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Psicologia: profissão feminina? A visão dos estudantes de Psicologia

Psychology: Female Profession? The vision of Psychology's Students

Resumo:

Este artigo apresenta resultados da pesquisa que problematizou a noção de profissão ‘feminina’ presente na psicologia, conceituação que é assentada no quantitativo majoritário de mulheres no exercício dessa profissão. Buscamos compreender os sentidos que são associados aos(às) profissionais da psicologia e ao ‘feminino’ a partir da Teoria das Representações Sociais, objetivando, ainda, mapear os preconceitos que cercam essa profissão. Apresentaremos, aqui, um dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, a roda de conversa, cujos(as) participantes foram estudantes do penúltimo ano do curso de Psicologia de uma universidade pública do estado de Pernambuco. Através da análise de enunciação, interpretamos que a profissão foi associada ao cuidado, típica função atribuída ao feminino, porém, isso também foi questionado pelos(as) participantes, que demonstraram criticidade na reflexão sobre o tema, o que expressa os tensionamentos e as perspectivas de mudanças envolvidas na formação inicial das novas gerações de psicólogos(as).

Palavras-chave:
Psicologia; Profissão; Gênero

Abstract:

This article presents results of research that problematized the notion of profession ‘feminine’, present in psychology, based in the quantitative majority of women in professional practice. We seek to understand the meanings associated with the professional of psychology and the ‘feminine’, from the social representations theory, aiming to understand the preconceptions related to gender in the profession. One of the methodological procedures adopted was the conversation circle and the participants were students of the penultimate year of psychology, of a public university of Pernambuco. Through the enunciation analysis, we interpret that the profession was associated in care, typical role assigned to women, however, this association was also questioned. The participants already show critical reflection about the theme expressing tensions and prospects for change involved in the initial formation of new generations of psychologists.

Key words:
Psychology; Profession; Gender

Introdução

As ideias que associam às profissões rótulos de que sejam tipicamente ‘femininas’ e/ou ‘masculinas’ são bastante difundidas no conhecimento do senso comum e tais sentidos, quando compartilhados nos processos comunicativos, provocam impactos nas práticas sociais as quais produzem dicotomia, no mundo profissional, a partir do gênero. Apresentaremos, nesse artigo, um recorte de pesquisa desenvolvida no mestrado em Psicologia, na qual intencionávamos compreender como os(as) estudantes do curso de Psicologia entendiam a produção da noção de que a Psicologia é uma profissão ‘feminina’.

Naquele estudo, focamos as representações sociais de gênero na profissão de Psicologia e vimos como os sentidos compartilhados em relação a determinado objeto se entrelaçam a outros, como um sistema representacional, e, no caso da profissão, também foram envolvidos outros objetos sociais, tais como a sexualidade, o sexo, o corpo, que foram tematizados pelos(as) participantes como integrantes da questão de gênero.

No tocante à tematização sobre gênero e profissões, em conversas cotidianas, observamos o mundo profissional ser dividido, a partir da ótica de gênero, em profissões ‘femininas’ e ‘masculinas’, causando estranhamento quando alguém opta por uma profissão que difere daquela atribuída culturalmente ao sexo biológico.

Nas análises da pesquisa matriz, em alguns momentos, foi difícil classificar de forma separada quais seriam as representações de gênero, de sexo, de sexualidade e/ou de corpo, visto que essas emergiram como amálgama, o que nos sugeriu a ideia de tentar compreender e trabalhá-las como se fossem um sistema. Nikos KALAMPALIKIS (2012KALAMPALIKIS, Nikos. “Das representações sociais: ancoragens, terrenos e tensões”. Educação & Linguagem, v. 15, n. 25, p. 245-251, jan./jun. 2012. ) afirma que a complexidade de objetos sociais faz intervir um sistema inteiro de representações em que os contornos são, por um lado, frágeis e, por outro, coloridos por tomadas de posição conflituosas no espaço público. Na teorização feminista/gênero, cada um desses elementos, referidos anteriormente, apresenta definições conceituais específicas, todavia, sofrem supressões e distorções no senso comum.

No que concerne à visão da Psicologia como uma profissão ‘feminina’, sabemos que, na sociedade brasileira, determinadas profissões foram construídas culturalmente ligadas ao cuidado, a exemplo da enfermagem, serviço social e psicologia, como se tal procedimento e assistência fossem atribuição e função típica e exclusiva das mulheres. Guacira LOURO (2003LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós- estruturalista. 6.ed. Petrópolis: Vozes, 2003.) destaca que, no campo da educação, também se faz presente essa associação, pois a entrada das mulheres no mundo do trabalho formal ocorreu no exercício do magistério, profissão que foi relacionada ao cuidado e à maternagem de crianças com o trabalho feminino ‘autorizado’, com uma concessão patriarcal, já que era visto como uma extensão da vida privada do lar.

Na revisão da literatura da área encontramos que ainda são escassos os estudos que se debruçaram sobre a noção de profissão ‘feminina’ na Psicologia. Num dos trabalhos encontrados, Antonio Virgílio Bittencourt BASTOS et al. (2010BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt et al. O trabalho do psicólogo no Brasil. São Paulo: Artmed, 2010.) destacam que “o reconhecimento da Psicologia como profissão feminina aparece desde os primeiros estudos sobre a profissão, no clássico trabalho sobre o psicólogo paulista” (p. 39) conduzido por Sylvia Leser de Mello, em 1975. Mais tarde, no livro Quem é o psicólogo brasileiro?, organizado pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP, em 1988, bem como na pesquisa do grupo de trabalho de Psicologia organizacional e do trabalho, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP, cujos resultados foram publicados em 2010, a Psicologia também é compreendida nesses estudos como uma profissão feminina.

A escassa tematização dessa questão levou o Conselho Federal de Psicologia (2012) a desenvolver uma pesquisa1 1 Essa pesquisa resultou em várias publicações: Quem é a psicóloga brasileira? organizada por Louise LHULLIER (2013a) e Psicologia: uma profissão de muitas e diferentes mulheres, organizada por Louise LHULLIER (2013b). intitulada: Profissão e Gênero no exercício da Psicologia no Brasil, na qual foram entrevistados(as) mil e quinhentos profissionais de todo o país. Segundo esse estudo, 89% das pessoas que exercem a Psicologia no Brasil são mulheres.

O recorte que apresentaremos a seguir trata de parte de resultados de uma pesquisa de cunho psicossocial e optamos por trabalhar com a noção de gênero na profissão de Psicologia, pois essa tematização extrapola a ideia de mulheres, focalizando a análise no nível das relações que envolvem homens, mulheres e diferentes formas de subjetivação. Entretanto, cabe situar ao leitor que, em alguns momentos, na construção dos dados, também utilizamos a expressão ‘profissão feminina’, repertório linguístico adotado como forma de questionar os(as) participantes acerca das lógicas que dividem as profissões, a partir do viés de gênero.

É oportuno, ainda, referir que um bom exemplo para pensarmos a profissão de Psicologia para além do quantitativo majoritário de mulheres é oferecido por Ana Elisa CASTRO e Oswaldo YAMAMOTO (2000CASTRO, Ana Elisa; YAMAMOTO, Oswaldo. “A psicologia como profissão feminina: apontamentos para estudo”. Estudos de Psicologia, v. 3, n. 1, p. 147-158, jan./jun. 2000. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n1/a11v03n1.pdf . Acesso em: 15/07/2011.
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), que nos alertam para os riscos do papel desmesurado que se pode dar à variável gênero na profissão. Neste estudo, os autores questionam se algumas das características do exercício profissional e que são consideradas desfavoráveis, a exemplo da baixa remuneração, seriam decorrentes, prioritariamente, da presença majoritária de mulheres ou da própria profissão, considerando que as práticas psi têm sido alvos de críticas ao longo de sua construção no Brasil. A este respeito, Ana BOCK (1999BOCK, Ana. “A psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social”. Estudos de Psicologia, Natal, v. 4, n. 2, p. 315-329, 1999.) nos mostra que uma das principais críticas feitas à Psicologia é que, até meados dos anos 1980, apenas uma pequena parcela da população brasileira, os que possuíam mais recursos, conseguia acessar o atendimento psicológico, porém, atualmente, isso tem mudado. Impulsionado pelo debate do compromisso social da Psicologia, tem-se a inserção dos profissionais psi, notadamente, no âmbito das políticas públicas de saúde e assistência social.

