Acessibilidade / Reportar erro

Reação de laranjeiras-doces quanto à resistência a Guignardia citricarpa

The reaction of sweet oranges as to the resistance of Guignardia citricarpa

Resumos

O objetivo deste trabalho foi determinar o comportamento de variedades de laranjas-doces quanto à resistência a Guignardia citricarpa, agente causal da mancha preta dos citros (MPC). Os ensaios foram conduzidos em dois campos, nos municípios de Rincão e Tambaú, SP. As mudas foram formadas em viveiro localizado na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro-SP. Para tal, foram utilizadas borbulhas de plantas cítricas existentes no Banco Ativo de Germoplasma de Citros da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), Bebedouro-SP. Avaliou-se a severidade da doença por meio de escala de notas, de zero (ausência de sintomas) a seis (sintomas severos). A partir de tais dados, foi calculado o valor do índice de doença (ID). Em 2007, no experimento de Rincão, dentre as 65 variedades avaliadas, apenas 59 produziram frutos, sendo constatada ausência de sintomas da doença em Castellana, Maçã e Olivelands. Nas demais variedades, os níveis de severidade variaram de 0,35 para Grada a 3,0 para China SRA-547. Para Tambaú, os valores de severidade variaram de 0,40 para a variedade Cadenera a 2,46 para Pera. No ano de 2008, em Rincão, todas as variedades mostraram-se suscetíveis. Os níveis de severidade verificados variaram de 0,18 para a variedade Belladona, e 3,92 para Vera 97. Em Tambaú, somente a variedade Navelina não apresentou sintomas da MPC. Foi observado que, dentre as plantas que frutificaram, e com exceção daquelas cujos frutos mostraram-se assintomáticos, os valores de severidade variaram de 0,11 para a variedade Tua Mamede a 3,57 para Amares.

Citrus sinensis; Phyllosticta citricarpa; mancha-preta dos citros; genótipos


The objective of this research was to determine the variety behavior of sweet oranges as to their resistance to Guignardia citricarpa, a causal agent of citrus black spot (CBS). The tests were conducted in two fields in the cities of Rincão and Tambaú, SP. The seedlings were formed in a nursery located in the Experimental Station of Citriculture (EECB) in Bebedouro, SP. For this, citrus plant buds present in the Active Bank of Citrus Germoplasm (EEBC), were used. The severity of the disease was evaluated by using a grade scale from zero (absence of symptoms) to six (maximum severity). Using this data the disease index (DI) was calculated. In the 2007 harvest, the tests in Rincão showed that only 59 out of the 65 varieties evaluated produced fruit, verifying the absence of the disease symptoms in Castellana, Maçã and Olivelands. In the other varieties, the severity levels vary between 0.35 in Grada, and 3.0 in China SRA-547. In Tambaú, the severity values varied from 0.40 in Cadenera, and 2.46 in Pêra. In 2008, all of the varieties in Rincão showed to be susceptible. The severity levels verified, varied from 0.18 in Belladona and 3.92 in Vera 97. In Tambaú, only the Navelina variety showed no CBS symptoms. Among the plants that flourished, it was observed that the values of severity varied from 0.11 in Tua Mamede and 3.57 in Amares, with the exception of those whose fruits showed to be asymptomatic.

Citrus sinensis; Phyllosticta citricarpa; genotypes


DEFESA FITOSSANITÁRIA

Reação de laranjeiras-doces quanto à resistência a Guignardia citricarpa1 1 (Trabalho 012-09).

