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A carta atenagórica de Sor Juana Inés de la Cruz

O que conhecemos como Carta Atenagórica é um texto que a escritora e freira novo-hispana (atual México) Sor Juana Inés de la Cruz (1648 ou 51 - 1695) redigiu, em 1690, por encomenda de um religioso homem. Como Sor Juana explica no texto, ele foi pensado como uma correspondência privada, já que à época mulheres não podiam se posicionar publicamente sobre teologia. Acontece que esse religioso publica a Carta, acompanhada de um prólogo assinado por pseudônimo feminino (Sor Filotea de la Cruz), no qual elogia e recrimina a argumentação de Sor Juana. Alguns comentadores consideram essa publicação um ato de traição de parte do religioso; outros, um arranjo que dá mostras da perspicácia de Sor Juana, que aproveitou essa brecha para demonstrar sua erudição e capacidade argumentativa.

Na Carta, Sor Juana critica o Sermão do Mandato (de 1650, ou seja, de quando Sor Juana estava nascendo), do célebre padre Antônio Vieira (Lisboa, 1608 - Salvador, 1697), rebatendo seus argumentos um a um. Nesse sermão, Vieira discorda de três santos (Santo Agostinho, São Tomás e São João Crisóstomo), numa mostra da autonomia que tinha para ler as escrituras e interpretá-las a seu favor, colocando a oratória antes da literalidade. À Sor Juana estava negada inclusive a literalidade, o que faz da Carta Atenagórica um documento de sua insubmissão. Insubmissão conservadora, já que defende os três santos da liberdade oratória de Vieira - mas, ainda assim, insubmissão registrada em um texto de grande valor argumentativo e estético.

A Carta tem grande repercussão e, como se pode imaginar, rende problemas a esta mulher que ousou debater com homens. Em 1691, Sor Juana escreve uma resposta a Sor Filotea, que se converte em um de seus textos mais importantes porque registra a sua biografia. A resposta deve ter circulado em Nova Hispana, mas só é publicada em livro postumamente, em 1700.

Tanto a carta de Sor Filotea quanto a resposta de Sor Juana têm tradução para o português, por Teresa Cristófani Barreto, em Letras sobre o espelho (1989CRUZ, Sor Juana Inés de la. Letras sobre o espelho. Introdução, organização e notas de Teresa Cristófani Barreto. Tradução dos textos em prosa de Teresa Cristófani Barreto. Tradução dos poemas de Vera Mascarenhas de Campos. São Paulo: Iluminuras, 1989. 236 p.). Salvo engano, a Carta atenagórica não tinha, antes desta que apresento, tradução para o português. O texto de partida para esta tradução foi fixado por Facundo Ruiz em Nocturna, mas no funesta: poesía y cartas (2017CRUZ, Sor Juana Inés de la. Nocturna, mas no funesta: poesía y cartas. Edición, prólogo y notas de Facundo Ruiz. Buenos Aires: Corregidor, 2017.). Ruiz utiliza a segunda versão da Carta, de 1692, corrigida por Sor Juana e incluída no livro Segundo Volumen. Nessa segunda versão, o texto aparece com o título Crisis sobre un sermón de un orador grande entre los mayores, que la madre sóror Juana llamó Respuesta, por las gallardas soluciones con que responde a la facundia de sus discursos, que apresento aqui como subtítulo, já que Carta atenagória já está consagrado como título do texto em português.

Para as citações da bíblia, cuja tradução apresento em nota de rodapé, sempre que possível, utilizei A Bíblia de Jerusalém (1985A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradutores não nomeados. Direção editorial de Tiago Giraudo. Coordenação editorial de José Bortolini. São Paulo: Paulinas, 1985. ). Quando não foi possível localizar o trecho na versão em português, contei com o auxílio de Homero Vizeu Araújo para a tradução do latim.

Quanto às citações que Sor Juana faz do sermão de Vieira, temos dois casos. Às vezes, ela cita literalmente o texto de Vieira, mas em espanhol, não se sabe se em tradução própria ou alheia; optei por não traduzir esse tipo de citação e utilizar o sermão fixado por Alcir Pécora em Sermões, Tomo II (2001VIEIRA, Antônio. Sermões: Padre Antônio Vieira. Tomo II. Organização e introdução de Alcir Pécora. São Paulo: Hedra, 2001. 603 p.). Quando Sor Juana parafraseia o sermão de Vieira, também em espanhol, optei por traduzir as citações, já que as paráfrases assinalam o estilo da autora.

A CARTA ATENAGÓRICA DE SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ

[Crítica sobre um sermão de um orador grande entre os maiores, que a madre sor Juana chamou “Resposta”, pelas garbosas soluções com que responde à facúndia de seus discursos]

Mui senhor meu: Das loquazes impertinências de uma conversação, que na mercê que V. M.cê me faz deram a impressão de vivacidade, nasceu em V. M.cê o desejo de ver por escrito alguns discursos que fiz ali, de repente, sendo alguns deles - e uns ainda mais - sobre os sermões de um excelente orador, celebrando algumas vezes seus fundamentos, outras dissentindo, e sempre me admirando com sua engenhosidade sem igual, que se sobressai ainda mais no segundo que no primeiro, porque sobre sólidas bases não é tão admirável a beleza de uma fábrica, como é a que sobre fracos fundamentos se ostenta lúcida, como são algumas das proposições deste sutilíssimo talento, que é tal sua suavidade, sua astúcia, sua energia, que, mesmo quem dissente, se encanta com a beleza da oração, se maravilha com a doçura, se enfeitiça pela graça, e exalta, admira e se apaixona pelo todo. Disso falamos, e V. M.cê quis (como já disse) ver isto escrito; e para que saiba que lhe obedeço no mais difícil, não só em nome do entendimento em assunto tão árduo como fazer proposições a tão grande talento, como em nome de meu gênio, repugnante a tudo que parece impugnar a todos, o faço; embora modificado esse inconveniente, e assim, tanto de um como de outro, será somente V. M.cê a testemunha, em quem a própria autoridade de sua ordem deixará honrados os erros de minha obediência, que a outros olhos pareceria desproporcionada soberba, e mais, caindo em sexo tão desacreditado em matéria de letras com o comum acordo de todo mundo. E para que V. M.cê veja quão purificado de toda paixão vai meu sentir, o primeiro que proponho são três razões que, neste insigne varão, provocam meu especial amor e reverência.

A primeira é o cordialíssimo e filial carinho a sua Sagrada Religião, de quem no afeto não sou menos filha do que foi dito sujeito. A segunda, a grande afeição que este admirável assombro dos engenhos sempre me provocou, em tal grau que costumo dizer (e assim sinto), que se Deus me permitisse escolher talentos, não elegeria outro que não fosse o seu. A terceira, que à sua generosa nação tenho oculta simpatia. Que juntas ao habitual de não ter espírito contraditório, sobravam para calar, como faria se não tivesse contrário preceito. Mas não bastarão para que o entendimento humano, potência livre e que assente ou dissente ao que julga ou não ser a verdade, se renda a lisonjear o comedimento da vontade. Em cuja suposição, digo, que isso não é replicar, e sim referir simplesmente meu sentir; e este, tão alheio de crer de si o que do seu pensou dito orador, dizendo que ninguém o superaria (proposição em que falou mais sua nação que sua profissão e entendimento), que certamente tenho pensado e acreditado, que qualquer um superará meus discursos em infinitos graus. E não posso deixar de dizer que a este, que parece atrevimento, abriu ele mesmo o caminho, e pisou ele primeiro as intactas sendas, deixando não só exemplificadas mas fáceis as menores ousadias, em vista de seu maior arrojo. Pois se sentiu vigor em sua pluma para superar em um de seus sermões (que será o único assunto deste papel) três plumas doutas, canonizadas, que tanto há em quem tente superar a sua, não canonizada, embora douta? Se há um Túlio moderno que se atreva a superar um Agostinho, um Tomás e um Crisóstomo, que tanto há em quem ouse responder a esse Túlio? Se há quem não tema combater no engenho com três mais que homens, que tanto há em quem faça frente a ele, embora tão grande homem? E mais, se se acompanha e ampara naqueles três gigantes; pois meu assunto é defender as razões dos três Santos Padres. Disse mal. Meu assunto é defender-me com as razões dos três Santos Padres. Agora creio que acertei. E entrando nele, digo que seguirei na resposta o mesmo método que seguiu o orador no sermão citado, que é o do Mandato; e é dessa forma:

Fala das finezas de Cristo no fim de sua vida: in finem dilexit eos (Ioan. 13 cap.)1 1 Amou-os até o fim (São João 13.1). ; e propõe o sentir de três Santos Padres, que são Agostinho, Tomás e Crisóstomo, com tão generosa ousadia que diz: O estilo que guardarei neste discurso, para que procedamos com muita clareza, será este: referirei primeiro as opiniões dos Santos, e depois direi também a minha; mas com esta diferença: que nenhuma fineza do amor de Cristo me darão, que eu não dê outra maior; e a fineza do amor de Cristo que eu disser, ninguém há de dar outra igual. Essas são suas formais palavras, essa sua proposição, e isso que motiva a resposta.

