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Vítima e vilã: experiência ambígua de estudantes de enfermagem no contexto universitário

RESUMO

Objetivo

Compreender como os Estudantes de Graduação em Enfermagem significam o contexto universitário.

Método

Pesquisa de abordagem qualitativa, de natureza fenomenológica, fundamentada na ontologia de Maurice Merleau-Ponty, com participação de 41 estudantes de Graduação em Enfermagem de uma universidade pública do interior da Bahia, Brasil. Os dados foram coletados no período de fevereiro a abril de 2019, por meio de quatro rodas de Terapia Comunitária, cujo material produzido foi submetido à técnica Analítica da Ambiguidade.

Resultados

Da análise das descrições vivenciais emergiram duas categorias que revelam o significado atribuído pelos estudantes às suas vivências no contexto universitário: a universidade que gera sofrimento e a universidade que proporciona crescimento.

Considerações finais

Os estudantes de Graduação em Enfermagem significam o contexto universitário como uma experiência ambígua, ao mesmo tempo em que a universidade é apontada como geradora de sofrimento, ela é vista, também, como capaz de proporcionar crescimento intelectual, sociocultural, afetivo e político.

Palavras-chave
Estudantes de enfermagem; Saúde mental; Universidades

ABSTRACT

Objective

To understand how Undergraduate Nursing Students signify the university context.

Method

A qualitative research, of a phenomenological nature, based on the ontology of Maurice Merleau-Ponty, with the participation of 41 undergraduate nursing students from a public university in the interior of Bahia, Brazil. Data were collected from February to April 2019, using four wheels of Community Therapy, whose produced material was submitted to the Analytical of Ambiguity technique.

Results

From the analysis of the experiential descriptions, two categories emerged that reveal the significance attributed by students to their experiences in the university context: the university that generates suffering and the university that provides growth.

Final considerations

Undergraduate Nursing students signify the university context as an ambiguous experience, at the same time that the university is seen as generating suffering, it is also seen as capable of providing intellectual, sociocultural, affective and political growth.

Keywords
Students nursing; Mental health; Universities

RESUMEN

Objetivo

Comprender cómo los estudiantes de Grado en Enfermería entienden el contexto universitario.

Método

Investigación cualitativa, de carácter fenomenológico, basada en la ontología de Maurice Merleau-Ponty, con la participación de 41 estudiantes de pregrado en enfermería de una universidad pública del interior de Bahía, Brasil. Los datos se recolectaron de febrero a abril de 2019, utilizando cuatro ruedas de Terapia Comunitaria, cuyo material producido fue sometido a la técnica de Análisis de Ambigüedad.

Resultados

Del análisis de las descripciones vivenciales surgieron dos categorías que revelan el significado que los estudiantes atribuyen a sus vivencias en el contexto universitario: la universidad que genera sufrimiento y la universidad que brinda crecimiento.

Consideraciones finales

Los estudiantes de Licenciatura en Enfermería conciben el contexto universitario como una experiencia ambigua, al mismo tiempo que se percibe a la universidad como generadora de sufrimiento, también es vista como capaz de brindar crecimiento intelectual, sociocultural, afectivo y político.

Palabras clave
Estudiantes de enfermería; Salud mental; Universidades

INTRODUÇÃO

A inserção do estudante no mundo universitário o faz vivenciar uma série de mudanças em sua vida, bem como experienciar um novo horizonte, um desconhecido. Envolto por uma série de expectativas, medos e incertezas, o graduando vai se deparando com um turbilhão de possibilidades diante de novos conhecimentos, novas relações e também de responsabilidades, compromissos, desejos, provocando os mais variados sentimentos. Assim, o estudante vai se construindo diariamente, moldando-se, remoldando-se, vivendo - cada um à sua maneira - o que a universidade tem a lhe oferecer.

Na transição do Ensino Médio para o Ensino Universitário, o estudante vivencia processos emocionais paralelos: por um lado, o luto pela perda das peculiaridades da infância e pré-adolescência; e, por outro, as responsabilidades pela própria vida que precisam ser assumidas, quando é necessário fazer a escolha da profissão ao se submeter ao exame vestibular, mesmo sem ainda ter certeza de que aquela é a melhor opção11. Borine RCC, Wanderley KS, Bassitt DP. Relação entre a qualidade de vida e o estresse em acadêmicos da área da saúde. Estudos Interdisc Psicol. 2015;6(1):100-18. doi: https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6n1p100
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Essas vivências se tornam ainda mais intensas quando se trata de estudantes de cursos de graduação na área da saúde, como a Enfermagem, pois passam a enfrentar e lidar com situações dicotômicas, como saúde-doença e vida-morte, que precisam ser elaboradas para que não repercutam negativamente em sua saúde mental.