The reaction of sweet oranges as to the resistance of Guignardia citricarpa

Patrícia Ferreira Cunha SousaI; Antonio de GoesII

IEng° Agra MSc. Aluna de doutorado do PPG em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas), Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Deptº Fitossanidade, FCAV/UNESP, Via de Acesso Paulo Donato Castellane s/n CEP 14884-900, Jaboticabal-SP. Bolsista CAPES; E-mail: patriciamaranhao@ig.com.br

IIProf. Assistente Doutor do Deptº Fitossanidade Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, FCAV/UNESP, Via de Acesso Paulo Donato Castellane s/n CEP 14884-900, Jaboticabal-SP. Bolsista CNPq ; E-mail: agoes@fcav.unesp.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi determinar o comportamento de variedades de laranjas-doces quanto à resistência a Guignardia citricarpa, agente causal da mancha preta dos citros (MPC). Os ensaios foram conduzidos em dois campos, nos municípios de Rincão e Tambaú, SP. As mudas foram formadas em viveiro localizado na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro-SP. Para tal, foram utilizadas borbulhas de plantas cítricas existentes no Banco Ativo de Germoplasma de Citros da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), Bebedouro-SP. Avaliou-se a severidade da doença por meio de escala de notas, de zero (ausência de sintomas) a seis (sintomas severos). A partir de tais dados, foi calculado o valor do índice de doença (ID). Em 2007, no experimento de Rincão, dentre as 65 variedades avaliadas, apenas 59 produziram frutos, sendo constatada ausência de sintomas da doença em Castellana, Maçã e Olivelands. Nas demais variedades, os níveis de severidade variaram de 0,35 para Grada a 3,0 para China SRA-547. Para Tambaú, os valores de severidade variaram de 0,40 para a variedade Cadenera a 2,46 para Pera. No ano de 2008, em Rincão, todas as variedades mostraram-se suscetíveis. Os níveis de severidade verificados variaram de 0,18 para a variedade Belladona, e 3,92 para Vera 97. Em Tambaú, somente a variedade Navelina não apresentou sintomas da MPC. Foi observado que, dentre as plantas que frutificaram, e com exceção daquelas cujos frutos mostraram-se assintomáticos, os valores de severidade variaram de 0,11 para a variedade Tua Mamede a 3,57 para Amares.

Termos para indexação: Citrus sinensis, Phyllosticta citricarpa, mancha-preta dos citros, genótipos.

ABSTRACT

The objective of this research was to determine the variety behavior of sweet oranges as to their resistance to Guignardia citricarpa, a causal agent of citrus black spot (CBS). The tests were conducted in two fields in the cities of Rincão and Tambaú, SP. The seedlings were formed in a nursery located in the Experimental Station of Citriculture (EECB) in Bebedouro, SP. For this, citrus plant buds present in the Active Bank of Citrus Germoplasm (EEBC), were used. The severity of the disease was evaluated by using a grade scale from zero (absence of symptoms) to six (maximum severity). Using this data the disease index (DI) was calculated. In the 2007 harvest, the tests in Rincão showed that only 59 out of the 65 varieties evaluated produced fruit, verifying the absence of the disease symptoms in Castellana, Maçã and Olivelands. In the other varieties, the severity levels vary between 0.35 in Grada, and 3.0 in China SRA-547. In Tambaú, the severity values varied from 0.40 in Cadenera, and 2.46 in Pêra. In 2008, all of the varieties in Rincão showed to be susceptible. The severity levels verified, varied from 0.18 in Belladona and 3.92 in Vera 97. In Tambaú, only the Navelina variety showed no CBS symptoms. Among the plants that flourished, it was observed that the values of severity varied from 0.11 in Tua Mamede and 3.57 in Amares, with the exception of those whose fruits showed to be asymptomatic.

Index terms: Citrus sinensis, Phyllosticta citricarpa, genotypes.

INTRODUÇÃO

Em que pese a importância socioeconômica da atividade citrícola para o Brasil, o setor ressente por vários problemas de ordem fitossanitária, incluindo-se a mancha-preta dos citros (MPC). Causada pelo fungo Guignardia citricarpa Kiely (anamorfo= Phyllosticta citricarpa McAlpine), o qual é específico dos citros (BAAYEN et al., 2002), a MPC foi descrita pela primeira vez em 1895, em Queensland, na Austrália, causando perdas relevantes de frutos de laranja Valência, nas fases de pré e pós-colheita (SUTTON; WATERSTON, 1966). Atualmente, a doença encontra-se assinalada em vários países da África, Ásia, Oceania e América do Sul. Em decorrência dos prejuízos potenciais, essa doença é classificada como quarentenária A1 para os Estados Unidos da América e países da União Européia, limitando significativamente a possibilidade de exportação de frutos in natura.

