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Condições de trabalho e significados do trabalho em enfermagem em Barcelona

RESUMO

Objetivo:

analisar a relação entre a avaliação quantitativa das condições de trabalho e a percepção qualitativa da própria experiência de trabalho.

Método:

uma amostra de 1760 profissionais de enfermagem de Barcelona respondeu a um questionário para avaliação de suas condições de trabalho e resumiu em cinco palavras-chave sua própria experiência de trabalho atual.

Resultados:

o corpus textual dos significados do trabalho incluiu 8043 formas lexicais, que foram categorizadas e codificadas. As pessoas pesquisadas que classificaram mais alto as suas condições de trabalho expressaram uma visão do trabalho em termos de autonomia, realização e bem-estar, ao passo que as que o classificavam mais baixo falavam principalmente de exaustão, despersonalização e clima negativo. Uma análise de correspondências evidenciou uma estreita relação entre as avaliações quantitativas das condições de trabalho e os códigos verbais de significado do trabalho.

Conclusões:

os significados dados ao trabalho foram não só coerentes com as avaliações numéricas das condições de trabalho, mas também as tornaram mais compreensíveis. A informação obtida coloca desafios para reflexão e aponta caminhos para enfrentar a promoção dos aspectos positivos e a prevenção dos negativos das condições do trabalho de enfermagem.

Descritores:
Enfermagem; Trabalho; Saúde do Trabalhador; Condições de Trabalho; Carga de Trabalho; Qualidade de Vida

ABSTRACT

Objective:

to analyze the relationship between the quantitative assessment of working conditions and the qualitative perception of one’s own work experience.

Method:

a sample of 1,760 nursing professionals from Barcelona answered a questionnaire assessing their working conditions and summarized their own current work experience in five key words.

Results:

the textual corpus of the meanings of nursing work included 8043 lexical forms, which were categorized and codified. Respondents who rated their work conditions the highest expressed a vision of their work in terms of autonomy, achievement and well-being, while those who rated their work conditions the lowest talked mostly of exhaustion, depersonalization and negative climate. A correspondence analysis showed a close relationship between the quantitative assessments of working conditions and the verbal codes of the meaning of work.

Conclusions:

the meanings given to work were not only consistent with the numerical evaluations of the working conditions but also made them more understandable. The information obtained poses challenges for reflection and indicates ways to promote the positive aspects and prevent the negative conditions of nursing work.

Descriptors:
Nursing; Work; Occupational Health; Working Conditions; Workload; Quality of Life

RESUMEN

Objetivo:

analizar la relación entre la valoración cuantitativa de las condiciones de trabajo y la percepción cualitativa de la propia experiencia laboral.

Método:

una muestra de 1.760 profesionales de enfermería de Barcelona respondió a un cuestionario de valoración de sus condiciones de trabajo y resumió en cinco palabras clave su propia experiencia laboral actual.

Resultados:

el corpus textual de significados del trabajo incluyó 8.043 formas léxicas, que fueron categorizadas y codificadas. Las personas encuestadas que valoraron más alto sus condiciones de trabajo expresaron una visión de su trabajo en términos de autonomía, realización y bienestar; mientras que quienes las valoraron más bajo hablaron sobre todo de agotamiento, despersonalización y clima negativo. Un análisis de correspondencias evidenció una estrecha relación entre las valoraciones cuantitativas de las condiciones laborales y los códigos verbales de significado del trabajo.

Conclusiones:

los significados dados al trabajo fueron no solo coherentes con las valoraciones numéricas de las condiciones laborales, sino que además las hicieron más comprensibles. La información obtenida plantea desafíos para la reflexión y señala caminos orientados a la promoción de los aspectos positivos y a la prevención de los negativos de las condiciones del trabajo de enfermería.

