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Mundo da vida: influência socioambiental para o consumo de crack por adolescentes

RESUMO

Objetivo:

Compreender a influência do mundo da vida no consumo de crack por adolescentes em tratamento em Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas.

Método:

Pesquisa qualitativa realizada com treze adolescentes atendidos no Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas, de um município do Sul do Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e a Análise Compreensiva realizou-se a partir da Fenomenologia Social de Alfred Schütz.

Resultado:

No mundo da vida, há influência da comunidade a qual o adolescente pertence; da família, pelo excesso de permissibilidade e estar em ambiente de uso de drogas e violência; e da escola, onde é influenciado por indivíduos a consumi-las.

Conclusão:

Elementos do mundo da vida influenciam o adolescente para o consumo de crack, sendo necessárias ações contextualizadas com seu mundo da vida.

Descritores:
Adolescente; Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias; Meio Ambiente; Cocaína Crack; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To understand the influence of the lifeworld on crack cocaine use by teenagers undergoing treatment at the Psychosocial Care Center for users of alcohol and other drugs.

Method:

Qualitative research carried out with thirteen teenagers attended at the Psychosocial Care Center for users of alcohol and other drugs, from a municipality in the South of Brazil. The data were collected through semi-structured interviews and the Comprehensive Analysis was carried out from the Phenomenology of the Social World of Alfred Schütz.

Results:

In the lifeworld, there is influence of the community to which the teenager belongs; of the family, by the excess of permissibility and being in an environment of drug use and violence; and the school, where it is influenced by individuals to consume them.

Conclusion:

Elements from the lifeworld influence the teenager for the consumption of crack cocaine, being necessary actions contextualized with their world of life.

Descriptors:
Adolescent; Substance-Related Disorders; Environment; Crack Cocaine; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Comprender la influencia del mundo de la vida en el consumo de crack por adolescentes en tratamiento en un Centro de Atención Psicosocial para usuarios de alcohol y otras drogas.

Método:

Investigación cualitativa realizada con trece adolescentes atendidos en el Centro de Atención Psicosocial para usuarios de alcohol y otras drogas de un municipio del Sur de Brasil. Los datos fueron recolectados por medio de entrevistas semiestructuradas y el Análisis Comprensivo se realizó a partir de la Fenomenología Social de Alfred Schütz.

Resultado:

En el mundo de la vida, hay influencia de la comunidad a la que pertenece el adolescente; de la familia, por el exceso de permisibilidad y ser ambiente de uso de drogas y violencia; y de la escuela, donde es influenciado por los individuos a consumirlos.

Conclusión:

Los elementos del mundo de la vida influencian los adolescentes al consumo de crack, y son necesarias acciones contextualizadas con su mundo de la vida.

Descriptores:
Adolescente; Transtornos Relacionados con Substancias; Ambiente; Cocaína Crack; Enfermería

INTRODUÇÃO

O uso de drogas por adolescentes é um grave problema de saúde pública. Em 2013, estimou-se que 24,6 milhões de americanos com 12 anos ou mais de idade, representando 9,4% da população adolescente, foram recorrentes usuários de drogas ilícitas. Nos Estados Unidos, o número de novos usuários de crack foi de 58.000, sendo 20,4 anos a idade média do primeiro uso(11 US. Department Of Health And Human Services. Substance Abuse and Mental Health Services Administration-SAMHSA. Results from the 2013 National Survey on Drug Use and Health: Summary of National Findings[Internet], NSDUH Series H-48, n (SMA), 2013[cited 2016 Dec 10]; p.14-4863. Available from: https://www.samhsa.gov/data/sites/default/files/NSDUHresultsPDFWHTML2013/Web/NSDUHresults2013.pdf
https://www.samhsa.gov/data/sites/defaul...
).

Inquérito com 1157 indivíduos entre 14 e 18 anos no Brasil estimou que o crack foi consumido por quase 3,2 milhões de pessoas. Cerca de 2 milhões de brasileiros consumiram esta droga pelo menos uma vez em sua vida e 0,8% deles eram adolescentes(22 Abdalla RR, Madruga CS, Ribeiro M, Pinsky I, Caetano R, Laranjeira R. Prevalence of cocaine use in Brazil: data from the II Brazilian National Alcohol and Drugs Survey-BNADS. Addict Behav[Internet]. 2014[cited 2016 Dec 10];39:297-301. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0306460313003213
http://www.sciencedirect.com/science/art...
). Estudo com 310 crianças e adolescentes em situação de rua concluiu que o crack é a droga ilícita mais constantemente utilizada por adolescentes entre 11 a 18 anos de ambos os sexos(33 Oliveira M, Gonçalves R, Claro H, Tarifa R, Nakahara T, Bosque R, et al. Perfil das crianças e adolescentes em situação de rua usuários de drogas. Rev Enferm UFPE[Internet]. 2016[cited 2016 Nov 26];10(2):475-84. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/viewArticle/7684
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...
).

