiológicas (massa específica foliar e estimativa de teor de clorofila, pelo medidor portátil de clorofila - MPC ou valor SPAD - Soil Plant Analysis Development) de Eucalyptus camaldulensis Dehn, E. tereticornis Sm, E. robusta Sm e E. pellita F. Muell, em plantios puros e consorciados com Sesbania virgata (Cav.) Pers., numa cava resultante da extração de argila.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Em uma cava de extração de argila1, localizada no distrito de Campo Limpo (21º51'S, 41º14'W, a altitude de 14 m), Campos do Goytacazes, RJ, foram instalados dois experimentos.
A extração de argila é realizada, no município, em planície com material do período Quaternário, do Baixo Paraíba do Sul, local em que os solos apresentam grandes reservas de argila. Em trabalho de caracterização edáfica da área, Valicheski (2004) identificou o solo original como um Cambissolo Háplico Sódico gleico salino, formado a partir de sedimentos aluviais de uma seqüência variada de extratos do rio Paraíba do Sul, ocorrida no período quaternário (holoceno). O relevo apresentase plano.
Com 1 ha de extensão, a cava foi explorada no período de 1999 a 2002, a uma profundidade de extração variando de 2 a 2,5m. O lençol freático foi encontrado, no período seco, a 1,4 m de profundidade e, no período chuvoso, a 1 m.
A temperatura média mensal do município variou, nos últimos 10 anos, entre 21,4 ºC e 27,7 ºC. No período experimental, a temperatura média mensal variou de 18,3 ºC a 28,2 ºC, com precipitação de 767 mm, distribuída conforme Figura 1.
Monocultivos e plantios consorciados de eucalipto foram conduzidos em blocos casualizados, com quatro repetições, de 18 plantas. Os plantios foram realizados no mês de julho de 2003, sem nenhuma adubação de plantio ou de manutenção. No monocultivo, mudas de Eucalyptus camaldulensis Dehn, E. tereticornis Sm, E. robusta Sm e E. pellita F. Muell foram plantadas em covas, no espaçamento 3 x 2 m. No plantio consorciado, as mudas dessas espécies foram plantadas, no mesmo espaçamento, nas entrelinhas da leguminosa arbustiva Sesbania virgata (Cav.) Pers, que na época estava com altura média de 2,80 ± 0,12 m, aos 12 meses de idade.
No consórcio, as plantas de sesbânia foram podadas aos 10, 16 e 22 meses, com duas finalidades: primeiro para maximizar a disponibilidade de nutrientes as plantas e, segundo, em razão de ter sido detectada uma tendência de estabilização no crescimento em altura e diâmetro do colo da leguminosa, aferida por Coutinho et al. (2005), aos 10 meses. O material resultante da poda foi distribuído, de forma homogênea, nas entrelinhas de plantio
Antes do plantio, para caracterização, foi coletada uma amostra do substrato por bloco, composta por quatro subamostras, em duas profundidades. Para análise granulométrica e caracterização química, as profundidades de amostragem foram: 0 a 20 cm e 20 a 40 cm. Para porosidade, densidade da partícula e do substrato, as profundidades de amostragem foram: 0 a 10 cm e 10 a 20 cm. Na análise química, foram determinados pH (em água), acidez potencial, condutividade elétrica e carbono orgânico, segundo a metodologia descrita pela EMBRAPA (1997) e os teores de P, K e Na extraíveis por Mehlich-1, Ca, Mg e Al trocáveis pelo KCl 1 mol L-1. Nas análises físicas, foram determinados, segundo métodos descritos em EMBRAPA (Op. cit.), densidade do substrato (anel volumétrico) e da partícula (balão volumétrico), porosidade total, macro e microporosidade (mesa de tensão, com amostras saturadas) e composição granulométrica, pelo método da pipeta.
Os dados foram testados quanto à normalidade, para obtenção do intervalo de confiança para a média (α = 0,01) (Tabelas 1 e 2).
A cada dois meses, foi avaliado o incremento médio em altura, diâmetro do colo e área de copa, até os 10 meses, e a sobrevivência dos eucaliptos foi determinada aos quatro meses de idade.
Mensalmente, a partir do quinto mês após o plantio foi quantificada a clorofila (Valor SPAD), por meio do Medidor Portátil de Clorofila (MPC) (ARGENTA et al., 2001; ZOTARELLI et al., 2002; TORRES NETO et al. , 2002; CHANG e ROBISON, 2003; CARVALHO et al. , 2004; TORRES NETO et al. , 2005; ALMEIDA et al. , 2005) e a Massa Específica Foliar (MEF). Adicionalmente, foi testada a correlação entre o comprimento foliar e o MPC, em duas épocas (período chuvoso e seco).
