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Método de Ritus para o cálculo do propagador de Feynman

(Ritus’ method for calculating the Feynman propagator)

Resumos

Neste artigo vamos resgatar a sensasional ideia devida a V. Ritus para o cálculo do propagador de Feynman. Faremos uma discussão geral do método e o aplicaremos ao cálculo do propagador de um campo bosônico e fermiônico sujeitos a um campo magnético não quantizado constante e homogêneo.

Palavras-chave:
método de Ritus; propagador de Feynman; níveis de Landau


We reveiw the remarkable idea due V. Ritus for calculating the Feynman propagator. We present a general discussion about the method and apply it for calculating the bosonic as well fermionic propagators in a homogeneous and constant classical magnetic field.

Keywords:
Ritus’ method; Feynman propagator; Landau levels


1. Introdução

O propagador de Feynman é uma quantidade imprescindível em Teoria Quântica de Campos (TQC) e, portanto, deve ser calculado para as mais diversas situações nas quais os campos quânticos estejam sujeitos. Na década de 1970, embora já existissem muitas técnicas para o cálculo do propagador [1[1] F.A. Barone, H. Boschi-Filho, C. Farina, Am. J. Phys. 71, 483 (2003).], o físico russo Vladimir Ritus abordou o problema do cálculo do propagador de Feynman de um campo fermiônico sujeito a um campo eletromagnético externo, de uma forma assaz inovadora e simplória [2[2] V.I. Ritus, Ann. Phys. (N.Y.) 69, 555 (1972).

[3] V.I. Ritus, Pis'ma Zh. Eksp. Teor. Fiz. 20, 135 (1974).
-4[4] V.I. Ritus, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 75, 1560 (1978).], qual seja: pela diagonalização do operador de Dirac. Em linhas gerais, o método consiste em encontrar autofunções do operador de Dirac, de tal modo que o propagador seja escrito como na forma livre, ou seja, é encontrada uma espécie de transformada de Fourier para o operador Π. Embora originalmente tenha sido elaborado para o cálculo do propagador de uma partícula carregada de spin 1/2, nos anos 2000 o método de Ritus foi usado para o cômputo do propagador de uma partícula carregada de spin 1, no contexto da teoria eletrofraca [5[5] E. Elizalde, E. Ferrer, V. de la Incera, Ann. Phys. (N.Y.) 295, 33 (2002).,6[6] E. Elizalde, E. Ferrer, V. de la Incera, Phys. Rev. D 70, 043012 (2004).]. Recentemente, o método de Ritus foi utilizado também em baixas dimensões [7[7] G. Murguía, A. Raya, Á. Sánchez, E. Reyes, Am. J. Phys. 78, 700 (2010).] e em eletrodinâmica [8[8] E. Fraga, T. Kodama, O. Roldán, Anais do XXXIV Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, Passa Quatro-MG (2013).].

Ao submetermos partículas carregadas a um campo magnético externo, surgem os chamados níveis de Landau (níveis de energia quantizados no plano perpendicular ao campo magnético). Os níveis de Landau foram tema de uma discrepância recente na literatura, quando os autores das referências [5[5] E. Elizalde, E. Ferrer, V. de la Incera, Ann. Phys. (N.Y.) 295, 33 (2002).,6[6] E. Elizalde, E. Ferrer, V. de la Incera, Phys. Rev. D 70, 043012 (2004).] usaram o nível de Landau mais baixo (=0) em virtude de considerarem campos magnéticos fortes, enquanto que os autores de [9[9] A.V. Kuznetsov, N.V. Mikheev, G.G. Raffelt, L.A. Vassilevskaya, Phys. Rev. D 73, 023001 (2006).] contestaram estes resultados ao mostrarem que os próximos níveis de Landau apresentavam igual contribuição no mesmo contexto. Nesta perspectiva, e tendo em vista os recentes desenvolvimentos em física da Matéria condensada, sobretudo na física do grafeno, cálculos exatos (incluindo todos os níveis de Landau) no propagador fermiônico são sempre oportunos.