Descriptores:
Enfermería; Trabajo; Salud Laboral; Condiciones de Trabajo; Carga de Trabajo; Calidad de Vida

Introdução

As condições de trabalho dos profissionais da saúde e particularmente daqueles da enfermagem experimentaram transformações profundas ao ritmo das mudanças gerais desenvolvidas no mundo do trabalho. A literatura científica analisou seu impacto sobre o bem-estar e o rendimento profissional, bem como seus múltiplos efeitos colaterais sobre a saúde ocupacional e a qualidade do serviço prestado. Estes aparecem como uma espiral negativa de pressão assistencial, falta de pessoal, sobrecarga de tarefas, falta de tempo para fazer tudo e bem feito, desconforto e esgotamento, absentismo e presentismo, rotação e abandono do local de trabalho e da profissão11 Aiken LH, Sloane DM, Clarke S, Poghosyan L, Cho E, You L. Importance of work environments on hospital outcomes in nine countries. Qual Health Res. 2011;23(4):357-64. doi: 10.1093/intqhc/mzr022
https://doi.org/10.1093/intqhc/mzr022...

2 Aiken LH, Sermeus W, Van Den Heede K, Sloane DM, Busse R, Mckee M, et al. Patient safety, satisfaction, and quality of hospital care: cross sectional surveys of nurses and patients in 12 countries in Europe and the United States. Brit Med J. 2012;344:1717. doi: 10.1136/bmj.e1717
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3 Aiken LH, Sloane DM, Bruyneel L, Van den Heede K, Sermeus W. Nurses' reports of working conditions and hospital quality of care in 12 countries in Europe. Int J Nurs Stud. 2013;50:143-53. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2012.11.009
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4 Blanch JM. Quality of working life in mercantilized hospitals and universities. Pap Psicol. 2014;35(1):40-7. doi: 10.1080 / 15379418

5 Chan ZCY, Tam WS, Lung MKY, Wong WY, Chau CW. A systematic literature review of nurse shortage and the intention to leave. J Nurs Manag. 2013;21(4):605-13. doi: 10.1111/j.1365-2834.2012.01437.x
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7 Humphries N, Morgan K, Conry MC, McGowan Y, Montgomery A, McGee H. Quality of care and health professional burnout: narrative literature review. Int J Qual Health Care. 2014;27(4):293-307. doi: 10.1108/IJHCQA-08-2012-0087
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8 Kuhlmann E, Annandale E. Researching transformations in healthcare services and policy in international perspective: An introduction. Cur Sociol. 2012;60(4):401-14. doi: 10.1177/0011392112438325
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9 Nei D, Snyder LA, Litwiller BJ. Promoting retention of nurses: a metaanalytic examination of causes of nurse turnover. Health Care Manage R. 2014; 40(3)237-53. doi: 10.1097/HMR.0000000000000025
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10 Van Bogaert P, Clarke S, Roelant E, Meulemans H, Van De Heyning P. Impacts of unit level nurse practice environment and burnout on nurse-reported outcomes: a multilevel modelling approach. J Clin Nurs. 2010; 50(3):357-65. doi: 10.1111/j.1365-2702.2009.03128.x
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-1111 Van der Doef M, Bannink F, Verhoeven C. Job conditions, job satisfaction, somatic complaints and burnout among East African nurses. J Clin Nurs. 2012;21(11-12):1763-75. doi: 10.1111/j.1365-2702.2011.03995.x
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. Também foi estudado o papel de variáveis moderadoras de alguns desses efeitos, tais como o controle do processo e o conteúdo do trabalho, o apoio social horizontal e vertical, o grau de ajuste entre demandas e recursos trabalhistas, o equilíbrio trabalho-família ou a carga emocional1212 Chen IH, Brown R, Bowers BJ, Chang W-Y. Work-to-family conflict as a mediator of the relationship between job satisfaction and turnover intention. J Adv Nurs. 2015; 71(10):2350-63. doi: 10.1111/jan.12706
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13 Cortese C, Colombo L, Ghislieri C. Determinants of nurses' job satisfaction: the role of work-family conflict, job demand, emotional charge and social support. J Nurs Manag. 2010;18:35-43. doi: 10.1111/j.1365-2834.2009.01064.x
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14 Jourdain G, Chênevert D. Job-demands-resources, burnout and intention to leave the nursing profession: A questionnaire survey. Int J Nurs Stud. 2010;47:709-22. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2009.11.007
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-1515 Yamaguchi Y, Inoue T, Harada H, Oike M. Job control, work-family balance and nurses' intention to leave their profession and organization: A comparative cross-sectional survey. Int J Nurs Stud. 2016;64:52-62. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2016.09.003
https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2016....
. Algumas pesquisas avaliam o custo econômico e humano da falta de prevenção de riscos psicossociais no trabalho em geral e nos serviços de saúde em particular1616 EU-OSHA. Calculating the Costs of Work-Related Stress and Psychosocial Risks [Internet]. Luxembourg: European Agency for Safety and Health at Work. Publications Office of the European Union; 2014. [cited June 18, 2017]. Available from: https://osha.europa.eu/sites/default/files/publications/documents/en/publications/literature_reviews/calculating-the-cost-of-work-related-stress-and-psychosocial-risks/cost-of-work-related-stress.pdf
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17 EUROFOUND (European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions). Sixth European Working Conditions Survey - Overview report. Luxembourg: Publications Office of the European Union; 2016. Available at: http://www.eurofound.europa.eu/publications/report/2016/working-conditions/sixth-european-working-conditions-survey-overview-report
-1818 Ceballos-Vásquez P, Rolo-González G, Hérnandez-Fernaud E, Díaz-Cabrera, D, Paravic-Klijn, T, Burgos-Moreno, M. Psychosocial factors and mental work load: a reality perceived by nurses in intensive care units. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2015;23(2):315-22. doi:10.1590/0104-1169.0044.2557.
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.