Todas as espécies de citros de importância econômica são suscetíveis ao patógeno (KOTZÉ, 1981). O fungo produz dois tipos de estruturas reprodutivas, responsáveis pela doença: os ascósporos e os conídios. Os ascósporos são produzidos exclusivamente em folhas cítricas caídas no chão. Quando da maturidade dos pseudotécios, os ascósporos são ejetados, podendo alcançar curtas e longas distâncias a partir do local da sua produção (KIELY, 1948a; 1948b; 1949; KOTZÉ, 1981; SCHUTTE et al., 1997). Essas estruturas são as responsáveis pela introdução do patógeno nas áreas ainda indenes. Os conídios, por outro lado, são produzidos a partir das lesões existentes nos frutos, em folhas e também em galhos secos. Tais estruturas são responsáveis pelo incremento da doença intraplanta. Esses aspectos biológicos é que fazem com que a doença, uma vez instalada, apresente incremento gradual, sendo normalmente de incidência e severidade baixas nas fases iniciais do seu aparecimento, e muito elevada nas fases subsequentes.

Além das condições favoráveis de temperatura e umidade, a ausência de descontinuidade espacial e espaço-temporal, assim como a coexistência de chuvas nas fases críticas de suscetibilidade dos tecidos da planta, são também fatores altamente favoráveis a G. citricarpa. No caso do Estado de São Paulo, como normalmente essa condição se configura na maior parte das regiões citrícolas do Estado, há, evidentemente, boas condições para o desenvolvimento de infecções e consequente expressão de sintomas. Em vista disso, a ocorrência da doença dá-se em níveis elevados de incidência e severidade, tornando necessárias várias pulverizações com fungicidas.

Os sintomas da mancha-preta dos citros podem ocorrer em folhas, ramos, pecíolos e pedúnculos, porém, nos frutos é onde os mesmos são mais importantes, dada a depreciação e também a possibilidade da sua queda prematura. Nos frutos, são relatados seis tipos de sintomas da doença, sendo os mais comuns os dos tipos mancha-dura e falsa-melanose (AGUILAR-VILDOSO et al., 2002); os demais sintomas são mancha sardenta, mancha-virulenta (TIMMER et al., 2000), mancha-rendilhada e mancha-trincada (Fundecitrus, 2003).

Os frutos são suscetíveis das fases iniciais de desenvolvimento (KOTZÉ, 1981), até pelo menos nas 24 semanas subsequentes (KLOTZ, 1978; Baldassari et al. 2006). Posteriormente, mesmo quando na fase de início de maturação, os frutos podem ainda mostrar-se suscetíveis (ALMEIDA et al., 2008). Nessa fase, porém, aparentemente, sua importância é menos relevante, exceto quando os mesmos são destinados à exportação.

No Brasil, todas as variedades de laranjas-doces (Citrus sinensis (L.) Osbeck), atualmente cultivadas, como as laranjas-Pera, Valência, Natal, Folha-Murcha e Hamlin, entre outras, assim como os limões (C. limon (L.) Burm.), pomelos (C. paradisi Macfad.), tangerinas, como a Ponkan, Cravo e mexerica-do-rio, lima-da-pérsia (C. limettioides Tan.), e tangor (C. reticulata L. x C. sinensis), especialmente o Murcott, são suscetíveis ao fungo. Dentre as laranjas-doces, os maiores níveis de severidade são observados nas variedades tardias, como Natal e Valência (FEICHTENBERGER, 1996). Dentre os genótipos resistentes, consta-se apenas a laranja Azeda (C. aurantium (L.)) e seus híbridos (KOTZÉ, 1981). A lima-ácida Tahiti (C. latifolia Tan.), por outro lado, é insensível ao patógeno, não exibindo sintomas da doença, embora o fungo causal possa ser isolado do interior dos tecidos foliares e dos frutos (BALDASSARI et al., 2008).

