Instrumentos de percussão membranofones na musicoterapia com pacientes adultos no contexto de saúde: revisão de escopo^*

RESUMO

Objetivo:

Mapear o conhecimento científico sobre o uso de instrumentos de percussão na musicoterapia, em indivíduos maiores de 18 anos, no contexto de saúde.

Método:

Revisão de escopo com estratégia de busca implementada em setembro de 2021, em 13 bases de dados, utilizando-se descritores indexados e palavras-chave. Foram incluídos estudos sobre o uso de membranofones no cuidado a pessoas maiores de 18 anos. Foram excluídos estudos com participação de gestantes, pacientes psiquiátricos (esquizofrenia, psicose, adição) ou pessoas com déficit auditivo; e editoriais de revistas. O processo de seleção foi realizado por dois pesquisadores independentes.

Resultados:

Treze estudos foram incluídos e os resultados mostraram que os membranofones impactam de forma positiva na saúde física, psicológica e social das pessoas, em diferentes ambientes de cuidado, além de habilitá-los a repetir padrões rítmicos e musicar. A musicoterapia ativa foi a estratégia predominantemente utilizada nas intervenções, e o membranofone mais utilizado foi o djembê.

Conclusão:

Os resultados sugerem que a musicoterapia com membranofones mostrou ser uma intervenção viável com resultados benéficos na melhora da saúde física, psicológica e social em pessoas maiores de 18 anos.

DESCRITORES
Terapias Complementares; Estimulação Acústica; Musicoterapia; Enfermagem; Literatura de Revisão como Assunto

ABSTRACT

Objective:

To map scientific knowledge about the use of percussion instruments in music therapy in individuals over 18 years of age in the health context.

Method:

Scope review with search strategy implemented in September 2021, in 13 databases, using indexed descriptors and keywords. Studies on the use of membranophones for care of people over 18 years of age were included. Studies with the participation of pregnant women, psychiatric patients (schizophrenia, psychosis, addiction), or people with hearing impairment, and journal editorials were excluded. The selection process was carried out by two independent researchers.

Results:

Thirteen studies were included and the results showed that the membranophones have a positive impact on the physical, psychological, and social health of people in different care environments, and allow them to repeat rhythmic patterns and play music. Active music therapy was the strategy predominantly used in interventions, and the most used membranophone was the djembe.

Conclusion:

The results suggest that music therapy with membranophones proved to be a viable intervention with beneficial results in improving physical, psychological, and social health of people over 18 years of age.

DESCRIPTORS
Complementary Therapies; Acoustic Stimulation; Music Therapy; Nursing; Review Literature as Topic

RESUMEN

Objetivo:

Mapear el conocimiento científico sobre el uso de instrumentos de percusión en musicoterapia en mayores de 18 años en el contexto de la salud.

Método:

Revisión de alcance con estrategia de búsqueda implementada en septiembre de 2021, en 13 bases de datos, utilizando descriptores indexados y palabras clave. Se incluyeron estudios sobre el uso de membranófonos en el cuidado de personas mayores de 18 años. Se excluyeron los estudios con la participación de mujeres embarazadas, pacientes psiquiátricos (esquizofrenia, psicosis, adicción) o personas con discapacidad auditiva; editoriales de revistas. El proceso de selección fue realizado por dos investigadores independientes.

Resultados:

Se incluyeron trece estudios y los resultados mostraron que los membranófonos tienen un impacto positivo en la salud física, psicológica y social de las personas en diferentes entornos de atención, además de permitirles repetir patrones rítmicos y reproducir música. La musicoterapia activa fue la estrategia predominantemente utilizada en las intervenciones, y el membranófono más utilizado fue el djembe.

Conclusión:

Los resultados sugieren que la musicoterapia con membranófonos demostró ser una intervención viable con resultados beneficiosos en la mejora de la salud física, psicológica y social de las personas mayores de 18 años.

