Acessibilidade / Reportar erro

As dinâmicas espaciais no centro de Gramado (RS-Brasil): reconhecimento dos agentes econômicos envolvidos nas transformações no espaço urbano do centro turístico

Spatial dynamics in the center of Gramado (RS-Brazil): recognition of the economic agents involved in the transformations in the urban space of the tourist center

Las dinámicas espaciales en el centro de Gramado (RS-Brasil): reconocimiento de los agentes económicos involucrados en las transformaciones del espacio urbano del centro turístico

Resumo

Os destinos turísticos consolidados muitas vezes caracterizam-se por mudanças de suas atividades e negócios, em que os agentes locais podem se ver deslocados de suas antigas funções em razão de investimentos de porte nacional e internacional. Este estudo objetiva reconhecer a existência de empreendedores locais dando suporte na atividade turística na área central de Gramado (RS). Esta condição faz-se necessária para um turismo comprometido com o desenvolvimento local quanto a aspectos social e econômico. Como percurso metodológico, identifica-se a origem dos estabelecimentos e faz-se uma associação acerca de seu aporte financeiro por meio de observação direta e indireta. Adota-se como recorte espacial a área central turística da cidade. Nesta pesquisa qualitativa, identificam-se linearmente 294 unidades funcionais deste ponto nevrálgico de circulação turística. Na abordagem compreende-se o processo de apropriação socioespacial ao contrastar os atuais proprietários com os anteriores e a ocupação dos lotes. A pesquisa também tem um suporte documental (textual e fotográfico). Observa-se a existência de uma estrutura marcante do turismo comprometido com os atores locais, embora o grande capital esteja pontualmente presente na área estudada. A questão de funcionalidade e a dinâmica fundiária caracterizam-se por um processo de gentrificação com a atividade turística suplantando as anteriores.

Palavras-chave
Atores Locais; Desenvolvimento Turístico; Transformação Territorial; Gramado-RS

Abstract

Consolidated tourist destinations are often characterized by changes in their activities and businesses, in which local agents may find themselves displaced from their former functions due to investments of national and international scale. This study aims to recognize the existence of local entrepreneurs supporting tourism in the central area of Gramado (RS). This condition is necessary for tourism committed to local development in terms of social and economic aspects. As a methodological path, the origin of the establishments is identified and an association is made about their financial contribution through direct and indirect observation. The central tourist area of the city is adopted as a spatial feature. In this qualitative research, 294 functional units of this neuralgic point of tourist circulation are linearly identified. In the approach, the socio-spatial appropriation process is understood when contrasting the current owners with the previous ones and the occupation of the lots. The research also has documentary support (textual and photographic). It is observed the existence of a notable structure of tourism committed to local actors, although large capital is occasionally present in the studied area. A process of gentrification characterizes the issue of functionality and land dynamics with the tourist activity supplanting the previous ones.

Keywords
Local Actors; Tourism Development; Territorial Transformation; Gramado-RS

Resumen

Los destinos turísticos consolidados se caracterizan a menudo por cambios en sus actividades y negocios, en los que los agentes locales pueden verse desplazados de sus funciones anteriores debido a inversiones de escala nacional e internacional. Este estudio tiene como objetivo reconocer la existencia de emprendedores locales que dan soporte a la actividad turística en la zona central de Gramado (RS). Esta condición es necesaria para un turismo comprometido con el desarrollo local en términos sociales y económicos. Como ruta metodológica se identifica el origen de los establecimientos, haciendo una asociación sobre su aporte económico a través de la observación directa e indirecta. Se adopta como recorte espacial la zona turística central de la ciudad. En esta investigación cualitativa se identifican linealmente 294 unidades funcionales de este punto neurálgico de circulación turística. En este abordajese comprende el proceso de apropiación socioespacial al contrastar los propietarios actuales con los anteriores y la ocupación de los lotes. La investigación también cuenta con soporte documental (textual y fotográfico). Se observala existencia de una notable estructura de turismo comprometido con los actores locales, aunque ocasionalmente el gran capital está presente en el área estudiada. El tema de la funcionalidad y la dinámica del territorio se caracteriza por un proceso de gentrificación con la actividad turística suplantando a las anteriores.

Palabras clave
Actores Locales; Desarrollo Turístico; Transformación Territorial; Gramado-RS

1 INTRODUÇÃO

Constantemente os agentes do capital financeiro buscam novas formas de investimento. Vislumbra-se em setores, tais como o turismo, uma possibilidade que permite benefícios de curto prazo (Remond-Roa et al., 2015Remond-Roa, R., González-Pérez, J. M., & Navarro-Jurado, E. (2015). Urbanización turística y ocupación del suelo en la península de Hicacos (Varadero, Cuba): Comportamientos diferenciados entre los espacios de uso público y privado. EURE (Santiago), 41(124), 139-161.https://doi.org/10.4067/S0250-71612015000400007
https://doi.org/10.4067/S0250-7161201500...
; Ruschmann, 1997Ruschmann, D. (1997). Turismo e desenvolvimento sustentável. Campinas-SP: Papirus.). Porém, entende-se que o envolvimento dos atores locais é condição necessária para um turismo comprometido com o desenvolvimento local quanto ao aspecto social e econômico.

Atualmente, a atividade turística reforça o papel econômico de uma sociedade de consumo, que tem no seu território uma das condições de formação dessa como mercadoria, que será apropriada como produto (Soja, 1993Soja, E. W. (1993). Geografia pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: Zahar.; Gottdiener, 1997Gottdiener, M. (1997). A produção social do espaço urbano. São Paulo: Edusp.). Consequentemente, sua transformação na localidade resulta no que Müllins (1991)Müllins, P. (1991). Tourism urbanization. International Journal of Urban Regional Research, 15(3), 326-342. https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991.tb00642.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991...
e César (2010)César, P. A. B. (2010). Urbanização turística: esboço para a definição de uma categoria do espaço social. Turismo em Análise, 21(2), 406-420. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v21i2p406-420
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
determinam como urbanização turística. Desta maneira, seu espaço se produz, reproduz e é produto de lógicas diversas, mesmo que como parte de complexidades horizontais e verticais (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP.). Assim, as condições vitais se socializam, transformando em necessidades econômicas.

Destaca-se Gramado como importante destino indutor no turismo nacional. Essa condição, que pode ser justificada por diversos motivos, resulta em centralidades próprias ao se sobressair de outros municípios do nordeste do Rio Grande do Sul. Consequentemente, determina a formação de uma urbanização turística marcante em grande parte do seu território.

Esta região (Região das Hortênsias) têm o turismo como vetor preponderante na economia, nas transformações espaciais e na sua formação urbana. Assim, a pesquisa tem como pressuposto que suas estruturas físicas espaciais normalmente atendem interesses específicos de grupos econômicos que se aportam dessas infraestruturas e equipamentos. Esses agentes, muitas vezes detentores das condições e das possibilidades para a produção e a reprodução de capital econômico, estabelecem-se na propriedade do solo para o qualificar nas atividades comerciais e de serviços.

Objetiva-se, no estudo ora relatado, reconhecer a existência de empreendedores locais dando suporte na atividade turística. Busca-se compreender as dinâmicas de transformações socioespaciais, com ênfase na sua reprodução funcional. Adota-se como recorte a identificação do uso do solo na área central turística de Gramado (RS). A princípio justifica-se a escolha da área pela acentuada mudança de suas funções sociais no território.

Busca-se apresentar fatos que permitam reconhecer as transformações da área central de Gramado. Considera-se neste processo a formação do turismo por acontecimentos transcorridos em diferentes escalas e atores que delinearam os usos e, posteriormente, as suas transformações. Espera-se compreender quem são os diversos agentes sociais que se apropriam, constroem e reconstroem as partes e o todo. Para isso, busca-se identificar antigos e novos atores, bem como pontuar se houve um processo de expropriação social associado com as novas atividades. Ao mapear suas relações com o local e a região, pretende-se, também, melhor compreender as origens das reproduções sociais e, principalmente, econômicas no espaço.

2 DEFINIÇÃO DO RECORTE ESPACIAL: CENTRO DE GRAMADO

O município de Gramado possui uma população estimada de 36.555 habitantes (IBGE, 2019Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2019). Atlas do Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE.). É integrante da Região das Hortênsias, juntamente com Canela, São Francisco de Paula, Picada Café, Cambará do Sul, Jaquirana, Nova Petrópolis e recentemente Caxias do Sul (Tomazzoni, 2007Tomazzoni, E. L. (2007). Turismo e desenvolvimento regional: Modelo APL Tur aplicado a região das Hortênsias (Rio Grande do Sul-Brasil). (Tese de doutorado) - Universidade de São Paulo, SP, Brasil. https://doi.org/10.11606/T.27.2007.tde-11052009-111001
https://doi.org/10.11606/T.27.2007.tde-1...
).

Figura 1
Localização de Gramado (RS)

Este destino constitui referência no setor turístico em âmbito nacional, e se diferencia em função de suas características climáticas e paisagísticas, que se distinguem das comumente percebidas no país. Articula-se esse setor com o chocolateiro, moveleiro e da construção civil, formando cadeias também expressivas no município (Griebeler et al., 2017Griebeler, M. P. D., Berti, F., & Matte Junior, A. A. (2017). Hierarquização das cadeias produtivas: diagnóstico das atividades econômicas de Gramado (RS). Ágora, 19(2), 112-124. https://doi.org/10.17058/agora.v19i2.10478
https://doi.org/10.17058/agora.v19i2.104...
). Desta maneira, predomina uma economia firmada no turismo.

