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Carta ao Editor: dúvidas e considerações sobre Síndrome CoronarianaRESPOSTA DOS AUTORES

Senhora Editora,

Escrevemos esta carta referente ao artigo: “Impacto da ansiedade e depressão na morbimortalidade de pacientes com síndrome coronariana”(11 Altino DM, Martins LAN, Gonçalves MAB, Barros ALBL, Lopes JL. Impact of anxiety and depression on morbidity and mortality of patients with coronary syndrome. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018;71(6):3048-53. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0709
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
) para tecermos alguns comentários, a fim de esclarecermos dúvidas que a nós ficaram faltando responder. Desde já, deixamos claro que nossa intenção não é questionar o trabalho dos autores, até porque consideramo-nos iniciantes em pesquisa científica, mas julgamos ser este um momento de aprendizado, o qual nos possibilita questionar, opinar, debater entendendo que estamos colaborando para o enriquecimento do nosso aprendizado.

Na introdução, os autores colocam que não encontraram na literatura nacional, assuntos relacionados a esta temática. Intrigadas, resolvemos fazer uma rápida busca na literatura nacional e encontramos pelo menos três estudos relacionados a esta temática(22 De Mattos MA, Lougon M, Tura BR, Pereira BB. Depressão e Síndrome Isquêmica Coronariana Aguda. Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Universidade Federal do Rio de Janeiro vol 18 nº 4 pg 288 2005

3 Alves TCTF, Fráguas R, Wajngarten M. Depressão e infarto agudo do miocárdio. Rev Psiquiatr Clín. 2009;36(3):88-92 São Paulo. doi: 10.1590/S0101-60832009000900004
https://doi.org/10.1590/S0101-6083200900...
-44 Lemos C, Gottschall CAM, Pellanda LC, Müller M. Associação entre depressão, ansiedade e qualidade de vida após infarto do miocárdio. Psic: Teor Pesq. 2008;24(4):471-6. doi: 10.1590/S0102-37722008000400010.
https://doi.org/10.1590/S0102-3772200800...
). De modo que, talvez nas buscas pela literatura nacional, os descritores tenham sido colocados de forma inapropriada. Sugerimos buscar através dos seguintes descritores: infarto agudo do miocárdio, depressão, qualidade de vida, fatores de risco, síndrome coronariana aguda(55 Biblioteca virtual em saúde. Descritores em ciências da saúde [Internet]. 2020 [cited 2020 May 2]. Available from: www.decs.bvs.br
www.decs.bvs.br...
).

No método (desenho, local do estudo e período), nos diz que o estudo é uma coorte retrospectiva, de um estudo anterior realizado em 2012. Quando procuramos a referência sobre este estudo prévio, não encontramos nenhuma no trabalho atual. A única referência encontrada, foi a de um estudo realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Mas o presente estudo foi realizado na Unidade Coronariana do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ficou um pouco confuso, qual o estudo prévio utilizado(66 Lopes JL, Barbosa DA, Nogueira-Martins LA, Barros ALBL. Nursing guidance on bed baths to reduce anxiety. Rev Bras Enferm. 2015;68(3):437-43. doi: 10.1590/0034-7167.2015680317i
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-77 Meneghetti CC, Guidolin BL, Zimmermann PR, Sfoggia A. Screening for symptoms of anxiety and depression in patients admitted to a university hospital with acute coronary syndrome. Trends Psychiatry Psychother. 2017;39(1):12-8. doi: 10.1590/2237-6089-2016-0004
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).

Dentro da amostra, também acreditamos que houve perda de segmento significativa (28%) para um estudo desta complexidade. Visto que, em outros estudos citados pelos autores, as amostras eram bem maiores. Inicialmente, o estudo prévio contava com 120 pacientes, após esta perda finalizou com 96 pacientes. Os próprios autores, concordaram em algum momento que a amostra deveria ser maior, visto que a significância estatística dos resultados pode ter sido comprometida(88 Lichtman JH, Froelicher ES, Blumenthal JA, Carney RM, Doering LV, Frasure-Smith N, et al. Depression as a risk factor for poor prognosis among patients with acute coronary syndrome: systematic review and recommendations: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2014;129(12):1350-69. doi: 10.1161/CIR.0000000000000019
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-99 Wrenn KC, Mostofsky E, Tofler GH, Muller JE, Mittleman MA. Anxiety, anger, and mortality risk among survivors of myocardial infarction. Am J Med. 2013;126(12):1107-13. doi: 10.1016/j.amjmed.2013.07.022
https://doi.org/10.1016/j.amjmed.2013.07...
).

Além disso, considera-se a idade um fator importante no prognóstico das doenças cardiovasculares, visto quanto maior a idade maior o número de eventos. Devido a isto, sugerimos que seja feita uma divisão por grupos de idade, isto traria uma maior contribuição para a proposta do estudo(1010 Bandelow B, Michaelis S. Epidemiologia dos transtornos de ansiedade no século XXI. Diálogos Clin Neurosci [Internet]. 2015 [cited 2017 Oct 10] 17(3):327-35. Available from: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/28479/30333/
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). No protocolo do estudo, a morbidade e a mortalidade, logo após a alta, um ano após e dois anos após foram verificados por meio de dados coletados do prontuário eletrônico dos pacientes. Quando não encontradas tais informações, foi realizado o contato telefônico. A dúvida é: quem respondeu as questões quando realizado o contato telefônico? (paciente, parente, amigo, cuidador...?) Quais tipos de perguntas foram realizadas? O primeiro estudo foi realizado em 2012, e o atual em 2016, não poderia haver dúvidas quanto as respostas dos pacientes, devido ao tempo decorrido, ao próprio estado de saúde, estado emocional?