Por isso, conhecer uma expressão analítica, tratável e exata para o propagador do elétron sujeito a um campo magnético externo, pode representar uma grande simplificação nos cálculos que o envolvem. No que se segue, vamos obter o propagadador de um campo bosônico e fermiônico sujeitos a um campo magnético externo com o uso da técnica desenvolvida por Ritus. Nossos cálculos incluirão todos os níveis de Landau. O trabalho está dividido assim: Na seção 2, definiremos o problema do cálculo do propagador bosônico livre e sujeito a um campo magnético homogêneo e constante no espaço de Minkowski. Exporemos a ideia de Ritus, calcularemos as autofunções do operador Π̂2, mostraremos que elas formam um conjunto completo e, no final da seção, apresentaremos o propagador no espaço dos momenta, coordenadas e no espaço euclidiano. Na seção 3, novamente como recurso pedagógico, partiremos do propagador fermiônico livre e passaremos ao caso com campo externo. Encontraremos as autofunções de Ritus para o operador Π^e mostraremos as relações de completeza e ortogonalidade que elas obedecem, além de calcularmos o propagador. Faremos nossas considerações finais na seção 4.

Ao longo do texto, usaremos a métrica de Minkowski com signatura η=diag(1,-1,-1,-1)e o sistema de unidades natural, no qual c==1.

2. O método de Ritus e o campo bosônico

Para fins didáticos, primeiro vamos obter o propagador bosônico livre, mas sob um ponto de vista peculiar. A equação de Klein-Gordon para um partícula livre de massa m0e carga elétrica e0(um campo bosônico no contexto da TQC), no espaço de Minkowski, é dada por

- P ̂ 2 + m 0 2 ϕ x ρ = 0 ,

onde P̂μ=iμe xρ=(t,x,y,z). Em TQC, para computar amplitudes de probabilidade de certos eventos ocorrerem (através dos elementos da matriz de espalhamento e de diagramas), usamos a função de Green de Feynman, ou propagador de Feynman, que para o caso bosônico livre, satisfaz

(1) - P ̂ 2 + m 0 2 G x , x = - i δ 4 x - x ,

onde o fator -i mostrar-se-á conveniente quando desejarmos ir para o espaço euclidiano. Note que [P̂2,P̂ν]=0. Com efeito, autofunções do operador P̂νsão também autofunções do operador P̂2. Logo, a onda plana, exp(-ipμxμ), é autofunção de P̂2. É fácil ver que

(2) P ̂ 2 exp - i p μ x μ = p 2 exp - i p μ x μ .

Pode-se mostrar que as ondas planas formam um conjunto completo, isto é,

d 4 x exp ( - i p μ x μ ) exp - i p ν x ν * = 2 π 4 δ 4 p - p ,
(3) d 4 p exp - i p μ x μ exp - i p ν x ν * = 2 π 4 × δ 4 x - x .

Assim, o propagador bosônico livre pode ser escrito através da transformada de Fourier usual

(4) G x , x = 1 2 π 4 d 4 p exp - i p μ x μ g p × exp - i p ν x ν * ,

onde a função gp(o propagador no espaço dos momenta) é determinada após aplicarmos o operador (-P̂2+m02)á Eq. (4), usarmos as Eqs. (2), (1) e a Eq. (3). Fazendo isso, encontramos (-p2+m02)g(p)=-i, ou seja,

(5) g p = lim ϵ 0 i p 2 - m 0 2 + i ϵ .

Agora vamos calcular o propagador do campo bosônico sujeito a um campo magnético externo B, uniforme e homogêneo, na direção z. Neste caso, a equação de Klein-Gordon se modifica para

- Π ̂ 2 + m 0 2 Φ x ρ = 0 ,

onde Π̂μ=P̂μ-e0Aμe usaremos o calibre de Landau: Aμ=(0,0,xB,0). O propagador de Feynman associado ao campo magnético de fundo, satisfaz a equação

(6) - Π ̂ 2 + m 0 2 G x , x , A = - i δ 4 x - x .

Porém, agora [Π̂2,P̂ν]0. Portanto, não podemos expandir G(x,x,A)em termos das autofunções do operador P̂μ, isto é, em termos das ondas planas.

A essência do método de Ritus consiste em encontrar autofunções do operador Π̂2tal que formem um conjunto completo. Desse modo, podemos proceder como no caso livre e buscar expressões análogas ás Eqs. (4) e (5).

De um ponto de vista pragmático, devemos encontrar um conjunto completo de autofunções Epque satisfaçam

(7) Π ̂ 2 E p = p 2 E p .