A quantidade de clorofila foi avaliada em três plantas por parcela, com dimensões mais próximas às médias da parcela. A leitura foi efetuada na primeira folha expandida do sexto ramo a partir do ápice das plantas. Com o auxílio de um medidor portátil de clorofila (modelo SPAD-502, Minolta), procedeu-se a leitura em três pontos do limbo foliar, sendo utilizado para análise o valor médio obtido a partir destes.
A Massa Específica Foliar (MEF) foi determinada em uma planta de cada parcela, da qual foram coletadas quatro folhas (uma por quadrante), totalmente expandidas e localizadas no terço superior da planta. O critério de seleção das plantas foi o mesmo da determinação da quantidade de clorofila. Após a coleta, as folhas foram acondicionadas numa caixa de isopor com gelo, envoltas em filme plástico. Posteriormente, procedeuse à medição da área foliar (modelo LI-3000, LI-COR Inc.). Em seguida, o material foi seco em estufa de ventilação forçada a 65 ºC, por 48 h, e a seguir, pesado.
Durante os meses de janeiro e julho de 2004 (6 e 12 meses após o plantio), na segunda folha a partir do ápice, das três plantas de cada parcela utilizadas para determinação do valor SPAD, foi realizada a medição, a cada três dias, do valor SPAD e comprimento foliar.
Com o objetivo de caracterizar o nível de luminosidade a que as plantas estavam sendo submetidas no momento das avaliações de valor SPAD e MEF, foi determinado, com o auxílio de um "quantômetro em linha", o Fluxo de Fótons Fotossintéticos - FFF (Tabela 4). No período do dia próximo ao zênite, em dias não nublados, as leituras foram efetuadas num ponto central dentro de cada parcela a 1 m de altura.
Aos 12 meses de idade, foram avaliados a área superficial e o comprimento de raízes finas dos eucaliptos, nos dois sistemas de cultivo. As coletas foram realizadas com o auxílio de um trado ( = 2,5 cm), na profundidade de 0 a 10 cm. Foram tomadas duas amostras por repetição, sendo uma retirada a 20 cm e outra a 40 cm de distância da planta média, na linha de plantio do eucalipto. Posteriormente, procedeu-se a separação das raízes do solo mediante a lavagem.
A quantificação de raízes finas foi realizada por meio do programa QuantRoot2 , que realiza medição direta das raízes nas imagens digitalizadas em escala real.
Foi realizada análise conjunta dos experimentos por sistema de cultivo. Para a análise dos incrementos foi utilizado o esquema fatorial 4 x 4 x 2, sendo quatro espécies, quatro períodos de avaliação e dois sistemas de cultivo. Para o valor SPAD e MEF, o esquema fatorial foi 2 x 4 x 4 e 2 x 4 x 7, respectivamente. E cada valor correspondeu, em ordem, aos sistemas de plantio, número de espécies e períodos de avaliação.
Os dados foram testados quanto à homocedasticidade, pelo teste de Cochran, e quanto à distribuição normal dos resíduos, pelo teste de Lilliefors. Para a característica sobrevivência, constatouse heterocedasticidade, e foi realizada a transformação dos dados para arcosseno (%/100)1/2.
Os dados foram submetidos à análise de variância, sendo constatado significância. Para as características quantitativas, foram ajustadas equações de regressão pelo método de regressão sequencial, sendo observada a distribuição gráfica dos resíduos padronizados. Para as características qualitativas, aplicou-se, em razão da sua variabilidade, o teste de Tukey (5%) ou o de Duncan (5%).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os atributos químicos do substrato (Tabela 1) encontram-se em níveis elevados ou adequados para a implantação do eucalipto, exceto P assimilável (BARROS et al., 2000; NOVAIS et al., 1986). No entanto, para alguns atributos físicos como macroporosidade, os valores determinados foram muito baixos (Tabela 2), com valores próximos aos encontrados por Valicheski et al. (2003) em outras cavas de extração de argila
A sobrevivência das espécies (Tabela 5) tanto no plantio consorciado quanto no monocultivo pode ser considerada satisfatória, se for tomado como exemplo um ensaio de diferentes procedências de eucalipto e sistemas de plantio em solos de tabuleiro da região, onde o percentual médio de sobrevivência de Eucalyptus camaldulensis e E. pellita foi de 75% (BARROSO e CARNEIRO, 2002).
Não houve diferença de sobrevivência entre as espécies. Entretanto, em razão do sistema de plantio, foi observada sobrevivência 8,74% maior no consorciado. Piotto et al. (2004), estudando plantios mistos na Costa Rica, também constataram maior sobrevivência de espécies como Schizolobium parahyba (Vell.) Blake em consórcio que em monocultivos, com diferença de até 40%.
