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Associação entre excesso de peso e características de adultos jovens escolares: subsídio ao cuidado de enfermagem1 1 Extraído da dissertação de mestrado "Análise da obesidade em adultos jovens escolares: subsídio à educação em saúde pelo enfermeiro", apresentada à Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

Resumos

OBJETIVO:

verificar a associação entre excesso de peso e características de adultos jovens escolares, como subsídio ao cuidado de enfermagem.

MÉTODO:

estudo caso-controle, realizado com adultos jovens de escolas públicas. Amostra composta por 441 participantes (147 casos e 294 controles, com e sem excesso de peso, respectivamente). Coletaram-se informações sociodemográficas, clínicas, fatores de exposição e antropometria. Utilizou-se regressão logística múltipla. O estudo foi aprovado em comitê de ética.

RESULTADOS:

detectou-se associação estatística significativa com excesso de peso em: não brancos, ter companheiro(a), ganho ponderal na adolescência, excesso de peso materno, uso de fármacos obesogênicos, pressão arterial diastólica aumentada, circunferência abdominal e relação cintura quadril. Além destas, entraram na análise multivariada as variáveis escolaridade e ganho ponderal na infância. Após etapa de ajuste permaneceram no modelo final: estado civil com companheiro(a), ganho ponderal na adolescência, pressão arterial diastólica aumentada e circunferência abdominal aumentada.

CONCLUSÃO:

a análise das variáveis preditoras para o excesso de peso em adultos jovens escolares possibilita ao enfermeiro bases para elaboração e planejamento de práticas educativas que visem à prevenção desta condição clínica, visualizada como fator de risco para outras comorbidades de caráter crônico, como as doenças cardiovasculares.

Enfermagem; Sobrepeso; Obesidade; Adulto Jovem


OBJECTIVE:

to verify associations between overweight and the characteristics of young adult students to support nursing care.

METHOD:

case-control study conducted with young adults from public schools. The sample was composed of 441 participants (147 cases and 294 controls, with and without excess weight, respectively). Sociodemographic and clinical characteristics were collected together with exposure factors and anthropometrics. Multiple logistic regression was used. The study received Institutional Review Board approval.

RESULTS:

statistically significant association with overweight: non-Caucasian, having a partner; weight gain during adolescence, mother's excess weight, the use of obesogenic medication, augmented diastolic blood pressure, of abdominal circumference and waist/hip ratio. In addition to these, schooling and weight gain during childhood were also included in the multivariate analysis. After adjustment, the final model included: having a partner, weight gain during adolescence, augmented diastolic blood pressure and abdominal circumference.

CONCLUSION:

the analysis of predictor variables for excess weight among young adult students supports nurses in planning and developing educational practices aimed to prevent this clinical condition, which is a risk factor for other chronic comorbidities, such as cardiovascular diseases.

Nursing; Overweight; Obesity; Young Adult


OBJETIVO:

verificar la asociación entre exceso de peso y características de adultos jóvenes escolares como contribución para el cuidado de enfermería.

MÉTODO:

estudio de caso control realizado con adultos jóvenes de escuelas públicas. Muestra compuesta por 441 participantes (147 casos y 294 controles, con y sin exceso de peso, respectivamente). Se recolectaron características sociodemográficas, clínicas, factores de exposición y antropometría. Se utilizó la regresión logística múltiple. El estudio fue aprobado por comité de ética.

RESULTADOS:

se detectó asociación estadística significativa con exceso de peso: no blancos, tener compañero, aumento de peso en la adolescencia, exceso de peso materno, uso de medicamentos obesogénicos, presión arterial diastólica aumentada, circunferencia abdominal aumentada y relación cintura-cadera. Además de estas, entraron en el análisis multivariado las variables escolaridad y aumento de peso en la infancia. Después de la etapa de ajuste permanecieron en el modelo final: estado civil con compañero, aumento de peso en la adolescencia, presión arterial diastólica aumentada y circunferencia abdominal aumentada.

CONCLUSIÓN:

el análisis de las variables de predicción para el exceso de peso en adultos jóvenes escolares suministra al enfermero bases para la elaboración y planificación de prácticas educativas que objetiven la prevención de esta condición clínica, visualizada como factor de riesgo para otras enfermedades concomitantes de carácter crónico, como las enfermedades cardiovasculares.