Com a necessidade de adaptarem-se às mudanças de vida e às novas demandas após a inserção na universidade, o estudante pode perceber esse processo como estressor, o que impacta diretamente na sua saúde22. Ariño DO, Bardagi MP. Relação entre fatores acadêmicos e a saúde mental de estudantes universitários. Psicol Pesqui. 2018 [cited 2019 Jul 17];12(3):44-52. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psipesq/v12n3/05.pdf
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. Devido às aulas práticas com vivências em ambiente clínico durante o processo de formação, os estudantes de Graduação em Enfermagem passam por situações desgastantes e referem altos níveis de estresse, que é potencializado por diversos fatores, como: sobrecarga nas atividades teórico-práticas; carga horária exaustiva de aulas, que resulta em acúmulo de atividades acadêmicas, gerando ansiedade e angústia; preocupações com o mercado de trabalho; atividades avaliativas; relação entre estudo, vida familiar e vida social; e, relação com o professor33. Rodrigues EOL, Marques DA, Lopes Neto D, Montesinos MJL, Oliveira ASA. Stressful situations and factors in students of nursing in clinical practice. Invest Educ Enferm. 2016;34(1):211-20. doi: https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n1a23
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-44. Sailer GC, Sanches GF, Vale BC, Pereira SS, Preto VA, Almeida CC. Burnout syndrome among graduates of undergraduate nursing course. J Nurs UFPE on line. 2017 [cited 2019 Jul 20];11(1):31-9. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/11875/14326
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Com o avançar dos semestres na universidade, além da obrigatoriedade de cumprimento da carga horária curricular, a maioria dos estudantes se envolve em atividades complementares e extracurriculares, como a iniciação científica, os projetos de extensão e a participação em cursos, o que aumenta a sobrecarrega e pode prejudicar a qualidade de vida33. Rodrigues EOL, Marques DA, Lopes Neto D, Montesinos MJL, Oliveira ASA. Stressful situations and factors in students of nursing in clinical practice. Invest Educ Enferm. 2016;34(1):211-20. doi: https://doi.org/10.17533/udea.iee.v34n1a23
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. Sendo assim, de certa forma, o contexto universitário impõe uma condição de vulnerabilidade ao segmento acadêmico para a ocorrência de transtornos mentais, o que leva a crer que aspectos relacionados à vida acadêmica podem impactar na saúde mental dessa população22. Ariño DO, Bardagi MP. Relação entre fatores acadêmicos e a saúde mental de estudantes universitários. Psicol Pesqui. 2018 [cited 2019 Jul 17];12(3):44-52. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psipesq/v12n3/05.pdf
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Os desafios inerentes ao processo de desenvolvimento pessoal, social e acadêmico que os jovens universitários vivenciam, exigem maturidade e autonomia para enfrentar as transformações naturais desse ciclo de vida, sobretudo devido às dificuldades em satisfazer suas demandas individuais, familiares, comunitárias55. Santos HGB, Marcon SR, Espinosa MM, Baptista MN, Paulo PMC. Factors associated with suicidal ideation among university students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2017;25:e2878. doi: https://doi.org/10.1590/1518-8345.1592.2878
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. As elevadas expectativas criadas no percurso acadêmico, as ambições pelo futuro profissional e pessoal, os medos e inseguranças relacionadas ao mercado de trabalho, comumente resultam em alta prevalência de problemas psicoafetivos, por vezes desconhecidos, o que interfere na possibilidade de tratamento66. Padovani RC, Neufeld CB, Maltoni J, Barbosa LNF, Souza WF, Cavalcanti HAF, et al. Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Rev Bras Ter Cogn. 2014;10(1):2-10. doi: http://doi.org/10.5935/1808-5687.20140002
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Quando não identificados e tratados, os sintomas depressivos, ansiosos e de estresse podem se potencializar, resultando em atitudes prejudiciais para a vida do estudante, como os casos de tentativa de suicídio e suicídio que têm sido noticiados em âmbito mundial. Deste modo, a relevância do estudo consiste em trazer ao universo da produção científica um tema atual e que tem se propagado nas mídias televisivas e digitais, devido à sua repercussão na vida dos jovens universitários. Urge falar, debater e propor um novo olhar para a saúde mental dos estudantes universitários, nas esferas sociais, políticas e psíquicas.

Diante desse contexto, delineou-se a questão que norteou o presente estudo: como os estudantes de Graduação em Enfermagem significam sua experiência vivida no contexto universitário? E, como objetivo do estudo: compreender como os estudantes de Graduação em Enfermagem significam sua experiência vivida no contexto universitário.

MÉTODO

Estudo fenomenológico, recorte da tese de doutorado intitulada “Percepção de estudantes do curso de graduação em Enfermagem sobre sua saúde mental”, de natureza qualitativa, sustentado na abordagem filosófica de Maurice Merleau-Ponty, mais especificamente na experiência do corpo próprio.

Para a compreensão dos resultados e discussão utilizamos as categorias apresentadas por Merleau-Ponty acerca da ambiguidade da percepção humana, que é permeada por dois polos, o sensível e o reflexivo, bem como a experiência de transcendência do corpo, de tornar-se o outro eu mesmo. O autor defende que toda percepção é ambígua, pois a natureza humana sensível está entrelaçada à nossa consciência reflexiva. Somos um corpo no mundo e do mundo em constante interação, que sente, deseja, sofre, pensa, percebe77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015.-88. Merleau-Ponty M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva; 2014..

Sabemos que as vivências dos estudantes no contexto universitário são vivências de intersubjetividade, de intercorporalidade, e que, por isso, são ambíguas. Assim, justifica-se a escolha da fenomenologia merleau-pontyana acerca da percepção, uma vez que o autor estuda a percepção enquanto experiência do corpo próprio, que é uma vivência ambígua.

Para o autor, toda percepção envolve um horizonte de passado e um horizonte de futuro que se atualizam em um presente, e cada vivência dessa síntese perceptiva é dinâmica, pois cada momento corresponde a uma nova vivência, na qual acontece a experiência de transcendência, a possibilidade de ressignificar sua pessoalidade e tornar-se um outro eu mesmo a partir da vivência da temporalidade77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015.,99. Sena ELS, Gonçalves LHT, Müller-Granzotto MJ, Carvalho PAL, Reis HFT. Analítica da ambiguidade: estratégia metódica para a pesquisa fenomenológica em saúde. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(4):769-75. doi: https://doi.org/10.1590/S1983-14472010000400022
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Essa abordagem se adequa ao objeto de estudo, uma vez que estamos estudando a percepção dos estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem em relação a como eles significam o contexto universitário. No caso dos estudantes universitários do estudo, percebemos que eles podem transcender, seja em uma perspectiva de sofrimento, de adoecimento, seja no sentido de crescimento, desenvolvimento pessoal, profissional, do aprendizado, da convivência. Pode ocorrer também a evolução da condição de sofrimento para a de saúde, ou ao contrário. São várias transcendências que acontecem em função dessa dinamicidade da percepção, pois, a cada vivência que o estudante vai tendo, ele vai desenvolvendo outra percepção.

Essas mudanças sempre acontecem na intersubjetividade, na intercorporalidade entre os próprios estudantes, entre estudantes e professores, com a comunidade intra e extrauniversitária. Para os estudantes significarem esse contexto, eles passam por diversas vivências intersubjetivas e intercorporais, de modo que, assim, vão tendo uma multiplicidade de percepções do cotidiano universitário. Ou seja, a percepção que temos de um objeto se dá a partir de todas as experiências que tivemos ou que poderíamos ter dele77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015..

O campo de estudo escolhido foi a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), localizada no município de Feira de Santana, Bahia, Brasil, que possui o Curso de Graduação em Enfermagem desde 1976, e oferece, atualmente, quarenta novas vagas a cada semestre. O ingresso para todos os cursos da referida universidade passou a ser 100% pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) desde o processo seletivo do início de 2019.

