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Relações sinérgicas e efeitos sobre a produção setorial no sistema inter-regional Paraná-Restante do Brasil

Resumos

O presente artigo tem como objetivo estimar e analisar o nível das interações sinérgicas e o transbordamento do efeito multiplicador da produção setorial entre o Paraná e o chamado "Restante do Brasil" (Brasil exceto Paraná), utilizando sistemas inter-regionais de insumo-produto estimados para os anos de 1995 e 2000. Os principais resultados mostraram que: a) a dependência da produção do Paraná em relação ao fluxo de comércio com o Restante do Brasil se elevou de 25% em 1995 para 33% em 2000; b) somente 1,36% da produção do Restante do Brasil dependeu do fluxo de insumos (bens e serviços) entre este e o Paraná em 1995, reduzindo esta dependência para 0,56% em 2000; c) a média do transbordamento do efeito multiplicador da produção dos setores da economia paranaense no sentido Restante do Brasil aumentou de 16% em 1995 para 20% em 2000, enquanto no sentido Restante do Brasil-Paraná, se manteve em 1%. Diante desses resultados, o poder público estadual, por meio de políticas que visem melhorar a infra-estrutura estadual e de políticas de estímulos setoriais, poderá colaborar, criando o aparato logístico e designando incentivos fiscais e/ou creditícios específicos que auxiliariam a iniciativa privada na implementação de suas atividades, de modo a tornar mais eficiente e vantajoso o comércio inter-regiões.

insumo-produto; interações sinérgicas; transbordamento da produção; economia regional


The present article has as objective to calculate and to analyze the level of the synergic interactions and the overflow of the multiplying effect of the sectorial production between Parana and the Rest of Brazil (Brazil except Parana), using interregional systems of input-output estimated for the years of 1995 and 2000. The main results showed that: a) the dependence of the production of Parana in relation to the flow of trade with the Rest of Brazil raised from 25% in 1995 to 33% in 2000; b) only 1.36% of the production of the Rest of Brazil depended on the flow of input (goods and services) between this and Parana in 1995, reducing this dependence to 0,56% in 2000; c) the overflowing average of the multiplier effect of the production of the sectors of the economy of Parana in direction of the Rest of Brazil raised from 16% in 1995 to 20% in 2000, while in direction of the Rest of Brazil-Parana, it kept on 1%.

input-output; synergic interactions; overflow of the production; regional economy


Relações sinérgicas e efeitos sobre a produção setorial no sistema inter-regional Paraná-Restante do Brasil

Rossana Lott Rodrigues1 1 Doutora em Economia Aplicada pela Esalq/USP e professora do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: rlott@uel.br ; Antonio Carlos Moretto2 2 Doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP e professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: acmoretto@uel.br ; Umberto Antonio Sesso Filho3 3 Doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP e professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: umasesso@uel.br ; Ricardo Kureski4 4 Doutor em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisador do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), investigador do Laboratório de Contabilidade Social da UFPR e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). E-mail: kureski@pr.gov.br

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo estimar e analisar o nível das interações sinérgicas e o transbordamento do efeito multiplicador da produção setorial entre o Paraná e o chamado "Restante do Brasil" (Brasil exceto Paraná), utilizando sistemas inter-regionais de insumo-produto estimados para os anos de 1995 e 2000. Os principais resultados mostraram que: a) a dependência da produção do Paraná em relação ao fluxo de comércio com o Restante do Brasil se elevou de 25% em 1995 para 33% em 2000; b) somente 1,36% da produção do Restante do Brasil dependeu do fluxo de insumos (bens e serviços) entre este e o Paraná em 1995, reduzindo esta dependência para 0,56% em 2000; c) a média do transbordamento do efeito multiplicador da produção dos setores da economia paranaense no sentido Restante do Brasil aumentou de 16% em 1995 para 20% em 2000, enquanto no sentido Restante do Brasil-Paraná, se manteve em 1%. Diante desses resultados, o poder público estadual, por meio de políticas que visem melhorar a infra-estrutura estadual e de políticas de estímulos setoriais, poderá colaborar, criando o aparato logístico e designando incentivos fiscais e/ou creditícios específicos que auxiliariam a iniciativa privada na implementação de suas atividades, de modo a tornar mais eficiente e vantajoso o comércio inter-regiões.