A primeira opinião é de Santo Agostinho, que sente que a maior fineza de Cristo foi morrer, provado com o texto: Maiorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis. (Ioan. 15 cap. I.)2 2 Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos (São João 15.13).

Diz esse orador que maior fineza foi em Cristo ausentar-se que morrer. Prova-o por discurso: porque Cristo amava mais os homens que sua vida, pois dá a vida por eles; logo mais fineza é ausentar-se que morrer. Prova-o com o texto de Maria Madalena, que chora no sepulcro e não ao pé da Cruz; porque aqui vê o Cristo morto e ali ausente, e é dor maior a ausência que a morte. Prova-o mais, que Cristo não faz demonstrações de sentimento na Cruz quando morre: Inclinato capite emisit spiritum3 3 E, inclinando a cabeça, entregou o espírito (São João 19.30). e fá-las no Horto, porque se separa: factus in agonia4 4 E, cheio de angústia (São Lucas 22.44). , porque lhe é mais sensível a ausência que a morte. Prova-o dizendo que, podendo Cristo ressuscitar no segundo instante em que morreu e sacramentar-se depois da ressurreição, que o primeiro era o remédio da morte e o segundo da ausência, dilata o remédio da morte até o terceiro dia, e o da ausência não só não o dilata como antecipa, sacramentando-se no dia antes de morrer; logo Cristo sente mais a ausência que a morte. Prova mais. Diz que Cristo morreu uma vez e se ausentou uma vez; mas que à morte não lhe deu mais que um remédio, ressuscitando uma vez; mas que à ausência lhe buscou infinitos, sacramentando-se. E assim, à morte deu uma ressurreição como remédio; mas por uma ausência multiplicou infinitas presenças; logo sente mais a ausência que a morte. Diz mais: que Cristo tanto sente mais a ausência que a morte que - sendo que o Sacramento da Eucaristia, como sacramento, é presença, e como sacrifício é morte, já que Cristo morre tantas vezes quantas se faz presente - não repara que cada presença lhe custa uma morte. De forma que tanto Cristo sente mais o ausentar-se que o morrer, que se sujeitou a uma perpetuidade da morte para não sofrer um instante de ausência; logo foi maior fineza ausentar-se que morrer.

Essas são, em substância, suas razões e provas, embora, para não me alongar, estreito-as à vulgaridade de meu estilo, em que não pouco perdem sua energia e vivacidade; e será preciso fazê-lo assim em todos os discursos, pois V. M.cê poderá lê-los devagar no mesmo autor a quem me refiro, pois estas não são mais que umas notas ou lembretes para dar claridade à resposta, que é esta:

Sinto com Santo Agostinho que a maior fineza de Cristo foi morrer. Prova-se por discurso: porque o mais apreciável no homem é a vida e a honra, e ambas as coisas Cristo dá em sua afrontosa morte. Como Deus, já havia feito para o homem finezas dignas de sua onipotência, que foi criá-lo, conservá-lo, etc.; mas como homem, não tem mais o que dar que a vida. Prova-se não só com o texto: Maiorem hac dilectionem5 5 Novamente São João 15.13: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. etc., no qual se pode entender de outros amores, como com outros infinitos. Seja quando Cristo diz que é um bom Pastor: Ego sum pastor bonus. Bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis6 6 Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas (São João 10.11). , onde Cristo fala de si mesmo e qualifica sua fineza como sua morte. E sendo Cristo o único que sabe qual é a maior de suas finezas, é claro que quando se põe a executá-las Ele mesmo, havendo outra maior, diria; e não ostenta como prova de seu amor mais que a prontidão para a morte. Logo é a maior fineza de Cristo. Mais. Uma fineza tem dois pontos que podem constituí-la em sua grandeza: o ponto a quo, de quem executa, e o ponto ad quem, de quem a conquista. O primeiro torna uma fineza grande pelo tanto que custa ao amante; o segundo, pela utilidade que traz ao amado. Há muitas finezas que têm um ponto, mas carecem do outro. Um exemplo das primeiras é Jacó servindo catorze anos. Oh, que trabalho! Oh, que gelo! Oh, que sol! Grande fineza de parte de Jacó. Mas vejamos: que utilidade isso traz a Raquel, que é o outro ponto? Nenhuma, pois ter esposo sem essas diligências conseguiria por sua beleza. Essa fineza tem só o ponto a quo. Um exemplo das segundas é Ester, elevada ao trono real no lugar da rainha Vasti. Grande alegria, certamente! Grande ventura! Grande utilidade para Ester! Mas vejamos o outro ponto. Que custo essa fineza tem para Asuero? Nenhum: só querer. Essa fineza tem só o ponto ad quem. Logo para ser grande de todo uma fineza deve ter custo para o amante e utilidades para o amado. Então pergunto: qual fineza é mais custosa para Cristo que morrer? Qual mais útil para o homem que a redenção que resultou de sua morte? Logo, por ambos os pontos, a maior fineza é morrer.

Encarna o Verbo, e mede por nosso amor a imensa distância entre Deus e o homem; morre, e mede o limite que há entre o homem e a morte. E como aquela é a maior distância, quando nos representa suas finezas e nos recomenda sua memória, não nos lembra que encarnou e nos representa que morreu: Hoc est corpus meum, quod pro vobis tradetur; hoc facite in meam commemorationem7 7 Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim (I Coríntios 11.24). . Pois Cristo não podia nos dizer: este é meu corpo, que por vosso amor tomei e me fiz homem? Não: que a Encarnação não lhe foi penosa, nem obrou logo nossa redenção; e Cristo quer lembrar-nos seu custo e nossa utilidade, que são os dois pontos que fazem uma fineza perfeita, e que só compreende sua morte, que é a maior de suas finezas; porque a encarnação foi maravilha maior, mas não foi fineza tão grande; pois como maravilha, maior maravilha foi fazer-se Deus homem que morrer sendo homem; mas como fineza, maior custo foi morrer que encarnar, porque em encarnar não perdeu coisa nenhuma do ser Deus quando se fez Cristo, e em morrer deixou de ser Cristo, desunindo-se o corpo da alma, que lhe fazia Cristo. Logo foi maior fineza morrer. E parece que o próprio Senhor assim ordenou. Prove-se por discurso. Todos aqueles que se elegem como meios para um fim são tidos como de menor apreço que o fim a que se dirigem. A encarnação foi meio para a morte, pois Cristo se fez homem para morrer pelo homem; portanto foi maior fineza morrer que encarnar, embora seja maior maravilha encarnar que morrer. Logo morrer foi a maior fineza na gradação do próprio Cristo, que é o único que sabe graduar suas finezas. E justamente por isso diz ao expirar: Consummatum est8 8 Está consumado! (São João 19.30). , porque expirar foi a consumação de suas finezas.

Compra Cristo (diz o autor) cada presença no sacramento com uma morte; eu entendo que compra a morte com a presença, pois tem a presença para lembrar-nos da morte: Quotiescumque feceritis, in mei memoriam facietis9 9 Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em minha memória. . A que tem por maior é aquela fineza que o amante deseja que se imprima na memória do amado. Cristo diz: Lembrai-vos que morri; e não diz: Lembrai-vos que vos criei, que encarnei, que me sacramentei, etc. Logo, a maior é morrer.

Confirma-se esta verdade: aquela fineza que o amante mais ostenta e reitera é a que tem por maior. Cristo reitera sua morte e não outra; logo, esta foi a maior. E tendo infinitos benefícios de que podemos nos lembrar, só nos lembra que morreu. Logo, esta é a maior. Mais. As demais finezas de Cristo são referidas, mas não representadas. A morte é referida, recomendada e representada. Logo, não só é a maior fineza como é um compêndio de todas as finezas. Provo-o. Cristo com sua morte nos repete o benefício da Criação, pois nos restitui com ela ao primitivo ser da graça. Cristo com sua morte nos reitera o benefício da Conservação, pois não só nos conserva vida temporal, morrendo para que vivamos, como nos dá sua Carne e Sangue por sustento. Cristo em sua morte nos reitera o benefício da Encarnação, pois unindo-se na Encarnação à Carne Puríssima de sua mãe, na morte se une a todos, derramando em todos seu Sangue. Só o Sacramento parece não ser representado e é porque o Sacramento é a representação de sua morte. E isso mesmo prova que a morte é a maior fineza: pois sendo tão grande fineza o Sacramento, é só representação da morte.

Mas na verdade até agora não respondemos ao autor, só defendemos o sentir de Santo Agostinho, de que a maior fineza de Cristo foi morrer. Vamos às razões do autor, pois já deixamos ditos seus fundamentos. Sem dúvida lhe concedemos que Cristo amou mais aos homens que a sua vida, pois deu-a por eles. Mas lhe negamos a suposição de que Cristo se ausentou; e mesmo que tenha se ausentado, negamos também que a ausência seja dor maior que a morte. Vamos ao primeiro, que é provar que Cristo não se ausentou. Sirva de prova, ao meu, seu próprio argumento. Se o autor diz que Cristo sente tanto o ausentar-se e tão pouco o morrer, que dilata o remédio da morte na Ressurreição até o terceiro dia e antecipa o da ausência no Sacramento, por que sua no Horto: factus est sudor eius?10 10 Novamente São Lucas 22.44: E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra. Por que agoniza de angústia: factus in agonia?11 11 Ibidem. Por que se ausenta, se fica já presente Sacramentado no Cenáculo? E se remedia a ausência antes de chegar, qual ausência é a que sente já remediada? Logo, a agonia não é de quem se aparta e já deixa assegurado o que fica. Logo, de tudo isso, se infere que o ausentar-se não só não deve contar como a maior fineza de Cristo, como nem por fineza, pois nunca chegou o caso de executá-la.