Participaram do estudo, estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem de todos os semestres, tendo como critério de inclusão: estar regularmente matriculado. Dessa forma, realizamos visita em todas as turmas, separadamente, para fazer o convite de participação na pesquisa e, na oportunidade, disponibilizávamos uma lista para os interessados assinarem. Naquele momento, já agendávamos o primeiro encontro com eles para dirimir possíveis dúvidas, bem como fazer a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do Termo de Assentimento (TA) visando obter a assinaturas nesses documentos.

Para obtermos as descrições vivenciais utilizamos como estratégia metodológica a Terapia Comunitária (TC) e de comum acordo, agendamos a data para a realização da primeira roda. A TC é uma Prática Integrativa e Complementar em saúde que consiste em um espaço de fala e de escuta no qual os participantes têm a oportunidade de falar de suas angústias, sofrimentos e, conforme o desenvolver da roda, podem encontrar caminhos para ressignificar o sofrimento. A cada roda de TC finalizada, deixamos agendada a próxima roda.

Assim, por meio de rodas de TC, ocupamo-nos de obter descrições das vivências junto aos estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem na tentativa de desvelar os fenômenos que envolvem sua saúde mental no contexto universitário. Optamos por realizar quatro rodas de TC temáticas para facilitar a condução da TC e direcioná-la ao alcance do objetivo do estudo. Os encontros das rodas de TC ocorreram no período de fevereiro a abril de 2019.

Cada encontro durou aproximadamente uma hora e meia, tempo em que, na condição de pesquisadora/terapeuta comunitária, realizávamos anotações, buscando sintetizar as falas, caracterizar os participantes quanto ao sexo e registrar horário de início e término da roda.

Todas as falas dos estudantes nas rodas de TC foram gravadas com aparelhos gravadores digitais, transcritas na íntegra para, em seguida, realizarmos a compreensão por meio da técnica Analítica da Ambiguidade. A sua aplicação envolve as seguintes etapas: organização dos textos resultantes das gravações, leituras exaustivas desses textos deixando saltar aos olhos os fenômenos, e, efetivação de categorias que revelam ambiguidade99. Sena ELS, Gonçalves LHT, Müller-Granzotto MJ, Carvalho PAL, Reis HFT. Analítica da ambiguidade: estratégia metódica para a pesquisa fenomenológica em saúde. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(4):769-75. doi: https://doi.org/10.1590/S1983-14472010000400022
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A pesquisa observou integralmente os preceitos éticos dispostos na Resolução Nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (CNS/MS)1010. Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial União. 2013 jun 13 [cited 2020 Sep 14];150(112 Seção 1):59-62. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=13/06/2013&jornal=1&pagina=59&totalArquivos=140
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. Foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (CEP/UESB) sob o nº 3.092.573 e CAAE 94544618.3.0000.0055. Os participantes assinaram o TCLE ou o TA em duas vias, declarando estarem cientes da finalidade da pesquisa e autorizando o uso das informações prestadas para fins científicos. Para preservar o anonimato, os estudantes escolheram os nomes próprios que desejaram para serem identificados na pesquisa.

RESULTADOS

Os participantes constituíram-se em 41 estudantes, contando com as quatro rodas de TC realizadas, sendo que 29 deles tiveram participação com expressão verbal. Destes, 35 estudantes eram do sexo feminino, o que reflete o perfil dos Cursos de Graduação em Enfermagem em relação à presença maior de mulheres, ao que parece ocorrer pela própria história de origem da Enfermagem, que perdura até os dias atuais.

A idade dos estudantes foi de 17 a 42 anos. Destes, 21 não escolheram o Curso de Graduação em Enfermagem como primeira opção e, somente uma estudante estudava e trabalhava, de forma que os demais, naquele momento, estavam exclusivamente dedicando-se aos estudos. Além disso, destaca-se que 22 estudantes informaram não morar com a família, uma vez que vieram de outro município para cursar a graduação.

Da análise das descrições vivenciais emergiram duas categorias: a universidade que gera sofrimento e a universidade que proporciona crescimento, a seguir apresentadas.

A universidade que gera sofrimento

As repercussões da inserção dos estudantes na universidade ocorrem em sua vida nas dimensões biológica/física, psicológica e sociofamiliar, como um todo, interligada.

Percebemos que na dimensão biológica/física as descrições corroboram a íntima relação entre as dimensões de nosso corpo. Logo, quando uma dimensão é afetada, a outra reflete o impacto. Os estudantes referiram alterações à dimensão biológica, mas acreditam que estão intimamente associadas aos aspectos psicológicos vivenciados no contexto acadêmico. Destacam que se sentem ansiosos em relação às aulas práticas nos serviços de saúde, sofrem com a pressão por parte dos professores e sentem dificuldade em administrar o tempo para conseguir realizar as atividades intra e extrauniversitárias. Nesse contexto, lhes ocorrem mudanças no apetite e insônia.

O que me fazia sentir, mesmo, no casulo, aqui na universidade, é a pressão dos professores [...]Eu não era ansiosa, e a partir da universidade comecei a ter transtorno de ansiedade; comecei a emagrecer. Era começar o estágio eu emagrecia, parava de comer, não me alimentava [...]. O auge foi no sétimo semestre [...], eu tive que tomar remédio para dormir porque eu ficava com medo de reprovar. (Alicia)

A universidade suga a gente e eu sofri muito com isso, porque eu gosto de praticar esportes, jogar bola, fazer karatê. E o que eu sinto é que a UEFS me tirou isso, pois desde que entrei aqui, não consigo ter um treino regular no karatê, não consigo tempo para mais nada. (Igor)

Tem vezes que eu não quero comer, não consigo comer nada; e às vezes, se brincar eu como até as paredes da casa. (Joana)

Depois que eu entrei no curso o que mais se destacou para mim foi que tudo isso repercutiu em insônia, ao ponto de ter que tomar remédio para dormir. (Juliana)

Em relação à dimensão psicológica, os estudantes revelam a coexistência entre eles com relação à dimensão sensível. Identificam o contexto universitário como adoecedor, como responsável pelos choros, pela ansiedade, pelas crises, pela tristeza sentida, pelo estresse; ou seja, tendem a culpabilizar a instituição pelo sofrimento, especialmente quando referem à pressão dos professores; à competitividade dos colegas; e ao excesso de carga horária. No entanto, velam o contexto socioantropológico que entorna outras dimensões de suas vidas.