O imaginário das atratividades turísticas dessa localidade está marcantemente associado a aspectos da cultura dos imigrantes europeus que colonizaram a região (Roche, 1969Roche, J. (1969). A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo.). Assim, a vinda de imigrantes germânicos e itálicos torna-se fundamental para sua formação e desenvolvimento, refletindo até hoje seus hábitos e costumes na região. Nesse cenário, as ofertas turísticas permeiam essas raízes culturais, destacando a arquitetura e a paisagem reforçadas com matas, quedas d’água e um clima invernal frio.

Institucionalmente, o turismo de Gramado tem forte reconhecimento. Como observa-se na antiga qualificação do Ministério do Turismo, que o insere entre os 65 destinos indutores do país. Posicionamento posteriormente reforçado pelo Estudo de Competitividade do Desenvolvimento Turístico Regional (Brasil, 2007Brasil. Ministério do Turismo. (2007). Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional: Relatório Brasil. Brasília, DF.), realizado conjuntamente por este Ministério e a Fundação Getúlio Vargas.

Atualmente, a representatividade do município em nível nacional se comprova na análise da atratividade de 2.694 municípios que compõem o Mapa do Turismo Brasileiro (Brasil, 2019Brasil. Ministério do Turismo. (2019). Categorização dos Municípios das Regiões Turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro: Programa de Regionalização do Turismo. Brasília, DF.). Nele, a partir de quatro variáveis de desempenho econômico – número de empregos, de estabelecimentos formais no setor de hospedagem, estimativas de fluxo de turistas domésticos e internacionais –, que determinam estatutos hierárquicos, o município alcança a categoria máxima (A). Posição dada, segundo Brasil (2019)Brasil. Ministério do Turismo. (2019). Categorização dos Municípios das Regiões Turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro: Programa de Regionalização do Turismo. Brasília, DF., a somente a 62 municípios do país.

Adota-se como recorte empírico da pesquisa o mais adensado trecho turístico da Avenida Borges de Medeiros. A escolha deste local justifica-se por ter sido referência das práticas cotidianas centrais e hoje ponto da centralidade turística do município. Entretanto, ressalta-se que as atividades comerciais do morador diluem-se por outros bairros. Nota-se que o local atualmente também não tem um destaque memorial de centro histórico.

Anunciada atualmente pela municipalidade e pela mídia como um “shopping a céu aberto” e percebida como cerne da circulação turística na cidade, a Avenida Borges de Medeiros é o principal ponto de apropriação territorial para o turista. Nela, os visitantes costumam caminhar e contemplar as vitrines das diversas lojas e realizar inúmeros consumos. Abriga, ao longo dos seus 7,784 Km de extensão, alguns dos principais equipamentos turísticos, como Palácio dos Festivais, a Praça Central, a Igreja Matriz, além do Posto de Informações Turísticas.

2.1 Método

A pesquisa se sustenta na teoria apresentada por Milton Santos (2004)Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP. referente ao entendimento social do espaço. Dela, soma-se os conceitos apresentados por Patrick Müllins (1991)Müllins, P. (1991). Tourism urbanization. International Journal of Urban Regional Research, 15(3), 326-342. https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991.tb00642.x
https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991...
e estudado no Brasil por César (2010)César, P. A. B. (2010). Urbanização turística: esboço para a definição de uma categoria do espaço social. Turismo em Análise, 21(2), 406-420. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v21i2p406-420
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
referente a urbanização turística (César & Viana, 2013César, P. A. B., & Vianna, A. A. (2013). Uma categoria de análise na produção social do espaço. Rosa dos Ventos. 5(3), 408-420. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/4735/473547094004.pdf.
https://www.redalyc.org/pdf/4735/4735470...
), Espera-se, assim, compreender as lógicas territoriais do espaço social com a atividade turística.

A pesquisa tem cunho qualitativo. Nela buscou-se identificar a origem dos capitais financeiros ao mapear os usuários/empreendedores das unidades fundiárias. A eles associam-se as funcionalidades das atividades e as marcas de consumo encontradas nos empreendimentos. Determinou-se características das funções dos imóveis. Deste modo, pensa-se como natureza investigativa e recorte o reconhecimento das unidades imobiliárias/fundiárias (de serviços e comércios diversos) do ponto nevrálgico de circulação turística de Gramado.

Para seleção das unidades, adotou-se, na primeira etapa, como procedimento metodológico a técnica de inventariação turística, ou seja, utilizaram-se aspectos censitários (Stigliano & César, 2005Stigliano, B. V., & César, P. A. B. (2005). Inventário turístico: primeira etapa da elaboração do plano de desenvolvimento turístico. Campinas-SP: Alinea.) e a observação direta. Esse procedimento foi realizado no decorrer do ano de 2019 e com algumas atualizações pontuais em 2020. Desta maneira, com a identificação do nome fantasia das unidades presentes na área em análise, atentando-se, inclusive, às distribuídas nas diversas áreas comuns, ou seja, nas galerias comerciais, faz-se um mapeamento das unidades funcionais. Foram identificadas e pesquisadas 294 unidades fundiárias.

Figura 2
Localização da área central de Gramado e do percurso da observação para inventariação turística

Para a segunda etapa, foram identificados os atores sociais envolvidos no processo de exploração econômica das mesmas atualmente. Dando destaque à origem geográfica do capital envolvido, realizou-se uma busca online no Sistema Integrado de Informações sobre operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços (Sintegra) a partir dos dados obtidos na primeira etapa. Com isso, ocorreu a identificação de razão social, função, sócios e outras informações atinentes às unidades comerciais, as quais auxiliaram na investigação. Somaram-se dados obtidos na prefeitura, notícias de diversos meios de comunicação e contatos informais com moradores.

Após a identificação fundiária das funções das respectivas unidades imobiliárias, a pesquisa incorpora um caráter histórico-genético. Com esta adoção buscou-se reconhecer as dinâmicas dos processos de transformações territoriais. Sua escolha se fez ao conceber que este olhar metodológico possibilitou compreender o objeto em três momentos:

Descrição: observação orientada pela experiência e pelo olhar informado pela teoria, com vistas a captar o real a partir do visível; Analítico-regressivo: análise regressiva da realidade com foco nessa coexistência de relações sociais com temporalidades distintas; Histórico-genético: reencontro do presente, sendo essa volta à superfície fenomênica da realidade social guiada pela compreensão de como suas estruturas evoluem e se subordinam a estruturas mais gerais. Nisto afloram as contradições do processo histórico, e mais que isto, a possibilidade de compreendê-las como desencontro de tempos, de virtualidades não concretizadas

(Cunha et al., 2003Cunha, A. M., Canuto, F., Linhares, L. R. F., & Monte-Mór, R. L. de M. (2003). O terror superposto: uma leitura lefebvriana do conceito de terrorismo e suas relações com o mundo contemporâneo. Encontro Nacional da ANPUR, 10 (pp. 27-43). São Paulo e Belo Horizonte: ANPUR. https://doi.org/10.22296/2317-1529.2003v5n2p27
https://doi.org/10.22296/2317-1529.2003v...
, p. 72).

Nessa terceira etapa, identificou-se as famílias e/ou grupos financeiros detentores da produção e da exploração econômica dessas propriedades, tendo como recorte temporal 1910-1990. Para tanto, utilizaram-se fontes documentais, sendo particularmente úteis obras que tratam da história do município e da região, tais como Drecksler & Koppe (1993)Drecksler, C. G., & Koppe, I. C. (1993). Era uma Vez...! Relatos de Gramado. Edição Comemorativa aos 25 Anos do Orbis Club de Gramado e 10 anos do Jornal de Gramado. Canoas: Escola Profissional La Salle., Gramado (1987)Gramado. Secretaria Municipal de Educação (1987). Gramado, simplesmente Gramado. Gramado, RS., Daros (2008)Daros, M. (2008). Grãos: Coletânea Histórica. Porto Alegre: Editora do Autor., Drecksler (2012)Drecksler, C. G. (2012). Gramado Contrastes. Porto Alegre: Evangraf.. Entre outras que foram possíveis.

Acrescentou-se, ainda, a coleta de material fotográfico com o intuito de proporcionar o entendimento das escalas espaciais, posto que:

A imagem fotográfica não é um espelho neutro, mas um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real, como a língua, por exemplo, é assim, também, culturalmente codificada

(Dubois, 1993Dubois, P. (1993). O ato fotográfico. Campinas: Papirus., p. 26).

Por meio dela, alguns valores das formas, funções e estruturas são desvelados. Por fim, penetra-se novamente em campo para suprir lacunas específicas e complementar dados anteriormente levantados. Porém esta pesquisa, pela própria situação do método adotado, não tem o caráter censitário da primeira etapa.

Assim, a construção destes panoramas, o atual e o genético, possibilitou o contraste e o reconhecimento da origem dos atores sociais na reprodução do turismo neste local. Adotou-se como instrumento de confronto, para o reconhecimento dos seus processos e consequentemente das transformações das suas formas, funções e estruturas (Santos, 2014Santos, M. (2014). Espaço e método. São Paulo: EdUSP.), suas diferenciações temporais. Assim, embora neste artigo não se faça uma articulação ampla em sua totalidade à questão espacial diretamente, o que Harvey (2004)Harvey, D. (2004). Espaço e esperança. São Paulo: Loyola. estabelece como histórico-espacial, busca-se analisar a formação, a distribuição socioespacial e a atual situação do turismo na área central da cidade.

