Acessibilidade / Reportar erro

A relação entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários brasileiros

Resumos

O objetivo desse artigo é descrever a relação existente entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários do primeiro ano de graduação da Universidade de São Paulo-Ribeirão Preto. O Youth Risk Behavior Survey (YRBS) é um questionário anônimo que foi utilizado para a coleta de dados. A amostra foi composta por 200 (100%) alunos de primeiro ano. Destes, (50%) eram homens e (50%) mulheres, com idade entre 18 e 26 anos. Os resultados mostraram a presença do uso recreacional de substâncias psicoativas, com as mulheres bebendo dentro dos limites de baixo risco e os homens mais pesadamente. Para o uso de drogas ilícitas, os resultados foram em menor proporção para ambos os sexos. Os homens dirigem mais sob efeito do álcool que as mulheres e estiveram mais envolvidos em brigas com amigos e polícia do que as mulheres. Em relação aos comportamentos sexuais, os homens tiveram relações em maior número, com um número maior de parceiras e com menor proteção e sob efeito de álcool. Este estudo conclui que o gênero está associado com o uso recreacional de drogas, bem como outros comportamentos de riscos entre estudantes universitários.

estudantes; fatores de risco; drogas ilícitas


The aim was to describe relationships between gender and drug use as well as risk behaviors that may be associated with drug use among first-year students at the University of São Paulo-Ribeirão Preto. The Youth Risk Behavior Survey (YRBS) is an anonymous survey that was used for this descriptive correlational study. It was developed by the Centers for Disease Control and Prevention in the United States. The sample (n=200) included (50%) males and (50%) females. Their ages ranged from 18 to 26 years. Results showed that more female than male students use alcohol and tobacco, but that the probability of heavy consumption is higher among men. There was a low incidence of illicit drug use for both groups. Male students were more likely to drive under the influence of alcohol than female students and more men were involved in violent behaviors such as fights with friends and police. In relation to sexual behavior, male students were likely to have more partners and less protection while under influence of alcohol. It was concluded that gender is associated with recreational drug use, specifically tobacco and alcohol, as well as other risk behaviors in university students.

students; risk factors; street drugs


El uso de sustancias psicoactivas entre estudiantes ha sido muy investigado en las últimas décadas con objeto de fortalecer campañas preventivas de drogas. La finalidad de este estudio es describir la relación existente entre el uso de drogas y comportamientos de riesgo entre los universitarios del primer año de pregrado de la Universidad de São Paulo-Ribeirão Preto, Brasil. El Youth Risk Behavior Survey (YRBS) es un cuestionario anónimo que fue utilizado para la recopilación de datos. La muestra fue compuesta por 200 (100%) alumnos del primer año. El 50% de estos eran hombres y el 50% mujeres, con edad de 18 a 26 años. Los resultados mostraron la presencia del uso recreativo de sustancias psicoactivas. Las mujeres beben dentro de los límites de bajo riesgo, mientras los hombres tienen consumo más pesado. Para el uso de drogas ilícitas, los resultados fueron en menor proporción para ambos sexos. Los hombres dirigen más bajo el efecto del alcohol que las mujeres y se involucran más en peleas con amigos y con policía en comparación con las mujeres. En relación a los comportamientos sexuales, los resultados apuntan que los hombres también mantuvieron mayor número de relaciones, con un número mayor de parejas, con poca protección y bajo el efecto del alcohol. Este estudio demuestra que el género es asociado al uso recreativo de droga, bien como otros comportamientos de riesgo entre estudiantes universitarios.

estudiantes; factores de riesgos; drogas ilícitas


ARTIGO ORIGINAL

A relação entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários brasileiros1 1 As opiniões expressadas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam a posição da organização onde trabalham ou de sua administração

La relación entre el uso de drogas y comportamientos de riesgo entre estudiantes brasileños

Sandra Cristina PillonI; Beverley O'BrienII; Ketty Aracely Piedra ChavezIII

IDocente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e-mail: pillon@eerp.usp.br

IIRN, RM, DNS, Faculdade de Enfermagem da Universidade de Alberta, e-mail: beverley.obrien@ualberta.ca

