Acessibilidade / Reportar erro

Cordoma gigante do mediastino posterior associado a lesão sincrônica

Sr. Editor,

Paciente masculino, 53 anos, com dorsalgia nos últimos 3 meses, apresentando recentemente quadro de paraparesia progressiva, sem alteração do controle esfincteriano. Ressonância magnética da coluna dorsal (Figuras 1A e 1B) mostrou lesão expansiva, de contorno lobulado, acometendo mediastino posterior e estendendo-se para o canal vertebral, provocando redução da amplitude e compressão medular. Observou-se ainda lesão sincrônica, de aspecto semelhante, acometendo a 12a vértebra dorsal. Estudo histopatológico demonstrou células grandes com citoplasma vacuolizado, núcleos parcialmente vesiculares e algumas demonstrando nucléolos proeminentes, com aspecto de células fisalíferas (do grego physallis, bolha), compatíveis com cordoma (Figura 1C).

Figura 1
Ressonância magnética, imagens T2 axial (A) e T1 com contraste sagital (B) mostram lesão comprometendo o mediastino posterior e invadindo o canal vertebral (seta em B). Estudo histopatológico (C) demonstra as células fisalíferas.

A literatura radiológica brasileira vem, recentemente, ressaltando a importância dos métodos de imagem no aprimoramento do diagnóstico das alterações intratorácicas(11 Guimaraes MD, Hochhegger B, Koenigkam-Santos M, et al. Magnetic resonance imaging of the chest in the evaluation of cancer patients: state of the art. Radiol Bras. 2015;48:33-42.

2 Pessanha LB, Melo AMF, Braga FS, et al. Acute post-tonsillectomy negative pressure pulmonary edema. Radiol Bras. 2015;48:197-8.

3 Barbosa BC, Marchiori E, Zanetti G, et al. Catamenial pneumothorax. Radiol Bras. 2015;48:128-9.

4 Nishiyama KH, Falcão EAA, Kay FU, et al. Acute tracheobronchitis caused by Aspergillus: case report and imaging findings. Radiol Bras. 2014;47:317-9.
-55 Fernandes GL, Teixeira AA, Antón AGS, et al. Churg-Strauss syndrome: a case report. Radiol Bras. 2014;47:259-61.). Cordomas são tumores malignos de crescimento lento, derivados de remanescentes primitivos da notocorda. Tipicamente, surgem na quinta e sexta décadas de vida(66 Rodallec MH, Feydy A, Larousserie F, et al. Diagnostic imaging of solitary tumors of the spine: what to do and say. Radiographics. 2008;28:1019-41.,77 Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.), com discreta predileção pelo sexo masculino e acometimento preferencial pela região sacrococcígea (50%), seguida da região esfeno-occipital (35%) e colunas cervical e lombar, sendo raros na coluna dorsal e mediastino posterior(66 Rodallec MH, Feydy A, Larousserie F, et al. Diagnostic imaging of solitary tumors of the spine: what to do and say. Radiographics. 2008;28:1019-41.

7 Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.
-88 Lim JJ, Kim SH, Cho KH, et al. Chordomas involving multiple neuraxial bones. J Korean Neurosurg Soc. 2009;45:35-8.). Sintomas frequentemente aparecem somente depois de a lesão atingir grandes dimensões, com invasão local comprometendo estruturas neurovasculares. A recorrência local é comum caso a ressecção completa não seja possível.

Nos diagnósticos diferenciais devem ser considerados metástases, condrossarcoma, mieloma múltiplo, tumores neurogênicos, dentre outros. Apesar de os métodos de imagem ajudarem na delimitação, o diagnóstico é histopatológico(77 Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.).

Na ressonância magnética, a maioria das lesões apresenta-se iso/hipointensas em T1 e hiperintensas em T2 e STIR, refletindo seu alto conteúdo de água, podendo ainda apresentar septos fibrosos de permeio, mostrando baixo sinal em T2(66 Rodallec MH, Feydy A, Larousserie F, et al. Diagnostic imaging of solitary tumors of the spine: what to do and say. Radiographics. 2008;28:1019-41.

7 Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.
-88 Lim JJ, Kim SH, Cho KH, et al. Chordomas involving multiple neuraxial bones. J Korean Neurosurg Soc. 2009;45:35-8.). O realce pelo gadolínio tende a ser moderado e heterogêneo(66 Rodallec MH, Feydy A, Larousserie F, et al. Diagnostic imaging of solitary tumors of the spine: what to do and say. Radiographics. 2008;28:1019-41.,88 Lim JJ, Kim SH, Cho KH, et al. Chordomas involving multiple neuraxial bones. J Korean Neurosurg Soc. 2009;45:35-8.). As lesões são frequentemente associadas a erosão óssea, diferentemente do nosso caso. Estudos recentes destacam o uso da sequência em difusão na diferenciação de cordomas e condrossarcomas, mostrando valores maiores do coeficiente de difusão aparente nos condrossarcomas(99 Yeom KW, Lober RM, Mobley BC, et al. Diffusion-weighted MRI: distinction of skull base chordoma from chondrosarcoma. AJNR Am J Neuroradiol. 2013;34:1056-61.,1010 Freeze BS, Glastonbury CM. Differentiation of skull base chordomas from chondrosarcomas by diffusion-weighted MRI. AJNR Am J Neuroradiol. 2013;34:E113.).