Na adolescência, importantes transformações e direcionamentos de interesses e intenções influenciam diretamente na forma como as relações sociais serão construídas. Estas relações se tornam mais complexas, proporcionando ao adolescente novas compreensões sobre a realidade, bem como sobre o mundo, sobre si e os outros(44 Christovam AR, Thomazelli C, Frabetti KC, Moretto LA, Silva NR. Educação para a Sexualidade: intervenção em um grupo de adolescentes assistidos pelo Cras, a partir do conhecimento de suas Representações Sociais em Relação às DST/Aids. Educ Rev[Internet]. 2012[cited 2016 Dec 20];13(1):97-114. Available from: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/educacaoemrevista/article/view/2811/2203
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/in...
). É uma fase de impulsividade na qual o adolescente tem pouca capacidade de avaliar a relação de causa-efeito, sobretudo, quando influenciado por aspectos emocionais e o desejo de prazer imediato(55 Stano J. Substance Abuse: treatment and rehabilitation. Linn Creek: Aspen Professional Services; 2011.). Por essas características, ele pode estar mais vulnerável às influências do mundo externo, como ao consumo de drogas.

O consumo do crack por adolescentes pode ser influenciado pelas questões socioambientais. Fato verificado em estudo que objetivou analisar a influência do ambiente familiar no consumo de crack demonstrou que a dificuldade no exercício dos papéis paternos, a superproteção dos filhos, a cultura do consumo de drogas, os conflitos e as violências, a desinformação e o desconhecimento sobre o uso de drogas podem levar ao uso desta droga(66 Seleghim MR, Oliveira MLF. Influência do ambiente familiar no consumo de crack em usuários. Acta Paul Enferm[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23];26(3):263-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v26n3/en_10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ape/v26n3/en_10...
).

Pesquisa que objetivou conhecer a percepção de usuários de crack em relação ao uso e ao tratamento concluiu que o início do consumo é precoce, se relaciona ao acesso fácil à droga, ao excesso de estudo e trabalho, ao estresse, ao desconhecimento da possibilidade de dependência química e a influência de amigos e familiares(77 Gabatz RIB, Schmidt AL, Terra MG, Padoin SMM, Silva AA, Lacchini AJB. Percepção dos usuários de crack em relação ao uso e tratamento. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2013[cited 2016 Nov 20];34(1):140-6. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v34n1/en_18.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v34n1/en_...
).

Independentemente de quais, as experiências são do e no mundo da vida, sendo estas formadas, orientadas e testadas neste. Ele compõe a esfera de todas as experiências, orientações e ações cotidianas, mediante as quais os atores buscam realizar seus interesses e negócios a partir da manipulação de objetos, da interpretação com as pessoas, da elaboração de planos e da efetivação destes. Neste mundo, cenário das ações sociais, o adolescente como ator sofre influências sobre seu comportamento e é inclinado e conduzido por instruções, exortações e interpretações que lhe são oferecidas pelos outros. Constrói sua visão a respeito do mundo que o circunda e não o faz sem ajuda da matéria-prima que os outros atores lhe oferecem nessa constante exposição diante dos semelhantes(88 Schutz A. Sobre a fenomenologia e relações sociais. Petrópolis, RJ: Vozes; 2012. (Coleção Sociologia).).

O adolescente, como ator social, vive nesse mundo por meio da forma como define subjetivamente o ambiente, cenário de ação, e como interpreta suas possibilidades e dificuldades nesse. Durante a vida, cada indivíduo compreende o mundo na perspectiva de seus próprios interesses, motivos, desejos, compromissos ideológicos e espirituais(99 Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, et al. A fenomenologia social de Alfred Schütz e sua contribuição para a enfermagem. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23];47(3):736-41. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n3/en_0080-6234-reeusp-47-3-00736.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n3/en...
).

Assim, ao se inserir em um ambiente onde há drogas como o crack, o adolescente pode ser influenciado para o consumo. Diante dessa problemática, questiona-se: como os ambientes influenciam o adolescente no consumo de crack?

OBJETIVO

Compreender a influência do mundo da vida no consumo de crack por adolescentes em tratamento em Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas.

MÉTODO

Aspectos éticos

Quanto aos aspectos éticos, o estudo obteve parecer favorável pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande, visando cumprir os preceitos éticos estabelecidos na Resolução nº. 466, de 12 de dezembro de 2012.

Os adolescentes maiores de 18 anos ou responsáveis pelos menores de idade assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todos os adolescentes, no momento da coleta de dados, assinaram o Termo de Assentimento, concordando com a participação no estudo. Garantiu-se o anonimato identificando os participantes do estudo pela letra “A”, seguida do número da entrevista.

Tipo, local e período do estudo

Estudo de caráter descritivo e exploratório, de natureza qualitativa, realizado no segundo semestre de 2016, com treze adolescentes usuários de crack, vinculados a um Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas (CAPS AD), de um município do Sul do Brasil. Esse é um serviço público ligado ao Sistema Único de Saúde e atende pessoas em tratamento pelo consumo de drogas e seus familiares.

Procedimentos metodológicos

Os trezes adolescentes participantes atenderam aos critérios de inclusão: ser adolescente com histórico de uso de crack aderente ao tratamento no CAPS AD. Foram excluídos da pesquisa os que buscavam esse serviço casualmente. Considerou-se adolescente aquele que possui entre 10 e 20 anos incompletos(1010 World Health Organization-WHO. Definition of key-terms Consolidated ARV guidelines[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23]. Available from: http://www.who.int/hiv/pub/guidelines/arv2013/intro/key
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).

Os dados foram coletados pelos pesquisadores por meio de entrevista semiestruturada única com cada participante, a qual ocorreu no próprio serviço e teve duração média de 50 minutos de gravação. O instrumento de coleta de dados continha a pergunta aberta: “Como foi a sua vida da infância até o momento e sua relação com o crack?”.