IIIRN, Msc. Faculdade de Enfermagem da Universidade de Guayaquil, Ecuador

RESUMO

O objetivo desse artigo é descrever a relação existente entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários do primeiro ano de graduação da Universidade de São Paulo-Ribeirão Preto. O Youth Risk Behavior Survey (YRBS) é um questionário anônimo que foi utilizado para a coleta de dados. A amostra foi composta por 200 (100%) alunos de primeiro ano. Destes, (50%) eram homens e (50%) mulheres, com idade entre 18 e 26 anos. Os resultados mostraram a presença do uso recreacional de substâncias psicoativas, com as mulheres bebendo dentro dos limites de baixo risco e os homens mais pesadamente. Para o uso de drogas ilícitas, os resultados foram em menor proporção para ambos os sexos. Os homens dirigem mais sob efeito do álcool que as mulheres e estiveram mais envolvidos em brigas com amigos e polícia do que as mulheres. Em relação aos comportamentos sexuais, os homens tiveram relações em maior número, com um número maior de parceiras e com menor proteção e sob efeito de álcool. Este estudo conclui que o gênero está associado com o uso recreacional de drogas, bem como outros comportamentos de riscos entre estudantes universitários.

Descritores: estudantes; fatores de risco; drogas ilícitas

RESUMEN

El uso de sustancias psicoactivas entre estudiantes ha sido muy investigado en las últimas décadas con objeto de fortalecer campañas preventivas de drogas. La finalidad de este estudio es describir la relación existente entre el uso de drogas y comportamientos de riesgo entre los universitarios del primer año de pregrado de la Universidad de São Paulo-Ribeirão Preto, Brasil. El Youth Risk Behavior Survey (YRBS) es un cuestionario anónimo que fue utilizado para la recopilación de datos. La muestra fue compuesta por 200 (100%) alumnos del primer año. El 50% de estos eran hombres y el 50% mujeres, con edad de 18 a 26 años. Los resultados mostraron la presencia del uso recreativo de sustancias psicoactivas. Las mujeres beben dentro de los límites de bajo riesgo, mientras los hombres tienen consumo más pesado. Para el uso de drogas ilícitas, los resultados fueron en menor proporción para ambos sexos. Los hombres dirigen más bajo el efecto del alcohol que las mujeres y se involucran más en peleas con amigos y con policía en comparación con las mujeres. En relación a los comportamientos sexuales, los resultados apuntan que los hombres también mantuvieron mayor número de relaciones, con un número mayor de parejas, con poca protección y bajo el efecto del alcohol. Este estudio demuestra que el género es asociado al uso recreativo de droga, bien como otros comportamientos de riesgo entre estudiantes universitarios.

Descriptores: estudiantes; factores de riesgos, drogas ilícitas

INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicoativas entre estudantes tem sido investigado de longa data, com o objetivo específico de identificar e estudar intervenções que possam diminuir o uso de drogas neste grupo(1). Informações sobre a relação entre o uso de drogas e comportamentos de riscos em ambientes escolares são necessários para o desenvolvimento de ambientes livre de drogas e violências. A maturidade de idéias vem com o crescimento no reconhecimento por parte dos pesquisadores sobre as altas prevalências dos problemas de saúde e os riscos para a sociedade associados com o uso de drogas entre os adolescentes e jovens. Muitos dos estudos onde este tema pode ser explorado foram conduzidos em escolas/universidades que são locais de fácil acesso a um grande numero de indivíduos e considerados populações alvo para intervenções preventivas(2).

O uso recreacional de drogas entre esta população é preocupante. Os estudantes universitários são considerados um grupo especial para a investigação científica no país, principalmente devido a sua importância para o futuro no desenvolvimento de nossa sociedade em um mundo altamente complexo(3).

Estudos da prevalência do uso de drogas entre estudantes brasileiros tem sido realizado freqüentemente em universidades e principalmente no Estado de São Paulo, com vistas ao planejamento de campanhas preventivas e direcionamento de políticas universitárias em relação ao uso de drogas O Brasil, a partir dos anos 80 é o país latino americano que tem gerado mais dados sobre dependência, bem como padrões de consumo de drogas e álcool em populações específicas(4), incluindo estudantes de 1º e 2º grau(5-7), estudantes universitários(3), e graduandos de medicina(3-4).

O uso do álcool por diversas populações e contextos tem recebido considerações especiais, devido à facilidade de acesso, baixo custo e permissividade social e desinibidor das inibições entre aqueles que o usam. A literatura deixa evidente que o álcool é a substância mais que tem maior associação com os comportamentos de riscos(8), devido aos efeitos sobre o comportamento e está envolvida na violência farmacológica(9).

