Resumos
Estudo exploratório-descritivo, em base documental, de natureza quantitativa com o objetivo de descrever o perfil dos egressos dos Programas de Pós-Graduação da Área de Enfermagem da Região Sul titulados nas linhas de pesquisa de gerenciamento de enfermagem, de 2006 a 2009. A coleta dos dados ocorreu mediante consulta aos Cadernos de Indicadores da CAPES e busca dos Currículos Lattes/CNPq dos egressos. Os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem da Região Sul titularam 409 alunos, sendo 129 (31,5%) nas linhas de pesquisa de gestão/gerenciamento em enfermagem: 116 (89,9%) Mestres e 13 (10,1%) Doutores, que atuam majoritariamente na docência. Dos Mestres titulados, dois (1,7%) já são Doutores e 39 (33,6%) estão cursando o Doutorado. A produção intelectual após titulação soma um total 501 artigos científicos publicados, com uma média de 1,1 e 1,8 artigo/ano entre mestres e doutores, respectivamente. Apontam-se indicativos para a formação de mestres e doutores diferenciados para atuar na gestão/gerência em saúde e enfermagem.
Nursing research; Education higher; Education, Nursing, Graduate; Health management
Estudio exploratorio descriptivo, basado en documentos, de naturaleza cuantitativa, objetivando describir el perfil de egresados del Programa de Posgraduación del Área de Enfermería de Región Sur, recibidos en las líneas de investigación de enfermería, entre 2006 y 2009. Recolecta de datos efectuada mediante consulta de Cuadernos de Indicadores de CAPES y búsqueda de Currículos Lattes/CNPq de los egresados. Los programas de Posgraduación en Enfermería de la Región Sur graduaron 409 alumnos, 129 (31,5%) en las líneas investigativas de gestión/gerenciamiento en enfermería: 116 (89,9%) Maestros y 13 (10,1%) Doctores, con actuación mayoritaria en docencia. Dos (1,7%) de los maestros graduados son ya Doctores, 39 (33,6%) cursan el Doctorado. La producción documental de posgraduación suma 501 artículos científicos publicados, con promedio 1,1 y 1,8 artículo/año entre Maestros y Doctores, respectivamente. Se apuntan indicaciones para la formación de Maestros y Doctores especializados para actuar en gestión/gerenciamiento de salud y enfermería.
Investigación en enfermería; Educación superior; Educación de Postgrado en Enfermería; Gestión en salud
This is an exploratory-descriptive study, performed on a documental basis and using a quantitative approach. The objective was to describe the profile of graduates from the Nursing Graduate Programs from Southern Brazil, from 2006 to 2009, which titles revealed they were in the lines of research regarding nursing management. The data was collected using The CAPES Indicator Books and searches on the graduates' Curriculum Lattes/CNPq. The Nursing Graduate Programs in Southern Brazil totaled 409 students, 129 (31.5%) of which worked in the lines of research associated with nursing management/administration: 116 (89.9%) Masters and 13 (10.1%) Doctorates. Most graduates currently work as faculty. Of those with a master degree, two (1.7%) have already obtained a doctorate degree, and 39 (33.6%) are currently in the doctorate program. The intellectual production after obtaining the degree adds up to 501 published scientific articles, with an average 1.1 and 1.8 article/year among masters and doctorates, respectively. The study presents indicatives for the preparation of differentiated masters and doctorates to work in nursing and health management/administration.