A base genética das espécies cítricas, economicamente importantes, é estreita, especialmente na citricultura brasileira, onde se utiliza um número limitado de variedades copas, onde predominam a Pera, Natal, Valência e Hamlim (MATTOS JUNIOR et al., (1999). .Entretanto, existe um grande número de variedades de laranjas-doces com elevado potencial agronômico disponíveis em Bancos de Germoplasmas, cuja importância e variabilidade genética entre elas não podem ser subestimadas (LI, 1997; DONADIO et al., 1999), com possibilidade, inclusive, da existência de genótipos com resistência a G. citricarpa. Dessa forma, dada a escassez de informações quanto ao comportamento de variedades de laranjas-doces não usualmente empregadas na citricultura brasileira, torna-se necessária a realização de estudos dentro desse contexto, razão pela qual este trabalho foi realizado.

Os objetivos do trabalho foram: (i) determinar o comportamento de variedades de laranjas-doces quanto à resistência a G. citricarpa, agente causal da MPC, e (ii) avaliar, sob condições naturais de infecção, a possibilidade do emprego de plantas de idade inferior a três anos de idade, no prognóstico quanto à resistência a G. citricarpa.

MATERIAL E MÉTODOS

Sob condições de campo, foram avaliadas variedades de laranjas-doces quanto à resistência a G. citricarpa. Tais genótipos encontram-se presentes no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da EECB de Bebedouro, e foram provenientes do BAG do Centro Apta Citros Sylvio Moreira, de Cordeirópolis, ambos do Estado de São Paulo, e também de vários outros países (Tabela 1).

O trabalho foi realizado em dois experimentos, nos municípios paulistas de Rincão (21º35' sul 48º04' oeste) e Tambaú (21º42'sul 47º17' oeste), em propriedades com histórico de ocorrência da doença em níveis elevados. O plantio das mudas deu-se em 30 e 31 de março de 2005, respectivamente.

No experimento realizado em Rincão, as mudas foram plantadas em espaçamento de 7,0 m x 3,0 m, enquanto em Tambaú o foi no espaçamento 7,0 m x 2,8 m. Todas as mudas foram plantadas num bloco único, distribuído aleatoriamente no talhão. Tal fato se deveu à necessidade de facilitar a realização das práticas culturais, por tratar-se de grande número de genótipos e, obviamente, de diferentes características fenológicas. Em Rincão, foi utilizado um número de plantas que variou entre 3 a 5, predominando cinco plantas, com exceção da variedade Casa-Grande, que foi constituído por duas plantas. Para o caso de Tambaú, foram utilizadas 4 ou 5 plantas para cada variedade, predominando quatro plantas. Para o caso da variedade Vacaro Blood, foram empregadas apenas duas plantas.

Dada a dispersão do fungo na forma de agregado (SPÓSITO, 2007) e visando a prover e incrementar uma dispersão mais uniforme dos ascósporos de G. citricarpa quando da sua maturação e ejeção, em agosto de 2006 e de 2007, foram distribuídos, sob a copa de cada planta, cinco litros de folhas secas coletadas sob a copa de plantas de pomares circunvizinhos aos talhões, de cada uma das respectivas propriedades. No transcorrer do período de desenvolvimento das plantas, foram adotadas todas as medidas preconizadas para o cultivo regular das plantas, incluindo-se capinas, uso de roçadeira convencional, aplicação de herbicidas, uso de inseticidas e acaricidas e adubações. Exceção fez-se apenas quanto ao controle de G. citricarpa, não sendo realizadas pulverizações com fungicidas.