A relação direta e mais comum entre o álcool e a agressão é através da intoxicação(10), explicado pelos de indução da agressão, que ocorre através da falta de inibição do medo, em função da ação ansiolítica(10), também pode aumentar a percepção da dor, que pode ser uma das causas de maior agressão defensiva. No entanto, pode servir como um mecanismo de gatilho para prover atos de agressão para aqueles que realmente tem propensão em relação à violência e que se encontra em situações de "agressividade"(11). A exemplo estão as alterações nas funções cognitivas, diminui assim a capacidade do indivíduo em planejar ações em resposta às situações de ameaça (exemplo: agir sem pensar).

Várias tentativas de formular uma teoria compreensiva da relação entre o uso de substâncias psicoativas, violência e agressão. Para entender essa relação o autor(8) revisou pesquisas e conceitos das pesquisas biológicas, psicofarmacológicas, psicológicas e modelos psiquiátricos, perspectivas sociais e culturais na tentativa de apresentar um modelo dessa relação que poderia ser relevante para os adolescentes e jovens da América-Latina. Muitos pesquisadores concordam que a área mais importante de consenso dessas diferentes perspectivas é que, a intoxicação tem um impacto significante sobre as habilidades e funcionamento cognitivo e que a natureza desse impacto varia de acordo com o tipo de substância usada, mas é moderado pelo contexto no qual o comportamento acontece.

Por exemplo, o significado cultural e social, como a pessoa funciona sob influência das substâncias psicoativas, o impacto da intoxicação sobre o julgamento, a habilidade de perceber as situações sociais; e a habilidade para focar os resultados a curto-prazo, e os desejos são fatores extremamente importantes que determinam os resultados da situação social na qual a drogas está presente e se a situação resultará em violência. A presença ou a escalada da violência também são influenciadas pela intoxicação do in

Através da literatura(3-7) e da experiência prática, considero que os estudantes universitários são vulneráveis quando expostos a presença ao uso de substâncias psicoativas. O uso das substâncias muitas vezes acaba resultando em comportamentos de riscos, nos motivou a desenvolver o presente estudo.

Nossa preocupação está centrada na entrada dos estudantes na faculdade, neste período, as atividades culturais geralmente são celebradas com festas e na maioria das vezes com a presença do uso de álcool, e nessa fase pouco estudantes tem experiênciado o uso de outras substâncias. Então as situações de entrada na universidade, afastamento da família, a ligação com novas amizades fazem parte de uma fase de mudança que pode colocar em maior risco para o uso de substâncias, por pressão dos amigos ou pela aquisição de independência torna-se potenciais para tais comportamentos. No entanto, o ambiente torna-se favorável para experimentar a droga e além envolver em outros comportamentos inesperados (dirigir embriagado, fazer sexo sem proteção).

O objetivo desse é descrever o uso de drogas entre alunos de primeiro universitário, conhecer o padrão de uso das substâncias usadas e comparar a relação entre o uso de drogas, os comportamentos de risco e o gênero.

METODOLOGIA

Este é um estudo quantitativo descritivo, faz parte do Projeto CICAD/OEA com participação de 13 países da América - Latina que estão trabalhando em parceria na formação de enfermeiros na redução da demanda de drogas.

Os dados foram coletados entre os estudantes do primeiro ano de graduação na Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto.

Foi utilizada uma amostra não probabilística ou seja, não representativa em que as pessoas foram convidadas a participar do estudo.

O Youth Risk Behavior Survey (YRBS) é um questionário utilizado em levantamentos, para ser respondido anonimamente e voluntariamente. Ele foi desenvolvido pelo Center for Disease Control and Prevention(11) para monitorar a prevalência de comportamentos do uso de substâncias e de riscos entre jovens, dados sobre. Embora o questionário seja de domínio público, mesmo assim foi solicitada ao CDC uma autorização para a sua utilização no Brasil, com obtenção positiva para utilização e modificação.

O questionário original YRBS monitora seis categorias de comportamentos: a) comportamentos sem intenção que contribuem para danos e violência, b) o uso do álcool, c) o uso do tabaco e de outras drogas, d) comportamentos sexuais; (e) atividade física, e (f) dieta. Sendo que para as categorias atividades físicas e dieta foram excluídas. As categorias acrescentadas foram o uso de substância, percepção dos riscos (disponibilidade das drogas, riscos para o uso de drogas), e a percepção em relação com a violência e comportamentos agressivos (violência, agressão rebeldia, comportamento anti-social).

Para a realização do projeto foi solicitada uma autorização dos diretores das faculdades envolvidas, onde foi esclarecido os objetivos do estudo. Após esse consentimento, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMRP.USP e da Universidade de Alberta. A análise de dados deu-se por meio do programa estatístico SPSS - Statistical Program of Social Science v.11 for Windows.