Desta maneira, a pesquisa identifica inicialmente a distribuição fundiária e estabelece os limites dos recortes territoriais de análise. Com estes dados, busca-se identificar as origens do capital destes proprietários. Soma-se a esta análise, o conhecimento de antigos proprietários do local. Ao determinar estas pessoas /famílias com estes estabelecimentos, define-se estas unidades fundiárias como objetos espaciais. Essas serão analisadas com base na teoria do espaço social, com a especificidade deste como uma urbanização e territorialidade turística. Exercício que sempre se volta o olhar para momentos anteriores àquele presente.

3 MARCO TEÓRICO: VALORES PARA CONFIGURAÇÕES FÍSICO-ESPACIAIS

Tem-se como instrumento de análise os objetos edificados definidos como configurações físico-espaciais. Esses determinando-as por uma urbanização turística como equipamentos urbanos funcionais (César & Vianna, 2013César, P. A. B., & Vianna, A. A. (2013). Uma categoria de análise na produção social do espaço. Rosa dos Ventos. 5(3), 408-420. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/4735/473547094004.pdf.
https://www.redalyc.org/pdf/4735/4735470...
). Neste recorte, determina-se sua coisificação (materialidade) urbano-arquitetônica realizada e reconhecida do espaço social.

Na sua construção teórica tem-se em mente que:

Ao se produzir espaço, entre outras consequências, definem-se materialidades. Essa condição inicial constitui-se como base para a edificação para o morador, sujeito da relação urbana. No seu contraste, identifica-se o visitante, agente que se desloca e se apropria, temporariamente, desse espaço. Embora por ações efêmeras, esse, ao romper o cotidiano, define novos “rastros”. Cria e contribui para a elaboração de novas relações espaciais, que são fundadas da urbanização turística. A atividade turística justifica novos arranjos espaciais

(César, 2010César, P. A. B. (2010). Urbanização turística: esboço para a definição de uma categoria do espaço social. Turismo em Análise, 21(2), 406-420. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v21i2p406-420
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
, p. 407-408).

Panorama que se analisa na pesquisa com a identificação dos atores sociais do local estabelecido em com as mudanças de funcionais (fundiárias) e sociais (das pessoas e familiares) ao longo do tempo.

Construção que prevalece o confronto entre tempos distintos para o entendimento de suas condições e transformações socioespaciais. Afinal:

Sempre um sistema substitui um outro porque o sistema espacial é sempre a consequência da projeção de um ou vários sistemas históricos. Como o espaço contém características das diferentes idades das variáveis correspondentes, tal enfoque deveria permitir uma interpretação mais cuidadosa e mais sistemática das sobrevivências das filiações

(Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 80).

O sistema não se resume à escala local. Pode-se pensar em um sistema global, ou mundial que tem suas conexões nacionais e locais “conduzidas através dos Estados e das corporações gigantes ou firmas transnacionais” (Santos, 1997Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec., p. 13). Suas estruturas e processos determinam circuitos espaciais de produção, onde “numa mesma região realizam-se distintas fases de distintos circuitos de produção” (Santos, 1997Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec., p. 13), que estabelecem e justificam suas cooperações e valores hierárquicos.

Afinal, sabe-se que: “A cada evolução técnica corresponde uma nova forma de organizar o espaço. Não se pode dar significação exata dos instrumentos de trabalho: casas, estradas, fábricas, barragens” (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 137). A técnica não se trata de objeto em si. Ela justifica objetos e ações, coisas e ideias. Sua presença é determinada por condições da sua formação econômica, social e espacial.

A técnica também se relaciona sendo instrumento de possibilidades e restrições. Mesmo sem a exatidão, é importante ser capaz de definir suas categorias. Entre outras possibilidades, pode-se afirmar que suas relações são justificadas no espaço, por causa de “funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente” (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 153), embora não restrita a essa dualidade.

Determinada como fator social (ou espacial), uma realidade pode ser descrita por diversas escalas, como de uma cidade, de um bairro ou de cada indivíduo. Sua produção torna-se categoria marcante neste reconhecimento, que determina "uma certa autonomia, que se manifesta por meio de leis próprias de uma certa autonomia que se manifesta” (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 181).

Suas “formas são tanto um resultado como uma condição para os processos” (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 185), mas não com autonomia de comportamento e sim autonomia de existência. Nelas se determinam as condições econômicas de suas diversas apropriações, condizentes com as classes sociais que associadas definem “territorialmente, assim como as aspirações e o caráter de um povo que ainda o são em função das heranças históricas” (Santos, 1997Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec., p. 15). Caracteriza-se o espaço, e consequentemente suas formas espaciais, por seu conjunto de fixos e fluxos.

A esse par dialético, pode-se pensar em objetos e ideias, em equipamentos e sujeitos, entre uma infinidade de possibilidades de mobilidades e imobilidades que elaboram os arranjos geográficos, suas configurações territoriais e as relações sociais. Trata-se de reconhecer “o conjunto indissociável de sistema de objetos e sistema de ações que formam o espaço” (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 63). Sistema este solidário e contraditório, ressaltando que

Sistema de objetos e sistemas de ações [que] interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.

(Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 63).

Tem-se o espaço como “uma realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformação” (Santos, 1997Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec., p. 15). Nele contém-se uma estrutura organizada por formas e funções que podem mudar historicamente em consonância com cada sociedade. Sob a perspectiva de totalidade, entendida por Santos (2005)Santos, M. (2005). Da totalidade ao lugar. São Paulo: EdUSP. como elemento fundamental para o estudo de uma determinada realidade, analisa-se o espaço ao compreender e assimilar sua relação com a sociedade, alicerçando a compreensão dos processos.

Ainda segundo Santos (2005)Santos, M. (2005). Da totalidade ao lugar. São Paulo: EdUSP., tudo que é encontrado no Universo determina uma unidade, sendo assim, cada uma é parte da unidade. Entretanto, a totalidade não é apenas a junção dessas partes e estas não bastam para explicá-la. Ao contrário, é a partir da totalidade que elucida as partes. (Santos, 2005Santos, M. (2005). Da totalidade ao lugar. São Paulo: EdUSP.). Por meio desse encadeamento de ideias, para estudar a totalidade, faz-se sua divisão, pois “pensar a totalidade, sem pensar a sua cisão é como se a esvaziássemos de movimento” (Santos, 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., p. 118).

Nesse contexto, concebe-se uma nova organização social a partir da totalidade da transformação (Santos, 1997Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec.). Cada forma de um território é estabelecida como resposta às demandas do presente e sempre que a sociedade sofre uma mudança, novas funções são atribuídas às formas ou aos objetos geográficos (novos e velhos). Nesse sentido, adota-se como elementos cruciais para compreender o espaço, suas formas, funções, estruturas e processos.

Para tanto, devem ser analisados simultaneamente e pensados ante um ponto de vista que apresenta pistas para sua totalidade, com um esforço para que este entendimento supere a superficialidade e o reducionismo. Afinal, de acordo com Santos (1997, p. 52)Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec., “nenhum aspecto existe no vazio, razão pela qual só se pode compreendê-lo pela consideração de todas as forças que atuam sobre ele e sobre seu papel no interior das relações das partes interdependentes'‘.

Abstendo-se da pretensão de limitar os conceitos e sabendo que esses são passíveis de ampliação e/ou adaptação para a análise de determinados contextos, torna-se pertinente definir as partes da totalidade. Como procedimento de análise, consoante a Santos (1997)Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec., tem-se que:

Forma: posiciona-se ao aspecto visível de uma coisa. Arranjo ordenado dos objetos. Estrutura técnica ou objeto responsável pela execução de determinada função. Elas são governadas pelo presente, e comumente se costuma ignorar o seu passado, embora este continue a ser parte integrante das formas. Surgindo dotadas de certos contornos e finalidades-funções, cada forma sobre o território é criada como resposta a certas necessidades ou funções do presente.

Função: associa-se fundamentalmente a tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa. É a atividade elementar de que a forma se reveste. Esta última pode ou não pode abranger mais de uma função.

Estrutura: como a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção. Impulso dominante de uma sociedade em movimento.

A ação dialética está assim explícita ao entendimento de Processo. Determina um jogo dialético das transformações de ação contínua, desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo e mudança; agindo e reagindo sobre os conteúdos desse contínuo temporal e justificando seus tempos passados, suas rugosidades espaciais.

Para seu reconhecimento, a localização torna-se condição fundada. Não sua localização por mero valor de posição e distribuição no território. Mas, buscando suas justificativas, contradições e outras categorias que sobreponham a formação de arranjo.

Ela se torna plural, e define o “arranjo formado pelas interações” em seu estado posicional (Moreira, 2012Moreira, R. (2012). Geografia e práxis: a presença do espaço na teoria e na prática geográfica. São Paulo: Contexto., p. 83). Seu entendimento não se deve fazer por um objeto específico, por uma escala rígida nem por uma reflexão meramente localizacional. Pode-se sim pensar nas diferentes escalas e mesmo nas suas justificativas neste mosaico de arranjos urbanos que determina um dado território. Todas fundamentadas por condições gerais e específicas do Modo de Produção presente, no caso, o capitalismo e suas possibilidades.

As localizações implicam em apropriações dos sujeitos, na determinação de fluxos e na formação de fixos em um determinado local. As forças que o estabelecem determinam as elaborações de territorialidades diversas. O Estado, a economia, as representações das mais variadas, o carisma, as condições e as contradições, a estabilidade e o confronto determinados, estabelecem e diluem territórios (Harvey, 2014Harvey, D. (2014). Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes.). O seu entendimento é uma das maneiras de reconhecer parte dos arranjos produtivos.