Outro tópico importante da pesquisa contemporânea neste campo é a dinâmica pela qual as pessoas dão significado e sentido ao seu trabalho em diferentes contextos socioculturais e organizacionais e o papel que esses processos cognitivos desempenham não só na configuração da experiência de trabalho, mas também no modo como o exercício profissional é realizado1919 Ardichvili A, Kuchinke KP. International Perspectives on the Meanings of Work and Working: Current Research and Theory. Adv Develop Hum Resour. 2009;11(2):155-67. doi: 10.1177/1523422309333494
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20 Arnoux C, Sovet L, Lhotellier L, Di Fabio A, Bernaud JL. Perceived Work Conditions and Turnover Intentions: The Mediating Role of Meaning of Work. Front Psychol. 2016:7:1-9. doi: 10.3389/fpsyg.2016.00704
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21 Guido L, Goulart C, Silva R, Lopes L, Ferreira E. Stress and Burnout among multidisciplinary residents. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(6):1064-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000600008.
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22 Ochoa P, Blanch JM. Work, malaise and wellbeing in Spanish and Latin American doctors. Rev Saúde Pública. 2016;50(21):1-14. doi: 10.1590/S1518-8787.2016050005600
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-2323 Blanch JM, Ochoa PJ, Sahagún MA. Resignification of work and the medical profession under the new health management. In: Ansoleaga E, Artaza O, Suárez J, editors. Persons Caring for People: Human Dimension and Health Work. [Internet]. Santiago de Chile: PAHO / WHO - Pan American Health Organization / World Health Organization; 2012. p. 165-75. Available from: https://www.researchgate.net/publication/287997653_Resignificacion_del_trabajo_y_de_la_profesion_medica_bajo_la_nueva_gestion_sanitaria. A esse respeito, as teorias psicossociológicas sobre the meaning of working argumentam que os significados que as pessoas dão ao seu trabalho não derivam só das situações, contextos e conjunturas imediatas, mas também de um complexo processo de construção no qual intervêm valores, ideais, objetivos, normas, retóricas, estratégias, crenças, aspirações e expectativas socioculturais e pessoais sobre o trabalho, a profissão e a carreira.