RESULTADOS

O questionário foi distribuído aos estudantes de primeiro ano de graduação das áreas, biológicas, exatas e humanas, perfazendo um total de 200(20%) dos estudantes. Dentre esses, 100(50%) são do sexo feminino e 100(50%) do sexo masculino, com idade média 19 anos com desvio padrão de 2 anos, idade mínima 18 e máxima de 26 anos; solteiros 197(98%), católicos 110(55%), moram com os pais 69(34.5%), em média possuem uma família com 4 pessoas e 93(46.5%) nunca mudaram de domicilio.

Entre as substâncias psicoativas utilizadas pelos familiares encontramos que 75(37.5%) pais fazem uso de bebida alcoólica e 25(12.5%) das mães fumam.

Para esta amostra, os estudantes do sexo masculino responderam usar mais intensivamente nas três categorias (uso experimental, moderado e pesado) comparados com as estudantes do sexo feminino.

Diferença significativa entre o gênero p.<0.005.

Para esta amostra Foi encontrado diferenças estatísticas significativas entre o gênero porém podemos notar que embora a amostra é grande, ela não é representativa da população de estudantes.

Em relação à idade em que fez o uso de álcool pela primeira vez foi em média de 13 anos (Dp = 2 anos) com idade mínima de 10 e máxima de 18 anos e para o uso experimental de drogas (exceto o álcool) a idade média foi de 16 anos (desvio padrão de 1.64 anos) com mínima de 10 e máxima de 18 anos. Tais resultados dão indicadores que o inicio do uso do álcool e mesmo de drogas, provavelmente tenha sido antes do ingresso na universidade.

Os estudantes do sexo masculino 36(18%) dirigiram 7 vezes ou mais sob influência do álcool, enquanto as estudantes 14(7%) pelo menos 1 vez.

Nesta amostra, 150(75%) estudantes ficaram embriagados, sendo que 66(33%) homens se embriagaram 7 vezes ou mais, enquanto que 24(13.5%) mulheres o fizeram de 1 a 2 vezes. Entre os homens 55(27.5%) apresentaram comportamentos como "estar alto ou intoxicado pelo uso de drogas", e para estado de embriaguez na universidade 47(23.5%) do sexo masculino. Ou seja os estudantes apresentam intoxicações mais freqüentemente que as estudantes.

Avaliando o uso de substâncias nos últimos 30 dias, encontramos que 35(17.5%) fumaram de 1 a 19 dias, sendo 24(68.6%) homens. Quanto ao uso do álcool 175(78.5) beberam, sendo 100% do sexo masculino, e 30(10.5%) dos homens fizeram uso de maconha, com diferença significativa entre o gênero. Os estudantes do sexo masculino fazem uso dessas substâncias em maior freqüência comparada com as estudantes.

Nos últimos trinta dias, o uso de inalantes foi de 5(2.5%), cocaína 1 (0.5%) e LSD 8(4%) entre os estudantes, sem diferença significativa entre o gênero.

Uso nos últimos 30 dias na universidade de substâncias psicoativas, 11(5.5%) dos estudantes do sexo masculino fumaram 1 a 2 dias, 21(10.5%) tomaram pelo menos 1 dose de álcool. A mesma quantidade fumou maconha.

Quanto ao comportamento do uso de substância entre os estudantes, encontramos que 53(26.5%) dos estudantes gostam beber de maneira suficiente para ficar um pouco alto, enquanto as estudantes 37(18.5%) não bebem, e as que bebem 30(15%) gostam de tomar de 1 a 2 goles, um beber dentro dos limites considerados de baixo risco.

Referente ao dirigir embriagado; 95(47.5%) estudantes relataram que dirigiram sob influência do álcool, destes as estudantes 21(10.5%) fizeram 1 a 2 vezes, enquanto os estudantes 36(18%) 7 ou mais vezes..

Quanto perguntado sobre a percepção de uso prejudicial de substâncias, encontramos que os estudantes masculinos 39(19.5%) consideram o uso ocasional do cigarro extremamente prejudicial, enquanto as estudantes 45(22.5) consideram prejudicial.

Para o uso ocasional do álcool os estudantes consideram 30(15%) prejudiciais e as estudantes 40(20%) prejudiciais.

Quanto à percepção do uso da maconha ambos os estudantes 58(29%) consideram extremamente prejudicial. Para anfetamina e exctase de unanimidade extremamente prejudicial entre ambos os sexos sem diferença significativa.