Enfermería; Sobrepeso; Obesidad; Adulto Joven


Introdução

O sobrepeso e obesidade na população adulta jovem constitui fator crescente, necessitando da atuação do enfermeiro em sua prevenção, visando a melhoria da qualidade de vida desta clientela.

Relatório realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a obesidade é a causa de morte de 2,8 milhões de pessoas por ano, e atualmente, 12% da população mundial é considerada obesa. No continente americano, 26% dos adultos são obesos, sendo a região de maior incidência do problema no mundo. O departamento de estatísticas da OMS afirma que a obesidade mundial duplicou entre 1980 e 2008(11. World Health Organization. World Health Statistics 2012. 2012 [acesso em: 6 out 2014]. Disponível em: http://www.who.int/gho/publications/world_health_statistics/WHS2012_IndicatorCompendium.pdf?ua=1
http://www.who.int/gho/publications/worl...
).

No Brasil, o excesso de peso é considerado um desvio nutricional relevante. O acúmulo de gordura corporal na idade escolar costuma iniciar-se na infância e adolescência, e perdura na fase adulta jovem, podendo causar efeitos fisiopatológicos na vida adulta(22. Rodrigues EM, Boog MCF. Problematização como estratégia de educação nutricional com adolescentes obesos. Cad Saúde Pública. 2009;22(5):923-31.).

A determinação do sobrepeso e obesidade relaciona-se ao conjunto de fatores que constituem o modo de vida das populações modernas, que consomem cada vez mais alimentos processados, energeticamente densos e ricos em açúcares, gorduras e sódio, com quantidade de calorias consumidas além da necessidade individual. Esse desequilíbrio decorre, em parte, por mudanças no padrão alimentar, aliadas à redução de atividade física no labor e lazer(33. Oliveira AFC, Nogueira MS. Obesidade como fator de risco para a hipertensão entre profissionais de enfermagem de uma instituição filantrópica. Rev Esc Enferm USP. 2010;44(2):388-94. ).

É importante ressaltar a determinação múltipla e heterogênea (fatores biológicos, históricos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos) do excesso de peso. Nas causas ambientais e sociais, o indivíduo tem pouca ou nenhuma capacidade de interferência(44. Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN). Plano Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade: promovendo modos de vida e alimentação adequada e saudável para a população brasileira. 2011. [acesso em: 10 nov 2012]. Disponível em: http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/apresentacao_plano_obesidade2.pdf
http://189.28.128.100/nutricao/docs/gera...
).

Neste contexto, fica evidente que a obesidade não se resume a um problema presente apenas nos países desenvolvidos, mas afeta boa parcela dos estratos populacionais menos favorecidos. Portanto, faz-se necessária a mobilização das autoridades, bem como dos enfermeiros e demais profissionais de saúde, para determinação de prioridades e definição de estratégias de promoção e controle da saúde.

Cabe destacar que, a ênfase deste problema de saúde pública no cenário escolar tem se voltado para grupos específicos: crianças e adolescentes(55. Mariz LS, Medeiros CCM, Vieira CENK, Enders BC, Coura AS. Changes in the frequency of food intake among children and teenagers: monitoring in a reference service. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2013;21(4):973-81.

6. Medeiros CCM, Xavier IS, Santos VEFA, Souza MAO, Vasconcelos AS, Alves ERP. Obesidade infantil como fator de risco para a hipertensão arterial: uma revisão integrativa. REME. 2012;16(1):111-9.
-77. Souza MCC, Tibúrcio JD, Bicalho MF, Rennó MS, Dutra JS, Campos LG et al. Fatores associados à obesidade e sobrepeso em escolares. Texto Contexto Enferm. 2014;23(3): 712-9.). Entretanto, a população adulta jovem escolar (20 a 24 anos e ainda na escola) não tem sido contemplada nas pesquisas. Justifica-se, então, a abordagem a esse grupo neste estudo.

Assim, questiona-se: Existe associação entre excesso de peso e características de adultos jovens escolares? Quais fatores associados ao excesso de peso são passíveis de intervenção pela enfermagem?