Apontamos, inicialmente, que, na discussão dos resultados, a ambiguidade de sentidos foi marcante, em vários momentos, pois percebemos o tensionamento oriundo da complexidade da discussão acerca da questão de gênero, posto que seu universo é multifacetado e polêmico, e os(as) participantes expressaram as contradições entre o pensado e o vivido. Neste processo, ficou difícil precisar, na análise, se os(as) participantes estavam reproduzindo ou desconstruindo determinados estereótipos de gênero relacionados à profissão de Psicologia e a outras profissões, o que gerou outras inquietações e questionamentos que foram provocativos de vários outros objetos de investigação.

Apresentaremos, a seguir, o debate conceitual sobre gênero e representações sociais; posteriormente, o percurso metodológico e a análise dos dados relativa a uma das etapas da roda de conversa, o desenho de figuras representativas da profissão de Psicologia, e que gerou a discussão acerca do gênero na profissão.

Gênero e a profissão de Psicologia

A construção sócio-histórico-cultural da profissão de psicólogos(as) no Brasil, como as demais profissões, é bastante marcada pela dimensão gênero. Marcelo MIRANDA (2011MIRANDA, Marcelo. Magistério masculino: (re)despertar tardio da docência. Recife: EDUFPE, 2011.) afirma que Freidson, atentando para este aspecto, compreende que “as profissões devem ser estudadas em um contexto histórico e apreendidas a partir de uma visão relacional do processo histórico ocorrido em cada país” (p. 18). Para Eliot FREIDSON (1998FREIDSON, Eliot. Renascimento do profissionalismo: teoria, profecia e política. São Paulo: EDUSP, 1998.),

não se tenta determinar o que é uma profissão num sentido absoluto mas, sim, como as pessoas de uma sociedade determinam quem é profissional e quem não o é, como eles ‘fazem’ ou constroem profissões por meio de suas atividades e quais são as consequências da maneira como eles se veem e realizam seu trabalho (p. 55).

É nesta perspectiva de contextualização e de construção relacional que abordaremos a discussão teórica sobre gênero empreendida nessa sessão. Entendemos que o gênero não se reduz à ideia de ‘mulheres’, pois contempla diferentes singularidades. Marta Giudice NARVAZ (2010NARVAZ, Martha Giudice. “Gênero: para além da diferença sexual - Revisão da literatura”. Aletheia, n. 32, p. 174-182, mai./ago. 2010.) afirma que:

Compreender a complexidade da categoria analítica gênero é fundamental à compreensão dos processos de produção das subjetividades, que não podem ser reduzidas a identidades sexuadas estabilizadas no que se convencionou chamar homens e mulheres, masculino e feminino. As subjetividades são complexas, singulares, heterogêneas e se constituem a partir de diversas marcações da diferença que excedem à diferença sexual. Há, portanto, que se desnaturalizar e problematizar tais categorias, o que não implica negar a existência de homens e de mulheres enquanto sujeitos empíricos concretos (p. 180-181).

Com este referencial como pano de fundo, Silvia Marques Dantas de OLIVEIRA (2009OLIVEIRA, Silvia Marques Dantas de. Gênero, questão e serviço social: um olhar feminista. 2009. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife.) assinala que o termo gênero começou a ser adotado na década de 1970, pelas feministas, mas foi a antropóloga Gayle Rubin quem primeiro sistematizou o conceito que tem sido analisado por várias seguidoras e cada uma identifica diferentes motivos para seu aparecimento. A autora aponta, ainda, que, em relação à conceituação do gênero, há desacordos no interior das bases, sendo esse abordado de diferentes modos e em diversos campos de saber, a exemplo da Sociologia, Antropologia, Psicologia e Demografia, embora, nesta última, o conceito é equivalente à definição atribuída ao sexo do(a) informante.

Em uma definição conceitual, nos apoiamos em Joan SCOTT (1990SCOTT, Joan. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, jul./dez. 1990.), que pensa o gênero como uma categoria de análise que possibilita compreender a construção inteiramente social da diferença sexual. Essa autora tece um amplo debate sobre a temática da igualdade versus diferença. Scott (1999a______. “Igualdade versus diferença: os usos da teoria pós-estruturalista”. Debate feminista. Cidadania e feminismo. São Paulo: Melhoramentos, 1999a. p. 203-222. (Cidadania e Feminismo)) aprofunda esta concepção quando pontua:

Assume-se que tudo em cada categoria mulher/homem é a mesma coisa (é igual); portanto, se suprimem as diferenças dentro de cada categoria. Pelo contrário, nosso objetivo não é só ver as diferenças entre os sexos, como também as formas em que estas funcionam para reprimir as diferenças no interior de cada grupo e gênero. A igualdade construída a cada lado da oposição binária oculta o múltiplo jogo das diferenças e mantém sua irrelevância e sua invisibilidade (p. 219-220).

Para Conceição NOGUEIRA (2001NOGUEIRA, Conceição. Um novo olhar sobre as relações sociais de gênero: feminismo e perspectiva crítica na psicologia social. Lisboa: Fundação Gulbenkian, 2001. p. 131-169.), esse debate acerca da igualdade/diferença aqui discutido é complexo tanto do ponto de vista teórico, quanto das estratégias práticas relacionadas, por exemplo, aos movimentos sociais que lutam pelos direitos das mulheres. Com relação à ação política desenvolvida, denota-se que a oscilação entre um feminismo de diferença e um de igualdade configura uma arena de disputa e um desacordo em torno da ideia de qual conceito é mais emancipatório e capaz de mudar as condições de subordinação das mulheres que, de modo recorrente, se manifestam em vários contextos.

É oportuno situar, ainda, que esse embate esteve presente desde os primeiros momentos do feminismo no Brasil, o que, certamente, construiu sentidos coletivos para determinados grupos pensarem o gênero, bem como influiu nas teorias de senso comum compartilhadas por grupos diversos, como abordaremos a partir desse ponto.

As representações sociais como esteio da noção de profissão ‘feminina’ na Psicologia

Ao longo da construção da pesquisa, compreendemos que a ideia de profissão ‘feminina’ é formada por representações sociais relacionadas, principalmente, a objetos sociais como o gênero, a sexualidade, o sexo e o corpo que, ao serem associados à tematização de gênero, produzem um sistema representacional. João WACHELQUE e Alberta CONTARELLO (2011WACHELQUE, João; CONTARELLO, Alberta. “Italian students’ social representation on aging: an exploratory study of a representational system”. Psicologia Reflexão e Crítica, v. 24, n. 3, p. 551-560, 2011.) referem que um sistema de representações sociais articula diferentes objetos sociais de sentido polêmico e polissêmico.

Para a compreensão teórica, situamos que o conceito de representações sociais é um dos campos de estudo da Psicologia social e, no que diz respeito ao gênero, muitas representações sociais são construídas no nosso cotidiano, principalmente, relacionadas a ideias estereotipadas que orientam condutas acerca do que seria próprio ao ‘masculino’ e ao ‘feminino’.

Zeidi Araújo TRINDADE, Maria de Fatima de Souza SANTOS, Angela Maria de Oliveira ALMEIDA (2011TRINDADE, Zeidi Araújo; SANTOS, Maria de Fatima de Souza; ALMEIDA, Angela Maria de Oliveira. “Ancoragem: notas sobre consensos e dissensos”. In: ______ (Orgs.). Teoria das representações sociais: 50 anos. Brasília: Technopolitik, 2011. p. 101-121.) afirmam que as representações sociais são

entendidas como uma forma de conhecimento de senso comum socialmente partilhado, tem, em seu bojo, a ideia de um conhecimento construído por um sujeito ativo em íntima interação com um objeto culturalmente construído, que revela as marcas tanto do sujeito como do objeto, ambos inscritos social e historicamente (p. 102).

Assim, entendemos que tanto o gênero quanto as representações sociais são construções histórico-culturais. Angela ARRUDA (2000ARRUDA, Angela. “Feminismo, gênero e representações sociais”. Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UnB, v. 8, n. 1-2, p. 113-138, 2000.) assinala que a Teoria das Representações Sociais foi criada por Serge MOSCOVICI (2012______. A psicanálise, sua imagem e seu público. Petrópolis: Vozes, 2012. [1961]), na década de 1960, num período de crise da Psicologia social, afastando-se da exclusividade do imperativo experimental, característico do behaviorismo. Seu estudo, pautado na construção das referências de grupos, dependia dos contextos em que essas ocorriam, e, do mesmo modo, da interpretação do pesquisador, fugindo aos cânones da ciência psicológica ‘normal’ daquele momento histórico. A referida autora afirma que, na Europa, a crise da Psicologia social tomou “a forma de uma afirmação das características do pensamento europeu e das necessidades da sociedade, acatando as críticas a uma Psicologia social fechada na sua torre de marfim” (p. 114).