O favorecimento da sobrevivência das plantas no plantio consorciado pode ter ocorrido em razão das condições favoráveis promovidas pela sesbânia às plantas de eucalipto, mantendo a umidade do substrato e, ou, protegendo-as contra intempéries ambientais, como vento e alta radiação solar (Tabela 4).
As interações entre as espécies em plantios consorciados nem sempre são, entretanto, positivas. Jesus e Dias (1988), estudando monocultivos e consórcios de Eucalyptus urophylla S. T. Blake e Leucaena leucocephala (Lam), no espaçamento 2,73 x 2,73 m, observaram, aos 7 anos, maior sobrevivência do eucalipto no monocultivo. Apesar do espaçamento por eles utilizado ser um pouco mais amplo do que neste ensaio, a menor sobrevivência do eucalipto consorciado parece estar associada à característica mais agressiva da leucena, já mencionada por Mafra et al. (1998b) em outro ensaio.
Também não foram observadas diferenças entre as espécies para diâmetro do colo, altura e área de copa no 10º mês após o plantio (Tabela 6).
O monocultivo constou plantas com diâmetro do colo e área de copa superiores às do consórcio em 15,97% e 20,97%, respectivamente (Tabela 6). Não houve diferença de altura entre as espécies, nem variação dessa característica entre os plantios. Também, Barroso e Carneiro (2002), em solos de tabuleiro da região, com monocultivos de diferentes espécies e procedências de eucalipto (Eucalyptus grandis, E. camaldulensis, E. pellita, E. urophylla, Corymbia citriodora) e em consórcio deE. camaldulensiscomTectona grandis e Acacia mangium, não encontraram efeito dos sistemas de plantio na altura dos eucaliptos aos 6 meses e 1 ano de idade.
Neste ensaio, os eucaliptos estavam com altura média, aos 12 meses de idade, de 2,81 m. Nessa fase, o E. camaldulensis, quando consorciado com a leguminosa Acacia mangium, apresentou 3,99 m de altura. Esses valores se encontraram próximos ou inferiores aos encontrados nessa cava em plantios com 10 meses de idade.
Os maiores valores de diâmetro do colo e área de copa dos eucaliptos no monocultivo indicam possível competição inicial entre as espécies quando consorciadas, principalmente porque a sesbânia já estava implantada antes do plantio dos eucaliptos. É possível que, com o crescimento das espécies de eucalipto, essas diferenças dendrométricas entre os sistemas de plantio sejam alteradas de forma gradativa.
A diferença no comportamento dos eucaliptos nos dois sistemas de plantio pode ser observada na Figura 2, para incremento em diâmetro do colo na Figura 3 e para incremento em altura e na Figura 4, para incrementos em área de copa. Observou-se que, da mesma forma da análise aos 10 meses de idade, houve efeito dos sistemas de plantio nos incrementos em diâmetro do colo e área de copa.
Embora não tenham sido detectadas diferenças de altura entre as espécies, nem entre o comportamento destas diante do sistema de plantio (Tabela 6), ao longo do tempo foi observado padrão de incremento diferenciado das espécies, conforme o sistema de plantio adotado (Figura 3). Essas diferenças, em especial no plantio consorciado, parecem estar associadas ao manejo adotado e à sensibilidade delas em resposta a esse manejo.
No período compreendido entre o 8º e o 10º mês houve incremento mais acentuado em altura das espécies no plantio consorciado, exceto em E. tereticornis, que apresentou incremento linear (Figura 3A). Nos meses antecedentes (6º ao 8º mês), houve queda nesse incremento.
No período compreendido entre o 6º e o 10º mês, ocorreu de forma sequencial queda na disponibilidade hídrica, do 6º para o 8º mês (Figura 1), seguida de aumento e maior sombreamento pela interceptação das copas das sesbânias (Tabela 4). O incremento em altura nessa ocasião, entre o 8º e o 10º mês, foi mais expressivo em E. robusta Sm e E. pellita F. Muell. - espécies essas que apresentaram maior valor SPAD (Tabela 7).
Apesar de o valor SPAD, na análise ao longo do tempo, não ter variado entre as espécies e sistemas de plantio (Figura 5), essa característica, por ser uma estimativa de teor de clorofila, com papel fundamental na aquisição de carbono, pode ter colaborado com o aumento mais acentuado do incremento em altura de E. robusta Sm e E. pellita F. Muell, durante o período de maior interceptação de luz pela sesbânias. Assim, espera-se que essa estimativa se correlacione com algumas características de crescimento das espécies. Nesse raciocínio, procurou-se correlacionar os valores SPAD com o comprimento foliar das espécies de eucalipto em períodos chuvoso e seco.