As avaliações da incidência e severidade dos sintomas de MPC, no caso das plantas de maturação precoce, foram realizadas em maio de 2007 e 2008, e, para os de variedades de meia-estação e tardias, em agosto desses mesmos anos. Para a avaliação da severidade dos sintomas, foi empregada escala diagramática de notas, as quais variaram de zero (ausência de sintomas) a seis (sintomas severos), conforme Spósito et al. (2004a). Foram coletados, ao acaso, 100 frutos de cada uma das variedades. No caso daquelas variedades cuja amostra não atingiu tal quantidade de frutos, as análises foram realizadas com o máximo número de frutos disponíveis, que, entretanto, foi sempre igual ou superior a 30 frutos.

A partir das notas de severidade estabelecidas, foi estimado o Índice de Doença (ID), conforme fórmula de Wheeler (1969), sendo:

, em que,

ID = índice de doença; N = número total de frutos avaliados; i= nota da doença; ni = número de frutos com nota i; m= nota máxima.

A partir dos dados correspondentes aos índices de severidade verificados nos frutos, em cada uma das duas safras avaliadas, em ambos os experimentos, e, considerando os antecedentes em termos de suscetibilidade das variedades Hamlin, Pera e Valência, como determinado por Spósito et al. (2004b), o valor correspondente ao menor índice detectado nas mesmas foi considerado como valor de referência. Dentre essas variedades-referência, foi também incluída a laranja-Folha-Murcha, dada sua alta suscetibilidade ao fungo. Dessa forma, as variedades cujos índices de doença foram iguais ou superiores àqueles observados nas variedades-referência, foram consideradas muito suscetíveis, enquanto, quando com valores menores, elas foram consideradas como medianamente suscetíveis. Tal classificação foi adotada para todas as variedades avaliadas, segundo os locais e safras, e, ao final, tomou-se como referência a média dos dados correspondentes. Posteriormente, para cada ensaio, foi calculada a média entre os valores de ID, com a finalidade de classificação dos genótipos em termos do seu comportamento a G. citricarpa, em baixa, média e alta suscetibilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve diferença nos índices de severidade de sintomas, determinado em termos de Índice de Doença (ID) de MPC entre as variedades de laranjas-doces estudadas, nos dois campos experimentais (Tabela 1).

Avaliação de 2007 - No caso do experimento realizado na localidade de Rincão, das 65 variedades estudadas, apenas 59 delas produziram frutos, a partir dos quais se procederam as avaliações. Dentre essas, apenas as variedades Castellana, Maçã e Olivelands não exibiram sintomas da doença. Nas demais variedades, os níveis de severidade variaram de 0,35 para Grada, a 3,0 para China SRA-547. Em termos de suscetibilidade, e, tomando-se como referência o valor de ID para uma variedade-referência, como a Folha-Murcha, denota-se que esse foi de 1,06, sendo, pois, as demais 27 variedades enquadradas na categoria de altamente suscetíveis. Por outro lado, as 13 variedades que apresentaram valor de ID inferior àquele mencionado, foram consideradas medianamente suscetíveis. Cinco variedades enquadraram-se na categoria de baixa suscetibilidade.

Quanto aos dados obtidos no experimento estabelecido na localidade de Tambaú, foi observado que, dentre as plantas que frutificaram, e com exceção daquelas cujos frutos não exibiram sintomas, como as variedades Belladona, Maçã e Skaggs Bonanza Navel, os valores de severidade variaram de 0,40 para a variedade Cadenera a 2,46 para Pera. Também, de forma semelhante ao critério adotado para as avaliações realizadas em Rincão, e, tomando-se o menor valor para as variedades suscetíveis, de 1,35 para a variedade Hamlin, verificou-se que, dentre as 52 variedades avaliadas, 27 delas enquadraram-se em altamente suscetíveis, 20 entre as medianamente suscetíveis, e uma como de baixa suscetibilidade.