Segundo Augusto PALMONARI e Javier CERRATO (2011PALMONARI, Augusto; CERRATO, Javier. “Representações sociais e psicologia social”. In: ALMEIDA, Angela Maria de Oliveira; SANTOS, Maria de Fátima de Souza; TRINDADE, Zeidi Araújo (Orgs.). Teoria das representações sociais: 50 anos. Brasília: Technopolitik, 2011. p. 305-334.), uma das principais críticas, naquele momento, era que a Psicologia social estava mais focalizada em desenvolver estudos de forma minuciosa para serem publicados em periódicos, do que em fornecer elementos para ajudar na resolução de problemas sociais. Em meio a essa crise, Moscovici surge com a Teoria das Representações Sociais - TRS, propondo uma psicossociologia do conhecimento do senso comum, com forte apoio sociológico, mas sem desprezar os processos subjetivos e cognitivos, visando superar a dicotomia entre o psicológico e o social, sujeito e objeto.

A superação das dicotomias também é alvo da teorização feminista/gênero. Para Arruda (2000ARRUDA, Angela. “Feminismo, gênero e representações sociais”. Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UnB, v. 8, n. 1-2, p. 113-138, 2000.), a Teoria das Representações Sociais possibilita entender como se dá a compreensão/construção do mundo pelos sujeitos, partindo da indissociabilidade entre pensamento-ação. A este respeito, Serge Moscovici (2012______. A psicanálise, sua imagem e seu público. Petrópolis: Vozes, 2012. [1961]) refere que “representar uma coisa, um estado, não é só desdobrá-lo, repeti-lo ou reproduzi-lo, é reconstituí-lo, retocá-lo, modificar-lhe o texto” (p. 54). Sendo assim, o sujeito é ativo na construção do conhecimento, pois o reelabora constantemente na interação com o objeto em questão.

Alguns dos principais conceitos presentes na Teoria das Representações Sociais são objetivação e ancoragem. O primeiro, de acordo com Maria de Fátima Sousa Santos (2005SANTOS, Maria de Fátima de Souza. “A teoria das representações sociais”. In: SANTOS, Maria de Fátima de Souza; ALMEIDA, Leda Maria (Orgs.). Diálogos com a teoria das representações sociais. Recife: EDUFPE; EDUFAL, 2005. p. 15-38.), “transforma um conceito em uma imagem ou em núcleo figurativo” (p. 31), e, para Arruda (2002______. “Teoria das representações sociais e teorias de gênero”. Cadernos de Pesquisa, n. 117, p. 127-147, nov. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15555.pdf. Acesso em: 20/07/2011.
http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15555.p...
), a objetivação “esclarece como se estrutura o conhecimento do objeto” (p. 136). Com relação à ancoragem, ainda de acordo com a segunda autora, trata-se da maneira pela qual o conhecimento se enraíza no social e volta a ele, integrando-se à leitura do mundo do sujeito, instrumentalizando o novo objeto. Esses elementos teóricos foram fundamentais na análise dos dados da pesquisa, embora ainda não se possa afirmar, com os resultados, que chegamos a universos consensuados, dada a pequena representatividade no quantitativo dos participantes, porém, nos sugerem anúncios dessa construção, que, a seguir, será descrita desde o seu percurso.

Metodologia

Os(as) participantes da pesquisa foram dezoito estudantes de Psicologia do primeiro e do penúltimo ano do curso de uma universidade pública do estado de Pernambuco. A escolha por esse público teve como justificativa levantar dados referentes a diferentes momentos de inserção no curso: no início, momento em que há o contato inicial com questões relacionadas à profissão, e nos períodos próximos ao seu término, considerando que, neste momento, eles(as) já dispunham de diversas informações e conteúdos pertinentes à profissão. Neste artigo, optamos por trazer os resultados construídos a partir dos dados produzidos com os(as) sete estudantes do penúltimo ano, em face do grande quantitativo de material que gerou várias possibilidades de análise.

A princípio, informamos que houve, de modo geral, disponibilidade dos estudantes para participar da pesquisa, porém, também ocorreram algumas dificuldades quando na entrada no campo relacionadas, sobretudo, à conciliação do horário dos(as) participantes, tanto em face das múltiplas atividades em que se envolvem, quanto pela situação de aluno-trabalhador - aquele(a) que estuda e trabalha em outra atividade de forma concomitante.

Um dos recursos metodológicos adotados na pesquisa e que será apresentado foi a roda de conversa. Discorrendo sobre rodas de conversa, Ricardo Pimentel MÉLLO et al. (2007MÉLLO, Ricardo Pimentel et al. “Construcionismo, práticas discursivas e possibilidades de pesquisa em psicologia social”. Psicologia e Sociedade, v. 19, n. 3, p. 26-32, set./dez. 2007.) esclarecem que:

A roda de conversa é um recurso que possibilita um maior intercâmbio de informações, possibilitando fluidez de discursos e negociações diversas entre pesquisadores e participantes. Inicia-se com a exposição de um tema pelo pesquisador a um grupo (selecionado de acordo com os objetivos da pesquisa) e, a partir disso, as pessoas apresentam suas elaborações sobre ele, sendo que cada uma instiga outra a falar, argumentando e contra-argumentando entre si, posicionando-se e ouvindo o posicionamento do outro (p. 30).

Optamos trabalhar com a roda de conversa por entender que o clima espontâneo e coletivo poderia possibilitar a expressão mais próxima da realidade vivida e, assim, nos permitiria identificar os consensos e dissensos relativos à temática em questão. A roda de conversa ocorreu em agosto de 2013, em uma sala de aula da universidade. Teve a duração de aproximadamente uma hora e meia e toda a atividade foi vídeo e áudio gravada. Os(as) estudantes escolheram, cada um(a), um codinome para ser identificado, e, na conversa proposta, discorreram informalmente sobre a temática, com o cuidado de que anunciassem seu codinome ou nome fictício antes de fazer uso da palavra. Após a transcrição literal de todas as falas e registro de expressões corporais, foi realizada a análise dos dados.

Este procedimento da roda de conversa foi subdividido em três momentos. Neste artigo, apresentaremos o segundo momento, no qual foram produzidos desenhos sobre a profissão em cartazes. No primeiro momento, a questão introdutória da discussão foi: vocês sabiam que 89% das pessoas que exercem a Psicologia no Brasil são mulheres? (CFP, 2012).

No segundo momento, após os esclarecimentos de como a pesquisa foi construída respondendo aos interesses que foram levantados por eles(as), os(as) participantes foram convidados a se reunirem espontaneamente em subgrupos. Como tarefa, foi proposto que cada grupo procurasse expressar, através de desenhos em cartazes, uma síntese do que foi discutido no primeiro momento. Na instrução, foi explicado que deveriam criar, através de um desenho, uma figura ou forma ou expressão que pudesse expressar ‘a dimensão de gênero na profissão de Psicologia’.

Na produção dos desenhos, tivemos sete participantes do penúltimo ano do curso de Psicologia, dos quais quatro se nomearam do sexo masculino e três do sexo feminino e estiveram presentes nos três momentos da roda de conversa.

Por fim, no terceiro momento, eles(as) escreveram, individualmente, a respeito de como foi a experiência de escutar os(as) outras(as) participantes falarem sobre o tema em questão, considerando as possíveis reverberações que a fala do(a) outro(a) pode ter propiciado em suas referências.

No que se refere à análise dos dados, realizamos a transcrição e interpretação das falas produzidas pelos(as) participantes, durante o processo de produção do desenho no cartaz, por meio da análise de enunciação, que é uma das técnicas associadas à análise de conteúdo. Para Laurence BARDIN (2004BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3.ed. Lisboa: Edições 70, 2004.),

a produção da fala é um processo. A análise de enunciação considera que na altura da produção da fala é feito um trabalho, é elaborado um sentido e são operadas transformações. O discurso não é transposição transparente de opiniões, de atitudes e representações que existam de modo cabal antes da passagem à forma linguageira. O discurso não é um produto acabado mas um momento num processo de elaboração, com tudo o que isso comporta de contradições, de incoerências, de imperfeições (p. 164).