Após sua transcrição, os dados foram submetidos à Análise Compreensiva a partir da Fenomenologia Social de Alfred Schütz(88 Schutz A. Sobre a fenomenologia e relações sociais. Petrópolis, RJ: Vozes; 2012. (Coleção Sociologia).

9 Jesus MCP, Capalbo C, Merighi MAB, Oliveira DM, Tocantins FR, Rodrigues BMRD, et al. A fenomenologia social de Alfred Schütz e sua contribuição para a enfermagem. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23];47(3):736-41. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v47n3/en_0080-6234-reeusp-47-3-00736.pdf
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10 World Health Organization-WHO. Definition of key-terms Consolidated ARV guidelines[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23]. Available from: http://www.who.int/hiv/pub/guidelines/arv2013/intro/key
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-1111 Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa em Psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Centauro; 2011.). A mesma foi operacionalizada em três momentos: leitura cuidadosa de cada entrevista com o objetivo de compreender o sentido global da experiência vivida; releitura aprofundada para identificar as unidades de significado, ou seja, aspectos relevantes ao contexto vivencial presente nas falas dos atores sociais. Por fim, realizou-se a redução fenomenológica, agruparam-se as unidades de significado pela convergência dos aspectos relevantes para compor as categorias analíticas, ou seja, a essência do fenômeno.

De tal forma, desvelaram-se três categorias fenomenológicas: Elementos do ambiente da comunidade no mundo da vida: acesso ao crack, outras drogas e violência; a estrutura do ambiente familiar influenciando o adolescente no consumo de crack e outras drogas; e o ambiente escolar, e o mundo da vida do adolescente usuário de crack.

RESULTADOS

A pesquisa contou com a participação de 13 adolescentes, com histórico de consumo de crack, em tratamento no CAPS AD. Destes, dois eram do sexo feminino e 11 do sexo masculino. A idade variou de 14 anos a 19 anos, sendo a mais prevalente a de 16 anos. Quanto ao estado civil, doze eram solteiros e uma adolescente encontrava-se em relacionamento estável há dois anos. Dois possuem filhos, sendo que um deles não convive com a criança. Doze residem com a família e um se encontra em um abrigo.

Quanto ao grau de instrução, onze possuem ensino fundamental incompleto, dois possuem o ensino fundamental completo e apenas dois continuam os estudos. Oito referiram estar sem trabalhar nem estudar no momento. Dois atuavam como diaristas nos serviços gerais de uma indústria de pescados e um é auxiliar de cozinha (chapista). Um dos participantes do estudo referiu ser “aviãozinho”, ou seja, vendia drogas para traficante, sendo que em determinado momento mencionou ser, também, traficante.

Quanto ao início do consumo, a média foi de 13 anos, variando entre sete a 15 anos de idade. O tempo de uso de crack teve média de sete anos, variando entre dois a onze anos. Referente a outras drogas utilizadas, citou-se o álcool, na forma de cachaça, xilo, (3) êxtase/ecstasy, (4) tabaco, quatro solventes e cola, (8) cocaína e todos utilizavam maconha.

A estrutura do ambiente familiar influenciando o adolescente no consumo de crack e outras drogas

A família é o primeiro espaço intersubjetivo de construção social dos indivíduos. Ela é referência de comportamentos, valores, entre outros, que podem definir, por meio do acervo de conhecimento edificado desde a infância, a ação dos atores sociais. De tal modo, a ação de consumo de crack na adolescência pode ter em sua essência a normalização/naturalização da droga no ambiente familiar:

Meu pai usava e traficava, minha mãe usava e alguns tios. E eu e meu irmão, que tinha nove anos, começamos a usar. Sempre tivemos facilidade em conseguir e liberdade para usar. Eles até brigavam mas não era sério, de verdade, como pai e mãe normais. Via meu pai sempre assim “doidão” [sob efeito de droga]. (A3)

Meu pai, meus irmãos usam drogas, mas têm uma vida normal. Eles têm controle. Não são viciados como eu. (A4)

Meu pai e minha mãe são usuários de drogas, minha irmã que tem 14 anos usa cocaína e mora na rua, meu irmão, que tem 21 anos, usa crack e está preso. (A5)

A intersubjetividade no ambiente familiar repercute em um mundo da vida de desesperança e desalento no adolescente. Observa-se que ações sociais de cuidado dos pais, como impor limites, trabalhar frustrações, apoiar e fornecer carinho é expresso como desejado e faltoso na experiência dos adolescentes, sendo o crack, bem como outras drogas, um alento e uma forma de “anestesiar” parte do acervo de conhecimento:

Eu sei que não tenho ninguém por mim, faço da minha vida o que eu quero e não tenho uma mãe para se preocupar comigo como todo mundo. Quando fico triste a droga é a minha companheira, minha amiga, minha família é a cama quente e amor de mãe. Vivo assim, solta no mundo, pois desde os dez anos eu uso drogas e não estão nem aí para mim. (A3)

Acho que o uso também é influenciado pelos adultos. Porque, por exemplo, se eu tomava um “porre” em uma festa no final de ano, não vou dizer que meu pai achava bonito, mas ele achava que aquilo era normal para homem, não é? (A12)