O autor diz que Cristo se vai porque nos interessa: Expedit vobis ut ego vadam12 12 É de vosso interesse que eu parta (São João 16.7). . É verdade que se vai, mas é falso que se ausenta. Não percamos tempo: já sabemos sua infinidade de presenças.

Provado que Cristo não se ausentou, não serve a prova de Maria Madalena para essa conclusão, pois só serviria se o autor supusesse a ausência que eu nego. E meu argumento é que a morte de Cristo foi a maior fineza das finezas que obrou: não da suposição da ausência, que nessa nego todo o suposto e não há relativo de comparação entre o que é e o que não é. Mas como propus provar que a ausência não é dor maior que a morte e, por conseguinte, nem maior fineza, senão o contrário, será preciso responder à prova de Maria Madalena. E assim digo: por Maria Madalena chorar no sepulcro e não chorar ao pé da Cruz, não se infere que seja maior dor a ausência que a morte; pelo contrário.

Provo-o. Quando se recebe algum grande pesar, os espíritos vitais acodem a socorrer a agonia do coração que desfalece; e essa retração de espíritos geralmente ocasiona retenção e suspensão de todas as ações e movimentos, até que, moderando a dor, o coração recobra fôlego para seu alívio e exala pelo pranto aqueles mesmos espíritos que lhe afogam para confortar, um sinal de que já não necessita tanto fomento como ao princípio. Assim se prova, por razão natural, que é menor a dor quando dá lugar ao pranto, que quando não permite que sejam exalados os espíritos porque necessita deles para seu alento e conforto. Prova-se, pois um gozo costuma ocasionar esse mesmo efeito; logo, as lágrimas não são indício de grave dor, são signos tão comuns que servem indistintamente ao pesar e ao gosto.

Cristo gradua dois homens com o doce título de amigos. Um é Lázaro: Lazarus amicus noster dormit13 13 Nosso amigo Lázaro dorme (São João 11.11). . O outro é Judas: Amice, ad quid venisti?14 14 Amigo, para que estás aqui? (São Mateus 26.50). Ocorrem aos dois, dois infortúnios: a Lázaro, morte temporária; a Judas, morte temporária e eterna. Está bem claro que esta seria mais sensível para Cristo; e vemos que chora por Lázaro: lacrymatus est Iesus15 15 Jesus chorou (São João 11.35). , e não chora por Judas, porque aqui a dor maior embargou o pranto, e lá a menor o permite.

A rainha das dores para ser também rainha dos méritos, se depara com o doloroso espetáculo da morte de seu Filho único; e quando choram com tão distante conhecimento as Filhas de Sião, não chora a maltratada Mãe: Stantem lego, flentem non lego16 16 Eu leio que ela ficava ali, não que ela chorava. . Porque a dor inferior chora; a suprema suspende e não deixa chorar.

Dentro do mesmo caso de Maria Madalena encontraremos outra prova. Não há dúvida de que Maria Madalena amou muito a Cristo; o próprio Senhor o atesta: Remittuntur ei peccata multa, quia dilexit multum17 17 Seus numerosos pecados estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor (São Lucas 7.47). . Pois sendo esse amor tão meritório, está claro que seria perfeito; e a perfeição, está claro que é amar a Deus sobre todas as coisas. Logo Madalena amava mais a Cristo que a Lázaro, seu irmão. Então, por que chora na morte de seu irmão: et vidit eam Iesus flentem18 18 Quando Jesus a viu chorar (São João 11.33). etc., e não chora na morte de Cristo? É porque sentiu menos dor na morte de Lázaro que na morte de seu Mestre. Logo, se prova ser maior dor a que não deixa chorar que a que chorar deixa.

Provo-o mais. Que dor há na ausência, senão uma carência da visão do que se ama? Pois essa, está claro, vê a morte mais circunstanciada: porque a ausência traz uma carência limitada e a morte, uma carência perpétua. Logo, a morte é dor maior que a ausência, pois é uma ausência maior.

E digo mais. O ausente sente quando não vê o que ama, mas não tem outro dano em si, nem no que ama; quem morre, ou vê morrer, sente a carência de seu amado e a própria morte, ou sente a carência e sente a morte de seu amado. Logo, a morte é dor maior que a ausência, porque a ausência é só ausência; e a morte é morte e é ausência. Logo, se compreendida como aditamento, dor maior será.

Vamos ao segundo sentir, que é de São Tomás. Diz esse Angélico Doutor que a maior fineza de Cristo foi ficar conosco Sacramentado, quando partia seu Pai glorioso. (Comparai isso com aquela tão examinada ausência do discurso passado). Vamos ao caso.

Diz esse sutilíssimo engenho que a maior fineza de Cristo não foi sacramentar-se e sim ficar no Sacramento sem uso de sentidos. Prova-o com o lugar de Absalão, que voltando de Gessur para a Corte, e não inteiramente reduzido à graça de Davi, queria mais a morte do que tão penosa ausência. V. M.cê verá no sermão quanto essa prova é elegante; o que me interessa, primeiro, é averiguar a forma desse silogismo, e ver como o Santo argui e como o autor replica.

O Santo diz: Sacramentar-se foi a maior fineza de Cristo. O autor replica: Não foi, foi ficar sem uso de sentidos nesse Sacramento. Que forma de arguir é essa? O Santo propõe em gênero; o autor responde em espécie. Logo, não está conforme o silogismo nem vale o argumento. Se o Santo falasse de uma das infinitas espécies de finezas concentradas naquele Erário riquíssimo do Divino Amor dentro dos acidentes de Pão, seria uma boa oposição; mas todas estão compreendidas na palavra sacramentar-se, então como responde ao Santo opondo-se a uma das próprias finezas que o Santo compreende? Se alguém dissesse que a mais nobre categoria era a substância, e outro replicasse que não, é o homem, embora isso trouxesse provas muito elegantes (como são as que traz o autor), não diríamos que não servem porque o argumento é sofístico e peca na forma, já que o homem é espécie do gênero substância e está compreendido dentro dela? Está claro. Pois assim julgo esse, se não me engano, o que até poderá acontecer, mas asseguro que não será por paixão. Veja V. M.cê, que me sujeito nisso (como em tudo) à sua correção. Parece-me que retiradas as primeiras bases sobre as quais se apoiava a proposição, cai por terra o edifício das provas: quanto mais fortes, mais prontas para o precipício, saindo fraco o fundamento.

Penso que já satisfiz, no que concerne à defesa de São Tomás, cuja proposição abraça e compreende todas as finezas sacramentais. Mas se eu tivesse de arguir de espécie a espécie o autor, diria que das espécies de fineza realizadas por Cristo no Sacramento, a maior não é estar sem uso de sentidos, e sim estar presente na humilhação das ofensas. Porque privar-se do uso dos sentidos é só abster-se das delícias do amor, que é tormento negativo; mas manter-se presente nas ofensas é não só buscar o positivo do ciúme, é também (o que mais é) sofrer ultrajes no respeito. E esta é tão maior fineza que aquela, quanto um amor ultrajado vai a um amor reprimido; e o que dista a dor de um deleite que não se goza, de uma ofensa que se tolera, dista o privar-se dos sentidos ao fazer frente aos agravos. Não ver o que dá gosto é dor; mas dor maior é ver o que dá desgosto.

José é vendido pelos irmãos no Egito e Jacó é privado do deleite de sua visão. Ruben se atreve a violar o leito de seu pai. Ambos grandes delitos! Mas vejamos os castigos que Jacó lhes impõe. Priva Ruben da primogenitura, expressando como causa o agravo, amaldiçoa-o e não quer que cresça: Effusus es sicut aqua, non crescas; quia ascendisti cubile patris tui, et maculasti stratum eius19 19 Impetuoso como as águas: não serás colmado, porque subiste ao leito de teu pai e profanaste minha cama, contra mim (Gênesis 49.4). . Bem merecida pena por sua culpa! Mas vejamos, que castigo impõe aos demais por terem vendido José? Nenhum, nem volta a mencionar tal coisa. Como? Um delito tão enorme fica assim? Vender um irmão, e um irmão como José, delícias e consolo de Jacó, e depois amparo de todos? E isso é esquecido e Ruben, castigado? Sim, com a venda de José, Jacó foi privado só do deleite de seu amor; mas Ruben ofendeu seu amor e seu respeito. É dor menor privar-se do logro do amor, que sofrer agravos do amor e do respeito. Logo, em Cristo é maior fineza esta que aquela. Isso eu digo de passagem, pois já disse que é argumento de espécie a espécie, que pode ser feito ao autor, não ao Santo. Vamos à terceira, que é de São João Crisóstomo.