Nursing research; Education higher; Education, Nursing, Graduate; Health management
ARTIGO ORIGINAL
Perfil dos egressos de gerenciamento de enfermagem dos Programas da área de Enfermagem da Região Sul
Perfil de los egresados de gerenciamiento en enfermería de los programas del área de enfermería de la región Sur
Alacoque Lorenzini ErdmannI; Selma Regina de AndradeII; José Luís Guedes dos SantosIII; Roberta Juliane Tono de OliveiraIV
IEnfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadora 1A do CNPq. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração, Gerência do Cuidado e Gestão Educacional em Enfermagem e Saúde - GEPADES. Coordenadora da Área de Enfermagem na CAPES jan. 2008 a jun. 2011. Florianópolis, SC, Brasil. alacoque@newsite.com.br
IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Vice-Líder do GEPADES. Florianópolis, SC, Brasil. selma@ccs.ufsc.br
IIIEnfermeiro. Doutorando em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Integrante do GEPADES. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Florianópolis, SC, Brasil. joseenfermagem@gmail.com
IVGraduanda de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. Florianópolis, SC, Brasil. roberta_tono@hotmail.com
Endereço para correspondência: Endereço para correspondência: Alacoque Lorenzini Erdmann Univ. Fed. de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem - Trindade CEP 88040-900 - Florianópolis, SC, Brasil.
RESUMO
Estudo exploratório-descritivo, em base documental, de natureza quantitativa com o objetivo de descrever o perfil dos egressos dos Programas de Pós-Graduação da Área de Enfermagem da Região Sul titulados nas linhas de pesquisa de gerenciamento de enfermagem, de 2006 a 2009. A coleta dos dados ocorreu mediante consulta aos Cadernos de Indicadores da CAPES e busca dos Currículos Lattes/CNPq dos egressos. Os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem da Região Sul titularam 409 alunos, sendo 129 (31,5%) nas linhas de pesquisa de gestão/gerenciamento em enfermagem: 116 (89,9%) Mestres e 13 (10,1%) Doutores, que atuam majoritariamente na docência. Dos Mestres titulados, dois (1,7%) já são Doutores e 39 (33,6%) estão cursando o Doutorado. A produção intelectual após titulação soma um total 501 artigos científicos publicados, com uma média de 1,1 e 1,8 artigo/ano entre mestres e doutores, respectivamente. Apontam-se indicativos para a formação de mestres e doutores diferenciados para atuar na gestão/gerência em saúde e enfermagem.
Descritores: Nursing research; Education higher; Education, Nursing, Graduate; Health management
RESUMEN
Estudio exploratorio descriptivo, basado en documentos, de naturaleza cuantitativa, objetivando describir el perfil de egresados del Programa de Posgraduación del Área de Enfermería de Región Sur, recibidos en las líneas de investigación de enfermería, entre 2006 y 2009. Recolecta de datos efectuada mediante consulta de Cuadernos de Indicadores de CAPES y búsqueda de Currículos Lattes/CNPq de los egresados. Los programas de Posgraduación en Enfermería de la Región Sur graduaron 409 alumnos, 129 (31,5%) en las líneas investigativas de gestión/gerenciamiento en enfermería: 116 (89,9%) Maestros y 13 (10,1%) Doctores, con actuación mayoritaria en docencia. Dos (1,7%) de los maestros graduados son ya Doctores, 39 (33,6%) cursan el Doctorado. La producción documental de posgraduación suma 501 artículos científicos publicados, con promedio 1,1 y 1,8 artículo/año entre Maestros y Doctores, respectivamente. Se apuntan indicaciones para la formación de Maestros y Doctores especializados para actuar en gestión/gerenciamiento de salud y enfermería.
Descriptores: Investigación en enfermería; Educación superior; Educación de Postgrado en Enfermería; Gestión en salud
INTRODUÇÃO
O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) do Ministério da Educação, período 2011-2020, apresenta a evolução do número de cursos de pós-graduação em atividade desde 1976. O crescimento deu-se em todas as áreas, porém a área da saúde destacou-se em termos de titulados em mestrado e doutorado por 100 mil habitantes. Os dados indicam que, no período de 2004 a 2009, os cursos de pós-graduação em atividade cresceram um total de 38,1%, dos quais 35,9% em nível de mestrado acadêmico, 104,2% em mestrado profissional e 34,4% em doutorado. Embora essa evolução seja expressiva, resultou discreta elevação do número de titulados por 100.000 habitantes. Em 2006, foram titulados 16,04 mestres e 5,05 doutores no Brasil e, em 2009, 18,64 e 5,94, respectivamente(1).