Portanto, para subsidiar as ações educativas que o enfermeiro deve desenvolver ao cuidar do adulto jovem escolar com excesso de peso, é de fundamental importância que estudos de análise de fatores intervenientes sejam desenvolvidos. Assim, o objetivo do estudo foi verificar a associação entre excesso de peso e características de adultos jovens escolares, como subsídio ao cuidado de enfermagem.

Método

Tratou-se de estudo observacional caso-controle, de natureza quantitativa, realizado com adultos jovens de escolas públicas, com e sem sobrepeso ou obesidade (grupos caso e controle, respectivamente).

O local da pesquisa compreendeu o município de Maracanaú - Ceará, cidade localizada na Região Metropolitana de Fortaleza. Atualmente, Maracanaú possui população de 200.797 habitantes(88. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados do Censo 2010 publicados no Diário Oficial da União. Dados: Maracanaú/Ceará. 2010. [acesso em: 18 julho 2010]. Disponível em: http://www.senadorsaonline.com.br/2010/12/censo-2010-confira-os-dados-do-estado.html
http://www.senadorsaonline.com.br/2010/1...
). Trata-se de região urbana com grande quantidade de indústrias e a segunda maior receita orçamentária do Ceará.

A variável dependente do estudo foi presença de sobrepeso/obesidade. As variáveis independentes foram organizadas em blocos hierárquicos, para viabilização da análise multivariada. O primeiro bloco compôs-se de variáveis sociodemográficas e o segundo de variáveis clínicas e de exposição.

Calculou-se a amostra de estudos caso-controle, obtendo número mínimo de 86 pessoas para o grupo caso e 172 para o controle, considerando a proporção 2:1, que assegura eficiência estatística, operacional e controle do viés de seleção. Como esse artigo é derivado de projeto guarda-chuva financiado, resolveu-se incluir em sua amostra o total de casos coletados (n=147 escolares com índice de massa corpórea-IMC > 25 kg/m²) e dois controles para cada caso (n=294 pessoas com IMC > a 18,5Kg/m² e < 25 kg/m²), totalizando 441 pessoas.

Todos os participantes foram recrutados em escolas públicas do município e atendiam aos critérios de inclusão (estar regularmente matriculado, com faixa etária entre 20 e 24 anos e IMC igual ou maior que 18,5 Kg/m²). Para o emparelhamento dos grupos caso e controle foram consideradas as variáveis faixa etária e ocupação.

A coleta foi realizada entre novembro de 2011 e abril de 2012. Aplicou-se um questionário para coleta de dados, referente às variáveis sociodemográficas, clínicas e medidas antropométricas. As variáveis raça, peso na infância, adolescência, ganho ponderal paterno e materno, exposição ao fumo e ao álcool foram autorrelatadas. Considerou-se dieta não balanceada o relato de ingestão diária de alimentos ricos em açúcares e gorduras, pobres em frutas e verduras, e sedentarismo, com realização de menos de 150 minutos de atividade moderada por semana, conforme o Questionário Internacional de Atividade Física-IPAQ.

As medidas antropométricas foram realizadas de forma padronizada. A medida da circunferência abdominal foi realizada com fita métrica inextensível e com a roupa afastada, localizando-se a fita no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela, sendo os valores normais considerados abaixo de 88 cm e 102 cm, para mulheres e homens, respectivamente. A circunferência do quadril foi verificada ao nível do trocanter anterior e sua relação com a cintura calculada, considerada normal em mulheres com C/Q = 0,85 e em homens com C/Q = 0,95(99. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol [internet] 2010. [acesso em: 2 novembro 2014];95(supl1):I-III. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2010001700001&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
). O peso e a altura foram determinados por balança antropométrica para pessoas adultas, com o participante em pé e os braços junto ao corpo, com o menor peso de roupa possível e sem sapatos.

O cálculo do índice de massa corpórea foi realizado apenas para distribuir os participantes do estudo em grupos caso ou controle, mas a variável não entrou na análise estatística, visto que sua frequência foi predeterminada.

Os dados coletados seguiram para construção do banco de dados no SPSS Statistics, versão 20.0 (Statistical Package for the Social Sciences), para avaliação estatística analítica, relação e entrecruzamento das diversas variáveis e utilização de testes estatísticos.