Encontramos ainda que 66(33%) das estudantes percebem o uso de maconha muito errado. Das estudantes 36(18%) percebem que o uso de bebidas alcoólicas não é totalmente errado. Nós encontramos que 68(34%) delas percebem o uso do cigarro muito errado. Avaliação da escala das percepções quanto ao uso de substância encontramos Alfa de Crombach .8293.

As estudantes apresentam percepções de alto risco maior que os estudantes para o fumar um ou mais maços cigarro por dia 80(40%), fumar maconha uma a duas vezes 46(23%), fumar maconha ocasionalmente 59(29.5%) e bebida alcoólica 68(34%).

Ambos os estudantes consideram muito fácil obter cigarro e bebida alcoólica. Para a obtenção de maconha e metanfetamina os estudantes do sexo masculino consideram fácil.

Os locais em que os estudantes acham possível conseguir drogas são 72(144%) em festas ou eventos fora da universidade e 131(65.5%) na universidade, através de amigos 119(59.5%) e vendedores de drogas e ou traficantes 91 (46%).

Em relação percepções dos motivos que levam os estudantes a usar substâncias psicoativas 48 (74%) usam bebidas alcoólicas para se divertir, 118(59%) para alegrar-se de seus problemas e 108(54%) porque seus amigos o fazem.

Os estudantes estimam que em média 22% dos estudantes de seu curso fumam menos 1 vez ao mês, (Dp14%), variando de 10% a 60%. Em relação à porcentagem de pessoas que tem provado maconha, acham em média 35%dos estudantes de seu curso o fazem, (Dp 23%) variando de 10% a 80%.

Quando perguntados sobre a percepção quanto a punição pelo uso de substâncias na universidade, 95(47.5%) dos estudantes responderam que é possível um estudante ser suspenso, expulso ou transferido se for pego usando ou possuindo álcool ou outras drogas na Universidade.

Quanto à possibilidade de encontrar ajuda para os problemas relacionados ao uso de substâncias, encontramos que 99(49.5%) dos estudantes acham que é possível um estudante encontrar ajuda na universidade.

Os comportamentos apresentados nos últimos 12 meses, na universidade foram que 61(30.5%) dos estudantes foram vitimas de gozação devido ao aspecto ou pelo jeito que fala e medo de ser golpeado, 48 (24%) por ter sido vitima de fofocas ou mentiras 39(19.5%) 4 vezes ou mais. Para essa escala de vitimização encontramos um Alfa de Crombach 0.88.

Comparando o comportamento sexual entre a amostra, 128 (64%) dos estudantes tiveram relações sexuais, sendo que 87(68%) eram do sexo masculino.

Comparando o comportamento sexual entre o gênero encontramos que 55(27.5%) das estudantes nunca tiveram relações sexuais, enquanto os estudantes 35(17.5) tiveram com 2 pessoas, 20(10%) usaram álcool ou drogas antes da relação sexual, sendo 15(75%) do sexo masculino, 66(33%) dos estudantes usaram preservativos, sendo que 43(65%) eram do sexo masculino.

Referente a honestidade em responder as perguntas, encontramos que a maioria dos estudantes 141(70.5%) foi honesta em responder todas as perguntas, sendo que as estudantes 92(46%) foram em maior quantidade comparada com os estudantes.

Em relação aos problemas causados pelo uso de substâncias, 56(28%) dos estudantes esqueceram o que aconteceu ou desmaio devido ao uso do álcool. Entre os estudantes que fizeram uso de álcool 56(28%) nunca tiveram problemas, enquanto ao uso da maconha 9 tiveram outros problemas. Os problemas relacionados ao uso do álcool foi maior em relação ao uso da maconha.

DISCUSSÃO

Este estudo avaliou a relação do uso de drogas e os comportamentos de riscos entre os estudantes de primeiro ano de graduação de uma universidade pública brasileira. O uso de drogas nessa população é preocupante uma vez que o uso recreacional está presente. Este é um estudo descritivo de levantamento, foi realizado através de uma amostra não representativa, foram entrevistados aleatoriamente 200 estudantes, sendo, 50% para cada sexo.

A amostra desse estudo foi composta por estudantes jovens de primeiro ano de graduação. A maioria possui religião, mora com os pais, e pouco se mudaram de domicilio. Características consideradas fundamentais nos fatores de proteção para o uso de substâncias psicoativas, embora a presença de familiares de uso de drogas como as bebidas alcoólicas e o cigarro (pai, mãe, irmão) que também podem favorecer o uso. Tais dados são semelhantes aos encontrados em outras universidades brasileiras(4).