4 DEFINIÇÃO DE ÁREA CENTRAL COMO LOCAL TURÍSTICO

A atual cidade ocidental reproduz uma caracterização específica por diversos fatores, que frequentemente extrapolam seus limites. A modernidade europeia determina processos de reprodução do capitalismo, desde o mercantilismo do século XVI. Deste modo, inicialmente se produziram e reproduziram, desde o período colonial até atualmente, novas formas e funções globalizantes na América Latina (Ribeiro, 1998Ribeiro, D. (1998). O processo civilizatório: etapas da evolução sociocultural. São Paulo: Companhia das Letras.). Fato marcante nesse processo foram as novas formações econômicas estabelecidas. Assim:

Com a industrialização no século XIX nos países de centro, as estruturas sociais, econômicas e políticas sofreram grandes transformações. A necessidade de mão de obra fez com que ocorresse o êxodo rural, havendo intenso processo migratório da zona rural rumo às cidades, originando as metrópoles e megalópoles.

(Arantes, 2012Arantes, G. F. (2012). Reabilitação urbana como gentrificadora e segregadora social: O caso dos Parques Vaca Brava e Flamboyant. (Dissertação de Mestrado) - Departamento de Ciências Exatas e da Terra, Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC, GO, Brasil., p.18).

Como cenário de interações e transformações sociais, a cidade pode ser compreendida como reflexo da relação entre o espaço e seus usuários, ou seja, “a projeção da sociedade sobre um local” (Lefebvre, 2001Lefebvre, H. (2001). O direito à cidade. São Paulo: Centauro., p. 56). Para Lencioni (2008)Lencioni, S. (2008). Observações sobre o conceito de cidade e urbano. GeoUSP Espaço e Tempo, (24), 109-123. https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2008.74098
https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892....
, a construção da cidade depende de formas políticas e sociais, sendo essas forças que a caracterizam e que a tornaram única. A constante transformação, as mudanças nas condições econômicas, sociais e das configurações urbanas traduzem-se nas formas da cidade, o que permite a construção de formações singulares (Cantalice, 2012Cantalice, A. S. C. (2012). Uma breve reflexão sobre forma urbana. Architecton – Revista de arquitetura e Urbanismo, 2(2), 35-45.).

Segundo Lamas (1992)Lamas, J. M. R. G. (1992). Morfologia urbana e o desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian., a forma urbana é o resultado de questões políticas, socioeconômicas e culturais. É uma estrutura física e funcional determinada por concepções estéticas, ideológicas e comportamentais relacionadas à utilização do espaço físico e à interação social entre os indivíduos. Quando essa forma se revela inapta a determinado momento histórico, ela se adapta a um novo contexto, como uma necessidade de resposta às novas situações. Para Holanda et al. (2000)Holanda, F., Kohlsdorf, M., Farret, R., & Cordeiro, S. C. (2000). Forma urbana: que maneiras de compreensão e representação?. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, (3), 9-18. https://doi.org/10.22296/2317-1529.2000n3p9
https://doi.org/10.22296/2317-1529.2000n...
, essa pluralidade de aspectos, que concomitantes auxiliam na sua compreensão, evidenciam a diversidade de questões que envolvem a definição da forma urbana e a necessidade de abordar os processos de organização social a partir de suas configurações características.

A forma urbana, dinâmica e modificável, resulta de lógicas de ocupação (presente e passada) e de apropriações diversas. Na sua concepção, os processos de acumulação de capital e de reprodução social são determinantes ao organizar e distribuir as atividades (Corrêa, 2003Corrêa, R. L. (2003). O Espaço urbano. São Paulo: Átila.). Para Santos (2004)Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP., o Estado possui um papel marcante na produção e consolidação do espaço, atuando como regulador das ações dos agentes privados, que induzem (ou reprimem) as transformações dos espaços em prol de suas possibilidades e necessidades. Assim, as ações do poder público podem visar equalizar as fragmentações e as segregações presentes no espaço urbano, que no tempo produzem e resultam na modificação da sua morfologia física.

O entendimento do espaço urbano, passível a diversos fenômenos e variantes, permite compreender como acontece a adaptação das centralidades às transformações espaciais (Gluszevicz & Martins, 2013Gluszevicz, A. C., & Martins, S. F. (2013). Conceito de Centralidade Urbana: Estudo no município de Pelotas, RS. Simpósio de Estudos Urbanos: A dinâmica das cidades e a produção do espaço, 2 (pp.1-17). Curitiba: Universidade Estadual do Paraná.). Para Lefebvre (1991)Lefebvre, H. (1991). The Production of Space. Oxford: Blackwell., a essência do fenômeno urbano é a centralidade, dada a sua importância em possibilitar encontros e trocas entre os sujeitos na cidade. E onde, no seu entorno, organiza-se justificando “uma estrutura de espaço (mental e/ou social), uma estrutura que é sempre momentânea, contribuindo, juntamente com a forma e a função, para uma prática” (Lefebvre, 1991Lefebvre, H. (1991). The Production of Space. Oxford: Blackwell., p. 399). Define-se assim, uma configuração territorial predominante.

Nas centralidades, entendidas como um ponto de convergência dentro da estrutura urbana ou regional, existe um adensamento de atividades de comércio e serviços e uma intensa circulação de pessoas, fomentando a vida econômica, política e cultural da cidade. O intenso uso dos lotes, com objetivo de geração de capital, eleva o valor do solo urbano e, como causa, repele a ocupação do tipo residencial, além de possibilitar a miscigenação de usos nessas localidades (Beaujeu-Garnier, 1997Beaujeu-Garnier, J. (1997). Geografia Urbana. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.). Característica marcante na urbanização turística.

No contexto de produção e reprodução do consumo e de circulação de mercadorias, as centralidades se tornam arena na realização das trocas a partir das lógicas capitalistas. Lefebvre (2001)Lefebvre, H. (2001). O direito à cidade. São Paulo: Centauro. aponta que as localidades centrais, além de reproduzirem suas funções de geração de capital, como local de convergência dos produtos e informações, comumente desempenham o papel de possibilitar relações sociais entre as pessoas que circulam e vivenciam esses espaços urbanos.

Assim, no decorrer da história, verifica-se que os centros históricos de formação das cidades se transformaram e agora revelam “um quadro completamente diferente do tradicional” (Benevolo, 1991Benevolo, L. (1991). A cidade e o arquiteto: método e história na arquitetura. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica do Paraná., p. 73) ao serem influenciados por complexas relações sociais e ambientais, e adquirem outras funções dentro da estrutura urbana. De acordo com Sudré (2013)Sudré, M. F. (2013). De la forma a la contra-forma: una contribución lefebvriana para el entendimiento de morfologías urbanas. Territorios, (29), 39-56. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/357/35729989004.pdf.
https://www.redalyc.org/pdf/357/35729989...
, essas localidades, que anteriormente eram consideradas como centralidades, podem assumir outras funções em acordo com o panorama presente. Percebe-se, assim, que a relação entre o espaço e os diferentes ritmos de vida, reflete no desenvolvimento ou no deslocamento das centralidades. As novas condições da sociedade contemporânea transformam as relações de trabalho herdadas do período industrial. E fomentam novas inquietações e práticas sociais.

Novas demandas rompem estruturas clássicas de distribuição e simbolismo da cidade e de suas áreas centrais. O município não consegue mais atender por centralidades únicas. A produção, o consumo, as novas tecnologias, os novos padrões sociais e culturais justificam a definição das variadas funções nas diversas localidades. Entre elas, aquelas que determinam e colaboram para novos usuários definidos como turistas.

Atualmente, a reprodução associada ao trabalho, que antes configurava a centralidade, abre caminho a novas práticas sociais como o lazer, o ócio e o turismo. Desta maneira, na dinâmica espacial contemporânea, o turismo pode atuar como um agente transformador de centralidades urbanas, influenciando na forma da cidade e em suas lógicas de estruturação espacial e na apropriação pelos sujeitos envolvidos.

Reforçam Gravari-Barbas e Guinand que há algumas décadas “o fluxo da globalização, a mudança estrutural na economia e as novas tecnologias contribuíram para acelerar a transformação das cidades” (2017, p. 1). Condição que determina novas formas urbanas (Friedmann, 1986Friedmann, J. (1986). The World City Hypothesis. Development and Change (SAGE, London, Beverly Hills and New Delhi), (17), 69-83. https://doi.org/10.1111/j.1467-7660.1986.tb00231.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-7660.1986...
) como a que Ruth Glass tem assinalando desde 1964 como gentrificação (Gravari-Barbas & Guinand, 2017Gravari-Barbas, M., & Guinand, S. (2017). Tourism and gentrification in contemporary metropolises: international perspective. New York: Routledge. https://doi.org/10.4324/9781315629759
https://doi.org/10.4324/9781315629759...
). Neste estudo, ao retratar as transformações urbanas dos seus agentes, espera-se compreender parte do processo de reprodução espacial de Gramado. Esse destacando-se como um dos mais notados destinos turísticos do Brasil.

Determina-se assim, recortes e estatutos conceituais da análise. O espaço trabalhado se sustenta na clássica definição de confrontos dialéticos de forma, função, estrutura e processo (Santos, 1997Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec.; 2004Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EdUSP.; 2005Santos, M. (2005). Da totalidade ao lugar. São Paulo: EdUSP.; 2014Santos, M. (2014). Espaço e método. São Paulo: EdUSP.). Tais valores, fundados na configuração do território, definido como turístico, possibilitam como suporte para um entendimento dado como de urbanização turística (César, 2010César, P. A. B. (2010). Urbanização turística: esboço para a definição de uma categoria do espaço social. Turismo em Análise, 21(2), 406-420. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v21i2p406-420
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
; César & Vianna, 2013César, P. A. B., & Vianna, A. A. (2013). Uma categoria de análise na produção social do espaço. Rosa dos Ventos. 5(3), 408-420. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/4735/473547094004.pdf.
https://www.redalyc.org/pdf/4735/4735470...
). Espera-se, com estes valores, realizar a análise proposta.

