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Acesso transglúteo para punção percutânea de abscesso prostático guiada por tomografia computadorizada

INTRODUÇÃO

O abscesso prostático é uma ocorrência clínica rara, que pode resultar em complicações graves como urossepse e morte se não houver diagnóstico e tratamento adequados(11 Jang K, Lee DH, Lee SH, et al. Treatment of prostatic abscess: case collection and comparison of treatment methods. Korean J Urol. 2012;53:860-4.). Uma vez estabelecido o diagnóstico, a administração de antibióticos, de dreno perineal aberto ou a ressecção transuretral do abscesso prostático são habitualmente realizadas. Atualmente, procedimentos minimamente invasivos, como aspiração por agulha guiada por métodos de imagem, estão bem estabelecidos dentro da prática radiológica intervencionista e são preferíveis aos métodos convencionais, com baixo índice de complicações e bons resultados terapêuticos(11 Jang K, Lee DH, Lee SH, et al. Treatment of prostatic abscess: case collection and comparison of treatment methods. Korean J Urol. 2012;53:860-4.

2 Garcia RG, Macedo Filho CL, Maurano A, et al. Image-guided percutaneous procedures in deep pelvic sites: review of the main approaches. Radiol Bras. 2008;41:343-8.

3 Schiavon LHO, Tyng CJ, Travesso DJ, et al. Computed tomography-guided percutaneous biopsy of abdominal lesions: indications, techniques, results, and complications. Radiol Bras. 2018;51:141-6.

4 Carneiro GAC, Arantes Pereira FP, Lopes FPPL, et al. Magnetic resonance imaging-guided vacuum-assisted breast biopsy: experience and preliminary results of 205 procedures. Radiol Bras. 2018;51:351-7.

5 Tibana TK, Santos RFT, Arão Filho A, et al. Detection of additional primary malignancies: the role of CT and PET/CT combined with multiple percutaneous biopsy. Radiol Bras. 2019;52:166-71.

6 Tibana TK, Grubert RM, Camilo DMR, et al. Computed tomography-guided puncture using a mobile application for a motion sensor-equipped smartphone. Radiol Bras. 2019;52:245-6.

7 Nunes TF, Tibana TK, Santos RFT, et al. Percutaneous insertion of bilateral double J stent. Radiol Bras. 2019;52:104-5.
-88 Tibana TK, Grubert RM, Santos RFT, et al. Percutaneous nephrostomy versus antegrade double-J stent placement in the treatment of malignant obstructive uropathy: a cost-effectiveness analysis from the perspective of the Brazilian public health care system. Radiol Bras. 2019;52:305-11.).

As drenagens percutâneas de abscessos pélvicos são desafiadoras em razão da interposição de grande número de estruturas anatômicas. Consequentemente, várias rotas de acesso e técnicas de drenagem foram descritas(22 Garcia RG, Macedo Filho CL, Maurano A, et al. Image-guided percutaneous procedures in deep pelvic sites: review of the main approaches. Radiol Bras. 2008;41:343-8.,99 Kuligowska E, Keller E, Ferrucci JT. Treatment of pelvic abscesses: value of one-step sonographically guided transrectal needle aspiration and lavage. AJR Am J Roentgenol. 1995;164:201-6.). Para que o procedimento seja bem sucedido, é fundamental o planejamento da via de acesso, que necessita de um conhecimento detalhado da anatomia pélvica. As principais vias para a abordagem das lesões pélvicas profundas são: transabdominais (anterior e lateral), extraperitonial anterolateral, transvaginal, transretal e transglútea(99 Kuligowska E, Keller E, Ferrucci JT. Treatment of pelvic abscesses: value of one-step sonographically guided transrectal needle aspiration and lavage. AJR Am J Roentgenol. 1995;164:201-6.).

No acesso transglúteo o paciente geralmente é posicionado em decúbito ventral ou em decúbito lateral. Esta técnica também é denominada de transciática, pois a agulha irá passar pelo forame isquiático maior. Quando possível, a agulha irá transfixar o ligamento sacroespinhoso, localizado abaixo do nível do músculo piriforme, para evitar a lesão dos vasos glúteos e do plexo sacral que estão localizados anteriormente ao músculo. As lesões elegíveis para o emprego dessa técnica são as posteriores à bexiga urinária e massas anexiais(99 Kuligowska E, Keller E, Ferrucci JT. Treatment of pelvic abscesses: value of one-step sonographically guided transrectal needle aspiration and lavage. AJR Am J Roentgenol. 1995;164:201-6.,1010 Maher MM, Gervais DA, Kalra MK, et al. The inaccessible or undrainable abscess: how to drain it. Radiographics. 2004;24:717-35.). Este acesso tem as vantagens de evitar a transfixação do peritônio, minimizar riscos de lesões a intestino, bexiga e vasos ilíacos, e permitir acesso estável à agulha que irá transfixar uma massa muscular estática, isenta dos movimentos respiratórios da parede abdominal. A desvantagem recai no posicionamento pouco confortável do decúbito ventral, trazendo mais dificuldades a respiração e manejo anestésico.