No final do ano passado, que, como eu sou 2º semestre, eu peguei semiologia, era como se fosse uma pressão muito grande em cima de mim. Minha saúde mental estava lá embaixo. Tinha dias que, do nada, eu começava a chorar, porque não sabia o que fazer. Ficava muito trancada em casa, não queria sair, justamente porque estava me sentindo muito pressionada. Eu ainda não consegui encontrar uma fuga para isso, uma forma de tentar resolver essa minha pressão. Então, o que faço é ficar em casa chorando, sem saber o que fazer. Na hora, alivia, a gente passa a pressão para o choro, mas depois volta tudo a mesma coisa. (Brenda)

Minha primeira crise aqui na universidade foi ainda no primeiro semestre [...] No início a gente tinha dificuldade, acho que era geral, a gente estudava, estudava e não conseguia aprovar; tipo, não tirava notas tão boas [...]; cursei semiologia também, que foi o segundo desespero, o primeiro contato com o hospital; ocorreram as crises de ansiedade, o sentimento de incapacidade antes de chegar lá, o frio na barriga, o medo. (Sofia)

Quando iniciei semiologia, foi uma época de grande estresse, porque eu achava que não conseguiria passar; foi uma fase que eu fiquei muito mal emocionalmente. (Felipe)

Me sinto muito pressionada, principalmente no final do ano passado, por conta de seminários, provas. Do nada sentia vontade de chorar, a famosa crise de ansiedade. (Monalisa)

O nível de maturidade dos estudantes ao iniciar a vida universitária, com exigências de responsabilidade, disciplina e compromisso, também interfere no modo como eles conseguirão lidar com as demandas acadêmicas. Alguns sentem dificuldade para entender que a vida adulta está chegando e que é preciso tomar decisões e assumir a responsabilidade pela própria vida.

Eu cheguei aqui com 17 anos de idade, e tem uma cobrança muito grande dos professores, muita responsabilidade para você lidar numa idade em que você ainda não sabe realmente se é aquele curso que você quer para sua vida. E aí eu comecei a ter crise de ansiedade. (Joana)

Ao abordar o desconforto que sente no contexto universitário, uma participante revela certo sofrimento entrelaçado à falta de identificação com o curso, mesmo estando próxima à conclusão do mesmo, conforme se pode ver na descrição seguinte:

O que mais me faz sentir mal aqui na universidade são as práticas. Eu não sei se é porque não tenho certeza se quero ser enfermeira, apesar de já estar no nono semestre, eu não sei o que é não. Mas em todas as práticas eu não gosto, não tenho prazer de fazer [...]. Não me lembro se já passei um semestre sem chorar numa prática. (Rute)

A descrição que se segue nos faz ver que o estudante, ao escutar os pares comentarem sobre como sofrem na universidade, tende a repetir e generalizar o discurso. Com base na ontologia merleau-pontyana, o corpo constitui carne porosa e, como tal, emite e recebe informações que o faz experienciar o outro eu mesmo, seja no sentido de satisfação, seja na insatisfação e sofrimento77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015..

Eu acho que, no contexto universitário, o pior momento para a gente é a pressão que a gente sofre aqui, independente do semestre, e a tendência é sempre piorar, é o que dizem para gente e a gente incorpora. À medida que o semestre vai passando, todo mundo tende a ficar mais nervoso, mais estressado. É quase que um surto coletivo, você vê alguém estressado na sua turma, você fica estressado também [...]. Eu tive muitos transtornos psicológicos por causa das duas disciplinas que eu tive que desistir, porque eu me achava incapaz. (Renata)

Nessa descrição, percebemos a universalidade do sentir entre os estudantes, a coexistência, ou seja, o que um vive parece transcender ao outro77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015.. No que refere às vivências de sofrimento psíquico, os estudantes fazem ver que, à medida que um expressa sentimentos de ansiedade e de impotência, o semelhante é afetado e, aos poucos, todos da turma tendem a vivenciar sensações similares. Entretanto, também notamos na descrição a ambiguidade entre o sentir e o pensar. Ao mesmo que a participante revela compartilhar a natureza sensível com os pares, reconhece que o sentimento de impotência não está no outro, mas em si mesma.

Já em relação à dimensão sociofamiliar, mesmo com a expansão do sistema de ensino superior brasileiro, a inserção do estudante na universidade pode requerer o afastamento da família, especialmente se houver necessidade de mudança da cidade de origem, quando esta não possui uma universidade pública ou o curso de graduação desejado. Essa mudança pode impactar negativamente tanto a saúde mental do estudante como o desempenho acadêmico, uma vez que, com a distância física da família, diminui o suporte social e o apoio para as tomadas de decisões. Ademais, a ruptura da dinâmica familiar na vida de um adolescente e a inserção dele em um contexto desconhecido pode levá-lo a se sentir inseguro para construir novas relações e, consequentemente, ao isolamento.

Para mim, sem dúvida nenhuma, o que mais me faz sentir como casulo na vida universitária é a distância da família. Eu sou muito apegado à minha família e quando passo muito tempo longe, aquilo vai reverberando no meu emocional, até no meu rendimento na graduação. Quando vim para a universidade morei 2 anos e meio sozinho [...] então, às vezes, você se sente só demais, e fica triste. Assim, o primeiro impulso não é você ir contatar outras pessoas, mas é você ficar na sua, ficar mais recluso. (Felipe)

Alguns estudantes, a exemplo de Felipe, conseguem perceber que as vivências de sofrimento no contexto universitário não são geradas, exclusivamente, por eventos concernentes à academia, mas a fatores externos como a distância do seio familiar. No entanto, há aqueles que realmente atribuem à universidade a culpa pelo desconforto vivido, conforme se pode constatar na descrição seguinte:

Eu sempre falo da carga horária da universidade [...] parece que a universidade faz uma bolha e você tem que ficar dentro dela [...] A competitividade é um sofrimento desnecessário para todos, e eu acho que essa competitividade é construída dentro da universidade. (Rosa)

A necessidade de dedicação exclusiva à universidade foi destacada em algumas descrições. Os estudantes revelam comprometimento de todo o seu tempo com a realização das demandas acadêmicas e que não lhes resta oportunidade para que se dediquem à família, ao lazer, às relações afetivas, a um estilo de vida mais saudável, e até às atividades laborais:

Eu ficava sem ver meu namorado duas semanas, e eu ficava só estudando. Chegava em casa estudava, estudava, estudava, eu não queria ver ninguém. (Alicia)

Às vezes eu quero fazer algo e a carga horária acaba me impedindo, porque quando chega o final da semana tem que dar conta das disciplinas, dos trabalhos, das provas que você vai ter que realizar. Então, a gente tem aula manhã e tarde, chega à noite morta de cansada e você tem que estudar. E aí, às vezes, eu sinto falta de um tempo para mim. (Ana Helena)

O meu principal casulo nesse período todo de universidade foi depender financeiramente de meus pais [...]é a pior coisa, foi o que já me fez pensar em desistir da faculdade. (Juliana)

A universidade que proporciona crescimento

O ingresso na universidade e a dedicação ao mundo universitário exigem a ruptura com a rotina anterior e a construção de uma nova rotina, um novo estilo de vida, pois, nesse contexto, outras relações e formas de convivência são produzidas, bem como outras demandas comportamentais. Não obstante ocorrer tais mudanças à vida dos estudantes, a universidade lhes abre portas para a construção de um outro eu mesmo.