DESCRIPTORES
Terapias Complementarias; Estimulación Acústica; Musicoterapia; Enfermería; Literatura de Revisión como Asunto

INTRODUÇÃO

No Brasil, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) estão acessíveis à população por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), no Sistema Único de Saúde (SUS), legitimada pela Portaria n° 971, de 3 de maio de 2006(¹), seguindo a diretriz da Organização Mundial de Saúde (OMS). Atualmente, a PNPIC dispõe de 29 PICS, em saúde, dentre elas a musicoterapia(²).

A musicoterapia promove diversos efeitos nos pacientes, como relaxamento, distração, alívio do estresse, diminuição de ansiedade, dor, fadiga e melhora dos sintomas de depressão. Também está relacionada à satisfação do paciente e contribui para a regulação da frequência cardíaca, da frequência respiratória e da pressão arterial(³).

Além da diversidade de situações em que a musicoterapia pode ser aplicada com efeitos benéficos para o indivíduo, pode ser usada no tratamento de pacientes de todas as idades, recém-nascidos, crianças, adolescentes, adultos e idosos(⁴–⁷).

O efeito terapêutico da música tem sido explicado por três aspectos: cognição, emoção e neurobiologia. Os estímulos musicais têm um efeito biológico sobre o comportamento por participar de funções cerebrais específicas envolvidas na memória, aprendizado e múltiplos estados motivacionais e emocionais. A percepção auditiva da música ocorre no centro auditivo do lobo temporal do cérebro, que envia sinais ao tálamo, mesencéfalo, ponte, amígdala, medula e hipotálamo(⁸).

A musicoterapia pode ser realizada com os pacientes basicamente de duas formas: ativa ou passiva (receptiva). O envolvimento com a música é passivo quando a intervenção inclui apenas a audição por parte do paciente, quer seja por fones de ouvido ou por música ambiente, executada por um profissional ao vivo ou trazida por este em CD, rádio, iPod ou computador. A produção da música por parte do paciente (cantar, tocar instrumento) pode ser denominada musicoterapia ativa(⁹).

Alguns instrumentos musicais, como os de percussão, têm como principal função evidenciar o ritmo da música. Alguns deles são denominados membranofones, de acordo com a classificação de Hombostel-Sachs(¹⁰). Nos membranofones, os sons são produzidos primariamente pela vibração de uma membrana estendida e tensionada em determinado suporte, que pode ser de pele, tecido ou material sintético(¹¹), como por exemplo tambor, tamborim, pandeiro, surdo, djembê e bumbo.

A utilização do membranofone na prática clínica envolve o musicar e o movimento conforme o ritmo. O efeito das intervenções está atrelado aos objetivos e desfechos determinados pelo pesquisador. Ensaio clínico controlado com enfermeira de oncologia observou, após um mês de sessões musicais semanais com exercícios e musicar, redução na depressão, ansiedade e sintomas psicossomáticos em relação ao grupo controle(¹²). Estudo sobre o efeito de intervenções musicais com tambor, sobre o bem-estar de usuários e profissionais de serviços de saúde mental, por meio da análise fenomenológica interpretativa, identificou hedonia, proatividade e maior habilidade para agir segundo a própria vontade e liberdade para fazer escolhas, senso de realização por conseguir participar das atividades e identidade de um grupo, melhor foco e concentração, maior percepção de si mesmo e autoconsciência, bem-estar social e pertencimento(¹³).

Revisão de escopo sobre o uso da musicoterapia para promover a saúde, melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade em militares, observou que a maioria dos estudos com finalidade clínica utilizou a música ativa, e destes, quase todos com membranofones. Os estudos com tambor identificaram redução da solidão, acesso a memórias, maior coesão de grupo, maior autocontrole e controle do humor, melhor comunicação e expressão de emoções(¹⁴).

São frequentes as revisões sistemáticas de estudos com musicoterapia na prática assistencial, mas poucos com a música ativa e uso de membranofones, o que justifica a relevância deste estudo, que objetivou mapear o conhecimento científico sobre o uso de instrumentos de percussão na musicoterapia, em indivíduos maiores de 18 anos, no contexto da saúde.