O crescimento econômico projetado para o Brasil nos próximos 10 anos exigirá pessoal altamente qualificado. O PNPG descortina o desafio de atingir até o ano de 2020 a titulação de doutores, equiparando o Brasil a alguns países de primeiro mundo(1). Nesse contexto, a ciência da Enfermagem é exigida a incrementar a formação de mestres e doutores, com vistas a consolidar e expandir seu campo científico, tecnológico e de inovação por meio do conhecimento produzido, principalmente, nos programas de pós-graduação.
A pesquisa em Enfermagem tem importância primordial para o avanço e consolidação da ciência e tecnologia da profissão e para contribuir com a busca da excelência da atenção/cuidado em saúde. Os Programas de Pós-Graduação, no Brasil, estão estruturados em áreas de concentração, linhas de pesquisa, projetos de pesquisa e grupos/núcleos de pesquisa cadastrados no Diretório de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa estrutura possibilita a formação de mestres e doutores com competências investigativas em experiências práticas da profissão de enfermagem, em diferentes cenários, contemplando a diversidade de áreas de conhecimentos e práticas(2).
A área da Enfermagem na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) vem crescendo em número de programas e em cursos de doutorado, formando mestres desde a década de 1970 e de doutores desde 1980(2-3). Hoje, em 2011, os Programas e Cursos de Pós-Graduação em Enfermagem stricto sensu contabilizam 54 programas credenciados pela CAPES, compondo um total de 76 cursos, sendo 24 cursos de doutorado em Enfermagem, 42 mestrados acadêmicos e mais 10 mestrados profissionais em enfermagem, sendo um destes programas na área de concentração em Gerenciamento de Enfermagem, iniciado em 2010.
Apesar desse crescimento e da implementação de políticas governamentais que promovem a pós-graduação no país, ainda há regiões desprovidas de programas e de doutores em Enfermagem, bem como com poucos programas, se comparados com o número de cursos de graduação em Enfermagem, e esta proporção se dá também em relação às demais áreas da saúde(2).
Também é crescente a produção de conhecimentos científicos ou tecnológicos publicados em periódicos de alto impacto, o que contribui para que a Enfermagem se consolide gradativamente nas suas especificidades e diversidades, articulada com os conhecimentos de outros setores determinantes da vida e saúde da sociedade. Entre 2007 e 2009, a produção científica de Enfermagem brasileira registrada pelos 35 programas de pós-graduação no sistema de avaliação da CAPES correspondeu a 5.194 artigos publicados em 595 periódicos. No triênio, foram defendidas 1.517 dissertações de mestrado e 377 teses de doutorado(4-5).
Os quantitativos da produção advertem para a necessidade de problematizar a utilidade social do conhecimento de Enfermagem e o compromisso em transformá-lo em bem-estar das pessoas, grupos e coletividades(5). Reflexões quanto à produção científica da Enfermagem têm sido apresentadas como fonte de preocupação, especialmente ao cogitar sobre aspectos ético-epistemológicos, requisitos que definem a qualidade do conhecimento produzido e características definidoras de uma maturidade científica. A essas reflexões adicionam-se outras de natureza mais operacional, que envolvem os produtos decorrentes de pesquisas, dentre eles a publicação e divulgação. Os produtos resultantes são fontes de avaliação da capacidade científica da Enfermagem, principalmente pelos órgãos avaliadores e financiadores do sistema científico-tecnológico(6).
Especificamente em relação à área de administração/gerência/gerenciamento/gestão de enfermagem, estão cadastrados 36 grupos de pesquisa no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. Esses grupos pesquisam a temática sob diversas abordagens, constituindo um vasto e abrangente celeiro de ideias e produção de tecnologias no âmbito da administração em enfermagem e saúde. O modelo teórico denominado Grupos de Pesquisa de Administração e Gestão em Enfermagem: arranjos e interações no sistema de Cuidado em Enfermagem resulta da convergência e inter-relação de diversos âmbitos de atuação destes grupos, que interagem, funcionam e produzem resultados a partir de conceitos e contextos, com o horizonte voltado para a proposição e inovação de estudos nessa área(7).