Embora as descrições revelem o discurso do sofrimento relacionado às demandas acadêmicas excessivas, à competitividade, à difícil relação entre professor e estudante devido à pressão imposta, elas também mostram o reconhecimento do crescimento pessoal, da autonomia e da independência, adquiridos a partir da imersão no ambiente universitário.

Para mim o sofrimento proporcionou maturidade, porque entrei mais novo do que a média aqui. Então, para eu me encontrar foi um pouco complicado, mas me fez amadurecer. (Igor)

Eu acho que foi um sofrimento necessário o fato ter chegado e ter me sentido muito sozinha, eu não tinha ninguém [...], hoje eu acho importante, porque eu pude abrir a minha mente, ter mais autonomia, ser mais independente. (Samanta)

Eu evoluí enquanto pessoa por estar sozinha aqui, saber fazer minha própria comida, que eu não sabia, lavar minha roupa, me virar. Porque sempre dependi muito da minha mãe. (Rosa)

Estar bem sozinho foi uma coisa que eu descobri vivenciando a universidade, quando eu vim para cá, no período que eu morei só, principalmente. (Felipe)

Uma coisa boa que a universidade me trouxe foi maturidade e resiliência. (Sofia)

Inserir-se na universidade, começar a lidar com situações completamente diversas das vivenciadas anteriormente no meio escolar e familiar, proporcionam a transcendência para o amadurecimento, desenvolvimento enquanto ser humano, estímulo ao exercício da cidadania, capacidade de se tornar resiliente, tudo isso faz o estudante vivenciar a experiência do “eu posso”. A seguir, notamos o exercício perceptivo sob o olhar figura-fundo, quando a estudante olha para a dificuldade, para o desafio e percebe a possibilidade do tornar-se um outro eu mesmo.

Em relação às disciplinas, realmente são difíceis, mas quanto mais a disciplina é difícil e no final eu consigo me sair bem, eu gosto, porque me desafia. Mesmo sendo sofrido, no final quando eu consigo superar, para mim tem um retorno muito grande. (Juliana)

Além disso, a vivência do contexto universitário numa dimensão mais ampliada, para além do Curso de Graduação em Enfermagem, como, por exemplo, através da participação e composição do movimento estudantil, foi apontada por uma participante como oportunidade de transcendência para o crescimento pessoal, relacional, dialógico e político. Assim, a história social que ela vem construindo na universidade vai torná-la diferente de outros estudantes que não vivenciaram o movimento.

Eu vejo como um ponto muito positivo para mim é estar inserida dentro do movimento estudantil, que eu gosto, é algo que me fortalece, e quando estou dentro de algo que envolve o movimento estudantil, me faz sentir borboleta dentro do espaço universitário. E também é algo que, de alguma maneira, melhora e me ajuda no quesito saúde mental. (Marina)

A universidade também aparece como um ambiente de proteção para os estudantes que estão na reta final do curso, tendo em vista a insegurança com relação à inserção no mercado de trabalho. Assim, o estudante vive a ambiguidade. Por um lado, sofre com as pressões e sobrecargas do contexto universitário, por outro, deseja permanecer nele, pois o mundo fora dele é incerto.

Eu acho que o casulo, ao mesmo tempo que aprisiona, também protege. Então, eu vejo que a universidade, hoje, ela para mim representa uma proteção nesse sentido. Porque eu já estou saindo, falta só mais um semestre, e quando eu sair desse casulo? (Rute)

DISCUSSÃO

Em se tratando de um estudo fenomenológico, cuja matriz teórica versa sobre a suspensão de discursos naturalizados, mediante a compreensão texto e contexto, figura e fundo, a discussão dos resultados está sustentada no referencial teórico-filosófico que norteou toda a construção da pesquisa, sendo ele a abordagem de Maurice Merleau-Ponty acerca da percepção.

O autor aborda a percepção humana a partir do que considera como corpo próprio. Para o filósofo, o corpo corresponde à temporalidade, que consiste na síntese perceptiva, ou seja, no ato de perceber, a pessoa atualiza no presente um horizonte de passado e outro de futuro, sempre de forma criativa. O próprio significa a capacidade que a pessoa tem de transcender-se, no sentido de mudança do self, por meio do fluxo do tempo (temporalidade). Assim, Merleau-Ponty descreve o corpo próprio como intercorporalidade, considerando que nenhum ser humano vive para si mesmo, mas de forma intersubjetiva77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015..

Desse modo, tendo como fundamento a linguagem merleau-pontyana, a discussão dos resultados do estudo sobre a percepção de estudantes de Graduação em Enfermagem em relação à sua saúde mental está pautada no entrelaçamento daquilo que se mostra como ambiguidades nas descrições vivenciais produzidas com eles, e a ontologia do corpo próprio. Tal proposta se opõe completamente ao determinismo das ciências naturalistas, segundo o qual as coisas já são em si mesmas.

Nessa perspectiva, a universidade vista como um “em si” pelos estudantes no contexto da temática em questão aponta em direção à coerência da escolha do referencial teórico de Merleau-Ponty para a sustentação do estudo, uma vez que a abordagem do autor se contrapõe a todo discurso objetivista. Assim, entendemos que a intersubjetividade estabelecida com os participantes resultou na descrição de suas vivências no contexto universitário, e não na explicação de situações que eles apontam como geradoras de sofrimento, nem tampouco das manifestações deste, uma vez que toda explicação já se constitui discurso naturalizado.