MÉTODO

Utilizou-se o modelo de revisão escopo proposto pelo modelo do JBI(¹⁵) e as recomendações da declaração PRISMA ScR(¹⁶), com as seguintes etapas: definição e alinhamento dos objetivos à pergunta de pesquisa, desenvolvimento dos critérios de inclusão coerente aos objetivos e à pergunta de pesquisa, descrição do planejamento para busca de evidências, seleção, extração de dados, busca e seleção das evidências, extração e análise das evidências, resultados, resumo das evidências focadas no objetivo da revisão, conclusões e implicações dos achados(¹⁵).

Esta revisão foi norteada pela seguinte questão: “Quais são as investigações disponíveis na literatura sobre o uso de instrumentos de percussão do tipo membranofones, no contexto da saúde, em pessoas maiores de 18 anos?”

Fontes de Dados e Estratégia de Pesquisa

A estrutura de busca considerou como população (P), pessoas ≥18 anos; conceito (C), a musicoterapia com instrumentos de percussão do tipo membranofone; e contexto (C), o contexto de saúde (ambiente hospitalar, ambulatorial, comunitário, domiciliar, instituições de longa permanência, unidades básicas de saúde). A busca foi realizada com o auxílio de um bibliotecário, em setembro de 2021, utilizando-se descritores indexados e palavras-chave (Material Suplementar Quadro 1), nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), The Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINHAL), Cochrane Library, Excerpta Medica Database (EMBASE), SCOPUS, Epistemonikos, JBI Library, Prospero, PsychINFO, PUBMED (Quadro 1), SciELO, Science Direct, Scopus e Web of Science. Utilizaram-se filtros (humanos, adultos e faixas etárias de interesse) quando o portal apresentava este recurso e opção por palavras no título ou resumo. A busca preliminar sobre o assunto permitiu incluir o termo boleano NOT para reduzir a captura de estudos sobre implante coclear, músicas groove (que despertam bons sentimentos e vontade de dançar) e habilidades musicais. No processo de seleção, acessou-se material de literatura cinzenta nas bases ETHOS e Teses e Dissertações CAPES.

Quadro 1
Estratégia de busca em inglês utilizada em uma das bases de dados. São Paulo, Brasil, 2021.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos estudos sem recorte temporal, em espanhol, francês, inglês, italiano e português, que fizeram o uso da música com membranofone em pessoas maiores de 18 anos, no contexto de saúde. Foram excluídos estudos com participação de gestantes, pacientes psiquiátricos (esquizofrenia, psicose, adição) ou pessoas com déficit auditivo; editoriais de revistas.

Seleção dos Estudos

A seleção dos estudos foi feita manualmente no programa Excel e por dois revisores independentes que avaliaram o título e os resumos de estudos potencialmente relevantes, usando-se os critérios de seleção. Um terceiro revisor foi consultado em caso de discordância sobre a elegibilidade do documento. Os artigos elegíveis foram analisados na íntegra.

Extração de Dados

Os dados foram extraídos por meio do instrumento: JBI template source of evidence details, characteristics and results extraction instrument combinado com um instrumento complementar específico para o objetivo da investigação, baseado nas diretrizes de relatórios para intervenções com música (Material Suplementar Quadro 1). Os dados extraídos incluíram: autor, ano de publicação, país de origem, periódico, descrição das populações (sexo, idade), número de participantes, tipo de grupos (intervenção, controle e placebo), objetivo, metodologia de estudo, aprovação ética, tempo de intervenção musical, modo de entrega (música gravada versus música ao vivo, descrição da intervenção, comparador e detalhe dos mesmos, instrumentos de avaliação, resultados significativos para o objetivo da revisão e principais conclusões que se relacionam com a pergunta da revisão.

Síntese de Dados

A síntese dos principais aspectos relacionados à intervenção e seus resultados foram apresentados em quadros síntese. Quando pertinente, utilizaram-se medidas estatísticas descritivas para agrupar as informações.