Avaliação de 2008 - Em 2008, no experimento de Rincão, foram avaliadas as 65 variedades que produziram frutos, e em todas houve a expressão de sintomas da doença, em diferentes níveis. Os valores de ID variaram de 0,18, para a variedade Belladona, a 3,92, para Vera 97. Comparando-se os valores de ID dessas variedades e aqueles observados para a Hamlin (1,33), denota-se que 39 variedades apresentaram valores iguais ou superiores à média observada para essa variedade-referência, sendo, pois, consideradas altamente suscetíveis. Por outro lado, 22 variedades enquadraram-se na categoria de medianamente suscetíveis e três delas como de baixa suscetibilidade.

No experimento de Tambaú, apenas frutos da variedade Navelina não apresentaram sintomas da MPC. Entretanto, como essa variedade se mostrou suscetível no ano de 2007 (ID= 0,95), assim como nos anos de 2007 e 2008 (ID= 0,80 e 1,15), no experimento de Rincão, sugere-se que a ausência de sintomas se deu unicamente por escape. Foi observado que, entre as demais variedades, os valores de severidade variaram de 0,11 para Tua Mamede, a 3,57, para Amares. Também, de forma semelhante ao critério adotado para as avaliações realizadas em Rincão, e, tomando o menor valor de ID para a variedade-referência, de 0,84 para a Hamlin, 48 variedades enquadraram-se entre as altamente suscetíveis, sete entre as medianamente suscetíveis, e oito como de baixa suscetibilidade.

Entre os dois campos experimentais, foi observado que, em termos médios, os maiores valores de ID ocorreram em frutos colhidos do experimento estabelecido na localidade de Rincão. Certamente, esses níveis mais elevados devem-se à maior pressão de inóculo na área, decorrente de um tempo maior de ocorrência da doença, ou ao efeito de algum fator ambiental, especialmente a temperatura, já que, nesse município, a temperatura média anual é de 26 °C, enquanto em Tambaú essa o é de 22 °C (http://pt.wikipedia.org/).

Em termos gerais, a elevada incidência de frutos sintomáticos em frutos de ambas as áreas experimentais demonstra o elevado nível de inóculo e a gravidade da doença nas mesmas, validando, assim, a escolha das mesmas para o presente propósito. Além disso, a elevada incidência e a severidade de sintomas verificados demonstram a validade do emprego de plantas de idade inferior a três anos no prognóstico da sua resistência a G. citricarpa. Neste estudo, o uso de folhas cítricas coletadas sob a copa de plantas de pomar com antecedentes da doença e sua consequente distribuição sob plantas jovens mostraram-se como metodologia eficiente no incremento do inóculo e consequente aceleração da expressão dos sintomas de MPC nos frutos das mesmas. Independentemente dos locais e anos de avaliação, os tipos de sintomas que predominaram foram os de falsa melanose e mancha-dura.

Maturação x Índice de doença (ID)

Os sintomas da MPC, especialmente os do tipo mancha-dura, normalmente se mostram mais evidentes a partir das fases iniciais de maturação dos frutos (KOTZÉ, 1981). A magnitude da expressão dos sintomas, contudo, mostra-se relacionada com as fases subsequentes, de desenvolvimento e maturação dos frutos. Entretanto, no Brasil, os sintomas de MPC tornam-se mais expressivos nos meses mais quentes da primavera e do verão, sendo dessa forma mais pronunciados nas variedades de maturação tardia (FEICHTENBERGER, 1996). Todavia, no presente estudo, após comparação dos índices de incidência e severidade observados nos frutos classificados em três categorias quanto aos períodos de maturação, precoce, meia-estação e tardios (Tabela 2), verificou-se que não houve relação entre tais categorias e níveis de doença, já que muitas das variedades avaliadas, independentemente do grupo de maturação em que se encontravam inseridas, apresentaram níveis elevados de ID (Tabela 1). Tais resultados mostram-se convergentes àqueles existentes na literatura (SCHINOR et al., 2002; SPÓSITO et al., 2004b), cujos autores verificaram que as variedades de maturação precoce e de meia-estação normalmente apresentaram valores de severidade de sintomas em níveis menos elevados que os observados nas variedades de maturação tardia. Dessa forma, torna-se evidente que, mais que propriamente a fase de maturação dos frutos, o ambiente tem impacto muito mais relevante, dado os efeitos mais significativos da radiação solar, como demonstrado por Krajewisk e Rabie (1995). Além disso, a maior severidade de sintomas da doença normalmente está associada à elevação de temperatura por ocasião da maturação dos frutos, maior estresse hídrico e debilidade das plantas (KOTZÉ, 1981).