Portanto, em nosso estudo, buscamos desconstruir teses, discursos incorporados no ambiente sociocultural que se repetem irrefletidamente como se fossem verdades absolutas, como a ideia de que “a universidade adoece”. Propusemos, então, ultrapassar a ideia do “em si mesmo” e compartilhar um novo modo de pensar sobre o tema, partindo do entendimento de que toda vivência é ambígua, uma vez que envolve a intersubjetividade.

Graças a essa ambiguidade da percepção humana, podemos desenvolver um olhar figura e fundo e ver, por exemplo, que as demandas acadêmicas e as relações conflituosas emergentes do meio universitário são perfis de uma totalidade que escapa qualquer tentativa de apreendê-la por completa. Trata-se da reflexividade de cada estudante, que o faz ser, ao mesmo tempo, semelhante aos demais de sua espécie, e distinto, por sua experiência sociocultural.

Merleau-Ponty defende que todo conhecimento é produzido na intercorporalidade, mediante relação dialógica. Portanto, cada ato comunicativo é intercorporal e desvela um novo perfil na dinâmica da percepção77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015.. Por conseguinte, as vivências dos estudantes de Enfermagem desveladas nas descrições se mostraram para nós não como categorias definidas ou concepções acabadas, mas como perfis das ambiguidades concernentes ao corpo próprio.

O contexto universitário tem sido alvo de críticas no cenário mundial, pelo modo como a sua comunidade tem sofrido ao vivenciá-lo. Entretanto, percebemos uma culpabilização naturalizada em relação à universidade, que a inscreve como principal responsável pelo que se sofre. Nesse sentido, os estudantes veem a universidade como algo em si mesma, como vilã de todo desconforto e sofrimento que vivenciam em qualquer das dimensões física/biológica, psicológica e sociofamiliar. É um olhar objetivista, como se estivessem de fora da universidade, e não como quem está inserido nela, fazendo parte dela.

Os participantes do estudo revelaram que o cotidiano acadêmico afeta negativamente sua saúde mental devido às mudanças que acontecem na rotina e estilo de vida frente às demandas da instituição. Como resultado dessas mudanças, lhes ocorrem, por exemplo, tristeza, episódios de choro, falta de apetite, insônia, isolamento, crises de ansiedade, entre outras manifestações. À luz do pensamento merleau-pontyano, entendemos que culpabilizar o contexto universitário por esses eventos, ignorando a reflexividade de cada estudante, constitui atitude objetivista, ou seja, foca-se na figura (um perfil) e perde-se de vista o fundo (a totalidade de onde emerge o perfil).

A alteração no padrão de sono, relatada como redução de sua quantidade, foi muito referida pelos participantes. Este fato corrobora estudo realizado com outros estudantes da área da saúde, cujos resultados e discussão sustentam a forte associação entre a diminuição do sono e a ocorrência de ansiedade, o que afeta o interesse pelas atividades cotidianas e pode gerar outros problemas de saúde1111. Leão AM, Gomes IP, Ferreira MJM, Cavalcanti LPG. Prevalência e fatores associados à depressão e ansiedade entre estudantes universitários da área da saúde de um grande centro urbano do nordeste do Brasil. Rev Bras Educ Med. 2018;42(4):55-65. doi: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n4rb20180092
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Não obstante os estudantes culpabilizarem a universidade por afetar a sua saúde mental, a literatura aponta outros aspectos que os tornam mais vulneráveis às situações de sofrimento descritas por eles, como situações socioeconômicas e familiares1212. Labrague LJ, McEnroe-Petitte DM, Al Amri M, Fronda DC, Obeidat AA. An integrative review on coping skills in nursing students: implications for policymaking. Int Nurs Rev. 2018;65(2):279-91. doi: https://doi.org/10.1111/inr.12393
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. Portanto, não é a universidade em si mesma a vilã do sofrimento. Ela apresenta perfis de um universo de fatores que podem contribuir para a expressão de sofrimentos. Entendemos que o estudante, ao adentrar a universidade e começar a compartilhar de vivências que os levam a vê-la como um “em si”, ele passa a projetar nela as angústias e sofrimentos advindos de outras vivências.

Nos semestres iniciais ocorrem as dificuldades de adaptação, de gerenciamento do tempo, de compreensão da nova dinâmica de vida, do estabelecimento e construção de novos vínculos, além das exigências de muita dedicação aos estudos, disparidade entre obrigação e lazer e medo de não conseguir alcançar resultados desejados ao longo do Curso. Ademais, o estudante também pode vivenciar relações conflituosas com professores, sentindo-se pressionado por eles1313. Silva RM, Costa ALS, Mussi FC, Lopes VC, Batista KM, Santos OP. Health alterations in nursing students after a year from admission to the undergraduate course. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03450. doi: https://doi.org/10.1590/s1980-220x2018008103450
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As descrições revelaram, também, que os estudantes vivenciam dois tipos de pressão. Ao mesmo tempo em que falam sobre a pressão da parte de professores, referem sofrer autopressão, uma pressão exercida de si para consigo mesmos. Essa última pode ocorrer de forma ainda mais intensa nos dois semestres que antecedem a conclusão do curso de graduação em Enfermagem, nos quais realizam estágios com supervisão indireta dos professores, pois se sentem como profissionais dos Serviços de Saúde e, embora tenham o apoio e as orientações necessárias para os estágios, necessitam ter mais autonomia, responsabilidade e tomada de decisão do que aqueles de semestres anteriores1414. Restelatto MTR, Dallacosta FM. Vivências do acadêmico de enfermagem durante o estágio com supervisão indireta. Enferm Foco. 2018;9(4):34-8. doi: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2018.v9.n4.1156
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Nesse sentido, em muitas situações, o estudante se percebe sozinho. Assim, por um lado, pode emergir sentimento de autossuficiência, uma vez que passa a executar ações sem a presença do professor. Por outro lado, pode se sentir desamparado1414. Restelatto MTR, Dallacosta FM. Vivências do acadêmico de enfermagem durante o estágio com supervisão indireta. Enferm Foco. 2018;9(4):34-8. doi: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2018.v9.n4.1156
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e ansioso, e apresentar episódios de choro e desespero em ambientes de estágio.