Palavras-chave: insumo-produto; interações sinérgicas; transbordamento da produção; economia regional.

ABSTRACT

The present article has as objective to calculate and to analyze the level of the synergic interactions and the overflow of the multiplying effect of the sectorial production between Parana and the Rest of Brazil (Brazil except Parana), using interregional systems of input-output estimated for the years of 1995 and 2000. The main results showed that: a) the dependence of the production of Parana in relation to the flow of trade with the Rest of Brazil raised from 25% in 1995 to 33% in 2000; b) only 1.36% of the production of the Rest of Brazil depended on the flow of input (goods and services) between this and Parana in 1995, reducing this dependence to 0,56% in 2000; c) the overflowing average of the multiplier effect of the production of the sectors of the economy of Parana in direction of the Rest of Brazil raised from 16% in 1995 to 20% in 2000, while in direction of the Rest of Brazil-Parana, it kept on 1%.

Key-words: input-output; synergic interactions; overflow of the production; regional economy.

JEL Classification: C67, D57, R15

1. Introdução

O processo de globalização em curso tende a reforçar as relações entre as economias, tanto no sentido da troca das informações quanto no que se refere ao comércio de bens e serviços e ao fluxo de capitais. No Brasil, a economia começa os anos 90 sob a égide dos programas de liberalização comercial que, desde meados de 1980, vêm, progressivamente, sendo implantados. A competição mais acirrada, resultante do processo de abertura econômica, exige a modernização e a reestruturação dos setores produtivos nacionais e regionais. Essa exigência encontra, no Brasil e no Paraná, diferenças no que se referem à infra-estrutura, ao parque produtivo, ao capital humano, à distribuição de renda, etc., o que requer grande esforço local para sua superação.

Com o objetivo de situar a economia paranaense relativamente à do Restante do Brasil, a Tabela 1 apresenta três importantes indicadores, os quais revelam que o Paraná é um estado equilibrado no que se refere ao número de habitantes e produtos, apresentando renda per capita maior que a do Restante do Brasil e a nacional em 2000.

Quanto à estrutura econômica, o Paraná vem se transformando rapidamente ao longo das últimas décadas. Embora as bases para essas transformações tenham sido lançadas na década de 1970, a consolidação de alguns setores ocorreu nos anos 90, com a abertura comercial da economia brasileira. Um exemplo é a indústria automobilística, que recebeu incentivos fiscais, financeiros e de infra-estrutura do governo do estado para instalação de empresas na região de Curitiba, com previsão de surgimento de novos empregos e aumento da produção. Hoje, a estrutura do parque industrial automotivo paranaense possui características próximas à de outros centros nacionais, embora apresente, como principais entraves, a pouca tradição de fornecimento, a retração do mercado consumidor e o grande poder concorrencial do setor (Pinto e Meza, 2003).

Outros setores da economia paranaense foram acionados a partir de 1995, com a política de incentivos do governo estadual, como os de metalurgia, madeira e mobiliário, celulose, papel e gráfica, têxtil, vestuário, calçados, couros e peles, alimentar, serviços públicos, construção civil (industrial e residencial), transporte e comunicação, gerando mudanças importantes no processo produtivo e nas relações com o mercado.

O ajuste da base produtiva do Paraná promoveu a concentração patrimonial e produtiva em alguns setores e regiões do estado, resultando, ainda, em impactos negativos sobre os postos de trabalho, conforme Oliveira (2003).

Segundo Alves (1997), dos R4 8,6 bilhões de investimentos em andamento em 1996, o setor metalmecânico absorveu 56%, cabendo a maior parte (24,3% ou cerca de R$ 2,1 bilhões) às montadoras de automóveis. No caso específico do setor automobilístico, os efeitos esperados sobre a economia estadual, no que se referem à geração de empregos, não se confirmaram, gerando dúvidas sobre os benefícios advindos da política implementada (Motim et al., 2004).