Diz o Santo que a maior fineza de Cristo foi lavar os pés aos discípulos. Diz o autor que a maior fineza não foi lavar os pés, e sim a causa que lhe moveu a lavá-los.

Temos outra, não muito diferente da passada: aquela, de espécie a gênero; esta, de efeito a causa. Valha-me Deus! Pode passar pelo pensamento do divino Crisóstomo que Cristo obrou tal coisa sem causa, e muito grande? Está claro que não pode pensar tal coisa. Não só uma causa, mas muitas causas manifestam-se em tão portentoso efeito que é aquela Imensa Majestade humilhar-se aos pés dos homens. Este é o efeito; e com sua energia, Crisóstomo quer que infiramos dele a grandeza das causas, sem expressá-las, porque não pode encontrar expressão mais viva que referir tão humilde ministério em tanta soberania como dizendo: Olhai como Cristo nos amou, pois se humilhou para lavar-nos os pés; olhai o que desejou ensinar-nos com seu exemplo, pois se abateu até a lavar-nos os pés; olhai quanto solicitou a conversão de Judas, pois chegou a lavar-lhe os pés. E muitas outras causas que o Evangelho expressa e muitas outras em que cala, e que Crisóstomo inclui naquele: Lavou os pés aos discípulos. Pois se o motivo de lavar os pés e a execução de lavá-los são vistos como causa e efeito, e causa e efeito estão relacionados, por isso não podem ser separados, onde está essa primazia que o autor encontra entre lavar e a causa de lavar, se a única diferença é que a causa gera e o efeito é gerado? E qual é a maior fineza segundo o Santo? Pois ao fim se resume que Cristo se abateu aos pés de Judas, cujo coração era trono de Satanás; esse é o efeito que o Santo pondera e expressa, e a causa foi para reduzi-lo; e essa é a causa, ou uma das causas, que o Santo incluiu, referindo o efeito com mais misteriosa ponderação do que se as expressasse.

Quer o evangelista São João dar provas do amor do Pai Eterno e prova-o com o efeito: Sic Deus dilexit mundum ut Filium suum Unigenitum daret20 20 Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único (São João 3.16). . Deus amou o mundo de uma maneira que deu a ele o seu filho. Logo o efeito é que prova a causa. Para incitar nossos desejos pelos bens eternos, nos diz que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano pode compreender como é aquela felicidade eterna. Mas, não seria melhor, para suscitar-nos o desejo, pintar a Glória? Não, o que não cabe nas vozes fica mais decente no silêncio; e expressa e dá a entender mais um: não se pode explicar como é a Glória; assim é a Glória. Assim é São Crisóstomo: a obra, que é exterior, expressa; a causa é suposta e, por ser inexplicável, deixa de dizê-la.

Para dar maior clareza ao dito e apoiar mais a propriedade com que falou o Santo, apuremos o que é fineza. É fineza, por acaso, ter amor? Não, certamente, mas sim as demonstrações de amor: essas se chamam finezas. Aqueles signos exteriores demonstrativos, e ações que o amante exercita, sendo o amor sua causa motivadora, isso se chama fineza. Logo, se o Santo está falando de finezas e atos externos, com grandíssima propriedade traz o Lavatório, e não a causa: pois a causa é o amor, e o Santo não está falando do amor, e sim da fineza, que é o signo exterior. Logo, não há para que nem porque arguir-lhe, pois o Santo tem como pressuposto o que depois é entendido como novo.

Já respondemos pelos três Santos. Agora vamos ao mais árduo, que é a opinião expressa por último pelo autor, o Aquiles de seu sermão: em seu sentir, a maior fineza de Cristo, e à qual diz que ninguém dará outra que se iguale, que é dizer que Cristo não quis a correspondência de seu amor para si, e sim para os homens, e que essa foi a maior fineza: amar sem correspondência. Prova-o com aquelas palavras: Et vos debetis alter alterius lavare pedes21 21 Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros (Evangelho de João 13.14). . De onde infere que Cristo não quer que correspondamos nem que o amemos, e sim que nos amemos uns aos outros. E diz que a maior fineza de Cristo é essa, porque é fineza sem interesse de correspondência. Para isso não traz provas da Sagrada Escritura, porque diz que a maior prova dessa fineza é carecer de prova, porque é fineza sem precedentes. Portanto, bem observada a proposição, há dois membros a que responder. Um é que Cristo não quis nossa correspondência. Outro, que não há prova dessa fineza de Cristo. Portanto, serão duas respostas. Uma: provar que não só não foi fineza o que o autor diz, como foi fineza o contrário, Cristo quer nossa correspondência, e essa é a fineza. A outra: provar que se soubéssemos que era fineza o que diz o autor, não faltariam provas na Sagrada Escritura, nem exemplos onde nada falta.

Vamos ao primeiro, que é provar que não foi fineza o que diz o autor, nem Cristo o fez. Provar que Cristo quis nossa correspondência e não renunciou a ela, e sim a solicitou, é tão fácil que não se encontra outra coisa em todas as Sagradas Letras: instâncias e preceitos que nos mandam amar a Deus. Já se vê que o primeiro preceito é Diliges dominum Deum tuum ex toto corde tuo, et ex tota anima tua, et ex tota mente tua22 22 E amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento (São Marcos 12.30). . Então, como se pode entender que Cristo não quer nossa correspondência quando com tanto apuro a reclama e manda? Está claro que o autor saberá disso melhor que eu, o que quis foi fazer ostentação de seu engenho com a extravagância, não porque sentisse que poderia provar; pois embora na cláusula et vos debetis alter alterius lavare pedes, não esteja expresso o amor que Cristo nos pede para si, e está expresso que ele nos manda amar ao próximo, está incluído e envolto nela o amor a Deus, embora não esteja expresso com maior eficácia que o amor ao próximo, que é exigido.

Provo-o por razão. Deus manda amar ao próximo e quer que o façamos porque ele manda. Logo, deixa suposto que devemos amar a Deus, pois por obediência temos que amar ao próximo. Quando se faz por respeito a alguém uma ação a favor de outro, mais apreço se tem a este por cuja atenção se faz, que àquele para quem se faz.

Deus quer destruir o povo pelo pecado da idolatria. Moisés se interpõe dizendo: Senhor, ou perdoa-lhes ou apaga-me do Livro da Vida. Deus perdoa aquele povo ingrato por essa interposição. Quem ficou aqui - pergunto - mais agradecido a Deus, Moisés ou o povo? Está claro que Moisés, pois embora o benefício tenha resultado em bem para o povo que ficou muito agradecido a Deus, mais ainda ficou Moisés, pois Deus o fez por respeito a ele. Cristo quer que nos amemos, mas que nos amemos nele e por ele. Logo, seu amor é primeiro. Se não, vejamos como aparece que nos amemos sem seu intermédio. Vejamos. Cristo manda amar aos pais: Honora patrem tuum [Êxodo 20.12; São Marcos 7.12; Efésios 6.2]23 23 Honra teu pai (São Marcos 7.12). . Manda amar ao próximo: Diliges proximum tuum, sicut te ipsum24 24 Amarás o teu próximo como a ti mesmo (São Mateus 22.39). . Bem, mas como há de ser esse amor? Antepondo sempre o seu não só aos amores pecaminosos, não só aos viciosos, mas aos lícitos, aos obrigatórios, aos que ele mesmo nos manda ter. Como entre pai e filho, entre mulher e marido e todos os demais que Sua Majestade quer, não os quer se não forem por seu intermédio; antes os abomina e os separa. Se não, veja-se a admirável ordem que no Evangelho vai nos ensinando o modo de cumprir e de praticar aquele primeiro preceito: Diliges Dominum Deum tuum, etc. Sua Majestade mandou amar aos pais: Honora patrem tuum, etc. E para que não pensemos que podemos amar mais a eles que a Deus, diz qui amat patrem, aut matrem plus quam me, non est me dignus25 25 Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim (São Mateus 10.37). . E aqui parece que Deus se contenta com não amarmos mais aos pais que a Sua Majestade. Mas não; mais adiante passa à obrigação, pois até agora só manda que não os amemos mais, mas depois manda desprezá-los se são estorvo a seu serviço: Si quis venit ad me, et non odit patrem suum, et matrem, et uxorem, et filios, et fratres, et sorores26 26 Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs (São Lucas 14.26). , etc. Aqui já se vê que nos manda desprezar todos os propínquos. Pois ainda falta, ainda ficamos inteiros, e nem mesmo nossos membros serão perdoados se interessar a seu serviço: Si autem manus tua vel pes tuus scandalizat te, abscinde eum, et proiice abs te27 27 Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti (São Mateus 18.8). . Na verdade, que já nem a mão nem o pé nem o olho estão isentos. Mas ainda há vida; pois não, não há essa sequer: Qui non odit patrem suum, et matrem suam, et uxorem, et filios, et fratres, et sorores, adhuc autem et animam suam, non potest meus esse discipulus28 28 Novamente São Lucas 14.26: Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo. . Valha-me Deus, que esmerado preceito, que não reserva nem mesmo a vida! Mas ainda temos o ser. Como? Nem o ser reserva! Escutemos: Si quis vult post me venire, abneget semet ipsum. Se alguém quer me seguir, negue-se a si mesmo [São Mateus 16.24]. Vedes aí como nada está reservado, o que importa é estar a seu serviço. Como podemos pensar que não quer nosso amor para si, se vemos que proíbe os mais lícitos amores quando se opõem ao seu? E mais que querer, abre guerra a sangue e fogo: ego veni ignem mittere in terram29 29 Eu vim trazer fogo à terra (São Lucas 12.49). ; e em outra parte: non veni mittere pacem in terram, sed gladium. Veni enim separare hominem adversus patrem suum, et filiam adversus matrem suam, et nurum adversus socrum suam; et inimici hominis, domestici eius30 30 Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer a paz, mas espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares (São Mateus 10.34-36). . Para mim, é muito notável a circunstância em que Cristo diz que vem para separar a nora da sogra e para fazer os criados inimigos de seu dono. Senhor, por que necessitais separar e inimizar? Eles não estão separados, não são inimigos? Separar o pai do filho e a filha da mãe, o marido da mulher, o irmão do irmão, tudo bem, porque todos esses se amam; mas a nora da sogra, os criados do amo? Não entendo. A nora já não detesta sua sogra? Que criado não é necessariamente inimigo de seu dono? Que necessidade há de separá-los se eles assim já estão? Esse é o maior conflito do preceito: havendo tão poucas exceções de bons criados e de noras amantes de sogras, ainda assim os compreende, para que os poucos que costumam seguir essa linha não se sintam excluídos do preceito - já vimos um Eliezer fiel criado de Abraão [Gênesis 15] e uma Ruth amante de sua sogra Noemi [Ruth] -, porque Deus é muito zeloso no que toca a esse ponto da primazia de seu amor e assim o repete em tantas páginas sagradas: Ego sum Dominus Deus tuus fortis, zelotes. Eu sou teu Senhor e Deus forte e zeloso [Êxodo 20.5]. E faz de tal forma ostentação de seu amor em seu zelo que, depois de ter feito várias ameaças à Sinagoga por suas maldades, a última e mais terrível é: Auferam a te zelum meum31 31 Meu zelo se desviará de ti (Ezequiel 16.42). . Como se dissesse: se com tantos benefícios não te queres reduzir, nem com tantos castigos te queres emendar, eu executarei em ti o maior de todos. E qual é, Senhor? Qual? Auferam a te zelum neum: tirarei de ti meu zelo, que é sinal de que tiro de ti meu amor.