Utilizou-se estatística descritiva (média e desvio padrão) e para realização da análise multivariada verificou-se associação referente aos fatores de risco, por meio do teste não paramétrico quiquadrado, entre as variáveis explicativas e a variável resposta, com significância de 5%. Posteriormente, verificou-se a força da associação entre as variáveis por meio do cálculo da razão de chances (odds ratio) e seus respectivos intervalos de confiança e, em seguida, foi conduzida a análise de regressão logística, considerando p<0,20, a fim de ajustar possíveis efeitos de confusão. Para construção do modelo final, considerando p<0,05 utilizou-se a seleção hierarquizada de fatores em cada bloco.

Este estudo obedeceu aos preceitos éticos e legais de pesquisa com seres humanos, sendo avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (UECE), sob o Nº 11516679-3.

Resultados

A descrição e análise envolveram variáveis preditoras, como aspectos sociodemográficos, clínico-epidemiológicos e de exposição, e o desfecho, ou seja, a presença de sobrepeso/obesidade, conforme visualizado na Tabela 1.

Tabela 1 -
Análise bivariada das características sociodemográficas associadas ao sobrepeso/obesidade em adultos jovens escolares. Maracanaú, CE - Brasil, 2012

De acordo com o exposto na Tabela 1, para casos e controles houve predominância da faixa etária entre 20 e 22 anos, não brancos, sem companheiro(a), com até dois salários mínimos, não residindo em favelas, cursando o 1º ou 2º ano do ensino médio e escolaridade dos pais de até oito anos de estudo. Somente a variável sexo apresentou predominância de mulheres no grupo caso e de homens no grupo controle.

Na Tabela 2 é possível visualizar as características clínicas dos adultos jovens escolares deste estudo, identificadas a partir da mensuração com equipamentos e técnicas adequadas.

Tabela 2 -
Análise bivariada das características clínicas e de exposição associadas ao sobrepeso/obesidade em adultos jovens escolares. Maracanaú, Ceará - Brasil, 2012

Verificou-se predominância para casos e controles, de peso normal na infância e na adolescência, ausência de excesso de peso dos pais, Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Pressão Arterial Diastólica (PAD) normais, circunferência abdominal e relação cintura quadril normal, ausência de exposição ao fumo, exposição ao álcool, dieta não balanceada, sedentarismo e não uso de fármacos obesogênicos.

A análise bivariada das características sociodemográficas apresentou associação estatisticamente significante de sobrepeso/obesidade (p<0,05) com raça não branca e estado civil com companheiro(a). As características clínicas e de exposição apresentaram associação estatisticamente significante de sobrepeso/obesidade (p<0,05) com: excesso de peso na adolescência; histórico de excesso de peso da mãe; pressão arterial diastólica alterada; circunferência abdominal aumentada; relação cintura quadril aumentada; e uso de tratamentos farmacológicos obesogênicos. Para serem incluídas na etapa de ajuste do modelo de regressão logística, as variáveis precisam apresentar associação p<0,20. Desta forma, a escolaridade pré-universitária e excesso de peso na infância também foram selecionados para a análise multivariada.

Identificadas as variáveis com p<0,20, procedeu-se à análise multivariada, com a etapa de ajuste (Tabela 3).

Tabela 3 -
Análise multivariada das características sociodemográficas (bloco 1), clínicas e outros fatores de exposição (bloco 2), associadas ao sobrepeso/obesidade em adultos jovens escolares. Maracanaú, Ceará - Brasil, 2012

Ao ser analisado o efeito das variáveis em blocos, sobre sobrepeso/obesidade e características sociodemográficas (bloco 1), permaneceram significativas raça não branca e estado civil com companheiro(a) (p<0,05). Analisou-se o efeito das variáveis em bloco sobre sobrepeso/obesidade pelas características clínicas e de exposição (bloco 2), permanecendo significativas (p<0,05) o excesso de peso na adolescência, hipertensão com base na pressão arterial diastólica e circunferência abdominal alterada. A variável relação cintura quadril não permaneceu significativa devido à forte correlação com a variável circunferência abdominal (coeficiente r de Pearson=0,502, p<0,001), sendo compreensível, dado que a circunferência abdominal é utilizada para o cálculo da relação cintura quadril.