Em relação à concentração espacial, a forte predominância dos investimentos na região de Curitiba pode ser vista na Tabela 2.

No entanto, as transformações em curso no Paraná trouxeram a modernização da estrutura produtiva do estado, com novos produtos, processos e tecnologias, além de dinamizar as relações com outros mercados, tornando mais complexo, dinâmico e diversificado o perfil industrial paranaense.

Diante dessa nova realidade, a integração entre as regiões torna-se fator sine qua non para o melhor desempenho do Paraná no atual cenário mundial, uma vez que a auto-suficiência não é possível, nem desejável, do ponto de vista econômico. A maior interação entre diferentes regiões promove, concomitantemente, maiores efeitos sinérgicos e dependência econômica entre estruturas produtivas diferentes. O aumento da produção setorial em determinada região do Brasil tem impacto sobre a produção de diversas indústrias fora da localidade de origem, o que se chama efeito transbordamento do multiplicador de produção. Portanto, a mensuração das interações sinérgicas e do efeito transbordamento do multiplicador de produção torna-se importante fonte de informações para a análise do desenvolvimento regional e elaboração de políticas públicas, identificando as indústrias que apresentam maior dependência de insumos provenientes de outras regiões.

Alguns trabalhos foram desenvolvidas para o Brasil com o objetivo de estudar a sinergia entre regiões, como os de Guilhoto et al. (1998), Guilhoto et al. (1999), Guilhoto et al. (2001), e/ou o transbordamento do multiplicador de produção (Sesso et al., 2003). Para o Paraná, estudos sobre sinergia foram realizados por Moretto (2000) e Simões et al. (2003). No entanto, o efeito transbordamento do multiplicador de produção ainda não foi avaliado entre o Paraná e o Restante do Brasil.

Assim, o objetivo desta pesquisa é mensurar o nível das interações sinérgicas resultantes do fluxo de bens e serviços e o transbordamento do efeito multiplicador da produção setorial entre o Paraná e o Restante do Brasil, comparando os anos de 1995 e 2000, período de grande transformação na estrutura produtiva estadual. Especificamente, pretende-se:

a) estimar as interações sinérgicas entre o Paraná e o Restante do Brasil (RBR);

b) estimar o transbordamento do multiplicador tipo I da produção setorial do Paraná e do Restante do Brasil e

c) realizar comparações dos indicadores econômicos (transbordamento e sinergia) entre as regiões.

Este artigo está estruturado em 3 seções, além da introdução. Inicialmente, é exposta a metodologia. Posteriormente, são analisados os resultados e, por fim, apresentadas as considerações finais.

2. Metodologia

2.1. Fonte dos dados

Este estudo tem como fonte de dados as matrizes insumo-produto estimadas para o Paraná em 1995 por Rodrigues (2000) e Moretto (2000) e em 2000 por Nuñes et al. (2003), além da matriz insumo-produto nacional de 1995, construída pelo IBGE (1997), e de 2000, estimada por Guilhoto et al. (2002).

A partir das matrizes, foram estimados os sistemas inter-regional de insumo-produto Paraná-Restante do Brasil para 1995 e 20005 5 O sistema inter-regional Paraná-Restante do Brasil já foi usado em outros trabalhos, como Simões et al. (2003), Sesso et al. (2004) e Rodrigues et al. (2005). .

2.2. Métodos de Análise

2.2.1. Interações sinérgicas entre regiões

A metodologia relativa às interações sinérgicas foi desenvolvida por Sonis et al. (1997) e possibilita examinar, por meio das interdependências internas e externas dadas pelas ligações, a estrutura das relações comerciais entre duas regiões. Está baseada num sistema de insumoprodução partilhado e utiliza técnicas que produzem multiplicadores à esquerda e à direita da inversa de Leontief, dentro de um preestabelecido par de combinações hierárquicas dos subsistemas de ligações econômicas.