Deus quer examinar a fé do patriarca Abraão e manda que sacrifique Isaac, seu filho. Agora reparo eu: por que Isaac é o escolhido? Ismael também não era filho? E se o sacrifício havia de ser de um filho, não bastaria que fosse Ismael, ou ao menos que Deus dissesse: Sacrifica um de teus filhos, sem escolher qual, e deixar livre a escolha para seu pai? Por que nomeia Isaac? Atenção às palavras: Tolle filium tuum, quem diligis, Isaac32 32 Toma teu filho, teu único, que amas, Isaac (Gênesis 22.2). , etc. Então o amado é Isaac? Pois que seja Isaac o sacrificado. Parece que Deus está zeloso de que Isaac seja tão amado por seu pai, e quer provar qual o maior amor de Abraão, se o seu ou o do filho.

E mais. Sabemos bem que Deus sabia o que Abraão iria fazer e que amava mais a ele que a Isaac; então, por que esse teste? Está claro que é para nós, porque Deus é tão zeloso que não só quer ser amado e preferido a todas as coisas, como quer que isso conste e que todo mundo saiba; por isso testa Abraão.

De tudo isso, julgo que se pode conhecer o grande dilema com que Cristo pede nosso amor e que quando manda que nos amemos, é sendo sua Majestade o meio desse amor. De forma que para amarmos uns aos outros sua Majestade há de ser o meio e a união. E ninguém ignora que o meio que une dois termos se une mais estreita e imediatamente com eles, que os une entre si e a eles: Cristo se põe como meio e união; logo quer que o amemos quando manda que amemos ao próximo.

Cristo diz mais: que seu preceito é que amemos ao próximo como sua Majestade nos amou: Hoc est praeceptum meum, ut diligatis invicem, sicut dilexi vos33 33 Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais (São João 13.15). . Aqui só manda que nos amemos uns aos outros. Mas para que possamos cumprir esse preceito, que disposição é mister? O próprio Cristo aponta-a: Qui diligit me, mandatum meum servabit34 34 Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama (São João 14.21). ; e o evangelista São João, na Epístola I, capítulo 5: Haec est enim charitas Dei, ut mandata eius custodiamus35 35 Pois este é o amor de Deus: observar os seus mandamentos (Epístola I João 5.3). . Logo, para cumprir o preceito de amar ao próximo, temos de amar primeiro a Deus. Se Cristo (como diz em outro sermão o mesmo autor) se chama Videira e nós Ramos: Ego sum vitis, vos palmites36 36 Eu sou a videira e vós os ramos (São João 15.5). , e os ramos se unem primeiro à videira e depois entre si, então Cristo quer, então Cristo manda, então Cristo solicita que o amemos.

Creio que me estendi superfluamente no que por si está tão claro; mas isso mesmo leva que haja tanto a se dizer sobre a matéria, e é mais trabalhoso deixá-la que expô-la. Do que foi dito, julgo que se tira como legítima consequência que Cristo não fez por nós a fineza que o autor supõe, de não querer correspondência. Poderão replicar-me: há fineza digna de tal nome que Cristo deixaria de fazer por nós com seu imenso amor? E direi: sim, há, porque há finezas que expõem nossa limitada natureza. E essas não foram feitas por Cristo, porque não estavam conformes a sua perfeição infinita, nem apropriadas a sua imensa Majestade, nem a suas dignidade e soberania. Verbi gratia: Os justos fazem por Cristo algumas finezas que Cristo não fez por eles, como resistir a tentações lutando contra nossa natureza que, inquinada com o pecado, está propensa ao mal e, além disso, o temor e o perigo de ser por elas vencido e brigar com incerteza da vitória ou da perda. Cristo não pode fazer nenhuma dessas espécies de fineza, pois não pode ser tentado e menos ainda temer perigos de pecar. Pois embora sua Majestade tenha sido levado ao deserto, ut tentaretur a diabolo37 37 Para ser tentado pelo diabo (São Mateus 4.1). , sabem bem os doutos como entender esse lugar, e explica-o o glorioso doutor São Gregório sobre o mesmo lugar, dizendo que a tentação ocorre de três maneiras: por sugestão, deleite ou consentimento. Do primeiro modo - diz - Cristo só pode ser tentado pelo Demônio. Porque nós, quando somos tentados, na maioria das vezes caímos ou no consentimento ou no deleite, podemos, ao menos, cair em uma das duas coisas ou em ambas; porque somos filhos do pecado e nele concebidos, temos em nós a semente da culpa, que é o fomes peccati38 38 Lenha/estimulante do pecado. que nos inclina a pecar. Mas Cristo, nascido de mãe virgem e por concepção milagrosa, era impecável; por isso não pode sentir em si alguma repugnância nem contradição ao obrar bem, e assim só pode ser tentado por sugestão, que é uma tentação extrínseca e que estava muito longe de sua mente e não podia lhe inclinar, nem fazer guerra alguma. E não tendo nem a luta nem o risco, não pode fazer a fineza de resistir, nem temer o risco de pecar. Por isso diz o Apóstolo: adimpleo ea quae desunt passionum Christi, in carne mea pro corpore eius, quod est Ecclesia39 39 E completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja (Colossenses 1.24). . Então como, se foi copiosa a Redenção: copiosa apud eum redemptio40 40 E redenção em abundância (Salmos 129.7). , que acresce ou que cobre a paixão de Cristo? Pode faltar algo à Paixão? O que fez São Paulo que não fez Cristo? O mesmo Apóstolo diz: Datus est mihi stimulus carnis meae angelus Satanae, qui me colaphizet41 41 Foi-me dado um aguilhão na carne - um anjo de Satanás para me espancar (II Coríntios 12.7). . Isso é o que faltou à paixão de Cristo: lutar contra tentações e temer perigos de pecar; e isso é o que São Paulo diz cobrir a paixão de Cristo; e essas são as finezas que Cristo não pode fazer, mas nós podemos.