No calibre proposto, o operador Π̂2fica escrito como

(8) Π ̂ 2 = - 2 t 2 + 2 x 2 + 2 y 2 + 2 z 2 - 2 i ω 0 x y - ω 0 2 x 2 ,

sendo ω0e0B, a frequência de ciclotron. Notamos que o operador Π̂2é de segunda ordem em todas as coordenadas, e que as variáveis t, y e z são desacopladas entre si. Vamos tentar uma solução “tipo”onda plana em t, y e z (sem explicitar, entretanto, a dependência em x), por meio do insight [10[10] I.D. Lawrie, Phys. Rev. Lett. 79, 131 (1997).,11[11] E.B.S. Corrêa, C.A. Linhares, A.P.C. Malbouisson, Phys. Lett. A, 377, 1984 (2013).]:

(9) E p x μ = X ( x ) exp - i p t t - ω 0 p y y - p z z .

Substituindo a Eq. (9) na Eq. (7), obtemos

(10) X ( x ) - ω 0 2 ( x - p y ) 2 X ( x ) + c o n s t X ( x ) = 0 ,

onde a constante de separação é definida por

c o n s t p t 2 - p z 2 - p 2 .

A Eq. (10) é a equação diferencial de Hermite, cujas soluções são finitas apenas para const=ω0(2+1), com =0,1,2,3,...representando todos os níveis de Landau. Claramente, temos que

( n 2 α 2 y 2 ) = ( 1 n 2 n 1 R 0 1 ) ( n 1 α 1 y 1 )
(11) p 2 = p t 2 - p z 2 - ω 0 ( 2 + 1 ) .

As soluções da Eq. (10), já normalizadas, são bem conhecidas [12[12] C.L.R. Braga, Notas de Física-Matemática (Editora Livraria da Física, São Paulo, 2006).],

X ( x ) = 1 2 ! ω 0 π 1 4 exp - ω 0 2 x - p y 2 × H ω 0 ( x - p y ) ,

onde Hsão os Polinomios de Hermite. Por conveniência futura, definiremos as chamadas funções de Hermite [13[13] A. Wünsche, J. Phys. A: Math. Gen. 31, 8267 (1998).]

h ( s ) 1 2 ! π exp - s 2 2 H ( s ) .

Estas funções são ortonormais e satisfazem

(12) - + d s h ( s ) h m ( s ) = δ , m

e

(13) = 0 + h ( s ) h ( s ) = δ ( s - s ) .

Reescrevemos a Eq. (9) em termos destas funções,

(14) E p ( x μ ) = ( ω 0 ) 1 4 exp - i p t t - ω 0 p y y - p z z × h ω 0 ( x - p y ) .

Usando as Eqs. (14), (13), e a propriedade δ(as)=|a|-1δ(s), não é difícil demonstrar que as autofunções Ep(xμ)satisfazem a relação de completeza

(15) d 3 p E p ( x ) E p * ( x ) = 2 π 3 δ t - t δ x - x × δ y - y δ z - z .

Analogamente, e tendo em vista a Eq. (12), podemos mostrar que as autofunções Epsatisfazem a relação de ortogonalidade

d 4 x E p * ( x ) E p ( x ) = 2 π 3 δ , δ p t - p t × δ ω 0 p y - p y δ p z - p z .

Portanto, as autofunções Ep(xμ)formam um conjunto completo e, como fizemos na Eq. (4), podemos escrever

(16) G x , x , A = 1 ( 2 π ) 3 = 0 d 3 p E p ( x ) G p , A E p * ( x ) .

Aplicando o operador (-Π̂2+m02)á relação (16) e usando as Eqs. (7), (6) e (15), encontramos o propagador no espaço dos momenta

(17) G p , A = lim ϵ 0 i p 2 - m 0 2 + i ϵ ,

com p, dado pela Eq. (11).

No espaço euclidiano, conectado ao espaço de Minkowski através das transformações (veja, por exemplo, [14[14] A. Das, Lectures On Quantum Field Theory(World Scientific Publishing, London, 2008).,15[15] P. Ramond, Field Theory: A Modern Primer(Addison-Wesley, Redwood City, 1990).]): pt=iptE;pj=pEj;t=-itE, a integral de loop e o propagador, no limite xx, são dados por

(18) G E x , x , A = ω 0 2 π = 0 d p t E 2 π d p z 2 π 1 p E 2 + m 0 2 ,

onde pE2=ptE2+pz2+ω0(2+1)e usamos a Eq. (12). Na Ref. [11[11] E.B.S. Corrêa, C.A. Linhares, A.P.C. Malbouisson, Phys. Lett. A, 377, 1984 (2013).], o mesmo propagador foi encontrado via termo cinético da Hamiltoniana do sistema.

