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Editorial

EDITORIAL

Este número da Revista Estudos Feministas encerra para nós dois períodos: os números do volume 13, de 2005, e também o nosso trabalho à frente da coordenação editorial da Revista. A partir do volume 14, teremos novas coordenadoras: Cristina Scheibe Wolff, Simone Pereira Schmidt e Sonia Weidner Maluf.

Nestes dois anos em que coordenamos a Revista,1 aprendemos muito e contamos todo o tempo com a colaboração, a solidariedade e o apoio das colegas que conosco compunham a Editoria da Revista. Cheias de entusiasmo, em pouco tempo nos demos conta de que a perfeição é um alvo ainda inalcançável. A cada novo número que publicávamos, ficávamos aflitas para ver qual era o erro, o engano, a falha que, apesar de nossos esforços, tinha escapado à nossa vigilância.

Enfrentamos, não sem temor, o desafio de fazer três números da Revista por ano, em vez dos dois que vinham sendo feitos até então. Nossa primeira dificuldade foi financeira: como arcar com três números se a elaboração de apenas dois já era tão difícil. Agora, ao findar nosso período à frente da coordenação, vemos que foi uma decisão acertada. Apesar das dificuldades iniciais, optar por fazer três números por ano nos colocou num outro patamar diante das publicações de prestígio na área.

Com relação à avaliação oficial externa, ou seja, o Qualis da Capes, mantivemos um nível bastante alto: A Internacional em Antropologia, Arqueologia, Psicologia, História e, agora, também em Educação. Fomos avaliadas com A Nacional em Sociologia, Enfermagem, Serviço Social, Economia Doméstica, Filosofia, Teologia e Multidisciplinar. Mantivemos um B Nacional apenas em Letras e Lingüística, avaliação que pretendemos que melhore para o futuro.

Entendemos que essas avaliações são a confirmação de que na academia uma Revista de Estudos Feministas tem um espaço legitimado. Esse espaço, sabemos, foi conquistado com a luta das várias pessoas que nos precederam e que têm levado adiante uma proposta que começou em 1992, no Rio de Janeiro, com a criação da REF.

Queremos ainda informar que em 20 de dezembro último foi aprovada no Conselho de Unidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal de Santa Catarina, a nossa proposta de criação de um Instituto de Estudos de Gênero. Este instituto terá caráter interdisciplinar e congregará as atividades da Revista Estudos Feministas e do evento Fazendo Gênero, realizado a cada dois anos na UFSC. Pretende, ainda, promover a pesquisa e a divulgação do conhecimento interdisciplinar sobre questões de gênero e feminismo.

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Neste número, com o qual encerramos o ano de 2005, abrimos a seção de artigos com uma discussão teórica, trazida por Silvana Aparecida Mariano, na qual a autora aborda as críticas das teorias feministas pós-estruturalistas às teorizações do sujeito universal, rejeitando as noções de identidades essenciais de gênero. O artigo retoma, através do trabalho de importantes teóricas, uma questão de vital importância para o debate feminista, ou seja, a re-construção do sujeito do feminismo diante da desconstrução do pensamento binário.

O tema da violência em relação às mulheres no México, que já fora alvo de discussão no número anterior, retorna, desta vez, em artigo de Arun Kumar Acharya e Adriana Salas Stevanato. Argumentando que a violência de gênero causa mais mortes que as enfermidades e os acidentes de trânsito e mostrando a persistência desse problema na sociedade mexicana, apresentam e discutem o tráfico de mulheres como uma das formas mais primitivas de exploração sexual e violência contra as mulheres.

Ainda dentro da temática da exploração sexual e prostituição, Katia Guimarães e Edgar Merchán-Hamann discutem, a partir de entrevistas realizadas com mulheres profissionais do sexo, a re-significação de representações, visando à realização de fantasias eróticas. Nesse texto, a violência, o risco de contágio de DST e HIV e o estigma são relacionados com as questões da escolaridade e da classe social.

A análise da produção da poetisa paulista Maria Lúcia Dal Farra é o tema de artigo assinado por Teresa Cabañas. A autora mostra como aquilo que foi definido como uma escrita feminina específica, e que num dado momento histórico precisou fazer alarde da diferença para conquistar um espaço, ganha no percurso da obra da poetisa uma outra configuração, apontando para a posse de um intelecto estético que a cultura androcêntrica tem considerado como exclusiva do uso masculino.

Novamente a discussão da violência retorna no artigo de Stela Nazareth Meneghel, Olga Farina e Silvia Regina Ramão. Nesse artigo as autoras fazem o relato de uma oficina de narrativas históricas que tematiza as orixás africanas e visa ao empoderamento de mulheres.

Ainda, neste número da Revista estamos publicando artigos temáticos aglomerados sob o título "Escrevendo a história no feminino", em que Cristina Scheibe Wolff e Lidia M. Vianna Possas reuniram quatro textos, que visitam e revisitam fontes históricas com o olhar armado pela perspectiva do gênero. A presença de uma seção temática com artigos oriundos do campo da história amplia os horizontes da Revista, uma vez que essa disciplina não tem sido a mais freqüente no espectro temático publicado.

Outra importante novidade neste número é a publicação de nossa primeira Seção Debates. Instituída recentemente, essa seção visa a retomar importantes textos fundantes de questões e temáticas feministas, trazendo-os para o debate acadêmico. O texto selecionado para esse primeiro "debate" é "La conciencia de la mestiza: rumo a uma nova consciência", de Gloria Anzaldúa. Claudia de Lima Costa e Eliana Ávila, além de apresentar e discutir o texto, convidaram Sonia Torres e Sandra Azeredo para contribuírem com o debate.

Na Seção Ensaios, Maria de Lourdes Borges retoma escritos de Kant e de outros autores que afirmam a inteligência como um atributo masculino e a beleza como exigência para o feminino, mostrando como esse tema é constantemente retomado, continuando a despertar interesse mesmo nos dias atuais.

Na Seção Ponto de Vista, apresentamos uma entrevista com Michelle Ferrand, economista, socióloga e pesquisadora do CNRS França, realizada em Florianópolis, quando de sua estada na UFSC para participar de evento acadêmico no Programa de Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas. Na entrevista, realizada por Carmen Rial, Mara Lago e Miriam Grossi, Michelle Ferrand faz um relato do percurso, na França, das discussões que reivindicavam a legitimidade, para a pesquisa, da categoria "mulheres" e, depois, do conceito de "relações sociais de sexo". A entrevista mostra também a resistência à categoria "gênero" e a sua adoção. Michelle Ferrand narra sua própria trajetória na direção do feminismo e mostra como ainda hoje, na França, é forte a clivagem entre o feminismo que se faz dentro e o que se faz fora da Academia.

Por meio das Resenhas, divulgamos as publicações recentes, no Brasil e no exterior, de autoras reconhecidas internacionalmente no campo do feminismo e das relações de gênero. Os assuntos abordados são literatura, feminismo, história e movimento de mulheres.

Para concluir, queremos agradecer a todas as pessoas que nos enviaram artigos, às/aos pareceristas que contribuíram com suas avaliações para a qualidade do que publicamos, às colegas das diversas editorias da Revista. Além disso, queremos agradecer às pessoas e instituições que garantem a continuidade da Revista, permitindo-lhe sustentação financeira, ou seja, ao CNPq, à Fundação Ford, através do Institute of International Education, à Secretaria Especial de Políticas para Mulheres e, evidentemente, às/aos nossas/os assinantes.

Joana Maria Pedro

Susana Bornéo Funck

Coordenação Editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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