Nas últimas décadas, o desenvolvimento da profissão de enfermagem seguiu, tanto a nível mundial como local, um desenvolvimento paradoxal: por um lado, melhoraram substancialmente a formação em habilidades e os recursos materiais e tecnológicos para o desempenho profissional; por outro lado, as condições de trabalho se tornaram mais duras, complexas e difíceis. É exatamente isso que aconteceu nos arredores de Barcelona, onde, ao longo do último meio século, se passou da formação básica em Auxiliar Técnico Sanitário (1953-1979), através do Diplomado em Enfermagem (1977-2012), até o Graduado em Enfermagem (iniciado em 2009), que abriu caminho para a formação do segundo e terceiro ciclos (Mestrado e Doutorado) da enfermagem como disciplina autônoma e para o desenvolvimento da profissão nos setores de assistência, ensino, pesquisa e gestão2424 Council of Catalonia Nurses. Training, Teaching and Research in Mental Health Catalan Nurses [Internet]. Barcelona: Council of Catalonia Nurses; 2016. [cited June 30, 2017]. Available from: https://www.agoradenfermeria.eu/files/news/crai_es.pdf. Em contraste com esta tendência positiva, as condições de aplicação deste potencial de trabalho evoluíram no sentido contrário em vários aspectos organizacionais. A situação inicial foi marcada por uma alta proporção de pacientes por profissional, muito acima da média europeia, que traz uma elevada pressão assistencial. Sobre essa base, foi implantada nas últimas décadas uma nova organização e gestão empresarial do trabalho de saúde, reforçada por certas políticas de enfrentamento da recente crise econômica. Nesse quadro, a imposição de medidas para redução do déficit público, especialmente do orçamento para saúde, comportou uma minimização dos modelos, aumento no tempo de trabalho anual, obstrução da carreira profissional e aumento nos riscos psicossociais associado à sobrecarga de trabalho. Essa tensão contemporânea entre a melhoria na qualificação profissional e o agravamento nas condições de exercício da profissão levou os profissionais de enfermagem a refletir sobre o valor, o significado e a utilidade do seu trabalho. Neste cenário, o objetivo deste estudo foi analisar a relação entre avaliação quantitativa das condições de trabalho e a percepção qualitativa da própria experiência de trabalho em profissionais de enfermagem.

Método

Por meio do site do Colégio Oficial de Enfermeiras e Enfermeiros de Barcelona (COIB) e de algumas redes sociais de associações do setor, foram consultadas, por amostragem aleatória simples, 1.760 pessoas pertencentes a uma população finita de 32.463 profissionais de enfermagem que, em junho de 2014, estavam em uma situação profissionalmente ativa na província de Barcelona. O tamanho desta amostra proporcionou um nível de confiança de 99% e um intervalo de confiança de 3%. Seu perfil característico (que reproduziu com notável precisão o da população de referência) foi de mulheres (85,9%), com 41,9 anos de idade (desvio padrão, DP=10,4), sendo 18,3 anos (DP=10,8) desde a graduação e 13,5 anos (DP=10,0) no posto de trabalho, com formação generalista (95,5%), contrato estável ou permanente (73,0%), emprego em tempo integral (76,1%), turno diurno (80,5%), na área assistencial (81,0%), em hospital ou clínica (53,3%) de propriedade mista (57,7%) ou pública (32,7%). Todas elas responderam voluntariamente a um questionário, que permitiu coletar informações sobre as variáveis centrais do estudo, incluindo o questionário das Condições de Trabalho2525 Blanch JM, Sahagun M, Cervantes G. Factor structure of Working Conditions Scale. J Work Organ Psychol. 2010;26(3):175-89. doi: 10.5093/tr2010v26n3a2
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(qCT). Este era composto por séries de itens fechados em formato Likert, com intervalos de 0 a 10, e uma pergunta aberta sobre o significado do trabalho, que as convidava a resumir em 5 “palavras-chave” a própria experiência de trabalho atual. As formas lexicais obtidas a partir das respostas à mesma pergunta foram posteriormente categorizadas e codificadas. Finalmente, os respondentes preencheram uma seção de dados sociodemográficos e trabalhistas.