Apesar de parte significativa dos adolescentes identificar que há dentro do seu ambiente familiar indivíduos que consomem crack e outras drogas, eles têm a descoberta do uso pela família como um marco lembrado. Esse fato pode expor a necessidade de atenção e cuidado do adolescente:

Minha família descobriu que eu uso drogas pelo jeito que eu chegava em casa, com os olhos vermelhos, brigando, agitado, e depois comecei a ficar muito magro, mas magro de chamar a atenção [...]. (A4)

Eles souberam porque alguém contou. E tem toda a minha história de tráfico, meus “rolos” com a polícia, isso aí já diz tudo. (A10)

As pessoas na rua falavam para a mãe e depois o Conselho foi lá em casa porque eu andava de madrugada na rua. (A8)

A família possui um papel importante no acompanhamento do adolescente em tratamento por dependência. No entanto, quando ela possui uma dinâmica e estrutura disfuncional, tende a não conseguir apoiá-lo para iniciar e manter o tratamento:

Minha mãe tenta me apoiar no tratamento, mas o problema é que ela também usa. (A3)

Na minha casa todo mundo usa! Menos meus sobrinhos. Todos mesmo, “rola” de tudo [drogas]. Então, nada... nada mesmo evita que eu use... não tenho apoio. (A9)

Uma adolescente que possui pais envolvidos com o tráfico de drogas relatou o seu uso como atrativo para venda destas. De tal forma, o afastamento dos pais é percebido por ela como o momento do fim da violência. Com isso, compreende-se que, em determinadas situações, a família é fonte de violência tanto psicológica como física:

Como eu já te disse meu pai era traficante, mas agora ele está preso. Graças a Deus! Ele era muito ruim para mim fazia “coisas” que não tem cabimento um pai fazer com uma filha pequena. Aquele desgraçado, me usava de “isca” para vender drogas. Fazia eu sentar no colo daqueles homens nojentos e fedorentos e eles mexiam em mim, no meu corpo. (A3)

A consequência do tráfico de drogas pelos pais é relatada por parte dos adolescentes, sendo verbalizado o desejo de não seguir essa história de vida:

Os meus pais foram presos por tráfico de drogas e pegaram 12 anos de regime fechado. Minha mãe foi pela segunda vez e meu pai foi pela oitava. Não é a vida que eu quero. (A6)

Elementos do ambiente da comunidade no mundo da vida: acesso ao crack, outras drogas e violência

O ambiente da comunidade é parte do mundo da vida do adolescente, visto que é também neste espaço e tempo que ocorrem os fenômenos na sua vida. De tal forma, os adolescentes relataram uma alta disponibilidade da droga nos espaços da comunidade:

Passei a usar crack quando eu fui morar na casa do meu namorado lá na beira da praia, lá tem tudo que é tipo de droga [...]. (A3)

Comecei a usar crack na minha comunidade. No bairro que morei muitos anos há milhões de pessoas que usam drogas e o crack. (A11)

A comunidade é um ambiente de relação face a face e estabelecimento de intersubjetividades com outros membros e, com isso, ele constrói seu acervo de conhecimento. Nessa, diferentes influências contribuem para que consuma o crack, uma delas são os “amigos”, seja pela oferta ou reprodução do comportamento de uso:

[...] as parcerias [amigos] que eu andava usavam junto experimentavam drogas e me ofereceram. (A1)

Olhar os outros fumando, aí eu comecei a fumar também e com a cocaína foi a mesma coisa... vendo os outros me deu vontade. (A9)

A influência dos “amigos” da comunidade aparece não apenas relacionada com o início do consumo de crack, mas, também, após a busca por tratamento como risco de recaídas ou lapsos:

[...] Voltar para lá, lá para a praia, só de passar perto me dá uma coisa. Lá tem todo o tipo de droga e todos meus amigos de lá usam. Eu não resisto! (A7).

No dia que vim no serviço, apareceu um deles e veio me oferecer drogas, era segunda- feira, 8 horas da manhã eu disse para ele:- não, cara, eu vou procurar melhora para mim, essa vida que estou não está dando para mim. Então ele disse: - então, cara, já que você não quer eu quis apenas fazer minha presença. E eu disse: - cara, pode ficar com sua presença para você mesmo. (A13)

O consumo de crack e outras drogas pode favorecer a violência na comunidade. A necessidade de obter dinheiro para a compra de crack faz com que alguns adolescentes cometam infrações na comunidade, com o objetivo de manter o consumo:

Porque eu me prostituo, roubo às vezes, até vou parar na polícia, mas fazer o quê?... Essa sou eu. E eu mesma é tudo que tenho. (A3)

Fui preso com uns 12 ou 13 anos, por tráfico de drogas, agressão, tentativa de homicídio e por tiroteio com a polícia. Mês passado fui para Jaguarão, com uma gang vingar a morte de um amigo de 16 anos que a polícia matou lá. Já roubei até do traficante e agora ele quer a minha cabeça, mas eu não tenho medo, já passei por muita coisa e se eu morrer vem outro melhor ou pior para o meu lugar. E assim é a vida, até quando Deus quer! (A10)

Apesar do crack ser comumente ligado a situações de violência, não deve ser estigmatizado como uma droga consumida somente por infratores. Ele também é utilizado por indivíduos que não possuem qualquer relação com tráfico ou violência:

