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Nova espécie e sinonímia em Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

New species and synonymy in Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

Resumos

Braderochus hovorei sp. nov. proveniente da Colômbia (Boyacá) é descrita e figurada. Nova sinonímia: B. shuteae Bleuzen, 1994 = B. dentipes (Chemsak, 1979) comb. nov.

Braderochus; nova combinação; Prionini; sinonímia; taxonomia


Braderochus hovorei sp. nov. from Colombia (Boyacá) is described and figured. New synonymy: B. shuteae Bleuzen 1994 = B. dentipes (Chemsak, 1979) comb. nov.

Braderochus; Prionini; new combination; synonymy; taxonomy


SISTEMÁTICA, MORFOLOGIA E BIOGEOGRAFIA

Nova espécie e sinonímia em Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

New species and synonymy in Braderochus Buquet, 1852 (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae)

Antonio Santos-SilvaI; Ubirajara R. MartinsI,II

IMuseu de Zoologia, Universidade de São Paulo. Caixa Postal 42649, 04299-970 São Paulo-SP, Brasil

IIPesquisador do CNPq

RESUMO

Braderochus hovoreisp. nov. proveniente da Colômbia (Boyacá) é descrita e figurada. Nova sinonímia: B. shuteae Bleuzen, 1994 = B. dentipes (Chemsak, 1979) comb. nov.

Palavras-chave:Braderochus; nova combinação; Prionini; sinonímia; taxonomia.

ABSTRACT

Braderochus hovoreisp. nov. from Colombia (Boyacá) is described and figured. New synonymy: B. shuteae Bleuzen 1994 = B. dentipes (Chemsak, 1979) comb. nov.

Keywords:Braderochus; Prionini; new combination; synonymy; taxonomy.

O gênero Braderochus Buquet, 1852 reúne sete espécies, a maioria rara nas coleções entomológicas, o que inviabiliza uma revisão confiável do grupo. Santos-Silva (2004) observou variação nos caracteres morfológicos de B. mundus (White, 1853), que podem conduzir a dilemas diferentes na chave de Bleuzen (1994). Optamos por comparar a nova espécie com aquelas conhecidas, ao invés de criar uma nova chave ou incluí-la na chave de Bleuzen (l.c.).

As siglas utilizadas ao longo do texto correspondem: AMNH, American Museum of Natural History, New York; FTHC, Frank T. Hovore collection, Santa Clarita, Califórnia; MZSP, Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo; UNCB, Museo de Historia Natural, Universidad Nacional de Colômbia, Bogotá.

Braderochus hovorei sp. nov.

(Figs. 1-4)



Macho (Fig. 1). Tegumento castanho, mais escuro na região dorsal da cabeça, mandíbulas, antenas, úmeros e pernas. Pilosidade flava, curta e abundante no pronoto, escutelo e face ventral do corpo, exceto nos urosternitos II-IV (onde a pilosidade é rala e presente nas laterais), 2/3 apicais do urosternito I e ápice do urosternito V; élitros com raros pêlos, muito curtos, próximos aos úmeros.

Maior largura da cabeça igual a aproximadamente o dobro do comprimento da mandíbula; região dorsal com pontos grossos, rasos e confluentes, na área entre a borda posterior dos olhos e o occipício; área entre os olhos com depressão bem marcada, que se inicia no nível da borda posterior dos olhos, alarga-se e aprofunda-se em direção aos tubérculos anteníferos; pontuação, na região deprimida, mais esparsa e fina; margens laterais paralelas atrás dos olhos. Tubérculos anteníferos salientes, com ápice arredondado, liso, glabro e brilhante. Olhos (Fig. 2) grandes, salientes; maior largura do lobo inferior igual ao comprimento do escapo. Mandíbulas (Fig. 2) com pontuação confluente no terço basal e gradualmente esparsa em direção ao ápice; face externa com um dente pequeno, nítido, no ângulo de curvatura da mandíbula.

Antenas quase atingem o ápice elitral. Escapo sem tubérculos na face ventral. Antenômero III liso na face ventral, com o dobro do comprimento do escapo e área sensorial não dividida no extremo apical; maior largura igual a aproximadamente 1/8 do seu comprimento. Antenômero IV liso na face ventral, com metade do comprimento do III e com área sensorial dividida no extremo apical. Antenômeros V-X gradativamente mais curtos, mais aplanados lateralmente, com área sensorial mais extensa, desordenadamente dividida e com o ápice interno mais aguçado e saliente; face ventral do antenômero V lisa. Antenômero XI um pouco mais longo que o anterior.