Segundo a referida autora, a análise da enunciação tem duas grandes características “que a diferenciam de outras técnicas de análise de conteúdo. Apoia-se numa visão de comunicação como processo e não como dado e funciona desviando-se das estruturas e dos elementos formais” (p. 163).

Essa autora esclarece, ainda, que a análise de enunciação ocorre a partir de uma análise temática anterior, considerada transversal, e cada um dos temas corresponde a um determinado eixo de sentido. Os temas elencados nos subitens a seguir consistem nos resultados relativos aos eixos de sentidos que conseguimos interpretar.

Resultados e discussão

Situando o(a) leitor(a) em relação ao perfil dos participantes, tivemos a faixa etária de 21 a 27 anos. Desses, quatro eram do sexo masculino e três do sexo feminino. A maioria dos(as) estudantes informou que já havia tido contato com as discussões sobre gênero no curso de Psicologia e em outros espaços, a exemplo das redes sociais, bem como afirmaram, também, que haviam participado de atividades acadêmicas complementares de monitoria, iniciação científica e extensão. O fato de já terem discussões anteriores sobre gênero deve ser considerado como um vetor de relevância e conhecimento prévio na análise que apresentaremos a seguir.

O hibridismo no desenho da profissão de Psicologia sugere novas construções de gênero?

Após a leitura do material produzido no segundo momento, conseguimos elencar, via análise de enunciação, alguns temas que emergiram durante a construção do desenho, os quais correspondem às palavras-chave das subseções. Como ponto de partida da atividade proposta para este momento, os(as) participantes conversaram entre si sobre o que iriam desenhar. Os argumentos apresentados pelos(as) participantes para proceder à escolha foram pautados na referência ao ‘masculino’ e ao ‘feminino’, porém, tais construtos não se expressavam de modo claro. Havia, no conjunto das falas, aspectos referenciados às tipificações do masculino e do feminino, embora as quisessem usar como uma bricolagem, o que nos sugeriu a solução do desenho simplificado no modo híbrido, como se apreende do seguinte trecho:

Coisão - Tem que ser uma mulher barbuda.

Heloiza - Ahnnnn. Não, num tem que ser uma mulher, não.

Cibelly - Bota uma mulher com charuto!

Neste excerto das falas, vemos que os(as) estudantes iniciaram a discussão sobre o que desenhar e quiseram indicar a ruptura com a dicotomia construída socialmente em torno do feminino e do masculino. A proposta do grupo, então, foi de um desenho que pudesse expressar essa cisão, todavia, esse hibridismo revelou as tipificações clássicas do que é próprio do masculino e/ou do feminino. Na discussão, argumentavam na direção de que encontrassem uma figura que fosse representativa dessa ruptura monista, ou seja, expressaram dúvida na escolha do desenho híbrido em relação ao gênero, e concluíram com a figura de ‘uma mulher com barba’ e/ou ‘uma mulher com charuto’.

Após alguns momentos de discussão, decidiram que fariam a imagem de Freud e tal escolha gerou um tensionamento em torno de qual identidade de gênero/sexual teria a figura a ser desenhada:

Heloiza - Não era hermafrodita?

Ulisses - As duas.

Nemo - Herma-frodita.

Cláudia - Hermafrodita?

Ulisses - É, Hermafreudita.

(Risos do grupo)

Heloiza - Ahhh, que trocadilho!

Cláudia - Não. É ruim, mas quando você fala, fica legal.

Freudita - Não fica não.

Heloiza - Vai ser mulher, não vai ser hermafrodita.

Nesse trecho de falas do grupo, os(as) participantes indagaram se a pessoa desenhada seria mulher, hermafrodita, ou os dois, referindo-se às características tanto masculinas quanto femininas. Por sua vez, o trocadilho que fizeram entre as palavras ‘Freud e hermafrodita’, e que resultou na palavra hermafreudita, revela de modo simbólico o sentido ampliado e polissêmico da palavra que é produtora dos sentidos do hibridismo que nos sugerem que pensam em relação ao gênero na profissão.

A menção à figura do hermafrodita levou-nos a buscar compreender esse simbolismo não apenas semântico que tinha sido evocado e encontramos a fundamentação em Jorge LEITE JR. (2009LEITE JR., Jorge. “Que nunca chegue o dia que irá nos separar”: notas sobre epistémê arcaica, hermafroditas, andróginos, mutilados e suas (des)continuidades modernas”. Cadernos Pagu, n. 33, p. 285-312, jul./dez. 2009. ) quando assinala que o hermafrodita, antigamente, era associado ao mundo mágico e religioso, sendo fonte de medo e curiosidade, fascínio e desejo, pois a ideia de um ser, ao mesmo tempo macho e fêmea, questiona os limites dos padrões culturais sobre o que é ser homem ou ser mulher. Ou seja, a pessoa hermafrodita é dotada dos dois sexos em seu corpo e, no que diz respeito à experiência da sexualidade, pode ter práticas afetivo-sexuais com pessoas de ambos os sexos.

Nesse cenário, compreendemos que os sentidos mobilizados pela figura do hermafrodita que foi desenhada imbricam, entre si, tematizações relativas ao gênero, sexualidade, sexo e corpo. Ou seja, para aceitarem a saída do binarismo sexual predominante na cultura, os(as) jovens concluintes do curso de Psicologia se remeteram à base biológica que, em tese, seria justificadora das características ambíguas que desenharam.

A objetivação da temática da pesquisa, a partir do hermafroditismo, lembra a discussão de Fabio LORENZI-CIOLDI (1993LORENZI-CIOLDI, Fabio. “Après les Genres: L’androgynie”. Revista de Psicologia Social, Espanha, v. 8, p. 153-162, 1993.) sobre a androginia. Para ele, as concepções de andrógeno são plurais - para alguns, esses são duplos, machos e fêmeas; para outros(as), nem machos nem fêmeas, sendo assexuados.

Na discussão contemporânea sobre a sexualidade, Michel FOUCAULT (1994FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Lisboa: Antropos, 1994.) nos mostra que a construção moderna da pessoa dependeu da emergência da sexualidade como nova instância de verdade do sujeito, de forma nevrálgica e delicada, conforme aponta Luiz Fernando Dias DUARTE (2004DUARTE, Luiz Fernando Dias. “A sexualidade nas ciências sociais: leitura crítica das convenções”. In: PISCITELLI, Adriana; GREGORI, Maria Filomena; CARRARA, Sérgio. Sexualidade e saberes: convenções e fronteiras. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2004. p. 39-80.).

Ainda nesta direção, Lenise Santana BORGES, Alice de Alencar Arraes CANUTO, Danielle Pontes de OLIVEIRA e Renatha Pinheiro VAZ (2013BORGES, Lenise Santana; CANUTO, Alice de Alencar Arraes; OLIVEIRA, Danielle Pontes de; VAZ, Renatha Pinheiro. “Abordagens de gênero e sexualidade na psicologia: revendo conceitos, repensando práticas”. Psicologia Ciência e Profissão, v. 33, n. 3, p. 730-745, 2013.), com base nessa leitura foucaultiana, afirmam que a sexualidade é social e historicamente construída, dependendo da cultura e das relações sociais estabelecidas, o que possibilita pensar em diferentes formas de vivenciá-la. Sobre esta questão, podemos dizer que não apenas a sexualidade, mas também a noção de sexo é socialmente construída, pois é histórico-cultural, passando por transformações ao longo do tempo.

Discorrendo sobre a obra de Thomas LAQUEUR (2001LAQUEUR, Thomas. A invenção do sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.), a qual está fundamentada numa leitura foucaultiana, Tito SENA et al. (2004SENA, Tito. “Os estudos de gênero e Michel Foucault”. In: LAGO, Mara Coelho de Souza et al. (Orgs.). Interdisciplinaridade em diálogos de gênero: teorias, sexualidades e religiões. Florianópolis: Mulheres, 2004. p. 198-208.) assinalem que, na visão do primeiro autor, até o final do século XVIII, prevalece o modelo do isomorfismo sexual, no qual a mulher não existia como uma categoria ontológica distinta, sendo o homem a única referência. Tratava-se do modelo do sexo único que encarava o corpo feminino como inferior e inverso ao masculino. Jurandir Freire COSTA (2001COSTA, Jurandir Freire. “O sexo segundo Laqueur”. Folha on line, São Paulo, 2001. Disponível em: Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2503200105.htm . Acesso em: 20/02/2015.
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) aponta, por sua vez, que o corpo feminino era tido como invertido, porque os órgãos sexuais eram os mesmos dos homens, só que voltados para dentro. Só no final do século XVIII, com os avanços da ciência, surge um novo modelo de dimorfismo sexual, originando novas representações para a figura do homem e da mulher.