Não foi possível obter uma amostra representativa para o estudo, mas foram uma proporção substancial de participantes (20%) da população total. Aparentemente houve poucas diferenças entre os estudantes do sexo feminino e masculino no estudo em relação ao uso de drogas e como eles lidam com seus comportamentos agressivos e violentos. Para a maioria das variáveis, os homens relataram usar substâncias psicoativas (lícitas e ilícitas) e padrão de uso (uso freqüente e pesado).

O álcool foi à substância mais usada pelos estudantes, com padrão de consumo "uso na vida" (86.5%), nos "últimos 6 meses" (71%), uso nos "últimos 30 dias" (78.6%) e nos últimos 30 dias na universidade (46.5%), tal fato foi evidente na maioria dos estudos que envolveram estudantes universitários no Brasil(3, 12).

O uso de uma dose álcool entre a maioria dos estudantes está em consonância com o estudo americano que mostra que mais da metade dos estudantes fazem uso excessivo de álcool e 40% das estudantes relataram que pelo menos em uma ocasião se intoxicaram nas últimas 2 semanas(13).

Os motivos em que dos estudantes pensam a respeito "do porque jovens usam bebidas alcoólicas", a maioria das respostas foi para se divertir, para alegrar-se de seus problemas. A maneira que os estudantes geralmente gostam de fazer uso foi para ficar alto ou "embriagado".

Pesquisas experimentais têm mostrado que muito dos resultados das mudanças nos comportamentos não devido não somente a ação farmacológica do álcool, mas também pelas crenças dos sujeitos(14). Ainda, a relação álcool e comportamentos de risco não estão somente relacionados às conseqüências do beber, mas também sobre o que as pessoas acreditam sobre as conseqüências, em diferentes culturas, os bebedores podem ter diferentes expectativas sobre os efeitos do álcool.

Os estudantes do sexo masculino dirigem mais freqüentemente embriagados que as estudantes. Dirigir sob influência de álcool é um dos fatores de riscos mais comuns entre os jovens e que podem estar relacionados a fatalidade.

O uso do tabaco também esteve bastante presente entre os estudantes. Houve uma percepção de uso prejudicial por parte destes, porém a prevalência ainda é considerável. Aparentemente a freqüência do fumar é baixa (a maioria, de 1 a 2 dias), não caracterizando um uso continuo. Para o uso de cigarro "na vida" foi de (65%), já nos últimos 6 meses (44.5%), uso nos últimos dias (17.5%) e nos últimos 30 dias na universidade (14%). Tais resultados indicam que os estudantes dessa amostra têm fumado em maior freqüência na vida comparado com o estudo(12) entre estudantes que identificou 43.1% para o uso na vida. Ainda, comparando com outro estudo de relevância(15) envolvendo os estudantes do Campus USP São Paulo, apresentou uma prevalência do uso de tabaco foi de 50,5% na vida e 20.16% uso nos últimos dias.

A idade de uso experimental para o uso de álcool e drogas (13 & 16 anos), têm sido bastante jovem e provavelmente tem se iniciado antes mesmo de iniciar a vida universitária.

No estudo(15), o autor compara o uso de drogas entre o gênero e encontrou-se que os estudantes fazem mais uso de álcool, inalantes, anabolizantes, crack, cocaína, alucinógenos e maconha. As mulheres fazem mais uso de tranqüilizantes, anfetaminas e opiáceos. O que pouco diferenciou desse estudo, pois as drogas foram álcool, tabaco e maconha com prevalência do sexo masculino.

O terceiro tipo de droga mais usada entre os estudantes foi a maconha, considerada a drogas ilícita de maior uso entre adolescentes dos paises desenvolvidos que vem aumentando nas ultimas décadas. Uma das possíveis explicações para tal fato é a percepção de que a maconha é uma "droga leve", sem muitas conseqüências para a saúde do individuo, em contraste com outras drogas licitas(3).

O uso e abuso do álcool constituem um significante problema entre estudantes dos diversos campus universitários. Recentes pesquisas relatam que aproximadamente 90% dos estudantes fazem uso de álcool e 25 a 50% de maneira abusiva(13). Estudantes que "bebem pesado" desenvolvem conseqüências negativas, tais como acidentes, prejuízos na escola, e comportamentos sexuais de riscos.