Sendo assim, não querer correspondência seria fineza em um amor humano, porque seria desinteresse; mas não seria no amor de Cristo, porque não tem interesse algum em nossa correspondência. Provo-o. O amor humano busca ser correspondido em algo que lhe faltaria se não fosse, como o deleite, a utilidade, o aplauso, etc. Mas ao amor de Cristo não falta nada, embora não o correspondamos. Em si e consigo tem todos os seus deleites, todas as suas riquezas e todos os seus bens. Logo, não renunciaria a nada se renunciasse a nossa correspondência, pois nada lhe acrescenta; e renunciar ao que não era nada, não é nenhuma fineza; e como não era fineza em Cristo, Cristo não a faz por nós. No livro de Jó, capítulo XXXV, se lê, falando da soberania com que Deus não nos há de mister: Porro si iuste egeris, quid donabis ei, aut quid de manu tua accipiet? Homini, qui similis tui est, nocebit impietas tua; et filium hominis adiuvabit iustitia tua42 42 Se és justo, que lhe dás, que recebe ele de tua mão? A tua maldade só afeta a um homem como tu; a tua justiça, só a um mortal (Jó 35.7-8). . Assim fica claro que nós necessitamos de correspondências porque nos trazem utilidades, e portanto seria fineza, e muito grande, renunciar a elas. Mas para Cristo, que não se beneficia de algumas comodidades de nossa correspondência, não seria fineza não querê-las. E por isso, como já disse, Cristo não o faz por nós; antes pelo contrário, solicita nossa correspondência sem haver de mister, e essa é a fineza de Cristo.

É o amor de Cristo, muito diferente do amor dos homens. Os homens querem a correspondência porque é bem típico deles; Cristo quer essa mesma correspondência para bem alheio, que é o dos próprios homens. Parece-me que o autor andou muito próximo desse ponto, mas se equivocou e disse o contrário; porque, vendo Cristo como desinteressado, se convenceu de que não queria ser correspondido. O autor não fez distinção entre correspondência e utilidade da correspondência. A esta última é que Cristo renunciou, não à correspondência. Assim, a proposição do autor é Cristo não quis a correspondência para si e sim para os homens. A minha é Cristo quis a correspondência para si, mas quis a utilidade que resulta dessa correspondência para os homens.

Aqui o amante faz da correspondência um meio para o seu bem; Cristo faz da correspondência um meio para o bem dos homens. De forma que separa a correspondência do fim da correspondência. A correspondência, reserva para si. O fim dela, que é a utilidade que dela resulta, deixa para os homens. Aqui os amantes recíprocos querem o bem de seu amor para seu amado, mas o bem do amor do amado para si; Cristo quer que tudo seja para o homem, o bem do amor que tem pelo homem e o bem do amor que o homem lhe tem.

Cristo avalia o amor de Pedro e diz: Petre, amas me?43 43 Pedro, tu me amas? (São João 21.17). Pedro responde, com aquelas ardentes ponderações que brotavam de seu abrasado coração, que sim, que porá sua vida por seu amor. Vejamos: por que essa avaliação tão cuidadosa de Cristo? Sem dúvida quer que Pedro lhe preste algum grande serviço. Sim, quer. E qual é? Pasce oves meas44 44 Apascenta as minhas ovelhas (São João 21.17). . Isso é o que Cristo quer: que o amor de Pedro seja seu, mas a utilidade nas ovelhas. Cristo bem poderia haver dito a Pedro (e parece que era mais congruente): Pedro, amas as ovelhas? Então as pastoreie; mas ele diz: Pedro, me amas? Então guarda minhas ovelhas. Logo, quer o amor para si e a utilidade para os homens.

Poderíamos, agora, replicar dizendo: se para Cristo não é mister o amor do homem como bem seu, e sim para o bem do próprio homem, e para esse bem basta o amor de Cristo, que é quem nos há de fazer bem, por que solicita o amor do homem, já que mesmo que o homem não lhe ame, Cristo pode fazer-lhe bem?

Para responder a essa réplica é mister nos lembrarmos que Deus deu ao homem livre arbítrio com o que pode querer e não querer obrar bem ou mal, sem que para isso possa padecer violência, porque é a homenagem que Deus lhe fez, a carta de liberdade autêntica que lhe outorgou. Agora, da raiz dessa liberdade nasce que não basta que Deus queira ser do homem, se o homem não quer que Deus seja seu. E como Deus ser do homem é o sumo bem do homem, e isso não pode ser sem que o homem queira, por isso Deus quer, solicita e manda que o homem lhe ame, porque amar a Deus é o bem do homem. O Real Profeta Davi diz que Deus é Deus e Senhor porque não precisa de nossos bens: Dixi Domino: Deus meus es tu, quoniam bonorum meorum non eges45 45 És tu o meu Senhor: minha felicidade não está em nenhum destes demônios da terra (Salmos 15.2). . Aqui se expressa claramente que Deus não precisa de nossos bens. Depois, falando em pessoa do próprio Senhor diz, fazendo ostentação de seu poder: Eu não hei de mister vossos sacrifícios, nem vossos holocaustos. Eu não recebo vossos bezerros nem vossos cabritos. São minhas todas as aves que voam e as feras que pastam; minha toda a abundância que a terra produz em seus frutos; minha, por fim, toda a máquina do orbe. Porventura pensais que as carnes dos touros me sustentam ou que bebo o sangue vertido dos cabritos? Pois, Senhor Altíssimo (poderíamos responder): se não necessitais de nada porque tudo é vosso; se desdenhais todas as vítimas e não aceitais os sacrifícios, se sois todo-poderoso e infinitamente rico, que poderemos fazer em vosso serviço, vossas pobres criaturas? Vede que é desconsolo nosso não vos poder oferecer algo, porque tendes tudo, quando nos tendes tão obrigados com vossos benefícios. Sim, podeis (parece que nos responde no verso 14 do mesmo salmo): Immola Deo sacrificium laudis; et redde Altissimo vota tua. Et invoca me in die tribulationis; et eruam te, et honorificabis me46 46 Oferece a Deus um sacrifício de confissão e cumpre teus votos ao Altíssimo; invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás (Salmos 49.14-15). . Como se dissesse: Homem, queres corresponder ao muito que te dou? Então me peça mais, e recebo isso já por pagamento. Chama-me em teus trabalhos para que te livre deles; que essa tua confiança já tenho por honra minha. Oh primor do Divino Amor, dizer que é honra sua o que é proveito nosso! Oh sabedoria de Deus! Oh liberalidade de Deus! E oh finezas só de Deus e dignas só de Deus! Para isso Deus quer o nosso amor: para nosso bem, não para o seu. E esse foi o primor de sua fineza: não a recusa de nossa correspondência (como quer o autor) e sim a vontade de tê-la para nosso bem.

Já está provado que Cristo quis nossa correspondência e que sua maior fineza foi querê-la. Agora falta provar o que prometi, que é que, se supomos que fosse fineza não querê-la, não lhe faltariam (como quer o autor) provas, nem exemplos, dessa fineza na Sagrada Escritura; embora o autor a faça tão grande e tão não exemplar, que diz que não houve quem do amor que tem, que queira para outro, a correspondência. Vejamos se eu acho alguém que tenha feito.

Absalão mata seu irmão Amnon pelo estupro de Tamar. E o que faz seu pai, o rei Davi? Se indigna tanto que obriga Absalão a sair, fugindo da morte, para Gessur; e permanece tão irado o rei, que até Joab, seu primeiro ministro, não se atreve a falar em seu perdão, somente por meio da mulher de Técua; e mesmo depois de tudo, Davi não quer que Absalão veja sua cara. Grande raiva! Grande ira! Volta enfim Absalão às graças do pai, e tão logo isso acontece, traidor e rebelde a seu amor e a sua coroa, se faz clamar rei em Hebron; procura não só tirar o reino de seu pai, como a vida e a honra, profanando publicamente seu leito. Oh que ofensa! Oh que ingratidão! Oh que ultraje! E tudo que podemos esperar é que David esteja indignado, ofendido, irado contra tão mau filho, contra tão traidor vassalo! Falta pouco para que o vejamos, que a fortuna das armas já está a favor de Davi e ele poderá se vingar com satisfação. Ouçamos a ordem que dá ao general Joab para isso: Servate mihi puerum Absalom47 47 Tratai o moço Absalão com brandura, por amor de mim (II Samuel 18.5). . Jesus! Que ordem é essa tão ao contrário do que se esperava? Mas não ali. Infringe, Joab, desobediente a ordem; mata Absalão. E o que faz Davi? O quê? Chora, e toda a vitória se transforma em pranto; e deseja ser ele o morto para que Absalão seja o vivo: Fili mi Absalom, quis mihi det, ut ego moriar pro te?48 48 Meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar! (II Samuel 19.1). O que é isso, Davi? Choras assim por um filho tão inimigo? Por um vassalo traidor? Por quem queria vos tirar a vida quereis dar a vossa? E já que é tão grande vosso amor que quereis perdoar tão execráveis maldades, por que quando Absalão matou seu irmão Amnon, não mostrastes essa ternura, pelo contrário, queríeis matá-lo? Este é Absalão, então por que lá estáveis irado pela menor ofensa que foi matar seu irmão, e aqui, pela maior que foi, querer matar a vós, não só não estais furioso, como estais terno? Mais sentimentos tendes quando Absalão é cruel com Amnon do que quando é com vós? Mais sentis que faltasse o amor de Absalão por Amnon que por vós? Sim, foi assim. Então, para quem Davi pedia a correspondência de seu amor? Bem claro se vê que para Amnon e não para si. Logo, há prova e exemplos de quem busca para outro a correspondência a si devida. Agora, a segunda parte que prometi responder: caso fosse fineza de Cristo não buscar correspondência, não haveria prova, como disse o autor.