As linhas de pesquisa prioritárias em gestão de enfermagem envolvem áreas temáticas sobre os elementos e as concepções de gerência de enfermagem em diferentes cenários da prática; competências gerenciais do enfermeiro; enfermagem nas redes de compromisso social; enfermagem na integralidade da atenção em saúde; políticas públicas de atenção à saúde; planejamento em enfermagem e saúde; cultura organizacional; humanização no ambiente de cuidado; tecnologias em saúde, economia e custos na saúde e enfermagem; segurança e os riscos ocupacionais na enfermagem; quantidade e qualidade de profissionais de enfermagem segundo o padrão de qualidade de cuidado desejado; qualidade do cuidado de enfermagem e de saúde; informática em enfermagem e saúde; melhores práticas gerenciais do cuidado; a enfermagem na promoção da saúde e modelos de gerência de enfermagem, dentre tantas outras(8).
A partir do desenvolvimento e aplicabilidade dos resultados provenientes dessas linhas de pesquisa, é esperado que a produção da ciência da enfermagem alcance as expectativas da sociedade em usufruir cuidados de enfermagem de excelente qualidade e tecnologicamente avançados. De outro lado, ao atender essas expectativas, espera-se que os enfermeiros possam ser reconhecidos pelo seu potencial de liderança e domínio dos conhecimentos de enfermagem, seja no âmbito internacional, nacional ou regional.
Com base no panorama apresentado, questiona-se: qual é o perfil dos egressos dos Programas de Pós-Graduação da Enfermagem da Região Sul, titulados nas linhas de pesquisa em administração/gerência/gerenciamento/gestão de enfermagem?
OBJETIVO
Descrever o perfil dos egressos dos Programas de Pós-Graduação da Área da Enfermagem da Região Sul, titulados nas linhas de pesquisa da gerência ou gerenciamento ou gestão de enfermagem e saúde.
MÉTODO
Trata-se de um estudo do tipo exploratório-descritivo, em base documental, de natureza quantitativa.
A coleta dos dados ocorreu no período de julho a setembro de 2011, abrangeu o período de 2006 a 2009 e foi dividida em dois momentos. Primeiramente, consultaram-se os Cadernos de Indicadores da CAPES(9), que são os relatórios utilizados no processo de avaliação dos programas de pós-graduação para identificar o número total de teses e dissertações defendidas em cada um dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem da Região Sul do Brasil e os egressos cujos trabalhos estavam cadastrados em linhas de pesquisa relacionadas à Gestão e Gerenciamento em Enfermagem.
Na sequência, procedeu-se a busca dos Currículos Lattes/CNPq dos egressos das linhas de pesquisa de gestão/gerenciamento, para captação das variáveis relacionadas à atuação profissional, produção científica após titulação e, para os egressos do curso de mestrado, realização de doutorado. Para contagem da produção científica após titulação, foram computados apenas os artigos completos publicados em periódicos. Os egressos com Currículo Lattes desatualizado há mais de dois anos foram excluídos do estudo.
A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva, com dados absolutos e relativos. Os resultados foram agrupados e apresentados sob a forma de quadros e tabelas.
O estudo não foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa por se tratar de pesquisa documental, cujo conteúdo disponibilizado é de caráter público. Entretanto, foram seguidos todos os preceitos éticos no processamento, na análise e na divulgação dos dados da pesquisa.
RESULTADOS
A Região Sul do Brasil possui oito Programas de Pós-Graduação em Enfermagem, sendo três no Estado do Paraná: Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Estadual de Londrina (UEL). No estado de Santa Catarina, há um único Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, há quatro programas nas seguintes instituições: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Todos esses programas possuem linhas de pesquisa relacionadas à gestão/gerenciamento em Enfermagem, como pode ser observado no Quadro 1.