Protórax (Fig. 2), a cada lado, com três espinhos longos e subiguais, localizados nos ângulos e no meio; disco do pronoto com duas gibosidades moderadamente salientes, uma de cada lado do centro; escultura formada por pontos finos e abundantes, entremeados por pontos mais grossos (esses últimos são maiores, mais profundos, abundantes e confluentes em direção à base e áreas laterais); borda centro-anterior enegrecida e espessada.

Élitros com pêlos esparsos na base, alargados no terço basal e gradualmente estreitados em direção ao ápice; margens laterais suavemente curvas; região entre o escutelo e os úmeros fracamente inclinada; ângulo sutural (Fig. 3) com espinho curto, porém nítido; região próxima aos úmeros suavemente rugosa; toda superfície restante microesculturada, entremeada no terço basal, por pontos relativamente grossos e esparsos. Pernas longas; pro- e mesofêmures inermes; metafêmures pouco mais longos ou subiguais em comprimento às metatíbias, com alguns espinhos pequenos na face ventral. Tíbias (Fig. 1) finas. Tarsômeros I-III (Fig. 4) com ápices não notavelmente aguçados; último tarsômero longo e esguio (principalmente nos 2/3 anteriores).

Dimensões em mm (macho). Comprimento total, 52,5-59,8; comprimento do protórax no centro, 6,0-6,1; largura anterior do protórax, 13,1-13,4; largura posterior do protórax, 13,0-14,1; largura umeral, 15,5-17,0, comprimento dos élitros, 37,8-42,1.

Material-tipo. Holótipo macho, COLÔMBIA, Boyacá: Muzo, 1931, Apolinar col. (MZSP). Parátipos COLÔMIBA. Santander: Rio Carare, macho, V.1948, L. Richter col. (AMNH); Boyacá: Muzo, macho, 1931, Apolinar col. (MZSP); Meta: Buenavista (1360m), macho, XII.1944, L. Richter col. (AMNH).

Discussão. Braderochus hovorei sp. nov. é semelhante a B. levoiturieri (Buquet, 1842) e ocorre na mesma região (Fig. 7), mas difere: maior largura da cabeça igual a aproximadamente o dobro do comprimento da mandíbula; lados da cabeça paralelos atrás dos olhos; maior largura do lobo inferior dos olhos igual ao comprimento do escapo; élitros mais curvados nas laterais, menos inclinados na região entre o escutelo e os úmeros e com espinho nítido no ápice do ângulo sutural. Em B. levoiturieri a maior largura da cabeça é igual a aproximadamente 1,6 vezes o comprimento da mandíbula, os lados da cabeça são nitidamente estreitados atrás dos olhos, a maior largura do lobo inferior dos olhos é mais estreita do que o comprimento do escapo, os élitros são subparalelos nas laterais e mais inclinados na região entre o escutelo e os úmeros e o ângulo sutural não tem espinho.

Diferencia-se de B. mundus (White, 1853), pelos antenômeros finos (machos), pelos espinhos laterais do protórax longos, pela ausência de espinhos nos pro- e mesofêmures dos machos. Em B. mundus, os antenômeros dos machos são grossos, os espinhos laterais do protórax são curtos e os pro- e mesofêmures, em geral, possuem espinhos.

De B. retrospinosus Lameere, 1916, difere pelas antenas que atingem o ápice elitral, pela maior largura do antenômero III igual a aproximadamente 1/8 do seu comprimento, pelo escapo e antenômero III lisos na face ventral. B. retrospinosus possui antenas que atingem o meio dos élitros, a maior largura do antenômero III é aproximadamente 1/5 do seu comprimento e o escapo e antenômero III possuem asperezas na face ventral.

Diferencia-se de Braderochus jolyi Bleuzen, 1994, pelas antenas mais longas, antenômeros mais finos e sem asperezas na face ventral dos antenômeros III-V. B. jolyi possui antenas que atingem o quarto apical dos élitros, os antenômeros são mais grossos e com asperezas na face ventral dos antenômeros III-V.

De B. salcedoi Bleuzen, 1994, distingue-se pelas antenas mais longas e finas e pelo ápice dos tarsômeros I-III não espinhoso. B. salcedoi possui antenas que atingem o quarto apical dos élitros, a maior largura do antenômero III é igual a aproximadamente 1/5 do seu comprimento e o ápice dos tarsômeros I-III espinhoso.