3. O método de Ritus e o campo fermiônico

Antes de apresentarmos o método de Ritus no contexto original em que foi proposto - na teoria fermiônica, vamos obter o propagador fermiônico livre, novamente sob uma perspectiva incomum. A equação de Dirac para um partícula livre, de massa m e carga elétrica e, no espaço de Minkowski, é dada por

P ^ - m ψ x ρ = 0 ,

onde

P ^ = γ μ P ̂ μ ; γ μ , γ ν = 2 η μ ν ; σ μ ν = i 2 γ μ , γ ν .

Usaremos a representação Quiral para as matrizes γ

(19) γ 0 = 0 - I - I 0 ; γ j = 0 σ j - σ j 0 ; σ i j = ϵ i j k σ k 0 0 σ k ,

com σ1=σx,σ2=σy,σ3=σz, representando as matrizes de Pauli.

O propagador de Feynman, neste caso livre, satisfaz

(20) P ^ - m S x , x = - i δ 4 x - x .

Os operadores P^e P̂νcomutam. Consequentemente, autofunções do operador P̂νsão também autofunções do operador P^. Assim como no caso bosônico livre, a onda plana é autofunção de P^, mas com autovalor p, ou seja:

(21) P ^ exp - i p μ x μ = p exp - i p μ x μ ,

e

(22) S x , x = 1 2 π 4 d 4 p exp - i p μ x μ s ̃ p × [ exp ( - i p ν x ν ) ] * .

O propagador fermiônico no espaço dos momenta é encontrado após aplicarmos o operador (P^-m)à Eq. (22), usarmos as Eqs. (21), (20) e a Eq. (3),

(23) s ̃ p = lim ϵ 0 - i ( p + m ) p 2 - m 2 + i ϵ .

Ao submetermos o campo fermiônico a um campo magnético externo B, uniforme e homogêneo na direção z, a equação de Dirac adquire a forma

Π ^ - m Ψ x ν = 0 ,

onde, Π̂μ=P̂μ-eAμ. O propagador, neste caso, satisfaz

(24) Π ^ - m S x , x , A = - i δ 4 x - x .

Contudo, observamos que [Π^,P̂ν]=-eγμ[Aμ,P̂ν]0. Logo, não podemos expandir S(x,x,A)em termos das ondas planas. Por outro lado, segundo Ritus [2[2] V.I. Ritus, Ann. Phys. (N.Y.) 69, 555 (1972).

[3] V.I. Ritus, Pis'ma Zh. Eksp. Teor. Fiz. 20, 135 (1974).
-4[4] V.I. Ritus, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 75, 1560 (1978).], a função de Green do campo de Dirac, é uma função de escalares envolvendo as matrizes γ, o operador Π̂μe o campo Fμν. As quantidades escalares possíveis são:Π^,(σμνFμν),(F̃μΠ̂μ)2e (γ5FμνFμν*), onde F̃μ=12ϵμαβFαβe F*μν=12ϵμναβFαβ. Como FμνFμν*(EB), temos que para o caso de um campo puramente magnético, FμνFμν*=0. Ritus percebeu que estes operadores comutam como operador de Dirac ao quadrado, isto é,

( Π ^ ) 2 , Π ^ = ( Π ^ ) 2 , σ μ ν F μ ν = ( Π ^ ) 2 , F ̃ μ Π ̂ μ = 0 .

Desse modo, se encontrarmos autofunções Epdo operador (Π^)2, estas também serão autofunções do operador de Dirac, Π^e de S(x,x,A). Além disso, caso estas autofunções formem um conjunto completo, poderemos escrever a função de Green em termos delas, como feito na Eq. (22).

As autofunções Epsão conhecidas como autofunções de Ritus, e devem satisfazer

(25) ( Π ^ ) 2 E p = p 2 E p .