Com isso me parece que, mesmo com minha rudeza, pequenez e pouco estudo, obedeci a V. Mcê. no que me mandou. A excessiva pressa com que escrevi não permitiu polir um pouco mais o discurso, porque festinans canis caecos parit catulos49 49 A cadela apressada pare filhotes cegos. . E assim lhe remeto em embrião, como a ursa costuma parir seus disformes filhotinhos; e assim exibe mais esse defeito, entre os muitos que V. Mcê. reconhecerá. Mas como todos que chegam a suas mãos, alguns corrigirá com discrição e outros suprirá com amizade. O assunto também, com sua dificuldade, é honesto dizer que não consegui abarcar; pois em alvo inacessível não é tão indigno errar o tiro, como é nos comuns, e basta a valentia dos pigmeus atrevendo-se a Hércules. Diante do elevado engenho do autor, mesmo os muito gigantes parecem anãos, o que fará então uma pobre mulher? Embora já se saiba que uma tirou a clava das mãos de Alcides, mesmo sendo um dos três impossíveis venerados pela antiguidade. E falando mais de temas cristãos, quae stulta sunt mundi elegit Deus, ut confundat sapientes; et infirma mundi elegit Deus, ut confundat fortia; et ignobilia mundi et contemptibilia elegit Deus, et ea quae non sunt, ut ea quae sunt destrueret; ut non glorietur omnis caro in conspectu eius50 50 Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus (I Coríntios 1.27-29). . Acredito que se algo de acerto tem este papel, não é obra de meu entendimento, só se Deus quer castigar com tão fraco instrumento a soberba daquelas primeiras proposições, ao dizer que não haveria quem lhe desse outra fineza igual, em que crê que pode sobrepujar seu engenho ao dos três Santos Padres e não crê que possa haver alguém capaz de igualar-se a ele. E pensando que a mão de Deus não se aproximou de Agostinho, Crisóstomo e Tomás, julga que se reduziu a ele para não poder criar quem lhe responda. E mesmo que eu não tenha conseguido mais que atrever-me a fazê-lo, já seria bastante mortificação para um homem tão insigne; acreditou que não haveria um homem que se atrevesse a responder-lhe, ver que se atreveu uma mulher ignorante, a quem é tão alheio este tipo de estudo, e tão distante de seu sexo; mas também o manejo das armas era alheio a Judite, e a Débora, a magistratura. De todo modo, se lhe parece ilícita extravagância esta minha, basta que V. Mcê. rasgue este papel e ficará sanado o erro de tê-lo escrito. Finalmente, embora este papel seja tão privado que só o escrevo porque V. Mcê manda e para que o veja, o submeto por completo à correção de nossa Santa Madre Igreja Católica, e recuso e dou por nulo e por não dito tudo aquilo que se afaste de seu sentir comum e dos Santos Padres. Certo.

V. Mcê bem haverá acreditado, vendo-me finalizar este discurso, que me esqueci desse outro ponto que me mandou escrever, que é qual é, em meu sentir, a maior fineza do Amor Divino, que V. Mcê. me ouviu discorrer na mesma conversa citada. Pois não foi esquecimento e sim precaução, porque ali, como era uma conversa sucessiva, uns discursos foram chamando outros, embora não fossem por acaso, e aqui é necessário separar dos que não são, para não confundir um com o outro. Explico-me. Como falamos de finezas, eu disse que a maior fineza de Deus, em meu sentir, eram os benefícios negativos; isto é, os benefícios que deixa de nos fazer porque sabe que corresponderemos mal. Agora, esse modo de opinar é muito diferente daquele do autor, porque ele fala de finezas de Cristo, e feitas no fim de sua vida, e esta fineza que eu digo é fineza feita por Deus enquanto Deus, e fineza sempre continuada; e assim, não faz sentido opor esta ao que diz o autor, pelo contrário, seria uma argumentação muito viciada e muito censurável; por isso me pareceu melhor separá-la e, como discurso solto e independente do restante, colocá-la aqui para que V. Mcê. faça o que deseja, pois meu desejo é só obedecer-lhe.

A maior fineza do Divino Amor, em meu sentir, são os benefícios que deixa de nos fazer por nossa ingratidão. Provo. Deus é infinita bondade e bem supremo, e como tal é de sua própria natureza comunicável e desejoso de fazer o bem a suas criaturas. Mais: Deus tem infinito amor aos homens, logo sempre está pronto para fazer infinito bem. Mais: Deus é todo-poderoso e pode fazer aos homens todo o bem que quiser, sem nenhum trabalho, e seu desejo é fazê-lo. Logo Deus, quando faz bem aos homens, vai na corrente natural de sua própria bondade, de seu próprio amor e de seu próprio poder, sem que isso lhe custe nada. Está claro. Logo, quando Deus não faz benefício ao homem, porque sabe que o homem o empregará em seu próprio dano, Deus reprime a corrente de sua imensa liberalidade, detém o mar de seu infinito amor e estanca o curso de seu absoluto poder. Logo, segundo nosso modo de conceber, é mais custoso a Deus não fazer benefícios que fazê-los e, por conseguinte, é fineza maior suspendê-los que executá-los, pois Deus deixa de ser liberal (que é sua própria condição) para que nós não sejamos ingratos (que é um retorno próprio a nós) e prefere parecer escasso, para que os homens não sejam piores, a ostentar sua generosidade com dano aos próprios beneficiados. E sendo assim, essa é como uma censura de sua opinião liberal, antepõe o aproveitamento dos homens a sua própria opinião e a sua própria natureza.

O Redentor prega sua milagrosa doutrina, e tendo feito em tantos lugares tantos milagres e maravilhas, chegou a sua pátria, que parece que deveria ser preferida no carinho, e seus vizinhos e compatriotas, em vez de aplaudi-lo, começam a censurá-lo e a expor aquilo que, segundo seu juízo, eram faltas; dizem: Nonne hic est fabri filius? Nonne mater eius dicitur Maria, et fratres, Iacobus, et Ioseph [et Simon], et Iudas, et sorores eius; nonne omnes apud nos sunt? Unde ergo huic omnia ista?51 51 Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas? (São Mateus 13.55-56). E o Evangelista prossegue: Non fecit ibi virtutes multas propter incredulitatem illorum52 52 E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles (São Mateus 13.58). . De forma que bem que Cristo queria fazer milagres em sua pátria, bem que queria fazer benefícios, mas logo eles mostraram seu danificado ânimo na murmuração e no modo como receberam os favores de Cristo, e assim ele mesmo lhes adiantou o que haviam de dizer, e disse: Utique dicetis mihi hanc similitudinem: Medice, cura te ipsum: quanta audivimus facta in Capharnaum, fac et hic in pátria tua53 53 Certamente irieis citar-me o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-o também aqui em tua pátria (São Lucas 4.23). . E para satisfazer a calúnia antevista, lhes diz que no tempo de Elias havia muitas viúvas e só uma foi remediada, e que muitos leprosos havia no tempo de Eliseu e só curou Naamã Sírio, e que nenhum profeta é aceito em sua pátria. Eles, não entendendo a satisfação e prosseguindo na calúnia, quiseram desdenhá-lo, confirmando com essa maldade o motivo por que Cristo não lhes fazia benefícios positivos, e sim o negativo de não dar a eles a ocasião de cometer pecado maior. E este foi o maior benefício que Cristo pode fazer então a sua ingrata pátria, a qual preferiu, em detrimento daquelas duas cidades que o próprio Senhor ameaçava por terem sido ingratas às maravilhas que nelas obrou, e disse: Vae tibi Corozain, vae tibi Bethsaida: quia, si in Tyro et Sidone factae essent virtutes, quae factae sunt in vobis, olim in cilicio, et cinere poenitentiam egissent. Verumtamen dico vobis: Tyro et Sidoni remissius erit in die iudicii, quam vobis54 54 Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito se teriam arrependido, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza. Mas eu vos o digo: No Dia do Julgamento haverá menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós (São Mateus 11.21-22). . Ah de vós, que se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitas as maravilhas que foram feitas em vós, já tinham se convertido! Mas eu vos asseguro que no juízo tremendo eles serão menos castigados que vós.

Logo, o Senhor exime Nazaré desse fardo maior não fazendo benefícios, e então é o maior benefício não fazê-los, porque a exime do maior fardo que deles resultaria. Gravius (diz o glorioso São Gregório) inde iudicemur, cum enim augentur dona, rationes etiam crescunt donorum55 55 Diz o glorioso São Gregório: Mais grave ainda julgamos, pois, se os presentes se multiplicam, aumentam os motivos dos presentes. . Quanto mais se recebe, mais grave é o fardo da conta. Logo, é benefício não nos fazer benefícios quando havemos de usá-los mal.