O qCT é baseado em um modelo teórico segundo o qual as condições de trabalho se definem em torno de uma relação tripla da organização com o método, o ambiente e a pessoa. Ele avalia os componentes psicossociais das condições de trabalho (CT) que, dependendo da sua forma de presença e nível de intensidade, podem atuar como protetores e promotores de saúde, bem-estar e qualidade da vida profissional ou como fatores de riscos psicossociais. O qCT inclui 44 itens fechados, apresentado no formato Likert de 11 intervalos variando de 0 (valor mínimo) a 10 (valor máximo). Os dados psicométricos obtidos reproduziram adequadamente a estrutura do modelo teórico proposto e mostraram uma alta consistência interna, com valores de alfa variando de 0,852 a 0,983. A figura 1 especifica a média, o desvio padrão e o alfa de Cronbach do questionário como um todo e de cada um dos fatores e escalas que o compõem.

O delineamento misto do estudo combinou a técnica qualitativa de análise textual do conteúdo para o estudo de significados expressos, usando palavras-chave e técnicas quantitativas de análise estatística descritiva das CT e de análise fatorial de correspondência entre CT e significado do trabalho (ST). Para análise de correspondência, os escores relativos à variável CT foram distribuídos em quatro categorias: CT péssimas (X = 0-2,5), CT más (X = 2,5-5,0), CT boas (X = 5,0-7,5) e CT ótimas (X = 7,5-10). Na análise estatística descritiva, as variáveis quantitativas foram apresentadas em termos de média (X) e desvio padrão (DP), ao passo que as variáveis qualitativas o foram em forma de frequências e porcentagens. Na análise fatorial de correspondência, foi usado o xi quadrado (χ²) para determinar as relações entre as variáveis CT e ST dos dados na tabela de contingência.

O projeto do presente estudo foi aprovado pela Comissão de Bioética da Universidade de Barcelona. Em seu desenvolvimento, foi aplicado o direito internacional relativo ao consentimento informado, confidencialidade dos dados de participantes e instituições, salvaguardando o anonimato das respostas, compromisso de retorno de resultados e uso científico e responsável da informação.

Resultados

Todas as formas lexicais foram categorizadas e codificadas de acordo com um dicionário construído a partir de um modelo teórico, segundo o qual os significados do trabalho se distribuem ao longo de um contínuo semântico bipolar. Em uma de suas vertentes aparecem conotações negativas da experiência de trabalho, tais como mal-estar e insatisfação, bem como vários aspectos coletados pelo modelo de burnout, tais como esgotamento físico e emocional, despersonalização, cinismo e ineficácia. Por outro lado, contrastam significados do trabalho com sinal positivo, associados às experiências de bem-estar e satisfação, realização e eficácia, bem como aos componentes do modelo de work engagement (vigor, dedicação e absorção)2121 Guido L, Goulart C, Silva R, Lopes L, Ferreira E. Stress and Burnout among multidisciplinary residents. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(6):1064-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000600008.
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22 Ochoa P, Blanch JM. Work, malaise and wellbeing in Spanish and Latin American doctors. Rev Saúde Pública. 2016;50(21):1-14. doi: 10.1590/S1518-8787.2016050005600
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-2323 Blanch JM, Ochoa PJ, Sahagún MA. Resignification of work and the medical profession under the new health management. In: Ansoleaga E, Artaza O, Suárez J, editors. Persons Caring for People: Human Dimension and Health Work. [Internet]. Santiago de Chile: PAHO / WHO - Pan American Health Organization / World Health Organization; 2012. p. 165-75. Available from: https://www.researchgate.net/publication/287997653_Resignificacion_del_trabajo_y_de_la_profesion_medica_bajo_la_nueva_gestion_sanitaria.