Comecei a usar crack na minha comunidade e comprava sempre com o dinheiro do meu trabalho. (A11)

O ambiente de trabalho pode ser um fator de risco, especialmente se o trabalhador for adolescente, devido à fase de vulnerabilidade de influências:

Nessa época, trabalhava como servente de pedreiro com um amigo no bairro, naquela insistência me oferecendo, me oferecendo, eu acabei caindo na onda dele. Ele já usava drogas há muito tempo. Quando me chamou ele disse: - Vai cara prova aí. Tu vai ver, tu vai ver como é o gosto! E então eu provei. Pequei e provei. E tá aí, o que foi que deu. (A13)

Eu trabalhava descarregando em um lugar que tinha de tudo! O pessoal usava muito para trabalhar. Me deprimi nesse período e por isso estou aqui. (A2)

O ambiente escolar e o mundo vida do adolescente usuário de crack

Além do ambiente comunitário e familiar, a escola é um espaço comum do adolescente. Nela, ele aprende sobre convivência social, educação formal, cidadania, entre outros princípios que o constroem como ator social no mundo da vida. Entretanto, neste, ele tem contato com indivíduos que consomem drogas, o que pode aumentar sua vulnerabilidade:

Quando estudava na minha escola conheci milhares de pessoas que usavam drogas. (A11)

O consumo de crack pode repercutir no abandono de um ambiente com potencial transformador como a escola. Assim, alguns enfrentam dificuldades de convívio nesse tanto pelas dificuldades cognitivas, pelo consumo, bem como pelo estigma de ser filho de traficante:

Não estou na escola. Primeiro, por vergonha, porque todo mundo conhecia meu pai e falavam: - Aquela é a filha do fulano, não anda com ela essa gente não presta! E também não conseguia aprender, tinha muita dificuldade. (A3)

Por outro lado, abandonar os estudos pode surgir devido a sua inserção no tráfico de drogas, fato que o afasta da escola pela suposta obtenção de dinheiro fácil ou pela repercussão da atividade na saúde física desse:

Eu ache ruim estudar, como traficante eu ganho mais, corro risco, mas eu não tenho medo. (A10)

[...] às vezes passava a noite na função [vendendo drogas] e ia pra aula com sono, aí acabei desistindo da escola pelo cansaço. (A3)

DISCUSSÃO

O mundo da vida é pré-estruturado, com elementos que antecedem a nossa existência. Neste cenário da ação, o ator social é conduzido e provocado por elementos estabelecidos na estrutura dessa realidade, a qual é aprendida pelos adolescentes por meio da constante interação socioambiental. Dentro desse mundo, a comunidade é construída por meio das concepções internas (dos membros) e externas (de outros), essas múltiplas interpretações privadas combinadas formam a visão de mundo comum(88 Schutz A. Sobre a fenomenologia e relações sociais. Petrópolis, RJ: Vozes; 2012. (Coleção Sociologia).).

No contexto dos membros, o grupo cultural, a família, representa o primeiro contato que o ator social tem na construção do acervo de conhecimento. Nela, os indivíduos aprendem costumes, valores, comportamentos, tipificando as ações dos atores passando a responder ao padrão do grupo que pertence. A função da padronização cultural é eliminar investigações, fornecendo instruções já prontas para ser utilizadas sem necessidade de reflexão. Dentro do grupo cultural, os costumes são heranças, e naturalizações transmitidas como formas corretas de lidar com os indivíduos e as coisas(88 Schutz A. Sobre a fenomenologia e relações sociais. Petrópolis, RJ: Vozes; 2012. (Coleção Sociologia).). No caso dos adolescentes usuários de crack, participantes do estudo, observa-se uma distorção dessa ação social, levando-os à compreensão de normalidade e aceitação da droga pela constante exposição ao consumo de drogas, tipificando a ação de consumo dentro desse grupo cultural interno.

A interação parental é um fator importante que influencia o desenvolvimento psicossocial dos adolescentes, o uso de drogas e a delinquência(1212 Loke AY, Mak YW. Family process and peer influences on substance use by adolescents. Int J Environ Res Public Health[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23];10(9):3868-85. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3799532/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Desta forma, a cultura familiar do uso de drogas, conflitos familiares internos, com a possibilidade de chegar à agressão física, verbal e/ou psicológica, em especial no ambiente familiar de usuários de crack, apesar de não ser compreendida por muitas famílias como fatores de risco, pode surgir como um fenômeno sociocultural amplamente aceito(66 Seleghim MR, Oliveira MLF. Influência do ambiente familiar no consumo de crack em usuários. Acta Paul Enferm[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 23];26(3):263-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v26n3/en_10.pdf
http://www.scielo.br/pdf/ape/v26n3/en_10...
).