Além do local de acometimento incomum, o paciente deste caso apresentou a peculiaridade de lesão sincrônica. Alguns autores relataram casos semelhantes(77 Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.,88 Lim JJ, Kim SH, Cho KH, et al. Chordomas involving multiple neuraxial bones. J Korean Neurosurg Soc. 2009;45:35-8.,1111 Badwal S, Pal L, Basu A, et al. Multiple synchronous spinal extra-osseous intradural chordomas: is it a distinct entity? Br J Neurosurg. 2006;20:99-103.,1212 Simon SL, Inneh IA, Mok CL, et al. Multiple epidural lumbar chordomas without bone involvement in a 17-year-old female: a case report. Spine J. 2011;11:e7-10.), porém, não existe nenhum critério específico para diferenciação de cordomas multicêntricos e disseminação metastática. Acreditamos que nosso caso possa corresponder a disseminação liquórica, já que havia comprometimento do canal vertebral.

O tratamento de escolha é a ressecção cirúrgica associada a radioterapia adjuvante, que proporciona um tempo livre de doença de aproximadamente 2,5 anos a mais em relação ao tratamento cirúrgico isolado(77 Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.). Como o cordoma é radiorresistente à radioterapia convencional, outras modalidades são utilizadas, como a radiocirurgia estereotáxica. Quimioterapia não é uma terapêutica com boa resposta, somente sendo observada, em pequenos estudos, atividade antitumoral com uso de mesilato de imatinib(1313 Casali PG, Stacchiotti S, Sangalli C, et al. Chordoma. Curr Opin Oncol. 2007;19:367-70.).

Apesar de raro, o diagnóstico de cordoma deve ser lembrado dentro das possibilidades diagnósticas de lesões acometendo o mediastino posterior. Além disso, convém efetuar pesquisa para descartar a presença de lesões sincrônicas.

REFERENCES

  • 1
    Guimaraes MD, Hochhegger B, Koenigkam-Santos M, et al. Magnetic resonance imaging of the chest in the evaluation of cancer patients: state of the art. Radiol Bras. 2015;48:33-42.
  • 2
    Pessanha LB, Melo AMF, Braga FS, et al. Acute post-tonsillectomy negative pressure pulmonary edema. Radiol Bras. 2015;48:197-8.
  • 3
    Barbosa BC, Marchiori E, Zanetti G, et al. Catamenial pneumothorax. Radiol Bras. 2015;48:128-9.
  • 4
    Nishiyama KH, Falcão EAA, Kay FU, et al. Acute tracheobronchitis caused by Aspergillus: case report and imaging findings. Radiol Bras. 2014;47:317-9.
  • 5
    Fernandes GL, Teixeira AA, Antón AGS, et al. Churg-Strauss syndrome: a case report. Radiol Bras. 2014;47:259-61.
  • 6
    Rodallec MH, Feydy A, Larousserie F, et al. Diagnostic imaging of solitary tumors of the spine: what to do and say. Radiographics. 2008;28:1019-41.
  • 7
    Aydin AL, Sasani M, Oktenoglu T, et al. A case of chordoma invading multiple neuroaxial bones: report of ten years follow up. Turk Neurosurg. 2013;23:551-6.
  • 8
    Lim JJ, Kim SH, Cho KH, et al. Chordomas involving multiple neuraxial bones. J Korean Neurosurg Soc. 2009;45:35-8.
  • 9
    Yeom KW, Lober RM, Mobley BC, et al. Diffusion-weighted MRI: distinction of skull base chordoma from chondrosarcoma. AJNR Am J Neuroradiol. 2013;34:1056-61.
  • 10
    Freeze BS, Glastonbury CM. Differentiation of skull base chordomas from chondrosarcomas by diffusion-weighted MRI. AJNR Am J Neuroradiol. 2013;34:E113.
  • 11
    Badwal S, Pal L, Basu A, et al. Multiple synchronous spinal extra-osseous intradural chordomas: is it a distinct entity? Br J Neurosurg. 2006;20:99-103.
  • 12
    Simon SL, Inneh IA, Mok CL, et al. Multiple epidural lumbar chordomas without bone involvement in a 17-year-old female: a case report. Spine J. 2011;11:e7-10.
  • 13
    Casali PG, Stacchiotti S, Sangalli C, et al. Chordoma. Curr Opin Oncol. 2007;19:367-70.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2017
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br