Como se pode ver na Figura 1, a avaliação média das Condições de Trabalho (escala de 0-10) foi 5,77 (DP=1,55). Por outro lado, o corpus textual de ST incluiu 8043 formas lexicais que tinham conotações positivas (cuidado, companheirismo, compromisso, etc.) em 62% das respostas e (esgotamento, mal-estar sobrecarga, etc.) nos 38% restantes negativos.

Figura 1
Modelo teórico do qCT: Alfa de Cronbach (α), Médias (X) e Desvios-Padrão (DP) do Questionário, Fatores e Escalas, Barcelona, CA, Espanha, 2014-2015

A análise de correspondência (Tabela 1) mostrou uma relação estreita e estatisticamente significativa entre as avaliações quantitativas das condições de trabalho e os códigos verbais de significado do trabalho (χ2=1434, p<0,001 e graus de liberdade =93).

Tabela 1
Análise de correspondência entre Níveis de Avaliação de Condições de Trabalho (CT) e Códigos de Significados do Trabalho. Barcelona, CA, Espanha, 2014-2015

Foram observados agrupamentos de códigos de ST em função dos níveis de avaliação das CT: como se pode ver na Figura 2, ao nível das “CT ótimas” correspondem os códigos de significado, autonomia, realização e bem-estar; ao nível das “CT boas” correspondem os códigos de satisfação, oportunidades, boas relações sociais, vigor, eficácia, boas condições socioeconômicas, compromisso, responsabilidade, competências, ética, cuidado, reconhecimento econômico e reconhecimento geral; ao nível das “CT más” correspondem os códigos de esgotamento, trabalho inapropriado, clima negativo, desorganização, sobrecarga, más condições socioeconômicas pouco reconhecimento, mal-estar, injustiça, cinismo organizacional, insatisfação, má gestão, recursos escassos e ineficácia. Finalmente, ao nível das “péssimas”, corresponde o código de despersonalização.

Figura 2
Condições e Significados do Trabalho. Barcelona, CA, Espanha, 2014-2015

Na Tabela 2, esta distribuição dos códigos ST se reflete segundo os níveis de avaliação das CTs.

Tabela 2
Distribuição dos códigos de Significados do Trabalho (ST) segundo níveis de avaliação das Condições de Trabalho (NACT). Barcelona, CA, Espanha, 2014-2015.

Discussão

Os resultados deste estudo concordam em termos gerais com a informação obtida na literatura sobre a experiência do trabalho e qualidade da vida profissional dos profissionais de enfermagem no novo ambiente gerado pelas sucessivas reformas contemporâneas dos sistemas de saúde. No entanto, estes resultados incluem conteúdos que, ao sintetizar, condensar e qualificar efeitos da inovação política, gerencial e tecnológica observados nos mais diversos contextos de saúde, apontam além do que é meramente conhecido, também revelando como eles afetam e confrontam psicologicamente essas novas demandas organizacionais em um cenário duplamente crítico: o de uma reforma dos serviços de saúde acelerada e intensificada por uma forte restrição financeira, que se traduz em estratégias de cortes de pessoal, aumento na proporção de pacientes por profissional e crescente pressão assistencial imposta por uma sobredemanda quantitativa e qualitativa de trabalho de cuidado, cognitivo e emocional.