A UFSC e UFPR também possuem Mestrado Profissional em Enfermagem, que tiveram início, respectivamente, em 2010 e 2011 e, portanto, sem egressos no período estudado. O mestrado acadêmico da UEM também iniciou suas atividades em 2010, não sendo considerado na presente análise.
No período em estudo (2006-2009), os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem da Região Sul do Brasil titularam 409 alunos, sendo 129 (31,5%) nas linhas de pesquisa relacionadas à Gestão/Gerenciamento de Enfermagem. Desse total, quatro não eram enfermeiros: dois psicólogos, um educador físico e um nutricionista. A distribuição dos egressos de acordo a instituição e o ano de titulação está apresentada na Tabela 1.
Do total de alunos titulados nas linhas de pesquisa de Gestão/Gerenciamento de Enfermagem, 116 (89,9%) eram egressos do mestrado e 13 (10,1%) do doutorado. Dos mestres titulados, dois (1,7%) já são doutores e 39 (33,6%) estão cursando o doutorado no período da pequisa. Tanto mestres quanto doutores atuam majoritariamente na docência. Em relação à produção após titulação, os egressos publicaram, ao todo, 501 artigos científicos, conforme os dados apresentados na Tabela 2.
DISCUSSÃO
A existência de linhas de pesquisa relacionadas à gestão/gerenciamento de enfermagem em todos os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem da Região Sul evidencia a importância dessa área como dimensão do trabalho do enfermeiro.
Em relação à distribuição dos egressos entre os Programas de Pós-Graduação, os programas mais recentes apresentaram um número menor de linhas de pesquisa em relação àqueles programas já consolidados, uma vez que concentram sua produção nas linhas de gestão/gerenciamento de enfermagem. Nos programas mais antigos, como é o caso da UFSC, a produção em gestão/gerenciamento de enfermagem aparece diluída no conjunto de publicações, embora seja expressivo seu quantitativo.
No período de 2006 a 2009, a titulação de mestres/doutores manteve-se constante, apesar do aumento do número de programas: um iniciado em 2007 (UFSM), outro em 2008 (UFPEL) e, ainda, um terceiro (UEL), iniciado em 2010, ainda sem egressos no momento da coleta de dados deste estudo.
O número de mestres que ainda não cursam o doutorado (64,7%) configura um indicador inquietante, uma vez que a formação stricto sensu se efetiva e completa com a titulação de doutor. É notória a necessidade de formação de doutores em Enfermagem para atuar junto aos cursos de graduação e pós-graduação, não só diante do crescente número de cursos de graduação em Enfermagem autorizados pelo MEC, mas também pela importância de planejamento da carreira, de investimento na qualificação profissional e no incremento da ciência, tecnologia e inovação em Enfermagem.
De outro modo, há uma política definida e conhecida da educação de Enfermagem no país que preconiza a construção de novas práticas pelo docente, com domínio amplo e profundo em determinados conteúdos organizados, em linhas ou temáticas prioritárias de pesquisa. Suas diretrizes visam contribuir para a excelência da formação/educação em Enfermagem tanto quanto para fortalecer campos de conhecimento multiprofissionais e interdisciplinares.
Ademais, o impacto da atuação profissional dos egressos de programas de pós-graduação na melhoria da qualidade do cuidado de enfermagem junto à sociedade requisita ser avaliado. Como são poucos os egressos que estão atuando diretamente na gestão/gerência de serviços de saúde, tem-se o desafio de alavancar essa formação, intensificando a titulação de mestres e doutores neste campo específico de conhecimento.
A Enfermagem brasileira construiu visibilidade e potencial de pesquisa e formação de pesquisadores ao contar com 54 Programas de Pós-Graduação em Enfermagem, com 76 cursos (24 doutorados, 42 mestrados acadêmicos e 10 mestrados profissionais em Enfermagem), e 164 pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa no CNPq e 448 grupos de pesquisa(4), dos quais 36 são da área de administração ou gestão ou gerenciamento em enfermagem(7). Soma, aproximadamente, 1.550 milhões de trabalhadores da enfermagem, cerca de 50% dos profissionais da área da saúde, no Sistema Único de Saúde, mostrando-se resolutiva e contributiva na atenção à saúde da população, com quase 191 milhões de habitantes. Esta trajetória de crescimento e consolidação culmina com o alcance da excelência com quatro programas com nota seis pela CAPES/MEC(4), possibilitando assim incrementar o campo de conhecimento específico, o da gestão e gerência em enfermagem e saúde.
