Syrians in temporary refuge situation in Brazil: life stories and processes of social insertion

Dossiê: ”Em fuga de conflitos armados” • REMHU, Rev. Interdiscip. Mobil. Hum. 31 (68) • May-Aug 2023 • https://doi.org/10.1590/1980-85852503880006807 copy

Syrians in temporary refuge situation in Brazil: life stories and processes of social insertion

Authorship SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Abstract.

This research aimed to analyze the experiences of social insertion of Syrian men in temporary refuge situation in Brazil. Data were collected through individual interviews conducted online and the sample consisted of 10 Syrian men in temporary refuge situation in Brazil for more than four years, aged between 25 and 43. Data processing was carried out through content analysis. The results showed thematic categories that refer to: (i) interpersonal relationships, including friendship, romantic and family relationships, and relations with Brazilians; (ii) work, in Brazil and Syria; (iii) religion, with focus on conflicts, religious groups, and participants’ (dis)beliefs; and (iv) prejudice and stereotypes, which result in discrimination. The social insertion processes were discussed according to the thematic dimensions central to the life context of these individuals in refuge situations.

Keywords:
social insertion; temporary refuge situation; Syrians

Authorship

Gabriela Viol Valle

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.Universidade Federal do Rio de JaneiroBrazilRio de Janeiro, RJ, BrazilUniversidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

https://orcid.org/0000-0002-9306-1800

Mariana Bonomo

Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES, Brasil.Universidade Federal do Espírito SantoBrazilVitória, ES, BrazilUniversidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES, Brasil.

https://orcid.org/0000-0002-3919-3976

Julia Alves Brasil

Universidade do Minho. Braga, Portugal.Universidade do MinhoPortugalBraga, PortugalUniversidade do Minho. Braga, Portugal.

https://orcid.org/0000-0003-0445-1207

Editores do dossiê

Roberto Marinucci, Barbara Marciano Marques

Sobre as autoras

Gabriela Viol Valle, docente Substituta no Departamento de Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutoranda em Linguística Aplicada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Estudos da Linguaguem pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e atual mestra em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Graduada em Letras – Português/Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: gabrielaviol@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9306-1800.

Mariana Bonomo, docente do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Doutora e Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: marianadalbo@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3919-3976.

Julia Alves Brasil, pesquisadora colaboradora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho/Portugal. Doutora em Estudos Culturais pela Universidade do Minho. Mestrado e graduação em Psicologia pela UFES. E-mail: juliaalvesbrasil@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0445-1207.

SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES, Brasil.Universidade Federal do Espírito SantoBrazilVitória, ES, BrazilUniversidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES, Brasil.

Universidade do Minho. Braga, Portugal.Universidade do MinhoPortugalBraga, PortugalUniversidade do Minho. Braga, Portugal.

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Tables (3)

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Tabela 1 -
Caracterização sociodemográfica dos participantes

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Tabela 2 -
Síntese das narrativas sobre a trajetória de vida dos participantes

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Tabela 3 -
Experiências de inserção social no Brasil

Tabela 1 - Caracterização sociodemográfica dos participantes

Participante	Idade	Escolaridade	Trabalho atual	Tempo no Brasil	Estado civil	Religião
Entrevistado 1	32	Ensino superior incompleto (Direito)	Vendedor de salgados	8 anos	Casado	Muçulmano
Entrevistado 2	33	Ensino superior completo (Engenharia)	Em empresa, como engenheiro	8 anos	Casado	Muçulmano
Entrevistado 3	42	Ensino superior completo (Eletrônica)	Vendedor de salgados e assistência técnica	9 anos	Casado	Muçulmano
Entrevistado 4	25	Ensino superior incompleto (Letras)	Empresário e Chefe de cozinha	7 anos	Casado	Muçulmano
Entrevistado 5	43	Ensino superior completo (Engenharia)	Vendedor de salgados	7 anos	Casado	Muçulmano
Entrevistado 6	30	Ensino superior incompleto (Direito)	Vendedor de salgados e motorista de aplicativo	5 anos	Solteiro	Não tem
Entrevistado 7	32	Ensino superior completo (Letras/Inglês)	Modelo, professor e guia de turismo	4+ anos	Solteiro	Cristão e Muçulmano
Entrevistado 8	27	Ensino médio completo	Chefe de cozinha	8 anos	Solteiro	Muçulmano
Entrevistado 9	42	Ensino médio completo	Vendedor de salgados	4+ anos	Solteiro	Cristão
Entrevistado 10	27	Ensino superior incompleto (Educação Física)	Vendedor de salgados	4 anos e 6 meses	Solteiro	Muçulmano

Fonte: autoras da presente pesquisa, 2023.