Para o autor citado anteriormente, quando esse segundo modelo se torna hegemônico, mulheres e homens passaram a ser comparados pelo padrão da descontinuidade/oposição e não na continuidade/hierarquia que havia no primeiro. Essa ideia de oposição ainda é bastante presente no ideário contemporâneo de nossa sociedade, fundamentando concepções que encaram o ‘masculino’ e o ‘feminino’ como apartados, a despeito do debate atual ampliado que aborda outras expressões de gênero, tais como as pessoas transexuais, bissexuais, transgêneros, gays, lésbicas, entre outros.

No processo de construção do cartaz, os(as) participantes desenharam também o símbolo da Psicologia, a letra psi, pertencente ao alfabeto grego, utilizando a cor rosa, associada ao fato de haver muitas mulheres na profissão, já que, culturalmente, essa cor é atribuída ao feminino. Ao lado do referido símbolo colocaram um sinal de interrogação, expressão das próprias dúvidas geradas no grupo, como esclarece o diálogo a seguir:

Nemo - Falta o símbolo da Psicologia rosa e uma interrogação.

Coisão - Rosa e uma interrogação de lado?

Freudita - Por que uma interrogação?

Nemo - Porque é como se fosse dizendo: Psicologia é só de mulher ou é só do gênero feminino?

Freudita - Hummm.

Gledson - Bota uma frase.

Coisão - Mas essa é minha colocação, vocês podem discordar ou concordar.

Heloiza - Não, é porque pode não dar essa ideia ou tipo.

Vimos que, nesta contextualização, feminino, gênero e mulher emergiram como sinônimos, porém, sabemos que dizem respeito a conceitos e categorias de análise distintas. Lígia AMÂNCIO (2003AMÂNCIO, Lígia. “O género no discurso das ciências sociais”. Análise Social, v. 28, n. 168, p. 687-714, 2003.) afirma que a corrupção do gênero pelo sexo, que se generalizou na linguagem comum e no discurso científico, “diminuiu o efeito provocatório do gênero, na medida apenas em que a sexuação do gênero passou a constituir um poderoso indicador da lógica que preside a construção da diferença” (p. 707). Contudo, nesse trecho de falas destacado anteriormente, também houve questionamentos acerca da ideia da Psicologia como ‘profissão feminina’: “Psicologia é só de mulher ou é só do gênero feminino?”.

Nas explicações que pudessem ser convincentes para o grupo, uma participante afirmou que o símbolo da Psicologia, pintado com a cor rosa e acompanhado de um sinal de interrogação, poderia não ser interpretado como um questionamento à ideia de profissão feminina, e, ao contrário, poderia corroborar uma disputa de atribuição de sentidos ou afirmativa da ideia de que a Psicologia pode ser exercida apenas por mulheres, a partir do dado cultural da cor rosa.

Na tentativa de dar concretude às suas ideias, vimos que, na elaboração do desenho, os(as) estudantes destacaram os sentidos compartilhados em relação ao gênero na objetivação apoiada nas características físicas, ainda reducionista, com a demarcação de corpos de homens e mulheres, como se denota a partir do trecho abaixo:

Nemo - Esse nariz tá muito arrebitado pra ser de Freud.

Heloiza - Vai ser um homem, então.

Freudita - O que define se é mulher ou homem é o nariz!

Assim, fomos compreendendo, com estas polarizações e conflitos, que os(as) jovens participantes já se questionavam se os atributos físicos é que demarcariam as diferenças entre homens e mulheres, o que constituiria, por conseguinte, marcadores de gênero que atribuem determinados traços aos corpos de homens e mulheres, no entanto, desconsiderando outras formas de expressão de gênero eivadas na perspectiva corporal e na diversidade sexual, para além dessa clássica definição.

Discorrendo sobre a sexualidade humana, Florêncio Mariano da COSTA-JUNIOR e Ana Cláudia Bortolozzi MAIA (2010COSTA-JUNIOR, Florêncio Mariano da; MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi. “Corporeidade e gênero: relações entre homens e mulheres com os cuidados com a saúde”. In: VALLE, Tânia Gracy Martins do; MELCHIORI, Lígia Ebner (Orgs.). Saúde e desenvolvimento humano. São Paulo: UNESP, 2010. p. 17-32.) apontam que em todas as sociedades os seres humanos são confrontados com um fato idêntico: a diferença corporal relativa à diferença sexual. Podemos afirmar, então, que, ao longo da história, cada cultura construiu uma forma particular de simbolizar e conceber essa diferença, produzindo múltiplas versões sobre a dicotomia construída: homem-mulher. Para os referidos autores, a palavra ‘corpo’, usualmente utilizada, pouco descreve acerca de seu papel diante do funcionamento coletivo e individual em nossa sociedade.

Tal ideia é compreensível considerando que, durante séculos, as ciências analisaram o corpo humano somente em seu aspecto físico e funcional. Atualmente, encontramos abordagens que compreendem o corpo a partir de processos histórico-culturais, perspectiva da qual nos aproximamos. A este respeito, Sarah SALIH (2012SALIH, Sarah. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.), fundamentando-se em Judith BUTLER (2008______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.), considera que todos os corpos são ‘generificados’ desde o começo de sua existência social, sendo assim, não há ‘corpo natural’ que preexista à sua inscrição cultural.

Ainda na varredura da literatura a esse respeito compartilhamos da proposição de Silvana Vilondre GOELLNER e Márcia Luiza Machado FIGUEIRA (2002GOELLNER, Silvana Vilodre; FIGUEIRA, Márcia Luiza Machado. “Corpo e gênero: a revista Capricho e a produção de corpos femininos”. Motrivivência. Revista de Educação Física, Esporte e Lazer, n. 19, p. 1-13, 2002.), quando afirmam que o corpo faz parte do processo de construção da identidade de gênero. Para elas, um corpo não é apenas um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações. É também o seu entorno, pois está relacionado à imagem que dele se produz, aos sentidos que nele se incorporam, enfim, o corpo é um sem limite de possibilidades sempre reinventadas, sempre à descoberta e a serem descobertas, ou seja, o corpo é uma construção histórico-cultural.

Ao dar continuidade à narrativa de construção do desenho, registramos que, ao longo da elaboração do cartaz, emergiu, ainda, um conflito cuja temática foi ‘colocar ou não colocar a barba’ na pessoa que estavam desenhando, a qual tinha características femininas, como se segue:

Freudita - Vocês nunca viram mulher com barba?

Heloiza - Eu já vi sim.

Cláudia - Mas, muita mulher?

Heloiza - Algumas.

Cibelly - Minha vizinha, de vez em quando, vem óa... a (olha) a pinça.

Apoiando-se nas experiências vividas, os(as) participantes questionaram o fato de a barba estar associada apenas aos homens, já que algumas mulheres também podem tê-la, embora aquela seja, marcadamente, na nossa cultura ocidental, um atributo definidor externo do sexo masculino. A seguir, a discussão continuou sobre este atributo e permitiu a explicitação de preconceitos somada à formulação de outra categoria, como se vê a seguir:

Freudita - Coloca pouca barba.

Cláudia - Aiii! Eu não concordo com esse negócio de botar barba.

Freudita - É minoria.

Cláudia - Isssh. Que coisa!

Cibelly - Achei validíssimo, tipo, a Freud travesti (risos). Tudo que há!

Cláudia - É. Ficou bem travesti mesmo, agora.

Embora houvesse uma aparente ironia entre os(as) participantes na construção dos argumentos, sentimos que, de fato, causou estranhamento colocar barba numa figura que tem traços ‘femininos’. Guacira Louro (2008______. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.) afirma que, mesmo existindo determinadas regras sobre o gênero - concepções sobre as noções de ‘homem’ e ‘mulher’ -, que se tracem planos e sejam criadas estratégias e técnicas, haverá aqueles e aquelas que rompem as regras e transgridem os arranjos. Portanto, a imprevisibilidade e a transgressão acerca do gênero são inerentes ao percurso - nesse caso, colocar barba na pessoa do desenho que tinha características femininas.