Vamos encontrar a estrutura matricial Epque satisfaz a Eq. (25). Levando em conta o calibre escolhido, os únicos elementos não-nulos de Fμνsão: F12=-F21=-B. Com efeito, após usarmos σij, dado em (19), podemos mostrar que

(26) ( Π ^ ) 2 = Π ̂ 2 + ω σ 12 = Π ̂ 2 + ω ( I 2 σ z ) ,

onde Π̂2é dado na Eq. (8) com a substituição de ω0por ωeB. A partir da expressão (26), percebemos que a autofunção Epdeve ser a análoga a do caso bosônico, graças ao operador Π̂2, mas com um elemento matricial que satisfaça o produto tensorial relacionado á matriz σz. A partir do que já conhecemos do caso bosônico e da Ref. [5[5] E. Elizalde, E. Ferrer, V. de la Incera, Ann. Phys. (N.Y.) 295, 33 (2002).], tentaremos uma solução da forma

(27) E p ( x μ ) = σ = ± 1 E p , σ ( x μ ) Ω σ ,

onde σ representa a variável de spin do campo fermiônico e Ep,σ(xμ)é dada pela Eq. (9) com ω0ωe X(x)Xσ(x). A matriz Ωσdeve ser tal que

(28) ( I 2 σ z ) Ω σ = σ Ω σ .

A exigência imposta pela Eq. (28) revela uma matriz Ωσda forma

(29) Ω σ = d i a g ( δ σ , 1 , δ σ , - 1 , δ σ , 1 , δ σ , - 1 ) .

Ao substituir a Eq. (27) na Eq. (25) e usar as Eqs. (26) e (28), descobrimos, como esperado, que Xσ(x)satisfaz novamente a Eq. (10), mas agora com ω0ωe constante de separação

c o n s t p t 2 - p z 2 + ω σ - p 2 ,

com a restrição: const=ω(2+1). Observamos que as funções Ep,1e Ep,-1são na verdade dadas pela expressão (14) com ω0ωe,

(30) p 2 = p t 2 - p z 2 - ω ( 2 + 1 - σ ) .

Usando a Eq. (27) e o fato de que σ,σΩσΩσ=I4, podemos facilmente demonstrar que as autofunções Ep(xμ)satisfazem

(31) d 3 p E p ( x ) E ¯ p ( x ) = 2 π 3 δ t - t δ x - x × δ y - y δ z - z ,

e

d 4 x E ¯ p ( x ) E p ( x ) = 2 π 3 δ , δ p t - p t × δ ω p y - p y δ p z - p z .

onde E¯p(x)=γ0Ep(xν)γ0. Fica claro então, que as autofunções Epformam um conjunto completo e, como fizemos na Eq. (22), podemos escrever

(32) S ( x , x , A ) = 1 ( 2 π ) 3 = 0 d 3 p E p ( x ) S ̃ ( p , A ) E ¯ p ( x ) .

Para encontrar o propagador fermiônico no espaço dos momenta, devemos aplicar o operador (Π^-m)à Eq. (32), usar as Eqs. (24) e (31). Contudo, sabemos que Ep(x)é autofunção de Π^, mas não sabemos com qual autovalor. Em outros termos, não temos o análogo das Eqs. (2), (7) e (21).

Para sanar este problema, o método de Ritus postula a relação

(33) ( Π ^ ) E p = E p ( p ) .

Como antes, após aplicarmos o operador (Π^-m)à Eq. (32), e usarmos as Eqs. (33), (24) e (31), obtemos

(34) S ̃ ( p , A ) = - i ( p ¯ + m ) p ¯ 2 - m 2 + i ϵ .

A seguir descobriremos qual quadrivetor p¯μsatisfaz a Eq. (33). A partir das Eqs. (27) e (29), escrevemos as autofunções de Ritus explicitamente

(35) E p = E p , 1 0 0 0 0 E p , - 1 0 0 0 0 E p , 1 0 0 0 0 E p , - 1 .

Usando as expressões (35) e (19), temos

(36) ( Π ^ ) E p = 0 0 - ( p t + p z ) E p , 1 i ( 1 + ω p y - ω x ) E p , - 1 0 0 i ( 1 - ω p y + ω x ) E p , 1 - ( p t - p z ) E p , - 1 - ( p t - p z ) E p , 1 - i ( 1 + ω p y - ω x ) E p , - 1 0 0 - i ( 1 - ω p y + ω x ) E p , 1 - ( p t + p z ) E p , - 1 0 0 .