CONCLUSÕES

1-As 65 variedades de laranjas-dces avaliadas em Rincão, nos anos de 2007 e 2008, foram suscetíveis ao fungo G. citricarpa, embora os níveis de severidade tenham sido diferenciados, variando de baixo a elevados.

2-Frutos de laranjeiras-doces, de idade inferior a três anos de idade, quando expostos a elevada pressão de inóculo de G. citricarpa, expressam elevados níveis de doença, permitindo o prognóstico do seu comportamento quanto à resistência a G. citricarpa.

Recebido em: 07-01-2009.

Aceito para publicação em: 27-04-2010.

  • AGUILAR-VILDOSO, C.I.; RIBEIRO, J.G.B.; FEICHTENBERGER, E.; GOES, A.; SPOSITO, M.B. Manual técnico de procedimentos da mancha-preta dos citros Brasília: Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2002. v.1, 72 p.
  • ALMEIDA, T.F.; REIS, R.F.; GOES, A. Method of inoculation of Guignardia citricarpa (Phyllosticta citricarpa) on 'Pêra Rio' sweet orange fruit. Journal of Plant Pathology, Pisa, v.90, p.465-466, 2008.
  • ALCOBA, N.J.; VIGIANI, A.R.; BEJARANO, N.V.; ALVAREZ, S.E.; SERRANO, M. A.; BONILLO, M.C. La Mancha Negra de los Cítricos Jujuy: Ed. Universidad Nacional de Jujuy, 2000.
  • BAAYEN, R.P.; BONANTS, P.J.M.; VERKLEY, G.; CARROLL, G.C.; VAN DER A.A, H.A.; DE WEERDT, M.; VAN BROUWERSHAVEN, I.R.; SCHUTTE, G.C.; MACCHERONI W., J.R.; GLIENKE DE BLANCO C.; AZEVEDO J.L. Nonpathogenic isolates of The citrus black spot fungus, Guignardia citricarpa, identified as a cosmopolitan endophyte of woody plants, G. mangiferae (Phyllosticta capitalensis). Phytopathology, St. Paul, v.92, p.464477, 2002.
  • BALDASSARI, R.B.; REIS, R.F.; GOES, A. de. Susceptibility of fruits of the 'Valencia' and 'Natal' sweet orange varieties to Guignardia citricarpa and the influence of the coexistence of healthy and symptomatic fruits. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 31, n.4, p.337-341, 2006.
  • BALDASSARI, R.B.; WICKERT, E.; GOES, A. de. Pathogenicity, colony morphology and diversity of isolates of Guignardia citricarpa and G. mangiferae isolated from Citrus spp. European Journal of Plant Pathology, Wageningen, v. 120, n.1, p.103-110, 2008.
  • DONADIO, L.C.; STUCHI, S.E.; POZZAN, M.; SEMPIONATO, O.R. Novas variedades e clones de laranja-doce para indústria Jaboticabal: FUNEP, 1999. v.1, 42 p.
  • FEICHTENBERGER, E. Mancha-preta dos citros no Estado de São Paulo. Revista Laranja, Cordeirópolis, v.17, p. 93-108, 1996.
  • FUNDECITRUS. Manual da Pinta-Preta Araraquara, 2003. 7p.
  • GOES, A.; BALDASSARI, R.B.; FEICHTENBERGER, E.; AGUILAR-VILDOSO, C.I.; SPÓSITO, M.B. Cracked spot, a new symptom of citrus black spot (Guignardia citricarpa) in Brazil. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF CITRICULTURE, 9., 2000, Orlando. Anais.. Orlando: International Society of Citriculture, 2000. p.145.
  • KIELY, T.B. Control and epiphytology of black spot of citrus on the central coast of New South Wales New South Wales: Department of Agriculture Science Bulletin, 1948a.