O valor SPAD correlacionou-se positivamente com o comprimento foliar nas duas épocas de avaliação (Tabela 8), indicando relação estreita entre o valor obtido no medidor portátil de clorofila (MPC) e no crescimento foliar.
Detectou-se efeito dos sistemas de plantio e da época de avaliação da Massa Específica Foliar (MEF), bem como comportamento diferenciado entre as espécies (Figura 6). A MEF, razão entre a massa e a área foliar, denota "espessura" de folha e é uma característica fisiológica muito influenciada pela incidência de luz (TAIZ e ZEIGER, 2004).
No monocultivo, as curvas que descrevem os valores da MEF são das quatro espécies de eucalipto, lineares ao longo do tempo (Figura 6B). No plantio consorciado, em que a competição inicial por luz, água e nutrientes possivelmente foi maior, as oscilações nos valores de MEF ocorridas ao longo do tempo indicaram que as variações de luz e água influenciaram grandemente essa característica (Figura 6A).
Todas as espécies de eucalipto, no plantio consorciado apresentaram, para a característica MEF, queda acentuada entre o 8º e o 9º mês, seguida de um aumento até meados do mês seguinte. A queda na MEF no consórcio coincidiu com o menor Fluxo de Fótons Fotossintéticos (FFF) no sub-bosque da sesbânia (Tabela 4) e diminuição da precipitação pluviométrica, mês de março de 2004 (Figura 1), podendo o aumento estar associado à maior disponibilidade luminosa, proporcionada pela poda na leguminosa realizada 15 dias antes da avaliação ao 10º mês e de água.
O incremento em altura de E. tereticornis no consórcio foi linear ao longo do tempo, ainda que inferior ao plantio puro (Figura 3), demonstrando menor influência do consórcio e do manejo via podas periódicas sobre essa espécie para essa característica. Isso pode ser explicado se se observar a sua produção em área superficial e comprimento de raízes finas no plantio consorciado (Tabela 9).
A oscilação no incremento em altura dos eucaliptos ao longo do tempo, no plantio consorciado, conforme discutido anteriormente, parece ser função da disponibilidade hídrica e de luz. Entre o 8º e o 10º mês houve aumento na precipitação pluviométrica, associado à maior disponibilidade de luz proporcionada pela poda. Nesse período, todas as espécies, exceto o E. tereticornis, responderam no incremento em altura, notadamente as espécies com maior valor SPAD (E. robusta e E. pellita). É possível que a falta de resposta do E. tereticornis esteja associado à sua menor produção de raízes finas. Como essas raízes são importantes no acesso aos recursos do solo (GONÇALVES, 1995; GRANT et al., 2001; FREITAS et al., 2008), quando os fatores que poderiam estar limitando são minimizados, as espécies com sistema radicular mais estabelecido respondem rapidamente em crescimento.
Apesar de esses resultados serem preliminares em um ensaio com vistas a respostas de médio e longo prazos, observou-se que podas sincronizadas em períodos de maior disponibilidade de água podem favorecer o incremento inicial em altura das espécies de eucalipto em sistemas consorciados.
A adoção de espaçamentos maiores pode vir a favorecer a produção do eucalipto consorciado com sesbânia em cavas de extração de argila, conforme observado por Vezzani et al. (2001), no consórcio de E. saligna (Smith) com Acacia mearnsii (Wild.), havendo redução do efeito da competição inicial e potencializando os benefícios da leguminosa no aporte de recursos. Esses benefícios poderão ser ainda observados nas avaliações ao longo do ciclo de produção do eucalipto.
Outro fator a ser considerado em consórcios é a ocorrência de pragas e doenças. No 6º mês após o plantio dos eucaliptos, foi observada a presença de um coleóptero, ainda em processo de identificação, e sua ocorrência foi de 23,26% nas espécies sob consórcio, com menor ocorrência no E. tereticornis Sm (15,28%). Não se observou presença do coleóptero no monocultivo.
4.CONCLUSÕES
Os plantios consorciados com Sesbania virgata (Cav.) Pers favoreceram a sobrevivência das espécies de eucalipto.
Os eucaliptos no monocultivo apresentaram maior crescimento inicial em diâmetro do colo e em área de copa, em relação ao plantio consorciado.
As espécies de eucalipto, nos primeiros 10 meses, são responsivas ao consórcio e ao manejo via podas periódicas, exceto o Eucalyptus tereticornis Sm.
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Recebido em 18.09.2007 e aceito para publicação em 26.01.2009.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
03 Abr 2009 -
Data do Fascículo
Fev 2009
Histórico
-
Aceito
26 Jan 2009 -
Recebido
18 Set 2007