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Imigrantes japoneses em Marco zero e Amar, verbo intransitivo

Japanese immigrants in Marco zero and Amar, verbo intransitivo

Resumos

Este artigo analisa as imagens que Marco zero, de Oswald de Andrade, e Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, projetam dos imigrantes japoneses, contra o pano de fundo de suas relações com o povo brasileiro. Tal análise leva em conta a caracterização dos personagens nipônicos pelos romancistas, sobretudo no que diz respeito às suas individualidades.

Japoneses; brasileiros; imigrantes


This paper analyzes the Japanese immigrants' images that Oswald de Andrade's Marco zero and Mário de Andrade's Amar, verbo intransitivo project, against the background of their relations to the Brazilian people. This analysis takes into consideration the making-up of the Nipponese characters by the novelists, over all concerning their individualities.

Japanese men; Brazilian men; immigrants


  • 1
    1 Apud HANDA, Tomoo. Memórias de um imigrante japonês no Brasil São Paulo: T. A. Queiroz, 1980, p. 6.
  • 9 Cf. ANDRADE, Oswald de. A revolução melancólica Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, p. 280.
  • 17 Cf. ANDRADE, Oswald de. Chão Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, p. 228-229.
  • 21 Cf. ALVES, Castro. "A queimada", poema do livro A cachoeira de Paulo Afonso, lido na antologia Canto da esperança Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
  • 22 Cf. ANDRADE, Mário de. Amar, verbo intransitivo São Paulo: Livraria Martins Editora, 1972, p. 93-95.
  • 25 Idem, ibidem. O narrador refere-se ao francês Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), que em 1853 se fez conde e escreveu o Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, no qual defende a superioridade da raça ariana. De abril de 1869 a maio de 1870, o conde de Gobineau foi ministro (embaixador) da França junto à corte de D. Pedro II, tornando-se amigo do imperador brasileiro. De volta ao país natal, chegou a cogitar escrever uma "novela brasileira", o que lhe pareceu "impossível", de um lado porque os brasileiros "não despertam nenhum interesse e não têm nem costumes nacionais nem nada de particular, a não ser uma excessiva depravação com o qual se pode fazer um livro muito severo e muito duro, mas não uma novela"; de outro, porque "gosto demais do Imperador para escrever uma só palavra contra este povo infame. Todos mulatos, a ralé do gênero humano, e costumes condizentes. Estão pervertidos pela escravidão dos negros, e os negros pervertidos por…" (cf. RAEDERS, Georges. O inimigo cordial do Brasil: o conde de Gobineau no Brasil. Trad. Rosa Freire d'Aguiar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 181-182).
  • 26 Cf. ANTÔNIO, João. Fujie. In: _____. Malagueta, Perus e Bacanaço Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, p. 27-33.
  • Registro semelhante é feito por Oswald de Andrade em Um homem sem profissão: sob as ordens de mamãe (Memórias: 1890-1919). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, p. 138.
  • 27 O narrador de Marco zero dá voz e guarida a praticamente toda a ideologia antinipônica sustentada e propagada, no período de concepção e composição do romance (grande parte da década de 1930 e início da década de 1940), por intelectuais como Vivaldo Coaracy (autor de O perigo japonês), Félix Pacheco, Arthur Neiva, Antônio Xavier de Oliveira, Miguel Couto, Francisco José de Oliveira Vianna, que alertaram contra o perigo de os imigrantes japoneses constituírem "quistos raciais" no Brasil, por conta de serem "inassimiláveis". Os argumentos então empregados – alguns inspirados nas ideias de Gobineau, tomadas como científicas, outros misturando manifestações de antiniponismo com declarações de seus autores protestando que não seriam racistas – são expostos, contextualizados e discutidos por NUCCI, Priscila. Os intelectuais diante do racismo antinipônico no Brasil: textos e silêncios. Dissertação de Mestrado em História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, Campinas, 2000, 156f.
  • 28 "Minto por disciplina social e para não casar novamente na polícia", diz Serafim Ponte Grande, o personagem-título do romance de Oswald de Andrade (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980, p. 171) que Antonio Candido tem na conta de uma das "expressões máximas" da comicidade popularesca que "foge às esferas sancionadas da norma burguesa e vai encontrar a irreverência e a amoralidade de certas expressões populares" (cf. CANDIDO, Antonio. Dialética da malandragem. In: _____.O discurso e a cidade São Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 53).
  • 29 A suposição de que os japoneses não seriam inferiores, mas o contrário, também aparece no debate sobre a imigração nipônica no Brasil, mas de modo a reforçar a tese de sua exclusão. Apoiando-se em pesquisa feita pelos americanos Porteus e Babcock sobre os japoneses no Havaí, em 1926 (Temperament and Race), Oliveira Vianna afirma que os nipônicos devem ser excluídos precisamente por não serem inferiores: "Para nós o problema da assimilação do immigrante japonez é infinitamente mais difficil de resolver do que o dos immigrantes das outras raças aqui affluentes – e isto, não pela sua inferioridade, que fica patente não existir, mas pela sua incapacidade de se deixar absorver pela massa nacional. Qualidade que elle revela de modo quasi agressivo no Hawai, segundo os dois autores citados, e que, penso, há de se revelar em qualquer parte onde se fixe" (cf. VIANNA, Oliveira. Raça e assimilação São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1934, p. 209).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 2012

Histórico

  • Recebido
    11 Abr 2012
  • Aceito
    06 Jul 2012
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