A busca da excelência da Enfermagem brasileira é o caminho para dar resposta à sociedade do quão importante e significativa é a profissão de Enfermagem. A própria produção de conhecimentos sobre os egressos dos Programas de Pós-Graduação é um grande desafio. Focalizar a formação de mestres e doutores em Enfermagem por competências, potenciais ou aptidões demanda reconhecer o perfil traçado para o alcance da qualificação devida e a respectiva atuação profissional ou impacto na saúde da população, como construtores e viabilizadores de políticas de saúde e desenvolvimento social.
Quanto à produção científica após a titulação, identificou-se que a média de artigos publicados pelos mestres e doutores foi, respectivamente, 4,4 (1,1 artigo/ano) e 7,5 (1,8 artigo/ano) no período estudado. Esses índices são mais expressivos em relação a levantamentos anteriores(10-11). O incremento da produção científica identificado reflete o avanço da divulgação do conhecimento produzido pela Enfermagem. A distribuição das publicações de artigos científicos da Enfermagem brasileira comparada a de outros países mostra que, de 2000 até 2008, essa produção subiu do 25º lugar para o 5º lugar no ranking mundial, evidenciando um aumento substancial(12).
No entanto, é válido questionar e refletir: os cursos de graduação e de pós-graduação têm possibilitado suficiente clareza quanto à responsabilidade social do enfermeiro frente à sua titulação? A busca dos enfermeiros por cursos de pós-graduação e a divulgação do conhecimento produzido em periódicos científicos têm impactado em melhores práticas de cuidado/gerência/gestão do cuidado de enfermagem? Quais são os critérios para avaliar os egressos quanto ao seu impacto? Como avaliar qualitativa e quantitativamente a atuação dos mesmos? Estão sendo melhores que os profissionais já existentes? E, de nós professores, por exemplo, quanto tempo levará para alcançarmos a quantidade e qualidade desejada ou necessária?
Reafirma-se a necessidade de que os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem envidem esforços na formação de mestres e doutores capazes de produzir um conhecimento relevante para a sociedade e fazer uma prática que realmente absorva o conhecimento produzido nos periódicos. A busca pelo conhecimento deve contribuir acima de tudo para mobilizar a atitude geral do espírito humano para propor e resolver problemas(13).
Os cursos de doutorado em Ciência da Enfermagem (Doctor of Nursing Science) nos EUA podem ser citados como exemplos na busca pela articulação entre prática, teoria e produção do conhecimento em Enfermagem. Esses cursos destinam-se a preparar profissionais especialistas em práticas avançadas de enfermagem, por meio da realização de pesquisas cujos resultados possam ser convertidos em práticas/cuidados inovadoras, baseadas nas melhores evidências científicas(14).