5 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA: O CENTRO DE GRAMADO E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Nesta análise tem-se como recorte espacial uma área central de Gramado, uma localidade como tantas outras das primeiras décadas do século XX. Nessa época, em Gramado, residências unifamiliares definiam um núcleo urbano primitivo. Essas edificações, construídas no meio de seus respectivos lotes, determinaram as condições vitais dos seus usuários, predominantemente moradores locais.

Observa-se, porém, que desde o início do século XX, o município de Gramado recebia visitantes que para lá se direcionavam com objetivos de repouso, terapia e cura (Casagrande, 2006Casagrande, G. R. (2006). Um cheiro do vinho: presença italiana em Gramado (Dissertação de Mestrado) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Recuperado de http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2311/1/383742.pdf
http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/te...
). Isto, pois,

Gramado era conhecida como estação de veraneio ou sítio de lazer, muito procurado para descanso ou por pessoas que tinham problemas respiratórios, pois era época da tuberculose e os médicos da capital aconselhavam os doentes a subir a serra, cujo ar ajudava na cura da doença

(Behrend, 1999Behrend, C. (1999). Etapas do Turismo. In M. Daros & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST., p. 189)

Assim, inicia-se, mesmo que reprimida, a estruturação de um turismo na localidade em meados da década de 1920. Fato importante para esse processo é a chegada da linha férrea em 1926.

Reforça-se uma demanda do Brasil: as viagens de caráter terapêutico no século XIX. Nesse período, a elite buscava lugares aos quais atribuíam propriedades medicinais, tais como as montanhas e a costa marinha. A associação entre terapia, lugares frios e altos tem origem em estudos científicos da Europa, no século XVIII, e que foram propagados fortemente no Brasil no século subsequente.

Riegel (1999, p. 26)Riegel, R. E. (1999). Quatro raízes e uma árvore. In M. Daros., & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST, 25-31., neto dos proprietários de um dos primeiros hotéis estabelecidos em Gramado, também pontua que “O caminho a serra em busca de saúde, no começo século [XX], foi percorrido por portadores de várias doenças. Os efeitos benéficos se tornaram conhecidos e o fluxo de pessoas de cidades grandes se tornou intenso”. Destaca-se o início de uma nova procura: “Todos os acontecimentos posteriores se basearam no princípio de Gramado, por si só, ser capaz de oferecer vantagens ligadas ao nosso patrimônio mais importante: a saúde. Os efeitos positivos dos bons ares foram trazendo para cá pessoas nem tão doentes” (1999, p. 199). Assim, nota-se a busca pela saúde como impulsionadora da atividade turística em Gramado à época.

Na década de 1930, o desenvolvimento do turismo se estruturava como uma realidade nacional, tendo em vista os avanços trabalhistas advindos da Constituição de 1934, entre outros eventos (Hammerl, 2016Hammerl, P. C. (2016). Por uma cidade turística: formação e transformação territorial da estância de Campos do Jordão (SP) – (1911-1966). (Dissertação de Mestrado) - Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil. Recuperado de https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/1279.
https://repositorio.unisc.br/jspui/handl...
). Nesse contexto, notam-se diversas modificações que transcorreram em Gramado a partir da segunda metade da referida década. Destaca-se nesse período a implantação de um loteamento, cujo público-alvo eram veranistas, oriundos fundamentalmente de classes economicamente abastadas da capital e arredores, que instalaram casas de segunda residência. Desse modo, surgem marcantes sinais de transformações físico-territoriais voltados ao turismo.

Nessa condição:

Gramado [...] passa a receber um número de pessoas cada vez maior e mais exigente e, aos poucos, o cotidiano . . . passa por metamorfoses. As famílias mais abastadas de Porto Alegre, Novo Hamburgo e São Leopoldo começaram a construir casas nos arredores do centro da Vila.

(Casagrande, 2006Casagrande, G. R. (2006). Um cheiro do vinho: presença italiana em Gramado (Dissertação de Mestrado) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Recuperado de http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2311/1/383742.pdf
http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/te...
, p. 34)

Na década de 1940, a pequena vila de Gramado acomodava quatro meios de hospedagem distribuídos pelo logradouro central (Behrend, 1999Behrend, C. (1999). Etapas do Turismo. In M. Daros & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST.). Além desses, observa-se a existência de empresas voltadas à fabricação de móveis, comércio geral, produtos da região e serviços para a população local. Verifica-se que hoje a maioria das residências e indústrias deslocaram-se do seu centro urbano, criando novas funcionalidades com os estabelecimentos voltados à venda de produtos elitizados (Gevehr & Berti, 2019Gevehr, D. L., & Berti, F. (2019). Luxo e sofisticação nas vitrines da Borges: gentrificação comercial e turismo no espaço urbano de Gramado (RS). Caderno Virtual de Turismo, 19(3), 1-13. https://doi.org/10.18472/cvt.19n3.2019.1498
https://doi.org/10.18472/cvt.19n3.2019.1...
). Nesse contexto, despontam possibilidades para esses antigos proprietários e seus familiares, como a transformação de suas residências em comércios e serviços ou a venda/aluguel, viabilizando, desta maneira, novas rendas.

Posteriormente, a área central reforça sua atratividade por um turismo urbano, o que altera rapidamente a funcionalidade deste local (Brambatti, 2004Brambatti, L. E. (2004). Racionalização, cultura e turismo em meio rural na Serra Gaúcha (Tese de doutorado) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UFRGS, Porto Alegre.; Fonseca, 2012Fonseca, J. C. S. (2012). São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul: História, Encanto e Mistério. Resgatando o passado Serrano. Porto Alegre: Evangraf.). Essa condição funcional estabelece novos arranjos e, consequentemente, o solo urbano apresenta uma valorização determinada por essas mudanças e formações estruturais. Tal situação se justifica, como pressuposto, ao observar as residências sendo transformadas em edificações comerciais e ainda prédios com usos mistos (residenciais e de serviços).

6 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO FUNDIÁRIA

Apresenta-se um panorama ao descrever as transformações de algumas das unidades fundiárias analisadas. A esta exemplificação associa-se a identificação dos antigos e dos atuais atores sociais que exploram por apropriação comercial ou não tais unidades. Reforça-se com acontecimentos, de diferentes escalas, que permeiam essas mudanças.

Nota-se, por exemplo, uma residência ocupada anteriormente como moradia familiar desde a década de 1930. Atualmente abriga, em seu piso térreo, uma butique de roupas, explorada por empresário local. Ainda assim, o proprietário, filho do primeiro proprietário, estabelece moradia no subsolo e tem neste aluguel sua renda.

Em outro caso, análogo ao anterior, identifica-se um imóvel há mais de setenta anos com a mesma família em que também se evidenciam reconversões de uso. Trata-se de uma edificação que abrigava uma tradicional cafeteria, frequentada habitualmente pela classe trabalhadora na década de 1940. A parte superior da construção acomodava a residência da família proprietária do estabelecimento, enquanto o térreo comportava o comércio, ponto de encontro dos frequentadores usuais e carreteiros da região.

Infere-se que, por mais de trinta anos, a edificação permaneceu com função mista, ou seja, aproveitada para fins habitacionais e comerciais. A partir da década 1970, sua utilização torna-se exclusivamente comercial, abrigando, desde então, um restaurante. Em 2011 o imóvel foi convertido em butique, pertencente a uma franquia de grife de bolsas, calçados e acessórios, detentora de 200 lojas distribuídas em 16 países. A filial de Gramado, a segunda da rede enquadrada como concept store (loja conceito), é a primeira da marca com essa concepção fora na Rua Oscar Freire, logradouro situado em um dos bairros nobres da cidade de São Paulo e reconhecido como ponto de luxuosas grifes nacionais e internacionais.

Registra-se, também, imóveis recentemente comercializados por antigos proprietários. Pode-se citar um edifício que se manteve com a mesma família desde a década de 1920, utilizado como loja de sapatos e moradia. O uso do lote perpassou, parcialmente, por atividades como comércio de aviamentos, restaurante, salão de beleza e escritório de advocacia. Seus proprietários permaneceram até meados dos anos 2000 residindo nos fundos do lote e explorando com atividade comercial parte do imóvel. Sua venda, em 2017, possibilitou a instalação, em toda a unidade fundiária, de uma loja de chocolates, com a troca de empresários por outros de família gramadense. Mais recentemente, no entanto, a atividade comercial foi transferida para um holding do setor de alimentos de Lajeado (RS).

Importante observar que o ramo chocolateiro apresenta-se com uma dinâmica específica e definidora na composição da paisagem da Avenida Borges de Medeiros. Sua reestruturação remete à década de 1970. Nessa oportunidade, a primeira fábrica de chocolate caseiro do município foi implantada por um veranista (Vargas & Gastal, 2015Vargas, D. P., & Gastal, S. (2015). Chocolate e Turismo: o percurso histórico em Gramado, RS. Turismo Visão e Ação, 17(1), 66-102. https://doi.org/10.14210/rtva.v17n1.p66-102
https://doi.org/10.14210/rtva.v17n1.p66-...
). Prontamente alguns empresários locais incorporaram a ideia e outros empreendimentos foram implantados concomitante a outras atividades. Essa produção exerce um papel relevante para o desenvolvimento da localidade, dialogando diretamente com o turismo.