As falas dos participantes, especialmente de oito adolescentes, nos mostram que há uma fragilidade nas relações familiares o que gera no adolescente a sensação de falta de amor e a sensação de abandono. Além disso, a banalização do consumo de drogas pelos pais produz um desgaste nas relações familiares e a sua utilização como fuga dos problemas. Esse comportamento dos pais foi visto como uma violência produto da omissão do cuidado, e da atenção desejada e esperada, conforme demonstrado no estudo(1313 Caravaca-Morera JA, Padilha MI. A dinâmica das relações familiares de moradores de rua usuários de crack. Saúde Debate[Internet]. 2015[cited 2016 Dec 26];39(106):748-59. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39n106/0103-1104-sdeb-39-106-00748.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39n106/01...
). Esse quadro leva ao início precoce de drogas. Com isso, os achados do presente estudo corroboram a literatura atual, alertando sobre a importância de os profissionais visualizarem a influência ambiental e as práticas parentais que prejudicam a saúde do adolescente(1414 Cornelius MD, De Genna N, Goldschmidt L, Larkby C, Day N. Exposures during gestation and childhood: predictors of adolescent drinking. Subst Use Misuse[Internet]. 2016[cited 2016 Nov 25];23;51(10):1253-63. Available from: https://www.researchgate.net/publication/303509545_Adverse_Environmental_Exposures_During_Gestation_and_Childhood_Predictors_of_Adolescent_Drinking
https://www.researchgate.net/publication...
).

Observa-se, no estudo, que parte significativa dos ambientes familiares apresentam uma desestruturação e disfuncionalidade que colaboraram para o consumo de drogas. Contudo, é essa família que precisa apoiá-lo, e por sua disfuncionalidade e desestruturação, pode dificultar o início e a manutenção do tratamento da dependência deste.

Destaca-se que o tratamento da dependência química é complexo, especialmente no que diz respeito ao crack. Assim, a família que acompanha o usuário de drogas pode enfrentar problemas, como sentimento de impotência e desconfiança, falta de recursos financeiros e dificuldades de acesso aos dispositivos especializados em saúde mental(1515 Horta ALM, Daspett C, Egito JHT, Macedo RMS. Experience and coping strategies in relatives of addicts. Rev Bras Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 Feb 22]; 69(6):1024-30. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_0034-7167-reben-69-06-1024.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_...
). De tal forma, os profissionais de saúde precisam estar atentos e apoiá-la para que consiga reestruturar-se para reabilitar o adolescente.

As relações ambientais desestruturadas e disfuncionais podem ser vistas nos conflitos intrafamiliares, o uso e tráfico de drogas pelos companheiros e parentes, além de vínculo afetivo frágil(1616 Marangoni SR, Oliveira MLF. Triggering factors for drug abuse in women. Texto Contexto Enferm[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 11];22(3):662-70. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n3/en_v22n3a12.pdf
http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n3/en_v2...
). Entretanto, o apoio emocional de amigos e familiares é essencial, sendo um importante catalisador que encoraja o início do tratamento.

Na concepção da comunidade vista internamente, as falas dos participantes nos revelam que a alta disponibilidade de drogas neste local é um facilitador do consumo de crack e outras drogas. Essa alta disponibilidade é efetivada por meio de sua estrutura interna com os atores que nela habitam. As relações intersubjetivas estabelecidas nesse meio podem colaborar para uma normalização/naturalização do consumo de drogas nessa.

Estudo que analisou a relação da comunidade e o tráfico afirma ser possível que os indivíduos se tornem insensíveis ao consumo e venda de drogas pelo frequente testemunho dessas. Sendo esta, uma atividade normalizada socialmente, a sua desaprovação diminui, deixando os indivíduos em maior risco de uso de drogas(1717 Duncan DT, Palamar JJ, Williams JH. Perceived neighborhood illicit drug selling, peer illicit drug disapproval and illicit drug use among U.S. high school seniors. Subst Abuse Treat Prev Policy[Internet]. 2014[ cited 2016 Dec 20];9:35. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25182042
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2518...
).

Essa disponibilidade de drogas na comunidade, verificada no estudo, é também expressa pela oferta do crack por amigos e, muitas vezes, influencia o adolescente a reproduzir o comportamento dos pares. Na adolescência, há a necessidade da sensação de pertencimento, com isso, tendem a alterar seu comportamento os aproximando ao de seus pares, o que os expõem a situações de vulnerabilidade(1818 Wang C, Hipp JR, Butts CT, Jose R, Lakon CM. Alcohol use among adolescent youth: the role of friendship networks and family factors in multiple school studies. PLos ONE[Internet]. 2015[cited 2016 Nov 25];10(3):1-19. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25756364
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2575...
). Esse processo de tipificação da ação pode levar a um primeiro consumo de droga, bem como a cometer furtos, roubos, entre outros, para receber a aprovação do grupo voluntário.

Os amigos dos adolescentes do estudo também surgem como uma influência que expõe o adolescente, que já está em tratamento, ao risco de recaídas ou lapsos ao se aproximar e ofertar crack. A recaída está ligada à proximidade do local da residência com o tráfico de drogas e velhas amizades que dificultam a manutenção do tratamento(1919 Pedroso RS, Kessler F, Pechansky F. Treatment of female and male inpatient crack users: a qualitative study. Trends Psychiatr Psycho[Internet]. 2013[cited 2016 Dec 10];35(1):36-45. Available from: http://www.scielo.br/pdf/trends/v35n1/a05v35n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/trends/v35n1/a0...
). As características da fase da adolescência favorecem o envolvimento com o consumo e o tráfico(2020 Pazhiini K, Nair AR. Prevalence of substance abuse among tribal school adolescents in Manipur. Int J Sci Res[Internet]. 2015[cited 2016 Dec 11];4(11):id104. Available from: https://www.worldwidejournals.com/international-journal-of-scientific-research-(IJSR)/articles.php?val=Njg2Mg==&b1=413&k=104
https://www.worldwidejournals.com/intern...
). Assim, é necessário criar estratégias de fortalecimento desse adolescente e, em alguns casos, pensar em uma mudança inicial de espaços para posterior retorno à comunidade.