A maioria dos estudantes acha possível conseguir drogas em festas ou eventos fora da universidade (72%) e na universidade (65%), através de amigos (59.5%). O uso de drogas e os comportamentos de riscos no campus podem estar fortemente relacionados, porém, muitos jovens relataram o uso álcool e de drogas fora da universidade, tal fato pode estar também relacionado a vinculação desses jovens a grupo de amigos, que aumentam ainda mais a probabilidade do uso dessas substâncias no campus. Existem diversos razões ou motivos para o beber, que tem mostrado ser influenciadores do uso do álcool. Considerando que os motivos sociais não estão relacionados ao beber pesado e sim ao beber socializador que está presente entre os jovens.

Nem todos os cursos de graduação oferecem informações a respeito do uso de drogas. Torna-se necessário uma discussão da necessidade de inserção de conteúdos a respeito do uso de substâncias psicoativas nos diversos programas de graduação na universidade.

Menos da metade considera possível um estudante ser suspenso, expulso ou transferido se for pego usando ou possuindo álcool ou outras drogas na Universidade, isso pode estar relacionado à falta de políticas específicas relacionada ao uso de drogas no campus.

Pesquisas indicam que o gênero pode ser um indicador da violência relacionados na escola, os homens provavelmente envolvem-se mais em atos violentos e à violência relacionada aos comportamentos e geralmente são mais ameaçados ou prejudicados em relação às mulheres no ambiente escolar.

Estudos sobre jovens que usam substâncias psicoativas e comportamentos agressivos têm enfatizado sobre a violência física(8). No entanto, esses comportamentos são apenas algumas das respostas agressivas dos conflitos interpessoais. Durante uma discussão, por exemplo, os jovens podem engajar em agressão, mas não em respostas físicas (ex. gritar) ou sem confronto, mas hostil ou respostas de evitação. Estas respostas são de mecanismos de enfrentamento mal-adaptados, eles não contribuem para a resolução do problema e discordância para gerar conflitos interpessoais.

O uso de substâncias psicoativas tem maiores probabilidades de comportamentos de risco como exemplo, o uso de preservativos e número de parceiros. Um dos fatores que contribui para o risco de doenças sexualmente transmissíveis são os comportamentos relacionados ao uso do álcool e drogas e as relações sexuais. Pesquisas sobre esse tema sugerem que o uso do álcool ou de drogas aumenta a probabilidade de relações sem proteção e maiores riscos para doenças sexualmente transmissíveis.

O uso de drogas é considerado um comportamento de alto risco para a infecção pelo HIV. Mesmo as pessoas que não se injetam drogas mas as consomem de outra maneira podem se infectar por meio de relações sexuais sem preservativos. Diversos estudos têm mostrado que as pessoas sob efeito do álcool freqüentemente se envolvem em relacionamentos sexuais sem proteção(11).

CONCLUSÃO

Embora esse estudo tenha sido realizado com uma amostra não representativa foi possível identificar a característica dos alunos de graduação de primeiro ano da universidade, identificar o padrão de uso de drogas dentro e fora do ambiente universitário e avaliar assim os alguns comportamentos de risco entre o gênero. A relação entre uso de substâncias psicoativas e violência é multidimensioal e condicionada pelos fatores sociais(8).

Nós identificamos a presença do uso de drogas recreacionais entre os estudantes. O álcool continua sendo a droga de maior uso entre os estudantes, seguido pelo tabaco e maconha. O sexo masculino mais freqüentemente apresentou altos índices de consumo, freqüência e tipo de substâncias usadas de forma mais intensa que as mulheres. As mulheres fazem uso de álcool dentro dos limites do beber. Enquanto os estudantes gostam de beber de maneira a embriagar-se ou ficar alto e também para alegrar-se.

Os episódios de "beber pesado" são relativamente um fenômeno entre os estudantes, e estudantes que bebem excessivamente apresentam riscos aumentados para uma variedade conseqüências.

O sexo masculino apresenta maiores freqüências de atividades sexuais, com maior numero de parceiras, porém as estudantes embora em menor o fazem com menor proteção, ou seja, poucas referiram o uso de preservativos pelos parceiros.

A universidade pode ser um ambiente vulnerável ao uso de substâncias psicoativas, porém o uso experimental vem anterior ao ingresso na universidade.