Assim, a área central é marcada pela presença de diferentes lojas que comercializam os produtos dessas fábricas de guloseimas. O valor da referência do “chocolate de Gramado” tem extrapolado sua categoria gastronômica, sendo temática para parques e outras ramificações do entretenimento (Vargas & Gastal, 2015Vargas, D. P., & Gastal, S. (2015). Chocolate e Turismo: o percurso histórico em Gramado, RS. Turismo Visão e Ação, 17(1), 66-102. https://doi.org/10.14210/rtva.v17n1.p66-102
https://doi.org/10.14210/rtva.v17n1.p66-...
).

Neste sentido, no logradouro analisado encontra-se um parque temático de chocolate. Atribui-se a um moinho a primeira função do lote na década de 1930. Em 1964, já com outra forma, o empreendimento encerra suas atividades (Drecksler & Koppe, 1993Drecksler, C. G., & Koppe, I. C. (1993). Era uma Vez...! Relatos de Gramado. Edição Comemorativa aos 25 Anos do Orbis Club de Gramado e 10 anos do Jornal de Gramado. Canoas: Escola Profissional La Salle.). Vale dizer que este período se caracterizou pelo desestímulo do governo em relação ao subsídio do trigo, o que pode ter colaborado para finalização de suas atividades.

Entre 1970 e 2014 o local abrigou um supermercado pertencente a uma rede nacional, cujo público era formado, essencialmente, por moradores e turistas hospedados no entorno. Em 2014 o negócio é encerrado. E, de acordo com o site de notícias local, o aumento pedido pelo proprietário do imóvel para a renovação do contrato de aluguel (Miron Neto, 2014Miron Neto. (2014). Supermercado Imec fecha loja da Avenida Borges de Medeiros. Recuperado em 16 maio 2018, de www.mironneto.com/site/noticia_arquivada.php?noticia=726
www.mironneto.com/site/noticia_arquivada...
) foi a justificativa para o fechamento.

Atualmente, o prédio de três mil metros quadrados oferece um tour por mais de duzentas esculturas de chocolates que objetivam representar diversos pontos turísticos do mundo. A mesma companhia proprietária da fábrica de chocolate e do referido parque temático ramificou seu campo de atuação, instituindo no município outros negócios. Na Avenida Borges de Medeiros localiza-se, desse grupo, cervejaria e restaurantes.

Um desses restaurantes, instalado em 2018, é resultante da parceria com outra empresa local e com a família - e capital - do jogador de futebol português Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. O empreendimento, cujo nome remete ao sobrenome deste, é o primeiro da família do jogador no Brasil, que prevê expandir para vinte unidades no país nos próximos oito anos. Observa-se que, malgrado o empresariado local venha estabelecendo novas parcerias com o capital externo, o chocolate reproduz marcas locais, tendo em vista que não se observou o registro de redes de chocolate não locais.

O número de visitantes na localidade cresceu continuamente entre 1920 e 1950. A partir daí, ante o surgimento do veraneio no litoral norte gaúcho e a supressão da linha férrea, a atividade de turismo em Gramado e arredores é afetada, apresentando um declínio. A economia local direciona-se, então, para outros segmentos.

Entretanto, percebe-se, nesse período, a intervenção do poder público no sentido de induzir e coordenar atividades turísticas, tendo como propósito recompor o ramo no município. Entre as principais iniciativas que circunscrevem esse objetivo, estão a promoção de eventos, como a Festa das Hortênsias (1958), que originou em 1973 o Festival de Cinema, e a criação, por meio da LEI N° 114/61Lei n.114/61 (1961, 19 de setembro). Cria o Conselho Municipal de Turismo. Gramado: Prefeitura Municipal de Gramado. Recuperado de https://leismunicipais.com.br/a/rs/g/gramado/lei-ordinaria/1961/11/114/lei-ordinaria-n-114-1961-cria-o-conselho-municipal-de-turismo
https://leismunicipais.com.br/a/rs/g/gra...
, do Conselho Municipal do Turismo no início da década 1960. Conforme referida Lei, o Conselho, de caráter consultivo, era formado por nove membros, todos vinculados à sociedade civil, com participação direta e indireta com a atividade turística e com a presidência do Prefeito Municipal. Também eram admitidos a participação nas reuniões, sem direito a voto, representantes de associações de classe, assessores técnicos.

Dentre outras, tais ações do Estado paulatinamente propulsionaram o restabelecimento do turismo. Nesse contexto, nota-se que a década de 1970 ressalta um marco na reestruturação do turismo em Gramado, período em que se reinstalam estabelecimentos voltados ao segmento, como, por exemplo, o lote que será descrito a seguir.

Na década de 1930 o lote abrigava um açougue e a moradia da família. Em 1970 instala-se no pavimento térreo um restaurante de fondue e no superior uma loja de artesanato, com destaque na venda de produtos em cerâmica e tapeçaria. O artesanato é uma prática típica dos moradores de Gramado, historicamente atrelada ao desenvolvimento de produtos em malha, vime, madeira, couro, ferro, bronze, cobre e argila, hoje destinado comumente aos turistas (Rubim, 1999Rubim, R. (1999). Artesanato Gramadense: um breve relato. In M. Daros & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST, 179-188.). Na década de 2000, o antigo casarão deu lugar a um edifício de produtos de alto padrão.

Atualmente nele apresentam-se traços sofisticados da arquitetura, que se repetem no interior da edificação. Administrada por empreendedor local, comercializa artigos de decoração, como móveis, lustres, castiçais, jogos de mesa, prataria, muranos, cristais, tapetes Aubusson, louças portuguesas (destacando-se também os conjuntos Versace, Cacharel, Valentino e Limoges, entre outras grifes internacionais). E joias próprias da marca da loja.

Embora seja perceptível que o mercado de luxo tenha se expandido na Avenida Borges de Medeiros, ainda se constata o comércio de artesanato. No entanto, com outras propostas, tendo em vista as vitrines e as prateleiras que exibem artigos importados nesses estabelecimentos. O artesanato local tem diminuído seus pontos de venda na área central, os produtos outrora produzidos por artesãos gramadenses, tem perdido espaço por souvenires padronizados.

Observa-se que empresários emergentes, ainda que locais, buscam a construção de outra identidade desse espaço urbano. Ao apropriarem-se da área, comercializam, com apelo ao luxo, novas formas de experienciar Gramado. Essa lógica tem contribuído para a transformação dos espaços públicos, cada vez mais privatizados em seus usos e gestão.

A partir dessa perspectiva, pode-se relatar o uso de parte da edificação da igreja São Pedro e do seu lote, localizada no ponto nevrálgico do fluxo turístico da cidade. A edificação foi construída por cidadãos gramadenses e inaugurada em 1942. Ao longo dos anos, a igreja, bem como seu pavilhão de festas, era utilizada primordialmente por membros da comunidade (Franzen, 1995Franzen, M. D. (1995). Janelas, Portas, Varandas e Saudade. Gramado: Evangraf.). Atualmente considerada um dos principais pontos turísticos de Gramado, comporta no subsolo restaurante e cafeteria.

No lote explora-se comercialmente, também, desde a década de 2000, o “Boulevard São Pedro”, galeria comercial composta pelo museu do Festival de Cinema de Gramado. Neste equipamento desenvolve-se comércio religioso, de vestuário, um restaurante local e outro de franquia internacional. Desta maneira, verifica-se que a área em estudo tem a entrada das duas maiores redes de fast food do mundo, ambas inseridas no ambiente na década de 2000 e exploradas por grupos de São Paulo.

Ainda nas adjacências da igreja, e ponderando acerca da lógica de substituição do comércio de caráter popular pelo elitizado, pode-se mencionar o comércio ambulante de churros e cachorro-quente, presente durante mais de quinze anos em frente a um dos principais pontos turísticos de Gramado e bastante utilizado pela população local. Sob justificativa da Secretaria de Saúde, há mais de dez anos está proibido de exercer atividades na área central.

Tal conjuntura mostra as modificações dos espaços públicos, evidenciando interesses contrários ao coletivo que, mesmo indiretamente, buscam selecionar o público que irá frequentá-los. A elitização local também pode ser exemplificada com o surgimento do comércio de pipoca gourmet. De acordo com reportagens veiculadas em sites nacionais e jornais locais, a empresa, criada em 2010 por dois empresários locais, foi a primeira no Brasil a apostar na sofisticação do alimento, refletida nos seus sabores e embalagem diferenciados.

O negócio iniciou com a venda da pipoca gourmet em um calhambeque estilizado. Posteriormente, a empresa estabeleceu o primeiro ponto de venda fixo junto ao Palácio dos Festivais, empreendimento sede do Festival de Cinema de Gramado. Vale mencionar que o referido edifício foi construído pela associação da comunidade local e veranistas, grupo esse que não manifestava interesse central em um negócio rentável, mas sim uma opção de lazer. Encabeçava o empreendimento a administração municipal e o Conselho Municipal de Turismo.

Conforme já relatado, entre as décadas de 1950 e 1990 a economia do município é redirecionada para outros setores. Em 1985, a produção industrial liderava a economia, representando 77,38% das atividades econômicas de Gramado, enquanto as atividades comerciais eram responsáveis por 17,87% (Gramado, 1987Gramado. Secretaria Municipal de Educação (1987). Gramado, simplesmente Gramado. Gramado, RS.). Nesse sentido, a paisagem da área central de Gramado de 1960 também se constituía de fábricas.