No seu conjunto, as informações obtidas pelo estudo giram em torno de três eixos principais. Primeiro, os participantes mostram uma alta coerência entre a avaliação numérica das próprias condições de trabalho e a caracterização textual dos significados de sua experiência de trabalho. Segundo, eles pensam a sua profissão em termos da relação de cuidado ao paciente e percebem sua experiência laboral e profissional em termos relativamente positivos, indicando aspectos a proteger e fortalecer. Por outro lado, em terceiro lugar, eles também contabilizam importantes carências, deficiências e disfunções no delineamento, organização e gestão desse trabalho e das condições daquele exercício profissional. Esta face negativa é especialmente marcada pela sobrecarga de trabalho e por conceitos a ela associados, tais como insuficiência de tempo e recursos humanos disponíveis para enfrentar eficazmente as demandas organizacionais. Outros aspectos destacados a respeito são um déficit de autonomia percebido no trabalho, bem como de oportunidades de desenvolvimento profissional.

A avaliação moderadamente positiva das condições de realização da própria experiência laboral concorda com o que foi obtido em relatórios atuais sobre a qualidade da vida laboral no quadro geral das condições de trabalho contemporâneas1717 EUROFOUND (European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions). Sixth European Working Conditions Survey - Overview report. Luxembourg: Publications Office of the European Union; 2016. Available at: http://www.eurofound.europa.eu/publications/report/2016/working-conditions/sixth-european-working-conditions-survey-overview-report e também no que concerne concretamente a profissionais da prestação de serviços públicos a pessoas2626 Tummers LG, Bekkers V, Vink E, Musheno M. Coping during public service delivery: A conceptualization and systematic review of the literature. J Public Adm Res Theory. 2015;25(4):1099-126. doi: 10.1093/jopart/muu056
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-2727 Tummers LG, Bekkers V, Steijn AJ. Policy alienation of public professionals: Application in a new public management context. Pub Manag Rev. 2009;11(5):685-706. doi: 10.1080/14719030902798230
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e, dentro desse conjunto, aos do setor da saúde em particular11 Aiken LH, Sloane DM, Clarke S, Poghosyan L, Cho E, You L. Importance of work environments on hospital outcomes in nine countries. Qual Health Res. 2011;23(4):357-64. doi: 10.1093/intqhc/mzr022
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,44 Blanch JM. Quality of working life in mercantilized hospitals and universities. Pap Psicol. 2014;35(1):40-7. doi: 10.1080 / 15379418,2121 Guido L, Goulart C, Silva R, Lopes L, Ferreira E. Stress and Burnout among multidisciplinary residents. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012;20(6):1064-71. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000600008.
https://doi.org/10.1590/S0104-1169201200...

22 Ochoa P, Blanch JM. Work, malaise and wellbeing in Spanish and Latin American doctors. Rev Saúde Pública. 2016;50(21):1-14. doi: 10.1590/S1518-8787.2016050005600
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-2323 Blanch JM, Ochoa PJ, Sahagún MA. Resignification of work and the medical profession under the new health management. In: Ansoleaga E, Artaza O, Suárez J, editors. Persons Caring for People: Human Dimension and Health Work. [Internet]. Santiago de Chile: PAHO / WHO - Pan American Health Organization / World Health Organization; 2012. p. 165-75. Available from: https://www.researchgate.net/publication/287997653_Resignificacion_del_trabajo_y_de_la_profesion_medica_bajo_la_nueva_gestion_sanitaria, e ainda mais especificamente aos da área da enfermagem22 Aiken LH, Sermeus W, Van Den Heede K, Sloane DM, Busse R, Mckee M, et al. Patient safety, satisfaction, and quality of hospital care: cross sectional surveys of nurses and patients in 12 countries in Europe and the United States. Brit Med J. 2012;344:1717. doi: 10.1136/bmj.e1717
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. A visão fornecida pelos participantes também é consistente com o que a literatura reporta sobre o lado obscuro das características e tendências nas condições de trabalho em geral, tanto pelo que comportam de fatores de risco psicossocial1616 EU-OSHA. Calculating the Costs of Work-Related Stress and Psychosocial Risks [Internet]. Luxembourg: European Agency for Safety and Health at Work. Publications Office of the European Union; 2014. [cited June 18, 2017]. Available from: https://osha.europa.eu/sites/default/files/publications/documents/en/publications/literature_reviews/calculating-the-cost-of-work-related-stress-and-psychosocial-risks/cost-of-work-related-stress.pdf
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como de mal-estar laboral no trabalho assistencial de cuidados da saúde55 Chan ZCY, Tam WS, Lung MKY, Wong WY, Chau CW. A systematic literature review of nurse shortage and the intention to leave. J Nurs Manag. 2013;21(4):605-13. doi: 10.1111/j.1365-2834.2012.01437.x
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https://doi.org/10.1016/j.outlook.2013.1...
.