  • KIELY, T.B. Preliminary studies on Guignardia citricarpa n. sp. The ascigenous stage of Phoma citricarpa McAlp. and its relation to black spot of citrus. Proceedings of the Linnean Society of New South Wales, Sidney, v.73, p.249-92, 1948b.
  • KIELY, T.B. Black spot of citrus in New South Wales coastal orchards. Agricultural Gazette of New South Wales, Sidney, v. 60, p. 17-20, 1949.
  • KLOTZ, L.J. Fungal, bacterial and nonparasitic diseases and injuries originating in the seedbed, nursery and orchard In: Reuther, W., Calavan, E.C. & Carman, G.E. (Ed.). The citrus industry Davis. University of California, 1978, v. 4, p.1-66.
  • KOTZÉ, J.M. Epidemiology and control of citrus black spot in South Africa. Plant Disease, St. Paul, v.65, p. 945-950, 1981.
  • KRAJEWISK, A.J.; RABIE, E. Citrus flowering: a critical evaluation. Journal of Horticultural Science, London, v.70, n.3, p. 357-374, 1995.
  • LI, W.B. Avaliação do comportamento de variedades de copas e porta-enxertos à clorose variegada dos citros 1997. 107 f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) -Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 1997.
  • MATTOS JUNIOR, D.; GONZALES, A.F.; POMPEU JUNIOR, J.; PARAZZI, P. Avaliação de curvas de maturação de laranjas por análise de agrupamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 34, n. 12, p. 2203-2209, 1999.
  • SCHINOR, E.H.; MOURÃO FILHO, F.A.A.; VILDOSO, C.I.A.; TEÓFILO SOBRINHO, J. Colonização de folhas de laranjeira-Pera e variedades afins por Guignardia citricarpa Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.27, n.5, p.479-483, 2002.
  • SCHUTTE, G.C.; BEETON, K.V.; KOTZÉ, J.M. Rind stippling on Valencia oranges by copper fungicides used for control of citrus black spot in South Africa. Plant Disease, St. Paul, v. 81, n.8, p. 851-854, 1997.
  • SPÓSITO, M.B.; AMORIM, L.; RIBEIRO, P.J.; BASSANEZI, R.B.; KRAISNKI, E.T. Spatial pattern of trees affected by Black Spot in Citrus groves in Brazil. Plant Disease, St. Paul, v.91, n.1, p. 36-40, 2007.
  • SPÓSITO, M.B.; AMORIM, L.; BELASQUE JUNIOR, J.; BASSANEZI, R.B.; AQUINO, R. Elaboração e validação de escala diagramática para avaliação da severidade da mancha-preta em frutos cítricos. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v., n. 1, p. 81-85, 2004a.
  • SPÓSITO, M.B.; BASSANEZI, R.B.; AMORIM, L. Resistência à mancha-preta dos citros avaliada por curvas de progresso da doença. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.29, n.5, p.532-537, 2004b.
  • SUTTON, B.C.; WATERSTON, J.M. Guignardia citricarpa descriptions of pathogenic fungi and bacteria. Surrey: Common Wealth Mycological Institute, 1966.
  • WHEELER, B.E.J. An introduction to plant disease. London: John Wiley & Sons, 1969. 374p.
  • 1
    (Trabalho 012-09).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      Set 2010

    Histórico

    • Aceito
      27 Abr 2010
    • Recebido
      07 Jan 2009
    Sociedade Brasileira de Fruticultura Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n , 14884-900 Jaboticabal SP Brazil, Tel.: +55 16 3209-7188/3209-7609 - Jaboticabal - SP - Brazil
    E-mail: rbf@fcav.unesp.br