Tabela 2 - Síntese das narrativas sobre a trajetória de vida dos participantes

Participante	Síntese das narrativas
Entrevistado 1	Entrevistado 1 chegou ao Brasil em 2015, no Rio de Janeiro, onde viveu por cinco anos. Atualmente, mora em São Paulo. Hoje, tem 33 anos, trabalha na sua área de formação (engenharia) e é casado. O sírio se considera patriota e diz valorizar os costumes do seu país, o que justifica o fato de sua esposa ser síria, pois, segundo ele, “tem medo de que suas crianças percam a sua cultura e sua religião”.
Entrevistado 2	O Entrevistado 2 tem 42 anos e já vive no Brasil há nove anos. Formado no seu país em Engenharia Eletrônica, conta que teve dificuldade para conseguir se inserir no mercado de trabalho em sua área, tendo atuado só no ramo gastronômico, por muito tempo. Ele é casado com uma brasileira e disse que “ainda” não tem filhos e é de religião muçulmana. Sobre o seu deslocamento, disse que vir para o Brasil foi “uma escolha forçada”, mas que depois se tornou uma “escolha boa”.
Entrevistado 3	Aos 18 anos, com idade para ir para o exército, o Entrevistado 3 e a sua família decidiram deixar a Síria para viver no Líbano, onde viveu por um ano e meio antes de seguir para o Brasil. Relatou que sente muita falta do seu país, que deixou tudo lá, mas alega que “Se eu agora voltar, eles vão me matar com certeza”. Por ter saído muito novo da Síria, o Entrevistado 3 não chegou a entrar na faculdade. De acordo com o entrevistado, a língua portuguesa foi, e ainda é, um motivo de insegurança e dificuldade para sua inserção no país.
Entrevistado 4	O Entrevistado 4 chegou ao Brasil em 2016 e disse que sua vinda foi por “não ter outra opção”. Hoje com 25 anos, o sírio é de religião muçulmana e é casado com uma brasileira, que se converteu para sua religião. Chegou a iniciar a faculdade de Letras, mas teve que interromper seus estudos para sair do seu país. Ele refletiu que sua vida seguiu um rumo bem diferente do que planejava. Atualmente, trabalha como chefe de cozinha e empresário neste ramo.
Entrevistado 5	O Entrevistado 5 tem 43 anos, é casado e pai de três filhos. Segue a religião muçulmana e tem formação em Engenharia. Vivendo no Brasil há seis anos, o entrevistado contou que, hoje, sua vida está melhor e que sair do seu país, e do contexto de guerra, trouxe esperanças. Apesar disso, relatou que passou por momentos difíceis, em que ficou desacreditado. Atualmente, tem sua carrocinha de salgados e trabalha vendendo comida na rua. Segundo ele, estar nesse ambiente, proporciona contato com outros brasileiros e ele se sente acolhido.
Entrevistado 6	Hoje com 30 anos de idade, o Entrevistado 6 deixou o seu país em 2018 e já vive há cinco anos no Brasil. Ele conta que sua vinda para o Brasil foi difícil, pois estava na fronteira para deixar a Síria no mesmo dia que marcava a data limite para comparecer ao chamado do exército. Além disso, relatou, também, que teve dificuldade em relação à oportunidade de emprego ao chegar no país, pois não sabia falar a língua e não tinha quem o ajudasse com informações. Atualmente, trabalha como motorista de aplicativo, mas conta que já ficou sem trabalho e doente por causa disso. Em relação à religião, diz que “acredita em Deus, mas não acredita em religião”.
Entrevistado 7	O Entrevistado 7 tem 32 anos, já vive no Brasil há oito anos, é solteiro e diz ser “uma mistura de duas religiões pacíficas”, pois o pai é muçulmano e a mãe, católica. Por conta da idade, também já estava sendo convocado pelo exército do seu país, mas disse que não queria lutar contra os terroristas. Ele conta que foi muito bem recebido pelos brasileiros, “como um membro da família carioca”. Professor de formação, atua nessa área dando aulas particulares de Inglês, mas trabalha também como modelo e guia turístico.
Entrevistado 8	O Entrevistado 8 vive no Brasil há oito anos, tem 32 anos, é muçulmano e casado há um ano e meio com sua esposa. Ele destacou as diferenças culturais entre o Brasil e a Síria e disse que “mas eu tô tentando entrar nessa cultura aqui”. Além da esposa, tem parte de sua família aqui no Brasil, pois veio com o pai e com um irmão. Tendo seus estudos de Direito interrompidos na Síria, hoje, trabalha no ramo gastronômico, como chefe de cozinha no Brasil.
Entrevistado 9	O Entrevistado 9 tem 32 anos, é solteiro e de religião cristã. Contou que tinha vontade de deixar o seu país antes mesmo de iniciar a guerra, pois, como cristão, no seu país, “tinha um sonho na cabeça e esse sonho se chamava visto”. Para explicar, ele afirmou que as oportunidades são sempre para os muçulmanos. Conta que já trabalhou em diversas áreas ainda no seu país: em um hotel, no porto e agência de carros. No Brasil, começou trabalhando em uma fábrica de salgados e, atualmente, tem sua própria carroça de vendas, também de salgados. Ele explicou que tem pouca interação com outras pessoas no país, por falta de tempo, e que é “só de casa pra carroça, da carroça pra casa”.
Entrevistado 10	No Brasil há quatro anos e seis meses, o Entrevistado 10 tem 27 anos, diz não acreditar em religião “nem no islã e nem em outra” e trabalha vendendo salgados. Ele conta que estudou Educação Física e que não conseguiu terminar por um semestre, já que teve que deixar seu país por causa da guerra naquele momento, mas que tem vontade, se tiver oportunidade, de voltar a estudar na mesma área. Sobre o relacionamento com outras pessoas no Brasil, relata que não tem muitos amigos, pois trabalha muito e que é difícil.