Dessa forma, corroboramos a ontologia merleau-pontyana acerca da dinâmica do ser e, assim, percebemos que as ambiguidades vivenciadas pelos estudantes de Enfermagem no contexto universitário acontecem no entrelaçamento constante do sentir e do pensar88. Merleau-Ponty M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva; 2014., dimensões próprias da natureza humana no âmbito da percepção. As descrições evidenciam que desde os primeiros semestres do curso os estudantes são afetados, tanto por sua resposta intuitiva singular diante da nova realidade a que são submetidos, como pela incorporação de discursos deterministas de colegas, a exemplo da tese de que a ansiedade e o sofrimento vividos no começo do curso tendem a intensificar ao longo da trajetória acadêmica.

Ao incorporar essa tese, os estudantes passam a propagar a ideia de que a universidade os adoece. Portanto, nosso estudo ressoa a crítica merleau-pontyana ao objetivismo e ao determinismo peculiares às ciências naturais77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015., pois consistiu em suspender as teses que saltavam aos nossos olhos durante a leitura atenta das descrições dos participantes, e em reconhecer em nosso próprio corpo as ambiguidades88. Merleau-Ponty M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva; 2014., também, encontradas no outro e no mundo sociocultural no qual nos inserimos.

Com essa compreensão, não estamos ignorando o fato de que o contexto universitário pode favorecer a ocorrência de sofrimento e adoecimento mental, pois nosso corpo, enquanto experiência perceptiva, constitui carne porosa88. Merleau-Ponty M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva; 2014. e, como tal, afeta e é afetado na intersubjetividade. O que refutamos é a assertiva objetivista encontrada na literatura de que todas as fases da graduação e as relações produzidas na universidade se configuram como processos criadores ou patogênicos para o estudante, interferindo no aspecto educacional, social e psicológico1515. Castro VR. Reflexões sobre a saúde mental do estudante universitário: estudo empírico com estudantes de uma instituição pública de ensino superior. Rev Gestão Foco. 2017 [cited 2019 Nov 11];9:380-401. Available from: http://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/043_saude_mental.pdf
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, sem, contudo, problematizar todo o entorno sociofamiliar implicado à vida dos estudantes.

Todo ser humano vivencia experiências de sofrimento psíquico durante a vida, que pode evoluir e se expressar nas relações1616. Macêdo S. Sofrimento psíquico e cuidado com universitários: reflexões e intervenções fenomenológicas. Ecos. 2018 [cited 2019 Nov 11];8(2):265-77. Available from: http://www.periodicoshumanas.uff.br/ecos/article/view/2844/1566
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. Porém, o modo como o sofrimento ocorre à vida é que dependerá da reflexividade de cada pessoa, permitindo-lhes vivenciar significados distintos, uma vez que o sofrimento está associado à experiência do corpo próprio a partir da temporalidade.

As descrições dos participantes corroboram o que versa a literatura acerca da temática, que o estudante de Enfermagem, geralmente, dedica todo o seu tempo às atividades acadêmicas e, em função disso, pode desenvolver sofrimento e adoecimento em sua integralidade, o que envolve as dimensões física, psíquica e sociocultural1111. Leão AM, Gomes IP, Ferreira MJM, Cavalcanti LPG. Prevalência e fatores associados à depressão e ansiedade entre estudantes universitários da área da saúde de um grande centro urbano do nordeste do Brasil. Rev Bras Educ Med. 2018;42(4):55-65. doi: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n4rb20180092
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,1313. Silva RM, Costa ALS, Mussi FC, Lopes VC, Batista KM, Santos OP. Health alterations in nursing students after a year from admission to the undergraduate course. Rev Esc Enferm USP. 2019;53:e03450. doi: https://doi.org/10.1590/s1980-220x2018008103450
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. Não obstante, mais uma vez, à luz de Merleau-Ponty, refutarmos essa perspectiva objetivista, pois se apoia em estabelecer relações de causa e efeito diante de situações complexas como as de sofrimento.

Estudo aponta que “o sujeito contemporâneo é portador de sentimento de impotência diante das elevadas exigências de desempenho e, sendo livre, pode tanto investir na sua tendência criadora de vida e amor, quanto nas destruidoras, sendo capaz de aniquilar aquilo que ele mesmo construiu”1616. Macêdo S. Sofrimento psíquico e cuidado com universitários: reflexões e intervenções fenomenológicas. Ecos. 2018 [cited 2019 Nov 11];8(2):265-77. Available from: http://www.periodicoshumanas.uff.br/ecos/article/view/2844/1566
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. Para Merleau-Ponty, independentemente das circunstâncias vivenciadas, sejam de estresse, tensão emocional, desconforto, dor, sofrimento, ou satisfação, prazer, saúde e vida, sempre há a possibilidade de transcendência, a pessoa poderá tornar-se outra. Assim, de certa forma, as vivências dos estudantes universitários de Enfermagem, seja em contexto de proteção ou de vulnerabilidade, resultam em crescimento pessoal e social.

Nesse contexto, o estudo mostra que a elaboração de vivências universitárias ocorre de forma distinta em cada estudante, dependendo de inúmeros fatores singulares, com maior ou menor vulnerabilidade psicológica, facilidade ou dificuldade para os relacionamentos interpessoais, uso de estratégias de enfrentamento e mecanismos adaptativos1717. Nogueira-Martins LA, Nogueira-Martins MCF. Saúde mental e qualidade de vida de estudantes universitários. Rev Psi Divers Saúde. 2018;7(3):334-7. doi: http://doi.org/10.17267/2317-3394rpds.v7i3.2086
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O estudante que transcendeu para uma situação de sofrimento pode produzir resiliência e evoluir para um perfil de saúde, de qualidade de vida. Com base na ontologia de Merleau-Ponty, compreendemos que sofrimento produzido e vivido no período coincidente de imersão do estudante na universidade passa a ser um horizonte de passado, que o corpo, como potência, tornou possível a experiência do “eu posso”, pela capacidade de tornar-se um outro eu mesmo mediante a temporalidade77. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2015..

