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Neoplasia papilar cística do pâncreas

Papyllary cystic tumor of the pancreas

Resumo

Papyllary cystic tumor of the pancreas, so-called Frantz's tumor, is rare. Clinical presentation of this disease is usually a slowly growing abdominal mass with or without abdominal pain, affecting predominantly young females. Its pathogenesis is still unknown . Surgical resection is usually curative, and prognosis is excellent. The authors report two pancreatic tumor cases(Frantz's tumor) in women aged 26 and 31 years old. Pre operative assessment showed a solid-cystic tumor of the tail and body of the pancreas. An extended distal pancreatectomy was performed without splenic preservation.

Frantz's tumor; Pancreatic tumor


Frantz's tumor; Pancreatic tumor

RELATOS DE CASOS

Neoplasia papilar cística do pâncreas

Papyllary cystic tumor of the pancreas

Francisco Edilson Leite Pinto Junior, TCBC-RNI; Marcus Vinícius de MoraesII; Álisson Giovani Freitas de OliveiraIII

IProfessor Assistente da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da UFRN. "Staff" da Cirurgia Oncológica da Liga Norte-Riograndense de Combate ao Câncer. Mestre em Cirurgia Gastroenterológica pela UFPE

IIEstudante da Graduação do Curso Médico da UFRN

IIIEstudante da Graduação do Curso Médico da UFRN. Bolsista do CNPq

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Francisco Edilson Leite Pinto Júnior Av. Brigadeiro Gomes Ribeiro, 1025 59056-520 – Natal-RN E-mail: edilsonpinto@uol.com.br

ABSTRACT

Papyllary cystic tumor of the pancreas, so-called Frantz's tumor, is rare. Clinical presentation of this disease is usually a slowly growing abdominal mass with or without abdominal pain, affecting predominantly young females. Its pathogenesis is still unknown . Surgical resection is usually curative, and prognosis is excellent. The authors report two pancreatic tumor cases(Frantz's tumor) in women aged 26 and 31 years old. Pre operative assessment showed a solid-cystic tumor of the tail and body of the pancreas. An extended distal pancreatectomy was performed without splenic preservation.

Key words : Frantz's tumor; Pancreatic tumor.

INTRODUÇÃO

O tumor sólido-cístico do pâncreas, descrito inicialmente por Frantz, em 19541, é uma neoplasia rara que acomete geralmente pacientes jovens do sexo feminino, cujo tamanho varia entre sete a 20cm e se estende ao longo da cabeça, corpo e cauda do pâncreas2,3. Tem sido conhecido por diversas denominações: neoplasia epitelial sólida papilar, neoplasia papilar cística, carcinoma papilar-cístico, neoplasia papilífera de baixo grau e tumor de Frantz2,3.

Manifesta-se clinicamente através de massa abdominal assintomática e se comporta como tumor benigno ou de baixa malignidade, tendo excelente prognóstico com a ressecção cirúrgica completa . Este comportamento evolutivo contrasta com a apresentação do adenocarcinoma de pâncreas que, no momento do diagnóstico, quase sempre significa câncer localmente avançado e com metástase a distância2.

O objetivo deste trabalho é relatar dois casos de tumor de Frantz, discutindo os aspectos referentes ao diagnóstico, patologia, prognóstico e tratamento desta neoplasia.

RELATO DOS CASOS

Caso 1

Paciente do sexo feminino, 26 anos, apresentando quadro clínico compatível com colecistite aguda. Durante investigação ultra-sonográfica foi evidenciada, além da colelitíase e inflamação da vesícula biliar, um tumor sólido-cístico em corpo e cauda do pâncreas de aproximadamente 10x8cm de tamanho. Foi orientada em outro serviço a submeter-se à colecistectomia por via laparoscópica, observando-se clinicamente a lesão pancreática. Dez meses após esta conduta, passou a apresentar dor em hipocôndrio esquerdo de moderada intensidade. Procurou nosso serviço sendo submetida à tomografia computadorizada (TC) e indicado tratamento cirúrgico (Figuras 1A e 1B). Realizada pancreatectomia corpo-caudal associada à esplenectomia, através de incisão subcostal bilateral. O estudo anatomopatológico revelou tumor papilífero sólido-cístico do pâncreas. A paciente recebeu alta no sexto dia de pós-operatório (DPO), encontrando-se assintomática e sem evidência da doença após 42 meses.