Na Tabela 4 apresentam-se as variáveis que permaneceram no modelo final. Realizou-se regressão logística múltipla com as variáveis dos blocos 1 e 2, que apresentaram p<0,05 na etapa de ajuste. Nesta etapa final, detectou-se que raça não manteve associação significativa, portanto foi retirada do modelo, permanecendo apenas estado civil com companheiro(a), excesso de peso na adolescência, hipertensão com parâmetro na pressão arterial diastólica e circunferência abdominal alterada.

Tabela 4 -
Modelo final da regressão logística. Maracanaú, Ceará - Brasil, 2012

Realizou-se análise dos resíduos a fim de isolar pontos em que o modelo tivesse pouca aderência e pontos que exercessem influência indevida ao modelo. Obteve-se a versão padronizada da Estatística de Cook, ou seja, o valor do DFBeta inferior a 1 para todas as variáveis e os resíduos padronizados abaixo de 3, o que condiz com os parâmetros preconizados.

De acordo com a Tabela 4, o modelo final da regressão foi composto pelas constantes, estado civil, peso na adolescência, pressão arterial diastólica e circunferência abdominal, ressaltando que todos apresentaram relação positiva com o desfecho, evidenciado pelo Exp b >1. As variáveis do modelo final são, portanto, possíveis indicativos precoces na promoção do excesso de peso.

Discussão

O estado civil com companheiro(a), compreendido neste estudo como casado(a) ou em união estável, apresentou associação estatística significativa com sobrepeso/obesidade, tanto na análise bivariada quanto na multivariada, permanecendo no modelo final. Estudo(1010. Costa MAP, Vasconcelos AGG, Fonseca MJM. Prevalência de obesidade, excesso de peso e obesidade abdominal e associação com prática de atividade física em uma universidade federal. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(2):421-36.) realizado com funcionários de uma universidade federal detectou que o estado civil mostrou-se fortemente associado ao sobrepeso e obesidade, com prevalências menores em indivíduos solteiros, 41,8 e 11,8%, respectivamente. Outro estudo(1111. Lino MZR, Muniz PT, Siqueira KS. Prevalência e fatores associados ao excesso de peso em adultos: inquérito populacional em Rio Branco, Acre, Brasil, 2007-2008. Cad Saúde Pública. 2011;27(4):797-810.) encontrou estimativas de risco significativas (p<0,001) em homens que tinham companheira (RP=1,88). O estudo(1212. Veloso HJF, Silva AAM. Prevalência e fatores associados à obesidade abdominal e ao excesso de peso em adultos maranhenses. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):400-12.) realizado com adultos maranhenses detectou que viver sem companheiro esteve associado à menor prevalência de obesidade abdominal (RP=0,28).

Sugere-se que o casamento pode influenciar ganho de peso, devido às mudanças no comportamento social, que acarretam em aumento de ingestão calórica, decorrente de alimentos ricos em gorduras e açúcares e diminuição de gasto energético, consequente da negligência às atividades físicas mais rigorosas e aumento da frequência a restaurantes e lanchonetes como atividades de lazer. Não obstante, os casais tendem a diminuir a preocupação com a autoimagem.

A literatura atual indica que adultos jovens estão sob risco de obesidade ou ganho de peso em excesso na transição da infância para adolescência ou da adolescência para a fase adulta. Os períodos mais críticos para o desenvolvimento da obesidade estão na primeira infância, durante a forte oscilação na trajetória de adiposidade corporal, que ocorre entre os cinco e sete anos, e na adolescência. A partir dos seis anos, aproximadamente, uma a cada duas crianças obesas torna-se um adulto obeso, enquanto apenas uma a cada dez crianças não obesas alcança o mesmo desfecho na fase adulta(1313. Gordon-Larsen P, The NS, Adair LS. Longitudinal trends in obesity in the United States from adolescence to the third decade of life. Obesity (Silver Spring). 2010; 18:1801-1804.-1414. Yannakoulia M, Panagiotakos D, Pitsavos C, Lentzas Y, Chrysohoou C, Skoumas I et al. Five-year incidence of obesity and its determinants: the ATTICA Study. Public Health Nutrition. 2009;12(1):36-43.).