A violência neste local surge como consequência da busca da manutenção do consumo de drogas. Com este, há uma transformação progressiva dos significados morais, o que pode levar a ações violentas, compreendidas com normalidade na sua comunidade, sendo as vítimas entendidas como culpadas por se encontrarem no local(2121 Copes H, Hochstetler A, Sandberg S. Using a Narrative Framework to Understand the Drugs and Violence Nexus. CJR[Internet]. 2015[cited 2017 Feb 21];40(1):32-46. Available from: http://journals.sagepub.com.ez40.periodicos.capes.gov.br/doi/pdf/10.1177/0734016814560436
http://journals.sagepub.com.ez40.periodi...
). De tal forma, para adquirir crack, alguns indivíduos vendem os seus bens, manipulam, roubam, se prostituem, podem também roubar suas próprias famílias, o que leva a uma situação conflituosa e a sua saída de casa.

Cabe ressaltar que o usuário de crack não deve ser estigmatizado como sendo violento, traficante ou ladrão, esse também é utilizado por indivíduos que não possuem qualquer envolvimento com tráfico ou com a violência, sustentando seu consumo com o próprio trabalho. Além disso, há situações em que o ambiente de trabalho influencia no consumo de crack pela oferta da droga pelos colegas de trabalho. O problema não é interligado apenas à característica patogênica do trabalho, é necessário também relacioná-lo à história de vida do indivíduo, suas ações e experiências que constituem o mundo desses trabalhadores(2222 Felix Jr IJ, Schlindwein VLDC, Calheiros PRV. A relação entre o uso de drogas e o trabalho: uma revisão de literatura PSI. Estud Pesqui Psicol[Internet]. 2016 [cited 2016 Dec 20];16(1):104-22. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/24834/17788
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.p...
).

Apesar da prostituição não ser citada explicitamente, é uma atividade comum de oferta de drogas e obtenção de drogas. Estudo australiano sobre prostituição na rua revelou que o consumo de drogas foi a principal causa para o desempenho dessa atividade gerar altos níveis de exaustão emocional e baixos níveis de satisfação no trabalho, além da sensação de não conseguir sair dessa realidade(2323 Cregan C, Kulik CT, Salinger D. The effects of age and drug dependency on the emotional exhaustion and job satisfaction of adult streetworkers in Australia. Arch Sex Behav[Internet]. 2013[cited 2017 Feb 21];42:851-61. Available from: https://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-0049-x
https://dx.doi.org/10.1007/s10508-012-00...
).

A situação da alta disponibilidade de drogas nas comunidades é um problema multifatorial, ou seja, político, econômico e social. Dentro desse contexto, a dependência não é apenas uma doença individual, mas também sociocoletiva, reflexo das realidades culturais, econômicas e políticas nas quais os indivíduos foram e são encontrados(1313 Caravaca-Morera JA, Padilha MI. A dinâmica das relações familiares de moradores de rua usuários de crack. Saúde Debate[Internet]. 2015[cited 2016 Dec 26];39(106):748-59. Available from: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39n106/0103-1104-sdeb-39-106-00748.pdf
http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v39n106/01...
).

Além da comunidade e da família, o ambiente escolar, apesar de importante para o desenvolvimento do adolescente, surge no presente estudo como local de contato com indivíduos que consomem crack e outras drogas. A escola pode torná-lo vulnerável à influência dos colegas usuários, desencadeando o início do consumo por agirem como indutores na busca de novas experiências(1515 Horta ALM, Daspett C, Egito JHT, Macedo RMS. Experience and coping strategies in relatives of addicts. Rev Bras Enferm[Internet]. 2016[cited 2017 Feb 22]; 69(6):1024-30. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_0034-7167-reben-69-06-1024.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v69n6/en_...
). Nesse ambiente, os adolescentes podem se sentir mais confortáveis oferecendo drogas para os seus pares, podem buscar o estreitamento de amizades, sendo considerados populares entre eles devido a esse comportamento(2424 Tucker JS. Peer influence on marijuana use in different types of friendships. J Adolesc Health[Internet]. 2014[cited 2016 Dec 20];54(1):67-73. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1054139X13004072
http://www.sciencedirect.com/science/art...
).

Estudo que explorou a coevolução da escolha de amizades e o comportamento de consumo de drogas entre 1.284 adolescentes de 12 pequenas escolas e 976 adolescentes de uma grande escola mostrou a tendência de formarem laços com os amigos de seus amigos, gerando uma espécie de hierarquia nestas redes sociais. O adolescente que não consome drogas é rebaixado nesta escala hierárquica(1818 Wang C, Hipp JR, Butts CT, Jose R, Lakon CM. Alcohol use among adolescent youth: the role of friendship networks and family factors in multiple school studies. PLos ONE[Internet]. 2015[cited 2016 Nov 25];10(3):1-19. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25756364
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2575...
).