RESULTADOS

Recuperaram-se 1.087 estudos e após a eliminação das duplicatas com a utilização de planilhas do Excel, restaram 793. Após a leitura do título e resumos, 747 foram eliminados por abordarem populações infantis, habilidades musicais, teoria musical, complicações clínicas decorrentes da utilização de determinados membranofones, atividades estudantis, estilos musicais e uso de uma variedade de instrumentos. Dos 46 remanescentes, alguns foram excluídos por impossibilidade de acesso ao texto completo (n = 3) ou por serem protocolos de ensaio clínico (n = 4) e resumos de conferência (n = 3). Portanto, realizou-se a leitura do texto completo de 36 estudos e 23 foram excluídos por: ausência de informação sobre instrumento musical utilizado (n = 5), utilização de outros instrumentos musicais (n = 4), utilização de membranofones com outros instrumentos (n = 9), estudos de revisão com informações limitadas sobre a intervenção ou dentro dos critérios de exclusão (n = 3), artigo selecionado em duplicata (n = 1) ou não atendia ao objetivo da revisão (n = 1). Amostra final foi composta por 13 artigos (Figura 1).

Figura 1
Diagrama de fluxo PRISMA-ScR do processo de busca e seleção dos estudos da revisão.

O Quadro 2 apresenta a síntese dos estudos. Os estudos foram publicados entre os anos de 1990 e 2020(¹⁷–²⁹), sendo a maioria (61,5%) entre 2015 e 2020(¹⁷,²⁰–²²,²⁵,²⁶,²⁸,²⁹). Dos 13 estudos incluídos, cinco (38,4%) foram publicados nos Estados Unidos(¹⁷–²¹), dois (15,4%) no Canadá(²²,²³), dois (15,4%) no Japão(²⁴,²⁵), dois (15,4%) na África do Sul(²⁶,²⁷) e dois (15,4%) no Reino Unido(²⁸,²⁹).

Quadro 2
Publicações incluídas na revisão de escopo segundo autor/ano, país, objetivo, população, método, mensuração/avaliação e resultados. São Paulo, Brasil, 2022.

Quanto aos desenhos de pesquisa, foram incluídos: quatro (30,8%) ensaios clínicos não-randomizados e não-controlados(¹⁷,¹⁸,²¹,²²), dois (15,4%) ensaios clínicos controlados não-randomizados(²⁷,²⁸), um (7,7%) ensaio clínico randomizado tipo crossover(²⁴) e seis (46,1%) estudos de intervenção com avaliação pós(¹⁹,²⁰,²³,²⁵,²⁶,²⁹). Com relação ao método de análise, dois (15,4%) foram mistos(¹⁸,²²), cinco (38,5%) quantitativos(²¹,²⁴,²⁵,²⁷,²⁸) e seis (46,1%) qualitativos(¹⁷,¹⁹,²⁰,²³,²⁶,²⁹). Os estudos que realizaram análises qualitativas(¹⁷,¹⁹,²⁰,²³,²⁶,²⁹), em sua maioria utilizaram, na sua coleta de dados, entrevista semiestruturada(²⁰), notas de campo, entrevistas gravadas em áudio(²³), questionário semiestruturado com perguntas abertas(²⁶), entrevistas individuais semiestruturadas e entrevistas em grupo focais(²⁹) e anotações de observadores(¹⁹).

As intervenções com membranofones mostraram bons efeitos para a expressão de emoções em todos os estudos, a redução de afetos negativos e aumento dos positivos(²²), melhora no humor(¹⁷,²⁴,²⁶), melhora da ansiedade(²¹,²⁷,²⁸), melhora da depressão, resiliência social e bem-estar(²⁸), melhora na rigidez e tremores da parte superior do corpo em pacientes com Parkinson(¹⁷), melhora na interação/comunicação social em pacientes com demência(¹⁸,¹⁹), empoderamento em idosos(²³), relaxamento e melhora da produtividade em profissionais de saúde(²⁶), redução da pressão arterial sistólica em pessoas hipertensas(²⁷). Constatou-se também que a percussão é um exercício de intensidade baixa a moderada(²⁷) e concluiu-se que o efeito do tempo acústico sobre o tônus simpático é modulado pelo sistema respiratório(²⁵).