Com relação ao ganho ponderal na adolescência, este apresentou significância estatística na análise bivariada e, ao ser testado na multivariada, permaneceu no modelo final, demonstrando que o adulto jovem com histórico de excesso de peso na adolescência tem 6,3 vezes mais chances de desenvolver sobrepeso/obesidade.

Alguns estudos afirmam que a obesidade na infância e na adolescência é preocupante, pois caso não seja controlada, o prognóstico é de aumento da morbidade e diminuição da expectativa de vida(1515. Alves JGB, Siqueira PP, Figueiroa JN. Excesso de peso e inatividade física em crianças moradoras de favelas na região metropolitana do Recife, PE. J Pediatr. 2009;85(1):67-71.-1616. Gopinath B, Baur AL, Burlutsky G, Mitchell P. Socio-economic, familial and perinatal factors associated with obesity in Sydney schoolchildren. J Pediatrics Child Health. 2012;48(1):44-51.), estando associada à ocorrência de dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, intolerância à glicose, dificuldade psicossocial e risco aumentado de obesidade persistente na vida adulta(66. Medeiros CCM, Xavier IS, Santos VEFA, Souza MAO, Vasconcelos AS, Alves ERP. Obesidade infantil como fator de risco para a hipertensão arterial: uma revisão integrativa. REME. 2012;16(1):111-9. ).

A literatura normalmente aborda a hipertensão como consequência do aumento de peso(77. Souza MCC, Tibúrcio JD, Bicalho MF, Rennó MS, Dutra JS, Campos LG et al. Fatores associados à obesidade e sobrepeso em escolares. Texto Contexto Enferm. 2014;23(3): 712-9.,1717. Ramos-Arellano LE, Benito-Damián F, Salgado-Goytia L, Muñoz-Valle JF, Guzmán-Guzmán IP, Vences-Velázquez A, et al. Body fat distribution and its association with hypertension in a sample of Mexican children. J Investig Med. 2011;59(7):1116-20.). Neste estudo identificou-se associação entre hipertensão como variável preditora e sobrepeso/obesidade como desfecho. Para averiguar a hipertensão utilizou-se como parâmetro a PAS ou a PAD e apenas esta última apresentou significância estatística com o desfecho, tanto na análise bivariada quanto na multivariada, permanecendo a hipertensão pela PAD no modelo final. Assim, neste estudo detectou-se que os hipertensos têm cerca de sete vezes mais chances de desenvolver sobrepeso/obesidade.

Estudo transversal foi realizado(1818. Cristóvão MF, Sato APS, Fujimori E. Excesso de peso e obesidade abdominal em mulheres atendidas em Unidade da Estratégia Saúde da Família. Rev Esc Enferm USP 2011;45(esp2):1667-72.) com aplicação de regressão logística múltipla, para investigar as variáveis associadas ao sobrepeso e obesidade e observou que, na análise ajustada, a hipertensão foi uma das variáveis que manteve associação estatística (p<0,05) com sobrepeso. Os hipertensos tinham 3,3 vezes mais chances de desenvolver sobrepeso que as normotensas. Na análise de obesidade, as hipertensas tinham cinco vezes mais chances de ter obesidade abdominal do que as normotensas.

Estudo(1111. Lino MZR, Muniz PT, Siqueira KS. Prevalência e fatores associados ao excesso de peso em adultos: inquérito populacional em Rio Branco, Acre, Brasil, 2007-2008. Cad Saúde Pública. 2011;27(4):797-810.) detectou, na análise bivariada, que os homens que autorreferiram hipertensão arterial tiveram razão de prevalência de 1,44 mais chance de ter sobrepeso e obesidade e, para as mulheres essa razão foi de 1,72. Após aplicar a regressão de Poisson, permaneceram significativas, dentre elas, a hipertensão autorreferida, em ambos os sexos.