Deus fez a Judas, fora os benefícios gerais, muitos particulares, e chegando o caso de sua sacrílega traição, Cristo lamentando, não a sua morte, mas o dano do ingrato discípulo, diz: Vae homini illi, per quem tradar ego, bonum erat ei, si natus non fuisset56 56 Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! (São Mateus 26.24). . Com isso parece que se arrepende de ter feito o benefício da criação, porque teria sido melhor não ter nascido que nascer para ser tão mau. Isso é mais claramente entendido quando Deus, ofendido pelas maldades dos homens, determinou acabar com o mundo por água; pois, usando das locuções humanas, diz o texto: Delebo, inquit, hominem, quem creavi a facie terrae, ab homine usque ad animantia, a reptili usque ad volucres coeli: poenitet enim me fecisse eos57 57 Farei desaparecer da superfície do solo os homens que criei - e com os homens os animais, os répteis e as aves do céu -, porque me arrependo de os ter feito (Gênesis 6.7). . De forma que Deus se arrepende de fazer benefícios que hão de fazer dano ao homem. Logo, o maior benefício é não fazer benefícios. Ah Senhor e Deus meu, que torpes e cegos andamos quando não reconhecemos essa espécie de benefício negativo que fazeis! O outro tem fortuna curta e, quando muito, diz que é castigo de Deus. Caso seja castigo, o castigo também é benefício, pois mira a nossa emenda, e Deus castiga a quem ama. Mas não é só o benefício de nos castigar, é o benefício de nos exonerar da conta maior. Tem o outro pouca saúde e lhe parece que Deus está surdo, porque não ouve seus lamentos. Não é isso, está fazendo o benefício de não vos dar saúde porque haveis de empregá-la mal. Inveja em nossos próximos os bens da fortuna, os dotes naturais. Oh, que errado vai o objeto da inveja, pois só devia ser o grande fardo que tem, de que há de dar conta estrita! E já que queremos invejar, não invejemos as mercês que Deus fez, e sim o bem que corresponde a elas, que é isso que se deve invejar, que é o que dá mérito; não havê-las recebido, que isso é o fardo. Estimemos o benefício que Deus nos faz de não fazer todos os benefícios que queremos, e também os que Sua Majestade quer fazer e suspende para não nos dar fardo maior. Agradeçamos e ponderemos esse primor do Divino Amor para quem premiar é benefício, castigar é benefício e suspender os benefícios é o maior benefício, e não fazer finezas, a maior fineza. E se não é assim, me digam: Deus, que deu ao Mundo seu Filho único que encarnou e morreu pelo homem, poderá negar o que ao homem? Nada. Ele mesmo diz: Quis est ex vobis homo, quem si petierit filius suus panem, numquid lapidem porriget ei? Aut si piscem petierit, numquid serpentem porriget ei? Si ergo vos, cum sitis mali, nostis bona data dare filiis vestris: quanto magis Pater vester, qui in coelis est, dabit bona petentibus se?58 58 Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se este lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem! (São Mateus 7.9-11). Então, Senhor, como a mãe dos filhos de Zebedeu vos pede as cadeiras e não as dais? Por que não sabem o que pedem, e em Deus maior benefício é não dar, porque não nos convêm, do que dar sendo tão liberal e poderoso, sendo sua condição natural.

E assim julgo ser essa a maior fineza que Deus faz pelos homens. Sua Majestade nos dê graça para conhecê-las, correspondendo-as, que é o melhor conhecimento; e que ao ponderar seus benefícios, não fique em discursos especulativos, e sim passe a serviços práticos, para que seus benefícios negativos se transformem em positivos, achando em nós digna disposição que rompa a barreira das correntezas estancadas da liberalidade divina, que nossa ingratidão detém e represa. E a V. Mcê. me guarde muitos anos. Volto a pôr todo o dito sob a censura de nossa Santa Madre Igreja Católica, como sua mais obediente filha. Iterum vale59 59 Adeus novamente. .

REFERÊNCIAS

  • A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradutores não nomeados. Direção editorial de Tiago Giraudo. Coordenação editorial de José Bortolini. São Paulo: Paulinas, 1985.
  • CRUZ, Sor Juana Inés de la. Letras sobre o espelho Introdução, organização e notas de Teresa Cristófani Barreto. Tradução dos textos em prosa de Teresa Cristófani Barreto. Tradução dos poemas de Vera Mascarenhas de Campos. São Paulo: Iluminuras, 1989. 236 p.
  • CRUZ, Sor Juana Inés de la. Nocturna, mas no funesta: poesía y cartas. Edición, prólogo y notas de Facundo Ruiz. Buenos Aires: Corregidor, 2017.
  • VIEIRA, Antônio. Sermões: Padre Antônio Vieira. Tomo II. Organização e introdução de Alcir Pécora. São Paulo: Hedra, 2001. 603 p.
  • 1
    Amou-os até o fim (São João 13.1).
  • 2
    Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos (São João 15.13).
  • 3
    E, inclinando a cabeça, entregou o espírito (São João 19.30).
  • 4
    E, cheio de angústia (São Lucas 22.44).
  • 5
    Novamente São João 15.13: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.
  • 6
    Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas (São João 10.11).
  • 7
    Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim (I Coríntios 11.24).
  • 8
    Está consumado! (São João 19.30).
  • 9
    Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em minha memória.
  • 10
    Novamente São Lucas 22.44: E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra.
  • 11
    Ibidem.
  • 12
    É de vosso interesse que eu parta (São João 16.7).
  • 13
    Nosso amigo Lázaro dorme (São João 11.11).
  • 14
    Amigo, para que estás aqui? (São Mateus 26.50).
  • 15
    Jesus chorou (São João 11.35).
  • 16
    Eu leio que ela ficava ali, não que ela chorava.
  • 17
    Seus numerosos pecados estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor (São Lucas 7.47).
  • 18
    Quando Jesus a viu chorar (São João 11.33).
  • 19
    Impetuoso como as águas: não serás colmado, porque subiste ao leito de teu pai e profanaste minha cama, contra mim (Gênesis 49.4).
  • 20
    Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único (São João 3.16).
  • 21
    Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros (Evangelho de João 13.14).
  • 22
    E amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento (São Marcos 12.30).
  • 23
    Honra teu pai (São Marcos 7.12).
  • 24
    Amarás o teu próximo como a ti mesmo (São Mateus 22.39).
  • 25
    Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim (São Mateus 10.37).
  • 26
    Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs (São Lucas 14.26).
  • 27
    Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam, corta-os e atira-os para longe de ti (São Mateus 18.8).
  • 28
    Novamente São Lucas 14.26: Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo.
  • 29
    Eu vim trazer fogo à terra (São Lucas 12.49).
  • 30
    Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer a paz, mas espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares (São Mateus 10.34-36).
  • 31
    Meu zelo se desviará de ti (Ezequiel 16.42).
  • 32
    Toma teu filho, teu único, que amas, Isaac (Gênesis 22.2).
  • 33
    Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais (São João 13.15).
  • 34
    Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama (São João 14.21).
  • 35
    Pois este é o amor de Deus: observar os seus mandamentos (Epístola I João 5.3).
  • 36
    Eu sou a videira e vós os ramos (São João 15.5).
  • 37
    Para ser tentado pelo diabo (São Mateus 4.1).
  • 38
    Lenha/estimulante do pecado.
  • 39
    E completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja (Colossenses 1.24).
  • 40
    E redenção em abundância (Salmos 129.7).
  • 41
    Foi-me dado um aguilhão na carne - um anjo de Satanás para me espancar (II Coríntios 12.7).
  • 42
    Se és justo, que lhe dás, que recebe ele de tua mão? A tua maldade só afeta a um homem como tu; a tua justiça, só a um mortal (Jó 35.7-8).
  • 43
    Pedro, tu me amas? (São João 21.17).
  • 44
    Apascenta as minhas ovelhas (São João 21.17).
  • 45
    És tu o meu Senhor: minha felicidade não está em nenhum destes demônios da terra (Salmos 15.2).
  • 46
    Oferece a Deus um sacrifício de confissão e cumpre teus votos ao Altíssimo; invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás (Salmos 49.14-15).
  • 47
    Tratai o moço Absalão com brandura, por amor de mim (II Samuel 18.5).
  • 48
    Meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar! (II Samuel 19.1).
  • 49
    A cadela apressada pare filhotes cegos.
  • 50
    Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus (I Coríntios 1.27-29).
  • 51
    Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas? (São Mateus 13.55-56).
  • 52
    E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles (São Mateus 13.58).
  • 53
    Certamente irieis citar-me o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-o também aqui em tua pátria (São Lucas 4.23).
  • 54
    Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito se teriam arrependido, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza. Mas eu vos o digo: No Dia do Julgamento haverá menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós (São Mateus 11.21-22).
  • 55
    Diz o glorioso São Gregório: Mais grave ainda julgamos, pois, se os presentes se multiplicam, aumentam os motivos dos presentes.
  • 56
    Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! (São Mateus 26.24).
  • 57
    Farei desaparecer da superfície do solo os homens que criei - e com os homens os animais, os répteis e as aves do céu -, porque me arrependo de os ter feito (Gênesis 6.7).
  • 58
    Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se este lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem! (São Mateus 7.9-11).
  • 59
    Adeus novamente.

Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Regina Zilberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    28 Mar 2022
  • Aceito
    15 Maio 2022
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