A figura desenhada pelo grupo foi nomeada em uma nova expressão de gênero, a categoria travesti, a partir das normas de gênero, as quais, na visão de Butler (2006BUTLER, Judith. “Regulaciones de Género”. Revista de Estudios de Gênero La Ventana, n. 23, p. 7-35, 2006.), consistem num mecanismo que produz e normaliza o ‘masculino’ e o ‘feminino’.

Os sentidos que foram atrelados à noção de travesti nos parecem que estão relacionados ao sistema de representações sociais de gênero, sexualidade, sexo e corpo, haja vista que essa subverte e, por vezes, reitera os preconceitos relacionados ao feminino, a partir de um ‘exagero visual’ e da composição de um protótipo cênico e teatralizado da figura feminina que é manifestado em seu corpo.

Estamos diante de um processo de objetivação do híbrido, dos gêneros misturados, que foram associados à Psicologia como profissão, anunciando que essa pode ser exercida por qualquer pessoa, independente de sua identidade de gênero e/ou sexual. Outro elemento que chama a atenção é o fato de objetivar a Psicologia a partir da psicanálise, perspectiva que, historicamente, possui certo status, no âmbito das diferentes teorias psicológicas.

Não podemos afirmar que estes sentidos produzidos nesse grupo sejam partilhados de modo consensual, pois a própria discussão a respeito da temática de gênero é algo recente, ou seja, os distintos grupos sociais ainda estão se apropriando dos debates nessa esfera. A esse respeito, Serge Moscovici (1988MOSCOVICI, Serge. “Notes towards a description of social representations”. European Journal of Social Psychology, v. 18, p. 211-250, 1988.) estabelece a distinção entre três modalidades de representações sociais: há as representações hegemônicas, que podem ser partilhadas por todos os membros de um grupo altamente estruturado, a exemplo de um país, prevalecendo, de modo geral, em todas as práticas simbólicas, parecendo ser uniformes e coercivas.

Com base no referido autor, Rosa CABECINHAS, Marcus Eugênio Oliveira LIMA e Antonio Marcos CHAVES (2006CABECINHAS, Rosa; LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; CHAVES, Antonio Marcos. “Identidades nacionais e memória social: hegemonia e polêmica nas representações sociais da história”. In: MIRANDA, Joana; JOÃO, Maria Isabel (Orgs.). Identidades nacionais em debate. Oeiras: Celta, 2006. p. 67-92.) esclarecem que há as representações emancipadas que circulam em subgrupos que estão em contato mais ou menos próximo. Cada subgrupo cria as suas próprias versões e partilha-as com os outros. Por fim, existem as representações controversas ou polêmicas, geradas em processos de conflito social ou luta entre grupos, não sendo partilhadas pela sociedade no conjunto.

A reiteração e a subversão do feminino, provocadas pelo ‘exagero visual’ do(a) travesti, nas suas características físicas associadas aos corpos de mulheres, consistem em anúncio de construção de representações hegemônicas e emancipadas.

Gênero e categorias afins, representações sociais e preconceito

Nesse eixo da análise, focamos, em particular, alguns aspectos que emergiram e expressam a relação entre prováveis representações sociais de gênero, vinculadas às de sexo, sexualidade, corpo e à construção de preconceitos. Nesse contexto, ilustramos essa relação com um trecho no qual os(as) participantes se interrogam se haveria preconceito de alguém fazer sessões de psicanálise com um(a) ‘Freud’ travesti:

Cláudia - E aí será que vocês gostariam de fazer uma psicanálise?

Nemo - Indiferente.

Cibelly - Imagina o preconceito.

Freudita - Será que seria?

Cláudia - Sei... Seria diferente?

Ulisses - Eu só trabalho com teorias. A imagem é o de menos.

Cibelly - Olha o preconceito, viu? que uma psicóloga! ... (subtende-se, pela entonação, que a participante quis dizer: como uma psicóloga pode falar isso?)

Neste trecho, a dúvida de se alguém poderia fazer terapia com um(a) Freud travesti sugere preconceitos de gênero. Sobre esta questão, Serge Moscovici (2009______. “Preconceito e representações sociais”. In: ALMEIDA; Angela; JODELET, Denise (Orgs.). Representações sociais: interdisciplinaridade e diversidade de paradigmas. Brasília: Thesaurus, 2009. p. 17-34.) afirma que um preconceito sexista é uma crença sem ser submetida à reflexão. O preconceito surge a partir dos estereótipos e, a este respeito, Sandra Araya UMAÑA (2002UMAÑA, Sandra Araya. Las representaciones sociales: ejes teóricos para su discusión. Costa Rica: [s.n.], 2002.) discorre sobre a relação entre estereótipo e representações sociais, afirmando que o primeiro é a categorização de atributos específicos dirigidos a um grupo e se caracteriza por sua rigidez e as representações sociais, por sua vez, são mais dinâmicas, pois se modificam na interação diária da comunicação entre as pessoas.

Para essa autora, as representações sociais se diferenciam dos estereótipos por sua função: os estereótipos são o primeiro passo na origem de uma representação, mobilizados quando se obtém a informação de alguém, de um grupo ou situação e cumprem uma função de economia psíquica no processo de categorização social.

Entendemos, com esta discussão, que, nesse questionamento sobre a sexualidade da pessoa desenhada, foi suscitado o debate acerca da sexualidade do(a) profissional em Psicologia, e se esta expressão mobilizaria ou não preconceito por parte dos seus clientes. Quando voltaram o debate para a esfera pessoal, um dos participantes referiu que não tinha preconceito a respeito da sexualidade do terapeuta, inclusive, fez referência à biografia de alguns teóricos, como se vê adiante:

Nemo - Vocês conhecem um pouco da vida pessoal de Foucault? Eu gosto da teoria da Foucault. Então...?

Cláudia - Eu imagino como seria a teoria de Freud se na imagenzinha tivesse assim... (aponta para a imagem produzida no cartaz que integra o ‘masculino’ e o ‘feminino’)

Nemo - Tá tão, tipo... sei lá, pop art, tá ligado?

Cibelly - Tá tão assim, Lady Gaga...

Podemos conferir que, no plano teórico, o participante fez alusão positiva ao teórico Michel Foucault para demarcar que não tinha preconceitos relativos à sexualidade, considerando que, na biografia desse autor, são registradas práticas homossexuais. Todavia, como se viu, parece que a tematização sobre a sexualidade do terapeuta constrangeu alguns dos(as) estudantes, ficando subentendido, na visão de uma das participantes, que a imagem de uma pessoa com traços masculinos e femininos, associada à homossexualidade, pode suscitar preconceito por parte dos usuários ou clientes. Ainda nesse contexto de confronto, emergiram referências ao gênero e à sexualidade relacionadas ao travesti, à homossexualidade, à artista Lady Gaga e vinculada a uma imagem pop art.2 2 Segundo Dullio Battistoni FILHO (2008), a pop art surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos e na Inglaterra, alcançando, mais tarde, o Brasil. Buscou levar os objetos da vida cotidiana às obras de arte, desde os cartazes de publicidade, automóveis e sinais de tráfego, aos produtos industriais em geral, eletrodomésticos e comestíveis enlatados que eram consumidos. Esses artistas buscavam acentuar a força das imagens.

No que se refere à associação com a artista Lady Gaga, para Rafael Mendonça Lisita PINTO (2013PINTO, Rafael Mendonça Lisita. “Trans-per(form-ação): as poéticas visuais de Lady Gaga e uma nova política dos gêneros”. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA EM ARTE E CULTURA VISUAL 6, Goiânia. Anais do VI Seminário Nacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual. Goiânia, 2013.), essa cantora causa bastante controvérsia ao tratar de assuntos que envolvem questões de gênero e sexualidade, através de sua performance, desafiando os paradigmas da heterossexualidade e a regulação binária dos gêneros. Esse autor afirma que, na performance da artista citada, incluem-se alusões às várias expressões de gênero: à sua bissexualidade, sátira aos boatos sobre seu hermafroditismo, e a mesma se declara na militância pela independência feminina e pelos direitos dos homossexuais e, ainda, a favor das causas relativas ao desempenho de identidades femininas, masculina/transexual.