Considerando-se um sistema de insumo-produção representado pelo bloco de matrizes, A, de insumos diretos:

em que A11 e A22 representam matrizes quadradas de insumos diretos dentro da primeira e segunda regiões, respectivamente, e A12 e A21 são matrizes retangulares dos insumos diretos adquiridos pela segunda região e vice-versa, é possível interpretar a matriz A como um sistema de duas regiões em que a segunda região representa o restante da economia menos a primeira região.

A construção dos blocos de pares de combinações hierárquicas dos subsistemas de ligações intra e inter-regionais, num sistema de insumo-produção, é dada pelas matrizes A11, A12, A21 e A22, as quais correspondem a quatro blocos básicos de matrizes:

A decomposição do bloco de matrizes (1) pode ser feita por meio da soma de dois blocos de matrizes, sendo cada um deles a soma dos blocos de matrizes de (2). Dessa forma, pode ser apresentado um conjunto de multiplicadores regionais internos, derivados das matrizes inversas, as quais são blocos construídos das interações sinérgicas entre os subsistemas econômicos. O uso das diferentes interações sinérgicas possibilita analisar e mensurar como ocorrem as transações entre regiões. Assim, é possível verificar o quanto as relações de produção em uma dada região afetam a produção de outra região.

O Quadro 1 e a Figura 1 mostram, respectivamente, as possíveis interações sinérgicas e as combinações das partes da matriz A1. Cada entrada no Quadro 1 consiste de dois níveis: o primeiro descreve a estrutura e mostra a correspondente forma da matriz A1, enquanto o segundo mostra as decomposições aditivas da matriz bloco de Leontief. A visão do sistema de hierarquias de ligações fornecerá novas interpretações das propriedades das estruturas que são reveladas.



Além disso, Sonis et al. (1997), Guilhoto et al. (1998) e Guilhoto et al. (1999) sugerem a seguinte tipologia de categorias que podem ser empregadas:

1. tipo de ligação para trás (VI, IX): poder de dispersão;

2. tipo de ligação para frente (V, X): sensibilidade de dispersão;

3. tipo de ligações intra e inter-regionais (VII, VIII): dispersão interna e externa;

4. estilo de interações de região isolada versus o restante da economia (I, XIV, IV, XI) e

5. estilo de subsistema triangular versus as interações inter-regionais (II, XIII, III, XII).

Assim, os sistemas de insumo-produção partilhados podem diferenciarse entre os vários tipos de dispersão (como 1, 2 e 3) e entre os vários modelos de interações inter-regionais (como 4 e 5). Essencialmente, as 5 categorias e os 14 tipos de pares de combinações hierárquicas de ligações econômicas propiciam a oportunidade de escolher de acordo com as qualidades especiais das atividades de cada região e com o tipo de problema que se apresenta, evidenciando que as opções existem para as bases de uma tipologia dos tipos de economia baseados na estrutura hierárquica (Quadro 1).

2.2.2. Efeito transbordamento do multiplicador de produção

Para estimar o efeito transbordamento do multiplicador da produção é necessário, primeiramente, calcular o multiplicador, o qual permite analisar o impacto da variação na demanda final de determinado setor sobre a variável econômica de interesse (Miller e Blair, 1985).

No presente estudo, a variável usada será a produção. Assim, dado que L =(I - A)-1 é a matriz inversa de Leontief, o multiplicador setorial de produção do setor j será:

em que lij representa os elementos da matriz inversa de Leontief e MPj é o multiplicador de produção do tipo I.

O multiplicador representa o valor total de produção de toda a economia, que é acionado para atender à variação de uma unidade na demanda final do setor j. Como este estudo é desenvolvido para 32 setores, i = j = 64.

Assim, o somatório dos elementos da matriz inversa referente à própria região constitui o efeito multiplicador interno, enquanto o somatório dos elementos da coluna j referente ao fluxo inter-regional de bens e serviços é o valor do transbordamento (efeito multiplicador fora da região de origem do setor). Como pode ser observado na equação (1), os elementos lij da matriz Lll, somados em colunas, são o efeito multiplicador dentro da região L, enquanto os somatórios das colunas da matriz LML são transbordamentos dos setores da região L para a região M.