Conforme consta do Relatório da Avaliação da Área de Enfermagem, do triênio 2007 a 2009(15):
A área da Enfermagem na CAPES tem focado a formação de seus pesquisadores/cientistas orientada por um Perfil do Doutor em Enfermagem, elaborado com o intuito do alcance da excelência, espelhada no perfil internacional da formação de doutores da área, destacando-se como principais competências/aptidões/domínios os que seguem: - domínio do estado da arte da sua temática/área de atuação, com capacidade de diálogo no âmbito internacional e compreensão em similar nível de alcance, argumentação na sustentação de suas ideias perante seus pares e em outros campos de conhecimento na comunidade científica rumo à inserção e construção de parcerias ou redes de produção de conhecimentos; - domínio da especificidade da área da Enfermagem, em abrangência e profundidade, em determinada temática ou interfaces de conhecimentos com a mesma, de modo a contribuir para o seu avanço, incorporando novos saberes e fazeres e prática de cuidado interdisciplinar; - identificação e promoção de novos caminhos no conhecimento em Enfermagem, visando sua distinção científica e tecnológica e inserção social, para a consolidação e fortalecimento da identidade da área; - percepção e interpretação das oportunidades do desenvolvimento de novos conhecimentos, avaliando sua importância para o campo teórico e prático da área, com base nos impactos dos diversos saberes; - habilidades/competências para a pesquisa, coordenação de equipes e empreendimento do conhecimento com habilidades conexas na gestão de projetos de pesquisa e prospecção de oportunidades em pesquisa; - expert em métodos científicos e/ou criador de novos métodos e tecnologias para o processo de construção de conhecimentos avançados, bem como domínio dos instrumentos e processo de divulgação/socialização do conhecimento em periódicos altamente qualificados; - exercício do processo educativo, colaborando na formação de novos pensadores/profissionais para competências/aptidões em conhecimentos ou saberes da área da Enfermagem e/ou áreas afins, com visão crítico-reflexiva, construtiva e colaborativa; - capacidade de construção de seu projeto de carreira científica, considerando sua liderança, inserção, reconhecimento acadêmico, além do tempo de vida profissional, interesse, vontade, necessidades ou condições pessoais.
A Enfermagem é um campo de conhecimento específico e uma profissão social que avança em ritmo acelerado, consolidando-se, expandindo-se e se fortalecendo como ciência, tecnologia e inovação em todos os continentes(15). Vem construindo novos caminhos com novos conceitos, construtos e explicações rumo à produção de novas práticas de cuidado de enfermagem para dar resposta às manifestações ou condições de saúde dos grupos populacionais de diferentes contextos de vida e políticas sociais. Investe na construção de conhecimentos que contribuem para promover o ser/viver melhor e com melhor saúde no fenômeno do cuidado humano.
O cuidado de enfermagem na saúde humana é um objeto de estudo e trabalho de reconhecida relevância para a sociedade e ainda pouco explorado no campo da produção de conhecimentos e saberes da Enfermagem. O cuidado ao ser humano é um valor, um bem social indispensável para promover a vitalidade do viver, o ter e manter a vida e melhor morrer; é produto de conhecimentos, atitudes, aptidões e potenciais da ordem da interação humana, da natureza da vida e dinâmica das funções vitais sob o domínio da ciência e arte da Enfermagem(15).
A competência técnico-científica de cuidar do cidadão no seu processo saúde e doença e em seu contexto social do viver humano requer domínio de conhecimentos avançados de natureza biológica, sócio-crítica, humanista e social, com interfaces em diversos campos de conhecimentos, na abrangência que caracteriza o campo da ciência (aplicada) da Enfermagem ou disciplina própria da Enfermagem e interdependência com outros campos de conhecimento, especialmente os da saúde, educação e gestão/organização em políticas públicas sociais, ou seja, da prática de produção e atuação multi, inter e transdisciplinar(15).
Acredita-se que a expectativa da sociedade seja de dispor de cuidados de enfermagem de excelente qualidade, tecnologicamente avançado, que assegure o viver mais saudável ou com melhor saúde, realizado por profissionais enfermeiros altamente qualificados ou competentes, reconhecidos pelo domínio de conhecimentos de enfermagem no âmbito internacional, nacional e regional, reconhecendo que a saúde é direito de todo cidadão.
As políticas educacionais dos diferentes países sustentam a formação de enfermeiros com competências ou aptidões para atuarem em diferentes contextos sociais, com domínio de produção e consumo de novos conhecimentos ou saberes, de diferentes tecnologias, potencial político e gerencial, articulador, integrador, vitalizador, crítico, compromisso profissional e social, sócio-humanístico, cuidado ético, construtor da cidadania, relacional, empreendedor social com ampla visão micro e macrossocial, potencial de governabilidade e de construção de políticas promotoras de saúde.