Após terem desenhado, houve, entre os(as) participantes, alguns conflitos em torno da finalização do cartaz: deveriam escrever ou não no desenho, uma frase ou um nome? Esses conflitos foram acompanhados pela preocupação com os sentidos que seriam produzidos:

Ulisses - A Psicologia é unissex. A Psicologia é hermafrodita, tanto faz.

Nemo - Vocês querem dizer que a Psicologia não tem sexo. É o que tu quer dizer? que a Psicologia não tem sexo? É, mas o valor aqui é muito mais feminino do que masculino: a cor escolhida remete ao feminino.

Freudita - Mas Freud é uma figura masculina, então, a gente tá transformando uma figura masculina.

Nemo - É.

Após um momento, os(as) participantes definiram que a figura desenhada se chamaria Freudita, em alusão à figura de Freud. Sobre esta questão, Guacira Louro (2008______. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.) afirma que o ato de nomear o corpo acontece no interior da lógica que supõe o sexo como um ‘dado’ anterior à cultura e lhe atribui um caráter imutável, a-histórico e binário. Dessa maneira, os conflitos acima descritos expressaram a ambivalência de sentidos no debate sobre o gênero na profissão de Psicologia quando se referem à profissão de Psicologia como sendo: ‘unissex’, ‘hermafrodita’, ‘não tem sexo’. As práticas profissionais foram trazidas para pensar a dimensão de gênero na profissão de Psicologia. Nesse caso, foi a Psicologia clínica/psicanálise, na menção ao terapeuta ‘hermafrodita’, que os(as) participantes comentaram anteriormente.

Nesse cenário, depreende-se que uma Psicologia assexuada seria livre das amarras de gênero que aprisionam os corpos em profissões tidas como masculinas e femininas, uma Psicologia que possa ser exercida por qualquer pessoa, independente de gênero. Entendemos que a referência à Psicologia como unissex, hermafrodita ou assexuada foi uma tentativa de novas construções de gênero, ainda que pautadas em construtos conservadores já estabelecidos e sobre os quais há uma significação. Através delas, os(as) participantes buscaram se afastar da ideia de profissão ‘feminina’, presente na Psicologia, e sinalizaram a intenção de que essa profissão independa de sexualidade, sexo ou gênero. No diálogo a seguir, o ‘feminino’ foi ligado à área clínica da Psicologia e, mais especificamente, à psicanálise, tradicionalmente masculina e que também sofreria esta transformação, como se vê no extrato abaixo:

Heloiza - Mas aí eu acho que tá sendo o contrário. Tipo... é tão feminino que até Freud, tem que ser uma mulher.

Nemo - Exatamente.

Cláudia - Não...

Cibelly - Psicanálise tá ligada mais a homens e a gente botou o ‘psicanalista- mor’ como uma mulher.

Cláudia - Eu tinha pensado nisso.

Nemo - Tô dizendo que existe essa leitura também.

Heloiza - É.

Na disputa pela atribuição de sentidos estaria o feminino produzindo uma reificação quando fica subtendido, que na prática clínica: “... tipo... é tão feminino que até Freud, tem que ser uma mulher”? Ou seria uma desconstrução realizada pelos(as) participantes, através da ruptura com a lógica machista, ao “colocar o psicanalista-mor como uma mulher”? Podem esses dois sentidos coexistirem? Haveria uma dicotomia manifestada na alusão ao psicanalista “pensador” da psicanálise, referente ao masculino e à prática psicanalítica, associada ao feminino, numa clássica cisão entre trabalho intelectual e trabalho braçal?

Scott (1999______. “Experiência”. In: SILVA, Alcione Leite; LAGO, Mara Coelho de Souza; RAMOS, Tânia Regina Oliveira (Orgs.). Falas de gênero. Florianópolis: Mulheres, 1999b. p. 1-23. Disponível em: http://historiacultural.mpbnet.com.br/feminismo/Joan_Scoot-Experiencia.pdf. Acesso em: 10/06/2012.
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b), discorrendo sobre a análise dos sentidos de gênero, afirma que essa “não pressupõe uma correspondência direta entre as palavras e as coisas, nem se restringe a significados únicos, nem tem o propósito de resolver contradições” (p. 16). Na pesquisa, pareceu-nos que os(as) participantes transgrediram a normativa do estatuto masculino da psicanálise ao desenharem e interpretarem que uma simbologia associada à profissão de Psicologia pode ser feminina, representada no Freud travestido. Porém, em diversos momentos de produção do cartaz, houve reiteração das normas de gênero.

A própria imagem de Freudita que, a princípio, pode ser encarada apenas como transgressora, ainda está calcada na referência aos atributos que definem os corpos como femininos ou masculinos e o debate ocorrido ao longo da roda, de modo geral, não extrapolou essa tematização. A discussão sobre as relações de gênero no cotidiano da sociedade, por exemplo, foi pouco trazida. Em particular, ainda se precisa adensar a produção sobre gênero e profissão, como se mostra no debate a seguir.

O que foi produzido sobre gênero e a profissão de Psicologia?

Nessa subseção, trazemos um pouco das reflexões dos(as) participantes ao serem indagados, após o término do desenho, sobre o que quiseram expressar com o cartaz:

Coisão - Freud na night. (depreende-se que ele quis dizer: Freud na ‘balada’/festa noturna) Freudita - Que a Psicologia não tem sexo. Ulisses - Mostrar que dentro de uma área conservadora da Psicologia, enfim, há um debate sobre isso, que a psicanálise ela também tem um contexto que pode ser adequado à desconstrução de conceitos. Freudita - Autoexplicativo. Cibelly - Há espaço para as mulheres nas partes mais masculinas da Psicologia, assim como haverá espaço para homens nas partes mais femininas da Psicologia.

Nessas falas, foram suscitadas diferentes perspectivas de interpretação, desde a brincadeira ‘de Freud na night’, que introduz a Psicologia ao cotidiano juvenil; a Psicologia assexuada; o binário associado ao gênero; e a hierarquia funcional na profissão: ‘partes mais masculinas’ e ‘partes mais femininas’ da Psicologia, contradição que emergiu, mesmo quando a ideia era subverter essa normativa. A seguir, podemos acompanhar um pouco mais essa discussão e a ambiguidade de sentidos:

Freudita - É justamente, a gente pegou um grande representante da Psicologia, tá, da psicanálise, mas da Psicologia também, e mostrou que pode se transformar aquilo que é masculino pode também ser feminino, assim como aquilo que é feminino, pode se tornar masculino também.

Cibelly - Uma tentativa de equalização de gênero.

A menção à equalização de gênero remete à ideia de igualdade e nos leva a indagar: que igualdade de gênero é essa no mundo das profissões? Poderíamos elencar salários igualitários para homens e mulheres, divisão de postos de trabalho de forma equitativa e acesso a cargos de chefia por parte das mulheres, como alguns exemplos. Todavia, esses elementos não garantem, por si só, a igualdade de gênero que é efetivada no nível interacional, nos mais diversos espaços da sociedade.

Compreendemos, assim, que é nas relações do eu-outro que, muitas vezes, preconceitos de gênero sutis se manifestam, veiculam-se violências, mas é também nesses canais que há espaço para a transformação social e para as rupturas. Nessas interações, os(as) participantes evidenciaram que estão pautados nas noções de feminino e masculino, associadas ao cuidado (feminino) e às características corporais dos sexos, predominantes no conjunto social, consistindo nas representações hegemônicas. Em alguns momentos, essas concepções emergiram de forma dicotomizada e, em outros, foi produzido um questionamento das mesmas, todavia, o ‘limite’ foi tênue. Interrogamos: que outros sentidos e expressões de gênero haveria além de ‘masculino’ e ‘feminino’?

Com relação a essa multiplicidade de expressões de gênero, cabe citar Donna HARAWAY (2000HARAWAY, Donna. “Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX”. In: KUNZRU, Hari; HARAWAY, Donna; SILVA, Tomaz Tadeu da. (Orgs.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 33-118.) em seu Manifesto ciborgue. O ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo. A autora explicita que, na Medicina, encontramos inúmeras formas de junções entre organismo e máquina. Exemplos disso são os implantes de tímpanos para surdos, implantes de retina para cegos, cirurgias cosméticas, seres geneticamente modificados e anabolizantes. O ciborgue é uma criatura de um mundo pós-gênero: ele não tem qualquer compromisso com a bissexualidade, aponta para além de qualquer binarismo, seja este homem-mulher ou ser humano-máquina. O caso das pessoas transgêneros ilustra bem o ciborgue.