Tem-se registros, por exemplo, de uma indústria de móveis de vime, que exportava móveis e cestarias para outros estados e países e, no seu auge, empregou aproximadamente 150 colaboradores (Dinnebier, 1999Dinnebier, I. (1999). Setor Moveleiro. In M. Daros & V. L. M. Barroso, (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos (pp.169-172). Gramado: EST.). Na década de 1990, atingida por um incêndio, a edificação foi totalmente destruída. Nessa circunstância, de acordo com um dos ex-proprietários, optou-se por não reconstruir a fábrica, tendo em vista que o ponto já era mais comercial do que industrial. Na década de 2000, o terreno foi vendido a uma incorporadora, que, em 2007, estabeleceu no local um centro comercial que abriga diversas unidades comerciais, em sua maioria exploradas por famílias locais e regionais.

Foram identificadas na pesquisa 294 unidades comerciais, extrapolando as unidades dos antigos lotes urbanos. Este fato se dá ao desdobramento dos números de unidades fundiárias, considerando a locação condominial de parte delas em 18 Galerias Comerciais na área de estudo. Entretanto, é importante ressaltar que na somatória foram encontrados números diferentes ao considerar suas origens. Assim, quando se pensa no capital detentor e explorador da marca do estabelecimento aponta-se: Gramado com 217 unidades, as cidades do estado com 49 (sendo 22 desta região turística), 9 do estado de São Paulo, 7 de outros estados (MG, SC, MA, RJ) e três internacionais (EUA e Espanha).

Quanto à funcionalidade, no local predominam empreendimentos com apelo a Alimentos e Bebida, com 86 unidades. Entretanto, o comércio de vestuário vem logo em seguida com 74 unidades, direcionadas aos turistas, assim como 18 lojas de artesanato e as 11 sapatarias. De modo geral, todos os estabelecimentos têm o apelo para o visitante, com exceção de uma residência que persiste no local.

Estes pontos comerciais são estabelecimentos de pequeno e de médio porte, com um apelo da reprodução do capital gramadense. Quanto à estrutura comercial destes estabelecimentos, 218 são empreendimentos próprios e únicos. Somam-se a estes, 37 como filiais, 15 franquias e 10 de unidades de redes. Pode-se reforçar, com estes dados, um caráter de economia baseada na reprodução local do capital gerado com o turismo.

Embora Gramado seja uma localidade que, a primeira percepção, remete a algo cosmopolita, os números não refletem esta realidade. Embora possa ser observada uma entrada, embora reprimida e pontual, de capital de São Paulo e do exterior.

Assim, o turismo consolida grupos financeiros familiares locais. Certas observações no recorte da pesquisa podem inclusive ser facilmente comprovadas na totalidade. Os principais setores econômicos associados às atividades turísticas são: gastronômico, de vestuários e acessórios, hotelaria e de chocolates. Todos com a fixação forte de marcas locais. Nota-se, a título de curiosidade, que as grandes marcas nacional e internacional de chocolateria não têm presença na área de estudo e mesmo na cidade. O que exemplifica uma economia fechada de valorização das cadeias produtivas locais.

A Avenida Borges de Medeiros pode ser compreendida de diversas formas: aquela definida por um gabarito rígido de alturas das edificações; por fachadas com apelo na estética do estilo enxaimel. Esse, com suas formas arquitetônicas com a presença de estruturas e caixilharia de madeira aparente e vastos telhados (Weimer, 1983Weimer, Gunter (1983). A arquitetura rural da imigração. P. B. Bertussi In. A arquitetura no Rio Grande do Sul (pp.95-120). Porto Alegre: Mercado Aberto.). Embora, identifique-se por valores memorial à presença da colonização germânica, sua arquitetura que muitas vezes faz lembrar um shopping center entre outras possibilidades.

Figura 3
Avenida Borges de Medeiros

A principal característica na área de análise está na presença de possibilidades funcionais para o visitante. O local, como recorrente nos locais com forte adensamento de atividades turísticas criam “(...) distancias sociales tanto simbólicas como físicas entre los turistas y residentes, así como una imposición del capital de empresas extranjeras permitiendo ejercer prácticas de poder” (Sollerio & Garcia, 2020Sollerio, A. A. A., García, M. O (2020). La producción del espacio social en Playa del Carmen, Quintana Roo, México. Espaciliadad, Socialidad e Historicidad. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 14 (2), p. 95-122. https://doi.org/10.7784/rbtur.v14i2.1808
https://doi.org/10.7784/rbtur.v14i2.1808...
, p. 95) Assim, marcantemente se reportam a estruturas de serviços, voltadas a uma elitização do consumo e das práticas sociais que determinam a sua funcionalidade definida por uma urbanização turística.

7 CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES

O logradouro analisado apresentava em décadas passadas como valor marcante ser lugar de vivência dos seus moradores. Nele atualmente tem-se deslocado as funções cotidianas (espaço banal) com os modos reprodutivos estruturados ao turismo. Novas características são determinantes nessa nova situação.

Hoje a avenida é composta por uma estrutura de atividades urbanas fundamentalmente utilizada por não moradores locais. As alterações foram relevantes para o reordenamento da área central da cidade, definindo uma nova urbanização turística que passa a se organizar cada vez mais para esta atividade. Quanto ao uso, notam-se equipamentos de recepção e apoio aos visitantes, como meios de hospedagens, estabelecimentos gastronômicos com ênfase ao chocolate, café e restaurantes, comércio de vestuário, acessórios, entre outros. Observa-se uma nova distribuição social a partir destas transformações.

Nesse contexto, locais inicialmente procurados por motivos de saúde foram ajustados aos usos para atender as novas funções, que perpassam as necessidades anteriores e hoje suprem o turismo de lazer. Assim, sob a ótica da análise funcional urbana na área central, nota-se a transformação da estrutura comercial, que tem direcionado propriedades para atender as expectativas dos visitantes.

No recorte espacial analisado, constata-se que algumas das estruturas físicas dos estabelecimentos comerciais foram comercializadas predominantemente para outras famílias locais ou regionais. Portanto, ainda antes dessa inserção no turismo de massa, paulatinamente novas famílias incorporaram-se nesse espaço. No entanto, em sua maioria, os investimentos permanecem sob administração de empresariado local.

Para além disso, nota-se diversificação das atividades e serviços oferecidos por determinadas companhias, reforçando as próprias marcas dentro do município. Verifica-se que as marcas comerciais ditas globais não são constantes em Gramado. O que define a existência de uma estrutura funcional do capital local.

Vale mencionar que os estabelecimentos comerciais, especialmente os segmentos de gastronomia, moda e decoração, se multiplicam na Avenida Borges de Medeiros de tal modo que, no decorrer do período deste estudo, observaram-se diversas inserções e/ou substituições de utilização dos imóveis. Por esse motivo, descrevê-las até esgotá-las é um desafio, tendo em vista que essas transformações são constantes e aceleradas.

Por fim, a reprodução do capital na lógica da atividade turística é uma dinâmica pouco explorada no campo científico, especialmente brasileiro. Nesse sentido, a despeito da urbanização turística, há que se pensar seus efeitos para além da mera inserção de infraestrutura. Torna-se pertinente trazer à luz discussões acerca de reais possibilidades de desenvolvimento para a comunidade local a partir da estratégia de desenvolvimento turístico, as relações que permeiam a atividade, as alterações no cotidiano de comunidades, haja vista os efeitos que causam sobre as populações locais, a possível saturação da destinação turística, entre outras questões.

  • Como Citar: Berti, F.; César, P. A. B. (2022). As dinâmicas espaciais no centro de Gramado (RS-Brasil): reconhecimento dos agentes econômicos envolvidos nas transformações no espaço urbano do centro turístico. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2319.http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v16.2319