Fonte: autoras da presente pesquisa, 2023.

Tabela 3 - Experiências de inserção social no Brasil

Unidades temáticas	Categorias	Descrição da categoria	Participante
Relações interpessoais	Amizade	Aborda as interações no plano das amizades.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
	Relacionamento amoroso	Conteúdos referentes à visão dos participantes sobre a temática de relacionamento amoroso, tanto de modo geral quanto na Síria ou comparando Brasil e Síria.	Entrevistados 2, 3, 6, 7, 8, 9 e 10.
	Relacionamento Familiar	Aborda a temática da família, incluindo a influência da família, contato com a família e diferenças culturais.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 e 9.
	Relação com os brasileiros	Interação entre os sírios e os brasileiros, a partir da avaliação sobre receptividade, bem como a valorização da relação com os brasileiros.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8.
	Idioma português nas interações	Experiências no que diz respeito ao uso da língua portuguesa nas interações estabelecidas.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Trabalho	Trabalho no Brasil	Questões relacionadas ao âmbito laboral no Brasil.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Trabalho	Trabalho na Síria	Conteúdos que demonstram os tipos de trabalho experienciados pelos participantes no seu país de origem.	Entrevistados 1, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.
Religião	Conflito religioso	Desavenças existentes no país de origem e entre as pessoas sírias em função da religião.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 6, 7 e 10.
	Grupos religiosos	Conteúdos que abordam as religiões islâmica e cristã.	Entrevistados 1, 2, 3, 6, 9 e 10.
	Crenças e descrenças religiosas	Crenças dos participantes, incluindo a descrição de algumas de suas práticas religiosas e a visão daqueles que não seguem e/ou não acreditam na religião.	Entrevistados 1, 3, 4, 6, 7, 8 e 10.
Preconceitos e estereótipos	Generalização do povo/cultura síria	Contextos e situações que generalizam algum aspecto do povo ou cultura síria.	Entrevistados 1, 3, 4, 6, 7 e 10.
Preconceitos e estereótipos	Discriminação com o povo/cultura síria	Relatos sobre discriminações sofridas no Brasil por causa da nacionalidade.	Entrevistados 1, 2, 3, 4, 7 e 10.

Fonte: autoras da presente pesquisa, 2023.

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