Enquanto os números apresentados indicam os níveis relativos de satisfação com as condições de trabalho de enfermagem no ambiente social e organizacional estudado, os códigos de significado associados a eles nomeiam os aspectos daquelas condições que se propõe a fortalecer e aquelas que se pretende modificar.

Considerado globalmente, o estudo encerra algumas fraquezas e forças notáveis. Entre as suas limitações metodológicas está o uso de medidas de autorrelato no quadro de um delineamento transversal que, por sua vez, não permitiu fazer inferências causais. Porém, nenhuma dessas características impediu atingir o objetivo do estudo sobre a relação entre pontuações numéricas e respostas verbais referentes aos mesmos fenômenos de experiência das condições de trabalho. Porém, como o trabalho de campo foi desenvolvido no contexto de uma crise de financiamento do sistema de saúde espanhol, que repercutiu significativamente sobre as condições do trabalho em enfermagem em Barcelona, levanta dúvidas razoáveis sobre se os resultados apresentados seriam diferentes se tivessem sido obtidos antes ou depois desse período crítico. Entre os pontos fortes do estudo, destacam-se a amplitude do campo temático englobado e seu delineamento misto, pelo qual se combinou o uso de várias escalas compostas por séries de itens fechados, para a coleta de dados quantitativos, com uma lista de perguntas abertas como fonte para os dados qualitativos. Isso permitiu implementar várias técnicas de estudo da informação obtida, como análise estatística de conteúdo temático e de correspondência. A agenda para futuros estudos ligados ao presente estudo inclui o desafio de entender mais e melhor os mecanismos envolvidos em um aparente paradoxo observado: as profissionais de enfermagem que participaram da pesquisa se mostraram geralmente muitíssimo afetadas por uma prática de cuidado vivida como muito estressante, exaustiva e desgastante, mantendo ao mesmo tempo uma visão positiva da mesma, uma alta autoestima profissional e um forte envolvimento no trabalho.

Conclusão

As oito mil palavras-chave com as quais os respondentes resumiram a experiência de trabalho em seu atual contexto organizacional concordaram com suas avaliações numéricas das condições de realização de sua prática profissional, conferindo a essas pontuações um significado mais preciso. A esse respeito, a contribuição deste estudo tem duas vertentes: por um lado, ratifica e situa no atual ambiente de Barcelona aspectos quantitativos já conhecidos das condições de realização da prática do cuidado em saúde no mundo contemporâneo em geral. Por outro lado, envolve um progresso e um aprofundamento no conhecimento qualitativo da realidade investigada, especificando com palavras, categorias e códigos semânticos os matizes positivos e negativos da atual experiência de trabalho de enfermagem.

Ao mostrar a imagem de uma experiência de trabalho ambivalente, caracterizada pela tensão entre a vocação de cuidar e a imposição de uma sobrecarga crônica de tarefas, o estudo sinaliza desafios para reflexão e caminhos para políticas comprometidas com uma missão dupla: fortalecer os aspectos positivos e corrigir os aspectos negativos das condições de trabalho do pessoal de enfermagem, para melhorar sua saúde ocupacional e seu bem-estar laboral e, ao mesmo tempo, otimizar a qualidade do serviço prestado aos seus pacientes e à sua comunidade.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    18 Jan 2017
  • Aceito
    05 Ago 2017
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