No espaço da escola, situações de preconceito influenciam o clima contextual e interpessoal que os adolescentes vivenciam diariamente, podendo levar ao comprometimento do desempenho escolar e até mesmo no abandono desse ambiente. Situações como essa demonstram que a escola pode, em alguns momentos, não ser um ambiente totalmente saudável, podendo impactar a saúde mental dos adolescentes provocando importantes repercussões(2525 Benner AD, Crosnoe R, Eccles SJ. Schools, Peers, and Prejudice in Adolescence. J Res Adolesc [Internet]. 2015[cited 2016 Dec 14];25(1):173-88. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jora.12106/abstract
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.11...
).

Junto ao preconceito, também surgem outras questões, como as dificuldades cognitivas devido ao consumo de crack levando ao abandono da escola. Esses adolescentes podem apresentar dificuldade de aprendizado, visto que o crack, como droga psicoativa, estimula o Sistema Nervoso Central, alterando as funções cognitivas, especialmente a atenção, a memória e as funções executivas, e isso pode acarretar em prejuízos e na evasão escolar(2626 Araújo EM, Cassia A, Barros J, Fernandino R, Fonseca SB, Pires ECR. Os efeitos neuropsicológicos pelo uso do crack. Rev Bras Qual Vida[Internet]. 2015[cited 2016 Nov 23];3(2). Available from: http://jornal.faculdadecienciasdavida.com.br/index.php/RBCV/article/download/68/pdf
http://jornal.faculdadecienciasdavida.co...
). Destaca-se que ações governamentais têm procurado transformar essa realidade, como o Programa Saúde na Escola, que busca a integração e articulação permanente da educação e da saúde por meio de ações de promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos à saúde, e de atenção à saúde, visando enfrentar as vulnerabilidades que comprometem o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Alguns adolescentes possuem no tráfico de drogas uma “escolha” que revela a contradição do discurso da igualdade de vida dos indivíduos referente às oportunidades de estudar, ter uma profissão e se sustentar, e esse, mesmo que ilegal, se torna uma opção dentre poucas alternativas. A figura do traficante é reconhecida e, ainda que dentro de uma sociedade que o idolatra e teme, passa a imagem do sucesso. Através desse, além da sensação de poder e pertença, surge como possibilidade de inclusão no sistema social capitalista que os excluíram do acesso ao consumo. Nesse contexto, o trabalho e o estudo são considerados pouco compensatórios, por não garantirem o acesso ao nível de vida desejado e idealizado como símbolo de sucesso e de valorização pessoal(2727 Faria AAC, Barros VA. Tráfico de drogas: uma opção entre escolhas escassas. Psicol Soc[Internet]. 2011[cited 2016 Nov 17];23(3):536-44. Available from: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v23n3/11.pdf
http://www.scielo.br/pdf/psoc/v23n3/11.p...
).

Limitações do estudo

Os resultados devem ser compreendidos à luz das suas limitações. Estas se devem à impossibilidade de generalização por terem sido realizadas em um único cenário no vasto mundo da vida e pela situação biográfica ser aproximada, mas nunca igual. Além disso, há o fato de não considerar a possibilidade da influência de transtornos psiquiátricos e suas comorbidades no comportamento dos adolescentes e sua interferência no fornecimento de dados.

Contribuições para a área da enfermagem e da saúde

O estudo contribui com a área da enfermagem e da saúde ao desvelar o fenômeno do consumo de crack por meio da uma abordagem fenomenológica social, permitindo compreender as influências socioambientais que levam a essa ação por adolescentes. A Enfermagem se encontra no território da comunidade, integrando a equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) ou o Programa Saúde na Escola (PSE), assim, a compreensão dos ambientes da família, da escola e da comunidade apresentada no estudo serve de subsídio para a Enfermagem intervir diretamente nesses de forma contextualizadas na realidade do adolescente, aumentando a eficiência e eficácia das intervenções. Indiretamente, as informações subsidiam o repensar das políticas públicas ao ressaltar a vulnerabilidade socioeconômica e cultural do adolescente. Assim, o conhecimento gerado no estudo ratifica a necessidade de investimentos na aplicação das políticas públicas de saúde e assistência social na busca da proteção da criança, do adolescente, família e comunidade.

CONCLUSÃO

Nesse estudo, verificou-se que o adolescente sofre influências socioambientais de três ambientes: família, comunidade e escola. Compreende-se que no mundo da vida há influência da comunidade a qual ele pertence, pela disponibilidade e facilidade de acesso à droga; da família, pelo excesso de permissibilidade e se encontrar em ambiente de uso de drogas e violência, e da escola, onde têm contato com drogas e o tráfico.

O mundo da vida do adolescente é influenciado pelas relações estabelecidas com os diferentes atores sociais, repercutindo em seu comportamento e na construção do mundo do mesmo. Conclui-se que diferentes elementos deste influenciam o adolescente ao consumo de crack, sendo necessárias ações contextualizadas nas estruturas dos ambientes que compõem seu mundo da vida.

Com isso, a Enfermagem precisa aproximar-se desses ambientes na busca de contribuir com estratégias de cuidado pautadas nessas estruturas. Assim, o enfermeiro pode intervir por meio da Atenção Básica, bem como através da articulação intersetorial envolvendo a enfermagem/saúde, comunidade, escola e assistência social. Ele precisa também estar próximo da família, compreendendo sua dinâmica e relacionamento entre seus membros com o objetivo de ajudar a identificação precoce dos problemas e fortalecer fatores de proteção e desenvolver sua resiliência.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    23 Fev 2017
  • Aceito
    31 Ago 2017
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