Formar profissionais de enfermagem altamente capacitados é um grande desafio: enfermeiros, especialistas, mestres e doutores com perfis diferenciados e gestores diferenciados. As perspectivas apontam para um crescimento qualitativo e quantitativo acompanhado de novas configurações na distribuição do contingente de profissionais: maior número, melhor qualificado, fazendo ações diferenciadas, buscando melhor sustentabilidade em bases científicas e tecnológicas, construindo continuamente novas práticas diferenciadas e melhor qualificadas frente à realidade e resolutividade na prática da atenção à saúde. Cresce o investimento financeiro na saúde, a oferta de melhores serviços e a busca de profissionais melhor qualificados.
A educação em Enfermagem toma novo direcionamento ao focalizar o processo de aprender centrado na prática da profissão ou do cuidado de enfermagem, ou seja, do estar aprendendo mediante o exercício contínuo da construção de novas práticas que, por vez, requer domínio do estado da arte e de potenciais com o exercício de novas aptidões. Os processos de aprender investigando e inovando continuamente são complementares e vitais na qualidade do ensino centrado na prática de cuidados de enfermagem.
A Enfermagem vem melhor integrando o pensar e o fazer coparticipativo e construtivo da profissão. É necessário titular egressos capazes de promover a inovação, resultante da produção de tecnologias de cuidados, do avanço da ciência da Enfermagem e de uma nova pedagogia do ensinar-aprender. Os egressos mestres e doutores experts em gestão ou gerência de enfermagem poderão fazer ainda a diferença esperada.
CONCLUSÃO
A Região Sul do Brasil possui oito Programas de Pós-Graduação em Enfermagem, dos quais sete titularam, entre 2006 a 2009, 409 alunos, sendo 129 (31,5%) nas linhas de pesquisa relacionadas à gestão/gerenciamento de Enfermagem. Desse total de titulados, 116 (89,9%) eram egressos do mestrado e 13 (10,1%) do doutorado, que estão atuando majoritariamente na docência. Dos mestres titulados, dois (1,7%) já são doutores e 39 (33,6%) estão cursando o doutorado. A produção intelectual após titulação soma um total de 501 artigos científicos publicados, com média de 4,4 (1,1 artigo/ano) entre os mestres e 7,5 (1,8 artigo/ano) entre os doutores.
Os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem vêm contribuindo para o avanço e a consolidação do conhecimento científico, tecnológico e de inovação no campo da Enfermagem e também no campo específico da gestão/gerência de enfermagem pela formação de recursos humanos de excelência nos níveis de mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado, com repercussões positivas tanto no âmbito nacional como internacional, tanto nas organizações dos serviços de saúde como na organização e práticas do cuidado de enfermagem. Nos últimos três anos, concretizou-se um aumento significativo da visibilidade, vitalidade, força/potência e reconhecimento da Pós-Graduação da Enfermagem brasileira.
Apesar das limitações inerentes à pesquisa documental, este estudo, ao traçar o perfil desses egressos, aponta indicativos para o avanço na formação de mestres e doutores centrados no perfil estabelecido no Documento de Área da Enfermagem/CAPES/2009. Ao projetar um profissional atuante na gestão/gerência em saúde e enfermagem, com formação destacada e diferenciada, competente, visionário, empreendedor e construtor de políticas públicas, os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem dão um passo certo e firme em direção às mudanças esperadas pela sociedade.
Recebido: 01/11/2011
Aprovado: 08/11/2011
Referências bibliográficas
- 1 Brasil. Ministério da Educação; Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Plano Nacional de Pós-Graduação - PNPG 2011-2020. Brasília: CAPES; 2010. v. 1.
- 2. Erdmann AL. Formação de especialistas, mestres e doutores em enfermagem: avanços e perspectivas. Acta Paul Enferm. 2009;22(n.esp):551-3.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
17 Abr 2012 -
Data do Fascículo
Dez 2011
Histórico
-
Recebido
01 Nov 2011 -
Aceito
08 Nov 2011