Finalmente, difere de B. dentipes (Chemsak, 1979) comb. nov. pelas antenas dos machos mais finas e sem sulco dorsal nos antenômeros III-VII e pelos élitros com pilosidade nítida apenas na base. Em B. dentipes, as antenas dos machos (Fig. 5) são mais grossas, com sulco na face ventral os antenômeros III-VII e os élitros apresentam pilosidade em toda extensão.

Etimologia. A espécie é dedicada a Frank T. Hovore, a quem creditamos diversas gentilezas.

Braderochus dentipes (Chemsak, 1979) comb. nov.

(Figs. 5-6)

Derobrachus dentipes Chemsak, 1979: 127; Chemsak & Linsley, 1982: 6 (cat.); Chemsak et al., 1992: 19 (cat.); Monné & Giesbert, 1994: 13 (cat.); Monné, 1995: 47 (cat.).

Braderochus shuteae Bleuzen, 1994: 53; Monné & Giesbert, 1994: 14 (cat.); Monné, 1995: 63 (cat.). Syn. nov.

Frank T. Hovore (comunicação pessoal) alertou-nos sobre a sinonímia entre Derobrachus dentipes Chemsak, 1979 e Braderochus shuteae Bleuzen, 1994.

Chemsak (1979), ao descrever as tíbias de D. dentipes, mencionou a existência de espinhos, caráter que diferencia Braderochus de Derobrachus, cujas tíbias são inermes. O exame das fotografias de D. dentipes macho (Fig. 5), enviadas por F. T. Hovore, fotografia do holótipo de B. shuteae (holótipo macho, figurado na descrição original), associadas às descrições e à área de distribuição (Fig. 7) das espécies envolvidas (Costa Rica e Panamá para D. dentipes e Honduras e Panamá para B. shuteae), permitem estabelecer a sinonímia.

Estudamos uma fêmea (Fig. 6) proveniente da Colômbia, que julgamos ser a fêmea de B. dentipes, o que amplia a distribuição da espécie.

Material examinado. COSTA RICA. Cartago: 1,2 milhas SE Tuis, macho, 18-21.V.1992, F. Andrews & A. Gilbert col. (FTHC). COLÔMBIA. Chocó: Lloró (Granja Universidad Del Chocó 5º30'51" N, 76º33'15" W, 90 m, em Bosque), fêmea, 23.V.2003, J. C. Neita col. (UNCB).

Agradecimentos. Ao Dr. F. T. Hovore, pelas informações sobre Bradereochus dentipes; ao Dr. Lee Herman (AMNH) pelo empréstimo de material para estudo.

Recebido em 6.XII.2004; aceito em 3.III.2005

  • Bleuzen, P. 1994. Les Coléoptères du Monde. Prioninae. 1: Macrodontini, Prionini (Titanus, Braderochus). Sciences Nat 21: 192.
  • Chemsak, J. A. 1979. New species of neotropical Prioninae (Coleoptera: Cerambycidae). The Coleopterists Bulletin 33: 125128.
  • Chemsak, J. A. & E. G. Linsley. 1982. Checklist of Cerambycidae and Disteniidaeof Norht America, Central America, and the West Indies (Coleoptera) Medford, Plexus, 138 pp.
  • Chemsak, J. A.; E. G. Linsley & F. A. Nogueira. 1992. Listados faunísticos deMéxico. II. Los Cerambycidae y Disteniidae de Norteamérica, Centroamérica y las Indias Ocidentales (Coleoptera) México, D. F. Universidad Nacional Autônoma de México, 204 p.
  • Monné, M. A. 1995. Catalogue of the Cerambycidae (Coleoptera) of the Western Hemisphere Part XXII. São Paulo, Sociedade Brasileira de Entomologia. 115 p.
  • Monné, M. A. & E. F. Giesbert. 1994. Checklist of the Cerambycidae and Disteniidae (Coleoptera) of the Western Hemisphere Burbank, Wolfsgarden. 410 p.
  • Santos-Silva, A. 2004. Descrição de Hephialtes mourei sp. nov. e notas em Hephialtes Thomson e Braderochus mundus (White) (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae). Revista Brasileira de Entomologia 48: 3538.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2005
  • Data do Fascículo
    Jun 2005

Histórico

  • Aceito
    03 Mar 2005
  • Recebido
    06 Dez 2004
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