O número baixo de pacientes com presença de sintomas moderados/graves de depressão e ansiedade, neste estudo, pode ser explicado pela média de idade deles. Uma vez que, adultos jovens acometidos por SCA relatam com maior frequência a presença de sentimentos como ansiedade e depressão comparados aos idosos(1010 Bandelow B, Michaelis S. Epidemiologia dos transtornos de ansiedade no século XXI. Diálogos Clin Neurosci [Internet]. 2015 [cited 2017 Oct 10] 17(3):327-35. Available from: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/28479/30333/
https://www.revistas.usp.br/revusp/artic...
).

Em relação ao tempo de acompanhamento, os autores citam estudos com seguimento de 10 anos ou mais(1111 Meijer A, Conradi HJ, Bos EH, Thombs BD, van Melle JP, Jonge P. Associação prognóstica de depressão após infarto do miocárdio com mortalidade e eventos cardiovasculares: uma metanálise de 25 anos de pesquisa. Gen Hosp Psychiatry. 2011;33(3):203-16.-1212 Roest AM, Zuidersma M, Jonge P. Infarto do miocárdio e transtorno de ansiedade generalizada: acompanhamento de 10 anos. Ir. J Psiquiatria. 2012;200:324-9.). Diferente do presente estudo, com seguimento de 2 anos. Entende-se que um período maior de acompanhamento, aliado a uma avaliação objetiva e abrangente das readmissões e mortalidades relacionadas a doenças cardiovasculares poderiam contribuir para alcançar o objetivo proposto deste estudo.

Acreditamos ser este estudo muito relevante para a área da saúde. Como profissionais da área gostaríamos de receber o retorno dos autores às nossas dúvidas, e de que talvez eles pudessem ampliar este estudo, para termos dados mais robustos cientificamente. Desde já, agradecemos a oportunidade.

REFERENCES

  • 1
    Altino DM, Martins LAN, Gonçalves MAB, Barros ALBL, Lopes JL. Impact of anxiety and depression on morbidity and mortality of patients with coronary syndrome. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018;71(6):3048-53. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0709
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0709
  • 2
    De Mattos MA, Lougon M, Tura BR, Pereira BB. Depressão e Síndrome Isquêmica Coronariana Aguda. Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Universidade Federal do Rio de Janeiro vol 18 nº 4 pg 288 2005
  • 3
    Alves TCTF, Fráguas R, Wajngarten M. Depressão e infarto agudo do miocárdio. Rev Psiquiatr Clín. 2009;36(3):88-92 São Paulo. doi: 10.1590/S0101-60832009000900004
    » https://doi.org/10.1590/S0101-60832009000900004
  • 4
    Lemos C, Gottschall CAM, Pellanda LC, Müller M. Associação entre depressão, ansiedade e qualidade de vida após infarto do miocárdio. Psic: Teor Pesq. 2008;24(4):471-6. doi: 10.1590/S0102-37722008000400010.
    » https://doi.org/10.1590/S0102-37722008000400010.
  • 5
    Biblioteca virtual em saúde. Descritores em ciências da saúde [Internet]. 2020 [cited 2020 May 2]. Available from: www.decs.bvs.br
    » www.decs.bvs.br
  • 6
    Lopes JL, Barbosa DA, Nogueira-Martins LA, Barros ALBL. Nursing guidance on bed baths to reduce anxiety. Rev Bras Enferm. 2015;68(3):437-43. doi: 10.1590/0034-7167.2015680317i
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167.2015680317i
  • 7
    Meneghetti CC, Guidolin BL, Zimmermann PR, Sfoggia A. Screening for symptoms of anxiety and depression in patients admitted to a university hospital with acute coronary syndrome. Trends Psychiatry Psychother. 2017;39(1):12-8. doi: 10.1590/2237-6089-2016-0004
    » https://doi.org/10.1590/2237-6089-2016-0004
  • 8
    Lichtman JH, Froelicher ES, Blumenthal JA, Carney RM, Doering LV, Frasure-Smith N, et al. Depression as a risk factor for poor prognosis among patients with acute coronary syndrome: systematic review and recommendations: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2014;129(12):1350-69. doi: 10.1161/CIR.0000000000000019
    » https://doi.org/10.1161/CIR. 0000000000000019
  • 9
    Wrenn KC, Mostofsky E, Tofler GH, Muller JE, Mittleman MA. Anxiety, anger, and mortality risk among survivors of myocardial infarction. Am J Med. 2013;126(12):1107-13. doi: 10.1016/j.amjmed.2013.07.022
    » https://doi.org/10.1016/j.amjmed.2013.07.022
  • 10
    Bandelow B, Michaelis S. Epidemiologia dos transtornos de ansiedade no século XXI. Diálogos Clin Neurosci [Internet]. 2015 [cited 2017 Oct 10] 17(3):327-35. Available from: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/28479/30333/
    » https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/28479/30333/
  • 11
    Meijer A, Conradi HJ, Bos EH, Thombs BD, van Melle JP, Jonge P. Associação prognóstica de depressão após infarto do miocárdio com mortalidade e eventos cardiovasculares: uma metanálise de 25 anos de pesquisa. Gen Hosp Psychiatry. 2011;33(3):203-16.
  • 12
    Roest AM, Zuidersma M, Jonge P. Infarto do miocárdio e transtorno de ansiedade generalizada: acompanhamento de 10 anos. Ir. J Psiquiatria. 2012;200:324-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020
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