O modo como cada ser humano conseguirá lidar com as demandas acadêmicas, se transcende para o aniquilamento, o adoecimento, ou para o crescimento intelectual e pessoal, isso dependerá de seu universo socioantropológico. A literatura aponta, por exemplo, que a prática religiosa constitui fator de proteção ao sujeito, auxiliando-o no modo de lidar com o sofrimento, assim como os vínculos interpessoais podem exercer forte influência no comportamento da pessoa, como nos casos de ideação suicida55. Santos HGB, Marcon SR, Espinosa MM, Baptista MN, Paulo PMC. Factors associated with suicidal ideation among university students. Rev Latino-Am Enfermagem. 2017;25:e2878. doi: https://doi.org/10.1590/1518-8345.1592.2878
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. Ademais, existe maior correlação entre a prevalência de depressão em estudantes e relacionamentos insatisfatórios com familiares, amigos, colegas e docentes1111. Leão AM, Gomes IP, Ferreira MJM, Cavalcanti LPG. Prevalência e fatores associados à depressão e ansiedade entre estudantes universitários da área da saúde de um grande centro urbano do nordeste do Brasil. Rev Bras Educ Med. 2018;42(4):55-65. doi: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v42n4rb20180092
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O período universitário possui uma importância significativa na vida do adolescente/jovem adulto, pois é marcado por muitas experiências novas, desafios e eventos de vida. Durante esse período de transição, os estudantes adquirem mais independência e liberdade, experimentam mudanças nos sistemas sociais, adquirem relevantes habilidades para a vida, além do diploma, que lhe possibilita um futuro melhor1818. Stoliker BE, Lafreniere KD. The influence of perceived stress, loneliness, and learning burnout on university students' educational experience. Coll Student J. 2015 [cited 2019 Oct 14];49(1):146-60. Available from: https://www.researchgate.net/publication/282817514_The_Influence_of_Perceived_Stress_Loneliness_and_Learning_Burnout_on_University_Students'_Educational_Experience
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Assim, apesar das descrições vivenciais desvelarem sofrimento, o mundo universitário também é marcado por crescimento, na perspectiva da formação tanto profissional quanto humana. Além do desenvolvimento intelectual e aquisição de uma bagagem de conhecimentos, o sujeito também desenvolve habilidades para relações interpessoais, para comunicação, adquire liberdade, autonomia, independência e senso de responsabilidade.

Contudo, o jovem estudante, visto como um ser em transição, passando por um processo de preparação para a vida adulta, vive conflitos de insegurança e dificuldade para tomada de decisões. Com estruturas sociais cada vez mais instáveis, esse jovem pode se manter em permanente tensão entre o presente e o futuro. Ao mesmo tempo em que possui desejo de independência, tem dificuldade de se libertar dos vínculos de dependência, pelo medo de enfrentar a vida adulta.

Essa ambiguidade se mostra nas descrições dos participantes de nosso estudo quando referem a universidade como espaço de segurança social, de proteção, mas, também, de insegurança, pois sentem medo e preocupação quanto aos possíveis desafios que enfrentarão para se inserirem no mercado de trabalho após a conclusão do Curso. Esses estudantes desvelam um não saber de si pelo movimento de transcendência das experiências perceptivas.

Diante das descrições nas quais os estudantes de Enfermagem revelam queixas de sofrimento, que atribuem à inserção no contexto universitário, independente se os argumentos constituem ou não uma visão objetivista, no sentido em que culpabilizam a instituição como geradora de fatores que os adoecem, percebemos a necessidade de a universidade envidar esforços no sentido de planejar e implementar estratégias de cuidado, tanto de promoção da saúde, quanto de intervenção para o manejo do sofrimento no meio acadêmico, visando ao bem-estar dos estudantes dentro e fora do ambiente universitário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O olhar figura-fundo, próprio da ontologia de Merleau-Ponty, possibilitou-nos compreender como os estudantes de Graduação em Enfermagem significam o contexto universitário. Percebemos nas descrições, que eles veem a universidade como um em si, como vilã responsável pelo sofrimento que vivenciam na trajetória acadêmica. Reproduzem o discurso objetivista de culpabilização da universidade, vendo-a como quem está de fora, e não como quem a vive de fato; focam o olhar em um perfil e vela a totalidade de onde ele emerge.

O estudo mostra que as demandas universitárias exigem mudanças nas rotinas de vida dos estudantes, que, somadas à singularidade de cada um e aos aspectos sociofamiliares e culturais, podem afetar a saúde mental deles. Entretanto, a inserção no meio acadêmico e o compartilhamento de vivências que os levam a vê-la como vilã fazem com que projetem nela todas as angústias e sofrimentos produzidos por outras vivências.

Nesse sentido, os estudantes relataram que, desde os primeiros semestres do curso, são afetados em sua saúde de forma integral, envolvendo as dimensões física, social, emocional e cultural. Destacaram, também, que o modo como o sofrimento acontece na vida de cada um, bem como a forma como eles conseguem lidar com isso, dependem de seu universo socioantropológico. Assim, não se pode estabelecer relação de causa e efeito, devido à complexidade que envolve as situações de sofrimento.

Com base no pensamento merleau-pontyano, compreendemos que as ambiguidades vivenciadas pelos estudantes no contexto universitário ocorrem no entrelaçamento constante do sentir e do pensar. Ao mesmo tempo em que a universidade é apontada como geradora de sofrimento, ela é vista, também, como capaz de proporcionar crescimento intelectual, sociocultural, afetivo e político. Portanto, independente das circunstâncias vividas, seja de sofrimento ou de satisfação e prazer, o estudante sempre poderá ressignificar sua vida e tornar-se um outro eu mesmo.

Acreditamos que o estudo poderá contribuir para que se possa ter um olhar diferenciado aos estudantes universitários, sobretudo os do curso de graduação em Enfermagem, devido à sua especificidade, que envolve a vida do estudante nos aspectos físico, psicológico, sociofamiliar e cultural. Para tanto, é necessário que o corpo docente reflita sobre o modo de estimular e produzir conhecimento, buscando a construção de relações saudáveis com os estudantes e a promoção da saúde mental. Esperamos, também, que o estudo possa mobilizar atores sociais e políticos a envidar esforços que visem a amparar as demandas de saúde mental da comunidade acadêmica, inclusive com formulação e implementação de políticas de cuidado em saúde mental e redução do sofrimento.

Apontamos como limitações do estudo o fato de não termos uma rede de apoio à saúde mental consolidada e com disponibilidade na universidade, para que seja possível fazer encaminhamentos de algumas necessidades desveladas a partir das rodas de TC. Ademais, devido à realização de rodas temáticas, voltadas para o alcance do objetivo do estudo, possivelmente, muitas outras demandas ficaram suprimidas. Assim, entendemos que há muito que desvelar do vivido no mundo universitário.

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Editado por

Editor associado

Cíntia Nasi

Editor-chefe

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    14 Set 2020
  • Aceito
    26 Mar 2021
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