Joan Scott (1999______. “Experiência”. In: SILVA, Alcione Leite; LAGO, Mara Coelho de Souza; RAMOS, Tânia Regina Oliveira (Orgs.). Falas de gênero. Florianópolis: Mulheres, 1999b. p. 1-23. Disponível em: http://historiacultural.mpbnet.com.br/feminismo/Joan_Scoot-Experiencia.pdf. Acesso em: 10/06/2012.
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b), por sua vez, nos mostra que precisamos de teorias que nos permitam levantar modos de pensamento alternativo sobre o gênero que possam ir além de reverter certas hierarquias ou confirmá-las. A este respeito, tivemos que, na objetivação do ‘feminino’ e do ‘masculino’, emergiu uma imprecisão de limites. A partir da figura desenhada, nomeada Freudita, os(as) participantes ‘misturaram’ o ‘masculino’ e o ‘feminino’, ou seja, houve a tentativa de expressar um sentido novo ao gênero, e as implicações significam que a profissão de Psicologia pode ser exercida por qualquer pessoa, independente de sexo, gênero e/ ou sexualidade.

No debate sobre esta superação do binarismo, Tania Navarro SWAIN (2001SWAIN, Tania Navarro. “Para além do binário: os queers e o heterogêneo”. Niterói, v. 2, n. 1, p. 87-98, 2001.) afirma que o desafio que temos hoje é auscultar as zonas que desafiam os nódulos ‘naturais’ da inteligibilidade, nos quais aparecem com força e visibilidade indivíduos e grupos que reivindicam uma nomeação fora desse esquema. Assim, questionamos: quem são eles e elas que vêm quebrar uma identidade estabelecida? Qual universo devo utilizar para nomeá-los, e qual sentido prevalece para que as novas gerações profissionais possam ancorar o que hoje atribuem como estranho no universo familiar e cotidiano?

Essa é uma questão que se colocou: através de que referências podemos nomear alguém que foge do binário feminino-masculino? Podemos, inclusive, questionar por que essas referências são importantes. Entendemos que esses questionamentos dão margens para queo sujeito possa se constituir de forma autônoma, mais livre das amarras de gênero presentes na sociedade. Essa luta pela manifestação das diferentes expressões de gênero, conforme debatemos a partir de Haraway (2000HARAWAY, Donna. “Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX”. In: KUNZRU, Hari; HARAWAY, Donna; SILVA, Tomaz Tadeu da. (Orgs.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 33-118.), anteriormente, vem sendo encabeçada pelos movimentos sociais, notadamente o feminista e o LGBT.

Considerações finais

Nesse artigo, foram trazidos resultados das análises de uma das etapas da pesquisa que intencionou compreender a associação construída no senso comum entre a profissão de Psicologia e o ‘feminino’, por estudantes concluintes do curso de Psicologia. Chamou-nos a atenção os sentidos trazidos para significar o gênero na profissão de Psicologia, muitos deles objetivados na figura desenhada, nomeada Freudita, e em torno da qual surgiram associações mais sintonizadas com outras expressões de gênero, tais como: hermafrodita, travesti, unissex, não tem sexo. No entanto, é oportuno ressaltar que não surgiram, na roda de conversa, as discussões mais contemporâneas, relacionadas aos transgêneros e aos cisgêneros.

Referimos, ainda, que não objetivamos generalizar os resultados da pesquisa, pois o universo de sentidos apresentados pode ser específico a esta universidade e curso. Em alguns momentos, foram suscitadas visões reducionistas sobre o gênero, encarando o ‘masculino’ e o ‘feminino’ de forma apartada, e sem considerar as demais expressões de gênero. Também houve, porém, o questionamento e a subversão dessas hierarquias que cerceiam o mundo profissional, sugerindo que há indícios de novas configurações em curso. É possível que os(as) colegas dos(as) participantes da pesquisa, pertencentes ao mesmo período, tenham outras perspectivas, distintas das que foram anunciadas nesse grupo.

Pontuamos que, no decorrer da pesquisa, houve a tentativa dos(as) participantes em se mostrarem atualizados(as) com relação ao debate contemporâneo sobre gênero, mas, em vários momentos, demonstraram estar ancorados numa matriz anterior, normativa, correspondendo aos caracteres físicos de corpos masculinos e femininos, pautando-se estritamente na dimensão biológica, mesmo quando a ideia inicial na produção do cartaz era subverter a ordem. Pareceu-nos que reproduziram concepções de gênero balizadas no critério do corpo como elemento diferenciador de homens e mulheres, haja vista a preocupação que os(as) participantes manifestaram com os traços físicos da pessoa desenhada: nariz, unhas, barba e brincos. A este respeito, sabemos que as possibilidades de construção do corpo em nossa cultura são inúmeras e a delimitação de uma identidade de gênero, pautada apenas no corpo, é limitadora e aprisionante.

Assinalamos que materializar a tematização do gênero na profissão de Psicologia através de imagens, tarefa pedida aos participantes, se constituiu como uma atividade desafiadora e instigante. O desenho tende a oferecer a objetivação ou a metáfora e, por conseguinte, opera uma simplificação do objeto, enxugando os excessos para torná-lo concreto. Como toda linguagem, o desenho também tem seus limites/possibilidades e, ao mesmo tempo, uma imagem deixa as possibilidades de sentido em aberto, ou seja, parafraseando Joan Scott ao discorrer sobre gênero, quando afirma que o tipo de leitura que tem em mente não se restringe a significados únicos.

Nesse cenário, ao finalizar as análises, pudemos entender que o limite entre a reprodução e a desconstrução foi muito tênue. Em alguns momentos, emergiram aparentes contradições, a partir dessa ambivalência de sentidos, consideradas aparentes, porque, talvez, elas expressem sentidos divergentes que são comuns em tempos de mudanças nas relações de gênero.

De modo geral, podemos dizer que, nesta etapa apresentada, os relatos dos(as) participantes expressaram sentidos de gênero hierarquizados, com as noções de ‘masculino’ e ‘feminino’, ‘homem’ e ‘mulher’ objetivadas de forma dicotômica em alguns contextos, questionadas, e/ou produzindo a desconstrução; isso ocorre em meio às relações de poder. Com a representação como um sistema, os objetos sociais: gênero, sexo, sexualidade e corpo emergiram, relacionados entre si, sendo objetivados na figura de Freudita, que tem um corpo com caracteres masculinos e femininos simultaneamente e um nome composto, a partir da junção desses dois elementos. Seria o hibridismo uma representação social da profissão de Psicologia?

Conforme referimos em um momento anterior nesse artigo, não podemos afirmar que as representações sociais compartilhadas pelo grupo em questão são partilhadas de modo unânime por toda a sociedade, pois a discussão a respeito da temática de gênero é algo recente, e as pessoas ainda estão se apropriando dos debates nessa esfera. O hibridismo seria uma inicial desconstrução dessas concepções, ainda que essas não sejam partilhadas de modo unânime por toda a sociedade?

Ao finalizar, conferimos, através desse estudo, a compreensão acerca da noção de profissão ‘feminina’ na Psicologia, na visão dos(as) estudantes de Psicologia, e a trama de informações e concepções ainda a serem aprofundadas assinala a importância de debates durante a formação que oportunizem reflexões sobre essa temática ainda em estudo e em processo de construção/desconstrução.

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  • 1
    Essa pesquisa resultou em várias publicações: Quem é a psicóloga brasileira? organizada por Louise LHULLIER (2013aLHULLIER, Louise (Org.). Quem é a psicóloga brasileira? Brasília: Conselho Federal de Psicologia - CFP, 2013a.) e Psicologia: uma profissão de muitas e diferentes mulheres, organizada por Louise LHULLIER (2013b______. Psicologia: uma profissão de muitas e diferentes mulheres. Brasília: Conselho Federal de Psicologia - CFP, 2013b.).
  • 2
    Segundo Dullio Battistoni FILHO (2008), a pop art surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos e na Inglaterra, alcançando, mais tarde, o Brasil. Buscou levar os objetos da vida cotidiana às obras de arte, desde os cartazes de publicidade, automóveis e sinais de tráfego, aos produtos industriais em geral, eletrodomésticos e comestíveis enlatados que eram consumidos. Esses artistas buscavam acentuar a força das imagens.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2017

Histórico

  • Recebido
    12 Abr 2015
  • Revisado
    20 Maio 2015
  • Aceito
    25 Maio 2016
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