Enquanto um estudo não explicitou o local da intervenção(²⁹), para os demais, as intervenções foram implementadas em hospital pediátrico(²²), Centro de Excelência da Fundação Nacional de Parkinson em hospital universitário(¹⁷), instituição de longa permanência(¹⁸,¹⁹,²³), hospital(²¹), clínica(²⁰), hospital psiquiátrico(²⁶), espaço alugado próximo à residência dos participantes do grupo experimental(²⁸), espaço para eventos corporativos(²⁷), Yamaha Health Management Center(²⁴) e sala de audição com isolamento acústico(²⁵).

Os estudos utilizaram protocolos estruturados para a intervenção com membranofones, como o protocolo “Find your beat” do Health Rhythms^TM Group Empowerment Drumming(¹⁷). Dois estudos também seguiram o treinamento do Health Rhythms^TM Group Empowerment Drumming, mas não nomearam qual o protocolo(²¹,²⁴). Dez estudos apresentaram a descrição das etapas do protocolo de intervenção(¹⁹–²¹,²³–²⁹). Um estudo não apresentou o protocolo descrito, mas mencionou tratar-se da reprodutibilidade de protocolo já utilizado(¹⁸). Outro estudo aplicou o protocolo Health Rhythms^TM como base, adaptando-o de acordo com as respostas dos participantes no decorrer das semanas de intervenção(¹⁷).

Quanto à abordagem musicoterápica, 12 estudos (92,3%) mencionaram que os pacientes receberam musicoterapia ativa(¹⁷–²⁴,²⁶–²⁹) e apenas um (7,1%) utilizou musicoterapia passiva(²⁵), mas tratou-se de um estudo para avaliar como ocorre o efeito do ritmo sobre o sistema nervoso autônomo.

Em relação às características da intervenção (Quadro 3), foi possível observar que dos 13 estudos, apenas um (7,7%) não relatou o tempo de exposição à intervenção(¹⁷); os demais apresentaram as informações que foram sintetizadas por medidas de tendência central e variabilidade, obtendo-se tempo médio de 48,1 (±24,9) minutos, mediana de 47,5 minutos e modas de 30, 60 e 90 minutos. A variabilidade entre o número de sessões foi ampla, de uma a 14 sessões. Excluiu-se deste agrupamento o estudo que mencionou 18 meses porque o programa foi contínuo e com participação livre(²⁶), bem como o estudo analítico desenvolvido no laboratório de audição em um único dia(²⁵).

Quadro 3
Características da intervenção segundo tipo de membranofone, dose da intervenção e profissional que aplicou a intervenção. São Paulo, Brasil, 2022.

O membranofone mais utilizado nos estudos foi o djembê, sendo que em três estudos (23,1%) ele foi exclusivo(²⁷–²⁹) e em dois (15,4%) estudos ele foi usado com outros membranofones(²³,²⁴). Alguns estudos se referiram a tambores Remo, reportando-se a uma empresa de peles para tambores.

Embora dois estudos tenham mencionado disponibilizar ao grupo, um(²⁴) ou dois(²³) idiofones, eles foram mantidos na análise porque os participantes tinham liberdade de escolher o instrumento nas sessões e não foi explicitada a escolha desse tipo de instrumento. Os protocolos utilizados apenas mencionavam membranofones.

Os dados foram extraídos seguindo as recomendações das diretrizes de relatórios para intervenções baseadas em música(³⁰). Dentre os sete itens que as compõem, apenas dois (teoria da intervenção e música) não foram relatados de maneira satisfatória pelos estudos (Material Suplementar Quadro 2).

DISCUSSÃO

Esta revisão de escopo possibilitou o mapeamento do conhecimento científico sobre o uso terapêutico de instrumentos de percussão do tipo membranofones, em pessoas maiores de 18 anos, no contexto de saúde. O poder curativo e restaurador da música pode ser atribuído às qualidades sociais onipresentes no consumir e no fazer música, essenciais para o desenvolvimento do curso da vida, principalmente para aqueles que apreciam música(²⁰,³¹).