O transbordamento do efeito multiplicador de dado setor de uma região em relação à outra pode ser apresentado tanto em termos absolutos quanto em valores percentuais. O efeito transbordamento mostra como o aumento da produção setorial em dada região impacta a produção dos setores de outra região.

3. Resultados e discussão

3.1. Interações sinérgicas e transbordamento do efeito multiplicador da produção entre o Paraná e o Restante do Brasil

Os resultados das interações sinérgicas para o Paraná e o Restante do Brasil para os anos de 1995 e 2000 estão resumidos na Figura 2. Ao analisá-los, nota-se que a produção do Paraná se tornou mais dependente do fluxo de comércio entre este e o Restante do Brasil de 1995 para 2000.


Em 1995, a interação entre o Paraná e o restante do país determinou que, cerca de, 25% da produção paranaense dependessem do fluxo de bens e serviços em direção ao Restante do Brasil e 7,5% do nível da produção nacional. Já em 2000, esses valores se elevam para cerca de 33% e 9%, respectivamente.

Paralelamente, o Restante do Brasil, que já apresentava elevada importância nas próprias relações intersetoriais para sua produção em 1995 (cerca de 98%), reforça essa posição em 2000, quando 99% da produção é determinada pelas ligações entre os setores de sua economia. Além disso, somente 1,36% da produção do Restante do Brasil dependeu do fluxo de insumos (bens e serviços) entre este e o Paraná em 1995, reduzindo essa dependência para 0,56% em 2000 (Figura 2).

A comparação dos resultados obtidos para os anos em tela indica que o Paraná aumentou a interação com os outros estados do País. Pode-se afirmar que houve relativo aumento do fluxo de insumos no sentido Restante do Brasil-Paraná, resultando em maior dependência da estrutura produtiva (consumo intermediário) deste estado em relação ao restante do País, ao mesmo tempo em que houve redução das vendas de insumos das empresas paranaenses para o restante do Brasil. Em 2000, as relações intersetoriais no Paraná eram responsáveis por 58,23% da produção, contra 67,08% em 1995 (Figura 2).

A maior interação sinérgica indica, ao mesmo tempo, a abertura da economia estadual e sua relativa dependência em relação aos fluxos de bens e serviços utilizados no consumo intermediário. Portanto, pode-se prever que o Paraná deve apresentar maior transbordamento do efeito multiplicador da produção setorial que o Restante do Brasil. Assim, o aumento global da produção estadual implicará na necessidade de incremento do fluxo de comércio entre este estado e o restante do País e o conseqüente aumento da produção em outras localidades, gerando o efeito transbordamento do multiplicador de produção.

O efeito do transbordamento do multiplicador de produção é mostrado, em valores e em percentuais, nas Tabelas 3 e 4 e ilustrado nas Figuras 3, 4, 5 e 6.





A análise dos resultados aponta que, se os setores do Paraná aumentassem sua produção, em média, 16% e 20% do efeito multiplicador, em 1995 e 2000, respectivamente, teria impacto fora do estado. Por outro lado, o transbordamento no sentido Restante do Brasil-Paraná não ultrapassaria 1% nos dois anos. Diante disso, pode-se afirmar que o Paraná apresentou crescimento de sua dependência em relação ao Restante do País e, ao mesmo tempo, elevação do efeito transbordamento (Tabela 3).

A análise mais detalhada mostra que o transbordamento do multiplicador de produção Paraná-Restante do Brasil para 1995 foi maior para os setores Siderurgia e Metalurgia (4) e Indústria da Borracha (10), sendo que o aumento da produção dessas atividades no Paraná geraria um efeito multiplicador de produção, fora da região de origem, que variaria entre 34% e 40%, em média. Por outro lado, se ocorresse aumento de produção dos setores alimentares (16 a 21), Madeira e mobiliário (8), Celulose, papel e gráfica (9) e Serviços industriais de utilidade pública (24) no Restante do Brasil, haveria um transbordamento do efeito multiplicador da produção dentro do Paraná de 3% (Tabela 3 e Figuras 3 e 4).