PROCEDIMENTO

A revisão dos exames de imagem antes do procedimento é de suma importância para o sucesso técnico, com base na melhor definição anatômica, identificação do abscesso prostático e planejamento de um trajeto seguro para a agulha de punção.

O acesso transglúteo realizado com o paciente em decúbito ventral (Figura 1), anestesia local e orientação tomográfica permite a visualização da agulha de aspiração 17G desde sua inserção na pele até a cavidade pélvica (Figura 2). A agulha irá passar pelo forame isquiático maior e transfixar o ligamento sacroespinhoso, localizado abaixo do nível do músculo piriforme, para evitar a lesão dos vasos glúteos e do plexo sacral que estão localizados anteriormente ao músculo(99 Kuligowska E, Keller E, Ferrucci JT. Treatment of pelvic abscesses: value of one-step sonographically guided transrectal needle aspiration and lavage. AJR Am J Roentgenol. 1995;164:201-6.). Aspiração do conteúdo abscedido, lavagem com soro fisiológico 0,9% - 50 mL utilizando seringa Luer Lock de 10 mL - e antibioticoterapia apresentam alta taxa de sucesso (Figura 3) e poucas complicações, comparadas a ressecção transuretral do abscesso e inserção perineal de cateter de grande calibre com drenagem a longo prazo para controlar a infecção residual; entretanto, é uma técnica pouco difundida(22 Garcia RG, Macedo Filho CL, Maurano A, et al. Image-guided percutaneous procedures in deep pelvic sites: review of the main approaches. Radiol Bras. 2008;41:343-8.,99 Kuligowska E, Keller E, Ferrucci JT. Treatment of pelvic abscesses: value of one-step sonographically guided transrectal needle aspiration and lavage. AJR Am J Roentgenol. 1995;164:201-6.

10 Maher MM, Gervais DA, Kalra MK, et al. The inaccessible or undrainable abscess: how to drain it. Radiographics. 2004;24:717-35.
-1111 Gee MS, Kim JY, Gervais DA, et al. Management of abdominal and pelvic abscesses that persist despite satisfactory percutaneous drainage catheter placement. AJR Am J Roentgenol. 2010;194:815-20.). As vantagens desse procedimento incluem menor potencial de complicações e ser realizado sob anestesia local e sedação, minimizando os riscos de adversidades pós-anestesia geral, principalmente em pacientes graves, além da possibilidade de o procedimento ser repetido em caso de recidiva. Deve, idealmente, ser realizada por radiologistas intervencionistas com treinamento em procedimentos percutâneos(99 Kuligowska E, Keller E, Ferrucci JT. Treatment of pelvic abscesses: value of one-step sonographically guided transrectal needle aspiration and lavage. AJR Am J Roentgenol. 1995;164:201-6.

10 Maher MM, Gervais DA, Kalra MK, et al. The inaccessible or undrainable abscess: how to drain it. Radiographics. 2004;24:717-35.
-1111 Gee MS, Kim JY, Gervais DA, et al. Management of abdominal and pelvic abscesses that persist despite satisfactory percutaneous drainage catheter placement. AJR Am J Roentgenol. 2010;194:815-20.).

Figura 1
Tomografia computadorizada de pelve pós-contraste, aquisição axial, mostrando abscesso prostático.

Figura 2
Acesso transglúteo guiado por tomografia computadorizada realizado com o paciente em decúbito ventral (A) e aspiração de conteúdo purulento (B).

Figura 3
Tomografia computadorizada realizada quatro semanas após o tratamento, sem coleções prostáticas residuais ou recidivadas.

REFERENCES

  • 1
    Jang K, Lee DH, Lee SH, et al. Treatment of prostatic abscess: case collection and comparison of treatment methods. Korean J Urol. 2012;53:860-4.
  • 2
    Garcia RG, Macedo Filho CL, Maurano A, et al. Image-guided percutaneous procedures in deep pelvic sites: review of the main approaches. Radiol Bras. 2008;41:343-8.
  • 3
    Schiavon LHO, Tyng CJ, Travesso DJ, et al. Computed tomography-guided percutaneous biopsy of abdominal lesions: indications, techniques, results, and complications. Radiol Bras. 2018;51:141-6.
  • 4
    Carneiro GAC, Arantes Pereira FP, Lopes FPPL, et al. Magnetic resonance imaging-guided vacuum-assisted breast biopsy: experience and preliminary results of 205 procedures. Radiol Bras. 2018;51:351-7.
  • 5
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  • 6
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  • 7
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  • 8
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  • 9
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    Gee MS, Kim JY, Gervais DA, et al. Management of abdominal and pelvic abscesses that persist despite satisfactory percutaneous drainage catheter placement. AJR Am J Roentgenol. 2010;194:815-20.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2020

Histórico

  • Recebido
    03 Abr 2019
  • Aceito
    13 Jun 2019
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