No tocante aos efeitos fisiológicos, verificou-se que a musicoterapia com instrumentos de percussão do tipo membranofone influencia positivamente a frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial. Outros estudos de musicoterapia corroboram estes resultados(³²–³⁴). Quanto à resposta imunológica, esta apresentou uma melhora, à semelhança do evidenciado em outros estudos(³⁵,³⁶).

Efeitos psicológicos também foram observados tanto em pacientes quanto na equipe multidisciplinar. Esses achados estão relacionados com a melhora dos seguintes aspectos: afeto positivo, estresse, ansiedade e humor. Esses resultados também são corroborados por outros estudos(³²,³⁴,³⁵,³⁷,³⁸).

A intervenção musical proporcionou uma melhor forma de enfrentar o tratamento do câncer. Essa experiência com arte e criatividade foi melhor em relação às experiências prévias individuais ou em grupo cujo foco era a doença. Além disso, o ambiente social e criativo permitiu, por meio da música, a expressão de emoções e uma saída positiva para a nova situação de vida(²⁰). O câncer é uma doença crônica que envolve tratamentos complexos e mudanças bruscas na vida. O enfrentamento da doença e tudo que a envolve é um processo desafiador e a musicoterapia possibilita apoio e suporte ao paciente durante o processo de tratamento do câncer(³⁹–⁴¹).

Um número razoável de estudos apresentou resultados relacionados à população idosa, com destaque para o uso de membranofones em instituição de longa permanência, por requerer menor demanda cognitiva, proporcionando melhora do humor e da qualidade de vida, viabilidade em imitar padrões de ritmo que gradualmente se tornavam mais complexos(¹⁸). Esses achados são validados por outros estudos que apresentaram resultados positivos na população idosa após as intervenções de musicoterapia(³⁸,⁴²–⁴⁵). Outro achado, inerente à população idosa, está relacionado às respostas vibráteis (quando o tambor foi posicionado no colo do participante e o mesmo sentia a vibração), que foram de maior duração que as respostas não-vibráteis (quando o tambor foi segurado por um musicoterapeuta, à frente do participante, fora do colo do paciente)(¹⁹).

Tocar tambor vai além de ouvir o som, pois é possível sentir o som por meio da vibração. Isso remete aos primeiros sons escutados e sentidos pelo bebê no útero da mãe, o batimento cardíaco(⁴⁶), um ISO Universal assim como os sons da inspiração e expiração, o sussurro da voz da mãe, o fluxo sanguíneo e muitos outros que surgem da natureza e do ser humano. O ISO Universal é uma estrutura dinâmica sonora, que caracteriza os seres humanos, independente dos seus contextos sociais, culturais, históricos e psicofisiológicos(⁴⁷). O ritmo é uma parte inata e natural dos indivíduos; a execução do ritmo instrumental vibrátil é uma experiência positiva, principalmente quando executada em grupo, melhorando a comunicação, promovendo o fazer musical comunitário(²³,⁴⁸).

Ao considerar o método de entrega da musicoterapia, a maior parte dos participantes recebeu musicoterapia ativa. A prática de percutir um membranofone dispensa conhecimentos de notação ou escrita musical, tornando sua utilização adequada para a prática em grupo, mesmo com grande heterogeneidade entre seus participantes, em relação ao nível de conhecimento ou envolvimento musical prévio(²⁹). A sessão conduzida por um facilitador habilitado permite a assimilação do conhecimento necessário para executar o instrumento de forma agradável e produtiva.

Com uma diversidade no peso, formato, tamanho, custo e matéria prima, os membranofones são práticos para o transporte, execução e aquisição. Quanto ao tipo de instrumento musical, o membranofone predominante nos estudos foi o djembê, um instrumento de percussão que não possui grandes dimensões, sendo possível encontrá-lo em vários tamanhos, de fácil transporte e aquisição considerando a variabilidade de preço e o acesso ao mesmo. Diferente de outros tambores comuns em um determinada localidade ou região, o djembê está presente em vários países(³²,⁴⁹–⁵¹).