Caso 2

Paciente do sexo feminino, 31 anos, apresentando dor em hipocôndrio esquerdo há 10 anos, de moderada intensidade, sem irradiação e/ou relação com a alimentação. Negava icterícia, anorexia e perda de peso. Ao exame físico, palpava-se massa em hipocôndrio e flanco esquerdos, com cerca de 8cm, móvel e de consistência elástica-firme. A TC evidenciou lesão expansiva sólida-cística em topografia do corpo e cauda do pâncreas, de aproximadamente 18x12cm (Figura 2-A). Foi submetida à laparotomia exploradora, através de incisão subcostal bilateral, sendo realizadas pancreatectomia corpo-caudal e esplenectomia (Figura 2-B). O estudo anatomopatológico revelou tumor papilífero sólido-cístico do pâncreas. Recebeu alta no 7º DPO, encontrando-se assintomática e sem evidência de doença após 13 meses.


DISCUSSÃO

Desde seu primeiro relato por Frantz, em 1954, ainda pairam dúvidas sobre a origem histológica epitelial (se ductal ou acinar) da neoplasia sólido-cística do pâncreas1,2,3,4. A pesquisa e a determinação dos reais dados epidemiológicos sobre tal lesão são prejudicadas pela vasta sinonímia envolvendo sua denominação3. No entanto, está bem estabelecida a maior incidência entre mulheres jovens, com faixa etária média de 22 anos de idade2,5.

Essa predominância poderia sugerir a possibilidade de fatores hormonais terem influência na gênese desta neoplasia, todavia existem controvérsias sobre a presença ou não de receptores de estrógenos e progesterona nestes tumores3.

Possui apresentação variada, podendo o paciente ser completamente assintomático ou referir massa abdominal palpável, de crescimento lento, acompanhada ou não de dor abdominal aguda ou crônica, associada à epigastralgia ou a vômitos. Normalmente é diagnosticada por acaso em exames radiológicos para outras finalidades, como foi evidenciado no primeiro caso deste relato. Hemoperitôneo, devido à ruptura tumoral, e icterícia obstrutiva são incomuns pelo crescimento lento do tumor2,4,5.

O exame de imagem de maior acurácia no diagnóstico é a TC, que demonstra uma massa retroperitoneal, na topografia do pâncreas, de contornos bem definidos, encapsulada e lobulada, com áreas císticas e sólidas. São em geral grandes (em média, 10,3cm) e arredondadas e localizam-se preferencialmente no corpo e cauda do pâncreas (64%). A angiografia mostra pouco ou nenhum suprimento vascular para o tumor2,5.

A citologia do aspirado por punção guiada por ultra-sonografia pode também ajudar no diagnóstico4,5.

A microscopia exibe, freqüentemente, formações papilares com células de tamanho uniforme e citoplasma levemente eosinofílico, ao redor de um eixo fibroconjuntivo, de qualidade mixomatosa (importante para o diagnóstico) e mitoses incomuns; por outro lado, na área sólida, há degeneração de grupos celulares. O tumor é contido regularmente por cápsula fibrosa verdadeira, com pequenos focos infiltrativos, que não costumam se estender ao parênquima pancreático3,4. Tais características foram evidenciadas nos casos ora relatados.

O tumor exibe grande crescimento local, sendo raras a invasão extrapancreática e as metástases a distância. Apesar da marcada tendência à benignidade, uma vez diagnosticada a neoplasia, não existe justificativa para manter conduta expectante como foi proposto para a primeira paciente. O acometimento do fígado, pulmão e pele é excepcional, porém quando presente é mais comum em mulheres idosas2,3,5.

O tratamento de eleição é a ressecção cirúrgica completa do tumor, sendo esta usualmente curativa. Se a lesão estiver situada no corpo ou na cauda do pâncreas a pancreatectomia distal com preservação esplênica deve ser realizada2,4. Nas duas pacientes a esplenectomia foi indicada devido à aderência que existia do processo tumoral com os vasos esplênicos. Para os tumores localizados na cabeça do pâncreas deve-se realizar a duodenopancreatectomia com preservação pilórica2.

Nos casos irressecáveis pode-se realizar a drenagem interna (cistojejunostomia em Y de Roux), radioterapia ou quimioterapia5.

Recebido em 05/7/2000

Aceito em 01/2/2001

Trabalho realizado na Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da UFRN e na Liga Norte-Riograndense de Combate ao Câncer.

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  • 3. Machado MCC, Cunha JEM, Bacchella T, Jukemura J et al. Tumor de Frantz (neoplasia papilar e cística do pâncreas): estudo de três casos. Rev Hosp Clín Fac Med 1993; 48(1): 29-34.
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  • Endereço para correspondência:

    Dr. Francisco Edilson Leite Pinto Júnior
    Av. Brigadeiro Gomes Ribeiro, 1025
    59056-520 – Natal-RN
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Nov 2008
    • Data do Fascículo
      Ago 2001

    Histórico

    • Aceito
      01 Fev 2001
    • Recebido
      05 Jul 2000
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