A circunferência abdominal é usada para classificar diferentes graus de obesidade abdominal, bem como risco cardiovascular, outro indicador usado em estudos epidemiológicos, além do IMC. Este acúmulo de gordura na região abdominal é considerado fator de risco para outras doenças, tais como endócrinas, metabólicas e cardiovasculares, mesmo quando o IMC encontra-se dentro dos limites de normalidade(1212. Veloso HJF, Silva AAM. Prevalência e fatores associados à obesidade abdominal e ao excesso de peso em adultos maranhenses. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):400-12.). Baseando-se nisto, investigou-se a associação entre esta variável e o desfecho, a qual foi detectada tanto na análise bivariada quanto na multivariada. No modelo final explicitou-se que a circunferência abdominal superior aos limites normais, caracterizando a obesidade central, aumenta 32 vezes a chance do adulto jovem desenvolver sobrepeso ou obesidade.

É importante destacar que, todas as variáveis abordadas neste estudo apresentam alguma relação com sobrepeso/obesidade, entretanto a força desta relação sofre alterações em populações específicas. Ressalta-se que o intuito é que o enfermeiro identifique quais fatores predisponentes estão interferindo no desfecho, por meio da análise estatística e, a partir disto, possa utilizar-se do raciocínio clínico e crítico para direcionar suas práticas, estejam elas voltadas para promoção da saúde, prevenção da doença ou morbidades associadas.

A partir da análise estatística realizada, é possível propor pontos norteadores que irão subsidiar a prática clínica do enfermeiro no cuidado ao adulto jovem escolar com e sem excesso de peso, direcionando a prática da educação em saúde.

Esses incluem considerar que a obesidade é uma doença que envolve fatores biológicos, históricos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos, cujas causas não são apenas individuais, mas ambientais e sociais; o enfermeiro deve alcançar o adulto jovem escolar que não costuma procurar pelo serviço de saúde convencional, inserindo-se nos espaços sociais, como escolas e promovendo a criação do vínculo entre unidade de saúde e escola, possibilitando a realização de um trabalho multidisciplinar de qualidade na prevenção e promoção da saúde.

Cabe destacar que, compete ao enfermeiro realizar a consulta de enfermagem, monitorar os dados antropométricos e solicitar exames complementares para avaliar os casos de riscos e, quando necessário, encaminhar ao profissional especializado; deve identificar, em parceria com o adulto jovem, quais os fatores que contribuíram, contribuem ou contribuirão para o quadro de excesso de peso, sob a perspectiva de comportamento alimentar, social e esportivo e, de modo conjunto, devem buscar estratégias de superação destes fatores; para os fatores ambientais e sociais o enfermeiro e o adulto jovem devem utilizar-se das propostas oferecidas pelas políticas públicas de saúde e pelos planos relacionados à condição clínica; quando já presente o excesso de peso, ambos devem buscar métodos que minimizem os riscos de morbidades associadas.

É importante considerar que o enfermeiro deve contar com a colaboração de demais profissionais da saúde, para oferecer o cuidado integral e interdisciplinar ao adulto jovem com e sem excesso de peso; todos os fatores intervenientes identificados devem ser trabalhados pelo enfermeiro na estratégia de promoção da saúde do adulto jovem escolar que ainda não desenvolveu excesso de peso, com práticas educativas em saúde e finalmente, buscar atualização, em termos de levantamentos e pesquisas relacionadas ao cuidado clínico, além de realizar pesquisas que tragam contribuições passíveis de implementação.

Conclusão

Após análise bivariada e etapa de ajuste da análise multivariada permaneceram no modelo final as variáveis estado civil com companheiro(a), ganho de peso na adolescência, pressão arterial diastólica referindo hipertensão e circunferência abdominal aumentada.

Todas as variáveis testadas neste estudo eram passíveis de associação estatística com sobrepeso/obesidade, pois estavam respaldadas por inúmeros estudos desenvolvidos na temática. Entretanto, há que se considerar o intervalo etário restrito e ainda jovem da clientela em estudo. Muitas das variáveis preditoras necessitariam de mais tempo para manifestação substancial. Outros fatores podem ter contribuído para o não aparecimento de associação, como a veracidade das respostas dadas pelos participantes.

Conclui-se, portanto, que a análise das variáveis preditoras para o excesso de peso em adultos jovens escolares possibilita ao enfermeiro bases para elaboração e planejamento de práticas educativas, que visem à prevenção desta condição clínica, visualizada também como fator de risco para outras comorbidades de caráter crônico, como as doenças cardiovasculares.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Feb-Apr 2015

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 2014
  • Aceito
    25 Nov 2014
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