Este estudo pode servir como um direcionamento para a realização de outros estudos maiores com amostra representativa da população de estudantes universitários. Este fato pode ser um caminho para a discussão da inserção da temática droga nos diversos cursos oferecidos no Campus USP, além do planejamento de políticas de prevenção no contexto universitário.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Comissão Interamericana para o Controle de Abuso de Drogas/CICAD, ao Programa de Bolsas da OEA, ao Governo do Japão, a todos os docentes da Universidade de Alberta/Canadá, e aos onze representantes dos sete países da América Latina que participaram do "I Programa Internacional de Pesquisa" implementado na Universidade de Alberta/Canadá no ano de 2003-2004.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

11. Youth violence in the United States. Center for Disease Control and Prevention. [serial online] 2000 [cited 2004 Set 3]; (1): [24 screens]. Available from: URL: http://www.cdc.gov/ncipc/factsheets/yvfacts.htm

Recebido em: 29.11.2004

Aprovado em: 21.6.2005

  • 1. Lange JE, Clapp JD, Turrisi R, Reavy RL, Jaccard J, Johnson MB, et al. College Binge Drinking: What Is It? Who Does It? Alcoholism: Clin Exp Res 2002; 26(5):723-30.
  • 2. Botvin GJ, Botvin EM, Ruchlin H. School-based approaches to drug abuse prevention: evidence for effectiveness and suggestions for determining cost-effectiveness. In: National Institute on Drug Abuse. Cost-benefit/cost-effectiveness research of drug abuse prevention: implications for programming and policy. Washington; Govt Print Off.; 1998. (NIDA Research Monogr. n. 176.).
  • 3. Andrade AG, Queiroz S, Villaboim RCM, César F, Alves MCGP, Bassit AZ, et al. Uso de álcool e drogas entre alunos de graduação da Universidade de São Paulo (1996). Rev ABP-APAL 1997; (19):53-9.
  • 4. Kerr-Corrêa F, Andrade AG, Bassit AZ, Boccuto NMVF. Uso de álcool e por estudantes de medicina da UNESP. Rev Bras Psiquiatria 1999; 21(2):95-100.
  • 5. Carlini-Cotrin B, Carlini EA, Silva ARF, Barbosa MTS. O uso de drogas psicotrópicas por estudantes de 1º. e 2º. graus da rede estadual, em dez capitais brasileiras, 1987. In: Centro de Documentação do Ministério da Saúde. Brasília (DF): MS; 1989. n.9-84. (Série C: Estudos e Projetos Consumo de drogas psicotrópicas no Brasil em 1987).
  • 6. Galduróz JCF, D'Almeida V, Carvalho V, Carlini EA. 3. Levantamento sobre uso de drogas entre estudantes de 1o. e 2o. graus em 10 capitais brasileiras (1993). São Paulo: CEBRID/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP); 1994.
  • 7. Scivoletto S, Tsuji RK, Carmita HNA, Queiróz S, Andrade AG, Gattaz WF. Relação entre consumo de drogas e comportamento sexual de estudantes de 2º grau de São Paulo. Rev Bras Psiquiatria 1999; 21(2):87-94.
  • 8. Fagan J. Intoxicacao and agression in drugs and crime. In: Crime and Justice: a review of reserch. Chicago: Univ Chicago Press; 1990.
  • 9. Lavine R. Psychopharmacological treatment of aggression and violence in the substance using population. J Psychoactive Drugs 1997; 29(4):321-9.
  • 10. Feldman M. Criminal behavior: a psychological analysis. London: Wiley; 1977.
  • 12. Kerr-Corrêa F, Dalben I, Trinca L, Simão MO, Mattos PF, Cerqueira ATAR, Mendes AA. I Levantamento do uso de álcool e drogas por estudantes da UNESP. São Paulo (SP): Publicação VUNESP 14; 2001.
  • 13. Wechsler H, Dowdall GW, Maenner G, Gledhill-Hoyt J, Lee H. Changes in binge drinking and related problems among American college students between 1993 and 1997. J Am Coll Health 1998; 47:57-68.
  • 14. Marlatt GA, Baer JS, Kivlahan DR, Dimeff LA, Larimer ME, Quigley LA, et al. Screening and brief intervention for high-risk college student drinkers: Results from a two-year follow-up assessment. J Consulti Clin Psychol 1998; 66(4):604-15.
  • 15. Stempliuk VA. Uso de drogas entre alunos da Universidade de São Paulo: 1996 versus 2001. [Tese]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina/USP; 2004.
  • 1
    As opiniões expressadas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam a posição da organização onde trabalham ou de sua administração
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Fev 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Recebido
      29 Nov 2004
    • Aceito
      21 Jun 2005
    Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
    E-mail: rlae@eerp.usp.br