REFERÊNCIAS

  • Arantes, G. F. (2012). Reabilitação urbana como gentrificadora e segregadora social: O caso dos Parques Vaca Brava e Flamboyant. (Dissertação de Mestrado) - Departamento de Ciências Exatas e da Terra, Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC, GO, Brasil.
  • Beaujeu-Garnier, J. (1997). Geografia Urbana Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
  • Behrend, C. (1999). Etapas do Turismo. In M. Daros & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST.
  • Benevolo, L. (1991). A cidade e o arquiteto: método e história na arquitetura São Paulo: Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
  • Brambatti, L. E. (2004). Racionalização, cultura e turismo em meio rural na Serra Gaúcha (Tese de doutorado) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UFRGS, Porto Alegre.
  • Brasil. Ministério do Turismo. (2007). Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional: Relatório Brasil Brasília, DF.
  • Brasil. Ministério do Turismo. (2019). Categorização dos Municípios das Regiões Turísticas do Mapa do Turismo Brasileiro: Programa de Regionalização do Turismo Brasília, DF.
  • Cantalice, A. S. C. (2012). Uma breve reflexão sobre forma urbana. Architecton – Revista de arquitetura e Urbanismo, 2(2), 35-45.
  • Casagrande, G. R. (2006). Um cheiro do vinho: presença italiana em Gramado (Dissertação de Mestrado) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Recuperado de http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2311/1/383742.pdf
    » http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2311/1/383742.pdf
  • César, P. A. B. (2010). Urbanização turística: esboço para a definição de uma categoria do espaço social. Turismo em Análise, 21(2), 406-420. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v21i2p406-420
    » https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v21i2p406-420
  • César, P. A. B., & Vianna, A. A. (2013). Uma categoria de análise na produção social do espaço. Rosa dos Ventos 5(3), 408-420. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/4735/473547094004.pdf
    » https://www.redalyc.org/pdf/4735/473547094004.pdf
  • Corrêa, R. L. (2003). O Espaço urbano São Paulo: Átila.
  • Cunha, A. M., Canuto, F., Linhares, L. R. F., & Monte-Mór, R. L. de M. (2003). O terror superposto: uma leitura lefebvriana do conceito de terrorismo e suas relações com o mundo contemporâneo. Encontro Nacional da ANPUR, 10 (pp. 27-43). São Paulo e Belo Horizonte: ANPUR. https://doi.org/10.22296/2317-1529.2003v5n2p27
    » https://doi.org/10.22296/2317-1529.2003v5n2p27
  • Daros, M. (2008). Grãos: Coletânea Histórica Porto Alegre: Editora do Autor.
  • Dinnebier, I. (1999). Setor Moveleiro. In M. Daros & V. L. M. Barroso, (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos (pp.169-172). Gramado: EST.
  • Drecksler, C. G., & Koppe, I. C. (1993). Era uma Vez...! Relatos de Gramado. Edição Comemorativa aos 25 Anos do Orbis Club de Gramado e 10 anos do Jornal de Gramado. Canoas: Escola Profissional La Salle.
  • Drecksler, C. G. (2012). Gramado Contrastes Porto Alegre: Evangraf.
  • Dubois, P. (1993). O ato fotográfico. Campinas: Papirus.
  • Fonseca, J. C. S. (2012). São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul: História, Encanto e Mistério. Resgatando o passado Serrano. Porto Alegre: Evangraf.
  • Franzen, M. D. (1995). Janelas, Portas, Varandas e Saudade Gramado: Evangraf.
  • Friedmann, J. (1986). The World City Hypothesis. Development and Change (SAGE, London, Beverly Hills and New Delhi), (17), 69-83. https://doi.org/10.1111/j.1467-7660.1986.tb00231.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1467-7660.1986.tb00231.x
  • Gevehr, D. L., & Berti, F. (2019). Luxo e sofisticação nas vitrines da Borges: gentrificação comercial e turismo no espaço urbano de Gramado (RS). Caderno Virtual de Turismo, 19(3), 1-13. https://doi.org/10.18472/cvt.19n3.2019.1498
    » https://doi.org/10.18472/cvt.19n3.2019.1498
  • Gluszevicz, A. C., & Martins, S. F. (2013). Conceito de Centralidade Urbana: Estudo no município de Pelotas, RS. Simpósio de Estudos Urbanos: A dinâmica das cidades e a produção do espaço, 2 (pp.1-17). Curitiba: Universidade Estadual do Paraná.
  • Gottdiener, M. (1997). A produção social do espaço urbano São Paulo: Edusp.
  • Gramado. Secretaria Municipal de Educação (1987). Gramado, simplesmente Gramado Gramado, RS.
  • Gravari-Barbas, M., & Guinand, S. (2017). Tourism and gentrification in contemporary metropolises: international perspective New York: Routledge. https://doi.org/10.4324/9781315629759
    » https://doi.org/10.4324/9781315629759
  • Griebeler, M. P. D., Berti, F., & Matte Junior, A. A. (2017). Hierarquização das cadeias produtivas: diagnóstico das atividades econômicas de Gramado (RS). Ágora, 19(2), 112-124. https://doi.org/10.17058/agora.v19i2.10478
    » https://doi.org/10.17058/agora.v19i2.10478
  • Hammerl, P. C. (2016). Por uma cidade turística: formação e transformação territorial da estância de Campos do Jordão (SP) – (1911-1966). (Dissertação de Mestrado) - Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil. Recuperado de https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/1279
    » https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/1279
  • Harvey, D. (2004). Espaço e esperança São Paulo: Loyola.
  • Harvey, D. (2014). Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins Fontes.
  • Holanda, F., Kohlsdorf, M., Farret, R., & Cordeiro, S. C. (2000). Forma urbana: que maneiras de compreensão e representação?. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, (3), 9-18. https://doi.org/10.22296/2317-1529.2000n3p9
    » https://doi.org/10.22296/2317-1529.2000n3p9
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2019). Atlas do Censo Demográfico Rio de Janeiro: IBGE.
  • Lamas, J. M. R. G. (1992). Morfologia urbana e o desenho da cidade Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian.
  • Lefebvre, H. (1991). The Production of Space Oxford: Blackwell.
  • Lefebvre, H. (2001). O direito à cidade São Paulo: Centauro.
  • Lei n.114/61 (1961, 19 de setembro). Cria o Conselho Municipal de Turismo. Gramado: Prefeitura Municipal de Gramado. Recuperado de https://leismunicipais.com.br/a/rs/g/gramado/lei-ordinaria/1961/11/114/lei-ordinaria-n-114-1961-cria-o-conselho-municipal-de-turismo
    » https://leismunicipais.com.br/a/rs/g/gramado/lei-ordinaria/1961/11/114/lei-ordinaria-n-114-1961-cria-o-conselho-municipal-de-turismo
  • Lencioni, S. (2008). Observações sobre o conceito de cidade e urbano. GeoUSP Espaço e Tempo, (24), 109-123. https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2008.74098
    » https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2008.74098
  • Miron Neto. (2014). Supermercado Imec fecha loja da Avenida Borges de Medeiros Recuperado em 16 maio 2018, de www.mironneto.com/site/noticia_arquivada.php?noticia=726
    » www.mironneto.com/site/noticia_arquivada.php?noticia=726
  • Moreira, R. (2012). Geografia e práxis: a presença do espaço na teoria e na prática geográfica São Paulo: Contexto.
  • Müllins, P. (1991). Tourism urbanization. International Journal of Urban Regional Research, 15(3), 326-342. https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991.tb00642.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1468-2427.1991.tb00642.x
  • Remond-Roa, R., González-Pérez, J. M., & Navarro-Jurado, E. (2015). Urbanización turística y ocupación del suelo en la península de Hicacos (Varadero, Cuba): Comportamientos diferenciados entre los espacios de uso público y privado. EURE (Santiago), 41(124), 139-161.https://doi.org/10.4067/S0250-71612015000400007
    » https://doi.org/10.4067/S0250-71612015000400007
  • Ribeiro, D. (1998). O processo civilizatório: etapas da evolução sociocultural São Paulo: Companhia das Letras.
  • Riegel, R. E. (1999). Quatro raízes e uma árvore. In M. Daros., & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST, 25-31.
  • Rigatti, D. (2002). Loteamentos, expansão e estrutura urbana. Paisagem e Ambiente, (15), 35-69. https://doi.org/10.11606/issn.2359-5361.v0i15p35-69
    » https://doi.org/10.11606/issn.2359-5361.v0i15p35-69
  • Rio Grande do Sul. Secretaria do Planejamento, Mobilidade e Desenvolvimento Regional. (2015). Perfil Socioeconômico COREDE Hortênsias Porto Alegre. Recuperado de https://governanca.rs.gov.br/upload/arquivos/201512/15134130-20151117101627perfis-regionais-2015-hortensias.pdf
    » https://governanca.rs.gov.br/upload/arquivos/201512/15134130-20151117101627perfis-regionais-2015-hortensias.pdf
  • Roche, J. (1969). A colonização alemã e o Rio Grande do Sul Porto Alegre: Globo.
  • Rubim, R. (1999). Artesanato Gramadense: um breve relato. In M. Daros & V. L. M. Barroso (Org.). Raízes de Gramado: 40 anos. Gramado: EST, 179-188.
  • Ruschmann, D. (1997). Turismo e desenvolvimento sustentável Campinas-SP: Papirus.
  • Santos, M. (1997). Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia São Paulo: Hucitec.
  • Santos, M. (2004). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção São Paulo: EdUSP.
  • Santos, M. (2014). Espaço e método São Paulo: EdUSP.
  • Santos, M. (2005). Da totalidade ao lugar. São Paulo: EdUSP.
  • Soja, E. W. (1993). Geografia pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica Rio de Janeiro: Zahar.
  • Sollerio, A. A. A., García, M. O (2020). La producción del espacio social en Playa del Carmen, Quintana Roo, México. Espaciliadad, Socialidad e Historicidad Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 14 (2), p. 95-122. https://doi.org/10.7784/rbtur.v14i2.1808
    » https://doi.org/10.7784/rbtur.v14i2.1808
  • Stigliano, B. V., & César, P. A. B. (2005). Inventário turístico: primeira etapa da elaboração do plano de desenvolvimento turístico Campinas-SP: Alinea.
  • Sudré, M. F. (2013). De la forma a la contra-forma: una contribución lefebvriana para el entendimiento de morfologías urbanas Territorios, (29), 39-56. Recuperado de https://www.redalyc.org/pdf/357/35729989004.pdf
    » https://www.redalyc.org/pdf/357/35729989004.pdf
  • Tomazzoni, E. L. (2007). Turismo e desenvolvimento regional: Modelo APL Tur aplicado a região das Hortênsias (Rio Grande do Sul-Brasil). (Tese de doutorado) - Universidade de São Paulo, SP, Brasil. https://doi.org/10.11606/T.27.2007.tde-11052009-111001
    » https://doi.org/10.11606/T.27.2007.tde-11052009-111001
  • Vargas, D. P., & Gastal, S. (2015). Chocolate e Turismo: o percurso histórico em Gramado, RS. Turismo Visão e Ação, 17(1), 66-102. https://doi.org/10.14210/rtva.v17n1.p66-102
    » https://doi.org/10.14210/rtva.v17n1.p66-102
  • Weimer, Gunter (1983). A arquitetura rural da imigração. P. B. Bertussi In. A arquitetura no Rio Grande do Sul (pp.95-120). Porto Alegre: Mercado Aberto.

Editado por

Editor:

Leandro B. Brusadin.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    30 Nov 2020
  • Aceito
    08 Abr 2021
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo Rua Silveira Martins, 115 - cj. 71, Centro, Cep: 01019-000, Tel: 11 3105-5370 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: edrbtur@gmail.com