O lado direito da Eq. (33) é expresso por

(37) E p ( p ¯ ) = 0 0 ( - p ¯ 0 + p ¯ 3 ) E p , 1 ( p ¯ 1 - i p ¯ 2 ) E p , 1 0 0 ( p ¯ 1 + i p ¯ 2 ) E p , - 1 - ( p ¯ 0 + p ¯ 3 ) E p , - 1 - ( p ¯ 0 + p ¯ 3 ) E p , 1 - ( p ¯ 1 - i p ¯ 2 ) E p , 1 0 0 - ( p ¯ 1 + i p ¯ 2 ) E p , - 1 - ( p ¯ 0 - p ¯ 3 ) E p , - 1 0 0 .

Depois de comparar a Eq. (36) com a Eq. (37) e resolvermos um sistema de equações diferenciais acopladas, encontramos

(38) p ¯ 0 = p t ; p ¯ 3 = - p z ; p ¯ 1 2 + p ¯ 2 2 = p t 2 - p z 2 - p 2 .

Levando em conta a Eq. (30), descobrimos as componentes de p¯μpara que a Eq. (33) seja satisfeita

(39) p ¯ μ = ( p t , p ¯ 1 , p ¯ 2 , - p z ) ,

com

p ¯ 1 2 + p ¯ 2 2 = ω 2 + 1 - σ .

Podemos escolher a origem do eixo coordenado x tal que p¯1=0(a mesma escolha foi feita nos trabalhos de Ritus). Desse modo, o propagador fermiônico no espaço dos momenta fica dado pela Eq. (34), e

p ¯ μ = p t , 0 , ω ( 2 + 1 - σ ) , - p z .

Para cálculos em matéria condensada, é importante escrever o propagador dado nas Eqs. (32) e (34) no espaço euclidiano. Tendo em vista as relações γ0=iγE0;γj=γEj, podemos demonstrar que,

{ γ μ E , γ ν E } = - 2 δ μ ν , p ¯ = - p ¯ E .

Assim, o propagador no background magnético é escrito, no limite xx, como

(40) S E ( x , x , A ) = ω 2 π = 0 d p t E ( 2 π ) d p z ( 2 π ) ( p ¯ E - m ) p ¯ E 2 + m 2 ,

com p¯E2=ptE2+pz2+ω(2+1-σ).

Para terminar a seção e também verificar a autenticidade do quadrivetor p¯μ, vamos encontrar os níveis de energia de uma partícula fermiônica imersa em um campo magnético constante. Trata-se da generalização relativística do problema de Landau. Da equação de Dirac sujeita ao campo externo, vemos que (Π^)2=m2, mas pelo método de Ritus, de acordo com a Eq. (25), (Π^)2=p2. Logo,

(41) m 2 = p 2 p t = E = m 2 + p z 2 + ω ( 2 + 1 - σ ) ,

onde usamos a Eq. (30). A expressão (41) é obtida sem o método de Ritus, na Ref. [16[16] C. Itzykson, J. Zuber, Quantum Field Theory(McGraw-Hill, New York, 1980).], p. 68.

4. Conclusões e comentários

O método de Ritus possibilita escrever o propagador de Feynman sujeito a um campo eletromagnético em uma forma diagonal e, portanto, incrivelmente simples. Nos artigos orignais de Ritus, um número quântico ké definido e permeia toda a teoria. Contudo, na base que usamos neste artigo, este número quântico não foi necessário. Como as autofunções que encontramos ao longo do texto formavam um conjunto completo, fomos capazes de expandir as funções de Green dos campos bosônico e fermiônico, sujeitas a um campo magnético de fundo, em termos destas autofunções. Nossos cálculos incluíram todos os níveis de Landau e são exatos. Com este trabalho, esperamos que o método de Ritus se torne mais difundido na comunidade acadêmica. Em trabalhos futuros, sob a perspectiva da TQC á Temperatura Finita, pretendemos usar o propagador fermiônico encontrado neste artigo, em cálculos da temperatura de transição de fase em sistemas fermiônicos, como feito em [11[11] E.B.S. Corrêa, C.A. Linhares, A.P.C. Malbouisson, Phys. Lett. A, 377, 1984 (2013).].

Agradecimentos

Os autores agradecem á PROPIT/UNIFESSPA pela estrutura disponibilizada e a Ademir Santana pela leitura do manuscrito e pelas sugestões. E.B.S.C também agradece á CAPES/PRODOUTORAL pelo suporte financeiro.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Set 2015

Histórico

  • Recebido
    26 Jan 2015
  • Aceito
    24 Abr 2015
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