As intervenções musicais com membranofones podem ser executadas individualmente ou em grupo. Em grupo, a intervenção é conhecida como “Roda de Tambor” (drum circle). A roda de tambor foi objeto de estudo em cinco artigos(¹⁷,²⁰,²³,²⁶,²⁹) citados nesta revisão. As rodas de tambor são uma prática antiga que faz parte dos rituais de cura de muitas culturas em todo o mundo desde a antiguidade e, na atualidade, estruturou-se como uma intervenção utilizada na área da saúde. Alguns protocolos foram estruturados para aplicação no âmbito da prática clínica(⁵²). O Health Rhythms é um protocolo utilizado nos estudos revistos que foi desenvolvido para ser aplicado em intervenções em grupo com instrumentos de percussão(⁵³).

Limitações do Estudo

Algumas limitações da amostra devem ser consideradas. A maioria dos estudos incluídos são quase-experimentais, ou seja, não houve randomização e muitos não incluíram grupo controle, o que fragiliza as conclusões dos mesmos. A descrição limitada das intervenções em alguns estudos, o tamanho das amostras e as limitações metodológicas de grande parte dos estudos incluídos trazem evidências fracas sobre as implicações para a prática do uso de membranofones na saúde do adulto. Apenas um estudo(²⁸) realizou o follow-up, onde os resultados da intervenção persistiram após três meses, o que evidencia a necessidade de mais estudos longitudinais e experimentais, randomizados e controlados, para a produção de melhores níveis de evidências. Com relação ao presente estudo, as fontes de literatura cinzenta foram pouco exploradas na busca (totalizando duas fontes), onde não foram identificados estudos que representassem o mapeamento objetivado. Outra limitação é a não realização da busca de artigos de interesse nas referências dos artigos selecionados para esta revisão.

CONCLUSÃO

A musicoterapia com membranofones mostrou resultados benéficos nos níveis de estresse, ansiedade, depressão, bem-estar mental, mudança no perfil pró-inflamatório para anti-inflamatório, maior bem-estar ao paciente com câncer. Identificou-se a sua utilização em vários ambientes, como hospitalar, ambulatorial ou instituições de longa permanência, nos mais diversificados contextos de saúde. Ademais, foi possível mapear a diversidade de tambores utilizados nas sessões: djembê, pandeiro, bumbo, tubano, surdo, frame drum, paddle drum, buffalo drum, hand drum e gathering drum.

Diferente de outros instrumentos musicais, grande parte dos membranofones não requer prática ou conhecimento prévio do executante, evidenciando tratar-se de um instrumento propício para atividades de musicoterapia em grupo e para a socialização. Essa acessibilidade está intimamente ligada à presença do facilitador, que aplica o protocolo e, quando necessário, modula e ajusta a intervenção, introduzindo variações graduais ou mudanças em resposta ao que foi expresso pelo sujeito. O papel de facilitador pode ser executado por diversos profissionais devidamente habilitados, como o enfermeiro, agente ativo do cuidado, que está presente nos diversos contextos de saúde.

Dados os benefícios e a viabilidade da musicoterapia ativa com membranofones em ambientes de assistência, com adultos, pessoas com câncer, idosos saudáveis ou com demência e/ou Doença de Parkinson, equipe multiprofissional, visitantes e familiares de pacientes, esta revisão apoia a realização de estudos futuros com metodologias robustas para a busca de evidências científicas na utilização de membranofones na prática terapêutica e nos cuidados de enfermagem.

Material Suplementar

O seguinte material online está disponível para o presente artigo:

Quadro 1 - Nome da base, estratégia de busca e quantidade de artigos recuperados. Brasil, 2022.

Quadro 2 - Qualidade do relatório de intervenção com base na Lista de Verificação para Relatar Intervenções Baseadas em Música. Brasil, 2023.

• Apoio financeiro

  Este trabalho foi apoiado em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) [bolsa número 001]. Bolsa Produtividade – CNPQ II

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Cristina Lavareda Baixinho

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  21 Jul 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  27 Jul 2022
• Aceito
  14 Abr 2023