Para 2000, o transbordamento do multiplicador de produção Paraná-Restante do Brasil mostrou que os setores Siderurgia e Metalurgia (4), Fabricação de elétrico/eletrônicos (6), Equipamentos de transporte e peças (7), Indústria têxtil (14) e Vestuário, calçados, couros e peles (15) apresentaram os maiores valores, indicando que o aumento da produção dessas atividades no Paraná geraria um efeito multiplicador de produção fora da região de origem que variaria entre 31% e 44% (Tabela 4 e Figuras 5 e 6).

Em contrapartida, houve redução do transbordamento do efeito multiplicador de produção do Restante do Brasil para o Paraná em 2000. Assim, se ocorresse aumento de produção dos setores alimentares (18, 19, 21 e 22), Madeira e mobiliário (8) e Farmacêutica, veterinária e perfumaria (12) no Restante do Brasil, haveria transbordamento do efeito multiplicador da produção dentro do Paraná que variaria de 2% a 5% (Tabela 4 e Figuras 5 e 6).

4. Considerações finais

Este artigo teve como objetivo estimar e analisar o nível das interações sinérgicas e o transbordamento do efeito multiplicador da produção para 32 setores do sistema inter-regional Paraná-Restante do Brasil nos anos de 1995 e 2000.

As informações são oriundas das matrizes insumo-produto estimadas pelos autores para o Paraná, além da matriz insumo-produção nacional de 1995, construída pelo IBGE (1997), e de 2000, estimada por Guilhoto et al. (2002).

A metodologia utilizada neste artigo ainda é pouco empregada em estudos relativos à economia paranaense e lança luzes aos complexos efeitos sócio-econômicos que as políticas públicas podem gerar.

Os resultados mostraram que a dependência do Paraná em relação ao Restante do Brasil cresceu no período em tela, indicando maior interação comercial entre estas regiões. Em outras palavras, a sinergia entre as regiões se elevou, já que o fluxo de bens e serviços para alimentar o processo produtivo no interior do estado se intensificou no período. Foram encontrados, também, percentuais elevados de transbordamento do efeito multiplicador de produção em vários setores no Paraná, uma vez que a compra de bens intermediários e serviços que o estado fez de outras regiões impactou a produção destas economias.

Não obstante, o elevado efeito transbordamento da produção deve ser visto como um resultado de curto prazo, considerando que a tendência da economia estadual é produzir internamente parcela cada vez maior dos bens e serviços necessários ao seu processo produtivo. No médio e longo prazos, portanto, a exemplo do que ocorreu com a implantação do pólo automobilístico de Betim (MG), a economia paranaense criará as bases para atender às demandas oriundas da expansão, modernização e/ou dos novos setores componentes de sua estrutura produtiva.

Nesse sentido, o poder público, por meio de políticas que visem melhorar a infra-estrutura estadual e de políticas de estímulos setoriais, poderá colaborar, criando o aparato logístico e designando incentivos fiscais e/ou creditícios específicos que auxiliariam a iniciativa privada na implementação de suas atividades e na solução de problemas relativos ao comércio inter-regiões.

Para estudos futuros, outras variáveis, além da produção, poderiam ser contempladas em trabalhos que objetivem estimar a sinergia e o transbordamento do multiplicador, a exemplo do emprego, da renda e dos impostos. Esses estudos poderiam ser realizados com matrizes estruturadas em maior número de setores, o que permitiria melhor desagregação da estrutura produtiva das regiões e, consequentemente, maior precisão dos indicadores encontrados, fato que superaria uma limitação importante do presente trabalho.

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    Doutora em Economia Aplicada pela Esalq/USP e professora do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
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    Doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP e professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
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    Doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP e professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
  • 4
    Doutor em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisador do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), investigador do Laboratório de Contabilidade Social da UFPR e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). E-mail:
  • 5
    O sistema inter-regional Paraná-Restante do Brasil já foi usado em outros trabalhos, como Simões et al. (2003), Sesso et al. (2004) e Rodrigues et al. (2005).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Jan 2009
    • Data do Fascículo
      Set 2008
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